Caderno Diário Imobilismo político e crescimento político do pós guerra a 1974

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Imobilismo político e crescimento económico do pós-guerra a 1974Por Raul Silva

A Segunda Guerra Mundial, que abalou o Mundo e a sua ordem, não trouxe modificações de

vulto a Portugal. Pequeno e periférico, governado por um regime que não soube acompanhar

a História, Portugal evoluiu lentamente acumulando distâncias relativamente ao mundo

ocidental.

Enquanto outros países mergulhavam a fundo na dinâmica dos “trinta gloriosos”, Portugal

desligava-se com dificuldade dos valores da ruralidade que enformavam o salazarismo. O país

foi-se industrializando mas continuou pobre e atrasado, entregando os seus filhos à emigração.

Nos anos 60, cerca de um milhão de portugueses deixou a pátria, rumo às nações mais

desenvolvidas.

CADERNODIÁRIO

EXTERNATO LUÍS DE CAMÕES

N.º 14

http://externatohistoria.blogspot.com

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Economia e demografiaA estagnação do mundo rural

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A estagnação do mundo rural

“Entre 16 países da Europa, somos os penúltimos, na capitação do consumo da energia: depois de nós, só a Turquia. Somos o antepenúltimo, na capitação de aço; depois de nós, só a Grécia e a Turquia. Somos o penúltimo, nas taxas de escolarização; depois de nós, só a Turquia. Somos o último, na proporção do número de alunos do ensino superior para o conjunto da população; depois de nós ninguém. Somos o penúltimo, na capitação do consumo de carne; depois de nós, só a Turquia. Somos o último na capitação do consumo de leite, o último na capitação diária de proteínas, o penúltimo na capitação diária de gorduras; depois de nós, só a Turquia."

Adérito Sedas Nunes, Sociologia e Ideologia do Desenvolvimento, 1968

in C. Almeida e A. Barreto, 1970 - Capitalismo e Emigração em Portugal

Tendo em conta os documentos, justifique o atraso económico português.

A emigração

“A população das aldeias vivia descuidada e contente, resignada ao seu destino estreitamente unido à terra e era simples e modesta o seu trajar. De então para cá tudo tem mudado vertiginosamente. Partem os primeiros emigrantes clandestinos para França e começam a enviar a suas famílias de três a cinco contos por mês. (...) As veigas, os vales e os pomares começam a parecer um espetáculo desolador, por mão haver quem os cultive. (...) O dinheiro dos emigrantes passou a alimentar o luxo e a vaidade das camponesas que se recusam agora a ir servir, como criadas, ou a trabalhar no campo por conta de outrem e, quando vão às suas hortas fazer qualquer serviço, vão com a indumentária florida e, se é Verão, tapam a cara com o lenço para o rosto não se crestar. O dinheiro recebido dos maridos chega ainda às esposas para mandarem os filhos para o liceu e para as escolas técnicas. Estes não vão estudar, certamente, para mais tarde regressarem à vida campesina."

Diário de Lisboa, 1966

in Dicionário do Estado Novo, dir. de F. Rosas e J. Brandão de Brito, art. Emigração

Com base nos documentos, apresente as razões do grande aumento da emigração portuguesa nos anos 60.

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Economia e demografiaPortugal e o Estado Novo

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in Nova História de Portugal

O surto industrial

“Temos, e rapidamente, que mudar de via para nos industralizarmos a fundo (...) implementando uma nova política industrial que, rejeitando a autarcia, procure estimular o equilíbrio da balança comercial na base do desenvolvimento da exportação de produtos que pos samos produz i r em condições de cus to internacionalmente concorrenciais e que favoreçam, ao mesmo tempo, o rápido crescimento do valor acrescentado pelos fatores produtivos nacionais (...).Indústrias que se baseiam em riquezas excepcionais de subsolo, tais como as químicas e químico-metarlúrgicas pesadas, com as extrativas correspondentes."

Rogério Martins (secretário de Estado da Indústria entre 1968 e 1972), Caminho de um País Novo, 1970

Tendo em conta os documentos, explique a evolução da economia portuguesa.

A urbanização

“As novas gerações não viam qualquer mérito num político que insistia em proibir bebidas glamorosas e partidos políticos. (...)Os "franceses" olhavam com desprezo os costumes dos rústicos que por cá tinham ficado. As casas de granito, sem casa de banho nem eletricidade, forma sendo substituídas por cópias das moradias que eles tinham admirado nas suas andanças. (...)

Em 1968, os ecos do Maio de parisiense chegaram a Lisboa, ao mesmo tempo que o livro vermelho de Mao e o Revolution dos Beatles: "Todos queriam mudar o mundo, yeah, yeah, yeah". Nas praias chiques, os cabos-de-mar já não tinham a convição para impor a interdição do biquini. (...)No início dos anos 70, num país habituado a "viver habitualmente", tinham acontecido demasiadas coisas. Nas cidades, as classes médias afirmavam-se. O turismo aumentara, com as previsíveis consequências sobre as povoações que recebiam estrangeiros. (...) As ambições, as esperanças, os sonhos dos jovens cresciam. Em todos os graus de ensino, a juventude autonomizava-se.”

Com base nos documentos, relacione a intensa urbanização com a mudança dos comportamentos.

in O Tempo da História, vol. 2, Porto Editora

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Economia e demografiaGuia de estudo

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Objetivo 1. Justificar o atraso económico português

A neutralidade de Portugal durante a guerra permitiu a permanência do regime salazarista que soube

habilmente conduzir a diplomacia e evitar alianças incómodas. Nos anos 30 e 40, o país agrário continuava

a ser um mundo sobrepovoado e pobre, com índices de produtividade que não atingiam sequer a metade da

média europeia. Nos anos 70, em vésperas da Revolução dos Cravos, o país continuava atrasado e desfasado

da evolução das economias europeias.

A agricultura portuguesa apresentava uma profunda assimetria entre o norte e o sul no norte predominava-

se o minifúndio que pela sua pequenez não possibilita a mecanização no sul as grandes propriedades

encontram-se subaproveitadas. O sector agrícola, protegido pela retórica tradicionalista do poder o país,

estava mergulhado no atraso com velhas técnicas e uma exploração agrícola antiquada e pouco produtiva

em relação ao resto da Europa. Apesar do grande número de pessoas que dependiam da terra a

produtividade era baixíssima e não atingia metade da média europeia.

No II Plano de Fomento de 1959, procurou-se modernizar a agricultura e promover a exploração agrícola

mecanizada e de média dimensão como base para um bom rendimento dos proprietários e um nível de

consumo que sustentasse a indústria. No entanto contra essas medidas se terão erguido as vozes dos grandes

proprietários do sul que procuraram inviabilizar tais esforços. Incentivos e subsídios acabaram nas mãos de

vinhateiros e latifundiários desta forma desviando-se dos objectivos que tinham estado na sua base. Também

os preços agrícolas e os salários se mantiveram muito baixos com isso se prejudicando a rentabilidade das

explorações e de toda a economia.

Objetivo 2. Referir as razões do grande aumento da emigração portuguesa nos anos 60

A emigração reduziu-se drasticamente nas décadas de 30 e 40 devido à Grande Depressão e à 2ª Guerra

Mundial. Estas décadas correspondem a um crescimento demográfico intenso, que deu origem a um excesso

de mão de obra que a economia não conseguiu controlar e acabou por resultar numa imensa debandada

dos campos para as cidades do litoral e para o estrangeiro. Entre 1946 e 1973, foi o período de emigração

mais intenso de toda a nossa historia.

O continente migratório português, era constituído por trabalhadores em atividade ( pequenos agricultores,

trabalhadores familiares, assalariados), com predominância do escalão etário entre os 15 e os 19 anos; outros

tantos rumaram em direção à Europa. Mais de metade das emigração fez-se clandestinamente. A legislação

portuguesa subordinava o direito de emigrar, colocando-lhes restrições, como a exigência de um certificado

de habilitação mínimas a todos os que tivessem mais de 14 anos e a exigência do serviço.

A emigração também trouxe uma estabilidade financeira para o país através das chamadas remessas dos

emigrantes, que permitiam aos emigrantes a obtenção de regalias sociais e a livre transferência. Com isto, o

governo induziu a despenalizar a emigração clandestina e a suprimir alguns entraves. Contudo, a emigração

desfalcou o país de trabalhadores, contribuiu para o envelhecimento da população, privou do mal convívio

com as famílias um grande numero de portugueses, permitiu ao Estado ajustar o mercado de trabalho, fez

entrar volumosas quantias, mudou as mentalidades e abalou seriamente as velhas infraestruturas rurais sobre

as quais repousava o imobilismo do regime.

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Economia e demografiaGuia de estudo

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Objetivo 3. Explicar a evolução da economia portuguesa

Apesar da política de autarcia desenvolvida por Salazar o país continuou dependente do fornecimentos de

matérias primas, bens e equipamentos importados. A guerra acentuou a escassez e chamou a atenção para a

necessidade de industrializar o país.

Em 1945, a Lei de Fomento e Reorganização Industrial estabeleceu as bases da política de industrialização

das décadas seguintes que, no entanto, acentuava a vertente de isolacionismo económico que vinha sendo

desenvolvida. O I Plano de Fomento (1953 a 1958) acentuou o investimento público na modernização de

infraestruturas de comunicação, electricidade e transportes.

O II Plano de Fomento desenvolvido entre 1959 e 1964 incidiu principalmnete nas indústrias

transformadoras de base como as alimentares químicos, petróleos e siderurgia. Esta fase assistiu à entrada de

Portugal na EFTA, a assinatura dos acordos de comércio livre e acordos com o Banco Mundial e o FMI.

Entre 1965 e 1967 desenvolveu-se um Plano Intercalar de Fomento que prenunciou novas orientações do

comércio e do investimento viradas para o comércio externo. O conjunto destas medidas representou o

abandono das políticas de autarcia e de isolamento e a entrada de investimento estrangeiro no país através

da instalação de várias linhas de montagem de bens de consumo como automóveis e electrodomésticos.

O III Plano de Fomento desenvolvido a partir de 1968 por Marcelo Caetano aceitava claramente as regras

do comércio internacional e apoiava a lógica de concorrência e de concentração empresarial além de

incentivar a exportação nomeadamente de têxteis, lanifícios e calçado e o investimento estrangeiro no país.

Esta política conduziu à consolidação dos grandes grupos económicos-financeiros e o acelerar do processo

industrial.

Objetivo 4. Relacionar a intensa urbanização com a mudança dos comportamentos

Nos anos 50 e 60, Portugal foi atingido por uma intensa urbanização. A população portuguesa deixa o meio

rural e passa a viver nas cidades, onde estão concentradas as industrias e os serviços. Devido ao elevado

preço dos terrenos nas cidades muitos acabam por optar por viver na periferia da cidade. A expansão

urbana tem efeitos negativos como a construção desorganizada das cidades, a falta de habitações sociais, as

estruturas sanitárias, uma rede de transportes eficiente. Fruto destes desajustamentos, aumentam as

construções clandestinas, proliferam os bairros de lata, degradam-se as condições de vida (incremento da

criminalidade, da prostituição...). Por outro lado, contribuiu para a expansão de setor dos serviços e facilita o

acesso ao ensino e aos meios de comunicação. Com o êxodo rural houve um aumento significativo no setor

terciário e consequentemente uma diminuição no setor primário.

Com todas estas mudanças na sociedade é de se esperar que as mentalidades também mudem. O aumento

da escolarização permitiu que as novas gerações fossem mais idealistas e tivessem uma mente mais aberta à

ideias estrangeiras. Por exemplo, o uso do biquini na praia deixou de ser censurado, as novas gerações eram

ambiciosas, as pessoas vestiam-se de forma diferente e ouviam-se músicas estrangeiras.