Cabangu - Museu Natal de Santos Dumont

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Cabangu-Museu Natal de Santos Dumont - O Pioneiro da Aviação Mundial Texto Claudia Terra. Fotos Claudia Terra (entusiastaadventure.blogspot.com.br) e Fundação Casa de Cabangu Confira também esta matéria, versão curta, na Revista Frequência Livre, edição 80.

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Cabangu-Museu Natal de Santos Dumont - O Pioneiro da Aviação Mundial Texto Claudia Terra. Fotos Claudia Terra

(entusiastaadventure.blogspot.com.br) e Fundação Casa de Cabangu

Confira também esta matéria, versão curta, na Revista Frequência Livre, edição 80.

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A modesta casinha de Cabangu foi a primeira casa do grande gênio Alberto Santos

Dumont, agora uma lembrança do passado que motiva o presente na preservação da

memória e dos ideias do grande inventor para a posteridade. Feitos que encantam e

motivam os primeiros entusiastas na criação do Museu Casa Natal de Dumont, como

o jornalista e historiador Oswaldo Henrique Castello Branco, o Brigadeiro Oswaldo

Terra de Faria e vários outros nos anos 70.

O maior responsável pela existência do museu, no entanto, é o próprio Santos

Dumont, não só pelo fato de ter nascido ali, mas por ter se importado em resgatar,

muitos anos depois ( ele viveu nesse local do nascimento até os 3 anos de idade), o

seu local de nascimento e transformá-lo em sua fazenda por cerca de 6 anos e em um

local muito especial, pois ele próprio trouxe para a essa casa muitos importantes

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documentos, fotos e objetos pessoais. Na sua casa natal há um grande número de

manuscritos assinados e de fotos autografadas por ele. Se não fosse a sua busca por

suas origens, a casa de Cabangu teria desaparecido e o único local de referência de

sua infância seria o museu da cidade de Dumont-SP, local em que ele passou a maior

parte da infância, mas que não é o seu local de nascimento.

Felizmente o trabalho iniciado pelo incansável inventor tem continuidade nos dias de

hoje com o entusiasmo e dedicação dos irmãos Mônica e Tomás Castello Branco ( eles

são filhos de Oswaldo Henrique Castello Branco, que foi um importante personagem

na ação de preservar a casa e os pertences de Dumont logo após sua morte) à frente

da Fundação Casa de Cabangu, a guardiã de todo o acervo, da Aeronáutica (Escola

Preparatória de Cadetes do Ar- EPCAR de Barbacena-MG) e da prefeitura municipal de

Santos Dumont-MG.

Em 1903, antes da invenção do 14 Bis e da sua consagração como o pioneiro da

aviação, o elegante Santos Dumont visita, pela 1ª vez a casinha onde nascera, que está

em ruínas. Ele manifesta desejo de comprá-la, o que seria difícil por essa propriedade

integrar a ferrovia e pertencer ao governo federal. Em 1914 ele volta à Cabangu,

fotografa a casa e continua querendo comprá-la. Em 1919, já consagrado inventor do

avião, pelo voo histórico com o 14 Bis, em 1906, ele a recebe de presente do governo

federal como reconhecimento por seus feitos aeronáuticos ao mundo. Muito feliz e

agradecido, Santos Dumont afixa, ele mesmo, uma placa de agradecimento na varanda

da casa. Placa que ainda se encontra lá e tem a seguinte mensagem: ” Esta casa onde

nasci, me foi oferecida pelo Congresso Nacional como prêmio pelos meus trabalhos,

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ass: Santos Dumont”. No museu há uma carta de Dumont onde ele faz a encomenda

dessa placa.

A casa, no entanto, quando ele a recebeu estava em péssimas condições. Santos

Dumont a reformou, a decorou com móveis idealizados por ele no mesmo estilo dos

móveis do seu chalé em Petrópolis-RJ, a Encantada, ou seja, com vários móveis fixos

ás paredes. Entre esses móveis exclusivos, há também uma lareira na sala, com dois

bustos feitos por escultores franceses, sendo um desses feito em gesso e outro em

bronze feito por George Colin, o mesmo escultor do Ícaro, monumento de Saint –

Cloud, em Paris feito em homenagem ao Pai da Aviação por seu voo com o dirigível

em torno da Torre Eiffel, em 1901. O forro da casa de Cabangu é feito de uma

variedade especial de bambu. Ele aterra o porão, manda o administrador construir um

lago em frente à casinha, onde instala um chafariz, que funciona por gravidade e

mantém o lago cheio. Esse lago se mantém vivo com esse chafariz, que continua a

dança centenária com seu esguicho solitário como o inventor o deixou. De acordo com

Mônica, coordenadora da Fundação Casa de Cabangu, o lago foi construído para servir

de bebedouro para o gado. Nos tempos do aviador fazendeiro, a pastagem se estendia

até bem próxima à casa e as vacas sempre estavam ao redor desse lago. Dumont

cuida do jardim, planta grama trazida do Rio de Janeiro, entre outras melhorias.

Muitas dessas, no entanto, realizadas à distância, por ordens passadas ao seu

administrador por cartas. Esses manuscritos estão no acervo do museu Cabangu.

Quando estava presente na fazenda, Santos Dumont era ativo e participava das

atividades diárias, instruía seus funcionários, fazia melhorias na propriedade, tentava

melhorar o rebanho. Há fotos do inventor alimentando uma bezerra, acompanhando

o dia a dia na propriedade. Aos domingos ele tinha o hábito de hastear a bandeira

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nacional e de observar os passarinhos que frequentavam, em grande número, o

comedouro que ele instalou próximo à bandeira.

De 1919 a 1924 Dumont frequênta a casa de Cabangu e as cidades de Palmyra ( A atual

Santos Dumont) e Barbacena. Ele compra terras nas proximidades da casinha, amplia

de 11.934m² para 37.268m² e passa a criar gado holandês. O bem sucedido fazendeiro

torna- se um grande produtor de leite e fabrica vários tipos de queijos, manteiga e

doce de leite. Ele produzia mais de 150 litros de leite por dia. Nessa época Palmyra foi

1ª cidade brasileira a produzir o queijo do reino. Dumont usava a sigla SD feita em

peça de ferro, que aquecida ao fogo era usada para marcar o seu gado. Peça que está

no acervo do museu Cabangu.

A linha férrea passa em frente à fazenda Cabangu, porém, na época não era permitida

a parada nesse ponto, o Rápido, como era chamado o trem na região, parava bem

antes, na caixa d’ água, cerca de 100m da casa de Dumont, para se abastecer de água.

A locomotiva não parava em subidas para não perder a potência. Santos Dumont

conseguiu autorização do compreensivo maquinista, que permitia o seu desembarque.

Porém, para tal feito, o seu administrador da fazenda tinha que levar uma escadinha,

feita por ele para encaixar no trem e facilitar a descida. Assim, ao apito da Maria-

Fumaça ao longe, este administrador, o João Mendes, sai correndo para levar o

acessório até o trem. A caixa d’ água encontra- se no local até hoje e a fundação quer

tombá-la, para que seja preservada.

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Em suas estadas à Cabangu, o Pai da Aviação, na sua simplicidade, costumava pegar

carona no trem que transportava leite da Serra da Mantiqueira à Palmyra para fazer

compras e cuidar dos negócios. Era tratado na região por Dr. Santos Dumont, o

fazendeiro de Cabangu. Não era assediado, embora sua presença fosse destacada por

seu visual impecável, sempre com ternos super ajustados, colarinhos altos e o clássico

chapéu Panamá. Ele não era de falar muito, estava sempre sozinho e carregava sempre

uma capa na mão. Era tímido e nunca elevava o tom de voz. Não fumava, tomava

vinhos, era adepto a caminhadas e costumava fazer isso pelas extensões da fazenda.

Costumava sair para cavalgar com um amigo e proprietário de uma fazenda vizinha,

que também o auxiliava com dicas administrativas da fazenda Cabangu, tinha muita

amizade com os pecuaristas vizinhos da sua fazenda.

Era sempre homenageado pelas autoridades locais e do estado de Minas Gerais. Em

uma dessas homenagens, autoridades mineiras seguiram de trem e fizeram uma visita

ao ilustre aviador na fazenda Cabangu, no centenário da independência do Brasil, em

1922. Entre os presentes estavam a piloto Anésia Pinheiro, uma das primeiras

aviadoras do Brasil, que era amiga de Santos Dumont. Anésia tem hoje suas cinzas

guardadas junto ao acervo de Cabangu, em um espaço reservado especialmente para

ela, com fotos e documentos originais, além de alguns objetos pessoais.

Quando o incansável Dumont chegava à Palmyra, em um trem às 6 da manhã, sentava-

se só, em um banco de um jardim próximo à igreja São Miguel, no centro da cidade.

Aguardava o trem para a fazenda, que passava às 9:30 horas. Atualmente nesse local

há uma estátua do aviador sentado em um banco.

Mas os dias de fazendeiro vão perdendo o ritmo em 1924. O dedicado administrador

já não se mostra tão dedicado, não responde as cartas de Dumont, a fazenda começa

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a dar prejuízos. Além disso, a saúde começa a ficar abalada. No ano de 1925 com a

saúde bastante debilitada, a conselho dos amigos e do seu contador, Dumont vende a

fazenda, preserva a sede e pede ao seu vizinho de fazenda que cuide da casinha, mas

esse, embora aceitado a incumbência, não fez de fato, o prometido, e a casa fica

praticamente abandonada. Em seu testamento o pioneiro da aviação pede que a sua

casa de Cabangu seja devolvida à nação, sua doadora.

Em 23 de julho de 1932 o Pai da Aviação morre em um hotel, no litoral paulista. Logo

após saber da morte de Dumont, o então secretário da prefeitura de Palmyra, o

jornalista e historiador Oswaldo Henrique Castello Branco, vai até à casa de Cabangu

recolhe os objetos pessoais, fotografias e documentos que se encontravam na mesma

e os guarda na sua própria residência. Em 31 de julho a cidade de Palmyra muda o

nome para Santos Dumont. A mudança acontece pelo decreto estadual n.° 10.447, de

31 de julho de 1932, uma semana após a morte Alberto Santos Dumont. A triste

notícia da morte do seu filho mais ilustre fez com que cidade de Palmyra, sua cidade

natal, prestasse essa homenagem ao homem que deu asas á humanidade.

A mobilização e decisão das autoridades locais foram imediatas e ao que parece nem

teve consulta publica, como conta Tomás Castello Branco, presidente da Fundação

Casa de Cabangu. “Na época meu pai (Oswaldo Henrique Castello Branco) era

secretário do prefeito, tinha 26 anos de idade e ficou sabendo da morte de Dumont

por meio do telegrafista da estação ferroviária. O telegrafista era o cara mais

informado da cidade, sabia de todas as notícias que passavam pela região. Assim que

ficou sabendo que o governo federal estava avisando o governo do estado que

Dumont havia morrido no Guarujá ele correu até à prefeitura para avisar o prefeito,

que não estava, pois nesse dia era uma manhã de segunda-feira e ele só chegava para

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trabalhar na parte da tarde. Na mesma hora o secretário Castello disse ao telegrafista:

precisamos homenagear Dumont de alguma forma. Daí foram para um bar tomar um

café , que por acaso estava lá um advogado, o Joaquim Alves da cunha, amigo pessoal

de Santos Dumont em Palmyra, que foi orador nos eventos locais em homenagem a

Dumont. Quando ele ficou sabendo da morte de Dumont pelo Castello e pelo

telegrafista, ficou muito chateado e na mesma hora também teve a mesma ideia de

fazer algo para homenagear Dumont. Cogitaram mudar nome da rua principal, etc.

Mas de repente todos tiveram a mesma ideia. Vamos mudar o nome da cidade! O

Joaquim era da política contraria à administração atual na época, mas nessa hora não

deu importância para isso.

Joaquim deu a ideia e falou com Castello: você que é o secretário do prefeito, que

se vire para falar com ele , eu vou pra casa. Daí meu pai esperou o prefeito Jacques

Gabriel Pançardi chegar em casa. Ele era vizinho do meu pai, morava em frente à

casa do meu pai, que ainda esta conservada até hoje. Daí quando Jacques chegou,

meu pai disse a ele o seguinte: Compadre! Santos Dumont morreu na sexta feira

passada e já há na cidade um movimento para mudar o nome da cidade para Santos

Dumont. Conta meu pai que o prefeito não se assustou não. Naquela época os

políticos eram homens de decisão! Não ficavam consultando, era tudo decidido “ atrás

da orelha”! Daí Jacques pergunta ao Castello se o José Beira Max, que era deputado,

líder político da região e que estava na cidade todo final de semana, estava de acordo.

Ele vinha na sexta e voltava na segunda à tarde. O Jacques pede a meu pai para ir à

casa do deputado para saber o que ele achava da ideia da mudança do nome, porque

ele ainda estava na cidade. Meu pai vai à casa de Beira Max e conta a história. O

deputado recebe meu pai, que lhe conta a história sobre a morte de Dumont e do

movimento que já havia na cidade para homenagear Dumont. Beira Max pergunta a

meu pai se o Jacques, o prefeito, estava de acordo. E ele lhe disse que sim. Mas na

verdade não estava. O prefeito queria antes, saber da posição do deputado para se

manifestar, mas meu pai disse que o prefeito estava em total acordo com a mudança

do nome. Então o deputado pediu a meu pai para ir à prefeitura e que redigisse um

documento solicitando que o povo de Palmyra quer homenagear Dumont e deseja

mudar o nome da cidade de Palmyra para Santos Dumont, depois peça ao Jacques

para assinar e traga pra mim, que eu já o levarei, hoje à tarde e entregarei em mãos

ao governador Olegário Maciel, em Belo Horizonte. Na semana seguinte sai o decreto

da mudança do nome. Uma semana depois sai o jornal com a notícia da morte do

Dumont e na outra semana o mesmo jornal já trazia a notícia do novo nome da

cidade. Essa é uma história local, que meu pai me contava”.

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Além do ato de cuidado com a história de um dos personagens mais importantes da

história da humanidade, que foi o genial inventor que tornou possível a realização

do antigo sonho humano de voar, Oswaldo Henrique Castello Branco começou

também um movimento na cidade para que os cidadãos o ajudassem na ampliação

do acervo com qualquer coisa de relevância sobre o conterrâneo mais importante de

toda a história do município. Com o tempo ele conseguiu reunir muitas doações, em

especial dos familiares de Alberto Santos Dumont, que fizerem muitas importantes

contribuições. Assim, a Fundação Casa de Cabangu começa sua história de

envolvimento direto com preservação da memória do inesquecível e genial aviador,o

pequeno Santos Dumont, o gigante aventureiro que deu asas à humanidade.

Depois de alguns anos de funcionamento, a fundação é oficialmente criada em 1949.

Em 1973, ano do centenário de nascimento do pioneiro dos ares, Alberto Santos

Dumont, como resultado do trabalho dos amigos Oswaldo Henrique Castello Branco e

do Brigadeiro Oswaldo Terra de Faria, que era, nos anos 70, comandante da EPCAR de

Barbacena( homenageado em Cabangu com uma biblioteca na sede administrativa do

museu que leva seu nome), criaram uma comissão nacional de celebração do

centenário de nascimento de Santos Dumont e dentro dessas comemorações estava

a inauguração do Museu Casa Natal de Santos Dumont.

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1903 foi um ano de muitas conquistas na conservação da memória do nosso aeronauta

mais ilustre. A região do município de Santos Dumont ganha oficialmente mais atenção

das autoridades. Além da inauguração do Museu Casa Natal de Santos Dumont, nessa

mesma data teve inaugurado, como ampliação da área de arquivos do museu, a

construção de 3 galpões, em forma de chalés de madeira, no estilo europeu, a

construção de um lago próximo a esses galpões. Lago, que de acordo com Mônica,

coordenadora da Fundação Casa de Cabangu, foi construído para dar acesso aos

galpões, porque a área próxima era um brejo e com o aterramento surgiu o lago e pela

barragem é feito o acesso. Também para celebrar o centenário e melhorar o acesso

ao Museu Cabangu, foi especialmente construída a BR499, uma das menores rodovias

federais, com apenas 18km de extensão, que dá acesso ao museu pela BR 040.

Cabangu, fica em um vale, a 18 km do centro da cidade mineira de Santos Dumont. O

acesso pela BR 499 (Recentemente renomeada Rodovia Historiador Oswaldo Henrique

Castello Branco) rodando pela BR 040, podendo ou não passar pelo centro de Santos

Dumont, onde também há monumentos em memória do aviador, como a torre Eiffel

com um dirigível a contornando, na avenida principal, e uma estátua de Dumont

sentado em um banco na praça , em frente à igreja de São Miguel.

Este belo espaço cultural, com cerca de 36 hectares, recebe anualmente importantes

eventos oficiais do governo federal e estadual, além de alguns eventos do próprios do

Museu Cabangu para celebrar importantes datas que lembrem o gênio Santos

Dumont. Também o parque recebe alguns visitantes que curtem celebrar seus

momentos importantes pelos jardins do aviador, como confraternizações e

aniversários. “Nós liberamos o espaço para grupos de amigos e famílias para

realizarem no parque seus momentos comemorativos”, diz Mônica. A estrutura para

recepcionar o visitante, no entanto, ainda não está completa, pois falta, por exemplo,

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um restaurante e, quem sabe, uma cafeteria temática com cadeiras bem altas como as

que Dumont usava, mesmo assim muitas pessoas vão até lá para passarem o dia e

fazerem piqueniques e de certo modo lembrarem dos voos de balão de Dumont,

quando em suas ascensões levava queijos, champanhes e outras coisas legais para um

lanche com os amigos em belas paisagens.

Mas como o persistente Dumont, a Fundação Casa de Cabangu quer fazer muito mais

pelo parque e para isso está com projeto, elaborado pelo PPHAN, que visa a

restauração e a reestrutura do parque, com a construção de novas instalações,

publicidade completa do museu em todas as mídias, adição de novos serviços, como a

abertura de licitação para implantação de restaurante. Dentre uma das ampliações de

maior destaque talvez seja a construção de um hangar climatizado para abrigar as

duas réplicas das maiores criações de Dumont, o 14 Bis, em tamanho natural. Réplica

essa que voou em Brasília nas comemorações dos 100 anos da aviação e réplica da

Demoiselle, feita em escala natural do projeto original de Dumont. Porém, essa

réplica não voa. É um ultraleve só para exposição.

Entre os muitos desafios da fundação, está o de tonar o turismo histórico a principal

atividade o município. “Entre outras ideias tenho a de colocar algo como um portal do

Cabangu no centro da cidade com amostras de todos os produtos vendidos no museu,

porém, que possam ser comprados em determinadas lojas no centro de Santos

Dumont. Seria uma parceria da fundação com a Faculdade de Turismo.

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Ainda dentre os projetos, temos o da construção de uma pista para pousos e

decolagens de ultraleves. Já temos a área doada para a pista, que fica próxima ao

Cabangu”, diz Mônica. A pequena cidade natal do inventor do avião não tem

aeroporto ou qualquer pista para aeronaves. Mas, se dependesse só dos esforços da

fundação, os pequenos pássaros do progresso, já estariam com uma bela pista para

pousos de decolagens, para dar mais alegria ao pai da aviação e a todos que curtem

tirar suas super máquinas do hangar nos finais de semana e terem mais uma boa

opção para curtirem, como a casa de nascimento do bandeirantes do ar e fazendeiro

Santos Dumont. Museu único, já reconhecido e admirado nacional e

internacionalmente e por muitos brasileiros aviadores e entusiastas.

Há também um grande projeto que tem a iniciativa de uma ong de Barbacena e da

Fundação Cabangu, que pretendem reativar um passeio de 40 min em um trem antigo,

a Liturina. O passeio parte de Barbacena com destino ao museu Cabangu. O trem já

foi restaurado e está pronto para deslizar nos históricos trilhos da região de Cabangu.

O Expresso Pai da Aviação só depende da liberação da linha pela MRS Logística (

concessionária que controla, opera e monitora a malha sudeste da rede ferroviária),

para entrar em funcionamento.

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Dumont enfrentou muitos desafios para fazer o homem voar, mas com sua

genialidade e persistência, deixou para humanidade, entre outros legados, o caminho

do céu, nos deixou mais próximos dos deuses com seus inventos aeronáuticos.

Cabangu, apesar de sua importância, enfrenta ainda muitos desafios. O parque hora é

lembrado, hora é esquecido. Nesses momentos de falta de consciência, ele vai

perdendo o que já foi feito, para depois, na melhor das hipóteses, ter essas mesmas

coisas restauradas, ao invés de ter com os custos dessa necessária restauração pela

negligência, investimento em novas obras, que enalteçam o grande aviador e encante

ainda mais o visitante.

No parque Cabangu, por falta de manutenção, há áreas interditadas como os galpões

que abrigavam a história da aviação, do 14 Bis e da aviadora Anésia Pinheiro, que tem

suas cinzas guardadas junto ao acervo do museu, espaço especial dedicado a ela. Para

não se perderem, todos os documentos e objetos expostos nestes galpões foram

recolhidos e guardados em sala climatizada, longe dos olhos curiosos dos visitantes. No

que seria a praça de alimentação e lazer, também há muitas interdições nos quiosques

e churrasqueiras. O heliponto está praticamente circundado por grandes árvores e

eucaliptos, o que praticamente inviabiliza o uso do mesmo.

Além das áreas interditadas, no parque há lagos que precisam ser limpos,

desassoreados, amplas áreas gramadas, que às vezes podem ser confundidas com

áreas abandonadas, tomadas por mato, agigantando o aspecto de abandono. Os

esforços da fundação não são suficientes, por conta dos altos custos para manter o

parque funcionando em sua plenitude, com tudo em ordem, como se espera que seja

um espaço como o parque histórico aeroespacial de Cabangu. A EPCAR de Barbacena

é responsável pela guarda e segurança de todo o parque e o faz com eficiência. De

acordo com a assessoria de comunicação, a EPCAR faz de vez em quando, por cortesia,

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a limpeza da aérea (poda do gramado, limpeza das árvores) por ela ter também grande

interesse na preservação do parque e do museu que guardam o precioso passado do

inventor Santos Dumont. Ainda de acordo com a assessoria de comunicação da EPCAR,

eles estão reformulando entre a Fundação de Cabangu e a prefeitura de Santos

Dumont, uma parceria para melhorar as ações em prol de melhores cuidados com

parque e com museu. Também a EPCAR quer ajudar na ativação do passeio turístico de

trem, um projeto que daria um grande impulso ao turismo da região.

Mas Cabangu não é sempre assim, meio esquecido, pois de acordo com Mônica, na

época dos eventos oficiais dos governos, o parque fica impecável, lindo, limpo, com

muitas decorações e placas por sua extensão. A sinalização ao longo das BRs 040 e 499

(Oswaldo Henrique Castello Branco), que de regra é bastante precária, ganha muitas

placas de sinalização ao longo do trajeto até o museu.

Como Leonardo da Vinci, Dumont observava os pássaros. Sonhava com os voos, como

sonhava principalmente o escritor Júlio Verne, sua primeira inspiração aeronáutica.

Como Verne, Dumont acreditava que homem podia voar e com seu pioneirismo, o fez

voar de fato. Levou a humanidade aos céus com seus magníficos inventos, com seu

gigante 14 bis, 1ª aeronave mais pesada que o ar que voa por si, sem apoio externo,

depois fez sua obra prima, a Demoiselle, ultima criação do gênio, pequena e

esplêndida aeronave precursora dos ultraleves, da aviação desportiva dos nossos

tempos, que até hoje encanta e surpreende pela sua simplicidade e eficiência.

Não é preciso gostar de aviões ou de voar para reconhecer, a admirar ou conhecer os

feitos deste grande inventor, deste grande ser humano que foi Santos Dumont, que

atendendo ao conselho do seu pai, se fez um grande homem e não um doutor.

Sempre compartilhou com o mundo suas criações, sempre pensando no bem estar das

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pessoas pelo planeta. Estar em contato com sua vida através dos museus aqui e pelo

mundo é fascinante, mas talvez um dos espaços mais especiais seja o museu Cabangu,

por ser o único sob vários aspectos. Lá não tem nenhum original de suas criações

aeronáuticas, o tom de exclusividade do local, portanto, é o fato de ele ser o único

museu criado pelo próprio aviador, que resgatou sua própria origem de nascimento e

nos poucos anos deixou lá muitas raridades pessoais antigas, dos seus áureos tempos

de incansável inventor, que conquistou os céus, e do seu pacato tempo de fazendeiro

da Mantiqueira, já distante do fascínio e entusiasmos com inventos aeronáuticos.

Os visitantes do museu podem, além de levar belas imagens e terem as energias

renovadas pela beleza e tranquilidade do parque, comprar souvenires como

miniaturas de suas criações aeronáuticas, bonecos de Dumont, camisetas e livros,

como “Santos Dumont - Retorno às Origens- A Vida do Pai da Aviação na sua Terra

Natal”, de Isabel Pequeno e Sérgio Gattás Bara, que conta a história do local de

nascimento de Dumont e foi ilustrado com imagens do acervo do museu de Cabangu,

um lugar encantado! Repleto de belezas naturais e históricas. Belezas do presente e do

passado, que o tempo só nos faz valorizá-las , admirá-las e preservá-las para o futuro.