Cadeira favela

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CADEIRAFAVELA // ASPECTOS FÍSICOS A Cadeira Favela é feita de pequenos pedaços retangulares de madeira, fixados de forma assimétrica em uma base de metal. Os pedaços de madeira variam em largura e comprimento; fixados de forma irregular e aparentemente desorganizada, deixam espaços de varias formas e dimensões entre si. // QUALIDADES PERCEBIDAS A configuração da cadeira é um emaranhado de pedaços de madeira colados de forma desorganizada, su- gerindo fragilidade e instabilidade – é seguro sentar-se nesta cadeira? Ela suporta o peso’ de uma pessoa? Não aparenta ser uma cadeira confortável – sua superfície é áspera e a disposição dos pedaços de madeira não cria uma superfície totalmente plana, podendo até mesmo haver farpas que possam machucar quem a utilizar. A confiança no objeto não é sugerida pelo objeto em si, mas por sua autoria – é uma criação dos ir- mãos Fernando e Humberto Campana, dois designers brasileiros conhecidos internacionalmente. Porém, se a cadeira é apresentada a uma pessoa que não saiba de seu contexto ou autoria, provavelmente ela será percebida como instável, insegura e imprópria para o uso. // SIGNIFICAÇÃO Construída pelos Irmãos Campana em 1991, a Cadeira Favela possui este nome por ser uma alusão às fa- velas brasileiras. Uma cadeira pode ser observada como um objeto dotado de valor material, carregando em sua história e evolução diacrônica um símbolo de riqueza e alta sociedade. Contudo, na configuração e materiais da Cadeira Favela, está o retrato do oposto: a miséria, carência e escassez de recursos que ca- racterizam a população das favelas, que precisam recorrer a improvisos, adaptações e coleta de materiais descartados para solucionar problemas básicos como a construção de suas moradias. A Cadeira Favela ganhou fama internacional após seu concebimento. É um produto que retrata a “bra- silidade” no exterior, onde é atualmente vendida por valor superior a sete mil reais. MARCELO KNELSEN // IGOR DRUDI // DINARA LIMA // IURI ALENCAR

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CADEIRAFAVELA// ASPECTOS FÍSICOS

A Cadeira Favela é feita de pequenos pedaços retangulares de madeira, fixados de forma assimétrica em uma base de metal. Os pedaços de madeira variam em largura e  comprimento; fixados de forma irregular e aparentemente desorganizada, deixam espaços de varias formas e dimensões entre si.

// QUALIDADES PERCEBIDASA configuração da cadeira é um emaranhado de pedaços de madeira colados de forma desorganizada, su-gerindo fragilidade e instabilidade – é seguro sentar-se nesta cadeira? Ela suporta o peso’ de uma pessoa?Não aparenta ser uma cadeira confortável – sua superfície é áspera e a disposição dos pedaços de madeira não cria uma superfície totalmente plana, podendo até mesmo haver farpas que possam machucar quem a utilizar. A confiança no objeto não é sugerida pelo objeto em si, mas por sua autoria – é uma criação dos ir-mãos Fernando e Humberto Campana, dois designers brasileiros conhecidos internacionalmente. Porém, se  a cadeira é apresentada a uma pessoa que não saiba de seu contexto ou autoria, provavelmente ela será percebida como instável, insegura e imprópria para o uso.

// SIGNIFICAÇÃOConstruída pelos Irmãos Campana em 1991, a Cadeira Favela possui este nome por ser uma alusão às fa-velas brasileiras. Uma cadeira pode ser observada como um objeto dotado de valor material, carregando em sua história e evolução diacrônica um símbolo de riqueza e alta sociedade. Contudo, na configuração e materiais da Cadeira Favela, está o retrato do oposto: a miséria, carência e escassez de recursos que ca-racterizam a população das favelas, que precisam recorrer a improvisos, adaptações e coleta de materiais descartados para solucionar problemas básicos como a construção de suas moradias. A Cadeira Favela ganhou fama internacional após seu concebimento. É um produto que retrata a “bra-silidade” no exterior, onde é atualmente vendida por valor superior a sete mil reais.

MARCELO KNELSEN // IGOR DRUDI // DINARA LIMA // IURI ALENCAR

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// INTERAÇÃOAo olhar o produto o que se vê é organizado, assimétrico e ao mesmo tempo luxuoso. O uso do produto parece desorganizado, assimétrico, frágil e desconfortável.O toque parece ser  áspero, e "farpado", tem a impressão do risco iminente de se machucar com as lascas de madeira.

// CONTEXTOSão Paulo, Brasil, 1991. A jovem democracia sente os primeiros ventos da liberdade de expressão após décadas de repressão do regime militar. Um também jovem e carismático presidente abre as portas do pais para o mundo, que recebe em sua maior cidade as novidades antes restritas. Mas a cidade tem grandes contrastes, pois uma grande parcela da população não vivia em residências com TV, telefone, luz e água encanada. Vivia em favelas: áreas degradadas de uma determinada cidade caracterizada por moradias pre-cárias, falta de infraestrutura e sem regularização fundiária.O Brasil, principalmente nas metrópoles, mostra uma grande contradição econômica, de um lado riqueza e desperdício, e de outro pobreza e falta de recursos.A população segue a cultura da "gambiarra", uma junção desordenada de ideias e elementos para resolver um problema, que não necessariamente é resolvido da maneira correta, mas suficiente para a ocasião.Os moradores das favelas possuem grande criatividade par resolver seus problemas, reutilizando materiais abandonados, gerando soluções através do improviso e mostram o poder do "crie você mesmo".Deste repertório construído nas ruas da metrópole, a cadeira favela é uma metáfora critica aos valores atri-buídos aos produtos e da marginalidade que a sociedade impõem as favelas, sendo este um aspecto de brasilidade, o contraste e a miscigenação de valores na pluralidade cultural de uma sociedade que não con-some produtos, e sim significados.Do aspecto de brasilidade, resgata a criatividade intuitiva que se origina nas dificuldades do dia a dia do brasileiro residente nas favelas, que sem um pré projeto lógico, constrói suas casas com materiais descar-tados no lixo, utilizando as próprias mãos.Sua estrutura de sarrafos e refugos de madeira, oriundos de caixotes de frutas descartados pelos super-mercados, estruturados de forma caótica e assimétrica demonstram o valor do “handmade”, onde o talento do artesão sobrepuja o projeto.

MARCELO KNELSEN // IGOR DRUDI // DINARA LIMA // IURI ALENCAR