Caderno Vermelho

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rascunhos -- 2009

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Um, trs, quinhentos sacoleijos. Na rua, chapu arquejantesobre corpo mole, sacolejava quinhentas vezes. Da porta do edifcio, se deixava mirar por um demnio. Poeria sobre manto fino: se hoivesse um navio, aquele seria o primeiro pulo. Novecentos e quarenta e sete vespas saam de dentro dos sapatos. Aonde elas vo? No preciso explicar. Um mapa era manuseado por guindaste. Sacolejava, o chapu, por mais um quilmetro amarelo. Febre. Dentro da manta, corpo magro piolhento. Mais alguns minutos. Espere! Entre as ruas e a fronteira do abuso. Me coberta flores. Quinhentos outros planos - pria empoeirado caminhando at o porto. Se deixava mirar por um demnio na porta do edifcio. Nariz sangrento coberto por piolhos. No fim da rua, a luz aparecia. O pai, o cachorro, o navio de ferro enferrujado, o sexo. Surgiam do escuro, brotavam assim do nada. Eram risos florescentes, sim. Brotavam do escuro s quatro da tarde. Pela rua amarelada. Sem esquinas, em sossego. Cacto fazia sombra que se movia aos sons ritmicos dos passos por rua amarelada. Suor at a gola da camisa, mais alguns goles de gua e mais algumas coisas aparecendo e brotando. Era ento flagrado, o corpo magro. Era constrangido e mido, como papel amassado. Saqueado por quinhentos sacoleijos, O chapu ci e se perde na confuso. Inconeablessurdamente, me viro e

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Perdidos na Grande OndaTragados aos farraposSangramos mudos pela singraduraVinte e trs mil anos de sossegoChoramos traz portaCompleto dispndioEcos de uma abominaoSolo repleto magosBabisbaixos pela sombraEterno Sol NegroOlhos estranhos do DiaUm passeio na lamaFogueira azulDana epilpticaO Cu ouro blindadoCarros fortesFonte seguraTerra treme muros gradesTerra treme muros grandesEm seus olhosPessoas giramFirmamento de poeiraChoro em profusoTatear cavernas ocultasO fervor e DimensoOlhos perdidosCompleto silncioOlhe para mimFeche os olhosO andar pela sombraCasa na colinaOlhe para mimOlhe para mimOlhe para oCompleto o escuroDo diaDo ventre estirpadoAsilo fantsticoCores pelo andar

Me sinto to bemMe sinto to bem armadoCores infinitasArco-ris opressor

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Pequenos, grandes segredosPergunte a paredePermita o brilhoPermuta o p

Em bosques ventososGrandes clicesEco de guas moventesUm novo Amanh

O verde dos cantos a aurola sagradaMonte seu casteloMonte seu castelo

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Estranho puloMe suicido em voc

Relaxante reflexoEspelho azulMe espremo em assaltoEm voc

Navegantes do ventoEcoandoEstranha vigliaEstranho urro

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CANTO DE VERO

Espero que voc odeie muitoE... que voc ame muitoQue voc navegue mares nvensSe precipite... desertos osis

Fogueira na encostaEntrega AparecidaVinte anos pelas sombrass sombras do diaRua fileira pedra portaDois fures vadiosInvadem terras, serenos,Trapos entulhadosTerreno baldioRepleto estilhaos

Entre a Fronte AparecidaAparedeAfloquecio

Espero que voc corra muitoSe espete muitoQue espere muitoAcima de maresFlores, punhais

Vento sopra olhos blindadosFerverAniquilamentoAurora.

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JanelabertarrependimentoSonoro sonhorizontePerfumeJia em ascenoOnze tiros pelas costasOnze cruzes crispadasEspinha sangra chuva amorfa vspera EternidadeA vespa, a lebre cinzaCincrisplinando clara-biaVistaberterrorizanteClaro ninho enlouquecidoGigantes luz do diaNota agudaEstribilhoBrilhorrendamentecido

Sangravam flautasSingravam notas

NoitespasmorecidoMo que tocaBrilho mortoEnclausurados ao SolSilencioso pavor noiteQuando amanhece

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PassarangrandoGrande danaSuave costelaSuave carniaSelva que dana

Ouro encobertoCalor encardidoEra doce, o bolorCintura figueiraQuarenta cartasQuarentenecidos

Per ambulando.

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Outro lado, em fixaMisteriosa razo no lagoMemrias bordadasFuro rodopianteTranscorre em flores runasAo longeA cidade ferve

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Um trem de sossegoUm trem, um velcro de sossegoSobreposto em altarEstilhaado sombra, firmamentoNas luzes, torneiras negrasEsgueirando silhuetaFrontes mortasFontes tortasNa parede, dispendioNove horas apedrejadasNove beijos espalmadosNove hortas de delrios

O corpo pede repousoNo copo, velho rostoHora esquecidaFrente-versoNotas perdidasEterno compasso piolhento

O cncer se espalha!O cncer se espalhaO cncer emparedaFonte de sonhosPesadelo ao amanhecerFacas sobre mesaMos em coliso

Nas estrelas, parasoCaindo abruptoSobre nossas cabeas

Aurora cadveres.

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Preparei meus anjosEm cores, no telhadoCadaros desamarradosUntados selvageriaEstilhaos desfibriladosPoeira txica amanhecerAnjos polidos Banheiro pblicoAsfixiaAsfixiaOlhos fixos paredeConversa morta frascoAt a ltima dobraPelos ventos, cadafalsoApodrece, a poeiraNossos ventresNossas vestesVerdes pastosSuor negro sobre asfalto

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Eu passeava pela ponteVus rasgados manto verdeCu rasgado sangue cinza

Fronte rudeSuave o saborTarda a colheitaNaufrgio, labor

Durante anos, depois dos temposSigno solar emparedado

Nove horas frente EsfingeNove segredosNvoa lunarCadafalso.

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A Neblina foge dos tmulosE sobe pelos CusRetornando aos quartosLongas patas de aranhaLongas vespasMal-olhado

Te encontro na fogueiraEram homens, os palhaosEram mos. as serralheirasERA MERDAO feriado

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Em todo o mundoFeridas expostasPrateleiras, travesseiros sombra, sol-prCobras que se beijam abismoOlhos de Cristo

Mos untadasDesperdcioVento dana carvo

Templo incendiado numa manh de sexta-feiraAdmiravam, os pssarosE era a nudez terrvelLambido desde o ocasoTrepadeiras nas paredesTranquila respiraoFeridas expostasGestos grosseirosAvenida

Ave apedrejada no saloCo louco lambe feridaE comeE comeE comeO corpo mole pelo cho.

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Aqui andam os mendigos, os lacaiosPasseiam as vespas, as serpentesSereias cravam as unhasSeios perdidos em olhados

Frente firme, pele mortaCalando os germesImensidoPasseiam negrasFilamentos de insetos

Gis absurdo rabiscando tetoTapa-olho solarCu invadidoPiratas

Ventos asiticosNove tiros no rostoPele branca, sangue cinzaAnjos decapitados blasfemam contra o ar.

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Quero suas mentirasSuas mentiras peladasTe quero peladaSobre a cama de chumboE cristal defumadoSobre meu mastroMeu mantoDe mentirasDe mentiraOlhe o relgioRevireEu sou seu homemNeste cu blindadoOnde anjos morrem.

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CANO DO FETO

Punhos fortes para o SolCaminhamos lentidoCorremos em friaPelo telhado arrancadoCoberto por anosDe penugem e semem seco

Calem-se no desertoCom flores nas mos e cabelosMorrem homens do lado de foraSob o cu negroOnde no h estrela

BrilharemosNa montanha de vidroQuebraremosNossas asas num voDe fogo & orgasmoEscorridosAt o fim.

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ORQUESTRA INFERNAL

Enseada povoadaEnsaboada vento surdoSurtos soltos multidoSopram os sinosTarde friaFita os olhos no telhadoNona sombra plo coEcos transbordamFeto perfumadoTomba sombra pleno cho

Sete dias estribilhoCacofonia decafonicaEcos postes sintoniaSinfonia amorfaRolando no salo.

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Buraco sujoOrquestra friaMil caboclos presos coloMil serpentes cala fria

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Muitos so os corposQue passeiam por aquiSem um terminalSem um extermnioSem chance de nadaEU URRO VOCPor toda a vidaPelas vitrinesSeus olhos to longosTo longosTo logosEu urroE espero mais um tempoE esfrego mais um templo

Dirijo caravanasTerreno desesperoTempo de correrAt a RuaAt a LuaPor puro Amor

Me embriago de vocMe escarro em mimEscancaroAs portasEsperando infinitoInfinito meu catreMeu caos, minhas mos

Voc msica

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Nesse mundo de dorOlho pela janelaQueimo os dedosSem razoNeste mundo de dorSou incensoSol puro odor

Caos e axilasMordo fardo quadradoSeus olhos meia-noiteMinha paixo pirataOlho pela janelaSeu riso prateadoMe estapeia as vistas

Nesse mundo de dorSeu leo, seu saborSou s incensoSol SolSou seu odor

Voc msicaE InfernoMundo giraSeu odor

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Os desoladosO povo coitadoOlhos embrutecidosMarcas da vidaSol queima pele parda

Ouo choros no rdioEla no uma menininhaPor quem tenho tesoEXISTE DOR DE VERDADEE h momentosEm que eu pensoQue no h catre pra isso

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Na minha misso de embrutecimento, tendo por idia vaga de assujeitao a uma gama de doenas interiores que constituem um corpus intelectual bem malhado, definido, me deparo com os longos fios, plos revoltos ululando na Vagina Sagrada & Enorme. Os plos so as situaes onde sou um rato, uma barata, um co sarnento pisoteado na feira, sob sol escaldante. Suas fracas vsceras caninas, secas no solo quente, despejam incurvel por toda a cidade: a morte espreita debaixo da axila rasgada da mulher sorridente. Depois de me encontrar com os mais maravilhosos ares & fantsticas vises prfidas, me silencio e me ponho a olhar a parede - a busca desesperada pela Morte. A morte de uma voz, se assim posso dizer, de um tnel sufocante que me oprime o peito e joga toda a vidraa, as prateleiras, o Universo sob a dimenso de meus olhos... e recebo! Aqui, neste mar revolto repleto de nufragos despedaados, h a serenidade absurda de quem j no quer, h o silencio bizarro das escadarias interminveis, h a fuga centrfuga que se renova a cada segundo. A cada segundo, a dor. Essa dor infinita, esse eu-despedaado se contorcendo em uma sala de espelhos, esse turbilho de navalhas que se imprime nas mos que levo aos olhos. necessrio dizer que essa fragilidade, to bonita em palavra escrita, por assim dizer, o quebrar de uma das pernas da cadeira onde subo para me dependurar por uma corda no pescoo. o dedo que aperta o gatilho frente meus olhos; junte meus cacos e componha a mais maravilhosa de todas as peras. H silncio nesse turbilho de gritos, ele se concentra na mscara que componho todos os dias para que no v tona que sou um doido varriso repleto de desejo de morte brutal, de aniquilao massiva, individual, sobretudo do fim dessa voz que me fala, que vos fala, que me faz tombar nauseado no Abismo de no ser possudo por um Riso doentio o suficiente para transformar minha poro de carne insalubre em um corpo-riso perfeito, um bom amante & homem dedicado, um adorador de animais com hobbies saudveis... Com minha caneta desgastada, imprimo smbolos por essa folha de papel. Os escombros esto todos perdidos, vagando pelos cus... ninguem v.

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Eu murmurava em algum canto da cidade e recordava, entre risos, as noites em que passvamos, lado a lado, contando mentiras um pro outro. muito bom mentir, no mesmo? Acredite nisso: eu gostaria de arrancar sua arcada dentria. Digo isso enquanto meu boneco de descarrego se recosta na vitrina espatifada e baila em meus corcis de imaginao. A verdade, se que importa - e claro que no importa - que eu no tenho imaginao: tenho uma mquina de criao de mundos. Os crio para ver ruir, somente. Posso gargarejar enquanto prdios caem sobre corpos caem sobre espinhos caem sobre as estrelas. Uma bela arcada dentria arrancada. Voc acreditaria? Voc faria o mesmo? Eu, que sou perseguidor, sou perseguido pelo meu rastro. Ele tomba entre paredes e me revela uma nica e graciosa verdade: os espinhos sangram, os espinhos danam, os espinhos falam e nunca existiram.

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...e enquanto espero voc atravessar a porta parede ou qualquer coisa, voltar de algum lugar, padaria talvez, recordo o Vale das Mas Cadas. Com a maior naturalidade do mundo, um estrondo. Permaneo quieto at o tremor passar e, ligeiramente, tiro do bolso do casaco uma pena. o objeto que pretendo lhe enfiar nos olhos. Bendigo-te nas recordaes, Dama: s tu uma das folhas secas molhadas pelo suco, pelo sulco de mas apodrecidas.

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Minha meninaMinha doce meninaO que eu tenho a dizer que o vero me incomodaCom seus raios ameaadoresDe um Sol AbsurdoTeto podre desse mundo condodo.

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Este prato que se come lentoA morteOlho em seus olhosEste prato que devora lentoPintando painis amorfosPatinando em plantas daninhasEste prato que se come lentoEsse pranto que devora lentoEsta manta que sangraSem brilhoSem rotaSem dana.

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Assalto ao CuAssalto ao Inferno

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Vento voVai, voandoVelejando vales levesLevantando vozesElevando vestes

Na volta, entrave fundoEntravas entre precesVento voaVenda a vistaVelejando vela voa

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Vestes arrancadasEm frescor de ciprestesSuaves crculos sagradosManto verdeVerde & leve

To longe, to longe, to longe...

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Sono profundoSopro difusoCastelos de areiaLonga enseadaA VsperaDescoberta

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Abrao no peitoAo fundoA ARMA QUE CAUSAR A SUA MORTEE sinto a fragnciaDo meu dio rijoBorbulhando pelas pernasDanando com a nvoaApunhalando a madrugadaSobre seu corpoSobre seu doroSua doce carcaaEsquartejadaEsquartejadaA ARMA QUE PERFURAR SEU PULMO DE NOJODe novo e de novoSinto a fragnciaDo meu dio anjoDespedaando sua tnica verdeArrancando seus olhosDespencando a madrugadaTeto que encobre restosSobre seu seio de nojoSua tnica sagrada fingidaLuar vermelho tiro na caraA fragnciaDo meu dio ferveE perfura a tezDa noite frescaCadela esfaqueadaCom sorriso madameMeu dio negroBorra o quadro-coresDe sua existnciaApagada.

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Seu sorrisoOh!Seu doce sorriso o suficientePra acabar com o meu diaPorque eu desejoOh, sim!Eu desejoDo fundo do meu coraoSua infelicidade

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Fala mansaPasso mancoPerna postaPoeira acimaRessoamOs sons

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Assalto fulminanteClera em silncioPelos Cus ptridosOnde voc no tem BeatrizPuta empaladaNas entranhas escurasDe um firmamentoDemolido

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Eu olho pra voc e j me vejo, daqui alguns anos, louco errando pelo mundo. Mudo, sentindo os ares atravessando minha carne macia. Te vejo em uma aldeia qualquer, com ndios quaisqueres, que importa? Eu me vejo te olhando, ficando por traz dos meus ombros por algum "dever de ofcio", uma expresso melanclica e ao mesmo tempo orgulhosa - chega a ser engraado - "estou cumprindo meu dever", "estou indo embora" tudo o que poderei fazer. Borbolhas. O cu se lambe a cada hora, a cada nota que meus passos machucados entona, e transborda por todos os lados por todos os lugares. No fim das contas, como qualquer coisa, lembranas so apagadas. Voc fica com seu emprego, com reconhecimento, com dinheiro; eu, blues.

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Enquanto dormesEnquanto a chuvaLavando a secaSob colchoOs cus de SatAmarela Lua NegraA dvidaOceania corteA lviasseos aliviavosSalva corteNo sorriso do mundoCriatura da noiteAtropela ar frescoAtaca madrugadaTempestuoso SolSorriso pelo Cu sombra do amorSonhos blindadosPelas encostas

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As escaladas interminveisPelas DescidasSbitas doses splicasSulco escupido em brnze podre

Suave a manhTaque cardiaSuave amanhDoce nvemDoce noiteDoce dia

Suave tambm a TormentaA mais cruel de todasFruta doce sacoleijoJoeirando a joeiraGirinite giurinol

Sapo neblinaTombareia.

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No Topo CristalinoAnjos de carbono ressoamEstridente cano tridenteSeus olhos so foices em coicesSo coitosVistasInterminveis horas No segundoEpstola douradaManto corrosivo perfumeNos deram asasPara roubar o Cu

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no telhado

um trovo

dana com a poeira

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Deixai toda a esperana!Deixai, do lado de foraOnde esperneiam os tombadosOnde gozam as esculturas

Templo suaveNeve declnioNove sopros assoalhoRessoareiaEspiritosculospio

Deixai toda a esperanaNo vago dos testerradosCrepsculo em arrepioSangrapele Pela singradura,

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Foi aquiNessa provncia de onde te escrevo esta cartaQue te compreendi, CarlOuvindo gemidos loucos de um adolescente nova-iorquinoNo sei quantos anos mais jovem que vocNervos consternados pelo rock'n'rollSua sombra verde espatifadana parede do quartodeabutresSeu gesto plidoCarente de versosA silhueta trgicaMembros retorcidos em espasmosSim, Carl, vi sua sombraNos olhos estapafrdios de AntoninSabio profeta do delrioDoce amigoCabelos incinerados por ndioseu te levaria, Carl,Pelos arredores do parque onde meus amigos delinquentesApagam os socos do SolDesfiguram as dobras do OceanoEnviam cartas-bomba para a Luaem um cordel infernalpor onde passaram vossos psNo sers esquecido nem abraado, CarlEssas saias, esses terremotos...As barras levantadas- so s humanos - na ilusode no queimar os psna Fogueira.

SEUS GRITOS DE LOUCO ME PERFURAM AS PAREDES DO QUARTO

O suicidado da sociedade...O suicidado pela sociedade...Carl,quantos yo-ys ainda restaroPara atirar ao Abismo?

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Quando fores dormirQuando pousar as mosSobre palpitante seio

Quando as teias de ar frescoTe beijarem a carneE os cordis de Calma Absoluta

Como chuva clida de novembroTe abotoarem a faceSemiperdida no entre-sono

Lembrar-te-s da Hora TurbulentaQue invade em sacoleijoE arranca as frgeis penas

Que perduram em fiascosE brotam, os insetos sujosDas paredes outrora maternais

E saibas, singela damaQue no peito guardo-lheA Flor de Puro dio

Dana comigo nesta noite?

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Voc invade as paredes desse quarto sujo e spero, penetra em cada porp da minha carne absorta, demole verdades e horas interminveis de trabalho diante desse papel escuro, invade meus pensamentos com os traos absurdos de sua tez branca, me impede o cortejo com Paganini (agora meus ouvidos so dos seus rudos), e

ainda quer que eu seja razovel?!

Eu conto os segundos at chegar a Hora de me encontrar com este amontoado material, penso na coisa-mais-engraadinha a dizer, me preocupo com essa babaquice que a higiene (sabia que eu adoro ficar sujo sujo sujo, exalando aos montes meu odor humano infecto?), falo sobre meu dia e invento lorotas mil para-manter-a-conversa, e ainda quer uma manifestao (ou sentimento ou o que quer que seja - no importa) de... afeto?

Eu realmente acho uma babaquice essa coisa de declarao.

Agora eu, na v tentativa de calar a voz que URRA dentro de mim, escrevo isso aqui. caneta; papel; sou eu. Voc no vai ler e se lesse no faria a menor diferena.

O que eu quero? Si daqui.

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Eu gostaria de contar uma histriaQue no soasse como confissoEu gostaria de contar uma histriaQue comea com um rapaz enforcando uma moa estirada na praia na manh seguinte noite em que se atirou ao mar a velha histriaQue voc conhece melhor que euE, j que assim, eu s "gostaria".Conta voc.

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Sou um milhonrio entediado procura de mais um hobby. J tenho um: atirar em pessoas que passam na rua. Como esse o melhor que possa existir, entedio-me e desanimo-me procura de mais um hobby.

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Sua carinha maciaE olhar carismticoMe arranca olhares niilistas.

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Desde o incioEu soubeEra tenso.

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Sagrado MonumentoRutilante pelo CuAparece em meio ao dia claro e fora vivaEntre ventos e fontesCristais maciosEm dobras ngelasNadavam ar puro Asa firmeBanho debalde ao Sol;

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Selva grossaRuavistaAnjo de DeusResplandesceToda a noite

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Hoje as paredes amanheceram friasE o Sol no veio nos maltratar com seus raios de benzedeira civilizadaAh! Doce vento frescoDoce chuvisco cantarA nos blindarOs olhos.

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Caminho lentamenteVenha, Tempestade!E se o preo para me singolfar na dana cardaca de uma Lemria em destroos for estes trs derbys que tenho no bolsoEu pago

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meus amigos!Minha bandida EstaoViro os ventosO lusco-fuscoMas nunca mais este vero

Que importa a nvem longe, a antepassada gerao?Respiremos ares, amigos

Sob o cordel blindadoA Nuvem espreita

Brilhante salvageriaCoquetu aniquilao.

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Se mil soldados se levantassemA marchar por nossa ruaE eu me chamasse BonesccoE tolhesse ervilhas sobre o marE nossas nucens plsticos amarelosCobrindo telhados ferteisE mais outros respingosNossas rvores seriam pssarosE ns cata-ventosNos andados em danaOutros cabelosEnluaredecidos sob cu cruento

RespirosRespingosAll uci nao

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Trezentos e cinquenta e sete nomesTrezentos e cinquenta e setesombrolhosTrezentos e cinquenta e setetumoresTrezentos e cinquenta e seteepistolasTrezentos e cinquenta e setecarros-bombaTrezentos e cinquenta e setevozesAmbulando pontes frescasVertebrando torres nulasAbraando brasas acesasMeneando em saias curtasSaindo pela janelaBeijando lares leprososRespirando pelas beiradas verdesEsfaqueando vespasPerpetrando vesgasCuspindo sangue sujoSujoCurvo sobre sobressaltoNum salto

Assaltando vielas turvasSob sombras, esquecimentoGargarejandoCacarejandoComendo corneosBenzendo frestasBronze patinaoCaravela arquejanteRespirar atentoAtentandoDesatandoAjustandoO Desajuste verdeAugusta faceRecluso brandaBeijo caramelodioso

Esfaqueie a madrugada

A madrasta, a fronte vesgaA mandrgora, agora acesaVoa v em ventosVentura ventre veludoPrato amareloPrimogenitos incendiadosVspera da NoiteMorte do Anjo CeifadorHorrorosa a manhEm que, em vo,Tentam apedrejar o Sol

Podre rua vista

Bela dama embaladaLama acesa, pedra a vistaPedra avistaResplandecente mato decepadoOlharesE sonhosSo anjosDesdentadosEm solosEm banjos

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Ces raivososProssioProsseguindoRumo ao fundoPor fendas enviezadasOnde invadem raios luminososFogueira sagradaFruto insidiosoAmores desveladosCes raivososPossessoArbustos famintosPerda, pena, tendoEnroladoInferno internoVulco eruptoFundido carneHoras passadasCes raivososNuvem insalubreNoite fuzilada

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Brevirio do tumultoPssaro apedrejado nvem mortaClice roxo noite erbreaQuieta, a puta esmorece na calada negraOlhos perdidos em sopros fortuitosPassos sobrepostos em encostas vesgasBrevirio da sombraVentriloquenternecedoloridolorJardim dos enforcados.

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Fruta morta, floresta verdeEntre frestas, arrepiosDana cardaca poros ventosArredores esquecidosAres, dores, cortesSuave taquicardiaEmbalada entre sombraMusgo escuro cobre prdioTarde mergulhada em doresAbdmem em friaReclama aos CusReclama aos seusCus apedrejados

Por toda a noite, Sol mercrioAutmato, a nado, LuaDoce tambm o trovoE as sete Vespas absurdas Calabouo do calafrioSilenciosa multido claustrofbica

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Ataque fulminanteTodos os dentesVarridos pelo ventoPerdidos pelos cus

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Os maiores poetas que ja conheciNo sabiam o que era "poesia"Estavam muito ocupadosEm roubar, matar e destruir.

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Por sete anos e meioVOC DEU O CUAgora chupa pauAmanh, axilasTalvez, plantar masAmm.

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"Decomposio deslizante nas paredes do quarto podre".

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S havia um jeito de descobrirBem, perdemos a chanceE, bem, perdemos muitas outrasComo perderemos outras coisasA vontade de no perder, inclusive.

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Depois de tantos anos passados meditando Obrigao, no havia nada a fazer. Era o melhor a ser feito. No faltou com as propriedades, todos ja sabem - voc sabe, eu sei: o suficiente. Tiro na cara numa manh de abril. rude, eu sei. sim. Tiro na cara... isso s um texto.

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Miro meu reflexoEnxovalhado em seu rostoGrandes olhos melanclicosPasso manco caco mansoVelha obceoUm novo portoNas espinhas, assombroMiro meu reflexoRosto seu espelho convexoUma dose a maisLucidez indesejadaPara ver seus braos nusPara abraar mentira listradaPara danar p vento torto

Agonizando em silncioMartirUm verdadeiro espetculo idiota!Aplaudiria a cena em outro quadroSeu semblante melanclicoPasso manso caco mancoRiso cnico, veneno encrustradoMulher mulher mulherHomem imaturo, peso machoNo tolerar, no rabiscarSeus passos espalmam bola friaAstro irradiante queima pele Soco surdo no estmagoNada a dizer, desaparecerMulher mulher mulherComentrio indevido morte certaPasso bambo condodo morte ascetaFala mansa destrudaInimiga certaMulher mulher mulherO que eu posso dizer?

Dana doce convulsoValsa falsa cataclismoPssaros cantaro na manh sutilEm que minha carcaa se desgarrar de seu suave vinho venenosoNo bom me ter por ressentido?

Por ponto final: meu erroMais: imaturidade vaidosaSeu semblante melanclicoAt onde vai a melanina?Quantos mais euNo fao a menorIdia errada do seuParecer no diz muito quando que voc vai desaparecer?

Agora voc dorme na salaMeu poema confessional trariamais uma risadaReconheo o Abismo e estou disposto a olhar fundo em seus olhosE me perder uma vez maisMas sem mais uma confissoSem um drama, um p de guerraNesse asilo de surdosNesse deserto sem osisNessa sala de espera eternaArdo nas brasas que no me chegam bocaParam na garganta, de l ao estmagoMulher mulher mulherVoc ouviu isso, no foi?Qual a prxima acusao?

- ...e o horizonte blindado foi esquecido por trs dos ombros, nadadeiras e parasitas encrustrados.

...

No contesto, no renego, no condeno suas mentiras. Condeno o fato de fazeres questo de dizer que no mentes. Me parece agradvel mentir. Minto. Voc mente e insiste em dizer que no no no... e me fala em... falamos em... e voc extende a conversa e fala. Fala muito. No esgotar das suas palavras, aladas pelo vento, meu silncio retumba em voc e os ventos parecem te trazer uma convico: ele concordou. Assunto resolvido. No era pra ser assim? Decifro enigmas, leio mentes. A sua, diferente da cabea, se deposita na pele. Tiques bobos que a idiotas fariam rir. Meu silncio retumba em marcha slida e o espeto a furar sua bexiga - e faz falar o no-dito. Na pele, nas orelhas, no cabresto. Monto voc. O que talvez voc no saiba que essa rala verdade - sua slida convico - a qual chamamos por um nome particular como todos os ntimos, desintegrar-se- no meu esgotamento - ele existe e pulsa. No de voc, no das mentiras das mentiras, mas nos desdobramentos de quadros em que as cores se revelam opacas. Agora ha pouco, enquanto observava seu sono, tive uma viso: vi nossos cenarios borrarem, nossos cabelos cados, nossa taa na mesa. Voc no esperava por isso? Amanh, meus passos cravaro os Sinos. Estes no podem se calar, nem por sua ameaa besta de suicdio nem por suas palavras esvoaadas. E, bem, mais uma verdade se coloca: nem eu nem nosso nomezinho estar por estes lados para pintar a aquarela furada das imagens que te anoto agora.

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Eu tenho sacoEu sinto nojoDe voc.

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Quando seus olhos, finos e melanclicos, cruzarem o oceano de suas sobrancelhas rarefeitas pela confuso, avanarem sobre os Sinais de nossa bexiga estourada, ningum poder bradar o suave autoconselho. "Eu avisei".

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Com o qu tanto se preocupa? Com o qu tanto se preocupa? Ser um pressgio? Posso te ver andando pela casa, tomando gua, respirando. Marchas compactas ressoam sobre nossas cabeas.

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Onde fica o mal que te habita? L fora, a doena dos que se calam, falemos deles: E, dos silenciosos, nunca h o que se dizer. Como tambm j no h o que dizer dos ruidosos - j falei muito e considero meus murmuros bobagens falastronas - me parece certo dar voltas ao redor da mesa que tenho minha direita. Gosto de mr curvar sobre o papel, por isso a deixo, literalmente, de lado; me agrada a submisso a seus caprichos, imaginar coisas que funcionariam como seus nervos e percepo. De repente as linhas azuis so mos, a vermelha o queixo e o branco o nariz. S boca ela no tem. Os rudos da caneta marcando o branco, cortando o azul e vez por outra obedecendo o rigor limiar vermelho so palmas. Gloriosas palmas roucas se afrouxando no entre-espao. Do sof mesa, da mesa parede, da parede ao corredor que leva mulher nua. Mencionei que tenho uma mulher nua, envolta em sono, a coisa de dez passos? Talvez no seja importante - e claro que no - , mas vejo vultos ao meu redor. Fumaa branca de cigarro branco, filtro vermelho, fazendo, em danas, formas no espao. Acariciam o teto enquanto Deus no atende minhas oraes: caia! caia! caia!, digo isso bem baixo enquanto o Sol d incio ao espetculo de mais um dia de dezembro. Como maravilhoso estar vivo! Os pssaros cantam as mesmas babaquices melodiosas de sempre e Ele no atende s minhas preces. Tenho um cordo umbilical solto, sonho em us-lo como corda-para-pular. mas minha preguia grita e se esbofeta no fino cho de madeira reluzente. Lustrado com todo o carinho, faz companhia velha surda que passa aqui seus ltimos dias. Eles sempre chegam, no mesmo? Como eu poderia no sonhar com este teto, este cu, este semisol caindo? Posso ver nossos espasmos enquanto a natureza, morta, prossegue em sua Vida sem suspiros nem arrepios. Sobre o Mal? Bem, temos crianas na sala (e voc uma delas).