Buda e a Idéia Do Não

4
Buda e a idéia do não-eu... "A questão é bem significativa. É uma das contribuições mais importantes de Buda à consciência humana - a idéia do não- eu. Ela é muito complexa. Você terá que ficar bem silencioso e alerta para compreendê-la. Primeiro, algumas analogias para que você possa fazer uma ideia do que significa não-eu. O seu corpo é definido pela pele; ela define onde você acaba e começa o mundo. Trata-se de uma demarcação à sua volta. Ela te protege do mundo, separa você do mundo, e só lhe proporciona certas aberturas pelas quais você pode entrar no mundo, ou deixar que o mundo entre em você. Sem a pele você perderia as fronteiras com tudo o que o cerca; Mas você não é a sua pele; E a pele muda o tempo todo; (...) Trata-se de uma mudança sutil, mas acontece o tempo todo. O corpo que muda todo o tempo, trata- se de umcontinuum.(...) Ou seja, num sentido você ainda é o mesmo, pois é a mesma continuidade; num outro sentido, você não é mais o mesmo, pois nunca parou de mudar. Desse mesmo modo, assim como acontece com a pele, está o ego. A pele mantém o seu corpo num determinado padrão, numa definição, num limite; O ego mantém o conteúdo da sua mente dentro de certos limites; O ego é a pele interior, de modo que você saiba quem você é; do contrário você ficaria perdido - não saberia quem você é; quem sou eu e quem o outro é. A ideia de eu, de ego, dá a você uma definição, uma definição sutil; Ela separa você dos outros de um modo muito claro. Mas essa também é uma pele, uma pele muito sutil, que abriga todo o conteúdo da sua mente -a sua memória, seu passado, desejos, raiva, tristeza, a sua felicidade -ela conserva tudo isso num mesmo saco. Mas você também não é o

description

Osho

Transcript of Buda e a Idéia Do Não

Buda e a idia do no-eu...

"A questo bem significativa. uma das contribuies mais importantes de Buda conscincia humana - a idia do no-eu.Ela muito complexa. Voc ter que ficar bem silencioso e alerta para compreend-la.

Primeiro, algumas analogias para que voc possa fazer uma ideia do que significa no-eu. O seu corpo definido pela pele; ela define onde voc acaba e comea o mundo. Trata-se de uma demarcao sua volta. Ela te protege do mundo, separa voc do mundo, e s lhe proporciona certas aberturas pelas quais voc pode entrar no mundo, ou deixar que o mundo entre em voc. Sem a pele voc perderia as fronteiras com tudo o que o cerca; Mas voc no a sua pele; E a pele muda o tempo todo; (...) Trata-se de uma mudana sutil, mas acontece o tempo todo. O corpo que muda todo o tempo, trata-se de umcontinuum.(...)Ou seja, num sentido voc ainda o mesmo, pois a mesma continuidade; num outro sentido, voc no mais o mesmo, pois nunca parou de mudar.

Desse mesmo modo, assim como acontece com a pele, est o ego. A pele mantm o seu corpo num determinado padro, numa definio, num limite; O ego mantm o contedo da sua mente dentro de certos limites; O ego a pele interior, de modo que voc saiba quem voc ; do contrrio voc ficaria perdido - no saberia quem voc ; quem sou eu e quem o outro .

A ideia de eu, de ego, d a voc uma definio, uma definio sutil; Ela separa voc dos outros de um modo muito claro. Mas essa tambm uma pele, uma pele muito sutil, que abriga todo o contedo da sua mente -a sua memria, seu passado, desejos, raiva, tristeza, a sua felicidade -ela conserva tudo isso num mesmo saco. Mas voc tambm no o ego. Porque ele tambm vai mudando com o tempo e muda ainda mais do que a pele do corpo; A todo momento, h uma mudana.Buda usa a analogia da chama; Uma lamparina acesa; voc v a chama, mas ela est continuamente mudando, nunca a mesma. Mas pela manh quando voc apaga a chama, no a mesma chama que voc acendeu. Ela continuou mudando a noite inteira. (...) O movimento to rpido que voc no percebe, no consegue ver a lacuna entre uma chama e a chama seguinte. Por isso num certo sentido, trata-se da mesma chama, pois trata-se da continuidade da mesma chama. Essa continuidade surgiu da mesma chama.(...)

Buda diz que o ego uma continuidade, no uma substncia; uma continuidade assim como uma chama, como um rio, como o corpo.(...)Buda diz que quando a pessoa morre, todos os desejos que ela acumulou durante a vida, todas as lembranas que ela acumulou durante a vida, todos oskarmasda vida dela saltam como ondas energticas para um novo ventre. Trata-se de um salto. A palavra exata na fsica quntica, eles o chamam desalto quntico- um salto de pura energia, sem nenhuma substncia. (...)

Quando uma pessoa morre, o corpo desaparece, a parte material desaparece, mas a parte imaterial, a parte mental uma vibrao. Essa vibrao irradiada, transmitida. Ora, assim que o ventre certo est pronto para essa vibrao, ela faz dele seu abrigo.No existe nenhum eu chegando, no h ningum chegando, no existe nenhum ego chegando. Trata-se apenas de uma investida de energia. A nfase que se trata mais uma vez do saco de ego saltando. Uma casa tornou-se inabitvel, uma nova casa necessria. O antigo desejo, a nsia pela vida , est vivo, ardendo; esse mesmo desejo que d o salto.

Oua o que os fsicos modernos. Eles dizem que no existe matria, ela somente pura energia movendo-se com tamanha velocidade que o prprio movimento cria a irrealidade, a iluso, a aparncia da substncia.(...) Tudo que o cerca energia pura, vibrando a uma velocidade to elevada que aparentemente est slida, est imvel, mas em realidade no existe nenhuma substncia, s existe energia pura, energia imaterial.(...)

Assim como a cincia moderna tirou a ideia de substncia da sua fsica, Buda tambm tirou a ideia de eu da sua metafsica. difcil acreditar que uma parede no tenha substncia, assim como difcil acreditar que no existe nenhum eu em voc. (...)

Buda diz que no existe o caminhante, s o caminhar. A vida no consiste em coisas; Buda diz que a vida consiste em acontecimentos; E exatamente isto que a cincia moderna tambm afirma hoje; s existem processos, no coisas, s acontecimentos; No est certo nem mesmo dizer que a vida existe. S existem milhares e milhares de processos de vida; A vida s uma ideia; No existe nada que se possa chamar de vida. (...)

A dualidade criada pelo idioma. Voc est caminhando, Buda diz que s existe o caminhar; Voc est pensando, Buda diz que s existe o pensar, no existe o pensador; O pensador somente uma criao do idioma; Porque falamos um idioma que se baseia na dualidade; ele divide tudo em dois. Enquanto voc est pensando, existe um acumulo que pensamentos, tudo bem - mas no existe nenhum pensador; Se voc quer realmente entender isso, ter que meditar profundamente e chegar ao ponto em que o pensar desaparece; No momento em que o pensar desaparece, voc ficar surpreso: o pensador tambm se foi; Com o pensar, o pensador tambm desaparece. Ele s a aparncia de pensamentos se sucedendo.A vida um processo contnuo - no s um processo, mas milhes de processos, uma continuidade."Osho em O Livro do Viver e do Morrer.