CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO ORGÂNICO ... Programa de Exportação da Indústria da Moda...

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL Cláudia Maria Granja da Silva CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO NOS ASSENTAMENTOS DE QUEIMADAS E MARGARIDA MARIA ALVES NA PARAÍBA Recife 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO – UPE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP

MESTRADO EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

Cláudia Maria Granja da Silva

CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO NOS

ASSENTAMENTOS DE QUEIMADAS E MARGARIDA MARIA ALVES NA

PARAÍBA

Recife

2014

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Cláudia Maria Granja da Silva

CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO CULTIVADO NO

SEMIÁRIDO PARAIBANO

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável da

Faculdade de Ciências da Administração de

Pernambuco – FCAP/UPE, como requisito

complementar para Qualificação do meu

Projeto de Pesquisa.

Orientador: Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia

Recife

2014

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Universidade de Pernambuco - UPE

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP

Biblioteca Leucio de Lemos

S586i Silva, Claudia Maria Granja da.

Inovação periférica: cadeia produtiva do algodão orgânico colorido nos

assentamentos de queimadas e Margarida Maria Alves na Paraíba. / Claudia Maria

Granja da Silva. – Recife: a autora, 2015.

85 f.: il.; tab.; 30 cm.

Orientador: Ericê Bezerra Correia.

Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências da Administração de

Pernambuco (FCAP). Programa de Mestrado Profissional em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável, 2015.

1. Desenvolvimento sustentável. 2. Cadeia produtiva. 3. Algodão

orgânico colorido. I. Correia, Ericê Bezerra. (Orientador). II. Título.

338.927 CDD (23.ed.)

Edna Meirelles – CRB-4/1022

FCAP-UPE 12-2015

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Cláudia Maria Granja da Silva

CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO CULTIVADO NO

SEMIÁRIDO PARAIBANO

Dissertação apresentada à Universidade de Pernambuco

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre

em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável.

Banca Examinadora:

_________________________________

Prof. Dr Julio Alvarez Botello - México

_________________________________

Prof. Dr Luiz Márcio de Oliveira Assunção - UPE

_________________________________

Prof. Dr Emanuel Leite - UPE

Aprovado em: 17 / 08 / 2015.

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Aos meus pais Manoel Tavares e Terezinha Novaes,

meus amores e motivo da minha existência que

dedicaram uma vida a minha formação pessoal e

profissional, que estão sempre me orientando para a

escolha dos melhores caminhos, assim como na vida

espiritual, me ensinaram entre outros valores que o

Amor é o bem maior na vida. Pai e Mãe a vocês todo

o meu Amor e respeito. DEDICO.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a Nossa Senhora de Fátima por me proteger e me guiar no caminho

da verdade e da luz.

Agradeço aos meus amados pais Manoel Tavares da Silva e Terezinha Novais Granja

da Silva por todo amor e incentivo na vida pessoal, estudantil e profissional, por todo amor

dedicado à minha vida e pela paciência nos momentos de ausência.

A Emanuel Granja da Silva meu irmãozinho que em outro plano me protege e me guarda com

a sua luz. Saudade eterna.

Aos professores do Mestrado em Desenvolvimento Local Sustentável e ao Coordenador

Múrcio Banja.

As secretárias do mestrado e os demais funcionários da FCAP.

Agradeço de forma especial e com todo carinho ao meu Orientador Professor Dr. Erice

Correia por ter dedicado todo o seu conhecimento neste trabalho e por me conduzir de maneira

ética e me proporcionado um aprendizado relevante e fundamental nesta pesquisa.

Aos meus colegas de turma: Adriana, Allan, Betânia, Cassé, Célio, Erivan, Fabiola,

Miguel, Tatiana, Hugo, Simonelle, Patricia, Jurandy, Walber, Zolane. Todo meu respeito e

carinho.

A minha querida amiga Barbara Tavares, por estar ao meu lado nos momentos mais

difíceis dessa jornada, me incentivando e me ensinando a sua fé. Presente de Deus.

Em especial a Fabiana Dumont por sua amizade, carinho e companheirismo, sempre

com palavras de fé e carinho nos momentos delicados e nas interrogações da vida. Presente de

Deus.

A Lourdes Araújo minha querida amiga que me acolheu no seu coração e que dedicou

a mim palavras de fé e coragem. Meu respeito e carinho a você;

Ao casal Hélio José Cunha e Elizabete Araújo pelo apoio e carinho dedicados a mim nessa

jornada, amigos preciosos em minha vida.

A Vânia Teixeira, amiga de uma vida, mulher forte e guerreira que me orientou tantas

vezes e me incentivou para o caminho do aprendizado, a você meu carinho, amizade e respeito.

Irmã que a vida me presenteou.

A Denis Almeida pelas valiosas contribuições dadas na formatação do trabalho.

A Maria do Socorro responsável pelo museu do algodão colorido em Campina Grande

por passar informações importantes sobre o histórico do algodão;

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“Bom mesmo é ir à luta com determinação,

abraçar a vida e viver com paixão, perder com

classe e vencer com ousadia, porque o mundo

pertence a quem se atreve e a vida é muito bela

para ser insignificante. ”

(Charles Chaplin)

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A querida Samara Aguiar, sua família por sua atenção e por me conduzir com carinho

aos Assentamentos;

Aos agricultores dos assentamentos pela carinhosa acolhida e pelos ensinamentos e

respeito ao meio ambiente.

Enfim, agradeço a todos que de alguma maneira me incentivaram a realizar um sonho

tão lindo em minha vida.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção.

APEX-BRASIL Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos.

ARRIBAÇÃ Associação de apoio à Políticas de Melhoria da Qualidade de Vida,

AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa.

BB Banco do Brasil.

BNB Banco do Nordeste.

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

CMMAD Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

COEP Rede Nacional de Mobilização Social Convivência com a Seca, Meio

Ambiente e Verticalização da Produção Familiar.

COOPNATURAL Cooperativa de produção têxtil.

DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf.

DLS Desenvolvimento Sustentável

DS Desenvolvimento Sustentável.

EMATER Empresa Brasileira de Extensão Rural.

EMBRAPA/PB Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

FIEP Federação das Indústrias do Estado da Paraíba.

FNQ Fundação Nacional da Qualidade.

IBD Instituto Biodinâmico.

IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movements .

MAPA Ministério da Agricultura, Pesca e Abastecimento.

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário.

MST Movimentos dos trabalhadores Rurais Sem Terra.

NTF Natural Fashion.

ONG Organização Não-Governamental.

ONU Organizações das Nações Unidas.

PB Paraíba

PBTUR Empresa Paraibana de Turismo.

PDA Programa de Desenvolvimento Associativo.

PRONAF Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

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SINDITÊXTIL Sind. Das Ind. de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado da Paraíba.

SINDVEST Sindicato das Indústrias do Vestiário do Estado da Paraíba.

TEXBRASIL Programa de Exportação da Indústria da Moda Brasileira.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRAFICOS

GRÁFICO 1 DIFICULDADES NO PLANTIO DO ALGODÃO ORGÂNICO ..................... 74

GRÁFICO 2 DEMAIS CULTIVOS DE ALIMENTOS .......................................................... 74

GRÁFICO 3 INCENTIVOS DA EMBRAPA ......................................................................... 75

GRÁFICO 4 MELHORA DA RENDA FAMILIAR PÓS CULTIVO DO ALGODÃO

ORGÂNICO COLORIDO ....................................................................................................... 76

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 LEVANTAMENTO SÓCIO PRODUTIVO E ECONÔMICO DOS

ASSENTAMENTOS ................................................................................................................ 71

TABELA 2 ESCOLARIDADE DOS AGRICULTORES ....................................................... 72

TABELA 3 SATISFAÇÃO COM A RENDA ......................................................................... 72

TABELA 4 - BENEFICIOS DO PLANTIO DO ALGODÃO ORGÂNICO .......................... 73

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 COLHEITA DO ALGODÂO COLORIDO .......................................................... 22

FIGURA 2 ATUAL IMAGEM DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA CAMPINENSE

TRANSFORMADA NO MUSEU DO ALGODÃO. ............................................................... 30

FIGURA 3 MUSEU DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO .......................................... 32

FIGURA 4 MAQUINA DE DESCAROÇAMENTO DO ALGODÃO DO SÉCULO XX. ... 32

FIGURA 5 BALANÇA PARA PESAR ALGODÃO. INÍCIO DO SÉCULO XX. ................ 33

FIGURA 6 FARDO DE ALGODÃO DE 100KG QUE ERAM EXPORTADOS EM LOMBO

DE BURRO PELOS TROPEIROS NO SÉCULO XX. ........................................................... 33

FIGURA 7 FLUXOGRAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO COLORIDO ... 34

FIGURA 8 PLANTIO DO ALGODÃO ................................................................................... 35

FIGURA 9- PROCESSO DE FIAÇÃO DO ALGODÃO ORGANICO COLORIDO ............ 40

FIGURA 10 - COOPNATURAL ............................................................................................. 43

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FIGURA 11 ROUPAS CONFECCIONADAS COM ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO.

.................................................................................................................................................. 49

FIGURA 12 BONECAS CONFECCIONADAS COM RESÍDUOS DE MALHA E

ENCHIMENTO EM FIBRA SILICONADA ANTIALÉRGICA. ........................................... 50

FIGURA 13 MODELO DE MINIMIZAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL ....................... 58

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 PARADIGMA CARTESIANO VERSUS PARADIGMA DA

SUSTENTABILIDADE ........................................................................................................... 52

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RESUMO

Esta dissertação avalia as transformações ocorridas na vida dos agricultores dos assentamentos

Margarida Maria Alves no município de Juarez Távora e o assentamento Queimadas no

município de Remígio no Estado da Paraíba, focando no estudo sobre desenvolvimento local

sustentável, Aborda a situação atual dos assentamentos na área ambiental, social e econômica.

Analisa com precisão os dados da pesquisa abordando a conformidade das famílias de

agricultores sobre a melhoria de vida após a adoção do cultivo do algodão orgânico colorido.

A pesquisa concluiu que apesar das dificuldades com o período de seca na região nordestina a

utilização por meio do cultivo sem o uso de agrotóxicos é uma boa alternativa de combate à

pobreza, gera emprego e renda, inclusão social, e a valorização da cultura local através do

artesanato e a melhoria da qualidade de vida nas famílias de agricultores nos assentamentos da

Paraíba. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica para a obtenção de informações relativas ao

tema da cadeia produtiva do algodão orgânico colorido e desenvolvimento local sustentável,

tendo referências teóricas e os conceitos aceitos na pratica do cultivo orgânico, bem como atuais

literaturas, pesquisas e artigos científicos recentes sobre desenvolvimento local sustentável, a

pesquisa de campo exploratória que aconteceu in locus por meio de visitas e entrevistas,

observações no campo e aplicação de questionários

Palavras-chaves: Algodão Orgânico Colorido. Sustentabilidade. Cadeia Produtiva.

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ABSTRACT

This thesis evaluates the transformations that have occurred in the lives of farmers of

settlements Daisy Marie Alves in the municipality of Juarez Távora and the settlement

Queimadas in the municipality of Remígio in Paraíba State, focusing on the study of sustainable

local development, A literature search was conducted to obtain information relating to the

theme of the production chain of colorful organic cotton and sustainable local development,

having theoretical references and concepts accepted in practice of organic farming, as well as

literature, current research and recent scientific articles about sustainable local development,

exploratory field research that happened in locus by means of visits and interviews the field

observations and questionnaires. Covers the current situation of settlements in environmental,

social and economic area. Analyze with precision only research data addressing the families of

farmers on the improvement of life after the adoption of the colored organic cotton cultivation.

The research concluded that despite the difficulties with the dry spell in the northeastern region

to use by means of cultivation without the use of pesticides is a good alternative to fight poverty,

generate employment and income, social inclusion, and the appreciation of local culture through

craftwork and the improvement of the quality of life in families of farmers in the settlements of

Paraíba.

Keywords: Colorful Organic Cotton. Sustainability. Production Chain.

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SUMARIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 16

1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA................................................ 19

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 19

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................ 21

2.1 HISTÓRIA DO ALGODÃO E O CRESCIMENTO ECONÔMICO NO NORDESTE ... 21

2.1.1 A história de campina grande e o algodão ....................................................................... 28

2.1.2 Museu do algodão de campina grande – pb .................................................................... 31

2.2 CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO COLORIDO .................................................... 34

2.2.1 Plantio do algodão orgânico colorido .............................................................................. 37

2.2.2 Colheita do algodão organico colorido ............................................................................ 38

2.2.3 As etapas de transformação do algodão .......................................................................... 39

2.2.4 Os principais agentes participantes da cadeia produtiva do algodão orgânico na paraíba

.................................................................................................................................................. 41

2.2.5 Planejamento estratégico da coopnatural ........................................................................ 44

2.2.6 Comercialização da produção do algodão orgânico colorido .......................................... 45

2.2.7 A festa da colheita do algodão orgânico colorido em remígio ........................................ 47

2.2.8 O artesanato com o algodão orgânico e a cultura nordestina .......................................... 48

2.2.9 Produto final .................................................................................................................... 48

2.3 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ................................................................ 50

2.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................................................... 51

2.4.1 Eliminação ou minimização dos impactos ambientais .................................................... 55

2.4.2 Sistema de Gestão Ambiental – SGA .............................................................................. 56

2.4.3 Industrialização, Desenvolvimento Tecnológico e o Meio Ambiente ............................ 57

2.4.4 A valorização econômica ambiental ................................................................................ 59

2.4.4.1 agricultura familiar ...................................................................................................... 60

2.5 CERTIFICAÇÃO ............................................................................................................... 60

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2.5.1 Certificação de produtos orgânicos é o caminho para a sustentabilidade ....................... 61

2.5 A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ORGANIZADOS PARA O

INSTRUMENTO DE LUTA PELA POSSE DA TERRA NA PARAÍBA ............................. 62

3 METODOLOGIA................................................................................................................ 64

3.1 TIPO DE ESTUDO ............................................................................................................ 64

3.2 CAMPO DE ESTUDO ....................................................................................................... 66

3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................ 67

3.4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .............................................................. 67

3.5 METODOS, TECNICAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ................. 69

3.5.1 Elaboração do instrumento de pesquisa .......................................................................... 70

3.5.2 Procedimento de coleta de dados .................................................................................... 70

3.6 MÉTODOS E TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS ..................................................... 70

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 71

4.1 UM PERFIL DOS ASSENTAMENTOS PESQUISADOS ............................................... 71

4.2 UM PERFIL DOS COLABORADORES DESSA PESQUISA ........................................ 72

4.3 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E AMBIENTAL DOS

ASSENTAMENTOS ................................................................................................................ 73

5 CONCLUSÕES.................................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 79

APÊNDICE A ......................................................................................................................... 83

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1 INTRODUÇÃO

No Nordeste do Brasil cresce a cada ano o interesse pelo cultivo do algodão orgânico

colorido e pela agricultura familiar com o manejo convencional quanto orgânico. A coloração

do algodão é natural e esse fator valoriza os produtos ecologicamente corretos no mercado

nacional e internacional, por dispensar o tingimento que polui o meio ambiente e o os lençóis

freáticos, com a produção orgânica sem o uso de insumos e fertilizantes químicos os produtos

produzidos tem alto valor comercial.

Fundada em 1975, a Embrapa Algodão é uma das unidades descentralizadas da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária com sede em Campina Grande – PB, a mesma atua em

todo o Brasil, na geração de tecnologias, produtos e serviços para a agricultura do algodão,

mamona, amendoim, gergelim e sisal. A Embrapa buscou melhoria genética do algodão na

década de 80, passou a investir no desenvolvimento de variedades anuais de ciclo precoce como

estratégia para a convivência da praga do bicudo. Na década de 90 a Embrapa Algodão passou

a promover pesquisas para o desenvolvimento de cultivo do algodão adaptáveis as condições

do Cerrado brasileiro e a partir d e 1092 o marco para a consolidação da cotonicultura na região.

Em 2000 as variedades de algodão colorido começaram a ser lançadas. A primeira cultivar foi

a BRS 200 Marrom, seguida da BRS Safira e BRS Rubi. Todas são indicadas para o Nordeste

brasileiro.

A responsabilidade socioambiental tem a finalidade de orientar e alertar a sociedade e a

indústria para encontrar soluções que minimizem os impactos negativos e a conservação dos

recursos, além de procurar a preservação do ecossistema. Com o surgimento e aprofundamento

das discussões relativas ao desenvolvimento sustentável tornou-se importante a formação de

uma visão ambiental mais aguçada no que tange ao encontro de soluções para a preservação

através de mecanismos de produção que respeitem o ambiente. Um aspecto que causa uma

grande preocupação na indústria mundial é minimizar ou eliminar os impactos que podem

causar danos sociais e ambientais. Por esse motivo, inicialmente é necessário identificar quais

são os impactos potenciais, através do ciclo de vida do produto ou projeto, passando pela

aquisição das matérias-primas, a produção, o transporte, o ruído e o desequilíbrio que é causado

ao ecossistema. Dessa forma, pode-se observar os impactos sociais que tem atingido a saúde

humana e a qualidade de vida.

O algodão colorido foi desenvolvido pela EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária. O algodão colorido provém de um melhoramento genético obtido a partir do

cruzamento do algodão primitivo conhecido como "macaco" com o algodão "seridó" que tem a

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fibra mais longa e mais resistente do mundo. O plantio do algodão colorido é feito por pequenos

agricultores de municípios zoneados do alto sertão Paraibano. A remuneração do agricultor é

acima do preço de mercado, pois a colheita é manual e a produtividade no plantio é menor que

a do algodão convencional. A produção obedece aos padrões de qualidade exigidas pelo

mercado, isenta de agroquímicos, evitando não só a contaminação do produto final, mas

também, e sobretudo dos solos, cursos d´água e lençóis freáticos.

De acordo com Lustosa (2003) o setor que mais provoca danos ao meio ambiente é o

industrial, através de processos produtivos ou pela fabricação de produtos poluentes ela afirma

que nesses casos as tecnologias adotadas possibilitam maior eficiência no uso dos recursos e a

substituição de insumos no processo produtivo. A referida autora explica que o desenvolvimento

tecnológico que adota um padrão de produção menos agressivo ao meio ambiente é vista como

uma alternativa parcial do problema, porém os recursos naturais não podem ser substituídos, por

possuírem características particulares, sendo, dessa forma, impossível ser reproduzido pelo

homem. O consumo excessivo dos recursos naturais hoje torna indisponível para o consumo de

gerações futuras.

De acordo com Lustosa (2003) os fatores que induzem as empresas a adotarem práticas

saudáveis para o meio ambiente são quatro: a) regulamentação ambiental; b) a pressão dos

consumidores; c) a pressão dos Stakesholders; e, d) a pressão dos investidores.

a) Regulamentação ambiental: Induz a adoção de uma postura menos agressiva ao

meio ambiente. Através da regulamentação há uma influência no processo de

inovações que serão adotadas, o meio institucional atua no processo de seleção por

meio de legislação, subsídios, créditos, financiamentos e outros.

b) A Pressão dos Consumidores: Nos últimos anos, o nível de consciência ecológica

vem aumentando, apesar de existir uma diferença no comportamento entre os

consumidores de alta e baixa renda, ou seja, nos países mais desenvolvidos os

consumidores exigem que as empresas ofereçam produtos ecologicamente corretos,

com selos de garantia e, mesmo que esses produtos sejam mais caros do que os

tradicionais, passou a existir um grau elevado de consciência nesse sentido. Há que

se observar, por outro lado, que nos países que estão em desenvolvimento não há

esse nível de conscientização e como não há a pressão por parte dos consumidores,

as empresas não procuram adotar o processo menos agressivo ao meio ambiente.

c) A Pressão dos Stakesholders: De acordo com Lustosa (2003) essa pressão é

considerada um determinante ambiental e há uma crescente preocupação com esses

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grupos, pressão exercida por diversos grupos desde a população que reside ao redor

de um empreendimento industrial que possa ameaçar o meio ambiente.

d) A Pressão dos Investidores: Existe uma grande preocupação no setor com alto

potencial poluidor como, por exemplo, as indústrias químicas e as petroquímicas,

no caso de fusão e aquisição de empresas nas quais existe uma preocupação com o

passivo ambiental devido a Lei 9.605/98 que é a lei dos crimes Ambientais. Essa lei

possibilita sanções e cobrança de altos valores aos responsáveis por danos

ambientais.

Nos países em que a renda é baixa, é significativa a parcela da população que é guiada

pelo preço e não pela qualidade de um produto, e que o mesmo seja ecologicamente correto.

Nesses casos, somente uma pequena parte de população, a que tem um melhor poder aquisitivo

é que é capaz de demandar produtos com esse nível.

Observando os processos produtivos, os consumidores e intermediários – empresas que

compram insumos de outras empresas – são induzidos a adotar práticas saudáveis ao meio

ambiente através de exigências de seus compradores por terem algum tipo de certificado

ambiental (ISO 14001), passam a exigir dos fornecedores a gestão ambiental nos seus negócios.

O fator importante é a pressão dos consumidores que estimulam as empresas a

realizarem investimentos ambientais. Através da alta demanda de sociedade por produtos e

processos de produção menos agressivas ao meio ambiente, dessa forma geram inovações

ocorrendo a difusão da inovação. Com relação à oferta é positivo existir a concorrência do

mercado e a questão ambiental é importante para manter a posição competitiva porque passa a

existir a inovação podendo ser uma forma de sobrevivência no mercado. É nesse mercado

competitivo que há cada vez mais a necessidade de adotar inovações ambientais.

Há uma regulamentação ambiental que induz a adoção de uma postura menos agressiva

ao meio ambiente. Através da regulamentação há uma influência no processo de seleção de

inovações que serão adotadas, o meio institucional atua no processo de seleção por meio de

legislação, subsídios, créditos, financiamentos e outros.

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1.1 SITUAÇÃO PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA

O funcionamento da cadeia produtiva do algodão orgânico colorido cultivado no

semiárido paraibano obteve um desenvolvimento tecnológico que adotou um padrão menos

agressivo ao meio ambiente e adoção de regulamentação ambiental.

Através de um rastreamento e mapeamento dessa rede analisar a verificação da

sustentabilidade, se os impactos são reais, identificar os benefícios e as dificuldades para se

desenvolver e verificar seus impactos na sociedade em que está inserida, através dessa pesquisa

mensurar os impactos positivos e negativos. Verificar o retorno social e econômico desse

projeto ao longo do tempo.

Dentro desse contexto pergunta-se: Quais os desdobramentos para os próximos

tempos da cadeia produtiva sustentável do algodão orgânico colorido da Paraíba e suas

restrições no processo de amadurecimento e desenvolvimento do negócio?

1.2 OBJETIVOS

Tendo em vista a problemática exposta a cima, este estudo tem como objetivo geral

identificar as melhorias que ocorreram nos assentamentos após a adoção do cultivo do algodão

orgânico colorido e verificar quais os impactos na área ambiental, social e econômica. Para o

alcance desse objetivo elaboram-se os seguintes objetivos específicos:

a) Investigar quais foram os benefícios para o agricultor com o cultivo do algodão orgânico

colorido nos assentamentos sem a utilização de agrotóxicos;

b) Verificar custo/benefício da adoção do plantio do algodão orgânico colorido no

assentamento Margarida Maria Alves e no Assentamento Queimadas – PB

c) Identificar as mudanças na vida familiar com relação a economia após o cultivo do algodão

orgânico colorido nos assentamentos.

1.3 JUSTIFICATIVA

Pesquisar a cadeia produtiva do algodão orgânico colorido, se o processo de

amadurecimento e crescimento na atividade produtiva. Observar as principais vantagens do

plantio do algodão orgânico colorido e a minimização dos impactos ambientais com a não

utilização de agrotóxico no meio ambiente. Através da conscientização da sociedade e de uma

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legislação ambiental mais coesa, têm-se induzido muitas empresas a terem um

comprometimento com o meio ambiente por meio de investimentos em modificações de

processos, mão-de-obra qualificada, substituição de insumos, redução de resíduos e uma

racionalização dos recursos naturais.

Hoje, preservar significa ter comprometimento com as futuras gerações já que os

recursos estão ficando cada vez mais escassos. Essa preservação do meio ambiente é a

alternativa mais adequada para o desenvolvimento sustentável.

A busca pela melhoria na qualidade de vida é uma realidade para a sociedade e as

empresas que sentem a necessidade de aumentar a produtividade, além de se manterem no

mercado cada vez mais competitivo e conservar os recursos e o ecossistema.

Espera-se que esse estudo possa contribuir para a conscientização voltado a

sustentabilidade e na busca de equilíbrio entre o homem e a natureza para que dessa forma haja

comprometimento e respeito com o meio ambiente e com as futuras gerações.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capitulo pretende inicialmente pontuar os principais acontecimentos da história do

algodão, sendo assim um resgate histórico contextualizando o objeto de estudo proporcionando

uma percepção e a sua relevância social, econômica e ascensão das famílias que cultivavam e

comercializavam no Brasil e no exterior.

Para tanto temos os principais tópicos em discursão, história do algodão e o crescimento

econômico no Nordeste, cadeia produtiva do algodão colorido, responsabilidade sócio

ambiental, desenvolvimento sustentável, a importância dos movimentos sociais organizados

para o instrumento de luta pela posse da terra na Paraíba

2.1 HISTÓRIA DO ALGODÃO E O CRESCIMENTO ECONÔMICO NO NORDESTE

Algodão de fibra colorida no Brasil - O algodão colorido já era cultivado pelos povos

antigos, como mostram escavações realizadas no Peru e que datam de 2500 a.C. Amostras de

algodão de fibra branca, coletadas no Paquistão são datadas de 2700 a.C, evidenciando,

portanto, que estes dois tipos de algodão, o colorido e o branco, têm a mesma idade. Não se

sabe exatamente quando a cultura do algodão surgiu no Brasil, existem indícios de que os índios

já exploravam de várias formas: o caroço da pluma que servia para mingal, as folhas eram

utilizadas para efeitos medicinais para curar feridas e cortes e as fibras eram transformadas em

redes para dormir e descansar.

De acordo com Costa e Bueno (2004), “[...] a produção de algodão no território

brasileiro é muito anterior à chegada dos portugueses em 1500. Mas foi a partir desta data que

se intensificou o cultivo com o uso das espécies nativas e importadas”. Não foi por acaso que

houve um incentivo à produção do algodão para Costa e Bueno (2004), “o intuito era reduzir a

dependência do tecido inglês, cuja indústria apresentava expansão”.

Segundo Moreira e santos (1994), “o algodão é um produto que desde a época da

colonização tem desfrutado de uma história extremamente rica no Brasil”. Nesse período, o

algodão nem tinha tanta representatividade mundial, pois a lã e o linho predominavam como

matéria-prima principal nas vestimentas e nos acessórios por muito tempo. Coelho (2002) cita

a presença das mulheres índias, as escravas e as camadas pobres da população no

desenvolvimento têxtil nacional. O algodão possuía naquela época características de um

produto de subsistência, como o milho e a mandioca. Mas, “[...] em sua longa trajetória

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participou, praticamente de todos os grandes momentos da vida econômica brasileira”

(MOREIRA E SANTOS; 1994). E necessário para entender o crescimento da cultura do

algodão no Brasil e no mundo visualizar o cenário de revolução Industrial, no século XVIII, na

Inglaterra, onde o algodão foi transformado na principal fibra têxtil do mundo e o maior produto

das Américas. O algodão no Brasil sempre esteve ligado ao mercado internacional como

matéria-prima abastecendo a indústria têxtil mundial. De acordo com o estudioso francês Jean

Pierre Rioux (1975), “[...] a revolução industrial foi o início do desenvolvimento de um

crescimento de um tipo novo, ao qual correspondem as inovações técnicas”. Antes de dessa

revolução em 1735, John Waytt anunciava ao mundo a máquina de fiar, aumentando ainda mais

o crescimento da produção de algodão e o progresso de indústria têxtil que, para Novais (1998,

p.12), “implicava em uma corrida voraz pela disputa das matérias-primas disponíveis em toda

parte do mundo, como também exigia a abertura de um amplo universo de novos mercados de

consumo para absorver seus excedentes maciços”. Com a exploração econômica a história da

cotonicultura no Brasil remonta à época colonial, que teve início por volta de 1760. “Neste

período tornou-se importante produto de exportação, disseminando-se amplamente pelo

território brasileiro, em especial na Bahia, Pernambuco, Maranhão, Goiás e chegando a

estender-se até a costa da serra do Rio grande do Sul”. (PAIVA; SCHATTAN;FREITAS,

1976).

FIGURA 1 COLHEITA DO ALGODÂO COLORIDO

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Fonte:https://www.google.com.br/search?q=colheita+do+algodão+colorido+da+paraiba&biw=1440&

bih=799&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAYQ_AUoAWoVChMIg6WUgKn

Após a revolução industrial se espalhar por todo o mundo, o Brasil destacou-se com a

expansão da produção de algodão no estado do Maranhão, assim, como afirma Chico Oliveira

(1993, p.46): [...] o nordeste agrário não-açucareiro começará a ser definido completamente

pela entrada em cena de outro ator: O algodão. Como sequela da revolução industrial, e

primeiramente, do avanço de indústria têxtil na economia inglesa, a demanda mundial do

algodão começa a crescer exponencialmente.

No Brasil e especificamente no nordeste do país a cultura do algodão foi associada a

outras culturas de subsistência como: feijão, milho e com a pecuária, que possibilitou a

expansão e ocupação da grande extensão de terra que compõe o semiárido nordestino.

Segundo MARIZ (1939, p.21):

[...] antes mesmo de começar o século XIX já se ia aqui

introduzido o algodão, embora sem vulto ou perspectiva

de grande cultura. Pernambuco produzia desde meados

do século anterior, mas só de 1780 em diante se

incrementaria ali o plantio. A Inglaterra criara tarifas

fortes sobre o tecido indiano, protegendo a indústria de

Manchester, cujos agentes se lançaram então a procura

da malvácea, na América. Datam mais ou menos daí os

primeiros hectares de cultura na Paraíba”.

Com a Guerra da Secessão (1860/1865), ocorreu a expansão da cultura algodoeira, no

estado quando se amplia o potencial de exportação desse produto – para suprir, principalmente,

a demanda das industrias europeias e as facilidades inerentes ao cultivo e beneficiamento em

solo paraibano. Nessa época o Nordeste se assemelha com o nordeste escrito por Oliveira (1993,

p.15), “[...] è o nordeste dos “coronéis” e da burguesia açucareira. ”

Para Kenhrle (2000, p. 425):

[...] o algodão durante muitas décadas ligou o semi-árido

nordestino ao mercado mundial, constituindo seu elo de

ligação com as economias avançadas da época. Ao se

tornar um vetor de injeção de renda monetária uma área

que afora a cotonicultura praticava essencialmente uma

agricultura de subsistência, o algodão tornou-se também

o símbolo da riqueza dos sertões, o seu „ouro branco‟. A

história econômica dos sertões nos dois últimos séculos

está fortemente associada ao algodão. Assim como, no

início da colonização, a cana-de-açúcar ligou a economia

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litorânea do Nordeste do Brasil aos centros de decisão do

capitalismo mercantilista dos séculos XVII, o algodão

ligou a agricultura do interior nordestino – dos sertões –

aos centros decisórios do capitalismo fabril dos séculos

XIX e XX. ”

O atual estado da Paraíba era chamado de Parahyba do Norte e houve um

desenvolvimento na cultura do algodão que se desenvolveu principalmente nas regiões do

Agreste, Sertão e Alto Sertão, pois havia solo e clima propício para o seu desenvolvimento. Os

estudiosos e os historiadores afirmam que a principal que o algodão foi a principal fonte de

riqueza pública e particular do estado durante a Primeira República. Em um dos seus discursos

na Assembleia Legislativa, o governador Solon de Lucena (1922), apud Guedes, Thinen e

Chaves (2008), confirma tal premissa ao afirmar que:

[...] o algodão continua a ser e será por muitos anos, o

principal elemento básico de nossa fortuna pública, a

fonte principal da riqueza privada e o produto para o qual

nos devemos voltar, com todo o senso comercial de que

somos capazes, para promover-lhe o desenvolvimento

que nossas terras comportam e, por uma rigorosa

classificação de typos, leva-lo no conceito dos

consumidores americanos e europeus.

Para Guedes; Thinen e Chaves (2008):

[...] em 1916, o estado da Parahyba do Norte figura como

principal produtor nacional, seguido pelos estados do

Ceará, Rio Grande do Norte, São Paulo, Pernambuco

Maranhão e Minas Gerais. Nesse momento, o estado de

São Paulo já se destaca como quarto produtor do país

apesar das suas condições climáticas não serem

totalmente propícias ao cultivo do algodão. Datam desse

período notas e relatos na imprensa paraibana, em tom de

preocupação, acerca desse avanço da produção do estado

de São Paulo.

Com base em Guedes, Thinen e Chaves (2008) a produção de algodão em São Paulo e

Minas Gerais já era bem elevada superando alguns estados do Nordeste. Esse foi um dos

motivos que acarretou uma grande queda na produção algodoeira paraibana, mesmo com a

grande seca registrada no ano de 1919e da propagação da largata rosada pelos algodoais

paraibanos, “a exportação de algodão atingiu 12.351.839 quilos, em 1918; 8.227.276 quilos, no

ano seguinte; e chegou a 15.541.398 quilos, em 1921” (GUEDES;THINEN;CHAVES, 2008,

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P.128). Com os índices elevados de exportação de fardos de fibra de algodão enriquecimento

de alguns produtores e negociantes contribuíram para o crescimento econômico e populacional

da cidade como um todo. Ou fator que chamou a atenção é o registro de presença de estrangeiros

na cidade da Parahyba do Norte, os quais foram atraídos pelo progresso da economia do algodão

e houve uma transformação cultural da sociedade na região. Com o acréscimo do comercio de

exportação e importação junto as empresas de créditos do estado, os investidores arrastavam

para fora do pais uma parte dos lucros e em troca contribuíam para a disseminação da

modernidade cultural, novos costumes e conceitos.

Esses padrões externos exerciam influência no cotidiano

da população através do vestuário, do vocabulário, da

instrução, do apreço às artes em geral, inclusive à

arquitetura e ao tratamento do espaço urbano coletivo.

(GUEDES; THINEN; CHAVES; 2008).

Esse período ficou conhecido com Ouro Branco no qual foi proporcionado um grande

crescimento econômico e populacional à Paraíba; e de acordo com os estudiosos e historiadores,

esses períodos foi marcado principalmente pelo avanço das empresas estrangeiras no Nordeste

e em particular na Paraíba. De acordo com Moreira e Santos (1994) “[...] a década de 30 foi

para o algodão uma fase plena de realizações. Quando da derrocada dos preços do café, esta

malvácea assumiu a condição de produto chave na economia brasileira. ” É importante ressaltar

as exportações que estavam atreladas ao capital internacional já que duas das três maiores

exportadoras eram estrangeiras de acordo com Guedes, Thinen e Chaves (2008) são: Cahn

Frères & CIA que, nas últimas décadas do século XIX, praticamente monopolizou o comércio

externo. Fundada em 1864, estabeleceram filiais em Guarabira e Mamanguape; as quais se

tornaram proprietárias de terras e dos engenhos de açúcar, também dominaram o setor bancário,

sendo assim representantes de capitais europeus, investiram no sistema de transporte urbano,

subscrevendo ações da Companhia Ferro Carril Parahybana. A empresa Kroncke & CIA, de

acordo com a afirmação de Galliza (1993, p.87: [...] veio patentear a participação do capital

alemão na economia paraibana. Foi implantada nessa época a primeira prensa hidráulica do

estado, com fabricação de óleo de semente de algodão. Com o início da 1º Guerra Mundial a

empresa fechou as portas e os sócios migraram para a Europa, em 1020 a firma foi reativada e

se reintegraram aos empreendimentos algodoeiros. O início do declínio do período conhecido

como Ouro Branco teve início em meados de 1970, a partir dessa data a produção de algodão

no estado da Paraíba chega a números irrisórios e as justificativas de acordo com os

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historiadores e estudiosos afirmam que são elas: (a) entrada de países como a China e a Índia

na produção e comercialização e (b) lavouras inteiras destruídas pela prago do bicudo.

Os algodões de fibra branca mereceram mais atenção em programas de melhoramento

genético, desde a metade do século 20, do que os de fibra colorida. Isso fez com que se

acentuasse a diferença entre estes dois tipos de algodão no que se refere aos caracteres de

importância econômica.

A cor da fibra, portanto, não é inusitada como poderia parecer, já que o algodão mais

conhecido, plantado e utilizado é o de fibra branca. Muitos algodões silvestres diploides, apesar

de não possuir fibra fiável, possuem coloração em seus rudimentos de fibra, nas cores marrom,

em várias tonalidades e esverdeadas. Alguns países possuem plantio comercial de algodão

colorido como Estados Unidos, Peru e China.

Quando ainda não eram explorados em plantios comerciais, no Brasil, alguns algodões

com fibra marrom já eram usados como plantas ornamentais nos Estados da Bahia e Minas

Gerais, sendo que a fibra era usada para confecção de artesanatos, em localidades do interior

destes Estados. A cor marrom destes algodões pode ter se originado de algodões nativos

presentes nestas regiões os quais podem apresentar fibra marrom e também da espécie silvestre

G. Mustelinum, originária do Brasil, e presente nos Estados da Bahia e Rio Grande do Norte,

cuja fibra é também marrom.

Na década de 80, pesquisadores da Embrapa realizaram viagens pelos vários Estados do

Nordeste, a fim de coletar sementes de plantas de algodão, remanescentes de antigos plantios

ou que estavam em locais próximos a algodoeiras, nas margens de estradas, matas, e outros

locais. Estas sementes complementariam o banco ativo de germoplasma já existente e foram

armazenadas em câmara fria, servindo como fonte de genes para futuros trabalhos de

melhoramento. Foi observado que muitas destas plantas possuíam a fibra na cor marrom claro.

A primeira variedade de algodão de fibra colorida originou-se de seleção nestes materiais

coletados no Nordeste e se chama BRS 200, cuja fibra é marrom claro. Para a síntese deste

cultivo, aproveitou-se, portanto, a própria variabilidade existente para cor da fibra presente em

materiais coletados no Nordeste. O linter e a fibra dos algodões tetraplóides ocorrem em cores

que vão do branco a várias tonalidades de verde e marrom. Normalmente, apenas um gene

governa a presença destas cores no algodoeiro. Apesar de controlada geneticamente, a cor da

fibra pode ser influenciada por fatores ambientais, como o tipo de solo, o conteúdo de minerais

e a luz solar. Todos estes fatores podem fazer com que determinada cor da fibra seja mais ou

menos acentuada. Dependendo do ano, também, uma determinada cultivar pode ter a cor da

fibra mais ou menos acentuada. Com o interesse demonstrado por empresários, japoneses pela

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fibra colorida, é que se iniciaram os trabalhos de melhoramento na Embrapa no início da década

de 90 e foi selecionado a primeira cultivar, a BRS 200, de cor marrom claro, como mencionado

anteriormente. A procura por roupas confeccionadas com este tipo de algodão se dá

inicialmente a pessoas alérgicas a corantes e para uso por recém-nascidos. Hoje, não apenas

este tipo de pessoas consome este produto, mas também aquelas interessadas em produtos

ecológicos de uma maneira geral, sendo este também o caso do algodão naturalmente colorido

e tem sido grande esta procura.

O algodão colorido é ecológico, pois dispensa as fases de preparo para tingimento na

indústria as quais utilizam produtos químicos, que se mal utilizados podem causar danos à

saúde. Por dispensar estas fases, os custos na indústria com a obtenção do tecido são reduzidos,

reduzindo os gastos com água e com energia, além de reduzir a quantidade de efluentes a serem

tratados. Os corantes usados no tingimento de tecidos são nocivos à saúde e muitas vezes

carcinogênicos. O processo de tingimento é altamente poluente, pois gera resíduos com altas

concentrações de sais, barrilha, entre outras substâncias e o alvejamento gera resíduos com

umectantes, sais, soda cáustica, peróxido e neutralizadores. Apesar dos tratamentos de

efluentes, cerca de 15 dos resíduos são liberados e podem poluir o ecossistema no qual forem

liberados.

Utilizando materiais introduzidos de outros países, presentes em seu banco ativo de

germoplasma, que apresentavam coloração na fibra, a Embrapa Algodão iniciou em 1995 um

programa de melhoramento genético para obtenção de novas cultivares com novas cores da

fibra, além da de cor marrom claro já existente, BRS 200.

Os materiais presentes no banco, que exibiam alguma coloração na fibra não eram

adaptados ao cultivo no Brasil e apresentavam fibra de qualidade inferior. Por isso necessitava-

se de um programa de melhoramento para obtenção de materiais adaptados ao cultivo no Brasil

e de boas qualidades de fibra. Após cruzamentos destes materiais com cultivares de fibra branca

de boa qualidade, adaptadas às nossas condições e aplicação de métodos convencionais de

melhoramento foram selecionadas as cultivares BRS VERDE, lançada em 2003 e as BRS RUBI

e BRS SAFIRA, em 2005, de fibra marrom avermelhada. Estas cultivares são anuais e se

prestam ao plantio em localidades da Região Nordeste que possuem precipitação pluvial igual

ou maior quer 600 mm anuais. Já a BRS 200 de fibra marrom claro é semi perene e é indicada

para as regiões mais secas da região Nordeste. Seu ciclo é de três anos, ou seja, ela produz até

o terceiro ano

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2.1.1 A história de Campina Grande e o algodão

De acordo com Costa Filho 91960 apud Cardoso (2002, p.43), A cidade de Campina

Grande “funcionava como um entreposto, na Porta do Sertão ‟ como empório do comércio de

algodão do Nordeste e se destacava como centro cultural do interior desta região”. Localizada

a 120 Km da capital paraibana João Pessoa tem início nessa época um período de crescimento

econômico e populacional. Campina Grande se destaca no cenário internacional como segundo

maior entreposto comercial do algodão no mundo, sendo assim considerada a Liverpool e esse

status foi devido aos fatores de: (a) Campina Grande possuía uma máquina de descaroçamento

onde toda a produção de algodão da Paraíba e de 24 outros estados do Nordeste eram

beneficiados; (b) com a estrada de ferro da região que foi instalada, ligando Campina Grande e

outras cidades até o porto de Recife. De acordo com um artigo veiculado no Jornal da Paraíba

(1997) citado em Cardoso (2002):

[...] mesmo sendo uma cidade do interior nordestino, há

quem diga que Campina Grande sempre se revestiu de

uma certa aura cosmopolita. Os que fazem esta apologia,

talvez estejam corretos. [...] Dessa forma, Campina

Grande se notabilizou internacionalmente, até fins dos

anos cinquenta, como a “Liverpool Brasileira” pelo fato

de assumir no ranking mundial a segunda posição como

exportadora de algodão.

A história do município de Campina Grande foi constituída a partir do aldeamento dos

índios Ariús, que foram trazidos como prisioneiros pelo capitão dos sertões de Piranhas e de

Piancó, Theodósio de Oliveira Ledo, por volta de 1697. E, 1790 passando a condição de vila e

foi denomina Vila Nova da rainha, tendo um efervescente comércio e passou a condição de

cidade em 11 de outubro de 1864, com o nome de Campina Grande.

Em 1907 com a chegada do trem por iniciativa de Cristiana Lauritzen, o progresso foi

impulsionado em ponto terminal de trens pela vinda dos tropeiros e boiadeiros e a produção de

algodão de todo interior. O setor comercial de Campina Grande dinamizado veio a ter um

grande crescimento, caracterizando-se como o maior centro algodoeiro, além de outras

atividades.

Após a chegada da eletricidade em 1920, o seu desenvolvimento foi ainda mais rápido,

e mais adiante com a inauguração do abastecimento da água em 1939. Estes acontecimentos

tiveram grande importância para o rápido desenvolvimento de campina que chegou a categoria

da terceira praça algodoeira do mercado mundial e consequentemente a maior cidade do interior

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do norte/nordeste do país. A ideia de implantar ferrovias na Paraíba vem desde o fascínio pelo

trem do Recife. Joffily defendia uma ferrovia de Cabedelo a Campina Grande que

acompanhasse o rio Paraíba, no entanto não deu certo, pois as ferrovias inglesas implantadas

no Brasil não se interessaram pelo algodão. Nem mesmo a capital teve esse privilégio, e o que

viu foi uma empresa inglesa, a The Conde D’EU Railway deficitária. Esta foi, a primeira

ferrovia a percorrer os canaviais paraibanos da capital para o interior em forma de Y, comum

ramal para Guarabira e outro para Pilar. E assim permaneceu até quando foi adquirida de volta,

pelo Governo republicano, no início do século XX e depois arrendado pela Great Western of

Brazil Railway (GWBR).

Com a queda do império, o Brasil buscou mudar a política ferroviária, dentro de um

clima tão estável que as ferrovias, mesmas inglesas, começaram a dar baixos rendimentos,

devido a política de câmbio. É na década de 1890, quando ficou claro para o governo paraibano

que o Conde D’EU não se interessava mais em levar seus trilhos serra acima e que pelo contrário

era o GWBR que se interessava pelo algodão, que o capitalista Cristiano Lauritzen tentou atrair

para a cidade de Campina Grande.

No século XX deu início a uma nova era e os meios de transporte das pessoas e de cargas

ainda eram em lombos de animais. Foi então que em 1903, Cristiano Lauritzen foi pela segunda

vez falar com o presidente Rodrigues Alves, através do general Almeida Barreto. A presidência

apoiou sua ideia e incluiu no plano a GWBR a extensão Itabaina – Campina Grande. Pelo

decreto federal de nº 5237 de 26 de julho de 1904, foi ratificado o contato do governo com a

GWBR para a construção. No que tange a economia, campina teve crescimento recorde, o

número de casa passou de 731 para 1.216 em 1913, crescendo em média de 70 casas por ano.

Porém tornou-se um grande problema, pois a cidade não dispunha de água potável para todos.

Surgi assim a ideia do açude de Bodocongó, terminado em 1915, mais sendo sua água salobra

foi deixado de lado. Empresas se instalaram em torno da estação e do açude velho, notando

assim um salto econômico ocorrido na cidade de Campina Grande com o advento do trem. A

luz foi inaugurada no início da década pela empresa J. Brito e Cia.

A cidade de Campina Grande passou a exportar para outros municípios os produtos

produzidos aqui e antes de terminar a década de 30 já contava com o mercado público central

(1939) e o matadouro, primeiro na rua João Pessoa e depois levado para o Bodocongó.

No início do século XX ocorre um impacto, a primeira greve ferroviária, durante cerca de um

mês como afirmara o jornal “O Campina Grande”. Como movimento patriótico de

reivindicação de direitos opera-se atualmente entre os honrados servidores da Great Westwrn.

Os patrícios querem aumento de seus ordenados e era o que a Cia os negava.

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FIGURA 2 ATUAL IMAGEM DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA CAMPINENSE TRANSFORMADA

NO MUSEU DO ALGODÃO.

Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Esta%C3%A7%C3%A3o_Ferrovi%C3%A1ria_de_Campina_Grande#/m

edia/File:Ferrovia_campina_grande.JPG

Com a chegada do trem, Campina viu chegar jornais, cinemas, cassino, teatro, rádio,

bandas de música moderna, transformando a cidade em feições urbanísticas modernas. Também

houve a aquisição de trocas culturais advindas do Recife, como o frevo. O trem transportava os

que iam estudar direito no Recife. Na área da educação o trem trouxe as freiras da Congregação

das Damos em 1931. Pelo trem circulavam os intelectuais e que tiveram imensa contribuição

na formação.

O trem foi utilizado durante 50 anos, portanto é ao fenômeno conhecido com a cidade

de trilhos que se deve o crescimento econômico e urbano. Apesar de tudo está modernidade era

limitada pois atendia apenas as elites algodoeiras e só beneficiava a população com alguns

empregos, alargamentos urbanas e melhorias públicas. O clima político era coronelismo, a

violência popular era representada pelos cangaceiros que entravam em colisão com os coronéis.

Porém a chegada do trem não trouxe a abastecimento de água para a cidade, nem um bom

serviço de iluminação as ruas ainda eram descalçadas. O caminhão desde 1920 veio irar o

predomínio do trem. O fim da guerra, o nacionalismo e o desenvolvimento mudaram os planos

dos campinenses que não dependiam mais do trem. Desde a década anterior linhas de aviação

começaram a fazer figura na alta sociedade e no final de 1940, a ligação com a capital começou

a ocorrer pela rodovia.

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De acordo com José lins do Rêgo (1952, p.118), observa-se claramente que nessa época

o crescimento econômico e populacional não foi estruturado de forma eficaz para as condições

adequadas de desenvolvimento da cidade como um todo, quando afirma que:

[...] a cidade de Campina, à noite, parece Copacabana, do

tempo da guerra, escura como breu. A cidade sofre de

gigantismo. Os motores dos serviços de luz não dão para

um décimo da sua serventia. O abastecimento d’ água,

obra que em 1940 custara trinta contos, não atende, nem

a um terço da população. Daí a tragédia de Campina

Grande. Há horas marcadas para o banho nos hotéis, e a

cidade fica às escuras para que não falte luz nas casas

particulares.

[...] O campinense, tão orgulhoso da sua cidade, sofre

com as deficiências dos seus serviços públicos. [...] Para

poder andar sem tropeços e poder ver as horas, trocar

dinheiro e fazer tudo mais usa o campinense um flash

light como objeto de absoluta necessidade. E quem fica

de cima de um terceiro 25 andar verá o espetáculo

curioso. Um mundo em plenas trevas, com o faiscar das

lâmpadas do engenhoso aparelho. Dei por visto um

milheiro de vagalumes a dançar pelos quatro cantos da

cidade.

Fica dessa forma evidente que a cidade de Campina Grande não era capaz de gerar

desenvolvimento sob a ótica social e sim com uma ferramenta econômica e negligenciou a

oportunidade de desenvolver benefícios sociais, culturais e ambientais para seus habitantes. O

crescimento econômico deveria estar alinhado com a igualdade e distribuição social de recursos

evitando assim os impactos negativos decorrentes da má gestão. O aumento da população

atraído pelo comercio do algodão transformou a rotina as cidades, com problemas de

infraestrutura, saúde, moradia e educação, com isso ficam clara a falta de planejamento.

2.1.2 Museu do algodão de Campina Grande – PB

O museu do algodão de campina Grande está instalado na Antiga Estação Ferroviária

no prédio que foi construído no século XX, o qual mantém a originalidade da arquitetura.

De acordo com a historiadora Maria José responsável pelo museu instalado na antiga

estação ferroviária de Campina Grande, foi instituído no ano de 1985 pela Embrapa, em 1989

passou a funcionar o museu do São João e após um período turbulento e de dificuldades foi

reaberto em 2001 dessa forma preserva a história do algodão na Paraíba e principalmente o

desenvolvimento do Algodão orgânico Colorido. A Embrapa propôs a criação desse espaço

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para organizar, valorizar e compartilhar a história, os relatos importantes do contexto

sociocultural da região paraibana.

FIGURA 3 MUSEU DO ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO

Fonte: A Autora 2015

O museu ajuda a preservar a história dos sistemas de produção e busca a identificação e

classificação de documentos, equipamentos, fotos, utensílios e artefatos. Em seu acervo pode-

se observar os avanços tecnológicos da pesquisa agropecuária em nossos pais, assim como a

educação e a contribuição para a melhoria de vida dos que fazem a setor agropecuário no Brasil.

FIGURA 4 MAQUINA DE DESCAROÇAMENTO DO ALGODÃO DO SÉCULO XX.

Fonte: A Autora. 2015

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FIGURA 5 BALANÇA PARA PESAR ALGODÃO. INÍCIO DO SÉCULO XX.

Fonte: http://hotsites.sct.embrapa.br/

Entre os objetos de época, há uma enorme máquina de calcular, da década de 20. As

máquinas utilizadas na cadeia produtiva do algodão, claro, também estão presentes: arado,

descaroçadora e régua para medir a altura do pé.Com grande importância para a cidade de

Campina Grande por possuir um acervo rico em peças que retratam a história recebendo

visitantes diariamente de escolas, faculdades, professores e turistas do Brasil e do exterior.

FIGURA 6 FARDO DE ALGODÃO DE 100KG QUE ERAM EXPORTADOS EM LOMBO DE

BURRO PELOS TROPEIROS NO SÉCULO XX.

Fonte: A Autora. 2015.

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2.2 CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO COLORIDO

A formação da cadeia produtiva do algodão orgânico colorido se revela complexa e

diversificada através da diversidade das teias de relacionamentos e esse capitulo descreve quais

são os principais processos e suas especificidades

A cadeia produtiva do algodão orgânico colorido pode ser formulada da seguinte forma:

produção do algodão, fiação, tecelagem, manufatura e comercialização, como vestem no

fluxograma a seguir:

FIGURA 7 FLUXOGRAMA DA CADEIA PRODUTIVA DO ALGODÃO COLORIDO

Fonte: A autora. 2015

A pesquisa do algodão colorido foi desenvolvida pela EMBRAPA - Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária. O algodão colorido provém de um melhoramento genético obtido a

partir do cruzamento do algodão primitivo conhecido como "macaco" com o algodão "seridó"

que tem a fibra mais longa e mais resistente do mundo.

O plantio do algodão colorido é feito por pequenos agricultores de municípios zoneados

do alto sertão Paraibano. A remuneração do agricultor é acima do preço de mercado, pois a

colheita é anual e a produtividade no plantio é menor que a do algodão convencional. A

produção obedece aos padrões de qualidade exigidos pelo mercado, isenta de agroquímicos,

evitando não só a contaminação do produto final, mas também, e, sobretudo dos solos, cursos

d´água e lençóis freáticos.

PRODUÇÃO DO ALGODÃO

FIAÇÃO TECELAGEM PRODUTO FINAL COMERCIALIZAÇÃO

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FIGURA 8 PLANTIO DO ALGODÃO

Fonte:https://www.google.com.br/search?q=colheita+do+algodão+colorido+da+paraiba&biw=1440&

bih=799&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAYQ_AUoAWoVChMIg6WUgKn

Através da agricultura orgânica os agricultores e familiares tem utilizado o sistema de

produção que aproveitam as árvores, ou seja, sistemas agros florestais e o aproveitamento das

terras diversificando as plantações, o espaço utilizado entre um plantio e outro é de no mínimo

de 80 cm a 1 metro. E nesse espaço é plantada uma fonte de alimentação e de renda que são:

feijão, milho, coentro, girassol, jerimum, que se tronou uma alternativa para a sustentabilidade

dos agricultores e familiares viabilizando assim a participação de pequenos produtores no

processo de certificação, incentivando a criação de grupos de agricultura familiar onde o

agricultor planta nas terras e mora que são os chamados assentamentos, nesse processo tem o

acompanhamento de certificação do Instituto Biodinâmico – IBD, que visa a credibilidade dos

consumidores sobre os produtos orgânicos através das propriedades certificadas através de

visitas e entrevistas onde são avaliados e acompanhados.

O processo inclui arquivos de fotos, documentos de funcionamento, origem da matéria-

prima orgânica, acessórios, registro de manutenção de dados, rastreabilidade, rotulagem,

composição do produto, relações de trabalho, coleta de amostra, correção de não conformidades

anteriores, declaração. Através dessas normas é que temos a garantia da origem e qualidade dos

produtos o respeito ao meio ambiente e a qualidade de vida dos envolvidos em toda cadeia

produtiva (IBD NORMAS, 2012). No processo de colheita é feito o beneficiamento, no qual o

algodão é descaroçado e prensado em fardos de até 130Kg de pluma em saco de algodão e

amarrados por fio de arame e formando os fardos estes seguem para a fiação. De acordo com

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Ramos (2006) , o processo de fiação requer muito cuidado pois exige que as máquinas estejam

limpas, sem qualquer resíduos de processamentos anteriores para preservar a integridade da

fibra e as cores do algodão, seguindo assim para tecelagem.

O fio é tecido em Campina Grande, em teares manuais, em uma empresa chamada

Entrefios. É uma empresa pequena, também parceira da CoopNatural. Na tecelagem plana, por

sua vez, tem parceria com uma empresa têxtil de Sergipe, a Ribeiro Chaves, já que na Paraíba

não existe esse tipo de tecelagem. Na Ribeiro Chaves são fabricadas o brim (com o qual se faz

calças), o linhão (usado em bermudas) e a tricoline (para camisas). Em relação à malharia, é

toda feita na Matesa, de João Pessoa, outra grande parceira, bastante engajada na causa. De lá

vêm o piquet, canelado, o moletom, a meia malha e a ribana.

A coleção desenvolvida para a Natural Fashion apresenta características mercadológicas

especiais, distintas do mercado tradicional de moda, nos aspectos de comportamentos de

compra, tendências nas linhas de produto, níveis de preço, sazonalidade, canais de distribuição

e comercialização, dimensão dos maiores mercados consumidores. A coleção apresentada faz

uma releitura da cultura nordestina vinculada às mais modernas tendências da moda

internacional. Feita em pequenas empresas do setor do vestuário de Campina Grande, em quase

todas as peças existe artesanato, para geração de renda em grupos de artesãos, devidamente

remunerados, para a inserção dos produtos na rede de comércio justo.

Está previsto para o ano de 2015 o lançamento de outra variedade marrom, mais

produtiva e com maior qualidade de fibra.

“A variedade em questão foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com a Fundação

Bahia. Ela possui a cor marrom, mais claro que a variedade BRS Rubi e possui a fibra com

melhor comprimento e melhor resistência que esta, além de outras características de fibra

também melhores. Ela deverá ser lançada este ano e suas sementes estarão disponíveis para

os produtores em 2016. ”

Conforme Carvalho, o algodão de cor azul

está ainda em fase de pesquisa e não há

previsão de quando vai ser obtido. “A

pesquisa busca modificar o gene da cor

marrom fazendo-o expressar a cor azul. Por

isso, é um processo demorado e não há

previsão de quando isso vai ser conseguido. ”

A busca do algodão orgânico colorida será considerada uma grande evolução porque o jeans

se destacou no mundo inteiro e a inovação é um diferencial no mercado. De acordo com a

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Embrapa, o algodão orgânico produzido na região do Semiárido do |Nordeste do pais marcará

presença na feira “1.618 Luxo Sustentável”, em Paris, França. O evento está exclusivamente

voltado para o consumo sustentável ao redor do mundo e o assentamento margarida Maria

Alves representará o Brasil.

2.2.1 Plantio do algodão orgânico colorido

O cultivo do algodão orgânico estimula a pratica ligada a sustentabilidade e é realizado

por um manejo diferente do sistema convencional, os sistemas orgânicos passam a depender

diretamente dos insumos naturais, contribuindo para a conservação do solo e da saúde dos

agricultores e dos consumidores dos produtos finais. É considerada a cultura comercial de

grande importância econômica no Brasil e em vários países.

Segundo dados da COTTON (1997):

[...] o algodão é uma cultura comercial de grande

importância econômica, sendo cultivado em mais de 70

países. A produção mundial da fibra é superior a 19

milhões de toneladas, ocupando uma área de cerca de 34

milhões de hectares, área um pouco menor que a

superfície da Itália e da Suíça, ou equivalente a pouco

mais que os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e

Espírito Santo juntos. A produção concentra-se na China,

Estados Unidos, Índia, Paquistão, Uzbequistão e

Turquia, responsáveis por quase três quartos da produção

mundial da fibra.

O manejo das plantações do algodão orgânico colorido obedece aos padrões de

qualidades que são exigidos pelo mercado nacional e internacional, são detectados devido à

inserção de agroquímicos e também pela utilização de bio fertilizantes que contêm

microrganismos vivos, e são preparados com esterco e água, podendo também incluir alguns

minerais para a produção da agricultura orgânica. Dessa forma evitam a contaminação do

produto final, dos solos dos cursos d’água, lençóis freáticos e sobretudo os próprios

agricultores.

Os municípios envolvidos são do Polo Borborema, que é composto pelas cidades de

Campina Grande, Remígio, Arara, Areia, Areal e Juarez Távora com o plantio previsto nos

meses de maio a julho; no sertão do Estado da Paraíba são os municípios de São José de

Piranhas, Aparecida, Bonito de Santa Fé, Cachoeira dos Índios e o plantio ocorre durante os

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meses de janeiro, fevereiro e março; e por último vem a zona do Curimataú, formada pelo

municípios de Pedra Lavrada, Cubati e Soledade com o período de plantação nos meses de

janeiro, fevereiro e março.

A Embrapa/PB atua através da assessoria técnica na agricultura agroecológica e

capacitando os agricultores e realizando visitas in loco de técnicos e de pesquisadores e também

fornece sementes apropriadas para o cultivo do algodão.

2.2.2 Colheita do algodão organico colorido

Uma característica do algodão orgânico colorido é que o cultivar é muito sensível e

requer cuidados especiais em seu manejo e a colheita se caracteriza pelo trabalho realizado de

forma manual, onde o algodão deverá ser colhido em dias de sol e quando 60% dos frutos

estiverem abertos. É por essa característica que a remuneração dos agricultores eleva o valor

em cerca de 40% por se tratar de uma atividade estritamente manual e com isso a produtividade

é bem menor que a cultura do algodão convencional. A participação das mulheres e de toda a

família garatem a produção e a cultura do algodão orgânico colorido no estado da Paraíba.

Para Rodrigues e Tenan (1990, p. 15):

[...] as exigências industriais em torno das propriedades

físicas da fibra do algodão tornaram-se cada vez mais

intensas, em decorrência dos avanços radicais e

incrementais que têm ocorrido nas tecnologias de

fabricação têxtil.

Tais avanços estão resultando em sucessivos aumentos

das velocidades nominais das máquinas e na introdução

de soluções inovadoras para produzir

fios e tecidos. Nestas circunstâncias, o rendimento do

processo de transformação industrial, bem como as

características dos produtos fabricados, depende muito

de atributos de qualidade da fibra, em função da demanda

tecnológica da indústria têxtil.

A qualidade da produção do algodão orgânico colorido é prioridade para os agricultores

organizados em cooperativas e associações que se utilizam de prensas manuais ou hidráulicas

para a realização de tarefas, visando assim a maior produtividade e a minimização das perdas.

Com a utilização das maquinas, mini-indústrias ou ainda mini usinas, com já são conhecidas,

são compostas por uma máquina de descaroçamento e uma prensa hidráulica para o

enfardamento da fibra. Com esses equipamentos cada mini usina tem a capacidade de

descaroçar até 360kg de algodão em caroço por hora de trabalho. Hoje a cadeia do algodão

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orgânico colorido possui duas maquinas que estão no assentamento da agricultura familiar no

município de Juarez Távora, esse equipamento foi adquirido com o financiamento dos órgãos

do Governo Federal. A produção colhida nos assentamentos, por esse trabalho pesquisado

fazem o descaroçamento em um só local. Neste sentido e ainda com base em Berzagui (1965):

[...] o trabalho é feito em três fases. Na fase preparatória

ocorre o recebimento, classificação e armazenamento

temporário da matéria-prima. O produto é armazenado

em tulhas, ligadas à sala das máquinas por meio de tubos

que sugam o algodão em caroço, conduzindo-o para as

máquinas descaroçadoras. A fase principal consiste da

limpeza e do descaroçamento, que é a separação das

fibras e dos caroços. Finalmente, procede-se ao

armazenamento dos caroços em depósitos ou silos, além

da prensagem e do enfardamento das fibras, para serem

processados pelas indústrias de óleo e de fiação,

respectivamente.

O BNB, o BB eo BNDS, são responsáveis pelo financiamento das mini-usina

possibilitando aos agricultores beneficiar a sua produção evitando assim o exercício dos

atravessadores. E garantindo rentabilidade para as famílias.

2.2.3 As etapas de transformação do algodão

O processo de transformação do algodão orgânico colorido passa por etapas importantes

na indústria têxtil, desde a fiação através de teares manuais até o produto final, esse processo

deverá seguir um ciclo importante para que o algodão mantenha a originalidade de produto

ecológico.

Fiação: é na indústria têxtil que os fados de algodão passam pelo processo de

transformação em fios, essa fiação do algodão orgânico colorido é desenvolvida no título 8,12

e 30. Nessa etapa do processo a terceirização é necessária e a mesma caracteriza com o aumento

dos custos, da logística e a mão-de-obra para o produto final. Segundo Hurst e Sarno (1994),96):

[...] a fiação química compreende os processos de

extrusão e de solidificação. A extrusão corresponde à

passagem da matéria-prima por uma fieira, para originar

os filamentos, que são então solidificados. As

fibrasnaturais, a do algodão em particular, são penteadas

numa mesma direção (paralelização) e torcidas de modo

a se prenderem umas às outras, por atrito. O resultado é a

fabricação de fios contínuos, de diâmetro pré-

determinado. Na fiação mista, por sua vez, a elaboração

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dos fios é feita a partir de várias combinações entre fibras

naturais e químicas que, dependendo da combinação, irão

originar fios com maior ou menor espessura, resistência,

ou condutividade térmica.

FIGURA 9- PROCESSO DE FIAÇÃO DO ALGODÃO ORGANICO COLORIDO

Fonte:https://www.google.com.br/search?q=fiação+do+algodão+colorido&es_sm=93&source=lnms

&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAWoVChMI9fKs5sDoxgIVwSUeCh0GBwKp&biw

O processo de transformação da matéria-prima para produtos acabados acontece em

empresas privadas, cooperativas e associações que nesse caso específico eleva o custo do

produto final, é levado em conta ao mão-de-obra especializada, transporte e armazenamento.

Nem todas as empresas de fiação aceitam esse tipo de cultivar, após cada processo de fiação é

necessário fazer uma rigorosa limpeza evitar a mistura dos resíduos do algodão orgânico

colorido com o algodão branco e outras fibras que passam nas maquinas no processo de fiação.

Tecelagem: o processo de transformação de fios em tecido.

De acordo com Hurst e Sarno (1994) define a tecelagem:

Consiste do entrelaçamento dos fios para sua

transformação em tecidos, que podem ser obtidos a partir

de fios naturais, artificiais, sintéticos ou mistos, ou ainda

de uma composição entre eles. O processo de tecelagem

varia conforme o tipo de tecido a ser produzido. Os

tecidos planos são feitos a partir de teares planos,

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enquanto os tecidos de malha são fabricados em teares

circulares.

Na Paraíba no caso específico do algodão orgânico colorido a tecelagem tem sido feita

através de teares manuais, em pequenas empresas do estado as quais transformam os fios de

algodão em vários tipos de tecidos que são as tecelagens planas e a malhar. No caso da

tecelagem plana dá a origem ao tecido chamado Brim que é utilizado na fabricação de calças e

bermudas, o Linhão também na produção de bermudas e a Tricoline que é geralmente utilizada

para a fabricação de camisas masculinas; já a malharia é composta por Piquet, Moleton,

Canelado, Ribana e meia Malha, os quais são utilizados na fabricação de todo tipo de peças

para vestuário masculino, feminino e infantil, assim como para as peças de cama e mesa,

artesanatos, brinquedos e acessórios. O artesanato e os acessórios são fabricados dos resíduos

sólidos que derivam do desperdício dos cortes de tecidos, ou seja, o algodão orgânico colorido

não gera lixo, tudo é aproveitado no processo produtivo.

2.2.4 Os principais agentes participantes da cadeia produtiva do algodão orgânico na paraíba

Os agentes que estão hoje envolvidos na cadeia produtiva do algodão orgânico colorido

são responsáveis pela mobilização e desenvolvimentos no processo de produtivo, organizando

e interagindo para o desenvolvimento econômico capacitando e transformando a vida do

agricultor.

“Ao falar de agentes, fala-se de indivíduos com idéias,

ambições, objetivos, capacidades para mobilizar ou criar

recursos, independentemente que isso seja em benefício

próprio ou com objetivos públicos”. Dall‟Acqua (2003,

p. 109)

Nesse sentido, faz necessária uma segmentação, ou seja, um recorte do objeto de estudo

e os agentes envolvidos na cadeia produtiva são: federações, associações e sindicatos, ONGs,

cooperativas, empresas privadas.

Podendo destacar as cooperativas por sua capacidade na articulação dos agentes no

cultivo do algodão nos mais variados processos produtivos, construindo novos relacionamentos

na geração de renda e na movimentação da economia local.

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A análise da cadeia produtiva proporcionou uma imersão no objeto principal da

pesquisa, observando os processos administrativos, mercadológicos e ações estratégicas da

cooperativa COOPNATURAL, podendo comparar com as atividades e funções de empresas

privadas do mercado nacional. As cooperativas têm características próprias com incentivos

fiscais e outros benefícios que podem ser considerados como vantagem competitiva no

mercado, reduzindo os custos na produção e adotando uma pratica de política de preços

coerente dentro do fair trade (comércio justo), no qual a mão-de-obra tem valorização e acordo

comerciais fechados em comum acordo, com a negociação ganha-ganha, sendo resultados

positivos para ambos.

A COOPNATURAL tem uma influência das mais diversas formas na cadeia produtiva

do algodão orgânico colorido como o fornecimento da matéria-prima, assim como nos

treinamentos e aperfeiçoamentos das técnicas, a elaboração de custos e o aumento da

produtividade dos artesões. A produtividade merece uma observação mais detalhada por

possibilitar uma relação e um diálogo direto com a produção artesanal e as técnicas

mercadológicas, sendo considerado um contrassenso a implantação de subsídios

mercadológicos em prol da máxima valorização da arte popular, o entender e o saber fazer da

arte e se confunde com a necessidade de uma alta produção para obter um lucro razoável para

o desenvolvimento econômico. A COOPNATURAL é pioneira, tem capacidade de articulação

e de grande projeção no mercado nacional e internacional, com influencias no desenvolvimento

da cadeia produtiva como um todo.

A COOPNATURAL – cooperativa de produção têxtil que está localizada em localizada

em Campina Grande –PB – que atua diretamente nos processos produtivos da cadeia do algodão

orgânico colorido, através da assistência técnica aos agricultores e na logística e divulgação dos

produtos. A cooperativa foi fundada em 2003, antes desta data, mais precisamente em 2000,

pequeno grupo com 12 empresários se uniu e criou a associação Consórcio Natural Fashion,

com o principal foco de atuar no mercado internacional com as exportações dos produtos

fabricados com o algodão orgânico colorido. A partir daí houve o início de uma nova etapa na

produção do Estado da Paraíba nos assentamentos e com grande esforço houve a abertura de

novos mercados através do desenvolvimento de novas parcerias.

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FIGURA 10 - COOPNATURAL

Fonte:https://www.google.com.br/search?q=coopnatural+campina+grande&es_sm=93&biw=1440&b

ih=799&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0CAcQ_AUoAmoVChMIk8vpxsHoxgI

Através da criação do consórcio houve um apoio da APEX-BRASIL, do SEBRAE e da

FIEP. Todos os produtos fabricados com a matéria-prima do algodão orgânico colorido ganham

notoriedade e se posicionam como produtos ecologicamente corretos, valorizando o

conhecimento do fazer dos agricultores e também a capacidade técnica na sua produção no

Estado da Paraíba.

Hoje a COOPNATURAL é composta por 25 cooperados e conta com mais de 900

pessoas envolvidas de forma direta e indiretamente. As atividades desta cooperativa são

norteadas através da sua missão objetivo “participar do mercado têxtil mundial, atendendo às

necessidades do consumidor de produtos orgânicos e ecossociais, oferecendo artigos que

respeitem ao meio ambiente e as pessoas”. A visão de futuro é de “fortalecer a cadeia têxtil do

algodão colorido, comercializando produtos ecologicamente e socialmente corretos através da

valorização da agricultura familiar e do artesanato local”. Os valores difundidos na cooperativa

merecem o destaque no apoio a agricultura familiar, valorização da arte popular e da cultura

nordestina, a utilização das técnicas artesanais, a total utilização dos resíduos sólidos,

certificação e o comercio justo.

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A marca Natural Fashion, hoje, tem grande aceitação no mercado nacional; sua

produção que são comercializadas no território nacional, como no exterior, conta mais de cem

pontos de venda no Brasil e mais de dez países que cultivam relações comerciais com a

COOPNTAURAL. Todos os produtos fabricados seguem a classificação padrão de confecção

como: vestuário masculino, feminino, infantil, decoração, assessórios, bichinho e brinquedos,

decoração e redes. Todos os anos, são lançadas coleções, com tendências do mercado mundial,

porém a cultural regional nordestina sempre é mantida, com a presença de artesanato em quase

todas as peças e assim garanti a sustentabilidade da cadeia produtiva.

Com o olhar de que cada ser humano é capaz de fazer a sua parte e ajudar a minimizar

os impactos ambientais, o consumo é motivado para a compra de produtos ecologicamente

corretos, e é nesse sentido que a cadeia produtiva do algodão organicamente colorido tem os

subsídios para desenvolver as mais diversas ações sustentáveis, começando pela valorização

dos processos a agricultura familiar, no caso especifico da COOPNATURAL e os diversos

agentes que desenvolvem atividades que vão desde o apoio e fomento a família do agricultor

nos assentamentos que trabalham com o plantio, a colheta e o beneficiamento do algodão

orgânico colorido.

2.2.5 Planejamento estratégico da COOPNATURAL

A COOPNATURAL tem um planejamento estratégico ligados a ações nos projetos para

fomento da cadeia, podendo citar o PDA, que foi criado pelo CNI e na gestão operacional da

FIEP, que é executado em ações através do SINDVEST e do SINDITÊXTIL. Essas ações são

desenvolvidas são de suporte que a cadeia necessita para que mantenha a sustentação dos

agentes e essas ações são com base em Michael Porter (1999, p. 85) esse suporte é uma atividade

de apoio “que sustentam as atividades primárias, fornecendo recursos para que estas cumpram

seu papel (infraestrutura, gerenciamento de recursos humanos, desenvolvimento de tecnologia

e aquisição) ”.

Para que as associações, os sindicatos e a federação são necessárias as atividades de

apoio e sustentação para o bom funcionamento da cadeia, é através dessas ações estratégicas a

garantia de realização dos planejamentos e conquistas de objetivos de crescimento.

Para a realização de algumas das atividades que são realizadas corriqueiramente pelos

agentes de maneira elaborada podem-se elencar: o fornecimento de sementes próprias para o

cultivo agroecológico, assistência técnica aos agricultores, a comercialização de produtos

acabados, e o armazenamento da colheita, logística e a articulação comercial.

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As entidades que foram citadas têm destaque através da capacidade de articular e

também de fomento para o desenvolvimento da cadeia produtiva do algodão orgânico colorido,

nesse sentido, a FIEP tem a missão corporativa: “Defender e representar a indústria paraibana

na promoção de um ambiente favorável aos negócios, à competitividade e ao desenvolvimento

sustentável”.

Existem outras entidades no âmbito mercadológico com destaque na capacidade nas

atuações nacionais e internacionais, podendo citar a ABIT, que de acordo com o estatuto tem a

missão de apoiar o desenvolvimento sustentável das empresas no setor, busca defender os

interesses junto aos órgãos do governo e as entidades nacionais e internacionais. Na ABIT as

atividades estão voltadas ao apoio e a assistência ás industrias associadas, mantendo o foco no

setor têxtil brasileiro para se tornar no Brasil referência em tecnologia e inovação. Nessa área

o TEXBRASIL e a APEX BRASIL se destacam, sendo o primeiro no programa de importação

da indústria da moda e a segunda em um órgão ligado a ABIT com a principal finalidade de

promover exportação de produtos e de serviços brasileiros, com apoiando a internacionalização

de empresas estrangeiras para atrair investimentos estrangeiros para o Brasil.

Esses agentes possibilitam uma maior compreensão da cadeia produtiva do algodão

ecológico colorido através do planejamento estratégico, dessa forma identifica novas

oportunidades e ameaças que existem em vários cenários de atuação. Com relação ao algodão

orgânico colorido são desenvolvidas ações de fomento e incentivo à cadeia, através de alocação

de recursos financeiros através do PROCOMPI, facilitando o apoio em suas atividades nos mais

variados processos produtivos. Em busca de um desenvolvimento como um todo é importante

o conhecimento e a observação dos agentes participantes que aqui foram citados, as

articulações, as ações estratégicas, os programas e os planejamentos voltados para o processo

produtivo, também existem as ações onde diversas federações, associações e sindicatos possam

ter uma interação, promovendo subsídios importantes para a evolução e o aprimoramento da

cadeia produtiva do algodão orgânico colorido.

2.2.6 Comercialização da produção do algodão orgânico colorido

A produção têxtil do algodão orgânico é comercializada de diversas maneiras, sendo

através de diversos pontos de vendas no país, lojas, feiras de artesanato e exposições, e-

commerce e em exportação para diversos países da Europa.

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[...] rede de empresas corresponde a um novo sistema

produtivo dependente da combinação de alianças

estratégicas e projetos de cooperação ad hoc entre

empresas, unidades descentralizadas de cada empresa de

grande porte e 46 redes de pequenas e médias empresas

que se conectam entre si e/ou com grandes empresas ou

redes empresariais. (Manuel Castells,1999)

Os produtos produzidos proveniente da matéria-prima do algodão orgânico colorido são

comercializados em diversos estados do Brasil, e também em alguns países europeus, são lojas

de pronta entrega, também representantes comerciais e pontos de vendas estratégicos no

comercio exterior e esses produtos chegam até o consumidor final com apelo ecológico através

de utilização de técnica e ferramentas do marketing através de um bom planejamento para

ganhar os adeptos ao consumo ecológico ou consumo consciente que está em expansão no país

e no mundo como um todo. Um ponto interessante de intercessão está concentrado na ponta da

cadeia produtiva do algodão orgânico colorido que são os novos e velhos parceiros se cruzam

na busca de consolidação e na busca de alavancar mais e mais as vendas, são eles: SEBRAE,

ONGs, APEX, FIEP, COOPERATIVAS E ASSOCIAÇÔES.

SEBRAE – Com programas de direcionados a cadeia produtiva e com ações direcionadas a

participação de eventos e feiras de artesanato:

ONGs – comercialização e compra dos produtos com o selo orgânico, fechando parceiros e

consolidando a marca do algodão orgânico colorido no mercado nacional;

APEX – Apoio do governo para a exportação dos produtos e também garante toda a logística

para a participação em eventos nacionais e internacionais;

FIEP – Divulgando os produtos em feiras importantes nacionais e internacionais e também

apoiando na logística;

COOPERATIVAS E ASSOCIAÇÕES – Na área mercadológica busca o desenvolvimento de

marcas próprias que são criadas e fazendo cada uma buscar a sua identificação e o seu

diferencial no mercado, trabalha com pedidos em pronta entrega até o sistema de franquia.

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2.2.7 A festa da colheita do algodão orgânico colorido em Remígio

O município de Remígio, que está localizado no Brejo paraibano realiza a cada dois

anos a Festa da Colheita do Algodão Orgânico Colorido, a realização da primeira festa foi no

ano de 2008, este evento tem como finalidade o resgate dos valores da cultura familiar e a troca

das informações e as principais experiências dos agricultores, esses agentes da cadeia produtiva

do algodão orgânico e a comunidade em geral, visando principalmente a valorização e o

fortalecimento de uma identidade cultural no território agroecológico da Borborema. Através

desse evento acontece uma grande e significativa articulação entre os agentes e parceiros

podendo destacar: EMBRAPA; SEBRAE; BNB; BB; MDA; MAPA; COOPNATURAL;

ARRIBAÇA; AS-PTA; EMATER; PBTUR; Polo Sindical da Borborema; Rede Paraibana de

Algodão Agroecológico; Prefeitura Municipal de Remígio e o Governo da Paraíba. Para a festa

é montada um ambiente com stands nas quais são representados todos os produtos, são

divulgadas as ações e esclarecimentos gerais ao público.

O evento tem duração de quatro dias e nesse período são realizadas várias atividades

como, por exemplo: rodada de negócios, apresentação teatral, dança, música, apresentações de

artistas da terra, desfile de moda com roupas e acessórios produzidos com o algodão orgânico

colorido, minicursos e paralelo ao evento seminários com abordagem de temas importantes para

o agricultor como o manejo de pragas no cultivo do algodão orgânico colorido, a certificação

ambiental e a sua importância. Um momento especial e que se torna um grande diferencial é o

desfile de moda realizado com manequins profissionais e com a participação das agricultoras,

elas trabalham diretamente com a matéria-prima, desde a plantação, a colheita e na produção

do artesanato inserido nas roupas, valorizando o seu trabalho e a sua cultura.

De acordo com a agricultora Samara Aguiar, “a festa da colheita significa para os

agricultores um momento especial e de reconhecimento do seu trabalho, significa um momento

não só de lazer, mas também de articulação entre parceiros. ” Toda a região participa da festa

que é realizada a cada dois anos e o agricultor se sentem valorizado com o plantio do algodão

ecológico, ou seja, ele tem consciência da importância para o meio ambiente do plantio sem

agrotóxicos.

O público que participa do evento são os moradores de região, e os técnicos da área, os

professores, estudantes, os agricultores, empresários e artistas, do ramo têxtil e os profissionais

que são ligados a agricultura e ao desenvolvimento sustentável.

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2.2.8 O artesanato com o algodão orgânico e a cultura nordestina

O artesanato é o produto final da cadeia do algodão orgânico colorido no Estado da

Paraíba tornou-se uma característica peculiar. A produção é realizada com a inserção manual

do artesanato e tem se destacado no cenário nacional, já que a região é um grande celeiro de

artesões com as mais lindas e variáveis técnicas utilizadas que garantem o resgate cultural

nordestina, complementando também o aumento da renda familiar nos grupos, cooperativas e

associações da região. Entre as técnicas desenvolvidas pode-se encontrar: O Crochê, Labirinto,

Fuxico, Renascença, Macramê e os Bordados. As principais regiões que se destacam na Paraíba

no artesanato são as cidades: de Zabelê, São Sebastião do Umbuzeiro São João do Tigre na

produção de renascença, no polo da Borborema são produzidas peças em fuxico, bordados,

labirinto e crochê, nas cidades de Alagoa Nova e Campina Grande, o macramê e bordado são

específicos do Curimatú paraibano na cidade de Picuí.

Podendo destacar na cadeia pela capacidade de articulação a FIEP, o Sebrae, as Cooperativas e

as Associações, as empresas privadas.

A FIEP- Mantem parceria com o Sebrae e financia as associações e cooperativas para

participação em eventos e feiras nacionais e internacionais;

O SEBRAE – Criou um cadastro de artesões para prestar as consultorias e cursos para

a capacitação; desenvolve também projetos focados ao artesanato paraibano; incentiva

a participação dos artesões em férias nacionais e internacionais.

As Cooperativas e Associações – Voltados ao fornecimento de matéria-prima na

produção do artesanato; com capacitação e aperfeiçoamentos através de treinamentos

de técnicas ligadas a noções de custo, produtividade; as participações em feiras

conduzindo os artesões ou os produtos para a comercialização ou exposição;

Desenvolvimentos de produtos novos no mercado.

As Empresas privadas – Com a comercialização direta para o mercado.

2.2.9 Produto final

No mercado mundial os produtos ecologicamente corretos têm uma aceitação especial,

o consumidor deseja adquirir um produto no qual ele tenha a certeza de que a cadeia produtiva

seja realizada de forma plena que não agrida o meio ambiente, que seja um produto eco social,

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orgânico e no caso do algodão orgânico colorido da paraíba a valorização da arte popular, uma

releitura da cultura nordestina com um vínculo as tendências do momento.

O produto tem aspectos importantes como: pesquisa interna, adequação do produto de

acordo com a necessidade de cada região, com o clima, busca um feedback dos consumidores.

A modelagem e pilotagem tem a parte técnica buscando valorizar os detalhes através de peças

únicas com os trabalhos artesanais. Os acessórios têm uma produção diferenciada e busca

atender aos mais diversos público e a cada dia fica mais exigente no mundo inteiro.

De acordo com a diretora-presidente da COOPNATURAL, Maysa Gadelha:

Os produtos de decoração, redes, jogos americanos,

mantas e cortinas, a gente faz as decorações de hotéis,

hotéis naturais, hotéis orgânicos, tanto no Brasil, quanto

em outras partes do mundo. Os brinquedos, isso aí a gente

faz muita questão de ter sempre agregado ao quem tem

no Nordeste. Então aí tem um cabrito, macaquinho,

tartaruga. A gente trabalha com os burricos, com o tatu

peba, com cobra. Nunca trabalhamos com ursos,

moranguinho, nada que não tenha no Nordeste. Tudo

nosso, a gente leva a cultura nordestina junto.

O produto final deverá atender o consumidor que tem um olhar voltado a produtos

ecologicamente corretos que tenham certificações ambientais, levando em consideração que os

produtos de COOPNATURAL estão diretamente ligados a cultura nordestina.

FIGURA 11 ROUPAS CONFECCIONADAS COM ALGODÃO ORGÂNICO COLORIDO.

Fonte: Google. 2015

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FIGURA 12 BONECAS CONFECCIONADAS COM RESÍDUOS DE MALHA E ENCHIMENTO

EM FIBRA SILICONADA ANTIALÉRGICA.

Fonte: revistapegn.globo.com

Não basta ser produzido de forma ecologicamente correta, é necessário ter uma atenção

especial na tecelagem e que dispense qualquer tipo de agentes químicos no processo de

fabricação e que substitua a graxa de parafina usada nos teares por cera de abelha. Atualmente

as grandes indústrias de moda já aderiram a tendência sustentável por considerar uma

perspectiva de mercado.

2.3 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

A responsabilidade socioambiental tem a finalidade de orientar e alertar a sociedade e a

indústria para encontrar soluções que minimizem os impactos negativos e a conservação dos

recursos, além de procurar a preservação do ecossistema Segundo Gro-Brundtland (1990)

presidente da comissão mundial do meio ambiente, o desenvolvimento sustentável consiste em

satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das futuras gerações de

satisfazer as suas próprias necessidades.

Com o surgimento e aprofundamento das discussões relativas ao desenvolvimento

sustentável tornou-se importante a formação de uma visão ambiental mais aguçada no que tange

ao encontro de soluções para preservação através de mecanismos de produção que respeitem o

ambiente.

Neste sentido, aparecem os “Gestores Ambientais”, profissionais que buscam ordenar

atividades que causem o menor impacto possível sobre o meio ambiente a partir da escolha das

técnicas de produção eficientes e limpas, e também fazendo-se cumprir os regimentos dispostos

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na legislação, além da correta alocação de recursos humanos e financeiros por parte das

empresas.

Essa nova visão sobre a responsabilidade socioambiental e o próprio desenvolvimento

sustentável, envolve o futuro dos recursos naturais que poderão ser entendidos e mais

respeitados ocasionando uma visão diferente para todas as nações, ou seja, ter uma perspectiva

de futuro mais positiva. O item que deve ficar bem claro é que “gerir” ou “gerenciar” significa

saber utilizar todas as ferramentas existentes e disponíveis e não só desenvolver técnicas ou

pesquisas ambientais, sem uma tomada de decisões específicas para a solução dos problemas

então identificados.

2.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

No ano de 1983, foi criada pela ONU a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento como um organismo independente. Em 1987, uma comissão sobre a

presidência de Gro Harlem Brundtland primeira-ministra da Noruega, cria um dos mais

importantes documentos do nosso tempo – o relatório Nosso Futuro Comum, responsável pelas

primeiras conceituações oficiais, formais e sistematizadas sobre o desenvolvimento sustentável

– ideia principal do relatório. O relatório é “aquele que atende às necessidades do presente sem

comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”.

Nele contém dois conceitos-chave: a “necessidade, essenciais dos pobres no mundo, que

devem ser prioridade; e “a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização

social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras”.

Na cidade do Rio de Janeiro houve a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente e Desenvolvimento, e foi reconhecida a importância de assumir a nova ideia de

sustentabilidade em qualquer programa ou atividade relacionada a desenvolvimento. E as

empresas nesse aspecto passaram a ter um papel importante relevante. A pratica empresarial

sustentável passou a provocar mudanças de valores e de orientação em seus sistemas

operacionais, se engajando à ideia de desenvolvimentos sustentável e de preservação do meio

ambiente.

Com o novo paradigma, Almeida (2002), afirma que a principal ideia é de interação e

de integração, propondo novas maneiras de transformar o mundo, com um forte diálogo entre

os saberes e os conhecimentos diversos. No mundo sustentável, a atividade – a econômica, por

exemplo – não pode ser pensada ou praticada em separado, porque tudo estará sempre inter-

relacionado, em permanente diálogo.

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No quadro abaixo ficam clara as diferenças entre o velho e o novo paradigmas:

QUADRO 1 PARADIGMA CARTESIANO VERSUS PARADIGMA DA SUSTENTABILIDADE

Cartesiano Sustentável

Reducionista, mecanicista, tecnocêntrico Orgânico, holístico, participativo.

Fatos e valores não relacionados Fatos e valores fortemente relacionados

Preceitos éticos desconectados das práticas cotidianas Ética integrada ao cotidiano

Separação entre o objetivo e o subjetivo Interação entre o objetivo e o subjetivo

Seres humanos e ecossistemas separados, em uma relação

de dominação.

Seres humanos inseparáveis dos ecossistemas, em uma

relação de sinergia.

Conhecimento compartimentado e empírico Conhecimento indivisível, empírico e intuitivo.

Relação linear de causa e efeito Relação não’ linear de causa e efeito

Natureza entendida como descontínua, o todo formado

pela soma das partes.

Natureza entendida como um conjunto de sistemas inter-

relacionados, o todo maior que a soma das partes.

Bem-estar avaliado por relação de poder (dinheiro,

influência, recursos)

Bem-estar avaliado pela qualidade das inter-relações entre

os sistemas ambientais e sociais

Ênfase na quantidade (renda per capita) Ênfase na qualidade (qualidade de vida)

Análise Síntese

Centralização de poder Descentralização de poder

Especialização Transdisciplinaridade

Ênfase na competição Ênfase na cooperação

Pouco ou nenhum limite tecnológico Limite tecnológico definido pela sustentabilidade

Fonte: Almeida (2002).

Percebe-se que os conceitos de Desenvolvimento Sustentável mostram viabilidade de

seus recursos, o objetivo principal de uma agricultura sustentável é o desenvolvimento de

sistemas que sejam produtivos e que conservem os recursos naturais, protegendo também o

ambiente e melhorando as condições de saúde e segurança ao longo do tempo. Esse

desenvolvimento mobiliza as pessoas e instituições na busca de transformações na economia e

na sociedade local, gerando oportunidades de trabalho, de renda, com superação das

dificuldades e oferecendo condições de uma vida melhor para a população local. São as

lideranças, instituições, empresas e habitantes de um lugar que articulam a busca por atividades

que favoreçam mudanças nas condições de produção e comercialização de bens e serviços na

busca de proporcionar melhores condições de vida aos cidadãos e cidadãs, partindo do princípio

da valorização das potencialidades dos recursos naturais da região.

O Desenvolvimento Local pode ser entendido, pois, “como um plano da ação

coordenado, descentralizado e focalizado, destinado a ativar e melhorar- de maneira sustentável

– as condições de vida dos habitantes de uma localidade, e no qual o desenvolvimento estimula

a ampla participação de todos os atores relevantes” (COELHO, 1996:11).

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O desenvolvimento sustentável está diretamente envolvido ao desenvolvimento

econômico, social e respeito principalmente ao equilíbrio e às limitações dos recursos naturais.

Segundo Barbieri, 1997, a sustentabilidade, ou seja, a qualidade daquilo que é sustentável, passa

a incorporar o significado de manutenção e conservação dos recursos naturais. Isso exige

avanços científicos e tecnológicos que ampliam permanentemente a capacidade de utilizar,

recuperar e conservar esses recursos, bem como novos conceitos de necessidades humanas para

avaliar as pressões da sociedade sobre eles (BARBIERE, 1997). De forma, a sustentabilidade

está visivelmente vinculada à capacidade de conservação dos recursos naturais, na redução dos

insumos industriais e na sua aplicação de forma eficiente.

De acordo com Castro (1996), o novo paradigma que ficou conhecido como

desenvolvimento sustentável surge através de esforço de conceptualização do conceito de

desenvolvimento, abalado pela crise social e ambiental no mundo.

Observando a teoria do desenvolvimento sustentável, ou eco desenvolvimento, parte-se

do ponto em que a maioria das teorias buscava desvendar os mistérios sociais e econômicos das

últimas décadas, porém não conseguiram sucesso, com o modelo de industrialização tardia ou

modernização, que ocupou a cerne de diversas teorias dos anos 60 e 70, é fica claro que foi

capaz de modernizar alguns setores da economia, mas incapaz oferecer ao mundo um

desenvolvimento equilibrado para a sociedade. De acordo com Brüseke (2003), a modernização

não acompanhou a intervenção do Estado racional e das correções partindo da sociedade civil,

desestrutura a composição social e a economia territorial, e seu contexto ecológico. Daí surge

a necessidade de uma perspectiva multidimensional. Que envolve economia, ecologia e política

todos ao mesmo tempo, da mesma forma como busca fazer a teoria do desenvolvimento

sustentável.

Segundo Cavalcanti (2003), a sustentabilidade significa a possibilidade de se obter

continuamente condições iguais ou superiores de vida para grupos de pessoas e seus sucessores

em um dado ecossistema. Esse conceito equivale à ideia de manutenção de nosso sistema de

suporte de vida, trata-se do reconhecimento do que é biofisicamente possível em uma

perspectiva de longo prazo. Para o autor, o desenvolvimento que o mundo experimentou nos

últimos séculos, especialmente pós Segunda Guerra Mundial é considerado insustentável, pois

não representa uma opção aberta, com possibilidades amplas para o mundo. A aceitação do

desenvolvimento sustentável indica que fixou voluntariamente limite para o progresso material,

a defesa da ideia do crescimento constante não passa de uma filosofia do impossível. Entretanto,

seguir e adotar a noção de desenvolvimento sustentável corresponde a seguir uma prescrição

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de política. A ciência deve explicar como, de que forma, ela poderá ser alcançada, quais são os

caminhos para a sustentabilidade.

De acordo com Bezerra e Burszyn (2000), a sustentabilidade surge da crise de

esgotamento das concepções de desenvolvimento, enquadrada na lógica da racionalidade

econômica liberal. A racionalidade associada ao movimento incessante para frente da razão, da

técnica, da indústria, da ciência e do consumo, na qual o desenvolvimento expulgou de si tudo

o que o contraria, excluindo de si as regressões que negam as consequências positivas do

desenvolvimento.

No ano de 1992, no Rio de janeiro se reuniram 172 governos para a Conferência das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (CNUMAD), evento singular que ficou conhecido como

a Conferência da terra, tornou-se um marco histórico para a humanidade. A Conferência buscou

alcançar um equilíbrio justo entre as necessidades econômicas, sociais e ambientais para a

geração presente e futuras, buscou-se firmar base para uma associação mundial entre os países

desenvolvidos e em desenvolvimento, também entre governos e os setores da sociedade civil,

buscando uma compreensão das necessidades e os interesses comuns.

Na Conferência, estavam presentes os representantes dos Governos, incluindo 108

chefes de estado e de Governo, na qual aprovaram três acordos que deveriam erigir a Agenda

21, a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no qual ficaram definido

os direitos e as obrigações dos estados sobre princípios básicos do meio ambiente e

desenvolvimento. Um fato importante é lembrar que não foi somente de Chefes de Estado e

Governantes que se constituiu a Rio-92, a participação da sociedade civil, de organizações não-

governamentais de centenas de países fez do Rio a verdadeira “Babilônia”, e graças a eles a

conferencia oficial continuou vivo, passando por reavaliações, comissões internacionais, foi

ratificada pela Unesco, e finalmente pela ONU em 2002: A Carta da Terra, documento de

importância singular, equivalente à Declaração Universal do Direitos Humanos para a área de

Meio Ambiente, cujo o preâmbulo traz os seguintes dizeres:

Estamos diante de um momento crítico na história da

terra, numa época em que a humanidade deve escolher o

seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais

interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo

tempo, grandes perigos e grandes promessas, Para seguir

adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma

magnifica diversidade de culturas e formas da vida,

somos uma família humana e uma sociedade sustentável

global baseada no respeito pela natureza, no direitos

humanos universais, na justiça econômica e numa cultura

da paz. Para chegar a esta proposito, é imperativo que

nós, os povos da terra, declaremos nossa

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responsabilidade uns para com os outros, com a grande

comunidade e numa cultura da paz. Para chegar a esse

proposito, é imperativo para nos, com a grande

comunidade da via, e com as futuras gerações. ( A Carta

da terra, 2004).

A comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (CDS), dez anos

depois organizou a Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável em

Johannesburgo, África do Sul. A conferência reuniu chefes de estado e de Governo,

organizações- não-governamentais e empresários, para revisar e avaliar o progresso do que foi

estabelecido na Agenda 21, um plano de ação mundial para o desenvolvimento sustentável em

escala local, internacional e regional. O objetivo da Conferência foi revigorar o compromisso

mundial com desenvolvimento sustentável e cooperação Norte-Sul, e elevar a solidariedade

internacional para a excursão da Agenda 21.

De acordo com Camargo et.al (2004), muito se avançou apesar das frustações e o maior

ganho dos últimos dez anos foi o reconhecimento de que a solução para problemas ambientais

está na noção de “desenvolvimento sustentável, da forma como havia proposto o relatório

Brundtland em 1087, sacramentado pelas Nações Unidas em 1992.

2.4.1 Eliminação ou minimização dos impactos ambientais

Um aspecto que causa uma grande preocupação na indústria mundial é minimizar ou

eliminar os impactos que podem causar danos sociais e ambientais. Por esse motivo,

inicialmente é necessário identificar quais são os impactos potenciais, através de uma

observação do ciclo de vida do produto ou projeto, passando pela aquisição das matérias-

primas, a produção, o transporte utilizado e o uso desse produto.

Com relação aos impactos ambientais, são considerados o uso incorreto dos recursos

naturais e as agressões ao meio ambiente, o ruído e o desequilíbrio que é causado ao

ecossistema. Dessa forma, pode-se observar os impactos sociais que tem atingido a saúde

humana e a qualidade de vida.

Metodologia como FMEA, HAZOP e outras, que são voltadas para avaliação dos riscos

tem grande valia no processo de busca pela minimização de impactos. No processo de

eliminação dos impactos ambientais, a FNQ (2003) exemplifica através observação da

aplicação prática realizada na Dana Albarus, empresa de tecnologias para transmissão, chassis,

estruturas e motor, que criam e fabricam produtos para todas as grandes montadoras de veículos

e motor no mundo, através da Divisão de Cardans, utiliza a Planilha de Identificação de

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Aspectos e Impactos Ambientais. Estas planilhas visam identificar aspectos como resíduos

sólidos, líquidos e emissões gasosas, avaliando os impactos potenciais associados a cada um

destes quanto à sua severidade, abrangência, frequência com que o aspecto ambiental é gerado

e avaliação dos controles operacionais existentes.

Explica ainda que a magnitude do impacto é avaliada por meio da pontuação dos

critérios acima descritos (severidade de escala, frequência e controle e abrangência). De acordo

com a magnitude, os aspectos são tratados e ações são priorizadas por meio da definição de

objetivos e metas ambientais junto à Alta Administração.

Para a FNQ (2003) todos os aspectos significativos recebem tratamento especial por

meio de um processo de treinamento e conscientização ambiental específico para todas as

pessoas que realizam tais tarefas e do estabelecimento de controles operacionais, como

instruções de trabalhos, pisos impermeáveis, tratamento dos resíduos gerados (incluindo

reciclagem), tratamento de efluentes, co-processamento e sistemas de exaustão com filtro,

dentro da tática de integração de sistemas; realiza-se uma avaliação dos perigos e riscos

relacionados à saúde e segurança por meio da elaboração de FMEAs de segurança. Da mesma

forma, todas as atividades são avaliadas por meio de planilhas de perigos e riscos,

estabelecendo-se controles operacionais e melhorando os processos para minimizar riscos.

A avaliação orienta a organização no estabelecimento de metas e métodos para

tratamento dos impactos sociais e ambientais. Após terem sido estabelecidos essas metas

voltadas à eliminação ou minimização dos impactos, a organização implementa práticas de

gestão compatíveis, buscando formas positivas de utilização de recursos.

2.4.2 Sistema de Gestão Ambiental – SGA

A sustentabilidade ambiental aparece como uma necessidade de restabelecer o lugar da

natureza na teoria econômica e nas práticas do desenvolvimento, internalizando condições

ecológicas da produção que assegurem a sobrevivência e um futuro para a humanidade (LEFF,

2011).

O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) foi desenvolvido com o objetivo de alcançar

essa sustentabilidade, em particular, a sustentabilidade do ambiente que circunda o

empreendimento e que fornece recursos e serviços ambientais para a realização das suas

atividades. Relaciona-se à preservação dos recursos naturais, buscando acima de tudo o

desenvolvimento sustentável como um todo. Sendo assim, a partir dessa perspectiva é que será

possível alcançar mudanças nas demais escalas da sociedade no campo.

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Segundo GONÇALVES (2004), o SGA é parte do sistema administrativo geral de uma

empresa e aborda um gerenciamento ecológico envolvido em uma série de diretrizes e

estratégias, observando a estrutura organizacional, atividades de planejamento,

responsabilidade, treinamentos, as práticas, os procedimentos, os processos e os recursos.

A ideia central da implantação de um SGA é de que as organizações devem estar em

condições de controlar os efeitos ambientais de suas próprias atividades e reduzir

sistematicamente seus impactos causados no ambiente. Assim, fica claro que ela deve visar a

sua própria sobrevivência, como sinônimo de melhoria, concordando em manter uma

responsabilidade ambiental, como um contrato invisível com o meio ambiente (CENTENO,

2004). A necessidade da elaboração e definição desta política é o primeiro passo a dar na

implantação de um SGA, é um comprometimento para com as questões ambientais, numa

tentativa diária de melhoria dos aspectos ambientais.

O Planejamento é medida essencial para o sucesso do SGA, identificando os aspectos

ambientais e avaliar o impacto de cada um no meio ambiente. Neste Programa de Gestão

Ambiental, os objetivos ambientais a estabelecer e manter devem ser considerados relevantes

para a organização. Deve ser designado um responsável por atingir os objetivos a cada nível da

organização, sem esquecer os meios e espaçamento temporal para que os mesmos possam ser

atingidos.

2.4.3 Industrialização, Desenvolvimento Tecnológico e o Meio Ambiente

De acordo com Lustosa (2003) o setor que mais provoca danos ao meio ambiente é o

industrial, através de processos produtivos ou pela fabricação de produtos poluentes ela afirma

que nesses casos as tecnologias adotadas possibilitam maior eficiência no uso dos recursos e a

substituição de insumos no processo produtivo.

A referida autora explica que o desenvolvimento tecnológico que adota um padrão de

produção menos agressivo ao meio ambiente é vista como uma alternativa parcial do problema,

porém os recursos naturais não podem ser substituídos, por possuírem características particulares,

sendo, dessa forma, impossível ser reproduzido pelo homem. O consumo excessivo dos recursos

naturais hoje torna indisponível para o consumo de gerações futuras.

Para se obter um bom crescimento econômico é necessário ter desenvolvimento

tecnológico, sendo guiado pelo interesse privado que busca obter benefícios econômicos a curto

prazo. O crescimento econômico e o desenvolvimento tecnológico são descontínuos e evoluem

com o tempo, apresentando interdependência temporal.

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FIGURA 13 MODELO DE MINIMIZAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL

Para Lustosa (2003) após décadas de debates em relação aos limites ambientais do

crescimento econômico, observou-se que o padrão tecnológico até então adotado pelos países

industrializados chegou ao seu limite, ou seja, é necessário induzir mudanças tecnológicas mais

limpas para se obter sustentabilidade ambiental para que os recursos naturais não faltem para

as futuras gerações, buscando também uma diminuição dos níveis de poluição e de resíduos,

mesmo que haja um aumento na produção. Esse é um problema complexo, multidimensional,

interdisciplinar e sem uma resposta definitiva.

Ainda segundo Lustosa (2003) afirma que a mudança do padrão tecnológico atual na

direção de padrões tecnológicos que degradem menos o meio ambiente é uma condição

necessária para que o crescimento econômico possa ser contínuo e que juntamente com uma

distribuição mais igualitária dos benefícios desse crescimento caminhe na direção do

desenvolvimento sustentável.

Existe, na realidade, uma grande dificuldade de associar o crescimento da atual

produção industrial com a preservação da natureza. As empresas que estão centradas em setores

utilizarem tecnologias que não são benéficas ao meio ambiente podem ser consideradas como

degradadoras do meio ambiente.

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Fonte: Lustosa (2003).

De acordo com o quadro 1 pode-se perceber que através da adoção de novas tecnologias

e soluções já existentes em muitos casos existe como minimizar os impactos ambientais, porém

surgiu um outro problema com relação ao efeito estufa que também poderá ser substituído por

energia limpa.

2.4.4 A valorização econômica ambiental

No ponto de vista econômico todo recurso ambiental tem valor intrínseco que é o valor

que lhe é próprio, inerente ou peculiar e sabe-se que o valor econômico de qualquer recurso

ambiental é a contribuição do recurso para o bem-estar social e a preservação do meio ambiente.

De acordo com Ortiz, (2003, p.81);

A valorização econômica ambiental busca avaliar o

valor econômico de recurso ambiental através da

determinação do que é equivalente, em termos de outros

recursos disponíveis na economia, que estaríamos

dispostos a abrir de maneira a obter uma melhoria de

qualidade ou quantidade de recurso ambiental. Em

resumo, a valorização econômica de recursos ambientais.

E é através da valorização econômica ambiental que a economia se depara com um

desafio em alocar os recursos muitas vezes escassos de maneira a obter maiores benefícios, já

que esses recursos são finitos. De acordo com Ericê, a inovação também pode proporcionar as

regiões periféricas, em francas dificuldades econômicas e sociais, a busca de novas

oportunidades, fazendo com que descortine-se novos horizontes e potencialidades para o

fortalecimento das pessoas e empresas nessa região, ajudando a dirimir as questões existentes

e configuradas no quadro das regiões mais pobres. (CORREIA,ERICÊ. 2012).

Atualmente os economistas estimam valores ambientais em monetários para que esse

valor possa tornar-se comparável aos valores de mercado, ou seja, que haja uma inclusão dos

benefícios ambientais na análise de custo/benefício, uma busca pela valorização econômica

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ambiental e essa valorização é fundamental para a gestão dos recursos e desenvolvimento em

locais regionais ou nacionais, no caso do cultivo do algodão orgânico colorido esses valores

são de mercado. Portanto, a importância pode traduzir em valores que serão associados aos bens

ou recursos ambientais e também valores morais, éticos ou econômicos.

2.4.4.1 Agricultura familiar

No Brasil a agricultura familiar nos últimos anos vem recebendo de forma crescente o

apoio dos órgãos ligados ao Governo Federal e de diversas organizações, são projetos voltados

para o fomento das atividades agrícolas e no contexto destacam-se os processos de plantio,

colheita e beneficiamento nos assentamentos paraibanos.

A agricultura familiar tem grande diversidade cultural, econômica e social no Brasil,

porém nesse seguimento produtivo de grande importância foi negligenciando na formulação de

políticas públicas em toda a história do nosso país. Um novo olhar surgiu na vida rural, as

tendências que apontam para as transformações profundas com novas referências junto a

sociedade local, nesse olhar surgiu o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar –

Pronaf. No Brasil o crédito tornou-se facilitado porque o Governo Federal, através do

Ministério do Desenvolvimento Agrário, buscou democratizar a adesão, credenciou várias

entidades representativas para fornecer o documento que habilita ao financiamento denominado

DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf.

As condições impostas a cada unidade familiar param se enquadrarem no programa

governamental são basicamente: que explore a terra como proprietários, posseiros,

arrendatários, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária; Possuir,

no máximo, quatro módulos fiscais ou seis módulos fiscais, no caso de atividade pecuária; tem

que morar na propriedade ou em local próximo.

2.5 CERTIFICAÇÃO

Uma parcela ainda reduzida da população hoje busca maiores informações com relação

aos produtos adquiridos e as certificações e para que tenha a certeza que está adquirindo um

produto ecologicamente correto. O consumidor busca uma identificação de procedência para

ter a certeza de um produto de origem orgânica, natural e nesse sentido a COOPNATURAL já

possui selos e que os mesmos geram credibilidade e competitividade no mercado.

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2.5.1 Certificação de produtos orgânicos é o caminho para a sustentabilidade

As certificações hoje significam a ampliação de oportunidade e de comercialização dos

produtos orgânicos a preços diferenciados, sendo considerado como um mercado de inclusão.

Para que um produto possa receber um selo de certificação é necessário seguir o

procedimento de determinados requisitos, é esse certificado que representa a garantia do

produto orgânico, essa certificação será através de um selo fixado ou impresso em rótulo ou na

embalagem do produto para que dessa forma possa ser visualizado pelo consumidor que o

produto foi produzido com as normas e práticas da agricultura orgânica. O órgão que credencia

internacionalmente as certificações é a International Federation of Organic Agriculture

Movements (IFOAM), que é a federação internacional que congrega diversos movimentos

relacionados a agricultura orgânica. No caso de suspeita de fraude, quando detectados, são

passiveis a avalição por uma comissão e a agencia certificadora poderá aplicar punições

previstas na lei que podem chegar à exclusão do agricultor oportunista e assim pedindo o uso

do selo orgânico. E a regulamentação se faz necessária para manter os padrões éticos do

movimento orgânico o fortalecimento da confiança do consumidor.

Considerando-se como aspecto de garantias da qualidade do produto orgânico, a Lei

10.831/2003 abre as seguintes prerrogativas:

Art. 3o Para sua comercialização, os produtos orgânicos deverão ser certificados por

organismo reconhecido oficialmente, segundo critérios estabelecidos em regulamento.

§ 1o No caso da comercialização direta aos consumidores, por parte dos agricultores

familiares, inseridos em processos próprios de organização e controle social, previamente

cadastrado junto ao órgão fiscalizador, a certificação será facultativa, uma vez assegurada aos

consumidores e ao órgão fiscalizador a rastreabilidade do produto e o livre acesso aos locais de

produção ou processamento.

§ 2o A certificação da produção orgânica de que trata o caput deste artigo, enfocando

sistemas, critérios e circunstâncias de sua aplicação, será matéria de regulamentação desta Lei,

considerando os diferentes sistemas de certificação existentes no País.

Art. 4o A responsabilidade pela qualidade relativa às características regulamentadas para

produtos orgânicos caberá aos produtores, distribuidores, comerciantes e entidades

certificadoras, segundo o nível de participação de cada um.

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Parágrafo único. A qualidade de que trata o caput deste artigo não exime os agentes dessa

cadeia produtiva do cumprimento de demais normas e regulamentos que estabeleçam outras

medidas relativas à qualidade de produtos e processos.

§ 1o A regulamentação deverá definir e atribuir as responsabilidades pela

implementação desta Lei no âmbito do Governo Federal

Para a comercialização dos produtos produzidos com a matéria prima do algodão

orgânico colorido a certificação segue a Lei 10.831/2003 Federal e passa a ser um diferencial

para o mercado interno e externo, isso significa que foram seguidos todas os processos de

plantio, fertilização, colheita manual e armazenamento. A certificação é uma ferramenta ligada

a sustentabilidade do meio ambiente e dessa forma assegurar que a produção e os produtos

sejam diretamente comprometidos com uma performance ambiental e econômica, visando

garantir, entre outros um consumo sadio, com qualidade e conservando a sobrevivência das

futuras gerações. A Lei 10.831/2003 afirma a adoção das técnicas específicas, otimizando o uso

de recursos naturais e socioeconômicos e também o respeito à integridade cultural nas

comunidades rurais, tendo como objetivo principal a sustentabilidade econômica e ecológica,

buscando a preservação da biodiversidade, a saúde do solo e da água, e dessa forma incentiva

a integração entre os segmentos dessa cadeia produtiva orientando para o consumo da produção

orgânica.

2.5 A IMPORTÂNCIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS ORGANIZADOS PARA O

INSTRUMENTO DE LUTA PELA POSSE DA TERRA NA PARAÍBA

No Brasil é evidente que a luta pela terra tem se estabelecido a cada dia de forma mais

efetiva, sabe-se que a propriedade de terra é um marco de poder econômico, político e que está

dominado por uma minoria da população.

Segundo Brumer e Santos (1997), os problemas sociais, rurais e urbanas da sociedade

no Brasil, redefinem o significado da reforma agrária: as forças sociais propõem modos diversos

não apenas de apropriação, mas também de uso da terra, assim como as instalações de unidades

econômicas agrícolas e unidades de produção familiar em todo o país. Nesse sentido:

A luta pela terra e a reforma agrária transformaram-se em

luta pela construção de uma nova cidadania para todos

aqueles que foram excluídos da terra e da participação

social. Trata-se de uma luta eminentemente política, pois

justamente em torno da propriedade e do uso da terra

configurou-se um novo campo de conflitos agrários

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(BRUMER; SANTOS, 1997, p.6)

É histórica a luta pela terra no Brasil e encontram-se registros da legislação portuguesa

para resolver o problema fundiário no Brasil Colônia. Muitos eram os abusos, das

irregularidades, decorriam vários pedidos de terra para um melhor aproveitamento, porém a

desordem era evidente nos séculos XVII e XVIII.

Com o surgimento do MST no país e a força que ele tomou as ocupações foram

consolidadas através de uma marca política com a resistência dos trabalhadores rurais e dessa

forma a espacialização e a territorialização feitas por meio de ocupações conseguiu produzir

fortes mudanças qualitativas nas novas formas de pensar na reforma agrária.

Atualmente, o MST é considerado o maior movimento social popular organizado Brasil

e, possivelmente, também o maior da América Latina (GOHN,1998). Fundado oficialmente em

1984, está presente em 23 estados do Brasil e envolve cerca de dois milhões de pessoas, com

350 mil famílias assentadas e 160 mil acampadas. É um movimento social que tem como

principal objetivo a luta pela reforma agrária e a justiça social no campo. Entre suas formas de

ação estão acampamentos, a ocupação de fazendas, sedes de organismos públicos e de

multinacionais, a destruição de plantações transgênicas, marchas, greves de fome e outras ações

políticas (MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA, 2003; 2004).

O MST concretizou uma importante ação com a consolidação do Assentamento

Queimadas, nesse local existia a fazenda Queimadas que pertencia a um único proprietário o

qual não utilizava de forma produtiva suas terras (criada em 1968). Em 1998 após muitas

reivindicações dos agricultores por um espaço produtivo, ou seja, terra para trabalhar em

condições dignas da região para produzir e sustentar suas famílias o MST atuou e o processo

de ocupação é um momento delicado de acordo com o depoimento:

Queimadas já havia sido revisada pelo INCRA, só que

nós temia o latifundiário porque esta fazenda passou a ser

esconderijo de bandidos. Muitas vezes a polícia atacava

a fazenda, nós ouvia os tiros e via a fumaça que parava

na serra da Pia. Era isto que nós temia para fazer uma

invasão. Foi quando surgiu o movimento MST enviado

pelo sindicato de Remígio. Eles vinheram e fizeram a

primeira reunião e na segunda que foi no dia 27 de

setembro às 10 e 40 da noite ocupamos a Fazenda

(Assentado Mário Pereira, agosto de 2011).

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Infelizmente após alguns dias de ocupação os trabalhadores rurais foram despejados

através de uma ordem judicial, os ocupantes ficaram acampados em um pequeno sitio de

propriedade do senhor Juvino e só após 15 dias resolveram realizar uma assembleia para assim

voltar a ocupar a fazenda Queimadas, através de manifestações de resistência para serem

alojados definitivamente na área ocupada.

Primeiro de maio, dia do trabalhador, nois fizemos uma

passeata só com os agricultor. Nois fomos para Remígio

mostrar o nosso valor. Foi na praça da Lagoa a nossa

reunião, na estrada e na cidade chamava o povo atenção...

(Assentado Mário Pereira, agosto de 2011).

A consolidação do Assentamento somente ocorreu quando o Presidente da República,

no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, e tendo em

vista as disposições da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, fez uso do decreto de nº 2.250

de 11 de junho de 1997, desapropriou a Fazenda Queimadas e assentou as 100 famílias que

lutavam por terra para trabalhar e dela sobreviverem.

3 METODOLOGIA

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, bem

como os seus dados apurados.

3.1 TIPO DE ESTUDO

Conforme Minayo (1996), a metodologia é o caminho e o instrumental próprio de

abordagem da realidade. Mais do que um conjunto de técnicas a serem utilizadas para abordar

o social, ela inclui também, segundo a autora, as concepções teóricas de abordagem, as técnicas

para apreensão da realidade e o potencial criativo do pesquisador.

Inicialmente, quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa caracteriza-se como

um estudo bibliográfico e de campo, o que contribuirá para o aprofundamento dos aspectos que

constituem o tema abordado, a busca por estudos análogos e, consequentemente, a construção

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da fundamentação teórica. De acordo com Lakatos e Marconi (2013), “é imprescindível

correlacionar a pesquisa com o universo teórico, optando-se por um modelo teórico que sirva

de embasamento à interpretação do significado dos dados e fatos coletados ou levantados”

(p.114). É relevante também conhecer as conclusões a que outros autores chegaram a pesquisas

semelhantes ou complementares à pretendida, o que permite a análise de contradições ou o

reforço de situações e comportamentos já identificados.

A estudo de campo procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do

que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis, nele ainda

se estuda um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressalta-

se a interação de seus componentes. Podendo utilizar muito mais técnicas de observação do que

de interrogação (GIL 2002, p 52)

Do ponto de vista da abordagem do problema, esta pesquisa será quantitativa.

Considerando a necessidade do levantamento de informações de natureza numérica para a

caracterização do objeto de estudo e a posterior análise das informações, a partir das concepções

dos sujeitos – o que confere aos objetivos do trabalho os caráteres exploratório, descritivo e

explicativo – julga-se que este é o tipo de abordagem mais adequado. Essa complementariedade

é necessária uma vez que a pesquisa reúne aspectos que caracterizam os métodos quantitativo

e qualitativo.

Segundo Richardson (2007), a pesquisa quantitativa caracteriza-se pelo emprego da

quantificação, seja na coleta de dados, quanto no tratamento destes por meio de técnicas

estatísticas. Para o autor, o método representa a intenção de garantir precisão dos resultados,

além de evitar distorções de análise e interpretação. Já a abordagem qualitativa, de acordo com

Chizzotti (2006), parte do princípio de que há uma relação dinâmica entre o mundo e o sujeito,

“uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo

objetivo e a subjetividade do sujeito” (p.78). Na pesquisa qualitativa, ainda segundo Chizzotti,

fenômenos como a constância de manifestações e sua ocasionalidade, a frequência e a

interrupção, a fala e o silêncio têm a mesma relevância.

No entanto, apesar das particularidades e das diferenças ideológicas nas abordagens, a

dicotomia entre elas é questionada, e aponta-se para a complementariedade entre os métodos, a

fim de uma melhor compreensão da realidade. Chizzotti (2006) explica que, para muitos

autores, as pesquisas quantitativas e qualitativas não devem ser opostas, mas convergir na

complementariedade mútua, “sem confinar os processos e questões metodológicas a limites que

atribuam os métodos quantitativos exclusivamente ao positivismo ou os métodos qualitativos

ao pensamento interpretativo” (p.34). E completa: “Esses autores consideram que é necessário

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superar as oposições que subsistem nas pesquisas em ciências humanas e sociais, e apontam

que se pode fazer uma análise qualitativa de dados estritamente quantitativos ou que o material

recolhido com técnicas qualitativas pode ser analisado com métodos quantitativos, como é o

caso da análise de conteúdo” (CHIZZOTTI, 2006, p.34).

Colabora com este posicionamento a afirmação de Richardison (2007), quando este

afirma que podem-se identificar três instâncias de integração entre os dois métodos: no

planejamento da pesquisa, na coleta de dados e na análise da informação. Assim, a pesquisa

quantitativa será utilizada para o levantamento de dados relacionados à utilização dos meios de

comunicação nas comunidades rurais, bem como para a descrição de como se dá o acesso a

informações oficiais por parte dos agricultores, enquanto a pesquisa qualitativa buscará a

opinião, dos valores, das crenças e as concepções dos representantes de grupos ou instituições

a respeito do problema, possibilitando a análise dos fenômenos a partir da interpretação e da

experiência do pesquisador.

O estudo quanto aos objetivos ainda se classifica como descritiva. A pesquisa

exploratória para cervo, Bervian da Silva (2010), não requer a elaboração de hipóteses a serem

testadas no trabalho, restringindo-se a definir objetivos e buscar mais informações sobre

determinado assunto de estudo. Para Beuren (2006, p.80) tal caracterização se dá sempre que

existe pouco conhecimento sobre a temática a ser abordada, assim, através de um estudo

exploratório busca-se conhecer em profundidade o assunto e o aprofundamento de conceitos

preliminares sobre a temática (BEUREN, 2006). E sobre a pesquisa descritiva na concepção de

Beuren (2006 p.81), é aquela que “preocupa-se em observar os fatos, registra-los, analisa-los,

classifica-los e interpreta-los, e o pesquisador não interfere neles”.

3.2 CAMPO DE ESTUDO

Esta pesquisa delimita-se a 02 assentamentos localizados no estado da Paraíba que

promovem o cultivo do algodão orgânico colorido. O assentamento de nome Margarida Maria

Alves localizado no município de Juarez Távora e o assentamento de nome Queimadas

localizado no município de Remígio.

Os critérios para a escolha dos assentamentos foram: O assentamento que possui a maior

antiguidade no cultivo do algodão orgânico colorido no estado da Paraíba e o assentamento que

apresenta os maiores índices de produtividade para o produto.

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3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

A população dessa pesquisa está constituída pelo total de 136 famílias. A amostra

selecionada é composta por 36 famílias distribuídas entre os assentamentos da seguinte forma:

a) 16 Famílias no assentamento Margarida Maria Alves.

b) 20 Famílias no assentamento Queimadas.

Os critérios de seleção da amostra foi o fato de que todas estas 36 famílias cultivam o

algodão orgânico colorido 1) Residir nos Assentamentos Margarida Maria Alves e Remígio

há pelo menos dez anos; 2) Ser agricultor familiar – de acordo com o conceito presente no artigo

3º da Lei 11.326, de julho de 2006, que estabelece as diretrizes para a formulação da Política

Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais3; 3) Ser membro de

associação de agricultores dos assentamentos; e 4) Ser produtor do algodão orgânico colorido

na Paraíba.

3.4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Nessa seção serão apresentados os resultados obtidos após análise e interpretações dos

dados proveniente das questões qualitativas e quantitativas do instrumento. Inicialmente é feita

a caracterização da área de estudo seguida de demais analises do questionário por meio de

gráficos, tabelas, quadros e figuras.

Em 1998 foi criado o assentamento Margarida Maria Alves, localizada no município de

Juarez Távora (PB), que conta atualmente com 36 famílias, das quais 12 cultivam o algodão

orgânico colorido. Após um ano de sua criação, a comunidade rural foi escolhida para a

implantação do projeto piloto Algodão e Cidadania, coordenado pelo COEP em parceria com

a Embrapa Algodão. É o único assentamento que possui uma usina própria.

A primeira iniciativa para viabilizar foi a capacitação dos trabalhadores em novas

tecnologias de cultivo, desde a preparação do solo, escolha da semente adequada, controle do

bicudo, descaroçamento, prensagem e enfardamento. Dessa forma foi possível aumentar a

qualidade da fibra, a produtividade e o rendimento econômico da cultura.

A comunidade rural Margarida Maria Alves, comemora boa safra do algodão orgânico

colorido em 2013, foram plantados 15 hectares, com uma produtividade de 1.500 quilos por

hectare e toda produção foi vendida para a indústria têxtil local, a R$ 9,40 o quilo da pluma. As

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peças confeccionadas a partir da fibra serão exportadas para países como Alemanha, França,

Estados Unidos entre outros.

Mapa 01 Mapa do estado da Paraíba.

Fonte: a autora, 2015.

O assentamento Queimadas que está localizado no município de Remígio-PB, distante

110Km da capital paraibana começou a se formar há mais de uma década de acordo com as

informações do COEP – Rede Nacional de Mobilização Social, conta com 100 famílias, as

quais todos trabalham com agricultura familiar e desenvolvimento sustentável. Uma das

características da comunidade é o projeto algodão orgânico que é assessorado pela ARRIBAÇÃ

(associação de apoio a melhoria da qualidade de vida, convivência a seca, meio ambiente e

verticalização da produção familiar), da EMATER (Empresa Brasileira de Extensão Rural) e

apoiado pela Embrapa algodão. As instituições dão o suporte técnico para que os agricultores

assentados desenvolvam as práticas agroecológicas, com um correto manejo do solo, a colheita

manual e principalmente a não utilização de produtos químicos. Os agricultores receberam da

Embrapa orientações para o controle de praga que é realizado com a utilização de

biofertilizante, que é fabricado no assentamento com esterco de gado, rapadura, pó de rocha,

folha de mamona, a pulverização é realizada após 30 dias da fermentação. O biofertilizante é

ecologicamente coreto, tem um baixo custo e nutrientes necessários a terra.

Possui uma área de 1810 ha, que está distribuído de seguinte forma: 100 lotes de 10ha

foram destinados para cada família assentada; uma reserva florestal com 400ha e uma área

coletiva. No ano de 2006, os agricultores ocuparam os lotes e deu início ao plantio do algodão

orgânico colorido, sempre acompanhados por técnicos da EMATER e da ONG Arribaçã e com

a certificação orgânica emitida pelo IBD (Instituto Biodinâmico).

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O assentamento Queimadas comercializa a produção do algodão orgânico branco e

colorido com a empresa Veja Fair Trade, Coton Color, Natural Fashion. Os agricultores buscam

mais apoio do Governo do Estado para a construção de um galpão e também para compra de

maquinas que viabilizem o descaroçamento e diminuam o custo da logística.

3.5 METODOS, TECNICAS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

O instrumento utilizado para a coleta de dados dessa pesquisa foi o questionário, que

para Martins e Theóphilo (2009, p.90), trata-se de um conjunto ordenado e consistente de

perguntas a respeito de variáveis e situações que se desejem medir ou descrever.

Neste estudo, o questionário foi elaborado com base no referencial teórico pesquisado,

para que pudesse atender os objetivos da pesquisa e responder o problema investigado

A coleta de dados da pesquisa será dividida em duas etapas. A primeira delas se dará

através da aplicação de um questionário, que contribui para a delimitação do problema estudado

e das informações coletadas, além de apresentar, numericamente, os aspectos tratados nos

objetivos específicos. Com a aplicação dos questionários, espera-se levantar dados relevantes

para a identificação dos principais meios de comunicação utilizados nas comunidades, bem

como as características de uso, frequência e níveis de interação. A segunda etapa buscará

contribuir para a compreensão e o entendimento dos processos dos grupos agricultores. Para

isso, foi escolhida para a entrevista, que, segundo Minayo (1996), é um instrumento

privilegiado de coleta de informações, devido à possibilidade de a fala revelar condições

estruturais, sistemas de valores, normas e símbolos, além de “ter a magia de transmitir, através

de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas,

socioeconômicas e culturais específicas (p. 110)”.

‘Quanto à forma, a entrevista a ser utilizada na pesquisa será semiestruturada. Nesse

tipo de entrevista, as questões são abertas, e o entrevistador pode utilizar-se de um roteiro que

sirva como guia para o diálogo com o entrevistado, deixando-o livre para falar, mas sem

permitir que haja fugas aos temas pesquisados. “Entrevistador e entrevistado podem explorar

mais longamente os pontos que consideram importantes, mas o entrevistador precisa ser

sensível à linguagem do entrevistado e não pode, de forma alguma, influenciar as respostas”

(VIEIRA, 2009, p.11).

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3.5.1 Elaboração do instrumento de pesquisa

Os dados foram coletados por meio de questionário, o qual está composto por perguntas

relacionadas a questão ambiental e de atividade produtiva do algodão orgânico colorido além

da natureza econômica, que foi aplicado pela apresentadora. O questionário foi classificado

como semiestruturado, com questões abertas e fechadas de múltipla-escolha através da

solicitação de informações a um determinado grupo de pessoas acerca do problema estudado.

Dessa forma alcançando vantagens com o conhecimento da realidade local do plantio, da

economia e da atividade de produção.

3.50.2 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados in loco nos meses de março e abril de 2015. Inicialmente, foi

feito um contato prévio com os líderes dos assentamentos que providenciaram o contato com

as famílias envolvidas na pesquisa. Tal contatos se deram por visitas previas nos

assentamentos, como também por contatos telefônicos. Afim de que a coleta de dados se se

realiza de maneira satisfatória, foi necessária a permanência da pesquisadora nos assentamentos

por um período superior a 5 dias em cada assentamento.

Na aplicação do questionário o mesmo foi explicado detalhadamente a cada família

respondente, afim de evitar duvidas no ato das respostas.

3.6 MÉTODOS E TÉCNICA DE ANÁLISE DE DADOS

Os dados foram analisados de forma quantitativa. Nos dados que foram analisados de

forma quantitativa foram utilizadas as ferramentas da estatística descritiva, com o auxílio do

software Microsoft Office Excel® para obtenção de dados apurados através de cálculos de

somatório, moda, media, desvio padrão e porcentagem simples.

Os dados qualitativos foram analisados através da técnica de análise de conteúdo que

para Bardn (1977), prevê 3 etapas principais a saber: a) Pré-análise, b) Exploração do material,

c) Tratamento dos resultados, sendo assim, após concluída as partes acima segue-se à

categorização das respostas, resultados e discursões.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O lócus da pesquisa será no assentamento Margarida Maria Alves, localizado no

município de Juarez Távora, a 88 quilômetros da capital João Pessoa, no Agreste paraibano,

que está se destacando na produção de algodão colorido orgânico; e no assentamento

Queimadas, no município de Remígio, localizado a 110KM da capital paraibana. Residem nesse

local 100 famílias que trabalham com o cultivo do algodão orgânico colorido e

desenvolvimento sustentável, com uma característica que diferencia do outro local de pesquisa

pois o mesmo é assessorado pela ARRIBAÇA, uma associação de apoio direcionado à

qualidade de vida e convivência com a seca, com o apoio direto da Emprapa Algodão.

4.1 UM PERFIL DOS ASSENTAMENTOS PESQUISADOS

A pesquisa fez um levantamento sobre as características de cada assentamento

pesquisado.

TABELA 1 LEVANTAMENTO SÓCIO PRODUTIVO E ECONÔMICO DOS

ASSENTAMENTOS

Assentamento - Queimadas -

Remígio

Assentamento -

Margarida Maria

Alves - Juarez Tavora

Quantas família moram no assentamento? 100 36

Quantas família cultivam o algodão orgânico colorido? 20 16

Clima da região Agreste Agreste

Tem energia elétrica no assentamento? Sim Sim

Acesso por estradas pavimentadas? Não Não

Quanto tempo cultiva o algodão orgânico? Desde de 2000 Desde de 2006

Área de plantio em hectares? 20 Hac 16 Hac

Qual a quantidade colhida por hectare? 1300 Kg 1500Kg

Preço do quilo da pluma comercializado em 2004 R$ 9,40 R$ 9,40

Os filhos de agricultores frequentam escola? Sim Sim

Existem problemas enfrentados para o escoamento da

produção?

Não Não

Existe o controle de praga? Sim Sim

Possui máquina de descaroçamento? Não Sim

Quantas maquinas? Nenhuma 2

Quais são as associações e cooperativas que compram a

produção do algodão orgânico nos assentamentos?

Coopnatural / Coton Coopnatural / Coton

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Você tem conhecimento sobre as certificações

ambientais?

Sim Sim

Quais certificações? IBD IBD

A renda da sua família melhorou depois do cultivo do

algodão orgânico colorido?

Sim Sim

4.2 UM PERFIL DOS COLABORADORES DESSA PESQUISA

Nas 36 famílias pesquisadas o contato se deu com o chefe da família do sexo masculino,

quanto ao nível de escolaridade os resultados estão dispostos na tabela abaixo:

TABELA 2 ESCOLARIDADE DOS AGRICULTORES

Analfabeto Fundamental Médio Técnico Superior

Número % Número % Número % Número % Número %

22 62,85% 8 25,85% 1 2,85% 4 11,42% 0 0,00%

A tabela apresenta quanto a escolaridade dos chefes de famílias, em sua maioria, estão

enquadrados como analfabetos somando 62,85% do total de famílias, seguindo de 25,85%

enquadrados com ensino fundamental, 2,85% com ensino médio e 11,42% com nível técnico.

Com relação ao nível de satisfação que os investigados têm com a renda proporcionada

pelo cultivo do algodão orgânico colorido os mesmos responderam conforme demonstrado na

tabela abaixo:

TABELA 3 SATISFAÇÃO COM A RENDA

Frequência das Respostas

MD M DP INSAT PSAT SAT MSAT

Quão satisfeito (a) você

está com aumentar a

renda com o plantio do

algodão orgânico?

0 0 10 25

5,00 8,75 11,81 0% 0% 28,57% 71,42%

Legendas: INSAT – insatisfeito, PSAT – pouco satisfeito, SAT – satisfeito, MSAT – muito satisfeito, MD – moda,

M – média e DP – desvio padrão.

A tabela mostra, em porcentagem, o grau de satisfação com a renda obtida do plantio

do algodão orgânico colorido nos assentamentos, sendo este, 71,42% se declaram muito

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satisfeito, 28;57% satisfeito. Não houve declarações negativas na pesquisa quanto a satisfação

com a renda. O cultivo do algodão orgânico colorido, representa um acréscimo na renda das

famílias e dessa forma a qualidade de vida tem se fortalecido a cada ano nos assentamentos do

Agreste paraibano.

4.3 CARACTERIZAÇÃO SOCIO-ECONOMICA E AMBIENTAL DOS

ASSENTAMENTOS

Quanto aos benefícios adquiridos no plantio do algodão orgânico colorido foram

analisados a frequência de três fatores descritos na tabela abaixo:

TABELA 4 - BENEFICIOS DO PLANTIO DO ALGODÃO ORGÂNICO

Econômico Saúde Ambos (econômico & saúde)

Número % Número % Número %

17 48,57% 5 14,28% 13 37,14%

Nas ocorrências dessas frequências de respostas pode-se constatar que em termos

econômicos a uma declaração positiva em 48,57% das famílias no assentamento, seguido de

14,28% na saúde e 37,14% em ambas as partes. Fica evidente na pesquisa que os benefícios

recebidos através do plantio do algodão orgânico colorido provocam transformações positivas

na área econômica proporcionando um aumento na qualidade de vida do agricultor que passa a

ter condições de ter mais conforto em seu lar. Com relação a saúde também fica visível que o

agricultor tem se preservado porque deixa definitivamente de ter contato com agrotóxicos.

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GRÁFICO 1 DIFICULDADES NO PLANTIO DO ALGODÃO ORGÂNICO

No gráfico 1 vemos que o maior fator de dificuldade no plantio do algodão colorido no

assentamento localizado no município de Remígio é a falta de galpão, seguido da seca, falta de

máquina de descaroçagem e banco de sementes. No assentamento localizado no município de

Juarez Távora o único fator declarado de dificuldade no plantio foi a seca.

GRÁFICO 2 DEMAIS CULTIVOS DE ALIMENTOS

O gráfico 2 mostra, em porcentagem, a quantidade do cultivo de outros alimentos além

do cultivo do algodão orgânico colorido feita pelas famílias nos assentamentos. Os dados

0

5

10

15

20

REMÍGIO MARGARIDA Mº ALVES

SECA FALTA DE MAQ. DE DESCAROÇAGEM

FALTA DE GAPÃO FALTA DE BANCO DE SEMENTES

42,3%

21,1%

8,5%

14,1%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

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definem que a maior produção é do milho totalizando 42,3% do total, seguindo do feijão com

21,1%, do gergelim com 8,5% e do amendoim com 14,1%.

GRÁFICO 3 INCENTIVOS DA EMBRAPA

O gráfico acima descreve quanto ao incentivo da EMBRAPA no apoio ao cultivo do

algodão orgânico colorido nos assentamentos. A EMBRAPA mostra-se, de acordo com a

pesquisa, em maior quantidade no preparo e capacitação das famílias do assentamento em

65,9% tem uma preocupação em atualizar os agricultores com novas técnicas, com relação a

conservação do solo com 15,9% por considerar importante para o cultivo, a estocagem com

11,4% onde há um a preocupação em manter o algodão de armazenado de forma correta por

mais tempo, o associamento é de 2,3% e o fornecimento 6,8% de sementes.

65,9%

15,9%11,4%

2,3%6,8%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

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GRÁFICO 4 MELHORA DA RENDA FAMILIAR PÓS CULTIVO DO ALGODÃO ORGÂNICO

COLORIDO

Em uma análise do questionário a cerca de uma pergunta subjetiva sobre o quanto houve

de melhora na renda pós-cultivo do algodão orgânico colorido pode-se definir que 82,86%

afirmam positivamente que houve melhoras contra 17,14% que afirmaram que não houve

mudança na renda familiar após o cultivo, destes que afirmaram negativamente entende-se que

os motivos são: agricultores que preferem cultivar outros alimentos como o milho, feijão,

amendoim, gergelim, ou criação de galinhas e que não optaram pelo plantio do algodão

orgânico. A maioria dos agricultores afirma que houve um acréscimo financeiro na renda

familiar já que o algodão orgânico tem valorização no mercado e venda garantida,

principalmente após a certificação ambiental do IBD. Hoje no mercado o algodão orgânico é

bastante valorizado e de acordo com a pesquisa realizada in loco o preço para a próxima colheita

está definido em R$ 9,40, sendo considerado um valor bem acima do algodão comum que

utiliza agrotóxico no plantio.

82,86%

17,14%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

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5 CONCLUSÕES

A presente pesquisa tem como objetivo principal conhecer e analisar as melhorias que

ocorreram na vida dos agricultores assentados no estado da Paraíba nos assentamentos de

Queimadas e Margarida Maria Alves após a adoção do plantio do algodão orgânico colorido

sem a utilização de agrotóxicos e verificar os benefícios e as mudanças de vida familiar.

Considerando informações levantadas na pesquisa a adoção do plantio do algodão

orgânico tem uma grande contribuição para o desenvolvimento local sustentável. Para alcançar

os objetivos desta pesquisa foi imprescindível a imersão nos assentamentos servido de eixo

fundamental de observação dos processos produtivos da cadeia do algodão orgânico colorido

pela pesquisadora, proporcionando assim uma completa aproximação dos principais agentes da

cadeia, observou-se que é uma boa estratégia de combate a pobreza, geração de renda e respeito

ao meio ambiente, além de valorizar a cultura local e a uma significante melhoria de vida

econômica dos assentamentos.

O modelo de desenvolvimento sustentável é um tema que pode ser considerado

relativamente novo no qual há uma preocupação com as futuras gerações sendo o principal

processo que ganha força na necessidade de preservação da natureza até a propositura

econômica junto ao desenvolvimento social contribuindo com a distribuição de renda, a saúde,

com o acesso a educação e a cultura que são preceitos constitucionalmente estabelecidos em

nosso país.

A cadeia produtiva do algodão orgânico colorido da Paraíba tem se destacado no apelo

ecológico e nos seus processos, e no que se refere ao discurso mercadológico, o mesmo se

molda as necessidades da preservação ambiental dos recursos não renováveis com a propositura

de um novo modelo de crescimento econômico e está aliado ao desenvolvimento.

Através desta pesquisa foi realizado um levantamento sócio produtivo e econômico dos

assentamentos, nos quais observou a quantidade de famílias que cultivam o algodão orgânico

colorido desde o ano de 2000 no Agreste paraibano, a pratica da cultura orgânica passou a ser

um diferencial na vida do agricultor e de sua família, a não utilização de agrotóxico e adotando

pratica de controle de pragas, com o uso de bio fertilizantes e também o reconhecimento do

trabalho com o selo ambiental, passando a agregar valor econômico e a garantia da venda da

sua produção antes mesmo da colheita. Neste sentido a agricultura familiar passou a ser

valorizada melhorando assim a vida dos assentados paraibanos.

Constatou-se na pesquisa realizada que os agricultores dos assentamentos de Queimadas

e Margarida Maria Alves que ainda se enquadram em um alto nível de analfabetismo com

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62,85% de analfabetismo do total de famílias, sendo que 25,85% tem o ensino fundamental,

com relação a satisfação da adoção do plantio do algodão orgânico pode-se afirmar que 71,42%

dos agricultores estão muito satisfeitos , já que o escoamento da produção é garantida antes

mesmo da colheita, há um grande interesse na comercialização e com essa garantia 48,57% da

famílias assentadas obtém uma aumento de renda através do cultivo orgânico.

Pose-se afirmar como fatores menos desenvolvidos e de dificuldade no plantio do

algodão orgânico com relação ao assentamento Queimadas na estrutura de apoio a falta um

galpão para armazenamentos e formação de banco de sementes e uma máquina de

descaroçamento sendo considerada a maior dificuldade atualmente no plantio a Seca, que assola

a região nordestina. Com base nesses resultados pode-se dizer que estas dificuldades são as

principais preocupações na cadeia produtiva do algodão na região nordestina do Brasil. Por esse

motivo existem alternativas no cultivo para assegurar a renda familiar como o plantio do milho

que atinge 42,3%, seguido do feijão com 21,1%, amendoim com 14,1% e o gergelim com 8,5%,

no período sem a colheita do algodão orgânico.

Constatou-se a importância de incentivo, sendo mais desenvolvido e recebido pela

Emprapa nos assentamentos podendo considerar um alto grau de envolvimento com relação a

preocupação e incentivo da capacitação dos agricultores com 65,9%, nas orientações com

relação a conservação do solo para garantir a sustentabilidade de terra em 15,9%, outro ponto

importante é a maneira correta de estocagem de 11,4%, oferecendo também o assessoramento

de 2,3% e fornecimento de sementes quando necessário em 6,8%. Dessa forma o Embrapa tem

uma grande importância para o desenvolvimento e orientação aos agricultores dos

assentamentos paraibanos.

Conclui-se que houve uma considerável transformação na vida do agricultor que adotou

o plantio orgânico, destacando-se que houve uma mudança significativa na economia.

Estudos dessa natureza proporcionam uma profunda reflexão nas discursões do

desenvolvimento sustentável, o respeito ao meio ambiente, a importância do plantio sem

agrotóxicos e busca pela melhoria de vida no campo, na saúde, na educação e na cultura

regional. Permitindo assim uma análise da capacidade de desenvolvimento humano e os

desafios de criar uma conscientização do campo ao consumidor.

Almeja-se que a presente pesquisa possa incentivar novos estudos voltados a área de

desenvolvimento sustentável e a importância da agricultura familiar para aprofundar nas

discursões do plantio sem o uso de agrotóxicos e as transformações na qualidade de vida dos

agricultores, na economia, na saúde e na cultura regional.

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APÊNDICE A

Questionário de levantamento sócio produtivo dos Assentamentos Margarida Maria

Alves no município de Juarez Távora e o assentamento Queimado no município de

Remígio, que trabalham com o plantio do algodão orgânico colorido na Paraíba_ PB.

Informação para a Dissertação de Mestrado de Cláudia Maria Granja da Silva

Período de Outubro a Dezembro de 2014.

Nome: Data: / /

Idade: SEXO( ) Feminino ( ) Masculino

1. Dados da Região de Estudo do cultivo do algodão orgânico colorido Municípios de

Remígio - PB

2. Quantas família moram no assentamento? ( )

3. Quantas famílias cultivam o algodão orgânico colorido? ( )

4. Clima da região ( )

5. Tem energia elétrica no assentamento?. Sim ( ) Não ( )

6. Acesso por estradas Pavimentadas ? Sim ( ) Não ( )

7. Quanto tempo cultiva o algodão orgânico ( )

8. Aspectos produtivos dos assentamentos no município de Remígio – PB

9. Área de plantio em hectares ( )

10. Qual a quantidade colhida por hectare? ( )

11. Produtividade de algodão orgânico no ano de 2014 ( )

12. Preço do quilo da pluma comercializado em 2014 ( )

13. Numero de famílias que cultivam o algodão orgânico colorido ( 20 )

14. Nível de escolaridade dos agricultores: Analfabeto ( ), Primário ( ), 1º Grau ( )

Ensino Médio ( ) Técnico ( ) Universitário( )

15. Os filhos de agricultores frequentam escola? Sim( ) Não ( )

16. Existem problemas enfrentados para o escoamento da produção? sim ( ) Não( ) Se

sim, quais?

_____________________________________________________________________

___________________________________________

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17. Existe o controle de praga? Sim ( ) Não ( ) Qual é o controle

realizado?_____________________________________________________________

_______________________________________________

18. Possui maquina de descaroçamento ? Sim ( ) Não ( )

19. Quantas maquinas? ____________

20. Recebe algum apoio do Governo ? Sim ( ) Não ( ). Se sim, quais?

__________________________________________________________

21. Recebe algum incentivo da EMBRAPA? Sim ( ) Não ( ). Se sim,

quais?_____________________________________________________

22. Quais são as principais dificuldades encontradas no plantio do algodão orgânico?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________

23. Quais são as associações e cooperativas que compram a produção do algodão orgânico

nos assentamentos?_______________

__________________________________________________________

24. Aspectos Ambientais

25. Além do plantio do algodão orgânico existem outros cultivos de alimentos? Sim ( ) Não

( ). Quais? ________________________________________________________

26. Quais são os principais benefícios da adoção do plantio do algodão

colorido?______________________________________________________________

_______________________________________________

27. Vocês recebem informação sobre novas técnicas de plantio e conservação ambiental?

Sim (x ) Não ( ).

28. Vocês tem conhecimento sobre as certificações ambientais? Sim ( x ) Não ( )

29. Quais certificações?____________________________________

30. Aspectos Econômicos do Agricultores no Assentamento Queimadas

31. A principal renda da família vem do cultivo do algodão orgânico colorido? Sim ( )

Não(x ). Se tiver outra renda qual é-

_____________________________________________________________________

_______________________________________________

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32. Quão satisfeito (a) você está com aumentar a renda com o plantio do algodão orgânico?

Insatisfeito(a) ( ) Pouco Satisfeito(a) ( ) Satisfeito(a) ( ) Muito satisfeito (a) ( )

33. Você considera justo o valor recebido pela sua produção?

Sim ( ) Não( ) Por que?

35 A renda da sua família melhorou depois do cultivo do algodão orgânico colorido? Sim

(x ) Não ( )

36. Como você se senti em saber que o algodão orgânico é transformado em confecção e

artesanato e está sendo vendido nas lojas da Europa?