CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO...

28
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MARIANE MELLO LIMA CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO

Transcript of CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO...

Page 1: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MARIANE MELLO LIMA

CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE

MONTEIRO LOBATO

Page 2: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Campos dos Goytacazes-RJ

2017

RESUMO

O trabalho tem como abordagem a representação do negro na obra Caçadas de Pedrinho e

como a diversidade cultural de uma sociedade tão heterogênea como a que estamos inseridos

reforçam as diferenças em âmbito social e político. Objetivamos aqui, entender como as

diferenças estão cada vez mais presentes nas relações sociais para assim demonstrar que

através de estereótipos a caracterização dos indivíduos poderá ser racista, desta forma

embasados na obra de Monteiro Lobato iremos identificar como se deu a representação do

negro, e analisar um de seus livros o qual foi tema de um grande debate na literatura infantil

brasileira acusada de conter características de cunho racista. A pesquisa é de cunho

qualitativo. Foi realizado um levantamento e feita a revisão bibliográfica pertinente ao tema

em questão, como, a construção de estereótipos para caracterização dos negros, e o

reconhecimento das diversas culturas que permeiam a sociedade no que tange a representação

do negro de forma racista na obra infantil Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato.

Concluímos que, ao passo que uma obra de reconhecimento mundial se vê acusada de conter

certos trechos racistas, é de suma importância que entendamos que falar sobre diferentes

culturas é falar sobre estereótipos criados ao longo dos anos através do reconhecimento racial

das características dos indivíduos. Contudo observamos que o negro vem sofrendo

preconceitos há séculos, e que mesmo um ícone da literatura infantil brasileira pode cometer

racismo em suas obras, através da caracterização e representação de seus personagens.

Palavras-chaves: Racismo, caçadas de Pedrinho, representação.

Page 3: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

ABSTRACT

The work has as an approach the representation of the Negro in the work Caçada de Pedrinho

and how the cultural diversity of a society as heterogeneous as the one that we are inserted

reinforce the differences in social and political scope. We aim here to understand how

differences are increasingly present in social relations to demonstrate that through stereotypes

the characterization of individuals may be racist, so based on the work of Monteiro Lobato we

will identify how the representation of the black was given, and analyze One of his books

which was the subject of a great debate in Brazilian children's literature accused of containing

characteristics of a racist nature. The research is qualitative. A survey was carried out and the

bibliographic review pertinent to the subject in question was made, such as the construction of

stereotypes for the characterization of blacks and the recognition of the diverse cultures that

permeate society in what concerns the representation of the black in a racist way in the

children's work Hunting By Pedrinho de Monteiro Lobato. We conclude that while a work of

world recognition is accused of containing certain racist passages, it is of the utmost

importance that we understand that talking about different cultures is talking about

stereotypes created over the years through racial recognition of the characteristics of

individuals. However we note that black people have been prejudiced for centuries, and that

even an icon of Brazilian children's literature can commit racism in their works, through the

characterization and representation of their characters.

Keywords: Racism, Pedrinho hunts, representation.

Page 4: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6

1. O JOGO DA DIFERENÇA É FATO ........................................................................ 8

1.1 A Diferença em âmbito social .............................................................................. 12

1.2 Representações do negro em Monteiro Lobato .................................................. 14

2. ANALISANDO O LIVRO "CAÇADAS DE PEDRINHO" ....................................... 17

2.1 Principais descrições raciais no livro ................................................................... 19

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23

Page 5: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO
Page 6: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios dos anos 1500, o negro era considerado feio, sujo, piada, ou

ainda, algo insignificante. Esta interpretação ainda se repercute até os dias atuais.

Quando passamos por uma situação ruim/difícil, costumamos usar a expressão “a

situação está preta”. Por quê? Somos nós seres racistas?

O estudo aprofundado sobre a diversidade cultural de uma sociedade é de

extrema importância para o meio acadêmico, uma vez que, aborda e enfatiza questões

como o jogo das diferenças, que são estabelecidas a partir de lutas e relações sociais

entre os atores sociais, e retrata a discriminação e preconceito que indivíduos

experimentam dentro da sociedade em que estão incorporados.

Discutir acerca dos processos excludentes é extremamente importante, visto que

é uma temática complexa onde as necessidades de conexão entre os métodos de

globalização e articulação entre as lutas pelo direito à diferença beiram elevar as

desigualdades e consequentemente fazer com que os indivíduos que já estão a mercê da

sociedade sejam cada vez mais excluídos. A partir daí faz-se necessário saber e

questionar quais processos levarão a inclusão e exclusão de um grupo por meio dos

contextos de sua interação com a sociedade. Sobre a experiência vivida do negro, Fanon

(2008) nos diz: “‘Preto sujo!’ Ou simplesmente: ‘Olhe, um preto!’ [...] O preto é um

animal, o preto é ruim, o preto é malvado, o preto é feio; olhe, um preto!” (p. 103 e

106). E ainda: “O branco quer o mundo; ele o quer só para si. Ele se considera o senhor

predestinado deste mundo. Ele o submete, estabelece-se entre ele e o mundo uma

relação de apropriação.” (p.117).

O negro não mais é incluído, ele apenas faz parte de uma sociedade que quer a

qualquer custo embranquecer.

Em uma sociedade tão heterogênea da qual nós fazemos parte, é imprescindível

falar sobre a diversidade cultural, e as relações sociais que a permeiam. Este campo vem

reforçar as diferenças existentes no âmbito social e político em que estamos inseridos.

Além de grande contribuição para a prática pedagógica, o debate sobre a temática

cultural é essencial para compreender as práticas sociais e de seus agentes sociais, em

uma sociedade tão diversificada como a nossa.

Page 7: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Neste sentido Hall (2002) nos fala sobre o debate da questão multicultural:

“Multicultural é um termo qualificativo. Descreve as características sociais e

os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na

qual diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida

em comum [...] Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou

administrar problemas e multiplicidade gerados pelas sociedades múltiplas”

(2002, p. 52).

Em uma sociedade com tantos costumes culturais, a diversidade é um pretexto

para a imposição de valores. A diferença e identidade assombra a mentalidade do ser

humano, pois as diferenças culturais não podem ser vistas e entendidas separadamente

das relações de poder.

O homem nada mais quer do que dominar. Cada pessoa age de acordo com os

conhecimentos que carrega consigo. Por dentro de suas experiências ao longo da vida, o

ser humano baseado em sua cultura, constrói um pensamento onde irá expressar suas

particularidades culturais e práticas sociais.

Através da literatura infantil é possível observar traços da cultura do racismo,

onde a representação do negro será efetivada através de seus estereótipos. Em O Sítio

do Pica Pau Amarelo Monteiro Lobato definiu onde e qual era o lugar do negro.

Tomemos como exemplo os personagens Saci Pererê, Tia Nastácia e Tio Barnabé ambos

negros. O primeiro vive na floresta com seu cachimbo e sem uma perna. A segunda vive

na "casa grande", porém na cozinha e, sua função é servir aos brancos; e, o terceiro, um

velho, que ajuda nas tarefas diversas do sítio e vive fumando seu cachimbo e sabe tudo

sobre a floresta e seu poder de cura. As relações sociais destes com os que vivem na

casa grande podem ser identificadas ora como apenas prestação de serviços, ora

amigável, com suas longas histórias recitadas aos moradores da casa. Tais personagens

[negros] são caracterizados como inferiores em relação aos brancos.

Em 2010, o Conselho Nacional de Educação, considerou o livro Caçadas de

Pedrinho pertencente a obra O Sitio do Pica Pau Amarelo de Monteiro Lobato como

racista, e muito se repercutiu sobre o tema, até mesmo a retirada do livro das escolas.

Para o CNE a forma de tratamento dos personagens negros e esse tipo de pensamento

não deveria ser vinculado nas escolas para não alimentar o racismo no Brasil.

Por meio de cartas de Lobato para defensores da eugenia, o escritor foi acusado

Page 8: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

de defender veementemente uma organização norte americana conhecida por Ku Klux

Klan. Essa organização fundada nos anos 1865 tinha como objetivo principal impedir a

integração dos negros recém-libertos na sociedade, assassinando-os como forma de

estabelecer uma purificação racial.

Entre as principais características para a compreensão da representação do negro

em nossa sociedade está a identidade e diferença, pois é a partir da identidade de cada

um que notamos a diferença perante outros podendo levar a uma segregação. Sobre a

temática da exclusão e inclusão, Thadeu(2000) nos diz que:

“A afirmação da identidade e a marcação da diferença implicam, sempre, as

operações de incluir e de excluir [...] afirmar a identidade significa demarcar

fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre ‘nós’ e ‘eles’”

[...] (p. 82).

Ao passo que o branco é incluído na sociedade sem qualquer esforço, o negro é

excluído.O negro busca fazer parte de uma sociedade em que ele se sente inferior,

enquanto o branco busca sempre a sua superioridade.“O preto escravizado por sua

inferioridade, o branco escravizado por sua superioridade, ambos se comportam de

acordo com uma orientação neurótica.”Fanon (1998). E nesta guerra de relações de

poder, de inferioridade e superioridade há a separação entre duas raças. O negro busca

sair de sua inferioridade e o branco quer a qualquer custo manter sua superioridade.

Caçadas de Pedrinho, livro que faz parte do Programa Nacional Biblioteca da

Escola, do Ministério da Educação, pertence à grandiosa história do Sitio do Pica Pau

Amarelo, escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1933. Porém, em 2014 foi

discutida a retirada do livro das escolas públicas por ter sido reconhecido conteúdos

racistas através de um mandado de segurança que foi levado ao Supremo Tribunal

Federal.

Buscamos com este trabalho traçar de que forma a representação dos

personagens negros, bem como os seus estereótipos os condicionam a serem retratados

com certa diferença perante a outros indivíduos.

Page 9: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

1. O JOGO DA DIFERENÇA É FATO

Pensar na diferença e sua complexidade valorizá-la seja ela étnica ou cultural,

vivenciar a diversidade e construir debates tanto no âmbito político, social e educacional

nada mais é do que respeitar a pluralidade cultural, e para isso faz-se necessário romper

com o imaginário de superioridade de determinada classe propiciando e levando a não

só respeitar, mas entender a diferença social e cultural de cada grupo. Neste sentido,

Assis (2004), nos mostra que pensar nas múltiplas culturas valoriza a diversidade

cultural, elimina preconceitos e estereótipos construídos historicamente, o que pode

levar a formar uma sociedade alicerçada no respeito e dignidade do outro com suas

diferenças.

Observar, vivenciar, experimentar essa diferença é o que nos torna indivíduos

culturalmente diversos que estamos alocados em um mundo mestiço. Compreender o

sentido verdadeiro da palavra diversidade, precisar corretamente o que ela quer dizer

não é tarefa fácil se não formos capazes de observar e quiçá descrever as diferenças

culturais.

Em um mundo tão heterogêneo como o nosso é praticamente impossível não

falar sobre a identidade de cada indivíduo e sua diferença e, essas questões tornam-se

temas centrais na área da educação. Para isso Silva (2000) nos explica:

“[...] identidade e diferença estão em uma relação de estreita dependência. A

forma afirmativa como expressamos a identidade tende a esconder essa

relação. Em um mundo imaginário totalmente homogêneo, no qual todas as

pessoas partilhassem a mesma identidade, as afirmações de identidade não

fariam sentido” (p.74-75).

Page 10: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Identidade e diferença constituem uma relação de dependência e, afirmar a

identidade da forma como fazemos tende a camuflar essa relação. Ao afirmar que “sou

alto” leva a uma referência de identidade que parece se esgotar a somente isso, porém só

me é necessário fazer tal afirmativa porque existem outros indivíduos que não são altos.

Neste sentido, se vivêssemos em uma sociedade totalmente homogênea, onde os

indivíduos possuíssem a mesma identidade, tais afirmações de identidade não fariam

sentido.

Desta forma, identidade e diferença são termos opostos, entretanto estão

vinculados entre si. Identidade é o que se é – sou mulher, sou negra, sou alta, sou

brasileira – já a diferença é o que se vê no outro – ela é mulher, ela é negra, ela é alta,

ela é brasileira. O reconhecimento que temos de nós mesmos é a nossa identidade, o que

nós somos perante a outrem, já a diferença é o que se vê no outro, o que o outro é, o que

ele é perante a nós.

Um conceito muito usado e atualmente bastante discutido para tratar sobre o

jogo das diferenças é o multiculturalismo. Bem como diz Gonçalves (2001), ele é uma

ideologia cultural, uma estratégia para integração social e também uma produção de

conhecimento. Seguindo essa ideia, Gonçalves vai mais além quando diz que

articulando essas concepções, notamos que o multiculturalismo é um:“fenômeno

globalizado que tem início em países onde a diversidade cultural é vista como um

problema” (p.14-15).

Falar sobre a valorização das culturas diversas é falar sobre o multiculturalismo,

pois trata de seus costumes, sua ideologia, sua identidade cultural e são essas diferenças

que causam conflitos.

Pode ser entendido como estudos que apontam para as diferentes culturas que

estão espalhadas ao redor do mundo, que tem como um de seus objetivos evitar os

conflitos sociais a partir do conhecimento de cada cultura. Apresenta também um cunho

político, uma vez que, grupos sociais culturalmente dominados lutam e reivindicam seus

direitos, para serem reconhecidos em uma sociedade que os oprime. É válido salientar o

quão importante é observar a eficácia das questões culturais para a diversidade cultural.

Vivemos em uma sociedade que se apresenta de forma heterogênea, portanto,

Page 11: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

para compreensão das diferenças é necessário que se faça uma análise das mudanças

sociais ocorridas e das relações sociais existentes entre os indivíduos. Por ser um

conceito amplo pode ser entendido como pluralidades culturais, onde prevalecerá a

proteção da diversidade cultural. Desta forma, Hall (2002) nos diz sobre a “produção de

novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político e cultural” (p.

337, 338).

A partir de grupos que já obtinham uma identidade cultural definida, foram se

difundindo grupos sociais com culturas distintas, ora por conta de seus credos, religiões

e costumes, ora por suas biológicas diferenças, tais como os seus estereótipos. Para

demonstrar, tomemos o Brasil como exemplo. Por volta dos anos 1500, com o seu

descobrimento, houve uma grande expansão cultural em nosso país por conta da

miscigenação dos grupos sociais que eram distintos. Ao passo que novas identidades

culturais surgiam, um grande número de pessoas eram discriminadas e como

consequência ocorria uma fragmentação cultural.

As diferenças tratam das relações e lutas sociais, onde os indivíduos sentem o

preconceito e a discriminação dentro da sociedade em que vivem e das relações que

mantem. Isto porque ao passo que a sociedade percebe as diferenças e

consequentemente sua diversa cultura, ela separa aqueles indivíduos que não fazem

parte de um padrão imposto por ela mesma. Tão comumente observamos certa

estranheza ao outro e ao que ele carrega consigo, basta lembrar se algum dia não rimos

de uma dança típica, culinária, ou vestimenta de um determinado grupo social. A

cultura, a tradição, ou seja, a diferença tem o poder de causar estranheza.

Observamos esse processo também nos estereótipos de um indivíduo, fato

altamente observado na obra de Monteiro Lobato, como ele descreve a diferença dos

personagens negros: Narinas achatadas, cabelo crespo e volumoso, lábios carnudos,

estatura corpulenta, de cor negra, todos são exemplos clássicos de como observamos e

até julgamos o outro diferente. Entretanto é diferente do que? Qual padrão seria o

considerado correto? Branco, alto, magro, poucas linhas de expressão, lábios e narinas

finos e discretos? Vivemos em uma sociedade de padrões definidos, se você foge a eles

certamente será caracterizado como inferior, podendo ser até excluído.

Esses padrões não foram criados/impostos nem são pertencentes apenas no

Page 12: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

século em que estamos encarnados – século XXI – eles surgiram junto com a

humanidade. Exemplo disso foi a escravidão, a moça de traços brutos é inferior e

escravizada e a de traços suaves é superior e obtém o poder. Muito se fala sobre a

diferença e o respeito a ela, porém na prática não há existência disso. O ser humano

aproveita a diferença, levando em consideração a sua identidade, para segregar,

discriminar e até inferiorizar o outro.

Capaz até de provocar atitudes racistas, a diferença nos mostra claramente o que

pensamos sobre o outro. Convivemos com atitudes racistas há muito tempo. Caçadas de

Pedrinho, livro de Monteiro Lobato que permeia o imaginário de muitas crianças e com

certeza, em algum momento de nossa infância, também esteve em nossa imaginação e

nos mostra claramente como o racismo e preconceito eram corriqueiros entre os

personagens da história. Dia desses em uma novela destinada ao público jovem de um

canal famoso apresentou uma cena de puro preconceito. O mocinho diz para a

protagonista que ela não pode engordar, pois ficará feia. Os estereótipos impostos por

uma parte da sociedade segregam um grupo que será inferiorizado.

Em nossa convivência é visivelmente grande o número de grupos sociais

excluídos, seja por sua crença, opção sexual, raça ou cor, e associar igualdade perante

estes grupos é senão o maior, um dos maiores desafios da atualidade. A construção de

reflexões sobre as diferenças diminuiria os conflitos sociais. Cada individuo possui sua

bagagem cultural própria e pensar, entender e aceitar as diferenças é um meio de ajuda

para que haja uma percepção sobre sua cultura e a do outro.

Essa exclusão, discriminação, racismo e desigualdade permeiam em nossa

sociedade livremente. Assim Silva (2003) nos diz que deve-se buscar formar uma

sociedade embasada no respeito as diferenças, valorizando a diversidade cultural sem

preconceitos. Neste sentido, nossa identidade será construída através de nossa

diversidade e, devemos viver essas diferenças valorizando as culturas. Portanto, não

podemos identificar a cultura como homogênea, cada individuo concilia e percebe as

coisas de seu modo, ao passo que é parte de outras culturas.

No que se refere a entender e respeitar a cultura do outro faz-se necessário,

primeiramente, identificar a desigualdade existente entre os indivíduos para somente

após buscar a igualdade. É de suma importância que se dirija para a compreensão e

Page 13: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

conhecimento das diferenças, das diversidades culturais, da aceitação de que cada ser

possui seu próprio estereótipo, para que se construa o respeito entre os atores sociais e

suas relações.

1.1. A DIFERENÇA EM ÂMBITO SOCIAL

Diante a globalização, facilidade a informações e conhecimentos, culturas

múltiplas e seus significados, a ação humana vem se mostrando cada vez mais intensa

em praticamente todos os lugares. As ações e intervenções humanas modificam toda a

dinâmica existente no espaço, neste sentido, observamos o espaço como:

“[...] algo dinâmico e unitário, onde se reúnem materialidade e ação humana.

O espaço seria o conjunto indissociável de sistemas de objetos, naturais ou

fabricados, e de sistemas de ações, deliberadas ou não. A cada época, novos

objetos e novas ações vêm juntar-se às outras, modificando o todo, tanto

formal quanto substancialmente.” (SANTOS, 2008, p. 46).

Portanto percebe-se que todas as ações humanas, culturais ou não interferem na

dinâmica e transformação presentes no espaço. As diferenças contribuem para a

produtividade existente entre as ações humanas, e até em seus conflitos.

Para que se entenda esse embate da sociedade, é preciso que ao se falar em

diferença, fale-se também na relação entre tempo e espaço, pois várias questões tratadas

pelas diferentes culturas, como exemplo etnia e raça, vêm sendo estudadas ao longo de

muito tempo, e acompanhando modificações no espaço representadas por

transformações sociais e histórico-geográficas.

Um termo frequente nas relações sociais é o conceito de raça, utilizado para

indicar determinadas características físicas, como cor da pele. Segundo o Mini

Dicionário Aurélio (2010), Raça refere-se ao:

“Conjunto dos ascendentes e de descendentes duma família, tribo ou

povo com origens comuns. Divisão de uma espécie original, provinda

do cruzamento de indivíduos selecionados para manter ou aprimorar

Page 14: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

determinados caracteres” (p. 635).

Neste sentido, o conceito do termo raça é frequentemente utilizado nas relações

sociais a fim de informar que determinadas características físicas, como tipo de cabelo,

cor da pele, formato do crânio e do rosto determinam e influenciam o lugar e o destino

dos atores sociais dentro de uma sociedade.

Caracterizar os indivíduos embasados em somente seus estereótipos segrega-los

por não concordar com suas diferenças sociais, culturais e raciais e não respeitar os

valores e sentimentos que esses trazem dentro de si, nada mais é do que reduzir o

individuo a somente o que ele aparenta ser e não reconhecer e aceitar as diferenças.

Outro termo muito utilizado nas relações sociais é o conceito de etnia, que marca

as tensas relações por conta das diferenças na cor da pele e traços físicos e, é essencial

para explicar que o individuo pode apresentar o mesmo tipo de cabelo, a mesma cor da

pele que o outro embora tenha características sociais e culturais que os difere. Assim o

Mini Dicionário Aurélio (2010) nos diz sobre o conceito de etnia: “População ou grupo

social que apresenta homogeneidade cultural, compartilhando histórias e origens

comuns.(p. 325)”

Da mesma forma como a internet leva a novas possibilidades de transformação

social, a discussão sobre as diferenças gera uma nova ferramenta de discussão que,

embasada a debates críticos e conhecimentos prévios e/ou adquiridos com o tempo,

levam a concepção de uma sociedade nova, onde o embate sobre múltiplas culturas não

ocorrerá no mesmo tempo para todos.

No que se refere às ações humanas, observa-se que a aceitação do diferente pode

gerar duas perspectivas, a do estranhamento e a do aceitamento. Na primeira perspectiva

há conflitos entre os atores sociais e embates sociais, já na segunda há entendimento

sem conflitos. Tudo o que é novo ou diferente para nós causa certa estranheza, podendo

acarretar uma demora na aceitação ou até mesmo a negação completa.

A diferença existente entre os grupos sociais no traz a tona cenas e lembranças

de pura intolerância e radicalismo com aqueles que são julgados diferentes. A tentativa

de acabar com os conflitos oriundos dessa não aceitação surge para romper com a ideia

Page 15: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

de que a cultura é homogênea e, busca com a ajuda de espaços de múltiplas culturas

inserir essa pluralidade cultural em nossa sociedade, principalmente na educação, onde

busca-se a construção de identidade e reconhecimento da diferença sem que haja

discriminação ou preconceitos.

O processo de globalização e a luta pelo direito à diferença acarreta um estágio

bem complexo, onde a tendência é de aumentar cada vez mais as desigualdades e

exclusão daqueles que já estão à mercê da sociedade. Surgem então os questionamentos

no que diz respeito à inclusão das minorias que lutam por suas diferenças. Aqueles que

são oprimidos, nada mais querem que do que reconhecimento e respeito, assim

valorizando sua diferença e afirmando sua identidade.

1.2. REPRESENTAÇÃO DO NEGRO EM MONTEIRO LOBATO

Nascido no ano de 1882 em São Paulo no Brasil, o escritor José Bento Renato

Monteiro Lobato autor da grandiosa obra infantil O Sítio do Pica Pau Amarelo tem seu

nome ligado ao racismo, e essa é uma questão que sempre permeia a vida cultural

brasileira.

Além de grandioso escritor, Lobato também era um entusiasta da eugenia. Ideia

surgida em meados do século XIX na França e sistematizada pelo médico Francis

Galton (1822) onde ele define como: “O estudo dos agentes sob o controle social que

podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou

mentalmente”. (Biblioteca UFRGS)

Ideia esta considerada na prática como racista, pois representava também um

engrandecimento da superioridade da raça branca sobre as demais.

No Brasil, um dos principais estudiosos sobre a eugenia foi Renato Kehl que em

suas obras adotava ideias como a esterilização de pessoas que apresentassem problemas

físicos ou mentais. Monteiro Lobato o considerava como um “espírito brilhante” por

defender a proibição de imigrantes que não fossem brancos no Brasil.

Page 16: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Além desses fatos, em 2011 surge uma nova repercussão sobre o assunto onde

Lobato é acusado de racista. Neste ano, mas precisamente em maio é publicada uma

matéria na Revista Bravo! onde se tornaram públicas cartas de Monteiro Lobato que

reforçam seu racismo e seu entusiasmo com a eugenia.

Uma destas cartas datada de 10 de abril de 1928 foi endereçada a Arthur Neiva -

etnógrafo, cientista e político brasileiro – onde Lobato defendia as ideias da Ku Klux

Klan, organização que tinha como objetivo principal impedir a integração dos negros

recém-libertos na sociedade, assassinando-os como forma de estabelecer uma

purificação racial, e rejeitava a formação do povo de seu país de origem. Segue o trecho

da carta na íntegra como publicado na revista BRAVO!:

“País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan

(sic), é país perdido para altos destinos. [...] Um dia se fará justiça ao Ku-

Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em

seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho

fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro

destrói a capacidade construtiva.” (NIGRINI p24 – 33)

As cartas enviadas por Lobato estão guardadas na Fundação Oswaldo Cruz e

Fundações Getúlio Vargas, ambas no Rio de Janeiro.

Seu livro intitulado Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933 faz parte do

Programa Nacional Biblioteca da Escola, do Ministério da Educação. Porém em 2014

foi levado ao Supremo Tribunal Federal um mandado de segurança onde era discutida a

retirada do livro da lista de leituras das escolas públicas por apresentar conteúdo racista.

Em um trecho da obra a personagem Tia Nastácia que é negra, é comparada a “uma

macaca de carvão”.

O mandado de segurança contra o livro foi vetado pelo Ministério da Educação,

porém alguns Estados brasileiros chegaram a retirar o livro de Lobato do currículo

escolar, caso ocorrido na Paraíba e Mato Grosso.

A representação do negro no livro Caçadas de Pedrinho da obra O Sítio do Pica

Pau Amarelo tornou-se referência por ser conteúdo da literatura infantil. O público alvo

de suas criações são crianças e adolescentes, e compreender de forma saudável a

Page 17: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

representação do negro não é uma tarefa das mais fáceis, visto que, essa mesma criança

que leu já vai ser apresentada a temática do racismo, pois na obra vemos que o autor

define onde é o lugar do negro.

Falar em lugar é falar sobre as ligações afetivas do indivíduo, como nos mostra

(LEITE 1998): “Sua linha de pensamento caracteriza-se principalmente pela valorização

das relações de afetividade desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu

ambiente.”

Partindo deste pensamento podemos observar na obra de Lobato que ele delimita

qual é o lugar dos personagens. Os personagens criam laços afetivos com o espaço

ocupado por eles no território, fazendo dele o seu lugar. Tia Nastácia cria um laço com a

cozinha e o Saci Pererê com a floresta, logo, são os seus lugares representados na obra.

Caçadas de Pedrinho alcança cunho ideológico bastante relevante, pois é uma

obra artística que produz nos leitores presunções sociais, políticas e culturais remetendo

certa crítica ao se deparar com a representação do negro observada na mesma.

As características físicas do negro tais como seu estereotipo são postas em

evidência por Lobato. Isto é claramente visível em um trecho do diálogo da personagem

Emília com a Tia Nastácia: “- Bem se vê que é preta e beiçuda! Não tem ao menos

filosofia, esta diaba”.

Fanon (2008) relata que o negro simboliza o biológico. Ao se deparar com um

negro observamos suas características físicas e biológicas como lábios carnudos e

narinas avantajadas. Os personagens negros são estereotipados mediante as suas

características físicas descritas. Comentários como o da boneca Emília em relação à Tia

Nastácia formam estereótipos, podendo ser entendido como estabelecer uma

generalização a respeito de um indivíduo, na maioria dos casos – como o nosso – quem

o profere sente-se superior ao outro.

O Sítio do Pica Pau Amarelo é uma obra que ficou marcada no coração e mente

das pessoas que a leram, seja por sua beleza ao narrar a história de pequenos grandes

desbravadores e caçadores de aventuras ou por sua afeição emocional ao fazer ligação

com suas memórias afetivas. Mas esta obra também ficou marcada por Lobato ter sido

inovador quando exibiu claramente às crianças e jovens o racismo, o preconceito racial.

Page 18: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Em uma passagem do livro Reinações de Narizinho (1969) há um diálogo onde pode-se

ler o seguinte: “- Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta.

[...]Não reparem ser preta. É preta por fora, e não de nascença. [...]”.

A representação de Tia Nastácia nos remete muito aos dias atuais, onde o negro é

retratado como um malfeitor e exerce apenas as suas funções perante a sociedade, assim

como o exemplo da personagem que é uma senhora de pouca instrução, supersticiosa e

ótima cozinheira.

Em sua obra, Lobato apresentava a realidade brasileira que ainda hoje apresenta

cunho racista, por conseguinte, muitos consideravam o autor racista, porém há alguns

pontos que nos chamam atenção no que se refere às relações sociais entre alguns

personagens.

Partiremos da relação entre uma simples cozinheira negra, amável, dedicada aos

moradores do sitio e, a dona do sitio, uma senhora branca preocupada com seus netos e

que a primeira a chama de amiga. Observamos também essas feições de amizade nas

relações sociais entre os atores sociais Pedrinho e Tio Barnabé, branco e negro

respectivamente.

É justamente por isto, que alguns tentam provar que suas obras não são racistas,

partindo desde ideal, Ziraldo – cartunista, pintor, escritor, jornalista brasileiro – criador

de um dos personagens infantis mais conhecidos, o Menino Maluquinho, elaborou um

desenho para a camisa de um bloco carnavalesco do Rio de Janeiro chamado “Que m* é

essa?” onde aparece Monteiro Lobato abraçado a uma mulata corpulenta.

Este bloco aborda a cada ano um tema polêmico visto no cenário político do

Brasil, e em 2012 foi a vez de retratar a polêmica a cerca do racismo que caía sobre

Lobato como tentativa de critica à censura de suas obras. Sobre o bloco e o seu desenho,

Ziraldo explica “Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando

com uma mulata. Ele tem um conto sobre uma negrinha que é uma maravilha. Racismo

tem ódio. Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de

achar que a gente é racista.”.

Em sua obra Lobato descreve os personagens, principalmente os negros, com

inúmeras características baseadas no estereótipo de cada um. Veremos estas descrições

mais adiante.

Page 19: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

2. ANALISANDO O LIVRO “CAÇADAS DE PEDRINHO”

Há 83 anos foi publicada a obra de Monteiro Lobato intitulada Caçadas de

Pedrinho – faz parte da história intitulada Reinações de Narizinho. A história narra a

descoberta, pelo personagem Marquês de Rabicó, de uma onça que esta rondando as

proximidades do Sítio do Pica Pau Amarelo. A partir disso, os personagens Narizinho e

Pedrinho decidem organizar uma expedição, mas sem avisar a avó Dona Benta, para

caçar o animal. Durante a caçada à onça, eles encontram um rinoceronte falante

chamado Quindim e decidem leva-lo para morar no sítio.

Esta obra foi duramente criticada por conter conteúdos considerados racistas

pelo Supremo Tribunal Federal que chegou até a emitir um mandado proibindo a

circulação e leitura desse livro nas escolas públicas. Em um trecho do livro, a

personagem Emília diz: “-É guerra das boas. Não vai escapar ninguém, nem Tia

Nastácia que tem carne preta.” (p. 171)

Na história observamos que a personagem negra – Tia Nastácia – é retratada

com termos que menosprezam o negro, assim acentuando a ideia de racismo.

Fanon(2008) faz um relato onde ele diz que: “O mundo branco, o único honesto,

rejeitava minha participação. De um homem exige-se uma conduta de homem; de mim,

uma conduta de homem negro – ou pelo menos uma conduta de preto.” (p.107).

E é exatamente o que encontramos na obra de Lobato. Os demais personagens

esperam da Tia Nastácia uma conduta inferior, uma conduta de pessoa negra, assim

como quando ela ficou com medo da onça que Pedrinho estava caçando.

Este trecho polêmico da obra é visto na passagem em que Tia Nastácia, com

medo, tenta fugir dos animais da floresta: “[...] Esquecida de seus numerosos

reumatismos, trepou na árvore que nem uma macaca de carvão [...]”. (p.178)

A representação racial de Tia Nastácia também aparece por conta de seus

Page 20: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

estereótipos tais como lábios carnudos. Em uma passagem da história onde é narrado

uma pescaria, a personagem se assusta com o peixe que surgiu e assim é retratada: “[...]

A negra pendurou o beiço. – Credo! Até parece feitiçaria! – resmungou .” (p. 29)

Porém um pouco adiante na história há uma conversa entre as personagens

Emilia e Narizinho onde a boneca diz para a menina que ela gostou tanto da comida que

até lambeu os beiços. Prontamente ela é repreendida com a seguinte frase: “- Lábios,

aliás. Beiço é de boi.” Notamos que a inferioridade da personagem negra pode ser

comparada a um animal.

A personagem que mais criticava a Tia Nastácia era a Emília, porém as demais

crianças do sítio amavam a singela senhora, principalmente por ela juntamente com os

personagens Tio Barnabé e Saci Pererê volta e meia proporcionarem às crianças muito

da sabedoria popular brasileira e nossa cultura.

A representação racial na obra também é vista quando o intuito é integrar a

personagem negra na convivência dos demais. Em sua última parte, o Rinoceronte que

se juntou a pouco aos demais integrantes do sítio brinca com as crianças carregando-as

em um carrinho. Tia Nastácia também participa da brincadeira e diz a Dona Benta: “-

Tenha paciência – dizia a boa criatura. - Agora chegou a minha vez. Negro também é

gente, sinhá...” (p.198)

Lobato talvez tenha buscado uma forma de mostrar como o negro era retratado

naquela época e com o uso de sua personagem mostrou que todos são iguais,

independente de sua raça e cor. Na Constituição de 1934, mesma época em que o livro

Caçadas de Pedrinho foi publicado, era feita uma busca pelo melhoramento racial

através do processo de branqueamento e da eugenia, como podemos ver no Artigo 138

da Constituição: “Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos

das leis respectivas: b) estimular a educação eugênica; [...] g) cuidar da higiene mental

e incentivar a luta contra os venenos sociais”.

Naquela época buscava-se a eugenia como educação, porém hoje muito se fala e

é debatido sobre os estudos das relações étnico-raciais, e a ideia de racista deveria ser

descontruída da mente dos indivíduos para que pudesse ser corrigido este ideal e levado

Page 21: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

como pauta para dentro das escolas. As informações que temos acesso hoje sobre o

passado e com elas fazer uma relação com as informações atuais é um dos melhores

métodos para se abordar a questão racial e com ela procurar a tão sonhada e esperançosa

igualdade.

É evidente que os livros e suas histórias passam por nós e nos deixam suas

marcas, e se serão positivas ou não depende do contexto histórico em que estamos

vivendo naquele momento e da interpretação do leitor.

Não é necessário esconder a obra de Lobato, privar nossas crianças de ter acesso

a ela, o que importa é mostrar como o seu sentido e interpretação mudou nesses mais de

80 anos de sua publicação, e para isto faz-se necessário compreender as relações sociais

entre os atores sociais, e principalmente entender que os estereótipos estarão sempre

presentes em nossa sociedade, pois cada indivíduo é diferente do outro e possui sua

própria identidade. (Re) conhecer as diferenças e entende-las em uma sociedade tão

miscigenada como a que estamos inseridos talvez seja um dos maiores desafios da

atualidade.

2.1. PRINCIPAIS DESCRIÇÕES RACIAIS DO LIVRO

Discorremos aqui alguns dos trechos da história Reinações de Narizinho, que

engloba “Caçada de Pedrinho”, onde mais nota-se a representação racial do negro de

forma a inferioriza-los perante aos demais personagens. Notamos que tais

representações são feitas através do estereótipo de cada individuo para sua

caracterização.

Nas primeiras linhas da obra, Lobato descreve os personagens que vivem no

sitio, e enquanto Dona Benta é descrita como a mais feliz das vovós, Tia Nastácia é

apresentada como “negra de estimação com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá

Page 22: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

em cima que é ver uma bruxa.” Nota-se a presença de elementos descritivos para

inferiorizar a personagem.

Em sua obra, Lobato discorre sobre duas senhoras já idosas: Dona Benta e Tia

Nastácia. É comum e extremamente normal pensarmos que o tratamento destinado às

duas personagens seria igual ou parecido, afinal o que teriam elas de tão diferente a

ponto de haver mudanças em seu comportamento? Cor da pele.

A cor da pele passa a ser um pretexto para a segregação e preconceito. Fanon

(2008) nos mostra:

“Qualquer descrição deve se situar no plano do fenômeno mas, mesmo lá,

somos levados a perspectivas infinitas. Há uma ambiguidade na situação

universal do preto, que contudo se resolve na sua existência concreta. [...] onde

quer que vá, o preto permanece um preto.” (p.149)

É exatamente o que acontece na obra, Tia Nastácia pode ser integrante da

família, mas será desvalorizada por conta de sua cor. Ao ler a fantástica história do Sitio

do Pica Pau Amarelo observamos que a todo tempo esta personagem é tratada como

“velha preta” e “a boa preta” enquanto Dona Benta, outra senhora da história – dona do

sitio e de cor branca – é tratada apenas como “senhora”.

A forma que o autor usa para afirmar a todo tempo que Tia Nastácia é negra

muito chama atenção. Além disso, Lobato também retrata a personagem como a única

que não sabe falar corretamente, não sabe ler nem escrever, tem medo das aventuras

protagonizadas por Narizinho e Pedrinho e de positivo ela só tem a questão de saber

muito bem fazer os serviços da cozinha.

Embora Tia Nastácia seja muito amada por todos do sitio, Monteiro Lobato não

deixa que o leitor se esqueça de que ela é negra e inferior aos demais. Isso fica claro

numa passagem da obra na história intitulada Reinações de Narizinho, no subtítulo O

Sitio do Picapau Amarelo no capítulo 5 – Pedrinho, onde é narrado o dia em que

Pedrinho chega ao sítio, e ao chegar ele leva presentes para todos da casa menos para

Tia Nastácia. Ou seja, a personagem é negra e trabalha para os moradores da casa então

não ganha presente.

Page 23: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

As características físicas de Tia Nastácia são usadas para compara-la a termos

que irão enaltecer sua inferioridade. Duas passagens na obra deixam em evidência esta

intenção, a primeira quando ela foi comparada a uma galinha e a segunda a um doce

típico da região centro oeste do Brasil de gosto duvidoso: “[...] E me virou a mim em

passarinho, virou vovó em tartaruga e tia Nastácia em galinha preta...[...]” (p. 46) Mais

adiante: “[...] O nosso banquete vai começar pela sobremesa. O furrundu está dizendo

que não aguenta mais e vai descer [...]” (p. 180)

Após todas análises feitas podemos considerar que muitos termos foram usados

propositalmente para inferiorizar a imagem da personagem negra – Tia Nastácia – o que

ainda é comumente observado em nossa sociedade mesmo após passado mais de 70

anos de sua publicação.

Os estereótipos estão presentes não somente apenas para os indivíduos de cor

negra, mas para todos aqueles que apresentam características que fuja a identidade da

grande maioria da população. As diferenças se tornaram motivo ou pretexto para

estereotipar e diminuir os indivíduos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando como referencial o levantamento teórico que utilizamos para

relacionar a diversidade cultural com uma fábula infantil, é possível concluir que a

caracterização do negro tanto em uma obra publicada há mais de 80 anos quanto nos

dias atuais é bem semelhante. Através de seus estereótipos o negro é expresso como

inferior em uma sociedade branca que busca de qualquer maneira se manter superior.

No que se refere à educação, é de grande importância que a representatividade

do negro não seja mais somente aquela inferior ou que leve a pensamentos negativos

embasados em suas características físicas. As relações sociais entre as diversas culturas

e nossa sociedade devem se manter sempre em destaque, para que um grupo social não

Page 24: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

seja menosprezado por uma parte que não entende muito menos reconhece que vivemos

e construímos nossas raízes em um país mestiço. Portanto devemos buscar romper esse

pensamento de superioridade para que seja posto em prática o respeito e entendimento à

diferença.

Uma educação democrática que inclua a diversidade cultural precisa ser aplicada

em nosso país e, para que isso aconteça é necessário o convívio diário com outras

culturas gerando respeito ao outro e diálogo com seus valores. Projetos e ideias

pedagógicas como espaços multiculturais são necessários, para que aja incentivo ao

respeito e aceitamento do outro.

Cada vez mais observa-se que o respeito à diferença do outro e o processo de

globalização andam um ao lado do outro, pois a propensão é de aumento da exclusão

dos que já estão à mercê de uma sociedade de desigualdades. A afirmação de sua

identidade, a valorização da diferença parte daqueles que são oprimidos, que buscam

apenas respeito e reconhecimento de sua cultura.

Reconhecer e assumir a pluralidade cultural da sociedade que fazemos parte

implica a existência de outros modos de vida tais como outras línguas, outras raças,

outros grupos sociais e outras religiões. O desrespeito perante outros indivíduos é um

erro, pois vivemos em uma sociedade híbrida. É de suma importância o respeito pelas

culturas diversas, precisamos compreender que não há um padrão de cultura dito como

o correto ou mais aceito

No que tange à relação entre raça e sociedade fica explicito através,

principalmente, da personagem Tia Nastácia conceitos bem delimitados sobre o negro

no sitio. Forma-se uma profunda ligação entre a raça negra e os que dependem dela com

sua mentalidade conservadora, onde atribuem sua amizade a troca de favores.

As características físicas e estereótipos dos indivíduos são usados para excluir,

para se diferenciar daquilo que não reconhecemos em nós mesmos, e que por isso

acreditamos que seja desagradável ou pior do que possuímos e somos. Infelizmente,

vemos constantemente o negro ser atribuído ao o que é feio ou ruim, basta pensarmos

nas expressões que cotidianamente utilizamos para enfatizar coisas que não deram certo

ou estão difíceis em nossas vidas.

Fazemos uso de expressões tais como: Dia negro, lista negra, mercado negro,

Page 25: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

magia negra, fome negra, nuvem negra e passado negro, ou seja, tudo o que é negro é

relacionado ao o que é ruim, a coisas negativas e dessa forma vamos construindo

estereótipos que cada vez mais inferiorizam os negros que os submetem a serem

comparados com certas coisas que não são boas para nós.

Precisamos mudar nossas expressões para que as crianças de hoje não se tornem

adultos racistas e formadores de estereótipos que menosprezam parte de uma sociedade.

Na obra de Lobato o maior conflito racial ocorre entre as crianças, incluindo a boneca

Emília, e Tia Nastácia enquanto Dona Benta a reconhece como uma boa negra. Tia

Nastácia é reconhecida pelo restante da família como a negra de estimação, que tudo faz

para agradá-los e ainda é tratada com expressões racistas. O autor deixa bem aparente a

inferioridade da personagem negra comparada aos demais.

A representação do negro que Monteiro Lobato nos apresenta é se assemelha

muito ao que observamos no mundo hoje, principalmente por vivermos em uma

sociedade capitalista, onde Tia Nastácia é apresentada com profunda ignorância e

menosprezo, que tentava sobreviver como podia.

Assim, se configura cada vez mais a importância do entendimento e

reconhecimento das múltiplas culturas e respeito à diferença, pois é a partir daí que

fatores como raça, etnia e cultura se fundaram na formação da identidade de indivíduos

e grupos sociais, que merecem aceitação, sobretudo respeito buscando tolerância no

sentido de aceitar o outro independente de suas caraterísticas físicas ou sociais. Faz-se

necessário que entendamos que não existe uma única cultura ou raça detentora da

verdade sublime, mas sim, que a sociedade é formada por diferentes culturas, como num

mosaico, e que essa diversidade deve ser preservada.

Papel importante para que os grupos excluídos acreditem no seu potencial e em

sua importância enquanto indivíduos de uma mesma sociedade é a construção da

identidade através do reconhecimento da diferença. É na identidade que está a

experiência e significado de cada grupo ou individuo embasado em sua história,

práticas, crenças e em todas suas manifestações culturais. A identidade é capaz de unir

pessoas em nome de suas lutas e crenças comuns. Para que se tenha de fato a proteção

da diversidade cultural é imprescindível o respeito e valorização entre as culturas

diferenciadas. É direito de cada individuo ser tratado como sujeito e ter seus direitos

Page 26: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

humanos respeitados e acima de tudo respeitar o direito dos outros.

Monteiro Lobato acusado ou não de ser um escritor racista não nos tira o prazer

de ler sua obra. Suas histórias demonstram personagens negros tratados com um viés

excludente, apenas exercendo sua função para os brancos, mas também nos mostra a

intensa relação de amizade e respeito entre grupos sociais, cada qual com sua diferença.

Sua obra se caracteriza como uma referência para que possamos entender a

representação do negro na literatura, principalmente, infantil brasileira.

Se tomássemos sua obra como um auxilio para o ensino das múltiplas culturas,

estaríamos levando o jogo da diferença e identidade às futuras gerações, e desta forma

seria possível que houvesse mais respeito e reconhecimento dos que estão sujeitos a

uma sociedade que em sua maioria os excluem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSIS, Marta Diniz Paulo de & CANEN, Ana. Identidade Negra e Espaço

Educacional: Vozes, História e Contribuições do Multiculturalismo. In: Cadernos de

Pesquisa, v. 34, p. 709 – 729, set/dez. 2004.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL.

Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm> Acesso em 11

julho 2016.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas; tradução de Renato da Silveira. –

Salvador: Edufba, 2008.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Dicionário da língua portuguesa. 8ª

edição. Curitiba: Ed. Positiva, 2010.

Page 27: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

GOLDIN, José Roberto. Eugenia. Disponível em:

<https://www.ufrgs.br/bioetica/eugenia.htm> Acesso em 09 julho 2016.

HALL, Stuart. Da diáspora – identidades e mediações. Belo Horizonte: Editora

UFMG, 2002.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,

2006.

LEITE, Adriana Filgueira. O lugar: Duas acepções geográficas. Disponível em:

<http://www.anuario.igeo.ufrj.br/anuario_1998/vol21_09_20.pdf> Acesso em 08 julho

2016.

LOBATO, Monteiro. Sítio do Picapau Amarelo. Reinações de Narizinho. Caçadas de

Pedrinho. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. 1 v.

LOBATO, Monteiro. Caçadas de Pedrinho. Disponível em:

<http://www.miniweb.com.br/cantinho/infantil/38/Estorias_miniweb/lobato/Vol3_Caca

das-de_Pedrinho.pdf> Acesso 10 julho 2016.

MOTA, Edimilson Antônio. O negro e a cultura afro-brasileira: uma bricolagem

multicultural do ensino de geografia. Rio de Janeiro, 2013. Tese (Doutorado em

Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2013.

NIGRI, André. Monteiro Lobato e o racismo. BRAVO!, São Paulo, edição 165, p.24-

33, maio 2011.

SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São

Page 28: CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO … · CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE MONTEIRO LOBATO. Campos dos Goytacazes-RJ 2017 RESUMO

Paulo: EDUSP, 2006.

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: Globalização e meio técnico-científico

informacional. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

SILVA, Tomaz Tadeu da. (org.) Stuart Hall; Kathryn Woodward. Identidade e

diferença – a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade – uma introdução às teorias do

currículo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2004.

SOUZA, Hugo. Monteiro Lobato, Ziraldo e o racismo maluquinho. Disponível em:

<http://opiniaoenoticia.com.br/brasil/politica/monteiro-lobato-ziraldo-e-o-racismo-

maluquinho/> Acesso em 09 julho 2016.