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Prefácio Qual o primeiro de todos os direitos naturais do homem? O de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal. * Caro(a) Leitor(a): Em face do desenvolvimento da Ciência, facilmente se comprova o início da vida humana desde o momento da concepção no ventre materno, e não somente quando ocor- re o nascimento, como afirmam muitos. Constitui-se em grave comprometimen- to com as leis divinas a provocação do abor- to em qualquer fase da gravidez, uma vez que tal iniciativa impede que o Espírito, já ligado ao embrião, renasça no corpo físico que lhe servirá como instrumento de progresso. * (O Livro do Espíritos, Allan Kardec, questão 880, 85. ed. FEB.) Caderno de Mensagem - Aborto - final.qxp 29/11/2005 16:19 Page 1

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Prefácio

Qual o primeiro de todos osdireitos naturais do homem?

O de viver. Por isso é que ninguém tem o deatentar contra a vida de seu semelhante, nem defazer o que quer que possa comprometer-lhe aexistência corporal. *

Caro(a) Leitor(a):

Em face do desenvolvimento da Ciência,facilmente se comprova o início da vidahumana desde o momento da concepção noventre materno, e não somente quando ocor-re o nascimento, como afirmam muitos.

Constitui-se em grave comprometimen-to com as leis divinas a provocação do abor-to em qualquer fase da gravidez, uma vezque tal iniciativa impede que o Espírito,já ligado ao embrião, renasça no corpofísico que lhe servirá como instrumento deprogresso.

*(O Livro do Espíritos, Allan Kardec, questão 880, 85. ed. FEB.)

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O Movimento Espírita posiciona-secontrário aos projetos de revisão da legis-lação que visam à legalização do aborto emnosso país.

Nas páginas deste livreto impresso pelaFederação Espírita Brasileira, você encon-trará a argumentação, baseada nos postula-dos espíritas, que defende o direito à vida.

Participe também da Campanha EmDefesa da Vida.

Oriente-se e diga não ao aborto!

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Enfoque da

Codificação Espírita

Questão 357. Que conseqüênciastem para o Espírito o aborto?

É uma existência nulificada e que eleterá de recomeçar.

Questão 358. Constitui crime aprovocação do aborto, em qualquerperíodo da gestação?

Há crime sempre que transgredis a leide Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja,cometerá crime sempre que tirar a vida auma criança antes do seu nascimento, porisso que impede uma alma de passar pelasprovas a que serviria de instrumento o corpoque se estava formando.

Questão 359. Dado o caso que onascimento da criança pusesse emperigo a vida da mãe dela, haverácrime em sacrificar-se a primeirapara salvar a segunda?

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Preferível é se sacrifique o ser queainda não existe a sacrificar-se o que jáexiste.

(O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 1. ed. espe-cial, FEB.)

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Aborto

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De todos os institutos sociais exis-tentes na Terra, a família é o mais impor-tante, do ponto de vista dos alicerces moraisque regem a vida.

É pela conjunção sexual entre ohomem e a mulher que a Humanidade seperpetua no Planeta; em virtude disso, entrepais e filhos residem os mecanismos dasobrevivência humana, quanto à forma físi-ca, na face do orbe.

Fácil entender que é assim justamenteque nós, os espíritos eternos, atendendo aosimpositivos do progresso, nos revezamos naarena do mundo, ora envergando a posiçãode pais, ora desempenhando o papel defilhos, aprendendo, gradativamente, nacarteira do corpo carnal, as lições profundasdo amor do amor que nos soerguerá, umdia, em definitivo, da Terra para os Céus.

Com semelhantes notas, objetivamostão-só destacar a expressão calamitosa do

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aborto criminoso, praticado exclusivamentepela fuga ao dever.

Habitualmente nunca sempre somos nós mesmos quem planifica a for-mação da família, antes do renascimento ter-restre, com o amparo e a supervisão deinstrutores beneméritos, à maneira da casaque levantamos no mundo, com o apoio dearquitetos e técnicos distintos.

Comumente chamamos a nós antigoscompanheiros de aventuras infelizes, progra-mando-lhes a volta em nosso convívio, aprometer-lhes a esperança de elevação eresgate, burilamento e melhoria.

Criamos projetos, aventamos sugestões,articulamos providências e externamos votosrespeitáveis, englobando-nos com eles emsalutares compromissos que, se observados,redundarão em bênçãos substanciais paratodo o grupo de corações a que se nos vincu-la a existência. Se, porém, quando instaladosna Terra, anestesiamos a consciência, expul-sando-os de nossa companhia, a pretexto deresguardar o próprio conforto, não lhes

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podemos prever as reações negativas e,então, muitos dos associados de nossos errosde outras épocas, ontem convertidos, noPlano Espiritual, em amigos potenciais, àcusta das nossas promessas de compreensãoe de auxílio, fazem-se hoje e isso ocorrebastas vezes, em todas as comunidades daTerra inimigos recalcados que se nosentranham à vida íntima com tal expressãode desencanto e azedume que, a rigor, nosinfundem mais sofrimento e aflição que seestivessem conosco em plena experiênciafísica, na condição de filhos-problemas,impondo-nos trabalho e inquietação.

Admitimos seja suficiente breve me-ditação, em torno do aborto delituoso, parareconhecermos nele um dos grandesfornecedores das moléstias de etiologiaobscura e das obsessões catalogáveis napatologia da mente, ocupando vastos depar-tamentos de hospitais e prisões.

EMMANUEL

(Vida e Sexo, psicografia de Francisco C. Xavier,cap. 17, 24. ed. FEB.)

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Aborto delituoso

Comovemo-nos, habitualmente, diantedas grandes tragédias que agitam a opinião.

Homicídios que convulsionam aimprensa e mobilizam largas equipespoliciais...

Furtos espetaculares que inspiramvastas medidas de vigilância...

Assassínios, conflitos, ludíbrios e assal-tos de todo jaez criam a guerra de nervos,em toda parte; e, para coibir semelhantesfecundações de ignorância e delinqüência,erguem-se cárceres e fundem-se algemas,organiza-se o trabalho forçado e em algumasnações a própria lapidação de infelizes épraticada na rua, sem qualquer laivo decompaixão.

Todavia, um crime existe mais doloro-so, pela volúpia de crueldade com que é pra-ticado, no silêncio do santuário doméstico ouno regaço da Natureza...

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Crime estarrecedor, porque a vítimanão tem voz para suplicar piedade e nembraços robustos com que se confie aos movi-mentos da reação.

Referimo-nos ao aborto delituoso, emque pais inconscientes determinam a mortedos próprios filhos, asfixiando-lhes a exis-tência, antes que possam sorrir para abênção da luz................................................................

Homens da Terra, e sobretudo vós,corações maternos chamados à exaltação doamor e da vida, abstende-vos de semelhanteação que vos desequilibra a alma e entene-brece o caminho!

Fugi do satânico propósito de sufocaros rebentos do próprio seio, porque os anjostenros que rechaçais são mensageiros daProvidência, assomantes no lar em vossopróprio socorro, e, se não há legislaçãohumana que vos assinale a torpitude doinfanticídio, nos recintos familiares ou nasombra da noite, os olhos divinos de NossoPai vos contemplam do Céu, chamando-vos,

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em silêncio, às provas do reajuste, a fim deque se vos expurgue da consciência a faltaindesculpável que perpetrastes.

EMMANUEL

(Religião dos Espíritos, psicografia de Francisco C.Xavier, p. 17-18, 17. ed. FEB.)

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Doloroso crime...............................................................

E o aborto provocado, Assistente? inquiriu Hilário, sumamente interessado. Diante da circunspecção com que a suapalavra reveste o assunto, é de se presumirseja ele falta grave...

Falta grave?! Será melhor dizerdoloroso crime. Arrancar uma criança aomaterno seio é infanticídio confesso. A mu-lher que o promove ou que venha a coones-tar semelhante delito é constrangida, por leisirrevogáveis, a sofrer alterações deprimentesno centro genésico de sua alma, predispon-do-se geralmente a dolorosas enfermidades,quais sejam a metrite, o vaginismo, a metral-gia, o enfarte uterino, a tumoração cancero-sa, flagelos esses com os quais, muita vez,desencarna, demandando o Além para res-ponder, perante a Justiça Divina, pelo crimepraticado. É, então, que se reconhece redivi-va, mas doente e infeliz, porque, pela inces-sante recapitulação mental do ato abominá-vel, através do remorso, reterá por tempolongo a degenerescência das forças genitais.

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E como se recuperará dos lamen-táveis acidentes dessa ordem?

O Assistente pensou por momentosrápidos e acrescentou:

Imaginem vocês a matriz mutilada oudeformada, na mesa da cerâmica. Decertoque o oleiro não se utilizará dela para a mo-delagem de vaso nobre, mas aproveitar-lhe-áo concurso em experimentos de segunda eterceira classe... A mulher que corrompeuvoluntariamente o seu centro genésico rece-berá de futuro almas que viciaram a formaque lhes é peculiar, e será mãe de crimi-nosos e suicidas, no campo da reencarnação,regenerando as energias sutis do perispírito,através do sacrifício nobilitante com que sedevotará aos filhos torturados e infelizes desua carne, aprendendo a orar, a servir comnobreza e a mentalizar a maternidade pura esadia, que acabará reconquistando ao preçode sofrimento e trabalho justos..................................................................

ANDRÉ LUIZ

(Ação e Reação, psicografia de Francisco C. Xavier,cap. 15, p. 227-229, 1. ed. especial, FEB.)

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Gestação frustrada

Como compreenderemos os ca-sos de gestação frustrada quandonão há Espírito reencarnante paraarquitetar as formas do feto?

Em todos os casos em que há for-mação fetal, sem que haja a presença deentidade reencarnante, o fenômeno obedeceaos moldes mentais maternos.

Dentre as ocorrências dessa espéciehá, por exemplo, aquelas nas quais a mu-lher, em provação de reajuste do centrogenésico, nutre habitualmente o vivo desejode ser mãe, impregnando as células reprodu-tivas com elevada percentagem de atraçãomagnética, pela qual consegue formar com oauxílio da célula espermática um embriãofrustrado que se desenvolve, embora inutil-mente, na medida de intensidade do pensa-mento maternal, que opera, através deimpactos sucessivos, condicionando as célu-las do aparelho reprodutor, que lhe respon-dem aos apelos segundo os princípios de

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automatismo e reflexão. Em contrário, há,por exemplo, os casos em que a mulher, porrecusa deliberada à gravidez de que já seacha possuída, expulsa a entidade reencar-nante nas primeiras semanas de gestação,desarticulando os processos celulares daconstituição fetal e adquirindo, por seme-lhante atitude, constrangedora dívida ante oDestino.

Uberaba, 4-6-58.

ANDRÉ LUIZ

(Evolução em Dois Mundos, psicografias deFrancisco C. Xavier e Waldo Vieira, 2a parte, cap.13, 1. ed. especial, FEB.)

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Filho que não nasceu

Fui trazido ao teu colo e sussurro, bai- [xinho:

Mãe, eu serei na carne o sonho de teu [sonho!...

Depois, em prece ardente, em ti meus [olhos ponho,

Pássaro fatigado ante a úsnea do ninho.

Abraço-te. És comigo a esperança e o [caminho...

Em seguida oh! irrisão! , eis que, num [caos medonho,

Expulsas-me a veneno, e, bruto, me [empeçonho,

Serpe oculta a ferir-te em silêncio es- [carninho.

Já me dispunha a dar o golpe extremo, [quando

Surge alguém que me obriga a deixar-te [dançando

Em formoso salão onde o prazer fulgura.

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Passa o tempo. Hoje volto... É o amor que [em mim arde.

Mas encontro-te, oh! mãe, a gemer, triste [e tarde,

Sombra que foi mulher, enjaulada à [loucura...

JOSÉ GUEDES

(Antologia dos Imortais, Espíritos Diversos,psicografias de Francisco C. Xavier e Waldo Vieira,p. 307, 4. ed. FEB.)

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Aborto Criminoso

Reconhecendo-se que os crimes doaborto provocado criminosamente surgem,em esmagadora maioria, nas classes maisresponsáveis da comunidade terrestre, comoidentificar o trabalho expiatório que lhesdiz respeito, se passam quase totalmentedespercebidos da justiça humana?

Temos no Plano Terrestre cada povocom seu código penal apropriado à evoluçãoem que se encontra, mas, considerando oUniverso em sua totalidade como o ReinoDivino, vamos encontrar o Bem do Criadorpara todas as criaturas, como Lei Básica,cujas transgressões deliberadas são corrigidasno próprio infrator, com o objetivo natural deconseguir-se, em cada círculo de trabalho noCampo Cósmico, o máximo de equilíbriocom o respeito máximo aos direitos alheios,dentro da mínima quota de pena.

Atendendo-se, no entanto, a que aJustiça Perfeita se eleva, indefectível, sobreo Perfeito Amor, no hausto de Deus em que

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nos movemos e existimos , toda reparação,perante a Lei Básica a que nos reportamos,se realiza em termos de vida eterna e nãosegundo a vida fragmentária que conhece-mos na encarnação humana, porquanto, umaexistência pode estar repleta de acertos edesacertos, méritos e deméritos e a Miseri-córdia do Senhor preceitua, não que o delin-qüente seja flagelado, com extensão indis-criminada de dor expiatória, o que seriavolúpia de castigar nos tribunais do destino,invariavelmente regidos pela EqüidadeSoberana, mas sim que o mal seja suprimidode suas vítimas, com a possível redução desofrimento.

Desse modo, segundo o princípio uni-versal do Direito Cósmico a expressar-se,claro, no ensinamento de Jesus que mandaconferir a cada um de acordo com aspróprias obras , arquivamos em nós as raízesdo mal que acalentamos, para extirpá-las àcusta do esforço próprio, em companhiadaqueles que se nos afinem à faixa de culpa,com os quais, perante a Justiça Eterna, osnossos débitos jazem associados.

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Em face de semelhantes fundamentos,certa romagem na carne, entremeada decréditos e dívidas, pode terminar comaparências de regularidade irrepreensívelpara a alma que desencarna, sob o apreçodos que lhe comungam a experiência,seguindo-se de outra em que essa mesmacriatura assuma a empreitada do resgatepróprio, suportando nos ombros as conse-qüências das culpas contraídas diante deDeus e de si mesma, a fim de reabilitar-seante a Harmonia Divina, caminhando, assim,transitoriamente, ao lado de Espíritos incur-sos em regeneração da mesma espécie.

É dessa forma que a mulher e ohomem, acumpliciados nas ocorrências doaborto delituoso, mas principalmente a mu-lher, cujo grau de responsabilidade nas faltasdessa natureza é muito maior, à frente davida que ela prometeu honrar com nobreza,na maternidade sublime, desajustam asenergias psicossomáticas, com mais pene-trante desequilíbrio do centro genésico,implantando nos tecidos da própria alma a

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sementeira de males que frutescerão, maistarde, em regime de produção a tempo certo.

Isso ocorre não somente porque oremorso se lhes entranhe no ser, à feição devíbora magnética, mas também porqueassimilam, inevitavelmente, as vibrações deangústia e desespero e, por vezes, de revoltae vingança dos Espíritos que a Lei lhes reser-vara para filhos do próprio sangue, na obrade restauração do destino................................................................

ANDRÉ LUIZ

(Evolução em Dois Mundos psicografias deFrancisco C. Xavier e Waldo Vieira, 2a parte, cap.14, 1. ed. especial, FEB.)

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Infortúnio materno

Em pleno hospital da Espiritualidade,pobre criatura estendeu-nos o olhar supli-cante e rogou:

O senhor consegue escrever para aTerra?

Quando mo permitem repliqueientre pesaroso e assombrado.

Quem era aquela mulher que me inter-pelava desse modo?

A fisionomia escaveirada exibia recor-dações da morte. A face inundada de prantotinha esgares de angústia e as mãosesqueléticas e entrefechadas davam a idéiade garras em forma de conchas.

Dante não conseguiria trazer doInferno imagem mais desolada de sofrimen-to e terror.

Escreva, escreva! repetia chorando.

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Mas escrever a quem?

Às mulheres... clamou a infeliz. Rogue-lhes não fujam da maternidade nobree digna... peço não façam do casamento umaestação de egoísmo e ociosidade...

Os soluços a lhe rebentarem do peitoinduziam-nos a doloroso constrangimento.

E a infeliz contou em lágrimas:

Estive na Terra, durante quase meioséculo... Tomei corpo entre os homens, apósentender-me com um amigo dileto queseguiu, antes de mim, no rumo da arena car-nal, onde me recebeu nos braços de esposodevotado e fiel. Com assentimento dosinstrutores, cuja bondade nos obtivera oretomo à escola física, comprometemo-nos arecolher oito filhinhos, oito corações denosso próprio passado espiritual, que pornossa culpa direta e indireta jaziam nasfurnas da crueldade e da indisciplina...Cabia-nos acolhê-los carinhosamente, reno-vando-lhes o espírito, ao hálito de nosso

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amor... Suportar-lhes-íamos as falhas renas-centes, corrigindo-as pouco a pouco, aopreço de nossos exemplos de bondade erenúncia... Nós mesmos solicitáramos seme-lhante serviço... Para alcançar mais altosníveis de evolução, suplicamos a provareparadora... Saberíamos morrer gradativa-mente no sacrifício pessoal, para que osassociados de nossos erros diante da LeiDivina recuperassem a noção da dignidade.

A triste narradora fez longa pausa quenão ousamos interromper e continuou:

Entretanto, casando-me com Cláudio,o amigo a que me reportei, fui mãe de umfilhinho, cujo nascimento não pude evitar...

Paulo, o nosso primogênito, era umapérola tenra em nossas mãos... Despertavaem meu ser comoções que o verbo humanonão consegue reproduzir... Ainda assim,acovardada perante a luta, por mais meadvertisse o esposo abençoado, transmitindoavisos e apelos da Vida Superior, detestei a

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maternidade, asilando-me no prazer...Cláudio era compelido a gastar largas somaspara satisfazer-me nos caprichos da moda...Mas a frivolidade social não era o meucrime... Nas reuniões mundanas maisaparentemente vazias pode a alma aprendermuito quando resolve servir ao bem...Cristalizada, contudo, na preguiça, qual florinútil a viver no luxo dourado, por dozevezes pratiquei o aborto confesso... Surda,aos ditames da consciência que me ordenavao apostolado maternal, expulsei de mim osantigos laços que em outro tempo seacumpliciavam comigo na delinqüência,assassinando as horas de trabalho que oSenhor me havia facultado no campo femi-nino... E, após vinte anos de teimosiadelituosa, ante o auxílio constante que meera conferido pelo Amparo Celestial, nossosBenfeitores permitiram, para minha edifi-cação, fosse eu entregue aos resultados deminha própria escolha... Enlaçada magneti-

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camente àqueles que a Divina Bondade merestituiria por filhos ao coração e aos quaisrecusei guarida em minha ternura, fui obri-gada a tolerar-lhes o assalto invisível, de vezque, seis deles, extremamente revoltadoscontra a minha ingratidão, converteram-seem perseguidores de minha felicidadedoméstica... Fatigado de minhas exigências,meu esposo refugiou-se no vício, terminandoa existência num suicídio espetacular... Meufilho, ainda jovem, sob a pressão dosperseguidores ocultos que formei para anossa casa, caiu nas sombras da alienaçãomental, desencarnando em tormento indes-critível num desastre da via pública, e eu...pobre de mim, abordando a madureza,conheci a dolorosa tumoração das própriasentranhas... A veste carnal, como que hor-rorizada de minha presença, expulsou-mepara os domínios da morte, onde me arrasteilargo tempo, com todos os meus débitos ter-rivelmente agravados, sob a flagelação e o

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achincalhe daqueles a quem podia ter reno-vado com o bálsamo de meu leite e com abênção de minha dor...

A desditosa enferma enxugou as lágri-mas com que nos acordava para violentaemoção e terminou:

Fale de minha experiência às nossasirmãs casadas e robustas que dispõem desaúde para o doce e santo sacrifício de mãe!Ajude-as a pensar... Que não transformem omatrimônio na estufa de flores inebriantes eimprodutivas, cujo perfume envenenado lhesabreviará o passo na direção das trevas...Escreva!... Diga-lhes algo do martírio queespera, além da morte, quantos quiseramludibriar a vida e matar as horas.

A mísera doente, sustentada por braçosamigos, foi conduzida a vasta câmara derepouso e, impressionados com tamanhoinfortúnio, tentamos cumprir-lhe o desejo etransmitir-lhe a palavra; contudo, apesar dorespeito que consagramos à mulher de nosso

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tempo, cremos que o nosso êxito seria maisseguro se caminhássemos para um cemitérioe assoprássemos a mensagem para dentro decada túmulo.

IRMÃO X

(Contos e Apólogos, psicografia de Francisco C.Xavier, cap. 39, 9. ed. FEB.)

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Seara de ódio

Não! não te quero em meus braços! dizia a jovem mãe, a quem a Lei do Senhor

conferira a doce missão da maternidade,para o filho que lhe desabrochava do seio não me furtarás a beleza! Significas trabalho,renunciação, sofrimento...

Mãe, deixa-me viver!... suplica-va-lhe a criancinha no santuário da consciên-cia estamos juntos! Dá-me a bênção docorpo! Devo lutar e regenerar-me. Sorvereicontigo a taça de suor e lágrimas, procu-rando redimir-me... Completar-nos-emos.Dá-me arrimo, dar-te-ei alegria. Serei orebento de teu amor, tanto quanto seráspara mim a árvore de luz, em cujos ramostecerei o meu ninho de paz e de esperança...

Não, não...

Não me abandones!

Expulsar-te-ei.

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Piedade, mãe! Não vês que pro-cedemos de longe, alma com alma, coraçãoa coração?

Que importa o passado? Vejo em titão-somente o intruso, cuja presença não pedi.

Esqueces-te, mãe, de que Deus nosreúne? Não me cerres a porta!...

Sou mulher e sou livre. Sufocar-te-eiantes do berço...

Compadece-te de mim!...

Não posso. Sou mocidade e prazer,és perturbação e obstáculo.

Ajuda-me!

Auxiliar-te seria cortar em minhaprópria carne. Disputo a minha felicidade ea minha leveza feminil...

Mãe, ampara-me! Procuro o serviçode minha restauração...

Dia a dia, renovava-se o diálogo sempalavras, até que, quando a criança tentava

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vir à luz, disse-lhe a mãezinha cega e infor-tunada, constrangendo-a a beber o fel dafrustração:

Toma à sombra de onde vens! Morre!Morre!

Mãe, mãe! Não me mates! Protege--me! Deixa-me viver...

Nunca!

Socorre-me!

Não posso.

Duramente repelido, caiu o pobre filhonas trevas da revolta e, no anseio desespera-do de preservar o corpo tenro, agarrou-se aocoração dela, que destrambelhou, à maneirade um relógio desconsertado...

Ambos, então, ao invés de continuaremna graça da vida, precipitaram-se no despe-nhadeiro da morte.

Desprovidos do invólucro carnal, proje-taram-se no Espaço, gritando acusaçõesrecíprocas.

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Achavam-se, porém, imanados um aooutro, pelas cadeias magnéticas de pesadoscompromissos, arrastando-se por muitotempo, detestando-se e recriminando-semutuamente...

A sementeira de crueldade atraíra aseara de ódio. E a seara de ódio lhes impu-nha nefasto desequilíbrio.

Anos e anos desdobraram-se, sombriose inquietantes, para os dois, até que, um dia,caridoso Espírito de mulher recordou-sedeles em preces de carinho e piedade, comoa ofertar-lhes o próprio seio. Ambos respon-deram, famintos de consolo e renovação,aceitando o generoso abrigo...

Envolvidos pela carícia maternal, re-pousaram enfim.

Brando sono pacificou-lhes a mentedolorida.

Todavia, quando despertaram de novona Terra, traziam o estigma do clamorosodébito em que se haviam reunido, reapare-

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cendo, entre os homens, como duas almasapaixonadas pela carne, disputando omesmo vaso físico, no triste fenômeno de umcorpo único, sustentando duas cabeças.

IRMÃO X

(Contos e Apólogos, psicografia de Francisco C.Xavier, cap. 11, 9. ed. FEB.)

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