Burocracia X Adhocracia_Paper

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BUROCRACIA X ADHOCRACIA: é possível uma organização burocrática ser competitiva em um ambiente de adhocracia? Marcos Roberto Rosa Este paper busca responder se uma organização burocrática pode ser competitiva em um ambiente de adhocracia, analisando os dois tipos de ambiente organizacional e destacando seus pontos positivos e negativos, sob uma visão administrativa, na tentativa de esclarecer o que leva as empresas a adotarem este ou aquele modelo em sua gestão. Na busca por novas oportunidades, muitas empresas se perdem nos meandros da burocracia, enrijecendo demais seus controles, normas e procedimentos ao ponto de perderem mercado por excesso de etapas a serem cumpridas antes da efetivação do negócio. Outras, ao contrário, não conseguem crescer ou atender às exigências internacionais de normalização por serem excessivamente informais, ou adhocráticas. Uma das primeiras aplicações do termo Burocracia data do século XVIII, onde o termo era carregado de forte conotação negativa, designando aspectos de poder dos funcionários de uma administração estatal aos quais eram atribuídas funções especializadas, sob uma monarquia absoluta. Essa definição se encaixa de forma muito próxima àquela hoje utilizada na linguagem comum: a Burocracia como sinônimo de excesso de normas e regulamentos, limitação da iniciativa, desperdício de recursos e ineficiência generalizada dos organismos estatais e privados. A palavra "burocracia" tem, no nosso dia-a-dia, um sentido pejorativo. Chamamos de burocracia o exagero de normas e regulamentos, a ineficiência administrativa, o desperdício de recursos. No entanto, para a sociologia, esse termo tem um sentido especial. Desde que passou a ser usado por Max Weber (1864 –1920), designa um modelo específico de organização administrativa. A Teoria da Burocracia concebida por Max Weber, é imediatamente posterior às teorias Clássica e das Relações Humanas, teve como ponto forte de origem a necessidade de uma abordagem generalista e integrada das organizações, fator praticamente não considerado pelas teorias anteriores. Weber, baseado em princípios protestantes, foi quem primeiro definiu Acadêmico do Curso de Administração da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP). Disciplina de Teoria Geral da Administração (TGA), 1ª fase, 2º semestre, 2007. ([email protected]).

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é possível uma organização burocrática ser competitiva em um ambiente de adhocracia?

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BUROCRACIA X ADHOCRACIA:

é possível uma organização burocrática ser competitiva em um ambiente de adhocracia?

Marcos Roberto Rosa∗

Este paper busca responder se uma organização burocrática pode ser competitiva em

um ambiente de adhocracia, analisando os dois tipos de ambiente organizacional e destacando

seus pontos positivos e negativos, sob uma visão administrativa, na tentativa de esclarecer o

que leva as empresas a adotarem este ou aquele modelo em sua gestão.

Na busca por novas oportunidades, muitas empresas se perdem nos meandros da

burocracia, enrijecendo demais seus controles, normas e procedimentos ao ponto de perderem

mercado por excesso de etapas a serem cumpridas antes da efetivação do negócio. Outras, ao

contrário, não conseguem crescer ou atender às exigências internacionais de normalização por

serem excessivamente informais, ou adhocráticas.

Uma das primeiras aplicações do termo Burocracia data do século XVIII, onde o

termo era carregado de forte conotação negativa, designando aspectos de poder dos

funcionários de uma administração estatal aos quais eram atribuídas funções especializadas,

sob uma monarquia absoluta. Essa definição se encaixa de forma muito próxima àquela hoje

utilizada na linguagem comum: a Burocracia como sinônimo de excesso de normas e

regulamentos, limitação da iniciativa, desperdício de recursos e ineficiência generalizada dos

organismos estatais e privados.

A palavra "burocracia" tem, no nosso dia-a-dia, um sentido pejorativo. Chamamos de

burocracia o exagero de normas e regulamentos, a ineficiência administrativa, o desperdício

de recursos. No entanto, para a sociologia, esse termo tem um sentido especial. Desde que

passou a ser usado por Max Weber (1864 –1920), designa um modelo específico de

organização administrativa.

A Teoria da Burocracia concebida por Max Weber, é imediatamente posterior às

teorias Clássica e das Relações Humanas, teve como ponto forte de origem a necessidade de

uma abordagem generalista e integrada das organizações, fator praticamente não considerado

pelas teorias anteriores. Weber, baseado em princípios protestantes, foi quem primeiro definiu

∗ Acadêmico do Curso de Administração da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP). Disciplina de Teoria Geral

da Administração (TGA), 1ª fase, 2º semestre, 2007. ([email protected]).

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a Burocracia não como um sistema social, mas como um tipo de poder suficiente para a

funcionalidade eficaz das estruturas organizacionais, sejam estas pertencentes ao Governo ou

de domínio econômico privado. A característica principal da Burocracia, segundo Weber,

reside na racionalidade do ponto de vista das atividades desempenhadas na organização. Na

Burocracia a liderança se dá tipicamente calcada em regras impessoais e escritas e através de

uma estrutura hierárquica; o poder é legítimo e depende exclusivamente do grau de

especialidade e competência técnica de quem o detém.

Weber concebeu a teoria da Burocracia como algo que tornasse a organização

eficiente e eficaz, garantindo com ela rapidez, racionalidade, homogeneidade de interpretação

das normas, redução dos atritos, discriminações e subjetividades internos, padronização da

liderança (decisões iguais em situações iguais) e, mais importante, o alcance dos objetivos. A

Burocracia, em síntese, busca amenizar as conseqüências das influências externas à

organização e harmonizar a especialização dos seus colaboradores e o controle das suas

atividades de modo a se atingir os objetivos organizacionais através da competência e

eficiência, sem considerações pessoais.

Na burocracia existem conseqüências previstas e imprevistas, que receberam o nome

de Disfunções da burocracia, ou seja, anomalias e imperfeições no funcionamento da

burocracia.

As disfunções da Burocracia são as seguintes:

1. Internacionalização das regras e exagero apego aos regulamentos: as normas e

regulamentos passam a se transformar de meios para objetivos. O funcionário

adquire "viseiras" e esquece que a flexibilidade é uma das principais características

de qualquer atividade racional;

2. Excesso de formalismo e de papelório: a necessidade de documentar e de

formalizar todas as comunicações dentro da burocracia a fim de que tudo possa ser

devidamente testemunhado por escrito. O papelório constitui uma das mais

gritantes disfunções da burocracia;

3. Resistência a mudanças: o funcionário da burocracia esta acostumado em seguir

regras, ou seja, conforme rotinas, com isso, sentem-se seguros e tranqüilos.

Quando apresentam mudança eles se preocupam, resistindo à mudança;

4. Despersonalização do relacionamento: as pessoas passam a possuir caráter

impessoal, pois começam a olhar os colegas como membros da organização. Os

colegas passam a se comunicar com os cargos ou registros ou em qualquer forma

imposta pela empresa;

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5. Categorização como base do processo decisório: a burocracia se assenta em uma

rígida hierarquização da autoridade, ou seja, na burocracia quem toma as decisões

são as pessoas que estão no mais alto nível da hierarquia, mesmo que não saiba do

assunto ele é o único com poder de decisão;

6. Superconformidade às rotinas e procedimentos: baseia-se em rotinas e

procedimentos, na burocracia as rotinas e procedimentos se tornam absolutas e

sagradas para os funcionários. Os funcionários passam a trabalhar em função das

regras e procedimentos da organização e não mais para os objetivos

organizacionais, com isso, perde a flexibilidade, iniciativa, criatividade e

renovação;

7. Exibição de sinais de autoridade: como a burocracia enfatiza a hierarquia, tem

como sistema identificar aos olhos quais as pessoas que possuem mais poder,

como por exemplo, as mesmas salas, os uniformes;

8. Dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público: os funcionários

trabalham voltados ao interior da organização e isso leva a conflitos com os

clientes. Os clientes necessitam de atendimentos personalizados, mas na

burocracia os funcionários os atendem de forma padronizada, fazendo com que

fiquem insatisfeitos com os serviços e façam pressões, com isso ameaçam a

segurança, gerando, com isso, a tendência à defesa contra pressões externas à

burocracia.

Kats e Kahn (apud YUKA, 2001), salientam que a organização burocrática é super-

racionalizada e não leva em conta a natureza organizacional, bem como as condições

circunjacentes do ambiente. As vantagens da burocracia têm sido exageradas. Para estes

autores, o sistema burocrático consegue sobrevivência e eficiência apenas quando:

1. as tarefas individuais são mínimas;

2. as exigências do ambiente sobre a organização são claras e suas implicações

óbvias;

3. a rapidez em tomada de decisões é um requisito de importância;

4. as circunstâncias organizacionais se aproximam das do sistema fechado.

No anverso desta “moeda administrativa” está a Adhocracia, ou a flexibilidade como

forma de administrar. Segundo Nunes (2007), a Adhocracia é uma expressão da autoria de

Alvin Tofler e popularizada por Robert Waterman com o livro "Adhocracy - The Power to

Change" e corresponde ao oposto da burocracia: enquanto a burocracia coloca a ênfase na

rigidez das rotinas, a Adhocracia coloca a ênfase na simplificação dos processos e na

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adaptação a cada situação particular. A Adhocracia é, desta forma, aplicável a qualquer

organização que rompa com as tradicionais normas burocráticas, geralmente dominantes em

empresas na sua fase de maturidade. O objetivo da Adhocracia é a detecção de novas

oportunidades, resolução de problemas e obtenção de resultados através do incentivo à

criatividade individual enquanto caminho para a renovação organizacional.

Na visão de AMORIM (2007), períodos de intensa concorrência como os atuais, estão

fazendo com que as organizações passem por constantes processos de inovação. Muitas

empresas já percebem que para inovar é preciso lançar-se mais no mercado, ter plena

segurança em seus profissionais e minimizar as formalidades.

Mas para essa inovação acontecer, faz-se necessário entender que inovar é entrar em

ruptura com as tradicionais rotinas estabelecidas. A organização inovadora não pode apoiar-se

em nenhuma forma padronizada para coordenar as suas atividades.

A Adhocracia é a estrutura que melhor se adapta a inovação, pois de todas as

configurações estruturais, ela é a que respeita menos os princípios clássicos de gestão, e

especialmente a unidade de comando.

Por ser uma estrutura inversa a Estrutura Burocrática, a Adhocracia possui equipes

temporárias de trabalho, autoridade descentralizada, atribuições fluidas de cargo, poucas

regras e regulamentos. Seu objetivo é o atingimento de resultados no prazo determinado, sem

permitir que “nada” atrapalhe o cumprimento da tarefa.

A Adhocracia é uma estrutura muito orgânica com pouca formalização do

comportamento. Para se ter essa estrutura é necessária uma especialização horizontal elevada,

baseada na formação, e assim agrupar os especialistas em unidades funcionais na gestão do

pessoal e com isso atingir seu principal objetivo, que é uma utilização importante dos

mecanismos de ligação para encorajar o ajustamento mútuo no interior das equipes e entre

elas.

Comparando Burocracia e Adhocracia quanto ao Planejamento, a Burocracia é situada

a longo prazo, detalhada e abrangente, envolve políticas, procedimentos, regras e

regulamentos, já a Adhocracia é situada a curto prazo envolve apenas situações rotineiras e

previsíveis. Na organização, a Burocracia possui centralização da autoridade, especializações

e responsabilidades específicas, organização formal, quanto a Adhocracia, possui

descentralização da autoridade, responsabilidades vagamente definidas, organização algumas

vezes informal. No controle, a Burocracia possui controles compreensivos, acentua e reforça

as regras, na Adhocracia, os controles são genéricos, acentua e reforça o autocontrole. Quanto

a direção, a Burocracia é diretiva e autoritária, centrada na tarefa, sua supervisão é fechada, na

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Adhocracia, é participativa e democrática, centrada na pessoa e na tarefa, supervisão genérica

e ampla.

Pelo exposto acima e pela divergência acentuada entre os dois modelos de gestão,

conclui-se que a competitividade de uma organização burocrática em um ambiente de

adhocracia é bastante limitada, principalmente pela velocidade nas tomadas de decisão em

processos de conclusão de negócios, onde as empresas burocráticas seriam prejudicadas pelo

excesso de formalização e procedimentalização, o que levaria a uma demora excessiva em um

meio onde o mercado está acostumado com decisões rápidas, às vezes até fiadas apenas em

um compromisso verbal.

A busca pela competitividade deve passar primeiro pela decisão do ambiente de

negócios que a empresa pretende inserir-se para, somente depois, escolher o tipo de gestão

que irá aplicar.

O modelo ideal seria aquele que aproveita o que os dois sistemas têm de melhor. De

um lado a velocidade nas tomadas de decisão da adhocracia, através da aproximação das

pessoas que detêm o poder de decisão e de outro a possibilidade de controles bem embasados

em documentação corretamente preenchida e firmada por todas as partes envolvidas na

negociação, ou seja, um equilíbrio entre as duas propostas.

REFERÊNCIAS

YUKA, Cristiane. Burocracia, Recife: 2001. Disponível em: <http://paginas.

terra.com.br/arte/yuka/burocracia.htm>. Acesso em: 09 nov. 2007. Trabalho apresentado ao

Departamento de Economia e Administração da Universidade Católica de Pernambuco a

título de exigência da cadeira de Administração Geral II, turma ME64 G-711 sob a orientação

do professor José Baia.

AMORIM, Viviany. Adhocracia X Burocracia, São Paulo: 2005. Disponível em:

<http://www2.uol.com.br/JC/sites/deloitte/artigos/a150.htm>. Acesso em: 09 nov. 2007.

NUNES, Paulo. Conceito de Adhocracia, Curitiba: 2007. Disponível em:

<http://www.knoow.net/cienceconempr/gestao/adhocracia.htm>. Acesso em: 09 nov. 2007.