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Rosa Cabecinhas Expressões de racismo: mudanças e continuidades CECS ______________________________________________________________________________________ Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade www.cecs.uminho.pt 1 Autor: Rosa Cabecinhas, Universidade do Minho Título: Expressões de racismo: mudanças e continuidades Referência completa: Cabecinhas, R. (2010) “Expressões de racismo: mudanças e continuidades”. In: Mandarino, A.C.S. & Gomberg, E. (Eds.) Racismos: Olhares plurais (pp.11-43). Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia. Resumo: O racismo é um fenómeno bastante complexo e multifacetado, a sua compreensão exige a convocação de diversos níveis de análise, desde os processos cognitivos internos até aos factores históricos, sociais e culturais que foram moldando as formas de expressão do racismo ao longo do tempo. Neste capítulo procede-se à discussão das rupturas e continuidades nas expressões dos ‘velhos’ e ‘novos’ racismos. 1. Preconceito, etnocentrismo e racismo No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da responsabilidade da Academia de Ciências de Lisboa, o racismo é definido como “teoria, sem base científica, fundada na crença da superioridade de certas raças humanas, que defende o direito de estas dominarem ou mesmo exterminarem as consideradas inferiores e proíbe o cruzamento da suposta raça superior com as inferiores; teoria da hierarquia racial”. São ainda referidos outros dois significados do conceito de racismo: “atitude política ou opinião concordantes com essa teoria” e “intensificação do sentimento racial de um grupo étnico em relação a outro ou outros” (2001: 3062). Como veremos ao longo deste capítulo, estas definições de racismo são insuficientes para dar conta dos ‘novos’ racismos, uma vez que incidem em formas de expressão flagrantes de discriminação racial e não tanto nas suas manifestações mais subtis, como as que observamos hoje em dia em sociedades formalmente democráticas. Na literatura científica é comum encontrarmos definições ambíguas de racismo, sendo

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Autor:

Rosa Cabecinhas, Universidade do Minho

Título:

Expressões de racismo: mudanças e continuidades

Referência completa:

Cabecinhas, R. (2010) “Expressões de racismo: mudanças e continuidades”. In: Mandarino, A.C.S. & Gomberg, E. (Eds.) Racismos: Olhares plurais (pp.11-43). Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia.

Resumo:

O racismo é um fenómeno bastante complexo e multifacetado, a sua compreensão exige a

convocação de diversos níveis de análise, desde os processos cognitivos internos até aos

factores históricos, sociais e culturais que foram moldando as formas de expressão do racismo

ao longo do tempo. Neste capítulo procede-se à discussão das rupturas e continuidades nas

expressões dos ‘velhos’ e ‘novos’ racismos.

1. Preconceito, etnocentrismo e racismo

No Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da responsabilidade da Academia

de Ciências de Lisboa, o racismo é definido como “teoria, sem base científica, fundada na

crença da superioridade de certas raças humanas, que defende o direito de estas dominarem ou

mesmo exterminarem as consideradas inferiores e proíbe o cruzamento da suposta raça

superior com as inferiores; teoria da hierarquia racial”. São ainda referidos outros dois

significados do conceito de racismo: “atitude política ou opinião concordantes com essa

teoria” e “intensificação do sentimento racial de um grupo étnico em relação a outro ou

outros” (2001: 3062). Como veremos ao longo deste capítulo, estas definições de racismo são

insuficientes para dar conta dos ‘novos’ racismos, uma vez que incidem em formas de

expressão flagrantes de discriminação racial e não tanto nas suas manifestações mais subtis,

como as que observamos hoje em dia em sociedades formalmente democráticas.

Na literatura científica é comum encontrarmos definições ambíguas de racismo, sendo

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raros os trabalhos em que são especificadas as dimensões comuns e diferenciadoras entre o

conceito de racismo e outros que lhe são frequentemente associados, como por exemplo,

etnocentrismo, xenofobia e preconceito. Seguidamente, faremos uma breve revisão sobre

como o racismo tem sido definido no seio da Psicologia Social, fazendo também breves

alusões aos contributos de outras ciências sociais e humanas no entendimento deste complexo

e multifacetado fenómeno. Procedemos igualmente à discussão de algumas das ambiguidades

conceptuais que têm caracterizado o estudo desta temática.

Na obra pioneira sobre a natureza do preconceito, Gordon Allport (1954/1979) traçou as

linhas fundamentais para a análise do fenómeno, constituindo uma referência basilar para a

investigação desenvolvida até os dias de hoje. Allport definiu o preconceito como “uma

atitude aversiva ou hostil face a uma pessoa pertencendo a determinado grupo, simplesmente

por causa da sua pertença a esse grupo, e em que se pressupõe que esta possui as

características atribuídas a esse grupo” (1954/1979: 7). De acordo com Allport, as pessoas

justificam a sua hostilidade em relação a certos grupos com base em diferenças grupais

percebidas, reais ou imaginárias.

Na opinião do autor, há pelo menos doze tipos de grupos em relação aos quais é

frequente a expressão de preconceito: grupos baseados em raça, sexo, níveis etários, grupos

étnicos, grupos linguísticos, regionais, religiosos, nacionais, ideológicos, castas, classes

sociais, profissionais, níveis educacionais, grupos de interesses (por exemplo, clubes

desportivos). No entanto, os grupos que são mais frequentemente vítimas de preconceito são

os que se encontram numa situação socialmente desfavorecida em mais do que uma instância

de comparação, como é o caso dos ‘grupos étnicos’: por exemplo, os judeus podem ser vistos

como uma minoria étnica, linguística ou religiosa (1954/1979: 88-89).

De entre as várias formas de preconceito, Allport debruçou-se sobretudo sobre o

preconceito étnico, sendo este definido como “uma antipatia baseada numa generalização

defeituosa e inflexível. Pode ser sentida ou expressa. Pode ser dirigida a um grupo como um

todo ou a um indivíduo porque ele é membro desse grupo” (1954/1979: 9). Nesta definição o

preconceito surge como uma atitude negativa (antipatia) que pode ser sentida (dimensão

afectiva) ou expressa (dimensão comportamental), atitude essa que é fruto de generalização

defeituosa e inflexível (dimensão cognitiva). A concepção do preconceito como resultante de

uma actividade cognitiva defeituosa reflecte a busca de elementos universais no preconceito,

aspecto salientado previamente por Walter Lippmann (1922/1961), na obra pioneira sobre a

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construção da opinião pública, na qual advogava a inevitabilidade dos estereótipos sociais

dada a incapacidade humana em lidar com todas as nuances da informação social.

Na opinião de Allport, “categorizar em demasia é uma das lacunas mais comuns da

mente humana” (1954/1979: 8). O autor chamou a atenção para o facto de que nem todas as

ideias preconcebidas sobre determinado grupo se tornarem preconceitos. A diferença entre o

‘preconceito’ e um simples ‘pré-conceito’ é o seu grau de resistência à mudança: quando uma

pessoa tem uma ideia preconcebida é capaz de rectificar os seus julgamentos erróneos quando

confrontada com nova informação; enquanto que os preconceitos são activamente resistentes

a qualquer evidência desconfirmatória, sendo que o nível de resistência emocional tende a

aumentar quando o preconceito é ameaçado.

A obra de Allport constitui um dos marcos fundamentais do estudo do preconceito e a

sua herança é bem visível em muitas das definições posteriores. Algumas definições de

preconceito realçam sobretudo dimensões cognitivas, outras salientam dimensões afectivas,

enquanto outras remetem também para as tendências comportamentais. Por exemplo, Rupert

Brown (1995: 8) apresenta uma definição de preconceito que engloba as três dimensões das

atitudes: “a adesão a atitudes ou crenças cognitivas depreciativas, a expressão de afecto

negativo, ou a manifestação de comportamento hostil ou discriminatório em relação a

membros de um grupo tendo em conta a sua pertença a esse grupo”. Estas três dimensões

estão também presentes na definição apresentada por Jackson, Brown e Kirby: “o preconceito

é geralmente considerado como uma atitude ou conjunto de atitudes face a um grupo,

abrangendo um conjunto de sentimentos negativos (afectos), crenças (estereótipos) e

intenções (disposições comportamentais) para agir desfavoravelmente em relação a grupos ou

membros de grupos” (1998: 110).

Ambas as definições apresentadas remetem para a concepção do preconceito como uma

atitude, seguindo a proposta de Allport (1954/1979). No entanto, diversos autores consideram

que o preconceito não é simplesmente uma atitude. Na opinião de Blumer, “o preconceito

racial traduz-se basicamente numa consciência da posição social do grupo racial mais do que

num conjunto de sentimentos que os membros de um grupo racial têm face aos membros de

outro grupo racial” (1958: 3). Posteriormente, Jones (1972) propõe uma definição que visa a

articulação entre estas duas concepções, definindo o preconceito como “uma atitude negativa

em relação a uma pessoa ou um grupo baseada num processo de comparação social no qual o

grupo de pertença é tomado como ponto de referência. A manifestação comportamental do

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preconceito é a discriminação” (1972: 3-4), cujo objectivo é manter a posição favorável do

próprio grupo. Ora, esta definição de preconceito é extremamente semelhante à que foi

proposta pelo sociólogo William Graham Sumner no seu trabalho pioneiro sobre

etnocentrismo (1906/1940).

Na acepção de Sumner, o etnocentrismo é “uma forma de ver em que o grupo de

pertença é o centro do universo e todos os outros são avaliados tendo como referência o grupo

próprio” (1906/1940: 13). Segundo o autor, cada grupo cultiva o seu orgulho e vaidade

próprias, exibe ritualmente a sua superioridade, exalta os seus próprios deuses e considera

com desconfiança os ‘estrangeiros’. Cada grupo pensa que os seus próprios costumes e

normas são os melhores, e vê-se como o único detentor da ‘verdade’. Na opinião de Sumner,

o etnocentrismo é fenómeno universal (observável em todos os povos humanos) e global

(englobando componentes cognitivas, afectivas, avaliativas e comportamentais). Segundo o

autor, cada grupo se definiria a si mesmo como o único representante da ‘humanidade’,

excluindo os outros e elegendo o ‘nós’ como o ‘verdadeiro Homem’, por oposição ao ‘outro’

que seria em certo grau ‘desumanizado’ (1906/1940: 12-29).

Mas, quando falamos de ‘desumanização’ do outro, ainda estamos no domínio do

etnocentrismo? Ou já entrámos no domínio do racismo? Como veremos neste capítulo,

determinados grupos desenvolveram ao longo da história da humanidade ideologias que lhes

permitiram legitimar o tratamento desumano infligido a outros grupos. De facto, o ‘Homem

Branco’ durante os últimos séculos tem efectuado uma acção sistemática para levar outros

grupos a partilhar a sua ‘definição de realidade’, na qual ele representa a ‘humanidade’,

enquanto os outros são remetidos para papéis subordinados, servindo os interesses dos que se

situam no topo da hierarquia simbólica (Amâncio, 1998; Cabecinhas, 2007; Chombart de

Lauwe, 1983-1984).

Entramos então no domínio da dominação simbólica: determinados grupos

(dominantes) desenvolveram ideologias que lhes permitiram legitimar o tratamento

‘desumano’ dos outros grupos (dominados). Como veremos, o ‘Homem Branco’ nos últimos

séculos tem efectuado uma acção sistemática para levar outros grupos a partilhar a sua

‘definição de realidade’, na qual ele representa a ‘universalidade’, enquanto os outros são

remetidos para a ‘especificidade’ de determinado papel (Amâncio, 1998; Chombart de Lauwe,

1983-1984).

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Como tem sido demonstrado por inúmeros estudos na área da psicologia social, esse

sistema de dominação simbólica pode conduzir os membros dos grupos dominados a uma

visão negativa do seu próprio grupo, o que implica efeitos nefastos para a auto-estima dos

indivíduos (Lewin, 1948/1997; Phinney, 1990). As consequências sobre a auto-estima

dependem da percepção da legitimidade da discriminação. Os membros dos grupos

dominados podem interiorizar a sua suposta inferioridade, tomando como legítima a posição

dos grupos dominantes (Jost e Banaji, 1994). Numerosos estudos demonstram os impactos

negativos da baixa auto-estima na capacidade de realização académica e profissional dos

membros de grupos de baixo estatuto social, o que conduz perversamente à auto-confirmação

da ‘profecia’ que recai sobre eles (Merton, 1949/1968).

Frequentemente, os próprios alvos do racismo interiorizam a hierarquia que lhes é

transmitida, o que funciona como estigma (Goffman, 1959/1989). No entanto, quando os

membros dos grupos dominados tomam consciência da arbitrariedade e ilegitimidade da

discriminação, reivindicam uma identidade positiva e não sentem a sua auto-estima ameaçada

(e.g., Khan e Vala, 1999). No entanto, não deixa de ser paradoxal que mesmo quando

envolvidos em lutas colectivas contra a discriminação (Négritude, Black Power, etc.),

recorram frequentemente a auto-designações racializadas que coincidem, frequentemente,

com as usadas nos discursos racistas dando assim uma continuidade perversa ao que querem

eliminar.

O racismo partilha alguns aspectos com o etnocentrismo: a diferenciação face ao outro,

diferenciação essa que é acompanhada por uma inferiorização do outro. No entanto, possui

aspectos distintos tanto no grau com que a ‘desumanização’ do outro é operada

cognitivamente como na forma como é mantida e reforçada socialmente (Cabecinhas, 2007).

No seio da Psicologia Social o racismo é geralmente considerado como um tipo

particular de preconceito em que os alvos da atitude negativa são pessoas de determinada

‘raça’ (negros, índios, etc.). Por exemplo, Richards define o racismo da seguinte forma: “o

termo racismo será usado para referir atitudes e práticas que sejam explicitamente hóstis e

denegritórias em relação a pessoas definidas como pertencendo a outra ‘raça’” (1997: xi).

Outras definições, especificam que a ‘raça’ em questão é a ‘raça negra’. Por exemplo, Essed

define o racismo como “cognições, acções e procedimentos que contribuem para o

desenvolvimento e perpetuação de um sistema em que os Brancos dominam os Negros”

(1991: 39). Esta definição tem a vantagem de salientar os aspectos estruturais do racismo: o

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desenvolvimento e manutenção de um sistema social, sistema esse que favorece uma ‘raça’ –

os brancos – em detrimento de um outra – os negros. No entanto, tem a desvantagem de

especificar quem são os agentes e quem são os alvos do racismo. De facto, frequentemente a

definição de racismo é restringida ao racismo contra os negros, levando ao esquecimento de

outras das suas vítimas (por exemplo, os índios).

Algumas definições salientam os aspectos ideológicos do racismo e o facto deste

implicar uma hierarquização dos grupos sociais. Por exemplo, Bobo e Fox (2003: 319)

definem o racismo como “um conjunto de condições institucionais de desigualdade e uma

ideologia de dominação racial, sendo esta última caracterizada por um conjunto de crenças

que sustentam que o grupo racial subordinado é biológica ou culturalmente inferior ao grupo

racial dominante”.

A ênfase nos aspectos ideológicos e institucionais do racismo é particularmente evidente

nos trabalhos desenvolvidos fora da Psicologia Social. De facto, no seio desta disciplina são

frequentes os trabalhos que estudam o fenómeno numa perspectiva a-histórica e sem ter em

conta as assimetrias de estatuto e de poder envolvidas. No entanto, a compreensão deste

complexo fenómeno exige a convocação de diversos níveis de análise (Doise, 1982), alguns

dos quais têm sido negligenciados pela Psicologia Social.

Em contrapartida, a literatura sociológica tem enfatizado sobretudo as dimensões

ideológicos e institucionais do racismo. Por exemplo, Taguieff (1997) refere que o conceito

de racismo apresenta uma diversidade de conotações. Num sentido restrito, o racismo é

definido como doutrina, dogma, ideologia ou conjunto de crenças. Num sentido mais lato, o

conceito envolve também o preconceito e os comportamentos discriminatórios. Enquanto

ideologia, o racismo consiste num sistema de crenças fabricado na ciência com objectivos

políticos claros: legitimar um sistema social com fortes desigualdades sociais que estabelecia

claramente a posição que os diferentes grupos humanos deveriam ocupar na hierarquia social,

grupos esses definidos e reconhecidos a partir de características físicas que eram supostas

traduzir as suas capacidades intelectuais e as suas aptidões (e.g., Taguieff, 1997; Wieviorka,

1998).

Ao longo da história, o racismo tem variado muito nos seus alvos (negros, índios, etc.),

nos mitos que o legitimam (inferioridade intelectual ou moral, perigosidade,

incompatibilidade de culturas, etc.), nos interesses que serve (exploração de mão-de-obra,

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manutenção da pureza racial, preservação da identidade nacional, ...) e nos modos de actuação

(extermínio, perseguição, expulsão, segregação ou exclusão simbólica).

Nesse sentido, é muito difícil delimitar o conceito, sem cair em demasiadas restrições e

sem o alargar demasiado (e.g. Machado, 2000; Miles, 1989/1995; Taguieff, 1997). Por um

lado, alargar demasiado o conceito pode contribuir para a sua banalização, por outro,

restringir em demasia é insuficiente para compreender a abrangência do fenómeno, sobretudo

as suas manifestações actuais, mais subtis (e.g. Cabecinhas, 2007; Pettigrew e Meertens,

1995; Vala, Brito e Lopes, 1999).

No seio da antropologia, van den Berghe propôs uma das definições mais influentes de

racismo: “um conjunto de crenças que sustentam que as diferenças orgânicas geneticamente

transmitidas (reais ou imaginárias) entre grupos humanos estão intrinsecamente associadas

com a presença ou ausência de certas capacidades ou características socialmente relevantes,

portanto tais diferenças são a base legítima para injustas distinções entre grupos socialmente

definidos como raças” (1967: 11).

Como salienta Pereira (2007), nesta definição está implícita a ideia de inferiorização e

hierarquização entre os grupos, grupos esses que são percebidos como ‘raças’1 – isto é, não se

trata de ‘raças’ de facto, mas sim de um processo de racialização. É importante acrescentar

que a percepção das diferenças físicas “reais ou imaginárias” 2 é ela própria resultante das

assimetrias de poder e de estatuto entre os grupos, já que é a existência de um padrão de

referência previamente estabelecido que permite a percepção da diferença (e.g. Deschamps,

1982; Amâncio, 1998). Nesse sentido, só as minorias3 são percebidas como diferentes (e.g.,

Lima e Vala, 2002; Wieviorka, 1995/1998).

Numa revisão sobre os de conceitos racismo e preconceito no seio da Psicologia Social,

Lima (2002) sintetiza o que considera serem os seus elementos distintivos: o racismo consiste

1 Neste capítulo quando nos referimos a ‘raças’ e a ‘grupos étnicos’ estamos a referir-nos a grupos racializados

ou etnicizados. 2 É precisamente porque as diferenças físicas nem sempre são pertinentes para as classificações raciais que, ao

longo da história, grupos discriminados foram obrigados a usar sinais distintivos, como sucedeu, por exemplo, com os judeus durante o nazismo.

3 O uso contemporâneo do termo minoria reveste-se de uma grande ambivalência. Este termo tanto pode designar simplesmente uma minoria quantitativa (isto é, em estatuto numérico) como uma minoria qualitativa (isto é, em estatuto social, prestígio ou poder). Por exemplo, na grande maioria dos casos os imigrantes são grupos duplamente minoritários (em termos quantitativos e qualitativos). Outros grupos, constituem minorias qualitativas apesar de serem maiorias quantitativas: o caso dos ‘negros’ durante o regime de apartheid na África do Sul, por exemplo. De igual modo podemos observar minorias quantitativas que são maiorias qualitativas: por exemplo, as elites políticas (Lorenzi-Cioldi, 2002).

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numa crença na distinção natural entre os grupos – distinção assente em essências percebidas

como fixas e imutáveis –, enquanto que o preconceito não implica necessariamente um

processo de essencialização; o racismo não existe apenas ao nível individual, mas sobretudo

ao nível institucional e cultural enquanto que o preconceito é uma atitude negativa,

geralmente operacionalizada em termos de avaliações individuais sobre um determinado

grupo-alvo.

O autor refere também os elementos que aproximam os dois conceitos: “Tanto o

preconceito quanto racismo implicam a inferiorização do outro. Ambos têm as suas

expressões ou formas de manifestação definidas em função dos contextos e normas sociais

que estejam salientes no ambiente histórico onde não produzidos, pois cumprem determinadas

funções sociais associadas à justificação e acomodação de relações intergrupais assimétricas”

(Lima, 2002: 29).

Lima define racismo como “um processo de hierarquização, exclusão e discriminação

contra um indivíduo ou toda uma categoria social que é definida como diferente com base

numa marca física externa (real ou imaginária), a qual é resignificada em termos de uma

marca cultural interna que define padrões de comportamento”. Neste sentido, o racismo

consiste numa “redução do cultural ao biológico, uma tentativa de fazer o primeiro depender

do segundo”. Como o autor salienta, o “racismo é mais do que um processo de percepção das

diferenças físicas ou de ‘características culturais’, é um processo de construção e

naturalização das diferenças” (2002: 27).

Por seu turno, Cabecinhas salienta o carácter assimétrico do processo naturalização das

diferenças: “consideramos como racista uma discriminação negativa (ao nível dos

comportamentos, cognições ou emoções) quando esta se baseia numa diferença essencial

entre o grupo de pertença e o(s) outro(s) grupo(s). Uma diferença essencial significa que é

percepcionada como absoluta, fixa e imutável, isto é, define fronteiras nítidas e

intransponíveis entre os grupos. Esta diferenciação pode basear-se em critérios biológicos ou

culturais, mas é sempre remetida para uma essência. No entanto, o carácter vinculativo dessa

essência difere em função da posição relativa dos grupos: marca um dos grupos (grupo

dominado), mas liberta o outro (grupo dominante), isto é, as fronteiras que delimitam os

grupos são impermeáveis para uns e fluidas para outros” (2007: 72). O objectivo deste

processo de naturalização é limitar a liberdade dos membros dos grupos de menor estatuto

social, remetendo-os para um conjunto de papéis específicos, de forma a manter e legitimar a

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posição privilegiada dos membros dos grupos dominantes (Cabecinhas e Amâncio, 2003).

Seguidamente, procedemos à contextualização do racismo do ponto de vista histórico,

referindo brevemente alguns acontecimentos-chave que marcaram as relações entre grupos

humanos ‘racializados’. Um dos acontecimentos-chave mais marcantes na história recente do

racismo foi a Segunda Guerra Mundial. Neste sentido, dividimos entre o ‘antes’ e o ‘depois’

deste acontecimento, pois este marca o fim do ‘racismo científico’. Mas, como veremos, o fim

do ‘racismo científico’ não significou o fim do racismo na sociedade. Este transformou-se e

diversificou-se, o que levou alguns autores a falar de ‘racismos’ e não de ‘racismo’ para

salientar a multiplicidade de manifestações (e.g., Pettigrew e Meertens, 1995; Vala, 1999). As

duas secções seguintes serão dedicadas à discussão sumária do que se convencionou chamar

os ‘velhos racismos’ e os ‘novos racismos’. No entanto, tal divisão não significa que se trata

de racismos de natureza diferente, mas que as suas formas de expressão são diferenciadas.

2. ‘Velhos’ racismos

Numa análise histórica do racismo nas sociedades ocidentais, Fredrickson (2002)

argumenta que na Antiguidade clássica e na época medieval não havia ‘consciência racial’.

Na história da humanidade sempre existiram fenómenos de discriminação violenta associados

à crença na superioridade de um grupo face a outros, porém a noção de ‘raça’ como critério

para a diferenciação entre grupos humanos é relativamente recente em termos históricos (para

revisões ver: Banton, 2000; Jahoda, 1999).

Na Europa da época medieval a discriminação entre grupos era baseada sobretudo em

categorias teológicas, sendo a grande clivagem entre ‘cristãos’ e ‘não-cristãos’. Embora

tratando-se de categorizações incidindo em aspectos culturais, as distinções baseadas em

aspectos físicos estavam também presentes. Nas representações artísticas da época os ‘outros’

surgem como seres estranhos, exóticos, resultantes da mistura de elementos humanos e

animais (Jahoda, 1999). Nas representações icónicas é comum o diabo ser negro ou estar

vestido de negro, em oposição aos anjos brancos. As descrições dicotómicas entre o branco e

o negro, sendo o primeiro associado a pureza e bondade e o segundo associado a impureza e

maldade ainda hoje perduram no discurso ocidental (Matos, 2006).

No final da Idade Média verificou-se um aumento dos contactos com populações de

origens geográficas diversas. Os ‘monstros’ descritos na Antiguidade faziam parte das

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expectativas dos navegadores europeus, mas não foram encontrados nos ‘novos mundos’.

Pouco a pouco, a figura do ‘monstro’ popular foi substituído pela do ‘selvagem’ – ser humano

semelhante ao macaco, despido, transportando um pau – simbolizando violência, ausência de

civilização, irracionalidade, imoralidade e pecado (Jahoda, 1999). O conceito de ‘raça’

começou então a fazer parte do pensamento europeu.

No século XVI a Europa tornou-se o ‘centro’ do mundo. Ao longo de séculos de

conquistas e explorações coloniais, estabeleceu-se uma relação fortemente assimétrica com os

Outros. O capitalismo e o desenvolvimento tecnológico consolidaram o domínio do Ocidente

sobre as outras sociedades.

Mesmo quando a relação com os outros povos era marcada por um certo grau de atracção pelo

exótico, prevaleceu a inferiorização. Por exemplo, na carta de Pêro Vaz de Caminha sobre o

achamento do Brasil, dirigida a D. Manuel, a 1 de Maio de 1500, é evidente o encantamento

suscitado pelos indígenas: “A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons

rostos e bons narizes, bem feitos. Andavam nus, sem cobertura alguma. Não fazem o menor

caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar

o rosto” (1500/1987: 65). No entanto, se o encantamento físico inicial é evidente, a admirável

‘inocência’ dos indígenas rapidamente se transformou em prova da sua irracionalidade e

eventual ausência de ‘alma’.

Jenness (1992/2001) argumenta que no início do período colonial, nos séculos XVI e

XVIII, a justificação para a discriminação dos povos colonizados tinha por base factores de

ordem cultural: o grau de civilização e a religião. Mas à medida que o colonialismo europeu

se foi desenvolvendo, era necessário encontrar uma justificação para o tráfico de escravos e

para o recurso massivo à exploração de mão de obra. A ideia de ‘raça’, construída na

modernidade, serviu legitimar a escravatura e tornou-se um dos pilares do sistema ideológico

que susteve o colonialismo europeu.

O Iluminismo e o desenvolvimento da ciência moderna conduziram à formulação das

primeiras teorias sobre a hierarquização dos seres humanos (e.g. Amâncio, 1998). A ciência

moderna, desenvolvida nos séculos XVIII e XIX, definiu hierarquias claras que se traduziram

na exclusão sistemática de vários grupos humanos aos quais não eram reconhecidas as

qualidades humanas superiores – as crianças, as mulheres e os ‘selvagens’. Estas categorias

surgem descritas como mais próximas da natureza do que da cultura, tendo em comum as

seguintes características: curiosidade infantil, impulsividade, irritabilidade, irresponsabilidade

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e fraca capacidade intelectual (e.g. Chombart de Luawe,1983-1984; Guillaumin, 1992).

O pensamento científico do Iluminismo tem sido apontado como a base científica para o

que mais tarde viria a caracterizar o ‘racismo científico’. A noção de ‘raça’ estabelece uma

ligação directa entre características físicas visíveis (fenótipo) e características profundas

(genótipo), explicativas das diferentes aptidões e capacidades dos indivíduos. Esta noção

apoiou-se na antropologia física clássica, que utilizava critérios morfológicos como a cor da

pele, a forma craniana, a textura do cabelo, entre outros. As classificações que resultavam da

aplicação desses critérios eram contraditórias e muito variáveis, mas essa variabilidade de

resultados e ausência de rigor foi muitas vezes escamoteada (Gould, 1981/1990).

O número de ‘raças’ humanas e a sua designação variava bastante em função das

diversas teorias raciais propostas. No entanto, todas as teorias da raciologia clássica tinham

em comum uma perspectiva hierarquizadora e desigualitária, isto é, a raciologia clássica

sempre ordenou as ‘raças’ em “superiores e inferiores – ocupando invariavelmente os brancos

o topo dessa hierarquia” (Cunha, 2000: 193-194).

A ‘ciência da classificação’ foi iniciada por Carl Linnaeus. Na sua taxonomia, com

base numa multiplicidade de critérios, principalmente de natureza fenotípica, os seres

humanos foram classificados em quatro raças – africanos, americanos, asiáticos e europeus.

Cada uma destas raças foi caracterizada com alguns atributos específicos: por exemplo, os

africanos foram descritos como negros, lentos de raciocínio, descontraídos e negligentes; os

americanos como vermelhos, ávidos e combativos; os asiáticos como amarelos, inflexíveis,

severos e avarentos; e os europeus como belos, amáveis, inteligentes e inventivos (Linnaeus,

1767: 29).

Charles Darwin (1871) salientou a origem comum de todas as raças humanas e a

superficialidade das diferenças raciais observadas. No entanto, apesar do seu esforço para

combater as teorias que advogavam a origem separada das raças humanas, a sua teoria da

evolução foi interpretada de formas contraditórias, servindo de inspiração para as teorias

eugenistas que viriam a desenvolver-se mais tarde.

Uma das referências marcantes do ‘racismo científico’ foi Francis Galton, fundador de

um laboratório de eugenia com vista ao aperfeiçoamento da espécie humana. Galton

argumentou em defesa da eliminação progressiva dos ‘indesejáveis’ da sociedade através da

proibindo-lhes o casamento ou impondo a sua esterilização e, simultaneamente, tentou

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proteger, aperfeiçoar e multiplicar os indivíduos ‘mais aptos’, de melhor saúde física e moral

(1883 in Gould, 1981/1990).

Em meados do século XIX os cientistas desenvolveram métodos de medição

supostamente rigorosos (volume da caixa craniana, tempos de reacção, testes de inteligência,

etc.). Quaisquer que fossem os critérios utilizados pelos cientistas, os brancos eram sempre

posicionados no topo da escala e os negros em baixo, ocupando os amarelos a posição

intermédia, mas muito mais próximos dos últimos do que dos primeiros (para revisões ver:

Cabecinhas, 2007; Montagu, 1997; Richards, 1997).

No final do século XIX as doutrinas raciais estavam extremamente divulgadas na

Europa e nos Estados Unidos da América. O determinismo biológico marcou profundamente

a ciência moderna e propagou-se ao pensamento leigo, tornando-se um verdadeiro fenómeno

social. Isto é, o discurso ‘científico’ da época estimulou e legitimou o discurso racialista do

senso comum, sendo essa herança ainda visível nos dias de hoje, apesar da desacreditação

científica das teorias racialistas após a Segunda Guerra Mundial, como veremos na secção

seguinte.

Segundo o historiador Valentim Alexandre, a ideologia dominante em Portugal durante

o período colonial era extremamente etnocêntrica e desigualitária. Os trabalhos forçados, o

tráfico de escravos e a escravatura eram considerados fundamentais para que as colónias

africanas fossem rentáveis economicamente e a igualdade de direitos era considerada como

uma simples utopia, já que os africanos não seriam capazes de evoluir sozinhos. A política

colonial opressora era justificada através dos argumentos do ‘racismo científico’.

Durante o Estado Novo realizaram-se diversos congressos coloniais onde cientistas,

políticos, militares e religiosos expuseram as suas teses sobre a ‘missão civilizadora’ do povo

português e debateram as práticas a implementar para conseguir uma melhor adesão dos

diversos povos indígenas à hegemonia dos valores portugueses (Cabecinhas e Cunha, 2003).

Os negros eram vistos como ‘crianças grandes’, incapazes de dominar os seus impulsos e de

tomar conta de si próprios. A imagem dos negros oscilava entre a atracção do exótico (o

batuque, as danças, os ritmos e corpos sensuais) e a repulsa (a agressividade, a perigosidade, a

feitiçaria e a sexualidade descontrolada eram algumas das características mais mencionadas).

Durante este período, os negros eram vistos essencialmente como uma força de trabalho, mas

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também eram considerados como uma fonte de divertimento e entretimento para o Homem

Branco (especialmente as mulatas...4).

Após a Segunda Guerra Mundial, num contexto político e social europeu onde o

princípio da ‘assimilação’ fora substituído por uma cada vez maior autonomia e mesmo

independência, o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre (1933/1992) – segundo o qual os

portugueses teriam uma especial aptidão para lidar com os povos dos trópicos e para a

‘miscibilidade’5 – transformou-se num instrumento de justificação para a afirmação da

especificidade do colonialismo português. No entanto, este mito não se dissipou com o fim do

império colonial em 1975, continuando a circular de forma difusa na sociedade portuguesa

ainda nos dias de hoje (Alexandre, 1999; Valentim, 2003).

3. ‘Novos’ racismos

Como referimos anteriormente, a Segunda Guerra Mundial constitui um acontecimento

marcante na história recente do racismo, conduzindo a um ponto de viragem no

posicionamento político e científico face à ‘raça’. O genocídio de milhões de ‘judeus’ e

‘ciganos’, em nome da pureza racial, alertou o mundo para os efeitos perversos do

pensamento racialista. Após o Holocausto poucos cientistas continuaram a defender

hierarquias raciais e no mundo político diversas medidas foram tomadas no sentido de

promover a igualdade entre os seres humanos.

Um dos marcos fundamentais na implementação das políticas de igualdade foi a

proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem6 pela Organização das Nações

Unidas (ONU), no dia 10 de Dezembro de 1948:

4 Na célebre obra Casa Grande e Sensala, Gilberto Freyre refere: “a mulher mulata tem sido a preferida dos

portugueses para o amor, pelo menos para o amor físico. [...] Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca para casar, mulata para f..., negra para trabalhar” (1933/1992: 85).

5 “Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador, dos modernos, excedeu ou sequer igualou nesse ponto os

portugueses. Foi misturando-se gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro contato e multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras vastíssimas e competir com povos grandes e numerosos na extensão de domínio colonial e na eficácia da ação colonizadora. A miscibilidade, mais do que a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses compensaram-se da deficiência em massa ou volume humano para a colonização em larga escala e sobre áreas extensíssimas” (Freyre, 1933/1992: 84).

6 Embora esta Declaração tenha sido ratificada por 159 países, a realidade tem ficado sempre aquém das palavras. Dez anos depois desta declaração, instalou-se oficialmente o regime de apartheid na África do Sul

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“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos (...) (§1º); Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça7, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação (...)” (§2º).

Nas décadas de cinquenta e sessenta, a UNESCO promoveu amplas investigações

interdisciplinares sobre a questão racial, cujos resultados foram debatidos por quatro equipas

diferentes e que deram origem a quatro Declarações sobre a ‘raça’ agrupadas no livro Le

Racisme Devant la Science (UNESCO, 1973). Neste livro procede-se a uma desmontagem

detalhada do carácter falacioso das ‘provas’ da superioridade branca e recomenda-se o

abandono da palavra ‘raça’ no meio científico e o uso de designações consideradas menos

discriminatórias, como por exemplo ‘grupo étnico’.

Desde então, o termo ‘grupo étnico’ tem sido empregue para referir grupos sociais

minoritários, que são percebidos e classificados em função da sua diferenciação cultural face

aos padrões estabelecidos pela cultura dominante. Todavia, o pensamento leigo acompanhou

esta deslocação da ‘raça’ para os ‘grupos étnicos’, sendo as ‘práticas culturais’ percebidas

como rígidas e imutáveis, e até mesmo geneticamente herdadas (Rex, 1986). Assim,

frequentemente a cultura não é entendida como algo fluido e dinâmico, mas como algo fixo

análogo à ‘raça’.

Como salientámos anteriormente, apenas os grupos destituídos de poder ou de estatuto

social são objecto deste processo de naturalização. Assim, o deslocamento da percepção das

diferenças entre os grupos humanos do pólo das características físicas ou raciais para o pólo

das características culturais permanece um processo de naturalização da diferença, isto é, a

um processo de racialização seguiu-se um processo de etnicização (Vala, Lopes, Brito,

1999).

Assim, apesar de estar cientificamente desacreditado o mito da ‘raça’ (Montagu, 1997)

continua a existir no pensamento leigo. O facto da hierarquização racial ter sido banida do

discurso público não significa o fim do racismo. Como o argumento da desigualdade e da

hierarquização racial é actualmente contra-normativo, enfatizam-se as diferenças culturais.

Na maioria dos países ocidentais, a aplicação dos princípios de igualdade contidos nas (1958-1991) e nos Estados Unidos da América só em 1964 foi aprovado o Act of Civic Rights, depois de intensas lutas e manifestações pela igualdade de direitos.

7 De notar que ‘raça’ aparece sem aspas. De facto, o uso de aspas para referir a ‘raça’ só se começou a vulgarizar nas ciências sociais nos anos oitenta.

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declarações e leis que se foram produzindo ao longo da segunda metade do século XX

conferiu um padrão legal a esses princípios, com a especificação de punições severas para a

discriminação com base em critérios raciais. Discriminar com base em supostas hierarquias

raciais passou a ser, não apenas anti-normativo, mas um crime grave que deve ser punido

exemplarmente.

Face a estas novas normas sociais, a discriminação racial passou a ser expressa sem

evocar a ideia de ‘raça’. Segundo Augoustinos e Reynolds “o racismo contemporâneo

justifica e legitima as desigualdades entre grupos, não com base na biologia ou na ‘cor da

pele’, mas com o argumento que determinados grupos violam valores sociais fundamentais,

tais como a ética do trabalho, autonomia, auto-disciplina e realização individual” (2001: 3).

Na década de setenta, à medida que os afro-americanos conquistavam um maior

protagonismo social e ocupavam lugares até aí reservados à maioria branca, na sequência do

fim da segregação racial, foi crescendo nos euro-americanos um sentimento de ‘ameaça’.

Estas alterações políticas e sociais levaram os cientistas sociais a desenvolver novos conceitos

com o objectivo de estabelecer uma distinção entre as expressões tradicionais e as novas

formas de racismo (e.g., Gaertner e Dovidio, 1986; Katz e Hass, 1988; Jones, 1972;

McConahay, 1986; Sears, 1988).

A renovação conceptual ocorreu inicialmente no sentido de apreender as novas

expressões de racismo no seio da sociedade americana e em seguida alargou-se aos países

europeus, para caracterizar as formas de racismo contemporâneas em relação aos imigrantes e

minorias étnicas (e.g., Pettigrew e Meertens, 1995).

Por exemplo, Jones (1972) refere um racismo ‘cultural’ nos EUA. Segundo o autor, na

opinião dos indivíduos preconceituosos, as minorias seriam discriminadas por razões que lhes

são intrínsecas: por partilharem uma cultura que não lhes permite uma boa adaptação às

exigências do sistema económico capitalista (o individualismo meritocrático, a orientação

para o poder e o êxito). Isto é, uma vez que já não é politicamente correcto afirmar

publicamente que os negros possuem capacidades intelectuais e aptidões inferiores aos

brancos, atribuir-se-lhes a responsabilidade da discriminação de que são vítimas por não

aderirem aos valores necessários para serem bem sucedidos nas sociedades ocidentais e por

supostamente não efectuarem um esforço de adaptação.

Por seu turno, Pettigrew e Meertens (1995) distinguiram duas expressões de preconceito

racial nas sociedades ocidentais contemporâneas: o preconceito flagrante (quente e directo) e

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o preconceito subtil (frio e indirecto). A partir da II Guerra Mundial as sociedades ocidentais

desenvolveram progressivamente uma norma social contra as formas tradicionais de

expressão do racismo. A relação dos indivíduos com esta norma social pode assumir três

formas: rejeição, aceitação ou internalização.

Segundo os autores, os indivíduos que rejeitam a norma anti-racista não se inibem de

exprimir publicamente o racismo tradicional, sendo as suas respostas claramente anti-

normativas (racismo flagrante). Os indivíduos que aceitam a norma não exprimem o racismo

na sua forma tradicional, mas manifestam expressões mais subtis de racismo que não violam a

norma anti-racista, uma vez que esta incide apenas sobre as expressões tradicionais do

racismo (racismo subtil). Por sua vez, os que internalizaram a norma, rejeitam ambas as

formas de racismo, uma vez que a norma anti-racista se enquadra no quadro de valores

igualitários mais gerais (igualitarismo). Resumindo: o racismo flagrante é claramente anti-

normativo; o racismo subtil corresponde à aceitação da norma, acompanhada de expressões de

racismo não censuradas por esta; e igualitarismo corresponde à internalização da norma, com

base em valores igualitários.

O racismo flagrante encontra-se associado à diferenciação no plano biológico

(racialização) enquanto que o racismo subtil se associa à diferenciação no plano cultural

(etnicização). Como salientam Vala, Brito e Lopes, o facto de ambos se encontrarem

fortemente correlacionados “mostra que se está perante duas dimensões diferentes de um

mesmo fenómeno” (1999b: 37).

Os estudos realizados por Pettigrew e Meertens (1995) envolveram amostras

representativas de quatro países europeus, questionadas sobre diferentes grupos-alvo: na

Inglaterra os grupos-alvo foram os ‘antilhanos’ e os ‘asiáticos’; em França os ‘norte-

africanos’ e os ‘asiáticos’; na Holanda os ‘surinameses’ e os ‘turcos’; e na Alemanha os

‘turcos’ (Pettigrew e Meertens, 1995). Posteriormente estes estudos foram replicados noutros

países europeus que entretanto se tornaram também eles países de imigração. Por exemplo,

em Portugal o grupo-alvo foram os ‘imigrantes negros’ (Vala, Brito e Lopes, 1999a).

Em todos os países se verificou uma maior adesão ao racismo subtil do que ao racismo

flagrante, o que apoia a hipótese de que o racismo flagrante é percebido como anti-normativo,

mas não o racismo subtil. Contudo, não devemos “esquecer que os dados foram recolhidos

através de questionário, quer dizer, em condições que não facilitam a expressão do racismo

tradicional anti-normativo, e em que os respondentes têm controlo sobre as suas respostas”

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(Vala, Brito e Lopes, 1999b: 38). Na opinião de Vala (1999), relativamente a outras

conceptualizações sobre os ‘novos racismos’, a proposta de Pettigrew e Meertens (1995) tem

a vantagem de colocar claramente a análise do racismo no âmbito dos processos intergrupais e

de realçar a importância das questões de ordem normativa nas novas expressões do racismo.

Nos anos noventa, os crescentes fluxos de imigração na Europa e o aumento da

visibilidade da discriminação racial e étnica levaram à criação do Observatório Europeu do

Racismo e da Xenofobia (EUMC), do qual Portugal se tornou membro. As políticas adoptadas

em Portugal relativamente à imigração e ao combate à discriminação estão em consonância

com as preconizadas pela União Europeia, embora haja consideráveis variações entre os

países da união.

A partir da segunda metade da década de noventa a problemática da imigração tem

vindo a ocupar um lugar cada vez mais central na opinião pública portuguesa. O discurso

‘anti-racista’ passou a assumir uma posição central no debate público e político, tendo

frequentemente lugar de destaque na agenda mediática (e.g. Ferin, 2003; Ferin et al., 2006).

Em 1996 foi instituído o Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas

(actual Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - ACIDI) cujas funções

fundamentais são “contribuir para a melhoria das condições de vida dos imigrantes em

Portugal” e “combater o racismo e a xenofobia” (www.acidi.gov.pt). Posteriormente foram

criados outros organismos oficiais de luta anti-discriminação, entre as quais se destaca a

Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial em 2000.

O discurso político oficial é um discurso anti-discriminação e de incentivo à integração

das minorias na sociedade portuguesa, no entanto, tal como se verifica noutros países

europeu, a discriminação racial persiste, quer ao nível dos comportamentos individuais como

ao nível das instituições (e.g., Machado, 2006; Marques, 2007).

Jorge Vala e colaboradores realizaram um estudo pioneiro que permitiu aferir e

evidenciar as novas formas de racismo em Portugal. Os autores analisaram as atitudes dos

portugueses ‘brancos’, residentes na área da Grande Lisboa, face aos imigrantes ‘negros’ em

Portugal. Os resultados obtidos em Portugal em relação aos ‘negros’ foram semelhantes aos

encontrados noutros países europeus em relação a diferentes grupos-alvo, demonstrando que

“as crenças racistas se organizam em Portugal de forma semelhante à de outros países

europeus; que os factores que estão na sua génese não são, significativamente, diferentes

daqueles que subjazem ao racismo subtil ou flagrante noutros países” (Vala, Brito e Lopes,

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1999a: 55). Assim, os portugueses parecem ter interiorizado a norma anti-racista vigente na

sociedade, o que os impede de exprimir publicamente formas de discriminação flagrantes, que

contrariem claramente essa norma. No entanto, as suas respostas revelam formas de

discriminação mais subtis que, não contrariando claramente a norma anti-racista, não deixam

de ser formas de discriminação. Assim, como afirma Vala, é possível “descortinar fortes

continuidades do fenómeno do racismo entre contextos sociais muito diversificados” (1999:

7). Estes resultados colocam em causa o mito luso-tropicalista segundo o qual os portugueses

seriam menos racistas do que os outros povos europeus.

Este padrão de resultados foi posteriormente replicado e aprofundado num estudo que

realizámos em diversas zonas do país (Cabecinhas, 2007). Nesse estudo averiguámos as

percepções e as atitudes dos portugueses face a seis grupos-alvo, cinco definidos a partir da

nacionalidade (angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e são-tomenses) e um

a partir da cor da pele (imigrantes negros). Os níveis de racismo não variaram

significativamente em função das cinco nacionalidades africanas, mas variaram em função do

tipo de categorização. Nas sub-escalas de racismo subtil verificaram-se menores níveis de

discriminação para o grupo-alvo ‘negros’ do que para cada um dos grupos africanos, mas não

houve qualquer efeito do tipo de categorização nas sub-escalas de racismo flagrante. O facto

de se terem observado diferenças em função do tipo de categorização nas medidas mais

‘veladas’ de discriminação mas não nas medidas mais ‘evidentes’ reforça uma interpretação

normativa destes resultados. Na nossa opinião, as diferenças observadas em função do tipo de

categorização devem-se ao facto da designação ‘negros’ ser reconhecida como activando

respostas conotadas com ‘racismo’. Estando os inquiridos cientes das normas sociais em vigor

contra a discriminação baseada na cor da pele é provável que a inibição provocada pela

designação ‘negros’ seja mais forte do que a desencadeada pelas designações nacionais. Ora

essa inibição será tanto mais forte quanto maior for a ‘validade facial’ das medidas de

discriminação. Assim, as medidas de racismo flagrante são automaticamente reconhecidas

como ‘discriminatórias’, activando de imediato a norma anti-discriminação. Nas medidas

mais subtis de discriminação a activação dessa norma é facilitada pela designação ‘negros’.

Realizámos ainda um conjunto de estudos sobre os estereótipos dos portugueses sobre

os imigrantes africanos residentes em Portugal, em função de três dimensões de análise: o

conteúdo, a valência e o grau de variabilidade. Ao nível dos conteúdos dos estereótipos

verifica-se igualmente a herança das velhas dicotomias coloniais. Os estudos demonstraram

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que os ‘novos estereótipos’ são aparentemente mais positivos, mas escondem uma constância

da ideologia que subtilmente perdura: as dimensões mais valorizadas nas sociedades

ocidentais (autonomia, individualidade, competência, responsabilidade) são atribuídas ao

grupo dominante, mas continuam a ser negadas aos imigrantes africanos, cuja representação

permanece com forte ligação à ‘natureza’ (e.g. Amâncio, 1998, Cabecinhas, 2007; Deschamps

et al., 2005).

As dimensões de conteúdo estruturantes dos estereótipos são a instrumentalidade e a

competência para o grupo dominante e a expressividade e o exotismo para os grupos

minoritários. As representações raciais durante o período colonial continuam a estruturar o

pensamento sobre nós e os outros, embora recorrendo a uma linguagem mais subtil.

Como vimos ao longo deste capítulo, as expressões de racismo estão extremamente

dependentes do contexto histórico e social. Actualmente, nas sociedades ocidentais assiste-se

à permanência de fenómenos racistas, mas estes são cada vez menos justificados pela

percepção de diferenças raciais e cada vez mais pela percepção de diferenças culturais ou

religiosas. Verifica-se uma grande ambiguidade nas expressões de racismo, que surgem quase

sempre dissimuladas. Os resultados de diversos estudos recentes mostram que o racismo

sofreu uma metamorfose nas suas formas de expressão, mas não desapareceu. As expressões

públicas de racismo mudaram muito nas últimas décadas, mas as grandes clivagens entre

grupos humanos permanecem. A cor da pele continua a ‘marcar’ os indivíduos e a determinar

oportunidades desiguais.

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