CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO · PDF file...
date post
06-Jul-2020Category
Documents
view
2download
0
Embed Size (px)
Transcript of CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO · PDF file...
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
MARIANE MELLO LIMA
CAÇADAS DE PEDRINHO: REPRESENTAÇÃO RACIAL DO NEGRO NA OBRA DE
MONTEIRO LOBATO
Campos dos Goytacazes-RJ
2017
RESUMO
O trabalho tem como abordagem a representação do negro na obra Caçadas de Pedrinho e
como a diversidade cultural de uma sociedade tão heterogênea como a que estamos inseridos
reforçam as diferenças em âmbito social e político. Objetivamos aqui, entender como as
diferenças estão cada vez mais presentes nas relações sociais para assim demonstrar que
através de estereótipos a caracterização dos indivíduos poderá ser racista, desta forma
embasados na obra de Monteiro Lobato iremos identificar como se deu a representação do
negro, e analisar um de seus livros o qual foi tema de um grande debate na literatura infantil
brasileira acusada de conter características de cunho racista. A pesquisa é de cunho
qualitativo. Foi realizado um levantamento e feita a revisão bibliográfica pertinente ao tema
em questão, como, a construção de estereótipos para caracterização dos negros, e o
reconhecimento das diversas culturas que permeiam a sociedade no que tange a representação
do negro de forma racista na obra infantil Caçadas de Pedrinho de Monteiro Lobato.
Concluímos que, ao passo que uma obra de reconhecimento mundial se vê acusada de conter
certos trechos racistas, é de suma importância que entendamos que falar sobre diferentes
culturas é falar sobre estereótipos criados ao longo dos anos através do reconhecimento racial
das características dos indivíduos. Contudo observamos que o negro vem sofrendo
preconceitos há séculos, e que mesmo um ícone da literatura infantil brasileira pode cometer
racismo em suas obras, através da caracterização e representação de seus personagens.
Palavras-chaves: Racismo, caçadas de Pedrinho, representação.
ABSTRACT
The work has as an approach the representation of the Negro in the work Caçada de Pedrinho
and how the cultural diversity of a society as heterogeneous as the one that we are inserted
reinforce the differences in social and political scope. We aim here to understand how
differences are increasingly present in social relations to demonstrate that through stereotypes
the characterization of individuals may be racist, so based on the work of Monteiro Lobato we
will identify how the representation of the black was given, and analyze One of his books
which was the subject of a great debate in Brazilian children's literature accused of containing
characteristics of a racist nature. The research is qualitative. A survey was carried out and the
bibliographic review pertinent to the subject in question was made, such as the construction of
stereotypes for the characterization of blacks and the recognition of the diverse cultures that
permeate society in what concerns the representation of the black in a racist way in the
children's work Hunting By Pedrinho de Monteiro Lobato. We conclude that while a work of
world recognition is accused of containing certain racist passages, it is of the utmost
importance that we understand that talking about different cultures is talking about
stereotypes created over the years through racial recognition of the characteristics of
individuals. However we note that black people have been prejudiced for centuries, and that
even an icon of Brazilian children's literature can commit racism in their works, through the
characterization and representation of their characters.
Keywords: Racism, Pedrinho hunts, representation.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
1. O JOGO DA DIFERENÇA É FATO ........................................................................ 8
1.1 A Diferença em âmbito social .............................................................................. 12
1.2 Representações do negro em Monteiro Lobato .................................................. 14
2. ANALISANDO O LIVRO "CAÇADAS DE PEDRINHO" ....................................... 17
2.1 Principais descrições raciais no livro ................................................................... 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 23
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios dos anos 1500, o negro era considerado feio, sujo, piada, ou
ainda, algo insignificante. Esta interpretação ainda se repercute até os dias atuais.
Quando passamos por uma situação ruim/difícil, costumamos usar a expressão “a
situação está preta”. Por quê? Somos nós seres racistas?
O estudo aprofundado sobre a diversidade cultural de uma sociedade é de
extrema importância para o meio acadêmico, uma vez que, aborda e enfatiza questões
como o jogo das diferenças, que são estabelecidas a partir de lutas e relações sociais
entre os atores sociais, e retrata a discriminação e preconceito que indivíduos
experimentam dentro da sociedade em que estão incorporados.
Discutir acerca dos processos excludentes é extremamente importante, visto que
é uma temática complexa onde as necessidades de conexão entre os métodos de
globalização e articulação entre as lutas pelo direito à diferença beiram elevar as
desigualdades e consequentemente fazer com que os indivíduos que já estão a mercê da
sociedade sejam cada vez mais excluídos. A partir daí faz-se necessário saber e
questionar quais processos levarão a inclusão e exclusão de um grupo por meio dos
contextos de sua interação com a sociedade. Sobre a experiência vivida do negro, Fanon
(2008) nos diz: “‘Preto sujo!’ Ou simplesmente: ‘Olhe, um preto!’ [...] O preto é um
animal, o preto é ruim, o preto é malvado, o preto é feio; olhe, um preto!” (p. 103 e
106). E ainda: “O branco quer o mundo; ele o quer só para si. Ele se considera o senhor
predestinado deste mundo. Ele o submete, estabelece-se entre ele e o mundo uma
relação de apropriação.” (p.117).
O negro não mais é incluído, ele apenas faz parte de uma sociedade que quer a
qualquer custo embranquecer.
Em uma sociedade tão heterogênea da qual nós fazemos parte, é imprescindível
falar sobre a diversidade cultural, e as relações sociais que a permeiam. Este campo vem
reforçar as diferenças existentes no âmbito social e político em que estamos inseridos.
Além de grande contribuição para a prática pedagógica, o debate sobre a temática
cultural é essencial para compreender as práticas sociais e de seus agentes sociais, em
uma sociedade tão diversificada como a nossa.
Neste sentido Hall (2002) nos fala sobre o debate da questão multicultural:
“Multicultural é um termo qualificativo. Descreve as características sociais e
os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na
qual diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida
em comum [...] Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou
administrar problemas e multiplicidade gerados pelas sociedades múltiplas”
(2002, p. 52).
Em uma sociedade com tantos costumes culturais, a diversidade é um pretexto
para a imposição de valores. A diferença e identidade assombra a mentalidade do ser
humano, pois as diferenças culturais não podem ser vistas e entendidas separadamente
das relações de poder.
O homem nada mais quer do que dominar. Cada pessoa age de acordo com os
conhecimentos que carrega consigo. Por dentro de suas experiências ao longo da vida, o
ser humano baseado em sua cultura, constrói um pensamento onde irá expressar suas
particularidades culturais e práticas sociais.
Através da literatura infantil é possível observar traços da cultura do racismo,
onde a representação do negro será efetivada através de seus estereótipos. Em O Sítio
do Pica Pau Amarelo Monteiro Lobato definiu onde e qual era o lugar do negro.
Tomemos como exemplo os personagens Saci Pererê, Tia Nastácia e Tio Barnabé ambos
negros. O primeiro vive na floresta com seu cachimbo e sem uma perna. A segunda vive
na "casa grande", porém na cozinha e, sua função é servir aos brancos; e, o terceiro, um
velho, que ajuda nas tarefas diversas do sítio e vive fumando seu cachimbo e sabe tudo
sobre a floresta e seu poder de cura. As relações sociais destes com os que vivem na
casa grande podem ser identificadas ora como apenas prestação de serviços, ora
amigável, com suas longas histórias recitadas aos moradores da casa. Tais personagens
[negros] são caracterizados como inferiores em relação aos brancos.
Em 2010, o Conselho Na