BURNETT_O Lugar de Gilberto Gil

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 O lugar de Gilberto Gil Por Henry Burnett No recém-lançado "Bandadois", o compositor e cantor faz uma síntese de sua obra e um balanço de sua vida Em algum lugar do passado, cito de memória, numa dessas entrevistas rápidas, Gilberto Gil afirmou que no fim de sua carreira –depois das várias experimentações estilísticas que sempre fez– terminaria tocando um tambor. Gil pode estar longe do final de sua carreira, mas o recém-lançado "Bandadois" (CD e DVD) é o mais próximo que ele já chegou daquela síntese anunciada. Talvez seja também a melhor oportunidade para um comentário mais detido sobre seu lugar na história da canção brasileira. Nos projetos anteriores, dedicados a Bob Marley e Luiz Gonzaga, era difícil situar o compositor e sua obra, já que o intérprete se destacava. Agora, munido de seu velho violão Takamine (triplamente captado), Gil está nu; mas seu violão não é um tambor. Sua execução instrumental está intacta, e sua voz, recuperada quase ao máximo. Normalmente, são dois os polos que atraem a atenção da crítica: Caetano Veloso e Chico Buarque. Eles, e apenas eles, são constantemente confrontados, mesmo num país onde se contam os cancionistas aos milhares. Enquanto isso, Gil constroi uma obra gigantesca como cantor e compositor. A despeito dos hiatos políticos e longe dos extremos críticos, a obra de Gil está mais permeável à nossa audição. Gil atingiu o lugar estranho do mito. Tudo que faz é envolto em grandes produções e é sempre foco de grandes atenções. Isso obscurece o que em sua obra é digno de um estudo mais acurado. Poderíamos tomar cada canção como uma peça e discorrer sobre ela. Cada canção mereceria um pequeno estudo. Mas, aqui, isso ganharia uma estatura monumental. Vamos então trabalhar sobre a generalidade. Ambiente em preto e branco No caso do "Bandadois" temos uma vantagem: Gil não fez a opção corrente de regravar um conjunto de “hits”. Ao contrário, optou pelo desvio, mesmo por canções que nunca gravou. Infelizmente, deixou de fora uma canção recente, quase confirmando minha afirmação inicial sobre a longevidade de sua carreira, um tema chamado “Não tenho medo da morte”, que pode ser ouvido no YouTube. A direção é de Andrucha Waddington, que dirigiu o documentário "Viva São João" (2002), registro de uma turnê de Gil pelo nordeste junino –um belo filme já esgotado. Agora, longe da aridez do sertão, o diretor tinha um teatro novo em folha, dos mais modernos e bem equipados de São Paulo. Optou por um ambiente em preto & branco, pôs Gil girando em uma espécie de planeta desconhecido. Uma superprodução, afinal Gil é um dos símbolos da canção em sua relação com a indústria cultural. Seria preciso vesti-lo a caráter para que o DVD saísse bem nas vendas de Natal. Esse talvez seja o ponto cego onde qualquer apreciação pode ser precipitada. Emolduradas pela produção, as canções permaneceram desta vez intactas, cada peça,

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(Revista Trópico) - O lugar de Gilberto Gil

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  • O lugar de Gilberto Gil Por Henry Burnett

    No recm-lanado "Bandadois", o compositor e cantor faz uma sntese de sua obra e um balano de sua vida

    Em algum lugar do passado, cito de memria, numa dessas entrevistas rpidas, Gilberto Gil afirmou que no fim de sua carreira depois das vrias experimentaes estilsticas que sempre fez terminaria tocando um tambor. Gil pode estar longe do final de sua carreira, mas o recm-lanado "Bandadois" (CD e DVD) o mais prximo que ele j chegou daquela sntese anunciada.

    Talvez seja tambm a melhor oportunidade para um comentrio mais detido sobre seu lugar na histria da cano brasileira. Nos projetos anteriores, dedicados a Bob Marley e Luiz Gonzaga, era difcil situar o compositor e sua obra, j que o intrprete se destacava. Agora, munido de seu velho violo Takamine (triplamente captado), Gil est nu; mas seu violo no um tambor. Sua execuo instrumental est intacta, e sua voz, recuperada quase ao mximo.

    Normalmente, so dois os polos que atraem a ateno da crtica: Caetano Veloso e Chico Buarque. Eles, e apenas eles, so constantemente confrontados, mesmo num pas onde se contam os cancionistas aos milhares. Enquanto isso, Gil constroi uma obra gigantesca como cantor e compositor. A despeito dos hiatos polticos e longe dos extremos crticos, a obra de Gil est mais permevel nossa audio.

    Gil atingiu o lugar estranho do mito. Tudo que faz envolto em grandes produes e sempre foco de grandes atenes. Isso obscurece o que em sua obra digno de um estudo mais acurado. Poderamos tomar cada cano como uma pea e discorrer sobre ela. Cada cano mereceria um pequeno estudo. Mas, aqui, isso ganharia uma estatura monumental. Vamos ento trabalhar sobre a generalidade.

    Ambiente em preto e branco

    No caso do "Bandadois" temos uma vantagem: Gil no fez a opo corrente de regravar um conjunto de hits. Ao contrrio, optou pelo desvio, mesmo por canes que nunca gravou. Infelizmente, deixou de fora uma cano recente, quase confirmando minha afirmao inicial sobre a longevidade de sua carreira, um tema chamado No tenho medo da morte, que pode ser ouvido no YouTube. A direo de Andrucha Waddington, que dirigiu o documentrio "Viva So Joo" (2002), registro de uma turn de Gil pelo nordeste junino um belo filme j esgotado.

    Agora, longe da aridez do serto, o diretor tinha um teatro novo em folha, dos mais modernos e bem equipados de So Paulo. Optou por um ambiente em preto & branco, ps Gil girando em uma espcie de planeta desconhecido. Uma superproduo, afinal Gil um dos smbolos da cano em sua relao com a indstria cultural. Seria preciso vesti-lo a carter para que o DVD sasse bem nas vendas de Natal.

    Esse talvez seja o ponto cego onde qualquer apreciao pode ser precipitada. Emolduradas pela produo, as canes permaneceram desta vez intactas, cada pea,

  • cada tema respirando por si. Da a grande chance de v-las mais de perto. A cano de um compositor como Gil h muito deixou de ser apenas um produto. E isso no por ele, mas para alm dele. Sua sorte, ou estratgia, foi ter conseguido vend-la dentro de parmetros milionrios. No h problema nisso pelo menos desde Baudelaire.

    O resto tarefa para quem, alm do ouvinte mdio, precisa tratar desse material musical a ss, num isolamento desagradvel, onde s se ouve o prprio Gil sabe-se l se ainda sabedor de si ou j engolfado pelas luzes. No tarefa fcil, porque suas melodias esto diludas no coro passivo do teatro, ganharam as ruas no Carnaval ordenado, embalam as cenas repetitivas e montonas das novelas; como ouvir o que no se percebe?

    Alm disso, ainda preciso discutir conceitualmente o que nem o prprio Gil sabe explicar. Aqui menciono um dos extras do DVD, chamado Aulas de violo. Qualquer estudante de violo se sentiria talvez constrangido por Gil, porque, qui pela primeira vez, quando ele resolve explicar seus grooves e seus rifs ao violo, a cena engraada, inslita, no fosse Gil. "Tanger" e "premir" so os verbos mais pronunciados.

    A gente na verdade aprende de olho, no de ouvido. Salvo engano, ele no pronuncia o nome de nenhuma nota, fala sempre em casas e cordas, no mximo alguns acordes. Todos sabamos disso, a relao diletante com o instrumento quase hegemnica na msica popular do Brasil. Mas muito bom tocar como ele alguns desses temas. No DVD ele passa para ns Abacateiro, Banda um, Refavela, Esotrico e Expresso 2222; um "brder" mostrando macetes no violo. Nada de mais. Tudo de bom.

    Fora e fraqueza

    Menciono essa cena porque, quando discutimos msica comercial para alm do seu trao popular, as questes se multiplicam em direes tensas. Se a cano uma estetizao do tradicional, tudo bem, pois ela fica aqum da crtica. Mas, se essa composio funde aquela rtmica popular com a poesia culta, ento teremos munio para um debate sem fim. Trata-se de uma questo de representao. Daquilo que somos e no somos, do que gostamos de ver nos simbolizando, do que julgamos uma alegoria e assim por diante.

    Repetirei uma pergunta recorrente h pelo menos cem anos nas discusses culturais: quem somos ns enquanto nao? No temos identidade, algo que nos defina, uma demarcao. Um problema que pautou a Alemanha durante dcadas e que hoje, aparentemente, se definiu, aqui permanece obscuro: a representao a que me referi acima. Nada nos representa singularmente. Alguns acham uma fora, outros nossa grande fraqueza.

    A representao possvel e que se impe vem de duas vias desconexas: a TV e a universidade. Na primeira, o canal hegemnico e ainda onipotente nos define em suas necessrias frmulas. Sendo sua sede na ex-capital, de l que parece emergir aquilo que somos. Nem preciso dizer o que h de falso nisso. Uma bobagem ensinada h geraes e que vai perdurar por um tempo impreciso. Mas que, ao mesmo tempo, nos garante a felicidade moldada, sem a qual o pas implodiria.

  • A universidade vem depois, num segundo e distante lugar, pois fala para poucos, pertence a poucos, remoi certezas pessoais, sustenta egos intelectuais, vibra intensamente na sua indefinio e no seu descaminho. Mas ela viva, e dela brotam grandes fatias do que melhor fazemos.

    Mas qual seu paradigma? O Brasil? Tudo, menos o Brasil. E aqui falo do que entendo um pouco, em minha rea, a filosofia. O Brasil no parece importar ao filsofo brasileiro em geral tanto quanto as categorias kantianas. No um objeto digno. Ponto para o grande filsofo, que, sobretudo, deve ser lido (no por necessidade bsica: nunca vi ningum carente de Kant, embora deva existir).

    A universidade acredita que um grande modelo precisa ser atingido. Com isso os objetos todos desse modelo emprestado so transpostos e incrustados na metodologia de pesquisa nacional no esqueamos que um belo modelo: a Europa. Resultado? Qualquer aproximao com uma identidade filtrada pela tradicional expresso rural, que hoje j foi redefinida pela expressividade urbana, digna de riso. Gilberto Gil, por exemplo para que o leitor no pense que mudei de assunto.

    Cano em estado bruto

    Numa longa temporada no Brasil, o antroplogo Claude Lvi-Strauss, nos forneceu algumas das mais brilhantes impresses sobre o pas. Entre essas certeiras observaes, algumas so lapidares e valem para qualquer nao: O socilogo pode contribuir para essa elaborao de um humanismo global e concreto. Pois as grandes manifestaes da vida social tm em comum com a obra de arte o fato de que nascem no nvel da vida inconsciente, porque so coletivas no primeiro caso, embora sejam individuais no segundo; mas a diferena secundria, inclusive s aparente, j que as primeiras so produzidas pelo pblico e as outras, para o pblico, e esse pblico fornece a ambas o seu denominador comum, e determina-lhes as condies de criao ("Tristes Trpicos", Companhia das Letras, 2009, p. 116).

    Que ele tenha escrito isso num livro sobre o Brasil no deve ser desconsiderado. A msica comercial brasileira existe a seu jeito porque sua recepo se imps e lhe imps determinados traos. Nos falta bom gosto por que no nos emocionamos com Bach e Beethoven, mas sim com Roberto Carlos e Maria Bethnia? Estou perguntando sinceramente, porque eu sofro de tal penria, embora me defenda vez por outra.

    Quando coloquei o "Bandadois" no "player" estava certo de que nada de novo seria visto. A cano em estado bruto principalmente para quem j tentou faz-la uma experincia emocionante, mas, para muitos, banal e simplria. A voz e violo de um homem de 67 anos, carregado de vivncias: para que serviria isso?

    No estou dizendo (mas bem que gostaria) que isso grande arte, uma elaborao eterna de um artista que ficar na memria coletiva. No sei o que significa a obra musical de Gil de um ponto de vista esttico. Estou dizendo que sua msica uma das mais intensas e mais representativas formulaes daquilo que eu gostaria que fosse o Brasil. No sei se isso nos empobrece, sei que ele um produto da nossa exigncia, do que pedimos para ouvir e repetir.

  • Quem nos diagnosticou junto com nossas necessidades vs foi um dos maiores filsofos do sculo XX, Theodor Adorno. Nenhum outro pensou tanto a sociedade e a humanidade a partir da msica. No nos deu um antdoto fcil contra a civilizao urbana e suas imposies medocres, apenas os instrumentos para formul-lo. Nunca conseguimos, pelo menos em nossa maioria.

    Mas h quem viva imerso nessa msica emancipatria, mesmo no Brasil, onde pouco se ouve msica contempornea e raros so os que a analisam e a dissecam com brilhantismo intelectual. Um triunfo na opinio de algum que no consegue ultrapassar a vida simples e que acha Renato Teixeira um grande artista porque lhe parece um grande homem; que sente a morte de um Arnaud Rodrigues porque foi uma das fontes musicais em que bebeu e que, portanto, lhe deu existncia. Mas voltemos ao "Bandadois".

    Interrogaes de Gil

    Na primeira faixa do DVD, Mquina de ritmo, Gil interroga sobre seu prprio lugar e tambm sobre a forma musical de seu trabalho: "Poderei legar um dicionrio de compassos pra voc/ No futuro voc vai tocar meu samba duro sem querer (...)/ Ser por exemplo que meu surdo ficar mudo afinal/ Pendurado como um dinossauro no museu do carnaval?". E avisa que nem ele mesmo sabe: "Se voc aposta que a resposta sim/ por Deus mande um sinal". Num tema mais antigo, Esotrico, o mesmo tema vinha mais pleno de certeza: "No adianta nem me abandonar/ porque mistrio sempre h de pintar por a". Pode ser engano, mas ele mantm um leve sorriso de desdm diante da prpria dvida.

    Em "Bandadois", Gil parece se dar todos os direitos, at o de fazer um balano de sua vida em famlia; saberemos das canes escritas para sua mulher, Flora, ao longo dos 30 anos de vida conjunta. Canta com amor renovado: " sua vida que eu quero bordar na minha/ como se eu fosse o pano e voc fosse a linha" (A linha e o linho). Sabemos dos oito filhos, conhecemos Bem Gil, que divide o palco com o pai.

    Sabemos at do casamento de um filha e do tema composto em forma de conselho: "Se porventura a vida dura/ Lhes for madrasta e voraz/ Sejam capazes, audazes e bons/ Faam das pazes noturnos bombons/ E os percalos naturais faro parte da cano/ Sero tropeos e recomeos/ Uma a cada vez, cada ms/ E vocs se acostumaro" (Das duas, uma). No final, um Deus lhe abenoe, beno interiorana.

    Em poucas ocasies Gil remete aos seus mestres: ao cantar Saudades da Bahia, se reporta a Dorival Caymmi em tom reverente, fala de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, e canta deste uma suingada interpretao de Chiclete com banana, uma verso que Gil matura h muitos anos e que chegou a seu ponto mximo. A participao de Maria Rita sincera. Apesar de Gil cham-la para cantar um tema que Elis gravou, Amor at o fim, para na sada a comparar com a me; preciso desprendimento... principalmente dela.

    De resto, tudo gira em torno da prpria obra e das canes mais perenes, daquelas que, para o prprio Gil, parecem ter a fora da continuidade, Tempo rei, Metfora, Superhomem A cano, Refazenda, Esotrico. Ser por isso afinal que tantas

  • canes para Flora foram includas? Uma ligao ntima entre o amor que dura e a cano que permanece?

    Poucas ousadias so ouvidas, como a desconhecida Rouxinou, parceria com Jorge Mautner, um tema delicioso e despretensioso, mas que serve de deixa para a segunda parte do DVD, onde a marca forte das performances ao vivo de Gil, as canes pop, daro o tom. A transio tranquila, comea pelo violo violado de Refazenda, para dar lugar a um tema pouco frequentado, Banda um, que mostra a rtmica poderosa que faz de Gil um duplo de Benjor imagina-se logo um novo encontro dos dois, apenas com seus violes.

    Depois canta Raa humana para a plateia ensaiar um aplauso saudoso. O violo de Bem Gil se impe definitivamente. Prova de que essas canes filosficas tm seu impacto. "A raa humana uma semana do trabalho de Deus/ A raa humana a ferida acesa/ Uma beleza, uma podrido/ O fogo eterno e a morte/ A morte e a ressurreio/ (...) A raa humana o cristal de lgrima da lavra da solido/ da mina cujo mapa traz na palma da mo." No sei se d uma tese, mas que d uma boa sesta, isso d.

    Adiante ele anuncia: frica!, e canta em sequncia La renaissance africaine, Pronto pra preto, Andar com f, e j estamos no bis, quando sobre ao palco outro filho, Jos, ao contrabaixo, para Refavela e a genealgica Bab Alapal: "Aganj, Xang, Alapal Alapal Alapal/ Xang Aganju/ O filho perguntou pro pai/ Onde que t o meu av?/ O meu av onde que t?/ O pai perguntou pro av onde que t meu bisav/ Meu bisav onde que t?/ Av pergunta ao bisav/ Onde que t tatarav?/ Tatarav onde que t?/ Tatarav, bisav, av, pai Xang Aganju/ viva Egum Baba Alapal".

    Cantando o mundo

    Gil encerra remetendo ao passado, tradio africana, ao bero, religiosidade negra. Ao que permanece nele como um documento de sua identidade cada dia mais reforada. Gil uno e mltiplo, nele pode fazer algum sentido a bobagem comercial chamada world music. No por acaso que ele to querido nos circuitos europeus, onde, por falar nisso, esto os ouvintes mais educados do planeta. Gil canta o mundo.

    Dizem que o serto pode ser estetizado negativamente. Que um filme de 35 mm pode transformar o semirido num quadro, que uma foto PB faz tudo parecer mais artstico. Pode ser verdade. Os exemplos no cinema e na fotografia brasileira esto a. Mas existe uma coisa que no pode ser inventada, o que chamaria aqui de reflexos da vivncia. Pode-se lidar com isso e com certos sofrimentos que passamos de vrias formas. Mas no se pode negar que o que resta de toda uma vida o lampejo dessa experincia.

    Gil poderia inventar o que quisesse, metforas, viagens pseudocientficas, psicodlicas, mas no poderia mascarar os reflexos de sua histria pessoal isso que chamamos de vivncia e que marca to fortemente a nossa msica popular, por isso encerro este texto arriscando dizer que Lamento sertanejo o ponto alto do DVD e um dos pontos altos da obra.

  • nele que Gil expe a geografia exata de sua msica: sua entrada na urbe ameaadora, sua lida com essa cidade-smbolo que o constituiu na mesma medida que a primeira infncia em Ituau, na Bahia, talvez alguma solido, o pensamento que se fecha sobre si mesmo, Eu quase no sei de nada, esses lampejos que, queiramos ou no, nos refletem em alguma medida. Resta saber como esse ensinamento ultrapassado pode ser revivido.

    Lamento sertanejo

    Por ser de l do serto L do cerrado L do interior, do mato Da caatinga, do roado Eu quase no saio Eu quase no tenho amigo Eu quase que no consigo Ficar na cidade sem viver contrariado

    Por ser de l Na certa, por isso mesmo No gosto de cama mole No sei comer sem torresmo Eu quase no falo Eu quase no sei de nada Sou como rs desgarrada Nessa multido boiada Caminhando a esmo.

    (Gilberto Gil & Dominguinhos)

    Publicado em 10/4/2010

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    Henry Burnett doutor em filosofia pela Unicamp e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de So Paulo.