Caderno de Saúde Março 2012

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Editora responsável : Themys Cabral [email protected] GAZETA DO POVO Quarta-feira, 14 de março de 2012 Aplicativos para smartphones e tablets ajudam o usuário a cuidar da saúde PáGINA 3 Veja como escolher bem o seu colchão e garantir noites de sono mais tranquilas PáGINA 6 Aprenda a aplicar a manobra que ajuda a expulsar o alimento em casos de engasgos PáGINA 8 Aço inoxidável, titânio, cromo, cobalto, nylon, acrílico, cerâmicas, polie- tileno, silicone e PVC. Reportagem especial deste mês mostra como estes e outros materiais fazem parte do nosso corpo hoje em dia Página 4 e 5 O homem biônico

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Suplemento do Jornal Gazeta do Povo

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Page 1: Caderno de Saúde Março 2012

Editora responsável : Themys [email protected]

GAZETA DO POVOQuarta-feira, 14 de março de 2012

Aplicativos para smartphones e tablets ajudam o usuário a cuidar da saúde

Página 3

Veja como escolher bem o seu colchão e garantir noites de sono mais tranquilas

Página 6

Aprenda a aplicar a manobra que ajuda a expulsar o alimento em casos de engasgos

Página 8

Aço inoxidável, titânio, cromo, cobalto, nylon, acrílico, cerâmicas, polie-tileno, silicone e PVC. Reportagem especial deste mês mostra como estes e outros materiais fazem parte do nosso corpo hoje em diaPágina 4 e 5

O homem biônico

Page 2: Caderno de Saúde Março 2012

2 GAZETA DO POVOQuarta-feira, 14 de março de 2012saúde

NotasEU SUPEREI

Jorge Magno Lima, 75 anos: diagnosticado depois que o banco começou a devolver seus cheques.

Rafaela Bortolin

A doença é degenerativa e progressiva, compromete os movimentos e muda a rotina do portador. Desde

amarrar o cadarço do tênis ou abrir um pote de margarina até dirigir ou contar cédulas de dinheiro, há tare-fas que ficam mais complicadas para quem tem Parkinson. Mas se engana quem pensa que isso impe-diu o comerciante aposentado Jorge Magno Lima, 75 anos, diagnosticado com o problema há 25 anos, de viver da melhor forma possível. Pode parecer exagero, mas ele garante: a vida ficou melhor depois do Parkinson.

“Faço tudo o que sempre fiz. Claro que com certa dificuldade, mas os sintomas não inviabilizaram uma vida normal. Às vezes, tenho crises em que minha musculatura fica rígi-da e não consigo me mover direito. Espero passar e volto às minhas ativi-dades. Não é o Parkinson que vai me impedir de ser feliz.”

E não demora para Lima abrir um

“O Parkinson não me impede de ser feliz”

expediente

Caderno Saúde é um suplemento es pecial da Gazeta do Povo de senvolvido pelo núcleo de Saúde. Diretora de Redação: Maria Sandra gonçalves. Edito r Execu tivo: guido Orgis. Edição: Themys Cabral. Design de Página: allan Reis. Capa: Banco de imagem. Re da ção: (41) 3321-5316. Fax: (41) 3321-5472. Co mer cial: (41) 3321-5904. Fax: (41) 3321-5300. E-mail: saude@ga zeta do povo. com.br. Endereço: R. Pedro ivo, 459. Curi tiba-PR.CEP: 80.010-020. Não pode ser vendido separadamente.

Próxima edição

11 de abril

Felip

e Ros

a / G

azet

a do

Pov

osorriso quando começa a enume-rar as mudanças em sua vida após o diagnóstico. “Virei poeta, passei a estudar música e perdi o medo de usar o computador. Antes, fugia o quanto podia do mouse.”

Lima lembra que descobriu a doença por acaso. “O banco devol-veu uma série de cheques meus alegando problemas na assinatura. Quando fui comparar, vi que minha letra estava modificada. Um médico me diagnosticou com a Síndrome do Escrivão, problema de pessoas que passam o dia escre-vendo. Depois de dois anos, conse-guimos identificar o Parkinson.”

Sobre o diagnóstico, ele diz que o primeiro passo é aceitar o proble-ma. “Não adianta ficar revoltado. É comum questionar ‘por que eu?’, mas o sofrimento é dispensável e não leva a nada. A pessoa precisa parar de se queixar, levantar a cabe-ça e se adaptar à nova realidade.”

Um dos problemas para os por-tadores, segundo Lima, é que, como a doença ainda é envolta em uma série de mitos, acaba gerando preconceito. “Nas ruas, as pessoas

nos olham assustadas e acham nos-so comportamento estranho, pen-sam que estamos bêbados ou dro-gados e se afastam. Há quem tenha até receio de colocar as mãos, por achar que é contagioso. Hoje, o por-tador de Parkinson não luta somen-te contra a doença, mas enfrenta uma batalha ainda mais dura con-tra o preconceito.”

Morando em Curitiba há 12 anos, Lima explica que desde que chegou à cidade percebeu que os próprios portadores desconhe-ciam a doença. Por isso, decidiu criar um grupo de apoio, que deu origem à Associação Paranaense de Portadores de Parkinsonismo (APPP), da qual ele é o presidente. “Hoje temos uma lista grande de atendimentos oferecidos, como neurologia, acupuntura, nutrição e musicoterapia, além de ativida-des, como coral e grupo de dança. Não poderia prever tanto sucesso.”

seRViço

A APPP fica na Avenida Silva Jardim, 3180.

Informações nos telefones (41) 3014-5617 e

(41) 3014-5618 e no site www.appp.com.br.

Doença de ParkinsonÉ uma doença degenerativa causada pela falta de algumas substâncias no cérebro, principalmente a dopamina, um neurotransmissor que facilita a comunicação dos neurônios. Sem ela, os movimentos do corpo deixam de ser harmônicos. O problema não tem cura e não há formas de prevenção. Em média, aparece a partir dos 60 anos, mas há casos inclusive em adolescentes.

SintomasSão três: tremor, rigidez e lentidão de movimento. Para ser diagnosticada com Parkinson, a pessoa precisa ter dois deles. Com a evolução da doença, o paciente passa a ter perda de equilíbrio.

CausasCogita-se que apareça por causa de predisposição genética e uma combinação de fatores ambientais (como exposição a toxinas nocivas durante a vida).

Fonte: Renato Puppi Munhoz, médico neu-

rologista da Associação Paranaense dos

Portadores de Parkinsonismo.

ciÊnciA

Dormir mal aumenta risco de prematuro

❚ Um estudo publicado no perió-dico científico Sleep mostra um risco significativo de parto pre-maturo em mulheres que relata-ram sono interrompido durante o primeiro e o terceiro trimes-tres. Para os autores, a má quali-dade do sono pode iniciar uma inflamação, possivelmente ati-vando processos associados à prematuridade. A interrupção do sono pode estar associada também ao estresse, conhecido por sua relação com a inflama-ção. A qualidade do sono no segundo trimestre de gestação não foi correlacionada com o aumento do risco de parto pre-maturo, segundo a pesquisa. Os autores dizem que nesse perío-do o sono frequentemente melhora, mas ainda não se sabe bem o porquê.

conteúdo extRANo site www.gazetadopovo.com.br/saude, você confere outros

trechos da entrevista com

Jorge Magno.

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GAZETA DO POVO Quarta-feira, 14 de março de 2012 3saúde

Tecnologia

Dâmaris Thomazini

Eles não substituem os médicos, nem a ida ao con-sultório, mas facilitam a vida de quem se preocupa

com a saúde. Os aplicativos (apps) disponíveis para smartphones e tablets prestam um serviço que ajuda os pacientes a administrar seus remédios durante o dia, a contar as calorias das refeições, monitorar o sono, o índice de gli-cose e até o período menstrual. A maioria dos apps, ainda, é gratui-ta e usar a ferramenta não traz dificuldades mesmo para aqueles menos familiarizados com inova-ções tecnológicas.

“Antes dos aplicativos serem inventados, as pessoas criavam várias alternativas para não esque-cer seus remédios: escreviam men-sagens nos calendários, colocavam a embalagem do remédio ao lado da pasta de dente. Hoje, os pacien-tes sempre estão com os celulares ao lado e os apps facilitam o proces-so”, analisa o ginecologista e dire-tor da unidade de negócios de saú-de feminina do laboratório Bayer, Fernando Caron.

Preocupado com o fato de sua sogra, uma senhora de 84 anos, esquecer de tomar seus remédios com frequência e até trocá-los, o engenheiro industrial Hélio Antônio Assalim decidiu agir por meio da tecnologia. Mesmo sem conhecer profundamente o fun-cionamento das plataformas iPhone e iPad, ele idealizou o app É Hora. “Primeiro pensei em um programa de computador, mas isso não seria tão ágil. Ter algo a mão seria melhor. Desenhei o projeto e demos um iPad para minha sogra melhorar seu con-trole de medicações”, conta.

Confira as sugestões de apps de saúde:

Seja medindo

a quantidade

de calorias

ingeridas ou

lembrando a

hora de tomar

um remédio,

aplicativos para

smartphones e

tablets facilitam

cuidados do

dia a dia

Cuidado na ponta dos dedos

hoRA dA pílulABastante popular entre o público feminino, este app fornece lembretes que indicam o momento em que a mulher deve tomar a pílula anticoncepcional diária. As configurações permitem ajustar o melhor horário para o lembrete. O layout apresenta uma cartela com a quantidade de pílulas da embalagem real.

Compatível com: iPhone, iTouch e iPad.Grátis

sleep cYcle AlARm clocKNão só acorda o usuário, mas também analisa a qualidade do sono. Antes de dormir é preciso colocar o aparelho sobre o lençol, com a tela virada para baixo. O aplicativo monitora os movimentos da pessoa enquanto ela dorme. Ao despertar, é possível conferir um gráfico com cada fase do sono.

Compatível com: iPhone, iTouch e iPad.Pago: USD 0.99

cAloRie counteR & diet tRAcKeR Tem um banco de dados com mais de 1 milhão de alimentos. O app conta calorias da dieta e fornece gráficos com grupos de nutrientes mais consumidos pelo usuário. Dá para traçar metas para perder peso e registrar exercícios físicos feitos. Apesar de ser em inglês, tem informações em português.

Compatível com: iPhone, iTouch, iPad, Android, Blackberry e Windows Phone 7.Grátis

peRiod diARY Registra o período menstrual da usuária. Nele é possível gravar dados sobre sintomas como dores de cabeça e cólicas recorrentes. O app produz gráficos e relatórios dos ciclos, que podem ser enviados por e-mail e ser muito úteis durante a conversa com o médico.

Compatível com: iPhone, iTouch e iPad.Grátis

dRinKing WAteREste aplicativo lembra o usuário de tomar a quantidade de água necessária durante o dia. É possível programar o número de copos a serem consumidos. O app emite sons que indicam que é hora de uma pausa para se hidratar, além de compor um gráfico sobre o hábito de beber este líquido tão importante.

Compatível com: Android.Grátis

ViRtuAgYmCom este personal trainner virtual, o usuário pode fazer várias séries de exercícios físicos, durante o tempo que tiver disponível – mesmo que sejam apenas 15 minutinhos por dia. Um avatar 3D mostra como os movimentos devem ser feitos, o que facilita a vida de quem deseja entrar em forma sem errar os exercícios.

Compatível com: Android.Grátis

sleep Bot tRAcKeR logAssim como o Sleep Cycle para iPods, este app analisa o sono do usuário, disponibiliza informações em gráficos, indica quantas vezes a pessoa acordou durante a noite e também faz o mais simples: funciona como um despertador.

Compatível com: Android.Grátis

pillBoxieMemória fraca não é mais desculpa. O aplicativo lembra a hora certa de tomar o remédio. Ele tem uma série de imagens de pílulas, comprimidos, cápsulas, inalador, injeção e pó, que deixam o processo mais atrativo. Dá para escolher o formato, as cores dos medicamentos e escrever o nome de cada um.

Compatível com: iPhone, iTouch e iPad.Grátis

glicocARePermite que o usuário acompanhe suas medidas de glicose e tenha acesso a gráficos, dicas de saúde e de atividades físicas para controlar o nível de açúcar no sangue. Os registros podem ajudar o paciente a expor, de forma mais fácil, as variações de seu nível de glicose ao médico.

Compatível com: iPhone, iTouch e iPad.Grátis

conteúdo extRAVeja outros aplicativos

para saúde em

www.gazetadopovo.com.br/saude

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4 GAZETA DO POVOQuarta-feira, 14 de março de 2012saúde

Ciência

Rafaela Bortolin

Aço inoxidável, titânio, cro-mo, cobalto, nylon, acrílico, cerâmicas, polietileno, sili-cone e PVC. Esta pode até

parecer uma lista do que é necessário para fazer algum experimento, mas, acredite: esses e outros materiais são usados hoje no corpo humano para substituir tecidos, cartilagens, ossos danificados, realizar implantes den-tários, re-estabelecer funções orgâni-cas e até melhorar a autoestima e a qualidade de vida dos pacientes. E esse avanço não deve parar por aí. Segundo especialistas, em um futu-ro próximo, a expectativa é de que as pesquisas abram caminho para a produção de órgãos.

De acordo com o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente da Sociedade Latino Americana de Biomateriais, Engenharia de Tecidos e Orgãos Artificiais (Slabo), Luís Alberto dos Santos, os chamados bio-materiais, produtos sintéticos com-patíveis para utilização no corpo humano, são usados principalmen-te nas áreas de ortopedia, odontolo-gia e em realização de implantes.

Em comum, todos têm duas características: a durabilidade e a resistência. “Os fluidos corpóreos podem ser comparados com a água do mar, por sua capacidade de dani-ficar materiais. Por isso, cada pro-duto usado dentro do organismo precisa ter grande capacidade de aguentar corrosão”, explica a pro-fessora do departamento de En -genharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Cecília Zavaglia.

Embora alguns dos materiais sejam os mesmos usados na indús-

tria, para a nobre destinação na medicina eles precisam passar por rígidos controles de qualidade e até mudanças em sua composição. “São materiais bem similares aos usados no dia a dia e na indústria, mas são produzidos com normas próprias quanto à composição química e em ambientes que seguem o grau médi-co, com cuidados redobrados de higiene e limpeza”, esclarece Santos.

Com isso, o silicone de cirurgias de implante tem uma composição diferente do usado na indústria, assim como o aço inoxidável de pró-teses não é o mesmo do usado em panelas, carros e navios. “E é fácil notar o tamanho do problema quando há troca. Foi o que aconte-ceu com as próteses de silicone PIP, na França. O gel médico foi trocado pelo industrial, que é mais barato, mas tem qualidade inferior, o que causou rupturas”, diz. No Brasil, o controle dos produtos é feito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

DanosAlém das normas de higiene e segu-rança, os pesquisadores se preocu-pam em verificar se o material não causa danos ao organismo. “Eu não posso desenvolver um produto para substituir um osso do pé e ele gerar dor no joelho, alergia ou até um cân-cer. Tudo tem que funcionar sem danos, da mesma forma como acon-tece com os ossos e tecidos do corpo”, explica a professora Cecília.

Mas ela garante que, como são amplamente testados antes da fase de implantação no corpo, são raros os casos de reações do organismo ao material. “São anos ou até décadas de testes, então o produto final, quando aprovado para uso, é seguro.”

Materiais como

cerâmicas, nylon, aço

inoxidável e titânio são

usados para substituir

tecidos danificados e

melhorar a qualidade

de vida dos pacientes.

E os especialistas

garantem: em poucos

anos, será possível até

produzir órgãos com

biomateriais

Da indústria para o corpo humano

BocA, dentes e fAce Feitos em hidroxiapatita, óxido de alumínio, polietileno ou cerâmica, os implantes dentários são resistentes a desgaste e podem substituir dentes (ou partes deles) e ossos da mandíbula. Também há técnicas de regeneração de dentes e ossos da face a partir de celulose bacteriana.

Rosto e coRpo É possível usar injeção de peças de acrílico para tirar rugas, fazer preenchimento facial e moldar as formas do rosto. Em outras partes do corpo, como braços, nádegas e pernas, o produto é utilizado para aumentar o volume da região e passar uma impressão de definição muscular.

colunA VeRteBRAl É possível injetar porções de acrílico na coluna em caso de ruptura de uma ou mais vértebras.

cARtilAgens A partir de polímeros, são desenvolvidas cartilagens artificiais para substituir tecidos danificados. Também é possível empregar hidrogel para preencher falhas em orelhas, joelhos e outras articulações.

ossos Podem ser feitas próteses para substituição de ossos ou articulações inteiras usando materiais como aço inoxidável, titânio, cromo, cobalto ou biovidro, uma composição rica em cálcio e fósforo. Outro material que ganha força é a hidroxiapatita, substância com uma composição química semelhante a dos ossos e dentes e que pode tanto substituir quanto colaborar na regeneração dessas partes.

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GAZETA DO POVO Quarta-feira, 14 de março de 2012 5saúde

seios, pAntuRRilhA e nádegAs Um dos biomateriais mais conhecidos, o silicone pode ser usado de maneira estética.

pele Fios de nylon podem ser utilizados, externa ou internamente, para realizar pontos e sutura em cirurgias. Películas de celulose bacteriana também são usadas para realizar enxertos e facilitar a regeneração da pele.

VAsos sAnguíneos Feitos a partir de polímeros, pequenos tubos substituem artérias e veias.

olhos Lentes de acrílico intraoculares podem ser implantadas para acabar com a catarata.

dedos Implantes de juntas são feitos em silicone.

coRAção Desenvolvimento de corações artificiais, marcapassos e válvulas cardíacas, que podem ser orgânicas (feitas a partir de válvulas de animais) ou artificiais (produzidas com liga de titânio ou poliacetato). Ganham força as pesquisas de válvulas descelularizadas, obtidas de doares de múltiplos órgãos – estruturas sem as células, que são repovoadas por células in vitro. Nos últimos anos, também vem se desenvolvendo o implante de stents, próteses metálicas colocadas dentro de artérias obstruídas.

cRânio, ossos e memBRos É possível utilizar placas e parafusos de aço inoxidável ou titânio para fixação de fraturas, seja somente durante o período pós-operatório – para fixar o resultado da cirurgia – ou de maneira permanente. Além dos metais, podem ser confeccionados parafusos e placas bioabsorvíveis usando ácido polilático.

Em alguns anos ou, no máximo, décadas, a meta é que os bioma-teriais não sejam mais usados para substituição de tecidos. Uma tendência que se fortalece é a da engenharia de tecidos, com cultivo de células – seja células-tronco, células da própria pessoa ou de outras –, para desenvolvimento e implante de tecidos, órgãos e até membros.

“Imagine que a pessoa perdeu um pé. Com o desen-volvimento da engenharia de tecidos, vai ser possível que ela vá a uma clínica e escolha um pé para um implante ou poderemos escanear o outro pé, desenvolver uma estrutura de pele, mús-culos, ossos e tendões, semear células retiradas do paciente, desenvolver esses tecidos e fazer a cirurgia para implantar um pé igual ao que ela tinha”, explica o presidente da Slabo, Luís Alberto dos Santos.

Neste caso, os biomateriais seriam utilizados somente como um arcabouço onde as células se desenvolveriam até serem implantadas no organismo. “Em inglês, é o que chamamos de scaffolding, aquela estrutura temporária de madeira que se usa em construções até que a estrutura final esteja pronta e ela possa ser retirada. Com ela, o tecido do implante se desenvol-veria, o biomaterial seria absor-vido pelo organismo e a pessoa teria de volta o tecido ou órgão comprometido.”

Segundo Santos, há pes-quisas com testes em animais para criar órgãos de maneira experimental, como bexiga, pulmão, rim e coração, além de estudos para o uso de impresso-ras capazes de produzir células e biomateriais. “É um trabalho minucioso, que ainda deve demandar tempo para gerar resultados, mas as expectativas para o futuro são as melhores possíveis.”

ExpEctativaBiomateriais vão dar lugar à engenharia

Os biomateriais não são usados apenas para substituir tecidos,

mas, em alguns casos, para ajudar na regeneração. Em uma neuroci-rurgia, por exemplo, é preciso fazer uma abertura no crânio e até tirar

Materiais também contribuem com a regeneração

pedaços de osso inteiros para che-gar ao cérebro. Para fechar essa abertura, são usadas peças absorví-veis de hidroxiapatita. “Como o tecido ósseo identifica esse mate-rial como osso também, cresce em cima dele e se regenera. Em algum tempo, a hidroxiapatita é total-mente absorvida e o paciente volta a ter seu osso normalmente”, expli-ca o presidente da Slabo, Luís Alberto dos Santos.

Hoje, um processo semelhante é feito em casos de implantes den-

tários. Segundo o professor do Laboratório de Biomateriais do Instituto Militar de Engenharia (IME) Carlos Nelson Elias, quando há perda de um dente devido a des-gaste, o organismo começa a absor-ver o osso e, para resolver esse pro-blema, é usado um biomaterial que induz as células a se diferenciarem. “Após 8 a 10 meses da colocação do biomaterial, há formação de osso com qualidade adequada para per-mitir o implante e para suportar as cargas mastigatórias.”

Fontes: Carlos Nelson Elias, professor do Laboratório de Biomateriais

do IME; Cecília Zadaglin, professora da Engenharia Mecânica da

Unicamp; Tatiana Santos de Araújo Batista, professora do Instituto

Federal de Sergipe; Luís Alberto dos Santos, presidente da Slabo;

Reinaldo Marchetto, professor do Instituto de Química da Unesp;

Mário José Dallavalli, professor do departamento de Engenharia

Química da UFPR; Francisco Diniz Affonso da Costa, chefe de Cirurgia

Cardíaca do Hospital Santa Casa de Curitiba.

Page 6: Caderno de Saúde Março 2012

Um colchão não deve ser só de molas: elas são acompanhadas por uma camada extra em espuma, látex ou viscoe lástico, chamada pillow top.

u Vantagens: acompanha o movimento do corpo; respeita a curvatura da coluna; tem durabilidade e boa adaptação para casais. Prefira as molas ensacadas, em que a superfície se mantém estável onde não há pressão. Molas entrelaçadas ou bonnel garantem molejo, mas, se usadas por casal, caso um se mexa, o outro sentirá.

u desvantagens: se o colchão não for de boa qualidade e se não for bem conservado, as molas centrais afundam no centro.

u preço*: solteiro R$ 500 a R$ 5,2 mil e casal R$ 800 a R$ 8,1 mil (colchão com mola e outro material).

A dica é procurar a densidade 28, que possui uma maciez intermediária e é coringa para a maioria das pessoas. A densidade 32 é mais dura e necessita de um tempo de adaptação para que o corpo se acostume a ela.

u Vantagens: preço mais acessível.

u desvantagens: não é ideal para casais, pois ao escolher uma densidade, um dos dois dormirá em um colchão inapropriado; baixo poder de amortecimento; com o tempo a espuma perde a capacidade de voltar para a forma original.

u preço*: solteiro R$ 300 a R$ 1,2 mil e casal R$ 500 a R$ 1,8 mil.

O látex pode ser do tipo natural ou sintético.

u Vantagens: material mais nobre, é recomendado para todas as pessoas; rígido, mas também macio, o látex mantém muito bem a curvatura da coluna e se adapta aos demais contornos do corpo; é recomendado para quem transpira demais; higiênico, inibe a proliferação de fungos, ácaros e bactérias, sendo um alternativa ideal para os alérgicos.

u desvantagens: como é feito com uma matéria-prima mais nobre, há um reflexo no preço do produto, que, em média, é mais alto do que o dos demais materiais.

u preço*: solteiro R$ 2,6 mil, em média, e casal R$ 3,8 mil, em média.

Espuma sintética. A dica é não comprar um colchão totalmente viscoelástico. O ideal é que ele tenha, no máximo, entre 50% a 70% deste material.

u Vantagens: grande maciez e sensação de conforto; capacidade de deformar e retornar ao formato original;

u desvantagens: é o colchão que mais recebe críticas dos usuários em relação a dores no corpo; a maciez excessiva exige que a pessoa faça mais força para mudar de posição durante o sono, o que a leva a despertar mais durante a noite; a possibilidade de mobilidade é menor; não oferece resistência à pressão.

u preço*: solteiro R$ 700 a R$ 1 mil e casal R$ 1 mil a R$ 1,5 mil (colchão com molas e viscoelástico).

Molas EspuMa látEx viscoElástico

6 GAZETA DO POVOQuarta-feira, 14 de março de 2012saúde

Compare

Dâmaris Thomazini

Escolher o colchão errado não prejudica somente a qualidade do sono: o corpo todo sofre na tentativa de se

acomodar sobre uma superfície desconfortável. “Um colchão ruim pode provocar insônia e tensão muscular, o que acarreta dores crônicas, problemas na coluna e

vícios de postura”, alerta a coorde-nadora da escola da coluna do cur-so de Fisioterapia da Pontifícia Uni ver sidade Católica do Paraná (PUCPR), Auristela Moser. Dormir em um colchão confortável contri-bui para um sono tranquilo, o que traz reflexos diretos na disposição e produtividade durante o dia.

Segundo o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), quem che-gar aos 60 anos terá passado pelo menos 20 anos de sua vida deitado sobre um colchão. Dormir por duas décadas sobre um produto inapropriado rende dores de cabe-

ça, torcicolos, incômodos muscu-lares e na região lombar.

“Não existe um colchão para cada tipo de problema de coluna. O produto precisa ser confortável e ajudar a manter as curvas fisio-lógicas do corpo para que, quando deitados, a coluna se mantenha na mesma posição de quando esta-mos em pé”, explica o vice-presi-dente da regional paranaense da Socie dade Brasi leira de Ortopedia (SOB) e chefe do grupo de coluna do Hospital de Clínicas da Univer-sidade Federal do Paraná (UFPR) e do Hospital do Trabalhador, Xavier Soller.

Os profissionais de saúde lem-bram que um colchão não deve ser companheiro de uma vida toda: a cada 10 anos é preciso trocar o pro-duto, pois ele se adapta às curvas do corpo, o que “vicia” o formato do material e força as articulações e músculos.

Antes de escolher o seu próxi-mo colchão, compare os detalhes abaixo:

Escolha certa do

colchão pode garantir

duas décadas de

noites tranquilas, ou

vinte anos de sono

perdido

Durma nas nuvens

Foto

s: Fe

lipe R

osa

/ Gaz

eta

do P

ovo

u Colchão muito duro: não traz benefícios para a saúde. É como deitar sobre uma porta. Isto porque força a musculatura e as articulações, pois o colchão não acompanha a flexibilidade da coluna e os movimentos do corpo. É muito prejudicial para pessoas que sofrem com artrose, pois intensifica as dores devido à pressão nas articulações.

u Colchão muito macio: pode até ser confortável, mas é péssimo para a saúde. Não oferece resistência aos movimentos – o corpo afunda e isso provoca dores, pois os músculos ficam tensionados na tentativa de manter a curvatura da coluna.

Na MEdidaO colchão não pode ser nem macio demais, nem muito duro. Veja por quê:

conteúdo extRAConfira no site www.gazetadopovo.com.br/saude dicas de como escolher o

seu colchão.

As fotos foram produzidas na Maxflex,

loja da fábrica, em Curitiba.

Fontes: Xavier Soller, vice-presidente da regional

paranaense da SBO e chefe do grupo de coluna do

HC e do Hospital do Trabalhador; Auristela Moser,

coordenadora da escola da coluna do curso de

Fisioterapia da PUCPR, e Michel Pereira Silva, dire-

tor da Maxflex, fábrica de colchões paranaense.

*Os preços apresentam grande variação, pois

existem diversas linhas de colchões. Os valores

foram levantados com a Maxflex e também com

a Sleep Home, de Curitiba.

Page 7: Caderno de Saúde Março 2012

Navio MSC Armonia enfrentou surto de gripe B este ano: a tripulante Fabiana dos Santos, 30 anos, morreu.

GAZETA DO POVO Quarta-feira, 14 de março de 2012 7saúde

Cuidados

Mariana Scoz

Fazer um cruzeiro em família ou com amigos parece somente diversão. Casos de surtos ou de pessoas doentes

durante as viagens, porém, têm assustado aqueles que pretendem embarcar. O último deles aconte-ceu neste ano, com a morte da tri-pulante do navio MSC Armonia Fabiana dos Santos, de 30 anos, que chegou a ser internada com sinto-mas de Inf luenza B. Segundo espe-cialistas, o fato de o navio ser um ambiente confinado e com muitas pessoas acaba facilitando surtos. Portanto, quem está pensando em fazer uma viagem dessas deve se prevenir.

As doenças gastrointestinais e respiratórias são as mais comuns tanto em tripulantes, quanto em passageiros. O infectologista do Hospital Evangélico Sérgio Penteado afirma que, como a expo-sição das pessoas é grande, os surtos são mais prováveis, mas ele defen-de que a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem contribuído para minimizar o problema. “Aqui você tem navios de quarentena até que se possa definir qual é o tipo de vírus e bactéria. Tem funcionado bem, quando há denúncia.”

Sobre a morte da tripulante Fabiana, a médica Flávia Bravo, do Centro Brasileiro de Medicina do Viajante (CMBEVi), afirma que casos de Inf luenza B acontecem todo ano. “Não é frequente, mas pode acontecer de evoluir dessa maneira e ser devastador. A pre-venção pode ser feita com a vaci-na”, diz. Flavia diz que uma das razões para o contágio ser tão fácil é que a gripe infecta superfícies e não é preciso contato íntimo com o doente para ser transmitida.

Já no caso das doenças gastroin-testinais, o infectologista e especia-lista em medicina do viajante Jaime Rocha, da Frischmann Aisengart, afirma que deve haver cuidados com a alimentação. “Em teoria, as empresas garantem a qualidade dos alimentos, mas o consumidor

Doenças

gastrointestinais e

respiratórias são as

mais comuns em

viagens de cruzeiros.

O passageiro que for

embarcar deve se

prevenir

Vírus e bactérias a bordo do navio

u Confira se o seu calendário de vacinas está em dia e não esqueça das exigências do destino e possíveis surtos locais.

u Redobre os cuidados diários com a higiene, como lavar as mãos com água e sabão, utilizar álcool gel e não passar a mão nos olhos. Esses hábitos ajudam a prevenir a contaminação.

u Tome cuidado com alimentos e bebidas, tanto no navio, quanto no desembarque em portos. Tente evitar comprar e consumir alimentos e bebidas vendidos por ambulantes, pois não se sabe como foi o manuseio deles. Prefira a água mineral engarrafada e evite alimentos crus.

u Caso você tenha algum sintoma, comunique o serviço médico da embarcação. Lá, eles podem avaliar se existe uma situação de risco para o passageiro ou uma possibilidade de surto.

Fonte: Flávia Bravo, médica do Centro

Brasileiro de Medicina do Viajante (CBMEVi).

u Fevereiro de 2012: No dia 17, a tripulante do navio MSC Armonia Fabiana dos Santos, 30 anos, morreu em um hospital de Santos, após desembarcar com sintomas de gripe B. Ao menos oito outros tripulantes e três passageiros foram internados com sintomas semelhantes.

u Novembro de 2011: Um surto de gastroenterite no transatlântico Veendam, da Holland America, atingiu 79 passageiros e sete tripulantes.

u Março de 2010: O navio Vision of the Seas, da Royal Caribbean International, notificou 310 casos de passageiros com sintomas de gastroenterite.

dicas

casos

Veja como se prevenir:

Relembre alguns dos surtos ocorridos em navios nos últimos anos:

Mau

rici

o de

Sou

za / A

gênc

ia E

stad

o

deve estar atento. Especialmente em relação à refrigeração.”

O maior vilão das viagens de cruzeiros, segundo os especialis-tas, é o norovírus. “Ele tem um período de incubação curto e a doença pode ser transmitida antes mesmo dos sintomas aparece-rem”, explica Flávia, que também é autora e coordenadora do Guia de Saúde para Viagens em Navios do CMBEVi.

A infectologista do Hospital Vita Batel Marta Fragoso lembra que outras doenças também podem acometer os passageiros. “Eventualmente a meningite e a varicela podem acontecer se hou-ver algum portador da doença. O risco é grande por conta do ambiente confinado”.

“Tive duas passagens por navios como tripulante. A primeira foi de nove meses em um cruzeiro pela Europa e a segunda foi de um mês com passagens pelo Brasil e Argentina. Na questão de higiene, vi muitas coisas. Quando os camareiros limpam o banheiro, não têm um pano para cada cabine. Então, usamos a toalha utilizada pelo passageiro. E essa toalha que limpa o banheiro, limpa também o copo do passageiro que fica na

cabine, lavado com água quente. Vi vários camareiros que faziam questão de limpar o copo por último. Também já vi camareiro passar a escova de dente do hóspede na patente, porque a pessoa reclamava demais ou pedia coisas demais. Não trabalhei no restaurante, mas também ouvia histórias assim de lá. Se a bandeja de queijos caísse no chão, o pessoal só dava uma soprada no alimento e colocava de volta para consumo.”

dEpoiMENtoCarla (nome fictício), 26 anos, turismóloga.

Page 8: Caderno de Saúde Março 2012

Dâmaris Thomazini

Um pequeno osso de ave, uma carne mal mastigada, a semente de uma fruta, um amendoim ou até mes-

mo um grão de arroz podem desen-cadear um engasgo. A situação bastante desconfortável ocorre quando o alimento, em vez de pas-sar pela faringe e esôfago até o estô-mago, segue pelo “caminho errado”.“A obstrução pode ser total e a pessoa não fala, nem tosse: só consegue colocar as mãos no pesco-ço. Nesses casos, é preciso agir rápi-do e fazer uma manobra clássica chamada Manobra de Heimlich para expulsar o conteúdo”, alerta o professor de cardiologia e urgên-cias da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coor-denador do Centro de Treinamento em Suporte Básico e Avançado de Vida, José Knopfholz.

“Na maioria das vezes, o engas-go acontece com objetos e alimen-tos pequenos. Por alguma falha, a epiglote não sela as vias respirató-rias no momento da deglutição e o conteúdo atinge a laringe e a tra-queia”, explica o otorrinolaringo-logista coordenador do serviço de emergência do Instituto Parana-ense de Otorrinolaringologia (IPO), Luciano Campelo Prestes.

De acordo com os médicos, o engasgo pode ocorrer mesmo com líquidos ou com a própria saliva, mas, nestes casos, não causa tantas complicações, já que a pessoa eli-mina o conteúdo tossindo. Já com materiais mais sólidos, que blo-queiam a passagem de ar, a angús-tia é certa. Nessas horas, é preciso agir rápido para que a situação não seja agravada por um quadro de asfixia. Saiba como fazer a Manobra de Heimlich no guia ao lado.

8 GAZETA DO POVOQuarta-feira, 14 de março de 2012saúde

Guia

Guia da Gazeta do

Povo ensina como

aplicar a clássica

Manobra de Heimlich,

que ajuda a expulsar

o alimento

Procedimento salva vida em caso de engasgo