Cadernos de seguro a evolução da técnica de gerência de riscos

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Material de apoio - desenvolvido por terceiros - ao curso de Ciências Atuariais

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A EVOLUÇÃO DA GERÊNCIADE RISCOS

Eng!!. Antonio Fernando Navarro

1 - A NECESSIDADE DAGERÊNCIA DE RISCOS

A necessidade de se avaliarriscos surgiu do fato de se precisarconhecê-Ios melhor, com o objetivode tratá-Ios, mensurá-Ios e aceitá-Iosou não.

o industrialavaliaos seus ris-cosquando deseja iniciarnovos in-vestimentos,ampliá-Iosou encerrá--Ios.

Uma seguradora, da mesmaforma que o industrial,também deveavaliar corretamente seus riscos. Nocaso da seguradora é importantenãosó o perfildo mercado onde ela atuacomo também operfilde suas contas.

Os processos de avaliaçãoexistentes podem ser intuitivosounão,qualitativosou quantitativos,debase matemática,etc.

No caso do mercado de segu-ros até bem pouco tempo a avaliaçãoera intuitiva,calcada na experiênciaprofissionaldo avaliador, compreen-

dendo informações de escritório, dotipo: ramo e modalidade de seguros,importância segurada, localizaçãodos bens, etc., até simples visitas aolocal, para o reconhecimento e oenquadramento do risco.

Quase ao final de 1978, pre-ocupados com .0 aumento das re-tenções de riscos e com a saúdefinanceira das seguradoras, passou-se a exigirque nos seguros incêndiovultosos fosse elaborado umrelatóriode análise de riscos, por um enge-nheiroda seguradora, comcurso paratal. Os cursos não saíram, os re-latórios também, pondo por terra oprograma. Apesar disso, alguma coi-sa produtiva veio à tona, já que omercado se abriu para os profissio-nais de engenharia e as seguradorasque, a partir dos dados da extintaexigência, passaram a melhorar onível técnico de suas inspeções. Écerto que pouco tem sidoaproveitadodesses trabalhos devido a ênfase noaspecto das negociações. Não vaiaqui nenhuma críticaao sistema mas,em um mercado onde desde a pri-meira até a últimaprioridade a pala-vra de ordem era condições financei-ras, a técnica quase nunca aparecia.Partindo dessa premissa, buscava-se retornos cada vez mais elevados,

reduzindonão só a estreitamargemde lucrocomotambémas despesasadministrativas.

Como dissemos anteriormen-te, a implantação de tais relatóriosmelhorou a cultura na aceitação deriscos.

Agerência de riscossurgiunosEstados Unidos em 1963 com apublicação do trabalho Risk Man-agement inthe Business, de RobertMehr e Sob Hedges, partindo deanálises de um trabalho de HenryFayol de 1916.

Segundo sua política original,até hoje atualizada, o objetivo maiorera a da análise dos vários riscos aque as empresas estavam submeti-das, quantificando as perdas deri-vadas de sua ocorrência, e determi-nando as medidas ou meios precisospara a sua eliminação e/ou redução,também ditas medidas mitigadoras,otimizando-as em termos econômi-cos, tendo também como objetivos amanutenção e organização do pa-trimônioe resultados da empresa.

Por exemplo: Qual o setor daempresa Xque está sujeito a incên-dio? Ocorrendo o incêndio o que

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poderá ser afetado? Quais serão osprejuízos diretos, indiretos e conse-qüentes? O que poderá ser feitoparaevitar o risco? O que ele poderá afe-tar no resultado da empresa?

É importante salientar que agerência de riscos se preocupa comos resultados finais da empresa.

Não sabemos se Mehr e Hed-ges, além do trabalho de Fayolse ins-piraramtambém em umassunto muitocontrovertido, já a sua época: Estu-dos de Confiabilidade,sobre os quaisfalaremos mais tarde.

Por estar atenta aos resulta-dos, a Gerência de Riscos não ficavaunicamente presa ao patrimônio daempresa. Não é só a segurança dopatrimônio que está em jogo. mastambém as pessoas que alise encon-tram, os processos desenvolvidospara a produção,as característicasda própriaprodução,o meio ambi-ente e enfim,todo o ecossistemadominante.

Como toda importaçãodeve

TABELA I

ser feita com cuidado, o mercadosegurador brasileiro ao importar aGerência de Riscos transformou-aem gerência ou administração de se-guros. As estruturas de gerência deriscos, atualmente existentes nossegurados, preocupam-se hoje como custo das coberturas e como menorrepasse possível de riscos.

Pesquisando cerca de 400casos chegamos aos seguintes re-sultados praticados pelos usuáriosde seguros ( TABELA I).

O risco não oferece somenteresultados diretos, perfeitamenteavaliados. Existem resultados amédio e a longo prazos bem dano-sos, quase nunca verificados masdentro do escopo da gerência deriscos, que é a Perda de Mercado.Para ilustrar melhor o assunto, fize-mos um levantamento (TABELA11)junto às estatísticas existentes paralojas comerciais, principalmente emsupermercados, quanto a possibili-dade de retorno às atividades, comsucesso.

de 5% a 15%- evitamento do risco:

- autoseguro:

- repasse do risco:

- proteção do risco :

de 30% a 50%

de 60% a 90%

TABELA 11

de 80% a 95%

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(*) PERíODO CRíTICO

Qualquer processo deavaliação conduz sempre a dadosempíricos. Está certo que são infor-mações estatísticas, matemáticas,mas não deixam de ser empíricas.Qu ando se diz que a probabilidade deuma pessoa morrer pela descargaelétrica de um raio é de E 10 -7, nãose está afirmando que todo ser hu-mano morrerá eletrocutado por umraio e que de cada parcela da popu-lação morrerá umpor queda de raioàrazão de 1para cada E 10 -7. Dototalde mortes registradas por queda deraio em uma determinada amostrachegou-se a essa probabilidade:

Quanto ao quadro anteriorcabe salientardoispontos:

- A pesquisa vale para mer-cados altamente competitivos,em uma região sócio-econômica equilibrada;

- Oconsumidor brasileirotemmaispreocupação como nomedo produto do que com suaprópria qualidade. Isto é, tor-na-se Amigodo Nome.

Em resumo, a Gerência deRiscos atua, em seu sentido lato,com:

- produção;- processos;- patrimônio;- pessoas;- finanças.

2 - O QUE SE ENTENDE PORRISCO

A palavra risco dá sempremargem a uma série de interpre-tações, seja no mercado seguradorquanto nas demais áreas. Só paraque se tenha uma idéia da quanti-dade de definições, mencionaremosalgumas:

- operação financeira;- atividadesdistintas(trans-porte, embarque, armaze-namento,manipulação,etc.);

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.

TEMPODEPARALlZAÇÃO POSSIBILIDADEDERETORNOPLENOOU POSSIBILIDADEDE

RETORNODOSCLIENTES

01 semana(*) 99%02 semanas(*) 98%03 semanas(*) 96%04 semanas(*) 94%02 meses 85%06 meses 70%12 meses 40%18 meses 15%24 meses 5%

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- bens segurados (ativo daempresa);- edifícios segurados;- planta segurada (conjuntode edifícios segurados);- ramos de seguros, etc.

Comodissemosanteriormente,riscos são todos os fatos. situações,bens ou atividades sujeitas a danos.Podem ser classificados, para finsestatísticos, em:

- voluntários;- acidentais;- aleatórios.

As implicações com a materi-alização desses para as empresasenvolvem as seguintes áreas:

- financeira;- material;- pessoal;- moral.

Existe ainda uma outra de-finição mais conservadora que clas-sifica os riscos como:

estáticos, cuja efetivaçãopressupõe uma perda ou uma re-dução do patrimônio humano oumaterial da empresa; dinâmicos,derivados da atividade financeiraespeculativa.

Riscos são todos os fatos,situações, bens ou atividadessujeitas a danos, quer voluntáriosacidentais ou aleatórios.

Define-secomo custo do risco(elemento necessário à determina-ção da gravidade), o somatório dosseguintes valores:

- perdas retidas ou assumi-das pela empresa (franquias,participaçõesobrigatórias,limi-tações de indenizações);- prêmios de seguros repas-sados ou assumidos pela em-presa,sendo nesteúltimocasoo financiamento dos riscos;

'- gastos com a instalação,manutençãoedepreciaçãodosmecanismos de prevenção eproteção de perdas. No casode segurosde pessoas,poder--se-á incluir neste item os gas-tos promocionais e de infor-mação aos usuários sobre asformas de prevenção de per-das;- gastoscom aadministraçãodo programa de gerência deriscos. Aqui também, pode-sereduzir os riscos, na medidaem que esses gastos podemser absorvidos pelas segura-doras, corretoras ou, simples-mente, repassados aosusuários do sistema.

Riscos Aleatórios

São os riscos que ocorrem in-dependentesdavontadehumana,taiscomo: terremotos, tremores de terranaturais e não os induzidos, ven-davais, furacões, enchentes e inun-dações, movimentos de terra.

A determinação da magnitudeou da gravidade dos riscos, além daclassificação anterior, deve ser avali-ada partindo-se da:

- aleatoriedadedaocorrênciade perdas;- freqüênciadas ocorrências;-valores médios das perdas;- valores acumulados deperdas previsíveis e espera-das;- perda máxima possível;- previsão adequada dasperdas e número suficiente debens sujeitos a riscos.

o conceito definindo riscos emestáticos e dinâmicos, separa oque se supõe uma perda ou umaredução do património humano oumaterial da empresa, da atividadefinanceira especulativa.

Os métodos e processos usu-almente empregados na avaliaçãodos riscos são os seguintes:

- M. GRETENER -determi-nation des mesures de protec-tion découlant de lévaluationdu danger potenciel díncendie- SPI - Suiça.- G. PURT - the evaluationof fire risk as for the planning ofautomatical fire protection-Euralarm.- CLUZEL & SARRAT -evaluation du risque díncendiepar le calcul- Eric - France.- CEA - modele Européandevaluation des risques indus-triels et commerciaux.- LlFE SAFETY CODE No.101 - Nfpa.- NELSON & SHIBE - NBS'- USA.- SAPEM - General serv-ices agency - USA- DowChemicalhazzardclas-sification and protection guide.

3 - FORMAS DE PREVENÇÃO DERISCOS

Após a identificação dos ris-cos, cabe resolver o quefazercom os

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j

Chama-se Assunção quando semantém a totalidade ou quase to-talidade do risco sob a responsa-bilidade de seu proprietário ougestão.

mesmos. A linha diretriz na qual sebaseiamosgerentes de riscoscontémalguns parâmetros, tais como:

- assunção ou retenção dorisco;- afastamento ou evitamentodo risco;- prevenção ou conservaçãodo risco;- repasse ou transferência dorisco;

a) Assunção ou retenção do risco

Chama-se assunção quandose mantém a totalidade ou a quasetotalidade do risco sob a responsa-bilidadede seuproprietário ougestor.

A assunção também pode serdefinida como um plano ou um con-junto de atividades econômico-fi-nanceiras elaborado especialmentepara suportar as perdas diretamentecausadas pelos eventos previstos.

A retenção de riscos tende aatender a um planejamento, ou planosistemático, pelo qual se avaliam eotimizam economicamente o impactofinanceiro criado com a rápidaocorrência do sinistro e as condições

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estudadas para o surgimento damesma.

A assunção pode ser entendidade duas formas:

-inconsciente, nãoplanejada,"non insurance"

Significa assumir as perdasgeradas com um sinistro sem que setenha levado em consideração amagnitude do sinistro e suas múlti-plas possibilidades de ocorrência.

-consciente, intencional,"selfinsurance"

É o processo em que o risco éassumido sem o estabelecimento demedidas especiais de tratamento,podendo ser incluídos os riscos depequena intensidade, sem se levarem consideração afreqüência. Não éum processo que conjugue periodi-cidade x gravidade mas, sim e tãosomente, a gravidade.

A retenção também pode serpraticada de forma ativa, implicandona aplicação específica de um pro-grama efetivo e definitivo para o fi-nanciamento de perdas.

A retenção ativa total prevê aretenção de todas as perdas pre-visíveis, diretamente, utilizando osrecursosinternosdaprópriaempresa.

Na retenção ativa parcial aempresa busca, atravésde um segu-rador, o equilíbrio no ressarcimentodos prejuízos sofridos, seja atravésdocosseguroda adoçãodefranquias,participações obrigatórias, limitesmáximos de responsabilidade, tari-fação, retrospectiva, etc.

Os erros mais comuns verifica-

dos para o insucesso dos planos deretenção são os seguintes:

-fixação dovalormáximoquea empresa deverá suportar emcada sinistro. Devem sempreser analisados os recursosdisponíveis da empresa, inclu-indo-se dentre esses as reser-

vas e os fundos gerados, e ofluxo de caixa;

- expectativadesinistros,nãosó com base na série históricalevantada como também nossinistros previsíveis;

-custos deadministraçãodosriscos retidos, tornando-se porprincípio a base de custos daárea, considerando-se inclu-sive os custos com pagamen-tos de sinistros ecom prêmios;

- filosofia da empresa, con-siderando-se como tal as limi-tações financeiras, atividadesconservadoras quanto à con-tratações de seguros, práticasexageradas de assunção deriscos, etc.:

- tempo de recuperação, le-vando-se em consideração osprejuízos financeiros geradosem decorrência das parali-sações havidas com os sinis-tros. Considera-se período deparalisação o intervalo detempo considerando desde areação da empresa frente aosinistroatéarecuperaçãoplenada atividade.

Osprincipaiscritériosutilizadospara a redução dos riscos são osseguintes:

- elevado número de riscossujeitos à exposição similar,que permita previsão precisados sinistros ao longo doperíodo de recorrência;

- que os riscos tenham umadistribuição uniforme, semdesvios significativos ou sinis-tros de alta gravidade;

- que a empresa tenha con-dições financeiras de suportaras perdas.

Os principais fiscos incorridosquando da escolha pela assunçãosão os seguintes:

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- ignorância de riscos -quando se descarta certos ti-pos de ocorrência por nãoserem significativasou por nãoterem ocorrido no período dedecorrência;

]

)

-avaliação insuficiente dosriscos - por não se ter umaidéiacorreta dabasede custosgerada com a ocorrência dossinistros, não se computam in-formações relevantes quetendem a aumentar o desviopadrão;

- estatísticas incorretas -tendem a ocorrer quando pro-jetam-sevalorespartindo-sedeum espectrodedados nãorele-vantes;

- mudança no compor-tamento da sinistralidade -não verificada e não inferidaconvenientemente;

- decisões tomadas uni-camente em função do danomáximo provável (DMP)- O DMP é derivado de umasituação quase que ins-tantânea. Éo resultadodeuma

i1 A Retenção também pode ser

praticada de forma ativa, impli-cando na aplicação específica deum programa efetivo e definitivopara o financiamento das perdas.

avaliação feita naquele mo-mento da inspeção. O simplesfato de se acrescentar carpeteonde antes havia tábua cor-rida, ou de acrescentar corti-nas de tecidos, mudar móveisde posição, acrescentardivisórias, etc., já altera o perfildo DMP. Assim sendo, dizerque um risco tem um DMP de60% quer dizer, unicamente, ecaso o processo de avaliaçãoseja realmentetécnico, que nomomento da inspeção haviauma possibilidade de se per-der 60%do riscoem função daocorrência de um sinistro.

Um dos processos de avaliaçãode resultados, necessários para atomada de decisões da assunção dorisco compara:

C=P(1 + r)' li)

c = Custo financeiro do seguroP = Prêmio do seguror = Taxa de juros reais, anuais, cor-respondente ao rendimentodo preçodo seguro investido no próprionegócio ou em aplicações de caráterpermanente.t = duração do seguro

b) Afastamento do risco

Considera-se afastamento doriscocomooprocedimentovoluntário,fazendo-se com que os seus efeitosnocivos não venham a ocorrer com opróprio segurado ou com os seusbens.

O afastamento é sempre umamedida problemática de ser tomadapela direção da empresa, visto que oque se pretende é repassaro risco in-tegralmente.

Quando não há possibilidadede protegê-Ia convenientemente, oseguro fica inviável ou não existeseguro e a sua assunção gera riscosdesnecessários.

Nesse caso, o caminho passaa ser: paralisar a produção; repassaro risco para outra empresa.

c) Repasse do risco

Diz-serepassedo riscoquandoalguém assume, mediante o recebi-mento de uma dada remuneração, orisco, perante nós, indenizando-nospor todos os prejuízosdele decorren-tes.

O repasse total algumas vezesconfunde-se com o afastamento do

A=[S(1 +i)V2+E+R](1 +i)'-R(1 +i)'12) risco. Normalmente, contrata-se umaseguradora para a assunção do risco.

A = Custoda retençãoS = Valor esperado dos sinistros,incluindoos gastos comsua adminis-tração e gestão, supondo incorridosna metade do tempo t.E = Custo - empresa dos serviçoscomplementares realizados habitu-almente pelo segurador, incorridosnum tempo t.R = Reservaadicionalpara cobrirpossíveis variações nas perdas.Supõe-se destacada no início doperíodo t dos fundos da empresa.i = Taxa d~ juros praticado pelomercado.

A retenção deve ser praticadaquando a relaçãoC for maior ou iguala 30% de A.

O repasseditoparcial,é aqueleno qual o segurado pode verificarqual o risco de maior incidência erepassá-Ia, assumindo os demaisriscos, ou então repassar parte dosbensoupercentuaisdas importânciasseguradas daqueles bens. Em re-sumo, repassa-se parcialmente:

- riscos freqüentes;- partes de riscos (edifi-cações);- percentuais de valores emrisco.

Da mesma forma que o re-passe total pode significar o afas-tamentodo riscoo parcialpode repre-sentar uma assunção parcial.

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Diz-se repasse de risco quandoalguém assume, mediante o recebi-mento de uma dada remuneração,o risco, perante nós, indenizando-nos por todos os prejuízos deledecorrentes.

I anto no caso ao atastamentocomo no caso do repasse do riscodeve-se ter o maior cuidado com aparcela retida.

Por exemplo, se após umaanálise chega-se à conclusão quese deve segurar (repassar) somente60% do risco, e por uma falha deanálise houve um dano maior do queo esperado, por exemplo, 80% dovalor em risco, a indenizaçãocabível,pela aplicação da cláusula de rateiopassa a ser:

I = P x IS onde

VR

I = indenizaçãoP = prejuízoIS = importância seguradaVR = valor em risco

I = 80% x 60%48%

100%

Neste caso, recebe-se 48% dovalor do prejuízo, assumindo o segu-rado a diferença entre os 60% segu-rados e os 48% indenizados (12%).

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d) Prevenção do risco

Prevenir risco é evitar ou ate-nuar os efeitos de suas ocorrênciassobreo patrimôniodas empresas. Seumaempresaporexemplo,emfunçãodas características ocupacionais ede produção possui uma cargaincêndio X, deve-se buscar equi-pamentos esistemasque a reduzam,por exemplo para Y.

o ganhoX- Y = W é o gastocom a prevenção de risco.

Previne-se a ocorrência deriscosinstalando-seequipamentosdedetecção e combate a incêndios,isolando-se áreas de produção,modificando as características dosprodutos processados, etc.

4 - CONTROLE DO RISCO

Voltando um pouco ao iníciode nosso trabalho, recordamos quetoda a atividadeempresarial está,ne-cessariamente, associada a riscos.

Como forma de evitá-Ios tem-se, dentre os outros processos: pre-venção e seguro.

A prevenção, quando bemaplicada, minimizaos efeitos dos ris-cos, sobreo andamentoda empresa.O seguro, item restaurador de umequilíbrio rompido, repõe as perdasfinanceiras sofridas com a materiali-

. zação do risco. É importante men-cionar-se estas diferenças, visto queo seguro não deve ser confundidocom uma forma de prevenção, massim,de reposiçãode perdasfinancei-ras. Quando o Gerenciamento deRiscos é bem executado, consegue-se a reposição quase que total dosprejuízos sofridos.

Nunca é demais mencionar queo acionamentodo seguro somente sedá quando houver falha na prevenção.

A prevenção quando bem ori-entada e apurada, evita ou reduz aocorrência de danos convencionais(incêndio, roubo, explosão, desa-bamento, acidente elétrico), como

também as de acidentes que podemafetar o elem.entohumano (trânsito,enfermidades, seqüestros, sabo-tagens, etc.), e as envolvendoo ativomaterial (defeitode qualidade, danospela utilização ou consumo de pro-dutos, perda de imagem, etc.).

Não se podedescartartambémos acidentes dito globais, derivadosde sabotagens ouchantagens,comoobjetivo de prejudicar a empresa,roubo de tecnologia, concorrência,fugas de cérebros e outros mais.

5 - SURGIMENTO DE NOVASTÉCNICAS DE GERÊNCIA DERISCOS

Nos idos de 1940, as autori-dades americanasda indústriabélica,preocupadas com o seu rápido de-senvolvimento,principalmentequantoà capacidade de destruição e aosaltos custos de desenvolvimento epesquisa de protótipos, desen-volveram uma metodologiacapaz desimular as principais falhas quepoderiam ocorrer, partindo-se de umdeterminado evento. Já se prenun-ciava o surgimento de uma técnica,posteriormente conhecida comoárvore de falhas.

O Seguro, item restaurador de umequilíbrio rompido, repóe as per-das financeiras sofridas com amaterialização dos riscos.

~

III!

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Confiabilidadepode ser entendidacomo a probabilidade .de um sis-tema oucomponentes vira desem-penhar, satisfatoriamente, fun-ções a de atribuídas em projeto.Dentro de condições normais dautilizaçãoe operação.

A engenhariade segurançadesistema iniciou seus passos com oadvento da confiabilidade.

Confiabilidade pode ser en-tendida como a probabilidade de umsistema ou componente vir desem-penhar,satisfatoriamente,as funçõesa ele atribuídas em projeto, dentro decondições normais de utilização eoperação. A não-confiabilidade, ou oinsucesso é denominado de proba-bilidade de falha.

o conjunto de falhas ocorridasnum dado intervalo de tempo é co-nhecido como taxa de falha.

V.oltando ao início, dizíamosque um dos tramos da Gerência deRiscos era o seguro. No seguro, parase obter a taxa do risco conjugava-sea freqüência com o dano médioesperado. A freqüência pode sercompreendida como taxa de falha.Para obtê-Ia são empregadas váriasanálises descritas a seguir:

a) Check.List

A técnica do check-list é umadas mais simples, necessitando deum bom inspetor, de uma completa

lista de perguntas, específica para aatividade em check-up, e de umaconveniente interpretação de resul-tados.

o mercado segurador utiliza-se bastante dessa metodologia nossegurosde RiscosDiversos,Respon-sabilidade Civil Geral, Riscos deEngenharia, Incêndio Vultoso.

o problema é que essetipo deanálisedepende,fundamentalmente,de uma boa interpretação. Se o ana-lista possui grande experiência pro-duz um resultado, e se não...

Outro fato é que às vezes sãoformuladasperguntasquenãotrazemresultado produtivo. São aquelasperguntasdifíceisdeseremconsegui-das, do tipo: Emque ano essa fábricapartiu? Qual a superfície de aqueci-mento da caldeira? Qual é a quanti-dade de funcionários por turno, naadministração e na produção?

Deum modogeral, o check listfaz parte de um trabalho maior, ondeé utilizadocomo bancode dados. Porisso, deve conter perguntas queatendam a uma gama de situações.

O método de check list é decarátergeral,qualitativo,nãodevendosertratado isoladamente.Quandoemconjunto com outros métodos, temseu efeito potencializado.

Em alguns relatórios deincêndio são mencionadas as vizi-nhanças à fábrica. Em outros é co-mentada a orientação dos ventosdominantes. Emambosos casos nãose toma qualquer medidaconclusiva,como a elaboração de medidas pre-ventivas, agravamentos, etc.

b) What...if (e...se)

E se de repente você atraves-sasse a rua com o sinal aberto?

E se a caldeira explodisse?

E se a pressão na linha tripli-casse?

Questões como estas são fa-cilmente respondidas em grupo ouisoladamente.

O objetivo do método é o deidentificar, através da discussão dotema, os problemas mais comuns ouos mais óbvios (são os que menos seenxerga), que possam afetar um am-biente, uma população. Costuma-seempregá-Io quando se está para darandamento a projetos polêmicos,envolvendocomunidades,tipo:metrô,linhas de transmissão de alta tensão,viadutos ou pontes, usinas termo-elétricas ou hidroelétricas, etc..Através da discussão, divulga-semelhor o assunto, verifica-se pontosaté então não imaginados, etc.

Em algumas situações, tive-mos a oportunidade de empregar ametodologia na discussão de paco-tes de seguros polêmicos ou com-plexos, reunindo o ressegurador,segurador, corretor e segurado. Demaneira geral, os resultados são óti-mos.

É interessante comentar queessa metodologia deve ser empre-gada como suporte de outras. Prefe-rencialmente com a de check-list oua de Análise Preliminar de Riscos.

c) Técnica de Incidentes Críticos

É uma técnica operacionalqualitativa, que busca obter infor-maçõesrelevantesacercade inciden-tes, ou quase acidentes, ocorridosdurante uma determinada fase, re-latados por testemunhas que osvivenciaram.

Trata-se de metodologia em-pregando entrevistas, buscando ob-ter informações acerca dos proble-mas envolvidos.

O incidente é um evento nega-tivo com potencial para provocardanos. É o quase acidente. A nívelde estudos é tão importante quantoo acidente.

Os incidentes podem ser hie-rarquizados da seguinte forma:

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I

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jClasse I - podem afetar a in-tegridade física das pessoas.Classe 11- podem ocasionaro insucesso do planejamento,gerando paralisações.Classe 111- podem gerar atra-sos na atividade produtiva.Classe IV - podem significaralteração do planejamento deprodução.

Será que alguém pergunta aooperador de uma dada instalação ouequipamento:

- Que tipo de acidente podeocorrer com esse equi-pamento?- Já aconteceu algumtipo deparalisação? De que ordem?Quanto tempo a máquinaficouparada? Houveparada da pro-dução?- Quantos acidentes já ocor-reram? Em que época?- Quantas horas os sistemasficaram parados?

De um modo geral, busca-se,através da experiência dos outros,avaliar melhor os riscos, quantifi-cando-os.

d) Análise Preliminar de Riscos(APR)

Técnica de inspeção desen-volvida com o objetivo de se obteruma revisão geral, superficial, dospossíveisriscos,suascausas,ascon-seqüênciasadvindascomsua materi-alização e as medidas corretivas oupreventivas exigidas. A APR é umexercício de futurologia, já que seprojeta um provável risco, avaliando--se as conseqüências.

Em resumo, a técnica tem porobjetivo a identificação de elementosperigosos do sistema, situações peri-gosas, falhas potenciais e outros, de-terminando a gravidade de suas efeti-vações.

A APR procura enquadrar osriscos segundo categorias definidasem função dos prováveis efeitosdestrutivos, segundo os parâmetros:

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- Categoria desprezível ounegligenciável: os efeitos sãoquase imperceptíveis, semprovocar degradações físicasambientais ou pessoais quenão possam ser facilmenterecompostas.

- Categoria marginal ou limí-trofe: surgimento de ocorrên-cias moderadas,perfeitamentecontroladas, porém, necessi-tando de ações corretivas amédio prazo.

A Análise Preliminar de Risco éum exercício de futurologia, jáque se projeta um provável risco,avaliando-se as consequências.

- Categoria crítica: afetasubs-tancialmente o meio ambiente,o patrimônio físico ou humano,necessitando ações corretivasimediatas.

- Categoriacatastrófica:comoo próprio nome indica, osefeitos afetam séria e irrever-sivelmentepessoas,sistemas,patrimônios, ambientes.

Por exemplo, se uma bombinhade São João fosse atirada no meio da

rua poderia ser classificada comodesprezível. Atirada próxima a umapessoa já teria efeito marginal. Seatingisse o seu ouvido seria catas-trófico.

Como segundo exemplo,poderíamos ter o uso do maçarico,bastante difundido em operações decorte e solda.

. Asprováveiscausasdeaciden-tes poderiam ser devidas a: inabili-dade do operador; falta demanutenção do equipamento; de-feitos de fabricação nos registros,mangueiras, bicos, etc.; desatençãona operação.

As conseqüências seriam:queimaduras no operador ou assis-tentes; princípios de incêndio;soldadura ou corte inadequados;danos ao material trabalhado. Essestipos de conseqüência poderiam serenquadradas nacategoria crítica,porgerar lesões ou pôr em risco o sis-tema.

As medidas corretivas po-deriam irdesde treinamentodoopera-dor, maior manutenção do equi-pamento, preparação da área de sol-dagem até um maior controle do riscode incêndio.

Para que a técnica tenha osucesso a que se pretende, deve-se,inicialmente, analisar todos os pos-síveis riscos existentes, suas con-seqüências imediatas ou não e asmedidas preventivas.

A APR é uma técnica inicialqualitativa, não permitindo a men-suração matemática do risco.

e) Análise de Modos de Falha eEfeitos (AMFE)

AAMFEou FMEAéummétodode análise detalhada, gerando resul-tados qualitativos e quantitativos.

Permite a análise das falhasdos componentes e dos sistemas,com estimativa de freqüência deocorrências (taxas de falhas) e a de-

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terminação dos efeitos ou. con-seqüências dessas mesmas falhas.

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A AMFE ou FMEA (FallureModes and EffectsAnarysis)abre umsistema em conjuntos ou subconjun-tos, sob a forma de diagramas deblocos, estudando-os em seus as-pectos isolados quanto aostiposde fa-lhas que .poderão gerar e as impli-cações que essas trarão para osdemais subsistemas. Dessa análiseparticularizadaobtém-se: revisãodosmodos de falha de cada componente;efeitos que tais falhas terão sobreoutros componentes e sobre o sis-tema. Levanta-se também quais oscomponentes cujas falhas seriamdanosas para o sistema (falhas deefeitocrítico).Como resultado finalégerado o cálculo de probabilidadedas falhas dos sistemas, a partir dasfalhas de seus componentes.

Logicamente, através dessesestudos, determinam-se as alternati-vas de redução das probabilidadesde falhas. Cada falha observada deveser analisada separadamente, comoum evento independente, semqualquer relação com os demais,exceto no que diz respeito às suasconseqüências.

A FM EA é por demais eficientequando aplicada a sistemas simples.Para sistemas mais complexos asso-cia-se a FMEAao estudo de Análisede Árvoresde Falha (AAF).Tambémassocia-se a FMEAa uma análise decriticidade (FMECA-Failure Modesand Effects and CriticalityAnalysis).Nesse caso, atribui-se para cadamodo de falha uma classe de gravi-dade. Ao conjunto, tem-se a taxa derisco.

As classes de gravidade sãoas mesmas adotadas no método deAPR, ou seja:

Classe I - falha resultandopotencial perda do sistema e/ou de vidas humanas;Classe 11- falha resultandopotencialameaça ao sistemaou às pessoas;Classe 111- falha resultando

potencial atraso ou perda dedisponibilidade imediata;Classe IV- falha resultandoem excessiva manutenção dosistema.

E:specificamenteem análisesde plantas complexas, com grandenúmero de subsistemas interagen-tes, emprega-se o método preliminarde HAZOP(Hazards and OperabilityStudy).

f) Análise de Árvore de Falhas (AAF)

A análise através de árvoresde Falhas é, dos métodos de estudos'de confiabilidade, UfTldos mais co-nhecidos. AFTA(Failure Tree Analy-sis) foi desenvolvida nos EstadosUnidos, na década de 60, com oobjetivode se estudar mísseis balís-ticos.

Mísseis intercontinentais, aforao alto custo de fabricação de cente-nas de milhões de dólares, represen-tam elevado risco potencial, quer sejadurante o seu transporte, sua esto-cagem em silos ou submarinos ouseu lançamento. As probabilidadesde perdas materiais e de vida eramenormes. Assimsendo, desenvolveu-se uma metodologia interativa quebuscava, através da determinaçãode um .. evento de todo", saber-sequal ou quais falhas que, atuando emconjunto ou isoladamente, poderiamgerar o evento indesejável.

A análise através da FTA busca

encontrar as diferentes combinações,matematizadas, que acarretemocorrênciade eventosindesejáveis.

Um dado importante é que,através da Álgebra Booleana veri-fica-se a correlação entre os várioseventos, onde o resultado é a proba-bilidadeda ocorrência. Amaiorpartedesses estudos não teria o menorvalor,em sistemas complexos, sem oapoio da informática.Graças a esseconsegue-se apresentar resultadosplausíveis. Algunsdeles são:

a) SURTEC( Módulos F MAP,TGR, FTA)Adotado na realização deFMEA/FMECA, elabora e edi-ta AAF, define eventos exter-nos e realiza simulações pelométodo de Monte Carfo.

b) SUPER CODE SYSTEMCriação e edição de árvores deeventos e arquivode probabili-dade.

c) WHAZAMPrograma para riscos denatureza química e riscos po-tenciais de materiaistóxicos e/ou inflamáveis. É empregadoem: dispersão de ga-ses,vazamento de líquidosou gases,radiação térmicade incêndio, jatos ou bolasde fogo, deslocamento dear por explosão, dispersãode nuvem de gás.

d)TECJETModulagem de escapamentocom jato contínuo.

e)STATPACCálculo de frequências, es-tatísticas, tabulação, tabelas decruzamento,correlaçãoe re-gressão.

f) STATLlBCálculo de funções de proba-bilidade binominal, poisson ehipergeométrica, análise demúltipla variância, teste deBartiett,geração de conjuntosde números rondômicos paraMonte Carlo, etc.

Ainda são adotados os softs:SCHE, MOCUS, BACFIRE, SAMPLE,HEUR, MARKOV, RELlCS, BATEX,CANONE, etc.

CADERNOSDE SEGURO 23