CadernosDeResidenciaPedagogicaVol08 (2)

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CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA CAPES Literatura e outras Linguagens nos anos iniciais do ensino fundamental

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Caderno instrucional proposto pelo governo.

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CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

CAPES

Literatura e outras Linguagens nos anos iniciais do ensino

fundamental

Literatura e outras Linguagensnos anos iniciais do ensino

fundamental

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

Pipa ComunicaçãoRecife - 2014

Literatura e outras Linguagensnos anos iniciais do ensino

fundamental

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

Coordenador:CleCio dos santos Bunzen Júnior

série CADerNOs De resiDÊNCiA PeDAGÓGiCALiteratura e outras Linguagens no ensino fundamentaL

FiCha TÉCNiCa DO VOLUME

FOTO, CRiaÇÃO E PROJETO Da CaPaKarla Vidal (Pipa Comunicação - www.pipacomunica.com.br/)

PROJETO GRáFiCO E DiaGRaMaÇÃOKarla Vidal e Augusto Noronha (Pipa Comunicação - www.pipacomunica.com.br)

COORDENaÇÃO DO VOLUMEClecio dos Santos Bunzen Júnior

TExTOsAlunos dos Cursos de Pedagogia e Letras (Vespertino e Noturno), da Universidade Federal de São Paulo, campus Guarulhos. Professores da Secretaria de Educação de Guarulhos.

REVisÃOClecio dos Santos Bunzen Júnior

Copyright 2014 © Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP

reservados todos os direitos desta edição. é proibida a reprodução total ou parcial desta

obra sem autorização expressa dos autores e organizadores.

Catalogação na publicação (CIP)Ficha catalográfica produzida pelo editor executivo

B9429

Bunzen, Clecio dos Santos. Literatura e outras linguagens nos anos iniciais do ensino fundamental / Clecio dos Santos Bunzen Júnior [org.]. - Recife: Pipa Comunicação, 2014. 208p. : Il.. (Série Cadernos de Residência Pedagógica). Vol. 08.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-66530-32-2

1. Educação. 2. Ensino Fundamental. 3. Pedagogia. 4. Residência Pedagógica. 5. Literatura. I. Título. II. Série.

370 CDD37 CDU

c.pc:06/14ajns

UNiVERsiDaDE FEDERaL DE sÃO PaULO

ChEFE DE DEPaRTaMENTO DE EDUCaÇÃOClaudia PanizzoloMarieta Gouvêa de Oliveira Penna

COORDENaÇÃO DO CURsO DE PEDaGOGiaRegina Cândida Ellero GualtieriRosario Genta Lugli

COORDENaÇÃO Da REsiDêNCia PEDaGóGiCaClaudia Lemos Vovio

EqUiPE DE REsiDêNCia PEDaGóGiCa

Adalberto Dos Santos Souza

Adriana Regina Braga

Betania Libanio Dantas De Araujo

Celia Maria Benedicto Giglio

Claudia Barcelos de Moura Abreu

Claudia Lemos Vovio

Claudia Panizzolo

Cleber Santos Vieira

Clecio dos Santos Bunzen Júnior

Daniela Finco

Edna Martins

Érica Aparecida Garrutti De Lourenço

Emerson Isidoro Santos

Isabel Melero Bello

João do Prado Ferraz de Carvalho

Jorge Luiz Barcellos da Silva

Lucila Pesce

Magali Aparecida Silvestre

Marcia Cristina Romero Lopes

Marcia Jacomini

Maria Angélica Pedra Minhoto

Maria Cecilia Sanches

Maria de Fátima Carvalho

Marian Avila De Lima e Dias

Marieta Gouvêa de Oliveira Penna

Marineide de Oliveira Gomes

Umberto de Andrade Pinto

Vanessa Dias Moretti

Vera Lucia Gomes Jardim

Wagner Rodrigues Valente

CrÉditos da sÉrie

Comissão editoriaL

Editores ExecutivosAugusto Noronha e Karla Vidal

Conselho EditorialAngela Paiva DionisioAntonio Carlos Xavier

Carmi Ferraz SantosCláudio Clécio Vidal Eufrausino

Clecio dos Santos Bunzen JúniorLeonardo Pinheiro Mozdzenski

Pedro Francisco Guedes do NascimentoRegina Lúcia Péret Dell’IsolaUbirajara de Lucena Pereira

Wagner Rodrigues Silva

Prefixo Editorial: 66530

aPresentaÇão

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O curso de Pedagogia da UNIFESP, inicia-do em 2007, definiu um modelo de formação inovador, centrado na busca por uma aproxi-mação entre a Universidade e a Escola Pública. Busca-se, assim, a construção de espaços de estudo e pesquisa que articulem teoria e práti-ca, integrando a formação inicial e o exercício profissional da docência. Dois pilares centrais alicerçam esta proposta: a Unidade Curricular Práticas Pedagógicas Programadas (PPP) e o Programa de Residência Pedagógica (PRP).

A Residência Pedagógica acrescenta ao mo-delo de “estágio curricular” o preceito do traba-lho recíproco entre a Universidade e a Escola Pública. Essa reciprocidade se concretiza, de

Apresentação

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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um lado, pela inserção dos alunos de Pedagogia como residentes nas escolas, e de outro, por meio de ações de extensão que atendam às demandas de for-mação de professores e gestores das redes públicas de ensino ou prestadores de serviços conveniados ao município de Guarulhos.

A Série Cadernos de Residência Pedagógica é composta de materiais destinados aos residentes do curso de Pedagogia da UNIFESP e aos profes-sores e gestores das escolas públicas de Guarulhos. O objetivo é discutir algumas das questões que ca-racterizam as diferentes etapas da educação básica, os modos de organização e gestão, os currículos, o processo de ensino e aprendizagem e os sujeitos envolvidos nesses processos. Além disso, espera-se que colabore para a compreensão das dinâmicas re-alizadas pelos residentes no ambiente escolar.

Essa publicação conta com o apoio do Programa de Consolidação das Ações de Licenciatura – PRO-DOCÊNCIA – CAPES – DEB. Fazem parte da Série os seguintes volumes: Educação Infantil (volume 1), Primeiro segmento do Ensino Fundamental (volu-me 2) e Educação de Jovens e Adultos (volume 3), Gestão Educacional (volume 4), Educação Infantil e Direitos da Infância (volume 5), O Direito à Infân-

Apresentação

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cia e ao Brincar (volume 06), História e Geografia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (volume 07), Literatura e outras Linguagens nos Anos Ini-ciais do Ensino Fundamental (volume 08).

Literatura e outras Linguagensnos anos iniciais do ensino

fundamental

sumÁrio

15 Literatura e outras linguagens: construindo

sugestões didáticas

23 Chapeuzinho Vermelho: diferentes autores e

gêneros

31 Os Três Porquinhos: os diferentes usos e

recursos

41 Coraline no País das Maravilhas

49 Muitas Alices, muitas Histórias

55 A reinterpretação de Romeu e Julieta para a

Literatura Infantil

69 “Os Miseráveis” em um contexto

sociocultural atual – além de Victor Hugo

83 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá de

Jorge Amado

95 As aventuras de Pinóquio: as diversas

versões para a mesma história

105 Experimentando poemas: uma saborosa e

divertida aventura

113 Narrativas Míticas dos índios brasileiros

127 Rotas Fantásticas: histórias que o povo conta

139 Contos de Mistério: desvelando a sua escrita

147 Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras

batalhas

161 Entre contos e poesias: versando memória e

diversidade no mundo das palavras

171 Descobrindo os contos populares

185 Trabalhando com contos populares

195 A poesia disseminando o direito

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Literatura e outras Linguagens: Construindo sugestões didÁtiCas1

O e-book “Literatura e outras Linguagens nos anos iniciais do Ensino Fundamental” é re-sultado de uma experiência didática com alu-nos de Pedagogia e Letras, além de professores da rede pública de Guarulhos, matriculados na Unidade Curricular “Fundamentos teórico-práticos do Ensino da Língua Portuguesa”. Os professores em formação inicial e continuada foram convidados a produzirem “Sugestões Didáticas” para professores que atuam nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com ên-fase no trabalho com a leitura e nos modos de ler na sala de aula.

1. Clecio dos Santos Bunzen Júnior, professor do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Paulo e docente responsável pela Unidade Curricular Fundamentos Teórico-práticos do Ensino da Língua Portuguesa (5º Termo) no primeiro semestre de 2012. E-mail: [email protected]

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As Sugestões Didáticas (SDs) não foram es-critas para anos específicos, pois acreditamos que os professores do 1º ao 5º ano podem usá-las em diferentes anos e com várias adaptações e comple-mentos. De maneira pontual e direta, as SDs foram construídas para discussões específicas da Unida-de Curricular, especialmente para a iniciação à docência em relação à construção de um projeto didático autoral.

A construção de tal projeto didático autoral en-volve muitos desafios, especialmente pelo pouco tempo/espaço para reflexão sobre língua, lingua-gem, textos e gêneros do discurso nos cursos de Pedagogia. Os futuros professores e os que já atu-am apresentam muitas dúvidas, questionamentos e desejos sobre o que podem fazer com as crianças na escola pública, levando em consideração diver-sos fatores externos e internos ao processo de es-colarização e consolidação da alfabetização. Neste sentido, foram eleitos três objetivos gerais que impulsionaram a construção de várias SDs para professores da rede pública brasileira:

Literatura e outras linguagens: construindo sugestões didáticas

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1. Escolher gêneros do discurso da esfera literária e da esfera da divulgação científica2 para um trabalho na escola que leve em consideração os letramentos múltiplos (Rojo, 2009) e os multiletramentos (Rojo, 2012).

2. Desenvolver uma percepção inicial para a escolha de textos singulares adequados para o trabalho pe-dagógico na escola, apostando no trabalho de media-ção do professor na análise verbo-visual dos textos.

3. Construir uma rede intertextual que apóie o traba-lho de leitura e produção de textos na escola, levando em consideração o “local” e o “global”; as diferenças sociais e culturais, além da diversidade de mídias (Rojo, 2012)

Com base na Bibliografia Básica da Unidade Curricular (com destaque para Rojo, 2009 e 2012, Antunes, 2009, Fontana, 2009; Lerner, 2002), os grupos iniciaram a elaboração das sugestões di-dáticas após a apresentação de um modelo que

2. A escolha de duas esferas deve-se ao fato de possibilitar aos alunos compara-ções em termos de escolhas de gêneros, textos, aspectos lingüísticos e visuais. O tratamento da imagem ou do léxico de um poema não pode ser o mesmo dado a um verbete de divulgação científica para crianças. As SDs com o trabalho da esfera de Divulgação Científica pode ser visto no Volume 9.

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apresentava as principais seções e seus objetivos. Neste sentido, é importante frisar que não estáva-mos construindo “sequências didáticas” ou “pro-jetos de ensino” que apresentam características de uma ação didática mais sistematizada e uma maior discussão sobre o tempo pedagógico. As SDs cons-truídas objetivaram mais instigar, propor alguns caminhos, insinuar gestos didáticos, fornecer pro-postas e aventar práticas em que o ensino da lei-tura de textos verbo-visuais possa ser central nas diferentes disciplinas escolares ou áreas do conhe-cimento.

As SDs encontram-se organizadas por títulos que remetem a elementos importantes do proje-to didático autoral, citações que retomam textos lidos pelos autores e seções. Cada seção procura responder a determinados objetivos da Unidade Curricular e ao mesmo tempo dialogar com os fu-turos leitores:

Literatura e outras linguagens: construindo sugestões didáticas

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Objetivo das sugestões didáticas: explicitar de forma bre-ve aos leitores quais são os principais objetivos da sugestão didática, levando em consideração à esfera em jogo (literária ou divulgação científica), os textos singulares escolhidos, a rede intertextual construída e os elementos verbais e visuais que poderão ser analisados.

iniciando a proposta com as crianças: apresenta para os leitores qual é a obra ou texto que será principal para a cons-trução das aulas e das propostas sugeridas.

sugestões para começar o encontro com o texto: sugere ao professor gestos didáticos que apontam para a importân-cia do planejamento de ações pedagógicas que introduzam as crianças na experiência inicial com o texto.

De olho no texto verbo-visual: apresenta propostas de aná-lise linguística e visual de trechos do texto singular escolhido como principal. Desta forma, vale salientar que são apenas al-guns aspectos que foram ressaltados, sem uma discussão so-bre como sistematizá-los. Cabe ao professor dialogar com as propostas e organizá-las, sistematizá-las e ampliá-las, uma vez que acreditamos na importância do trabalho de análise com as crianças na escola, com a mediação do professor. As suges-tões apenas apontam para alguns elementos de análise3.

3. Salientamos também que por uma questão relacionada aos direitos autorais dos textos, reproduzimos apenas pequenos trechos e nunca os textos completos. Desta forma, o professor precisará ter acesso às obras para uma visão geral do texto e do trabalho pedagógico.

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Fazendo relações com outros textos verbais e/ou visuais: sugere a ampliação da análise linguística e visual por meio da relação intertextual do texto principal com outros textos, levando consideração a diversidade de mídias e produções verbo-visuais (filmes, pinturas, jogos eletrônicos, literatura infantil, quadrinhos, vídeos, canções etc.). O objetivo tam-bém não é sistematizar quais caminhos o professor deve seguir, mas apenas mostrar possíveis trilhas e possíveis pro-postas.

Produzindo textos com as crianças: apresenta algumas propostas de produções textuais orais, escritas ou verbo-visuais com as crianças, como uma forma de sistematizar ou ampliar as possibilidades de trabalho com a língua(gem) na escola.

Para saber mais/Para ler mais: sugere bibliografia de apoio, vídeos, programas televisivos, sites, blogs ou outros recursos que podem enriquecer o trabalho sugerido nas seções an-teriores.

A produção das sugestões didáticas pelos gru-pos teve como finalidade também uma ação re-flexiva sobre o processo de produção textual, uma vez que os alunos se envolveram em um processo de reescrita e de reflexão sobre a interlocução de seus textos. Esperamos que a leitura das suges-

Literatura e outras linguagens: construindo sugestões didáticas

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tões possa provocar nos leitores reflexões positivas sobre a ação pedagógica. No âmbito da proposta pedagógica do curso de Pedagogia da Unifesp e le-vando em consideração a Residência Pedagógica, acreditamos que as sugestões didáticas indiciam as aprendizagens dos futuros professores (e dos atuais docentes) sobre o agir pedagógico, especial-mente sobre a complexa tarefa de planejar ações didáticas intencionais para construir com autono-mia seus projetos didáticos autorais.

Referências Bibliográficas

ANTUNES, Irandé. Aula de Português. São Paulo Parábola, 2003.FONTANA, Roseli. Escrevendo e lendo na escola: a mediação como princípio da organização do trabalho pedagógico. In: Ensaios: perspectivas e pressupostos para uma discussão curri-cular na Rede Municipal de Campinas. Campinas, 2009. LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002, pp. 17-26.ROJO, Roxane. Letramentos(s) – práticas de letramento em diferentes contextos. In: Letramentos múltiplos, escola e inclu-são social. São Paulo: Parábola, 2009.ROJO, Roxane. Pedagogia dos multiletramentos - Diversi-dade cultural e de linguagem na escola. In: ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (Orgs.) Multiletramentos na escola. São Pau-lo: Parábola, 2012.

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ChaPeuzinho VermeLho: diferentes autores e gêneros1

“No entanto, sabemos que, em nosso país, nem todas as crianças e adolescentes têm a opor-tunidade de conviver com livros de literatura infantil e juvenil antes e fora da escola e, com isso, destacamos a importância de o professor garantir em sua rotina pedagógica prática de livros de literatura.”

(Leal, Albuquerque e Morais, 2007,p.71).

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar a literatura infantil com crianças, relacio-nando a história Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque de Holanda, com o conto maravilhoso Chapeuzinho Vermelho.

• Fazer relações intertextuais entre as obras, enfati-zando a importância de compreender as entreli-nhas.

1. Laís Pezzuto Porto, Mayara Fervorini Silva, Rafaela França e Rosely da Silva Sousa, alunas do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo.

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• Contribuir para que as crianças compreendam que os textos possuem autores que fazem escolhas, têm intenções e propósitos, se alinham e se relacionam com outros autores por intermédio de suas obras; bem como divergem de outros, o que, também, pode ser feito por meio de suas produções.

Iniciando a proposta com as crianças...

Ler em sala de aula a obra Chapeuzinho Amare-lo, escrita por Chico Buarque de Holanda em 1979 e ilustrada por Ziraldo em 1997. A criança-leitora terá contato com um livro-poema no qual Chico Buarque faz uma releitura do conto maravilhoso Chapeuzinho Vermelho.

Chapeuzinho Vermelho: diferentes autores e gêneros

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Sugestões para começar o encontro com o texto

Sugerimos começar o trabalho pedagógico in-vestigando os conhecimentos prévios das crianças sobre o conto Chapeuzinho Vermelho, sem o auxílio do livro, para que elas tenham possibilidade de se expressarem oralmente; dando oportunidade para que contem o que sabem. Outra opção é fazer uma discussão oral sobre possíveis diferenças nas versões que já conhecem, explorando os conhecimentos so-bre outras obras inspiradas no clássico infantil.

Em seguida, pode-se conversar sobre o trabalho de compilação das histórias realizado pelos Irmãos Grimm, bem como sobre a autoria de Chico Buar-que de Holanda e suas composições musicais. Daí, então, pode-se ler a história Chapeuzinho Amarelo, com auxílio do livro, para que as crianças tenham a oportunidade de terem contato com o suporte, de folheá-lo; apreciarem as ilustrações e interagirem umas com as outras acerca de suas percepções e das lembranças evocadas de seus repertórios individu-ais, para que assim, experimentem a prática de re-lacionar os textos com seus conhecimentos prévios.

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De olho no texto verbo-visual

Chapeuzinho Amarelo

“Era a Chapeuzinho Amarelo.Amarelada de medo.

Tinha medo de tudo,[...]Um LOBO que nunca se via,

que morava lá pra longe,do outro lado da montanha,num buraco da Alemanha,

cheio de teia de aranha,numa terra tão estranha [...]”

1. É possível abordar a importância das ilustrações, e pensar com as crianças de que forma elas auxiliam na compreensão do conto e quais as relações que se estabelecem entre cores, formas e a temática principal do texto.

2. As rimas presentes na obra, e exemplificadas no trecho escolhido, podem ser trabalhadas em uma discussão sobre os efeitos que produzem, tal como o efeito de eco que a repetição da sílaba “nha” na sequên-cia de palavras montanha, alemanha, aranha e estranha produzem, reforçando a ideia de lá pra longe.

3. Pode-se trabalhar com os vários sentidos das pala-vras, tal como na parte em que Chapeuzinho Amarelo é adjetivada de “amarelada de medo”.

Chapeuzinho Vermelho: diferentes autores e gêneros

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

“Não podemos interpretar um texto em um gênero sem relacioná-lo a seu contexto de origem, sinalizado pelas pistas textuais, aí incluídos autor, forma de produção, público a que se destina. Do contrário nossa compreen-são de um texto seria incompleta”.

(Rojo e Brait, 2001, p.12).

1. Comparar as histórias Cha-peuzinho Vermelho, traduzida por Ana Maria Machado (Editora Nova Fronteira, 1986), e Chapeu-zinho Amarelo de Chico Buarque de Holanda.

2. Comparar o livro de Chico Bu-arque com o livro Chapeuzinho Redondo, escrito por Geoffroy de Pennart, (Editora Brinque-Book, 2012), que apresenta ver-são bem humorada da história Chapeuzinho Vermelho, na qual a menina não é vítima e o lobo não é mau.

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3. Para apresentar às crianças ou-tros gêneros e explorar a intertex-tualidade, sugerimos assistir ao filme Deu a Louca na Chapeuzinho (Hoodwinked), lançado no Brasil em 2005, no qual o roteirista e diretor Cory Edwards opta por recontar Chapeuzinho Vermelho em forma de uma cômica trama policial.

4. É possível, ainda, ler a história dos Três Porquinhos (ana Maria Machado, FTD Editora, 1996) que é citada no filme Deu a Louca na Chapeuzinho pela fala do Lobo-Repórter e fazer a inter-relação en-tre os elementos comuns tais como medo, lobo como vilão, etc.; além de discutir sobre a intencionalidade desses autores, expressa, dentre ou-tros fatores, pela moral da história.

Produzindo textos com as crianças

sugestão a: conversar com a turma e propor uma atividade de produção de textos que terá por fim publicá-los em um blog que será criado para socializar as produções entre eles, possibilitando que revisitem seus textos, comentem os trabalhos dos amigos.

Chapeuzinho Vermelho: diferentes autores e gêneros

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sugestão B: propor que a turma se separe em grupos e cada um dos grupos, de acordo com suas habilidades e preferências, trabalhe com um gê-nero para recontarem um conto maravilhoso, po-dendo ser filmagem realizada com celular ou câ-mera convencional, fotografia, desenho, ou ainda, alguns podem gravar a narração de sua versão. As crianças podem também produzir outras versões para a história Chapeuzinho Vermelho.

Para ler mais

• MACHADO, Angelo. Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-Guará. Editora Melhoramentos. 2006.

• ROSA, João Guimarães. Fita Verde no Cabelo: nova velha estória. 13.ª impressão. Ilustrações de Roger Mello. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.

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Para saber mais

• ANTUNES, Irandé. Refletindo sobre a prática da aula de português. In: Aula de Português. São Pau-lo Parábola, 2003.

• DIONÍSIO, Angela Paiva. Conversa entre textos. In: Diversidade Textual: Os gêneros na sala de aula. CEEL, Editora Autêntica. 2006. Disponível em: http://www.ufpe.br/ceel/e-books/Diversida-de_Livro.pdf - acesso 17/12/2012.

• LEAL, T.F; ALBUQUERQUE, E.B.C; MORAIS, A.G. Letramento e alfabetização: pensando a práti-ca pedagógica. In: BEAUCHAMP, Jeanete et alli. (Orgs). Ensino fundamental de nove anos: orien-tações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasilia: MEC, 2007, p.69-84.

• MARCUSCHI, Beth. Escrevendo na escola para a vida. In: Egon Rangel e Roxane Rojo (Orgs.). Língua Portuguesa: Ensino Fundamental. Brasília, MEC, 2010.

• MENESES, Adélia Bezerra de. Vermelho, verde e amarelo: tudo era uma vez.  In: Estud. av.[online]. 2010, vol.24, n.69, pp. 265-283.

• ROJO, Roxane; BRAIT, Beth. Gêneros: Artimanhas do texto e do discurso. Coleção Linguagens e Códigos. São Paulo: Escolas Associadas.2001.

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os três Porquinhos: os diferentes usos e reCursos1

“A relevância e a produtividade pragmática da língua oral no mundo contemporâneo pode ser facilmente percebida nas mídias, nas deman-das postas por uma vasta gama de profissões, no uso político da fala e até mesmo nos jogos, brincadeiras e interações cotidianas (piadas, jogos de palavras, chistes), nas quais os desejos de jovens e de adultos tecem e entretecem suas subjetividades e, por meio delas, fortalecem ou enfraquecem suas possibilidades de participa-ção social. Sua importância é tão evidente que constitui um desafio enumerar ou mesmo clas-sificar a infinidade de gêneros dos quais o tra-balho, as diversões e as artes contemporâneas lançam mão”.

(BELINTANE, 2000, p. 55).

1. Andressa Baldini da Silva, Beatriz Loge Hashimoto, Debora Regina Marques de Barros e Thabita Aline Biazon Lopes, alunas do 5º Termo do curso de Peda-gogia (Vespertino) da Universidade Federal de São Paulo.

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Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar a literatura oral com crianças, enfatizando as diversas formas de narrar uma mesma história, além de promover as práticas de letramento ao oferecer di-ferentes gêneros: contos de fada, canção, filme, entre outros.

• Abordar diferentes versões da história “Os três Porqui-nhos”.

• Proporcionar o desenvolvimento das capacidades lin-guísticas de ler, ouvir e falar com compreensão, atra-vés do ensino sistemático das práticas de leitura.

Iniciando a proposta com as crianças...

Sugerimos a leitura da história “Os três porquinhos em cordel”, de Marco Haurélio. A narrativa retoma

Os Três Porquinhos: os diferentes usos e recursos

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a história do folclorista australiano Joseph Jacobs, que a publicou com o titulo original “The story of the three little pigs”, na Inglaterra em 1890. His-tória presente no livro Contos de Fada, da editora Zahar, que traz uma coletânea de diversos contos.

Sugestões para começar o encontro com o texto

Pode-se primeiramente reler trechos da his-tória clássica e perguntar às crianças se elas sa-bem qual é a obra, e quais são os conhecimentos prévios delas a cerca dessa história. Em seguida, pode-se fazer a leitura oral da versão em cordel.

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De olho no texto verbo-visual

“CONTA A DONA CAROCHINHAQUE NUMA TERRA DISTANTE

VIVIA UM LOBO CRUEL,UM ANIMAL ARROGANTE,

PERSEGUINDO OS OUTROS BICHOS,COM UMA FOME INCESSANTE.

NÃO MUITO LONGE DE ONDE AQUELE LOBO VIVIA,NUMA BONITA CABANADONA PORCA RESIDIA

COM TRÊS FILHINHOS MIMADOS,AOS QUAIS MUITO BEM QUERIA”.2

1. Explorar a construção do cordel, permitindo que as crianças conheçam as sextilhas (seis versos) e possam comparar com as quadrinhas (quatro versos) mais co-nhecidas por elas.

2. Abordar as rimas e o ritmo do cordel, sobretudo as rimas externas3 (distante/arrogante/incessante e vivia/residia/queria), sempre presentes nos versos pares (2º, 4º e 6º).

2. Trecho de HAURELIO, M. Três Porquinhos: em cordel. São Paulo: Nova Alexandria, 2011.

3. A rima é externa, quando ocorre no final dos versos.

Os Três Porquinhos: os diferentes usos e recursos

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3. Compreender os possíveis sentidos e expressões (Carochinha/ arrogante/ incessante),conversando so-bre o léxico usado.

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Ler as histórias: Os três Porqui-nhos Pobres4 e Outra Vez os Três Porquinhos5 do autor Erico Verís-simo. Através da narração, explorar as adaptações do clássico e iniciar uma reflexão acerca da intertextua-lidade com outras obras e gêneros.

“Vocês viram a fita dos três porqui-nhos? Pois, bem, vocês são três porqui-nhos?— Semos — disse LinguichinhaSabugo corrigiu o irmão.— Somos.” (2008, p. 24)

“Os três irmãos davam-se as mãos, for-mavam uma roda e botavam a menina no meio [...] (2003, p. 4)”.

4. VERISSIMO, Erico. Os três porquinhos pobres. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2008.

5. VERISSIMO, Erico. Outra vez os três porquinhos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2003.

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2. Explorar os diferentes filmes e curtas-metragens sobre a história. A versão da Disney,6 1933, pode ser uma possibilidade, pois permeia o imaginário de diversas gerações. O clássico permite pensar nas relações com as imagens e com a trilha sonora:

“Quem tem medo do Lobo mau, Lobo mau, Lobo mau (Bis) Dou um soco no nariz Eu dou-lhe um bofetão Eu dou-lhe um pontapé Derrubo ele no chão Quem tem medo do Lobo mau, Lobo mau, Lobo mau (Bis)”

Outra possibilidade seria ouvir o conto, as cantigas e trabalhar com o videokê do CD7, para abordar a compreensão do texto oral e também dos recursos so-noros.

6. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=kL5EjA2xu3k>

7. Versão da Ciranda Cultural – Sacolinha da Alegria.

Os Três Porquinhos: os diferentes usos e recursos

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3. Explorar pin-turas, na quais as crianças possam visualizar as dife-rentes leituras que podem ser criadas a partir de uma história. Indicação: Os Três Porquinhos (2007), de Lourdes Leite8

Produzindo textos com as crianças

• Comparar diversas versões do conto em diferentes mídias, atentando para as ilustrações, termos, épocas da edi-ção e ideologias, de maneira que as crianças possam se apropriar das his-tórias e reescrevê-las, utilizando-se de diferentes gêneros: história em quadri-nhos, peça de teatro, curta-metragem, paródia, teatro de fantoches, música, poema, entre outros.

8. Disponível em:<http://www.movimentoartecontemporanea.com/mac/acer-vo/46/1132/>

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• Essa história poderá ser reescrita com outra perspectiva, utilizando o livro de dobraduras, “Os três porquinhos” (HAHN, 2009)9, e partindo de ques-tões introdutórias como: “ E se os he-róis não fossem tão bonzinhos assim? E se o conto fosse contado do ponto de vista do vilão?”10 E realizar produções que caminhem para este sentido.

• Recontar as histórias trabalhadas, in-dividualmente ou coletivamente. Al-gumas perguntas podem nortear essa produção, como por exemplo:

1. Quem são os principais personagens?

2. Conte, em poucas palavras, os princi-pais eventos do conto.

9. HAHN, C. Os três porquinhos. Um livro de dobraduras. Companhia das Letri-nhas, 2006.

10. MOURA, E. & TEIXEIRA D. O. Chapeuzinho vermelho na cibercultura: por uma educação lingüística com multiletramentos.In: ROJO, R. H. MOURA, E.(org.) Multile-tramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

Os Três Porquinhos: os diferentes usos e recursos

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• Expandir a forma de elaboração das produções das crianças com o auxilio das chamadas Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs): curta-metragem, fotolog, stop motion, entre outros.

Para saber mais

• BELINTANE, C. Linguagem oral na escola em tempos de redes. In: Educação e Pesquisa. São Paulo, v.26, n.1, p.53-65, jan./jun. 2000.

• CASCUDO, L. C. Literatura oral no Brasil. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1984.

• GOLDSTEIN, N. Versos, Sons, Ritmos. São Paulo: Ed. Ática, 12º ed. 2000.

• MORAES, F. O. A subalternização em Os três porquinhos. In: Educação e Pesquisa, São Paulo, v.26, n.1, p.53-65, jan./jun. 2000.

• ROJO, R. H. MOURA, E (Orgs.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.

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CoraLine no País das maraViLhas1

“O uso de quadrinhos tem o objetivo de ajudar, motivar e estimular o aluno a desenvolver ha-bilidades, além de ensinar de forma lúdica. Os benefícios serão muitos. As Histórias em Qua-drinhos dão uma extraordinária representação visual do conhecimento, mostram o que é es-sencial, ajudam na organização narrativa da história, são de fácil memorização, enriquecem a leitura, a escrita e o pensamento e desenvol-vem conexões entre o visual e o verbal”

(Luyten, 2011, p.25)

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar textos em quadrinhos com crianças, explorando “a linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente” (PCNs, 1997, p.30);

• Relacionar os quadrinhos com outros elementos da cultura popular, como cinema, desenhos ani-mados e jogos eletrônicos;

1. Tamires Narumi e Valesca Brites, alunas do curso de Pedagogia da Universi-dade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Avaliar a história da personagem, relacionando-a com protagonistas de outras obras e estimulando a riqueza da imaginação das crianças;

• Reconhecer o quadrinho como gênero discursivo secundário2 que aparece em circunstâncias de co-municação cultural na forma escrita e que muitas vezes, em função do enredo desenvolvido, engloba os gêneros discursivos primários correspondentes à comunicação verbal espontânea.

Iniciando a proposta com as crianças...

Conhecido principalmente por Sandman, Neil Gaiman é um renomado autor britânico de graphic novel3, e suas histórias fantasiosas são capazes de levar ao mundo dos sonhos até o mais pragmático dos seres humanos, pois deixam o fantástico pai-rando levemente sobre a realidade; não afastando, mas também não permitindo que se toquem.

2. Para mais informações, consultar BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. Martins Fontes: 2003

3. Termo cunhado por Will Eisner em 1978, que poderia ser traduzido para o portu-guês como Novela Gráfica, remete a histórias em quadrinho publicadas em formato de livro, e que tratam de assuntos mais maduros e complexos, mostrando um coti-diano mais próximo à realidade.

Coraline no País das Maravilhas

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Coraline, escrito para sua filha e publicado em 2002, conta a história de uma garota que gosta de explorar o lugar para o qual acabou de se mudar com os pais. Em uma de suas explorações, desco-bre uma porta secreta, que na verdade era um por-tal para outro mundo, reflexo do mundo no qual ela vive, onde coisas perturbadoras acontecem. A personagem passa por situações assustadoras e precisa enfrentar seus maiores pesadelos para con-

seguir se salvar e voltar ao seu mundo verdadeiro.

Há duas versões publicadas da história: narrati-va e quadrinhos. “Hoje as histórias em quadrinhos são valorizadas como gênero literário que conjuga

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

44

imagem e palavra, símbolos e signos. Sua lin-guagem se insere nos campos da cultura e da arte” (LUYTEN, 2011, p. 22). Por conter todas essas ca-racterísticas, seu emprego na educação escolar é de suma importância para a consolidação do pro-cesso de alfabetização.

Sugestões para começar o encontro com o texto

É possível iniciar as atividades debatendo sobre o imaginário e/ou as relações familiares e inter-pessoais, relacionando a história de Coraline com o clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, através de elementos que se assemelham nas obras.

Coraline no País das Maravilhas

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De olho no texto verbo-visual

“Qual é o seu nome?”“Olhe, eu sou Coraline. Ok?”

“Gatos não têm nomes” “Não?”“Não.”

“Agora, pessoas têm nomes. Isso acontece porque vocês não sabem quem vocês são. Nós, os gatos,

sabemos quem somos, por isso não precisamos de nomes.” 4

1. O trecho selecionado permite que as crianças ana-lisem como se desenvolvem os diálogos na história em quadrinhos e discutam como seria esta mesma conversa em uma narrativa que não se organizasse em quadrinhos;

2. Podemos propor às crianças que reconstruam este mesmo diálogo em um texto dramático ou em um roteiro de filme, destacando as diferenças e fazendo comparação entre os gêneros;

3. É possível tratar da questão da identidade e for-mação da personalidade, analisando a fala do gato, e questionar a compreensão do ponto de vista que sua fala carrega.

4. Transcrição do texto verbal de GAIMAN, Neil, RUSSELL, P. C. (ilustrações) Coraline Graphic Novel Editora ROCCO, 2010.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textos verbais e/ou visuais

1. analisar as falas de Coraline, de Neil Gaiman e Alice, de Lewis Carroll, sob o contexto no qual as personagens se encontram.

2. Comparar a história de Cora-line com o jogo Epic Mickey, de-senvolvido pelo estúdio Junction Point e publicado pela Disney para Nintendo Wii, em que a persona-gem atravessa um espelho e vai parar em um universo paralelo, apresentando o trailer do jogo5. Outro jogo que cuja temática se as-semelha a de Coraline é Kingdom Hearts, desenvolvido pela Square Enix e publicado em parceria pela Square e a Disney para PlayStation 2. É possível também explorar o jogo do próprio livro Caroline, cha-mado de “Coraline: The Game”.

5. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=4-MnhFshTxU

“Quanto mais rápido for, mais atrasado chegarei.”

- Alice (Alice no país das maravilhas)

“Mas como pode você fugir de alguma coisa e então voltar até ela?”

- Coraline (Coraline)

Coraline no País das Maravilhas

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3. Explorar as possíveis relações entre a história de Coraline com o primeiro livro da série as Crônicas de Nárnia, O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, de C. S. Lewis, no qual quatro crianças vão parar num outro mundo através de um portal dentro de um guarda-roupa.

4. Comparar as versões de Corali-ne em graphic novels com a adap-tação da narrativa para o filme em stop-motion: Coraline e o mundo secreto (2009).

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Para saber mais

• LUYTEN, Sonia M. B. Quadrinhos na sala de aula. In: Revista Salto para o Futuro, Ano XXI Boletim 01, Abril, 2011. p. 25.

• OLIVEIRA, Bruno S. Histórias em quadrinhos como recurso metodológico para o ensino de Língua Portuguesa. Iporá: UEG, 2010.

• RAMOS, Paulo. Histórias em Quadrinhos: Gênero ou Hipergênero. In: Estudos Linguísticos. v. 38, pp. 1-14, 2009.

• RAMOS, Paulo. Os quadrinhos em aulas de língua portuguesa. In: RAMA, Angela; VERGUEIRO, Waldomiro. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006, pp. 65-85.

• VERGUEIRO, W. C. S; RAMOS, Paulo Eduardo (Orgs.). Quadrinhos na educação: da rejeição à prática. São Paulo: Editora Contexto, 2009.

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muitas aLiCes, muitas histórias1

“Alice sofre os percalços do crescimento no so-nho, mas sai de sua viagem exatamente como entrou. Era um sonho, acabou, as pálpebras se abrem, a vida é retomada no mesmo ponto em que se fecharam.”

(Colasanti, 2003, p.07).

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar as narrativas clássicas infantis com crianças, relacionando versões da mesma história.

• Explorar a linguagem oral e escrita.

• Trabalhar a relação das narrativas clássicas com filmes e pinturas que retratam a mesma história.

1. Gisele Cristina Salazar, Jaqueline Alves Magalhães Venancio, Maria das Do-res, Marlene Alves dos Santos, Thaisa Tamie N. de Oliveira, alunas do curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Iniciando a proposta com as crianças...

Sugerimos começar chamando a atenção das crianças para que percebam: o formato do livro, o título, a capa, a folha de rosto e as orelhas do livro. Alice no País das Maravilhas foi escrito por Lewis Carroll e há várias traduções e adaptações para a língua portuguesa.

Muitas Alices, muitas Histórias

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De olho no texto verbo-visual

Conselhos de uma Lagarta

“A Lagarta e Alice olharam-se algum tempo (...) A Lagarta perguntou:

- Quem é você?Alice ficou atrapalhada (...) Respondeu afinal com

muito cuidado: - Eu... bem, eu não sei direito, minha senhora.”

1. No livro, aparece o narrador. Podemos solicitar que as crianças explanem sobre a visão do narrador para os fatos.

2. Explorar as falas dos personagens dentro da nar-rativa e os sinais de pontuações que são usados para representar um diálogo na forma escrita. Como por exemplo, o travessão, reticências, sinais de exclamação e interrogação.

3. As crianças podem conversar sobre o léxico em grupos para que possam compreender os possíveis sentidos e metáforas das palavras e expressões: “Esbu-galhados” “Lacaio” etc.

4. Comparar as ilustrações do livro, para que as crian-ças percebam a relação da imagem com cada parte narrativa.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

“Uma leitura não existe isolada, mas viaja em nós num grande concerto de ecos em que as vozes de tantos autores e tantos livros se entrelaçam e se refletem”.

(COLASANTI, 2003, p.04).

1. Explorar a comparação das duas narrativas, Alice no metrô e Alice no País das Maravilhas.

[...] A Alice deste livro é brasileira e encontra no metrô da cidade de São Paulo o seu país subterrâneo. Penetrando nos mistérios da adolescência, cresce com seu corpo, mas “encolhe” com suas dúvidas e receios. [...]

2. Explorar a comparação da narrativa escrita do livro com a produção cinematográfica mais recente da Disney.

Aos 19 anos, Alice volta ao País das Maravilhas, fugindo de um casamento arranjado. No mundo mágico, ela reencontra os personagens estranhos, como o Chapeleiro Maluco a Rainha Branca e a Rainha, inspirados na obra de Lewis Carroll. É nessa jornada fantástica que a jovem tentará encontrar seu verdadeiro destino e acabar com o reino de terror da Rainha Vermelha.

Muitas Alices, muitas Histórias

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3. apresentar e relacionar com as crianças as características da narrativa original com os jogos eletrônicos que têm o mesmo tema.

Alice do País das Maravilhas - Wii

Jogo que permite que você guie, proteja e ajude Alice em sua jornada pelo País das Maravilhas, onde vários mistérios serão revelados. Ao longo do caminho, os jogadores visitam personagens como o Chapeleiro Louco e o Gato Risonho, com habilidades especiais para ajudar a escapar de

armadilhas e solucionar os enigmas.

4. apreciar as pinturas dos quadros de salvador Dali que representam o conto alice no Pais das Maravilhas, fazendo relações entre o conto e as pinturas.

Para baixo na toca do coelho de

Salvador Dali

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Para saber mais

• CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das letras, 1993.

• COELHO, Nelly Novaes. O conto de fadas. São Paulo: Ática, 1991.

• COLASANTI, Marina. A leitura sempre renovada – Alice, Pinóquio, Peter Pan. In: Leitura: Teoria e Prática. Ano 21, Março de 2003, Número 40.

• MARTINS, Aracy; MACHADO, Maria Zélia Versiani. A Literatura e a versatilidade dos leitores. In: Aracy Alves Martins (Orgs.). Livros & Telas. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

• ROJO, Roxane. Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

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a reinterPretaÇão deromeu e JuLieta Para a Literatura infantiL1

“A literatura infantil tem, assim, potencialmen-te duas credenciais básicas para ser o caminho que poderá conduzir a criança, de forma muito eficaz, ao mundo da escrita. Em primeiro lu-gar, porque se prende geralmente a conteúdos que são do interesse das crianças. Em segun-do, porque através desses conteúdos ela poderá despertar a atenção da criança para as caracte-rísticas sintático-semânticas da língua escrita e para as relações existentes entre a forma lin-guística e a representação gráfica.”

(Rego, 1995, p.52).

1. Carolina Pereira dos Santos, Cláudia Lopes de Souza, Sabrina Vieira Ferreira, Tatiana Barbosa Rodrigues e Victor dos Santos Moraes, alunos do 5º termo do curso de Pedagogia (vespertino) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar com as crianças a habilidade da recriação narrativa através da literatura infanto-juvenil.

• Explorar os diferentes estilos literários na reinvenção de uma mesma história: paródia cantada e poética, narrativa musical, rimas, associações textual, poesias, etc.

• Incentivar os processos cognitivos de significação das crianças, estimulando a socialização das diferentes reinterpretações que caracterizam a cultura infantil.

• Explorar a temática da diversidade e suas contribuições a partir de obras que, baseadas no clássico Romeu e Julieta, buscam semear a paz e a reconciliação entre pares.

Iniciando a proposta com as crianças...

A leitura da obra Romeu e Julieta, de Ruth Ro-cha (Editora Salamandra, 2009), apresenta uma recriação da peça teatral de William Shakespeare que retrata a história do amor proibido mais co-nhecido na literatura universal.

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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O clássico universal “Romeu e Julieta” é, originalmente, um texto teatral. É um gênero híbrido, pois contempla o oral e o escrito. Recriar esta obra e adaptá-la a um conto infantil (narrativo) implica, pois, num enorme desafio ao autor e, consequentemente, ao professor em sala de aula ao possibilitarem uma prática de leitura dinâmica e interativa com os alunos, capaz de traduzir a dramatização característica do teatro. Este elemento é essencial na aplicação desta proposta pedagógica, pois é ele que dará vida ao texto e permitirá às crianças atribuírem sentido à atividade de leitura em termos da construção de conhecimento.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Sugestões para começar o encontro com o texto

• Iniciar a aula ouvindo a história do li-vro no áudio gravado pelo grupo Pala-vra Cantada, CD Mil Pássaros Sete Histórias de Ruth Rocha (MCD, 1999) que acompanha o livro, disponí-vel também na internet2. Permitir que as crianças “saboreiem” a história e a acompanhem com a imaginação. Des-ta maneira, exemplifica-se para crian-ça a importância da oralidade na inter-pretação de um texto.

• Abrir uma roda de conversa para per-guntar sobre como visualizaram os personagens e o cenário, e só depois apresentar o livro, ouvindo outra vez a história. Isso contribuirá para a inter-pretação do texto e desenvolvimento da criatividade.

2. Acesse: http://www.radio.uol.com.br/#/album/ruth-rocha/mil-passaros-sete-historias-de-ruth-rocha/3926

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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• Podemos ainda, contextualizar o uso do livro a partir de uma socialização da turma entre as histórias de roman-ce conhecidas pelas crianças para que assim possam estabelecer relações in-terpretativas ao se depararem com o texto. Pode-se dizer, segundo Vygotsky (2002), que assim estaremos agindo na zona do desenvolvimento proximal das crianças, pois a temática trabalhada é bem conhecida socialmente (o amor proibido).

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbo-visual

- Ah, papai,as rosas são tão cheirosas...- Cheiro não é tudo na vida,

meu filho.Lugar de borboleta azul

é no canteiro azul.Sempre foi assim... (p.10)3

1. O trecho selecionado ilustra muito bem um posicio-namento de resistência muito típico de uma criança que tem curiosidade sobre o mundo que a rodeia e com o qual os alunos poderão se identificar durante a leitura, envolvendo-se com a história.

2. Explorando a capacidade de reprodução inter-pretativa das crianças descrita por Corsaro (2001), podemos debater com as crianças sobre o efeito que depreendem do uso das reticências no texto escrito, como imaginam que está ocorrendo o diálogo (sentido de interrupção de um pensamento de forma que o leitor subentenda o que seria enunciado, transmissão de emoção para quem lê, entre outros casos) e como reproduziriam oralmente a conversa a partir do que imaginam, que entonação dariam a essa fala.

3. ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. Ilustrações de Mariana Massarani. São Paulo: Sala-mandra, 2009.

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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3. A análise das ilustrações de Mariana Massarani po-tencializa uma prática de leitura que é muito própria das crianças (a qual envolve textos curtos e muitas figuras ou desenhos a cada página), ativando o seu mundo imaginário sincrético quando entram em con-tato com a história.

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Explorar a interpretação da situação exposta nos livros abaixo, em especial nestes trechos. Discutir com as crianças as semelhanças dos textos narrativos, os tempos dos verbos, a criação e descrição de cenários e personagens. Além disso, pode-se também, discutir o valor da diversidade e o perigo da segregação.

Há muito tempo, não muito longe daqui.Havia um reino muito engraçado.Todas as coisas eram separadas pela cor. [...]

- ROCHA, Ruth. Romeu e Julieta. Ilustrações de Mariana Massarani. São

Paulo: Salamandra, 2009

Havia uma cidade de Cá e a cidade de Lá. Entre elas passava um rio enorme. Como não existia ponte, era impossível atravessá-lo. [...]

- SAUERESSIG, Simone. Um rio pelo meio. São Leopoldo,

RS: Sinodal, 1996

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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2. Ler e comparar os trechos de adaptações da obra literária. Ajudar a criança a perceber as diferenças entre um texto em prosa e outro em verso - o cordel, a partir do mesmo clássico, Romeu e Julieta.

Por volta do ano de 1600, havia na cidade de Verona, na Itália, duas famílias inimigas: os Capuletos e os Montecchio. As razões da inimizade eram de pouca importância, mas tinha crescido tanto que, naquela altura, bastava que um capuleto e um Montecchio se encontrassem na rua para que algo terrível pudesse acontecer. [...]

- SHAKESPEARE, William – adaptação de Renata

Pallottini – Série Reencontro Infantil – São Paulo: Scipione,

2000

Aconteceu na Itália,Na cidade de Verona, esse sinistro episódioOnde a Obra mencionaQue sendo contra o amorO ódio não funciona.

Enfoca duas famíliasRicas da sociedade:Montéquios e Capuletos,Que agitavam a cidadeCom uma velha pendengaDe mortal inimizade. [...]

- MARINHO, Sebastião. Romeu e Julieta em cordel – Clássicos em cordel. São

Paulo: Nova Alexandria, 2011.

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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3. Trabalhar com as crianças a significação das histórias, utilizando-se dos três livros: Romeu e Julieta (Ruth Rocha), Romeu e Julieta em cordel (Sebastião Marinho) e Romeu e Julieta (Willian Shakespeare adaptado por Renata Pallottini). Apresentar também o filme Gnomeu e Julieta4 e o vídeo Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta. Perceber as semelhanças e diferenças entre as recriações. Questionar sobre a versão que mais agradou as crianças e sobre que relações podemos estabelecer entre o livro trabalhado de Ruth Rocha e os vídeos em termos de língua(gem).

4. Gnomeu e Julieta Kelly Asbury. EUA, Reino Unido, 2011

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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4. apreciar diferentes ilustrações de Romeu e Julieta, percebendo a riqueza da recriação do conto e da arte. Ajudar as crianças a perceberem a diferença entre ilustrações “comuns” nos livros infantis e ilustrações comuns às narrativas de cordel. Selecionar outras ilustrações de livros infantis e livretos de cordel para exemplificar a diversidade das ilustrações, bem como a liberdade dos artistas na criação de personagens e traços artísticos. Incentivar a liberdade de expressão artística. Além disso, o professor pode pesquisar com as crianças como são feitas essas ilustrações, tanto no trabalho em série (desenho gráfico e impressões de livros), como no trabalho individual (desenhistas manuais e artistas de xilogravura). É possível visitar com a turma o site da ilustradora Mariana Massarani (http://marianamassarani.blogspot.com.br).

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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Produzindo textos com as crianças

• Contar às crianças o mito grego, Píra-mo e Tisbe, que inspirou o romance trágico de William Shakespare e outros escritores, até nos nossos dias, como é o livro de Ruth Rocha. Desafiar as crianças a desenvolverem versões cria-tivas desse clássico, em conto, poesia e/ou cordel – apresentações em livros e áudios.

• Uma opção é propor uma dramatiza-ção teatral da história, propiciando relações intertextuais com outras pro-duções aqui apresentadas, incentivan-do a capacidade inventiva e criativa das crianças através do jogo simbólico. Busca-se, aqui, propiciar uma situação que coloquem as crianças em ativida-de do ponto de vista psíquico, como aponta Leontiev (1978), motivadas pelo interesse na ludicidade, elemento de uma de suas necessidades básicas: o brincar.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Para saber mais

• CORSARO, W. Cultura de pares e reprodução interpretativa. In: Sociologia da Infância. Porto Alegre: Artmed, 2001, pp. 126-152.

• LEONTIEV, A. N. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa, Livros Horizonte, 1978.

• REGO, L. L. B. Literatura infantil: Uma nova perspectiva da alfabetização na pré-escola. São Paulo: FTD, 1995.

• VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Programa televisivo

• Programa Jogo de Idéias com Ruth Rocha (http://www.youtube.com/watch?v=RLE43ngoRq8)

A reinterpretação de romeu e Julieta para a Literatura infantil

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sites para navegar com as crianças...

• Site Oficial da Ruth Rocha (http://www2.uol.com.br/ruthrocha/home.htm)

• Biblioteca Ruth Rocha (http://www.bibliotecaruthrocha.com.br/)

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“os miserÁVeis” em um Contexto soCioCuLturaL atuaL – aLÉm de ViCtor hugo1

“Ensinar literatura não é apenas elencar uma série de textos ou autores e classificá-los num determinado período literário, mas sim revelar ao aluno o caráter atemporal, bem como a fun-ção simbólica e social da obra literária. A lite-ratura deve desempenhar, assim, a sua função social, ou seja, o estudo de literatura deve aju-dar os alunos a compreender a si próprios, sua comunidade e seu mundo mais profundamente, percebendo com isso as possibilidades de signi-ficação que o texto literário permite.”

(Martins, 2006 p. 91)

1. Angélica Rafaela de Lima Freitas, Bruna C. Mirahy de Lima, Jessica Blasques da Silva e Tayná Mota Santos Figueiredo, alunas do 5º Termo do curso de Pe-dagogia da UNIFESP.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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A proposta pedagógica é:

• Utilizar com as crianças do Ensino Fundamental I um dos livros indicados pelo Ministério da Cultura para o PROLER (Programa Nacional de Incentivo a Leitura), da Fundação Biblioteca Nacional – FBN.

• Explorar as diferentes realidades sociais por meio de diversas linguagens e gêneros como o cordel e poemas.

• Explorar os diferentes estilos de linguagens em ilustrações em aquarelas e em xilogravuras, atentando para a diferença entre os estilos e linguagens, e seus objetivos ao serem usadas em uma obra.

• Imbricar e interligar a literatura clássica erudita com a realidade atual através de reflexões por meio de rodas de conversa sobre as vivências cotidianas, e sobre os outros materiais diversos apresentados.

• Trabalhar os conceitos de obra original e uma obra adaptada, e as diferenças e semelhanças entre uma obra original e uma adaptação.

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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Iniciando a proposta com as crianças...

A sugestão didática, que visa alcançar os objeti-vos observados acima, pode ser realizada de forma interativa, contanto que promovamos a participa-ção ativa dos educandos. Pode ser iniciada com a leitura do livro feita pelo(a) professor(a) para a classe de forma gradual, sendo um capítulo por dia (tendo por base que o livro contém nove capítu-los), de forma a mostrar as ilustrações e perguntar, questionar sobre o que está sendo lido, apontan-do as críticas sociais, e questionando como Victor Hugo2 mostra isso em sua obra, ou também como ele retrataria nossa sociedade atual.

O livro “Os Miseráveis”, adaptação por Luc Le-fort3 e tradução de Luciano Vieira Machado4 (Áti-

2. Foi um escritor francês, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista, exercen-do um importante papel na luta pelos direitos humanos francês nas causas repu-blicanas, com grande atuação política em seu país. Deu força ao Romantismo e sua eloquência e paixão que redigia em suas obras o trouxe o reconhecimento ainda jovem. Temos como obras de destaque “O Corcunda de Notre-Dame” (1831), “Odes” (1822), “Os Miseráveis”, dentre outras. Fonte: HUGO, Victor. Os Miseráveis. Adaptação Luc Lefort. http://pt.wikipedia.org/wiki/Victor_hugo.

3. Escritor e adaptador de outros clássicos como Ali Babá e os quarenta ladrões; O médico e o monstro; Drácula entre outros.

4. Licenciado em letras pela Universidade de Brasília. Retentor de onze prêmios na-cionais por traduções de obras do inglês, alemão, francês e espanhol. Fonte: http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00618

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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ca, 2007) da obra clássica erudita de Victor Hugo, apresenta ilustrações de Gérard Dubois5 diversifi-cadas e expressivas que possibilitam a recriação do universo e do ambiente vivido na época retratada. Com muitas cores em sua maioria escuras, realça a decadência moral e social que o texto denuncia.

5. Pintor nascido em Paris em 1968.

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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Sugestões para começar o encontro com o texto

• Antes de começarmos a leitura e con-textualização da obra, podemos ler a biografia do autor, que está disponível na própria obra sugerida, na página 58. Esta parte do livro traz outras referên-cias, sendo intitulada como: “Por trás da história”, onde encontramos deta-lhes sobre a cidade e a época vivida por Victor Hugo.

• Após o trabalho com a biografia do au-tor, podemos questionar em uma roda de conversa sobre o que as crianças acham que será a história, observando o título e a imagem da capa; indagan-do-as sobre a posição da menina que está debaixo da mesa, sobre o que tem para comer e sobre onde acham que a menina está.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbo-visual

Certa noite uma mendiga, sem nenhum agasalho, ia passando a porta do estabelecimento no instante em

que dois jovens burgueses saíam de lá. Bem protegidos por seus casacos e chapéus de abas largas chamados boíveres, em moda na época, os dois jonotas estavam

Bêbados e zombavam de tudo. Um deles, que acabara de jogar um punhado de neve no pára-lama de carruagem, achou divertido ir seguindo a pobre

miserável, sem fazer o menor ruído; morrendo de rir, ele enfiou uma bola de neve no alto de suas costas.

Sufocada a princípio, a mulher gritou um “não” assustador. Depois ela se voltou e partiu pra cima

dele, gritando e dando socos no ar. (...) Um policial que estava na esquina aproximou-se e agarrou-a

brutalmente pelo braço. (p.25)(...)

– Ir para a prisão, senhor? – gemeu ela, desvairada. – Não! Quem vai pagar, enquanto isso, a pensão da minha filha?Minha Cossette, que está tão longe e

acaba de completar oito anos. Eles aumentaram ainda mais o preço! Está sendo tão difícil pagar. (P.26)

1. Este trecho do livro permite que as crianças com-parem a narração com as ilustrações presentes nas páginas 25 e 26, onde aparecem Fantine em estado decadente com um dos jovens a observando, e a figura do oficial que a prende.

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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2. As sequências narrativas permite-nos trabalhar o uso temporal dos verbos, dando destaque aos verbos no passado no tempo pretérito que também são poucos usados no cotidiano das crianças e podem ser objetos de conhecimento na escola, como: “passara”, “acabara”, e “agarrou-a”.

3. As crianças podem procurar a definição da palavra “miserável” em seus dicionários e, logo após, podem conversar sobre o possível sentido da expressão: “pobre miserável” no texto em análise.

4. A oralidade pode ser trabalhada por instigarmos uma discussão, perguntando qual seria um possível desfecho para esta parte da história, quem elas acham que está com a razão e se era necessário de fato que Fantine fosse presa.

5. As palavras “boíveres” e “janotas” presentes no trecho podem ser trabalhadas de modo a ser apresentado o significado destas, tentando antes ouvir hipóteses formuladas pelas crianças, para que possam, além de compreender e enriquecer seus vocabulários, construir seus próprios sentidos e significados.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Possibilitar aos estu-dantes a percepção da diferença entre as duas produções textuais, identificando a estrutura do cordel em sextilhas (seis versos)

Os Miseráveis em cordel

Sem querer ir adianteFalou em tom de lamento:- Eu estou preste a dormirNa rua mesmo, ao relento!Ninguém quer me dar pousada Pois eu sou um ex-detento.

Há poucos dias saíDa mais horrenda prisão,Fui condenado porqueRoubei um naco de pãoPara dar aos meus sobrinhos Que estavam com precisão

Há cinco anos recluso,Depois que fui condenado,Fui intentar de fugirTive um pior resultado;Quatorze anos a maisLá me deixaram largado. [...]

- Viana, Klevisson. O miseráveis em cordel. São

Paulo: Nova Alexandria, 2008, p. 19

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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2. Relacionar a contex-tualização de “Os Mi-seráveis” (adaptação) com o contexto atual expresso por meio do poema lido ou decla-mado por sergio Vaz6 em vídeo7. Após a leitu-ra e relação entre as duas produções, questionar e discutir em uma roda de conversa as relações estabelecidas entre a obra clássica erudita e a vivência cotidiana.

6. Autor dos livros “Subindo a ladeira mora a noite”, “A margem do vento”, “Pensa-mentos vadios”, “A poesia dos deuses inferiores”, “Literatura, pão e poesia” entre outros; publicados independentemente, com o apoio da Cooperifa e da Faculdade Taboão da Serra. Fonte:http://musicapoesiabrasileira.blogspot.com.br/2008/04/srgio-vaz-o-poeta-da-periferia.html

7. Vídeo: Sergio Vaz declama “Os Miseráveis”: http://www.youtube.com/watch?v=LKwwwok2clw

Vitor nasceu no jardim das margaridasErva-daninha nunca teve primaveraCresceu sem pai sem mãe sem norte sem setaPés no chão, nunca teve bicicleta

Já Hugo não nasceu, estreouPele branquinha, nunca teve invernotinha pai, mãe, caderno e fada-madrinha

Vitor virou ladrãoHugo salafrárioUm roubava por pãoO outro para reforçar o salárioUm usava capuzO outro gravata...

- Vaz, Sergio. O colecionador de pedras. São Paulo: Global,

2007 .

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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3. Comparar a obra clás-sica original com a adap-tação. Por tratarmos de uma apresentação de uma obra clássica, faz-se neces-sário este processo para a compreensão dos alunos para o que está sendo trabalhado. Para iniciar, ler na adaptação de Luc Le-fort, na pág 58, o trecho destacado bo box ao lado. Após a leitura deste tre-cho, mostrar aos alunos os dois volumes da obra “Os Miseráveis”, Hugo, Victor/COSAC NAIFY. De forma visual, deve-se perguntar qual a primeira diferença que notam, esperando que esta seja o volume e a quantidade de páginas. Circular o livro para que todos na classe folheiam-no e reparem que há menos ilustrações, e que trata-se de uma obra mais densa. Comparar um dos capítulos da obra original, com a adaptação de Luc Lefort. Discutir com os alunos as diferenças e se-melhanças apresentadas, para a construção de seu próprio conhecimento.

“Você conheceu uma parte desse romance. As mais de mil páginas de Os miseráveis trazem muitas aventuras e suspense: o inspetor Javert, implacável, persegue Jean Valjean aonde quer que ele vá; Cosette cresce e se apaixona; os Thénardier perdem a hospedaria e caem na marginalidade. Existem personagem apaixonantes como o comovente Gavroche - simbolo dos meninos de rua de Paris- que foge de casa pra não se transformar num bandido. Vale a pena conhecer a história inteira!”

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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4. apreciar as diferentes ilustrações das duas obras apresentadas, a pintura em aquarela de “Os miseráveis” de Gérard Dubois, 2007 e as figuras que imitam xilogravuras de Murilo e Cintia, 2008 de “Os miseráveis em cor-del”, de forma a atentar a diferenças de estilos e lin-guagens, como também semelhanças na intencio-nalidade da história.

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Produzindo com as crianças

• As crianças poderão produzir, com base nos conhecimentos adquiridos no de-correr das aulas, cordéis em sextilhas, pequenas canções ou poesias referen-tes às problemáticas sociais percebidas a partir da leitura da obra “Os Miserá-veis”. De forma a visarem adequação de suas produções e intencionalidades, tanto na linguagem escrita como na oral, a quem serão dirigidas, que nesse caso serão colegas da escola, com o in-tuito de que esses aprendam um pouco sobre o assunto.

• Com a intenção de inserir diversas for-mas de linguagem e frisar as suas dife-renças, bem como semelhanças comu-nicativas, as produções das crianças para que sejam apresentadas a outras, poderão ser gravadas em vídeos, em áudio, em pinturas e cartazes.

“Os Miseráveis” em um contexto sociocultural atual – além de Victor Hugo

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Para saber mais

• FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. Contexto.

• MARTINS, Ivanda. A literatura no ensino médio: quais desafios do professor? In: BUNZEN, C. ; MENDONÇA, M. (Orgs.) . Português no ensino médio e formação do professor. 1. ed. São Paulo: Parábola, 2006.

• VIEIRA, Alice. Formação de leitores de literatura na escola brasileira: caminhadas e labirintos. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v38n134/a0938134.pdf. Acesso em: 18/12/2012.

Documentário

• O documentário produzido pela Discovery traz o contexto da época da obra e a vida Victor Hugo. http://www.youtube.com/watch?v=kJmie8KvCLq

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o gato maLhado e a andorinha sinhÁ de Jorge amado1

“A narração se caracteriza por relatar situações, fatos e acontecimentos, reais ou imaginários. Toda história mobiliza personagens, situados em um determinado tempo e lugar. Segundo Bronckart, a sequência narrativa é sustentada por um processo de intriga que consiste em selecionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história ou ação completa, com início meio e fim”.

(KÖCHE; BOFF e MARINELLO, 2010, p.12)

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar os principais elementos da narrativa (foco narrativo, personagens, narrador, tempo e espaço) presentes no livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, bem como relacioná-los com outra obra de Jorge Amado, como A bola e o goleiro;

1. Ava Andrade, Caroline Esteves, Hugo Barreto e Karen Jacomino, alunos do 5º Termo do curso de Pedagogia (Noturno) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Sensibilizar os alunos para a intertextualidade presente em uma mesma narrativa (utilização de poemas no decorrer da narração);

• Perceber que o texto traz em sua tessitura marcas da vida e escolhas do autor, pesquisando um pouco mais sobre vida e obra do autor em análise.

Iniciando a proposta com as crianças...

O primeiro contato das crianças com a obra se-ria através da leitura do livro O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado. Indicamos a versão da Editora Companhia das Letras, para que se possa trabalhar a narrativa com as crianças.

O Gato Malhado e a Andorinha sinhá de Jorge Amado

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Sugestões para começar o encontro com o texto

• Podemos iniciar a exploração da obra com a sala, através da leitura em voz alta do poema sobre o amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá, pro-posta pelo próprio autor, Jorge Amado, no começo do livro:

“O mundo só vai prestarPara nele se viver

No dia em que a gente ver Um gato maltês casar

Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar

O noivo e sua noivinha Dom Gato e Dona Andorinha”

• Outra alternativa para iniciar um diá-logo entre o texto e as crianças é atra-vés da apresentação do vídeo “Teaser O gato Malhado e a andorinha Sinhá”. Neste momento, podemos questionar as crianças se é possível a compreen-

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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são da história a partir do que foi visto, quem são os personagens que apare-cem, e se é perceptível a presença da participação do narrador no trecho em análise.

Teaser da peça O gato Malhado e a andorinha Sinhá

O Gato Malhado e a Andorinha sinhá de Jorge Amado

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De olho no texto verbo-visual

Parêntesis

(A história que a Manhã contou ao Tempo para ganhar a rosa azul foi a do Gato Malhado e da An-dorinha Sinhá; ela a escutara do Vento, sussurrada com enigmática expressão e alguns suspiros— a voz plangente. Eu a transcrevo aqui por tê-la ou-vido do ilustre Sapo Cururu que vive em cima de

uma pedra, em meio ao musgo, na margem de um lago de águas podres, em paisagem inóspita e de-solada. Velho companheiro do Vento, o eminente Sapo Cururu contou-me O caso para provar a ir-

responsabilidade do amigo: desperdiça-se o Vento em fantasias em vez de utilizar as longas viagens pelo estrangeiro para estudar comunicação, sâns-crito ou acupuntura, assuntos de nobre proveito. O Sapo Cururu é Doutor em Filosofia, Catedrático

de Lingüística e Expressão Corporal, cultor de “rock”, membro de direito, correspondente e be-nemérito de Academias nacionais e estrangeiras,

famoso em várias línguas mortas.) [...]Pág. 20

1. Primeiramente, o trecho representado permite que se discuta a importância do parêntesis na língua portu-guesa, destacando, quando o utilizamos, de que forma e para quê; identificando ainda a construção que o autor faz no decorrer da obra (como exemplo as inter-venções do narrador, que ele as chama de “Parêntesis” e a importância deste recurso na narrativa;

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2. O trecho escolhido permite que os alunos iniciem uma reflexão sobre o papel do narrador, no decorrer da história (se ele é participativo ou não, se ele é inte-grante da história ou não);

3. Pode-se trabalhar com a questão dos personagens destacando quais são eles (Manhã, Tempo, Sapo Curu-ru, Vento etc.) e o porquê de estarem com letras maiús-culas no texto;

4. Promover a expansão do vocabulário, mediante o uso de palavras de significado desconhecido às crian-ças ou dúvidas de quando usá-las, partindo da análise do trecho; em palavras como: inóspita, sapiente, dou-tor honoris causa, cultor, acupuntura, línguas mortas, sânscrito e benemérito.

O Gato Malhado e a Andorinha sinhá de Jorge Amado

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Fazendo relações com outros textos verbais e/ou visuais

1. Pode se trabalhar com o soneto, um recurso utilizado pelo autor no decorrer da narração. Possibilitando às crianças a percepção da semelhança entre as duas produções textuais (Soneto do Amor Impossível e Soneto de Camões), identificando primeiramente a estrutura do soneto, numa formação fixa de 14 versos dispostos em 04 estrofes, sendo dois quartetos e dois tercetos; bem como, a temática de ambos - o amor.

SONETO DO AMOR IMPOSSÍVEL

A Andorinha SinháA Andorinha Sinhô

Andorinha bateu asase voou.

Vida triste minha vida.

Não sei cantar nem voar.Não tenho asas nem

penas.Não sei soneto escrever.

Muito amo a Andorinha.Com ela quero casar.

Mas a andorinha não quer.

Comigo casar não podePorque sou gato malhado.

Ai!

— Gato Malhado

AMOR É UM FOGO QUE ARDE SEM SE VER

Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente;

É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;

É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se e contente;

É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

— Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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2. a partir das ilustrações de Carybé, pode-se trabalhar a aparição dos personagens na obra, bem como a intencionalidade da história. Por exemplo, na ilustração que mostra a Andorinha Sinhá e um coração, demonstra o amor que ela sente pelo gato ou pode se ter alguma outra leitura. E assim pode-se pensar em todas as imagens e quais personagens são retratados. Além disso, os alunos podem pesquisar sobre a relação de amizade que existia entre o ilustrador Carybé e Jorge Amado2

3. Entender a passagem temporal do livro, através do texto “Por que existem as estações do ano?” da Revista Mundo Estranho, possibilitando a todos uma compreensão dos padrões climáticos das estações do ano como fenômenos da natureza e como se relacionam com os sentimentos dos personagens. É possível

2. http://oglobo.globo.com/cultura/entre-amigos-orixas-amado-caymmi-carybe-5618208

O Gato Malhado e a Andorinha sinhá de Jorge Amado

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relacionar as estações do ano com os principais acontecimentos da história. Deste modo, primeiro vem à primavera e o início da paixão; depois, com o verão quente o desabrochar dos sentimentos e o conflito (quando surge o rouxinol e se disputa o amor da andorinha); no outono há o clímax por conta dos outros animais e suas oposições ao romance; traz consigo a melancolia, o medo da solidão e a dor. Por fim, o desfecho se dá no inverno, frio e triste como o coração dos amantes.

4. Possibilitar o contato da criança com a vida e obra do autor. Deste modo, pode-se apresentar um documentário e discutir as principais informações.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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5. Explorar duas ou mais obras de Jorge amado,uma vez que o documen-tário descreve onde ele vi-veu e escreveu suas obras. Propomos a comparação e identificação de elementos da narrativa, a partir, dos livros: “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” e “A bola e o goleiro”, da Editora Com-panhia das Letras. Pode-se considerar os conhecimen-tos das crianças sobre os elementos da narrativa. Uma sugestão é apresentar para a criança uma possibi-lidade de reconhecer estes elementos a partir de uma tabela em que se caracterize a estruturas de uma narra-tiva (foco narrativo, perso-nagens, narrador, tempo e espaço).

Produzindo textos com as crianças

A partir do que foi apreendido sobre a biografia do autor, será proposto que a criança compare com a plataforma na internet Wikepedia, de modo a perceber eventuais erros, semelhanças ou omis-sões de parte da história do autor em tal platafor-ma que é pública.

O Gato Malhado e a Andorinha sinhá de Jorge Amado

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Para saber mais

• FAGUNDES, Alexandra Angela; CINTRA, Jardel Francisco; CINTRA, Thaíla de Sousa; FALEIROS, Monica de Oliveira. A narrativa de o Gato malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor de Jorge Amado: fiando e desfiando a literatura infantil. In: Revista Eletrônica de Letras, v. 3, n.1, 2010. Disponível em http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rel/article/view/393

• KÖCHE, V. S.; BOFF, O. M. B.; MARINELLO, A. F. Leitura e produção textual: gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 11-20.

• ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11.ed. São Paulo: Global, 2003.

• Website: www.jorgeamado.com.br

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as aVenturas de Pinóquio: as diVersas Versões Para a mesma história1

“Daí a importância da Literatura Infantil, nes-tes tempos de crise cultural: cumprindo sua tarefa de alegrar, divertir ou emocionar o es-pírito de seus pequenos leitores ou ouvintes, leva-os, de maneira lúdica, fácil, a perceberem e a interrogarem a si mesmos e ao mundo que os rodeia, orientando seus interesses, suas as-pirações, sua necessidade de autoafirmação ou de segurança, ao lhe propor objetivos, ideais ou formas possíveis (ou desejáveis) de participa-ção social”.

(COELHO, 1981, p.3).

1. Amanda Magnani, Carl Pissato, Jessica Sacuman e Sidney Paulo Alves Jú-nior, alunos do 5º Termo do curso de Pedagogia (Vespertino) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar a versão original da obra As aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi2, com as crianças para pos-sibilitar aprendizagens sobre o gênero conto mara-vilhoso;

• Incorporar o texto literário às práticas cotidianas em sala de aula; valorizando a leitura literária como fon-te de prazer e de informação;

• Mostrar as possibilidades de adaptações desta his-tória em diversas mídias e versões que se distanciam dos enfoques escolares tradicionais;

• Propor a recontação da história pelos alunos em ou-tros formatos, como, por exemplo, o uso de tecnolo-gia Stop Motion3 e maquetes.

2. Carlo Collodi é o pseudônimo de Carlo Lorenzini ( 1826-1890), nasceu em Florença,a Itália. Foi jornalista, crítico musical e dramaturgo. Começou a escrever literatura in-fantil em 1875. Em 1881, publicou um folhetim chamado Storia di um burattino (A Estória de um Boneco), no jornal Gionale dei Bambini de Roma. A continuidade das aventuras do Boneco em novos folhetins, o levou ao sucesso e a publicação do livro As Aventuras de Pinóquio, em 1883.

3. O Stop Motion é uma técnica cinematográfica que usa a repetição de fotos de bo-necos de massinha realizando alguma ação para montar uma sequência de imagens que dê a impressão de movimento.

As Aventuras de Pinóquio: as diversas versões para a mesma história

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Iniciando a proposta com as crianças...

O livro de Carlo Collodi, As aventuras de Pinó-quio, traduzido por Marina Colasanti, com ilus-trações de Odilson Moraes, é a primeira e original versão deste conto maravilhoso. Porém, não é a única, pois existem muitas versões em variados gêneros. As Aventuras de Pinóquio foram lançadas em 1881, em um jornal italiano dirigido a crianças, com o nome de Storia di um burattino. A primei-ra edição em livro apareceu em 1883. Desde então, tornou uma referência para gerações de crianças no mundo inteiro.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Sugerimos o trabalho com as diversas possibili-dades de recontar um conto maravilhoso através de mídias pouco exploradas no âmbito escolar; além de estudar este gênero no âmbito da formação do leitor literário.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Propor uma roda de leitura para explo-rar com as crianças o título, a capa, al-gumas ilustrações, subtítulos e outras informações a respeito do autor e da pu-blicação desta obra. Nesta roda de lei-tura, sugerimos a leitura em grupos do primeiro capítulo do livro Como foi que mestre Cereja, marceneiro, encontrou um pedaço de madeira que chorava e ria como uma criança, e a contextualização do enredo.

• Após esse primeiro momento de co-nhecimento e familiarização com a obra literária, sugerimos uma roda de conversa para discutir a respeito da

As Aventuras de Pinóquio: as diversas versões para a mesma história

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história e das experiências das crianças em relação ao seu contato com o gêne-ro conto maravilhoso.

De olho no texto verbo-visual

“Era uma vez...— Um rei! — dirão logo os meus pequenos leitores.— Não crianças, erraram. Era uma vez um pedaço de

madeira. Não era uma madeira de luxo, mas uma simples acha, daquelas que no inverno se põem nas estufas ou nas

lareiras para acender o fogo e aquecer a casa.”

(COLLODI,2002, p.7)

1. O livro de Collodi permite que as crianças reflitam e discutam sobre aspectos da literatura infantil, como por exemplo, a atitude narrativa. Neste caso em espe-cífico, a atitude do narrador é tradicional onde o nar-rador coloca-se no mesmo plano de visão que o leitor, em relação a fatos do passado. É uma voz familiar que tende a anular as distâncias entre a obra e o leitor;

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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2. Com a leitura e o estudo desta obra é possível traba-lhar com a pontuação e seus usos. Ao longo de toda a obra, podemos observar pontos finais, de exclamação, de interrogação e reticências.

3. Há também a possibilidade de trabalhar os aspectos do gênero conto maravilhoso, como por exemplo, a narrativa que ocorre em um espaço fora da realidade; os fenômenos que não obedecem às leis naturais que nos regem; os personagens que possuem poderes sobrenaturais e que sofrem metamorfoses ao longo da história; a personificação do bem e do mal etc.

4. A leitura também dá a chance de explorar o voca-bulário e ensinar novos significados de palavras que as crianças ainda não conheçam e contextualizá-los, como por exemplo, a palavra “estufa”.

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

“Formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando ele-mentos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos; que saiba que vários sentidos podem ser atribuídos a um texto; que consiga justificar e validar a sua leitura a partir da localização de elementos discursivos.”

(PCNs,1997, p.41)

As Aventuras de Pinóquio: as diversas versões para a mesma história

101

1. através do livro que história é essa, conhecer a significação do autor Flávio de souza para o final da história do Pinóquio. Além disso, é possível trabalhar com os aspectos históricos do conto maravilhoso escrito por Collodi.

Livro Que história é essa? – Flávio de Souza – livro que reconta os

finais das histórias de acordo com a significação do autor. Um desses finais é o do Pinóquio, além disso, apresenta

um pouco da história deste conto maravilhoso e compara a versão de

Collodi e de Walt Disney.

2. O livro As Novas Aventuras do Pinóquio - Tudo quanto se pode fazer com um nariz comprido além de dizer mentiras traz a possibilidade de trabalhar com textos não verbais que representam atitudes que o personagem Pinóquio poderia fazer com seu nariz comprido. O próprio livro traz uma sugestão de atividade, onde propõe que as crianças desenhem o que fariam com um nariz comprido. É composto basicamente por ilustrações e é muito divertido, estimula a criatividade e propõe que as crianças também desenhem o que elas podem fazer com um nariz comprido.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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3. Com a releitura do conto maravilhoso para o cinema, há a possibilidade de trabalhar as diferentes versões para o conto de Collodi. A versão do Walt Disney, que é tão famosa quanto o conto original, se distancia muito deste último, dando-nos a possibilidade de compará-los, analisá-los e contextualizá-los. Já o filme Pinóquio 3000 retrata como seria a história da Marionete no futuro, onde há oportunidades para explorar o tempo e o contexto em que as versões de passam.

Produzindo textos com as crianças

Stop Motion

As crianças podem produzir, em grupos, vídeos utilizando a técnica Stop Motion, onde seria retra-tado algum acontecimento ou passagem do livro As Aventuras de Pinóquio, que mais chamou a atenção para os determinados grupos.

As Aventuras de Pinóquio: as diversas versões para a mesma história

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Maquete

Reprodução, em grupos, de uma cena da história que se destacou para eles através da montagem de uma maquete. Quando os produtos estiverem fina-lizados, sugerimos que se faça uma exposição para toda a escola, para os pais e responsáveis e também para a comunidade, onde as crianças, além de mos-trar o resultado do trabalho, poderão explicar todo o processo de criação.

Para saber mais

• COELHO, Nelly Novaes. A Literatura Infantil. São Paulo: Quíron, 1981.

• COLASANTI, Marina. A leitura sempre renovada – Alice, Pinóquio, Peter Pan. In: Leitura: Teoria e Prática. Ano 21, Março de 2003, Número 40.

• RODARI, Gianni. Gramática da Fantasia. São Paulo: Summus, 1982.

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exPerimentando Poemas: uma saborosa e diVertida aVentura1

“A literatura infantil é, antes de tudo, literatura; ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização”.

(COELHO, 2000, p. 9).

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar os poemas, aproximando o imaginário da criança e os mais variados elementos poéticos;

• Trabalhar gêneros textuais do discurso, que se relacionam com os poemas, tais como: trava-línguas, cantigas de roda, poemas líricos, trocadilhos, poemas-piada, desafios.

1. Adriana Aparecida da Rocha Pereira, Elizete Cardoso da Conceição, Maria Aparecida Mata Costa e Simara Paula de Paula, alunas do 5º Termo do curso de Pedagogia (Vespertino) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Apresentar de diversas modalidades de se produzir poemas: oral, escrita e visual.

• Colocar a criança em contato com o poema, destacando a sonoridade, a rima, as cores, as imagense os movimentos.

Iniciando a proposta com as crianças...

A leitura de um poema pode revelar um mundo novo. Em Um caldeirão de poemas, Tatiana Belinky (Companhia das Letrinhas, São Paulo, 2003) apre-senta textos alegres ou tristes, divertidos ou sérios;

experimentando poemas: uma saborosa e divertida aventura

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poemas que falam de aventuras, de amor, de sauda-de e de trabalho; composições feitas para serem li-das em voz alta ou em silêncio. Entre os poemas que podem ser declamados estão quadrinhas populares, traduzidas pela autora do russo, do inglês e do ale-mão e textos de sua própria autoria.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• O professor pode começar o trabalho com a obra, recitando para as crianças um dos poemas do livro “Que Delícia” (páginas 34 a 37). Após a leitura, deixar que elas observem as ilustrações do li-vro.

• Outra opção é explorar a capa do livro com as crianças, para que elas façam uma relação entre a imagem (de dife-rentes ilustradores e estilos) e o quê será que irão ler nas próximas páginas.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbo-visual

Maluca é a rua!

A rua passava

Correndo na mão Por trás do cachorro

Latiu o portão. A rua assustada

Correu contramão.

Então o porteiro Mordeu o portão

– Porteiro maluco! – Gritou o portão.

– Maluca é a rua! – Relincha o cão. 2

1. Os poemas escolhidos permitem que as crianças comparem quadrinhas (quatro versos) conhecidas por eles com as sextilhas (seis versos).

2. As rimas e o ritmo da poesia podem ser explorados, jogar e brincar com essas percepções.

2. BELINKY, Tatiana. Um caldeirão de poemas. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2006.

experimentando poemas: uma saborosa e divertida aventura

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3. As crianças podem conversar sobre o léxico dos poe-mas em grupos para que possam compreender os pos-síveis sentidos e metáforas das palavras e expressões: “latiu o portão”, “gritou o portão”.

4. O poema pode ser comparado com as ilustrações que compõem as páginas, deixando que as crianças apreciem e discutam a questão estética.

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Comparar as estrutura do poema de arnaldo antunes, como: as sextilhas, rimas, metáforas.

“O girino é o peixinho do sapo. O silêncio é o começo do papo.

O bigode é a antena do gato. O cavalo é o pasto do carrapato.

O cabrito é o cordeiro da cabra. O pescoço é a barriga da cobra[...]3

2. Mostrar as possibilidades de se fazer um poema verbo- visual.

3. ANTUNES, Arnaldo. Cultura. São Paulo: Iluminuras, 2012.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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3. Jogar e brincar com as percep-ções: destacar as cores da capa, o desenho com a ideia de movimen-to, as letras que a bicicleta vai sol-tando ao passar, ou outra percep-ção que as crianças possam ter.

O Limão

Agora preste atenção se atenção:Se a vida for um limão

Em um copo de águaNatural, fria ou gelada,[...]4

Produzindo textos com as crianças

• As crianças podem produzir poemas, explorando seu imaginário. Depois de realizadas as produções, fazer um blog para divulgá-las. No blog da sala, postar sempre indicações de outros poemas.

• Filmar as crianças recitando poemas (sejam produções delas mesmas, ou não). Os vídeos também podem ser di-vulgados no blog.

4. CAPPARELLI, Sergio. Poesia de Bicicleta. São Paulo: L&PM, 2009.

experimentando poemas: uma saborosa e divertida aventura

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Para saber mais

• FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2004.

• VILLARDI, R. Ensinando a gostar de ler e formando leitores Para a vida inteira. Rio de Janeiro: Dunya, 1999.

• Salto para o Futuro. Poesia e escola. Boletim 20, 2007. Disponível em: http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/170116Poesiaescola.pdf

sites para navegar com as crianças...

O Pequeno Leitorhttp://www.opequenoleitor.com.br/historias/poemes

Site do poeta Sérgio Caparellihttp://www.capparelli.com.br/

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narratiVas mítiCas dos índios brasiLeiros1

“A percepção das relações intertextuais, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor, do seu acervo de conhe-cimentos literários e de outras manifestações culturais. (...) Quanto mais se lê, mais se am-plia a competência para aprender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referên-cia, citações e alusões. Por isso cada livro que se lê torna maior a capacidade de aprender, de maneira mais completa, os sentidos dos textos

(Jesus, 2003, p.48).

Objetivos das sugestões didáticas

• Apresentar a linguagem oral como forma de registro ancestral das narrativas míticas pertencentes a um povo;

1. Kerylen C. S. Barbosa, Mariana Gonzaga Moreira, Renata Rosie Massei Da-masceno Sonia Regina Peres da Conceição, alunas de Pedagogia da Universi-dade Federal de São Paulo, campus Guarulhos.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Promover a imersão na cultura indígena e seus saberes na esfera escolar;

• Refletir sobre a herança cultural proveniente dos povos indígenas presente em seus mitos, usos e costumes arraigados em nosso cotidiano.

Iniciando a proposta com as crianças...

A leitura da Obra O Primeiro Homem e Outros Mitos dos Índios Brasileiros, escrito por Betty Min-dlin (Editora Cosac Naif, 2001), apresenta às crian-ças, a importância da cultura indígena impregna-da em nosso cotidiano. Perguntas como quem foi o primeiro homem, a primeira mulher e como sugi-

Narrativas míticas dos índios brasileiros

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ram os animais podem ser respondidas através dos mitos2 indígenas brasileiros, sem, contudo, fazer afirmações definitivas, ou seja, o objetivo é apre-sentá-los como explicações legítimas para as crian-ças sobre o mundo, o surgimento da vida. Afinal, cada povo possui a sua maneira própria de contar a história da humanidade, não podendo prevalecer uma visão única sobre a origem do mundo.

Apresentar esses mitos às crianças é uma ótima oportunidade para enfatizar a importância da cul-tura oral de nosso povo.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Apresentar o livro O Primeiro Homem e Outros Mitos dos Índios Brasileiros, explorando o texto introdutório que nos conta, inicialmente, sobre os mitos in-dígenas que procuram explicar a criação dos homens, plantas e animais;

2. Patrimônio cultural de um povo. É uma narrativa que revela num determinado momento histórico, a necessidade que os seres humanos têm de compreender o universo e de entendê-lo como um todo. (Jesus. 2003, pp 48 e 49).

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

116

• Debater com as crianças a importância dos mitos indígenas, tanto quanto aque-les provenientes de textos bíblicos ou da Grécia Antiga;

• Promover a imersão cultural indígena, através de suas tradições e costumes.

De olho no texto verbo-visual

O começo da humanidade

3

Não existia gente no mundo, apenas um homem chamado Toba com sua mulher. Plantavam macaxeira, milho, batatas, banana e mamão. Fora a roça deles, tudo era natureza, sem

plantação alguma. Eram só os dois sozinhos. Nem sequer bichos havia; só a cutia e o nambu-relógio. Um dia, viu que a colheita estava desaparecendo. Imaginando que o ladrão

podia ser a cutia, se não fosse a tanajura ou a saúva, fez uma tocaia para espreitá-la, bem de madrugada. Em vez de cutia, viu que era gente, debaixo da terra, que esticava a mão por

um buraco para roubar seu milho. Toba conseguia ouvir conversas no subterrâneo, pessoas brigando para quem

poria a mão para surrupiar o milho. [...]

3. Betty Mindlin. O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros, São Paulo: Cosac Naif, 2001. p. 13.

Narrativas míticas dos índios brasileiros

117

1. Explorar com as crianças as palavras de origem indígena utilizadas em nosso cotidiano relacionadas à linguagem e à culinária;

2. Trabalhar a oralidade, proporcionando em rodas de conversa um debate sobre a relação do homem com a natureza, explorando as características das narrativas míticas;

3. Elaborar um glossário com palavras de origem indí-gena.

4. Explorar expressões temporais que marcam a sequ-ência narrativa (Um dia...), assim como o tempo verbal no passado.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

118

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Com esta narrativa, podemos enfatizar a necessidade dos povos antigos, em dar um sentido para as coisas e fenômenos naturais; podemos envolver as crianças na participação do mito, valorizando os conhecimentos prévios que eles detêm sobre o assunto; ainda podemos refletir sobre outras questões presentes no texto como a coesão textual.

A HUMANIDADE DESCE à TERRA

Antigamente, todos os homens viviam no céu. Alguns estão lá, são as estrelas.

No tempo da vida celeste, um velho, numa caçada, viu um tatu e o perseguiu. O tatu enfiou-se terra adentro e o homem cavava

cada vez mais fundo para apanhá-lo.Cavou o dia todo sem conseguir pegar o tatu.

Voltou para casa, mas no dia seguinte recomeçou a cavar.Dizia à mulher:

_Quero pegar o tatu!Cavou durante oito dias e estava quase apanhando o tatu

quando o animal caiu num buraco.O velho o viu descer com um avião, cair num campo e correr em

direção à floresta. Ele alargou o buraco para poder olhar para baixo, mas o vento estava tão violento que o levou de volta à

superfície. [...]

— Betty Mindlin. O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros, São Paulo: Cosac Naif, 2001. p. 25.

Narrativas míticas dos índios brasileiros

119

2. Olhando o Céu noturno... Trabalhar com as crianças os fenômenos astronômicos mais comuns perguntando e debatendo se sabem o que provoca a sucessão do dia e noite, pelo movimento de rotação (um giro em torno de seu próprio eixo que dura 24 horas); debater o que são estrelas e por que podemos ser considerados “poeira de estrelas”; se já observaram a Lua, qual o formato que ela apresenta, a que horas está visível, a que horas nasce e se põe? O que acontece com as estrelas e a Lua ao amanhecer do dia?

Trazer a explicação científica com o cuidado em não estereotipar, desvalorizar ou perder a riqueza da narrativa.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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O MENINO QUE FAzIA COCO DE AMENDOIM

Nomombzia é o herói mágico que, nenezinho ainda, já virou homem. Foi ele quem deu ao seu povo Jabuti o milho, o feijão e as plantas. Também foi ele quem deu a anta e outros animais de caça que existem.Nomombzia casou com a irmã de Karupshi e Kawewé, que são companheiros criadores que tiraram a humanidade de debaixo que povoassem o mundo. Nomombzia teve um filho que só fazia coco de amendoim [...][...] Veja só o que estamos comendo todo dia! Pensando que é planta e é essa sujeira!Apertaram a barriga do menino, saiu mais amendoim. Os tios o transformaram num pássaro chamado Japó.

Começou a chover.

Lá de longe, Nomombzia já percebeu que tinha acontecido alguma coisa com o filho, por causa da chuva. Era Pajé, de longe sabia. Voltou correndo para a mulher e logo perguntou para os cunhados onde estava o menino [...]

— Betty Mindlin. O primeiro homem e outros mitos dos índios brasileiros, São Paulo: Cosac Naif, 2001. p. 47.

3. Explorar a narrativa, trabalhando os conhecimentos prévios que as crianças detêm sobre o amendoim e relacionar às preparações que utilizam amendoim em suas receitas.

Narrativas míticas dos índios brasileiros

121

4. Pesquisar no site do “Um pé de quê?, se entre as árvores da Mata atlântica já catalogadas têm ou não as árvores escritas da lenda (o pé de amendoim, de feijão, do milho); comparar o tempo verbal do mito com o utilizado nos textos das árvores escolhidas no site do programa.

UM PÉ DE QUê?

Fazer um programa de TV sobre as árvores brasileiras. Esse era o nosso desafio. Não só pela dificuldade de convencer os parceiros e patrocinadores a transformar esse sonho em realidade mas também pela complexidade de trabalhar o conteúdo botânico como entretenimento de massa. Acho que conseguimos. Já são dez anos de programas no ar, com mais de 100 árvores retratadas, espécies de todos os biomas brasileiros. Além de apresentar aspectos morfológicos das plantas (pois um dos objetivos do programa é facilitar a identificação das espécies) o “Um Pé de Quê?” quer aproximar as árvores dos espectadores através da música, da culinária, da história, da tecnologia, da antropologia... Trazer as árvores para o dia-a-dia das pessoas, revelar, por exemplo, o que a Carnaúba tem a ver com a maneira que nossos avós ouviam música, ou entender por que o pigmento vermelho do Pau-Brasil foi tão importante para a Europa do século XVI. Com as viagens que fizemos por todo o Brasil nos primeiros anos, fomos entrando em contato a devastação da fauna e flora brasileira, a deterioração das paisagens naturais dos biomas brasileiros....

— Um pé de quê? Programa exibido no Canal Futura.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Produzindo textos com as crianças

• Dramatizações baseadas nas narrativas míticas (sugerimos elegê-la por vota-ção), podendo ser abordada em teatro de sombras, dedoches ou fantoches;

• Filmar a dramatização em parceria com as crianças para compartilhar com a co-munidade escolar;

• Reescrita de alguma narrativa mítica em forma de quadrinhos, por exemplo, e socialização sob a forma de um livrinho doado à escola, em um espaço onde to-dos possam ter acesso as leituras;

• A partir dos mitos contados e das pes-quisas no site do programa “Um pé de quê” solicitar que as crianças elaborem um livro com imagens e pequenas legen-das explicativas sobre as frutas e plantas da Mata Atlântica.

Narrativas míticas dos índios brasileiros

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Para ler mais

• O casamento entre o Céu e a Terra, de Leonardo Boff - São Paulo: Salamandra, 2001. 160 p.

• Contos indígenas brasileiros, de Daniel Munduruku – São Paulo: Global, 2004. 63 p.

Para saber mais

• JESUS, Luciana Maria de. Mito e tradição indígena. In: Gêneros do Discurso na Escola. São Paulo-SP: Cortez, 2003.

secretaria de Educação Continuada, alfabetização e Diversidade:

• Volume 12: Série Vias dos Saberes n.1: O índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje.

• Volume 13: Série Vias dos Saberes n. 2: A Presenção Indígena na Formação do Brasil.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Volume 14: Série Vias dos Saberes n. 3: Povos Indígenas a Lei dos “Brancos”: o direito à diferença.

Disponíveis em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12814&itemid=872

Blogs para navegar com as crianças...

Os Blogs dos escritores indígenas Daniel Mundukuru e Eliane Potiguara trazem sugestões e materiais para trabalharmos a cultura indígena na escola, principalmente, através da literatura infanto-juvenil.

• http://elianepotiguara.blogspot.com.br/

Narrativas míticas dos índios brasileiros

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• http://danielmunduruku.blogspot.com.br/p/daniel-munduruku.html

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rotas fantÁstiCas: histórias que o PoVo Conta...1

“Algumas lendas urbanas se tornam clássicos do gênero pelo modo como ressurgem em ci-clos, mantendo um motivo comum, mais ou menos invariável, e adaptando-se aos temas locais e ao momento sócio-histórico em que circulam. É o caso, por exemplo, de uma série de histórias cujo motivo narrativo poderia ser assim definido: ‘jovem loira aparentemente an-gelical ou sedutora revela-se de fato uma figura ameaçadora ou diabólica’”.

(Lopes, 2010, p. 11).

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar lendas urbanas com as crianças, enfatizando em que contexto ocorrem e suas principais características;

1. Aline Catarina Cabral, Lincoln Luis Carneiro, Nathalia Lima da Silva e Ste-phanie Ap. Spósito, alunos de Letras da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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• Relacionar os relatos com outros gêneros como: lendas folclóricas e contos, mostrando suas semelhanças e diferenças;

• Explorar a temática do terror presente nas lendas urbanas brasileiras;

• Compreender a importância desses relatos e suas origens.

Iniciando a proposta com as crianças...

A leitura da obra Rotas fantásticas, organiza-da por Heloisa Pietro e com ilustrações de Daniel Kondo (Editora FTD, 2003), apresenta uma série

rotas Fantásticas: histórias que o povo conta...

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de dez relatos sobre lendas urbanas, sendo uma das mais famosas a lenda da Loira do banheiro. As páginas são ilustradas para dar mais vivacidade aos relatos apresentados. Os relatos são contados por pessoas comuns que ouviram tais estórias de ami-gos, avós, pais, etc.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Seria interessante iniciar o encontro questionando sobre quais lendas urba-nas os alunos conhecem.

• Ler em voz alta com as crianças algu-ma das lendas apresentadas no livro, observando as reações provocadas em quem as ouve.

• Para dar mais vivacidade à realidade do relato, apresentar aos alunos algumas imagens que caracterizam a lenda ur-bana que está sendo contada.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbo-visual

1. As lendas escolhidas apresentam um texto em que a leitura ocorre de maneira fluida e com características comumente usadas na fala cotidiana. O narrador fala diretamente com o leitor de modo a persuadi-lo atra-vés dos detalhes no relato. Destaque com a ajuda das

rotas Fantásticas: histórias que o povo conta...

131

crianças quais palavras ou expressões da nossa realida-de cotidiana são utilizadas na grande parte das lendas urbanas, como por exemplo, espelho, vaso sanitário, fria pra danar, entre outras.

2. As lendas urbanas em oposição aos contos são geralmente mais breves, seu enredo é mais simples, apresentam os relatos de forma dialogada para gerar mais suspense e possuem poucos personagens. Para demonstrar isso às crianças, fazer uma breve compa-ração na lousa entre uma lenda urbana e um conto de fadas seria interessante. Podemos utilizar, por exemplo, a lenda urbana loira do banheiro e o conto de fadas Cinderela, diferenciando os enredos através de peque-no resumo, destacando inclusive quantos personagens aparecem em ambos os casos.

3. É possível explorar os aspectos cotidianos presen-tes nas lendas urbanas e a contemporaneidade que elas trazem consigo - todas as histórias supostamente aconteceram recentemente. Nesse ponto, seria rele-vante perguntar às crianças sobre o tempo em que elas acham que se passam as lendas urbanas.

4. As ilustrações ajudam a compor a lenda urbana causando veracidade à lenda e fazendo com que ima-ginemos a história realmente acontecendo, diante de nossos olhos. Dessa forma, além de explorar as ilus-trações do livro, seria atraente utilizar também outras imagens sobre a lenda.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

“Chegamos assim ao coração do fantástico. Em um mundo que é o nosso, que conhecemos, sem diabos, sílfides, nem vampiros se produz um acontecimento impossível de explicar pelas leis desse mesmo mundo familiar. Que percebe o acontecimento deve optar por uma das duas soluções possíveis: ou se trata de uma ilusão dos sentidos, de um produto de imaginação, e as leis do mundo seguem sendo o que são, ou o acontecimento se produziu realmente, é parte integrante da realidade, e então esta realidade está regida por leis que desconhecemos. Ou o diabo é uma ilusão, um ser imaginário, ou existe realmente, como outros seres, com a diferença de que rara vez o encontra.”

(TODOROV, 1981, P.15)

[...] De repente vi um sujeito pedindo carona.Gente na estrada, assim à noite, é perigo na certa. Mas quando bati o farol na cara dele, vi que era só um estudante. Um garotão. Parei e

abri a porta. É bom ter com quem conversar.-Pra onde você vai? – perguntei.

- Estou indo pra Sorocaba; minha família é de lá.- E por que está pedindo carona?[...]

— PIETRO, Heloisa; ilustrado por Daniel Kondo.

Rotas fantásticas. São Paulo: FTD, 2003, p. 15.

rotas Fantásticas: histórias que o povo conta...

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1. Explorar as diferenças de composição do relato 1 “Vovó Maria” com o relato 4 “Feliz foi adão”

2. Lendas urbanas dos anos 80. Seria interessante mostrar às crianças algumas lendas urbanas que provavelmente os seus pais conheceram em sua infância Pergunte a elas se já ouviram falar em tais lendas, instigando-as para que falem sobre as lendas que conhecem. Alguns tuiteiros enviaram para o blog da Vejinha (Veja SP) 10 lendas urbanas dos anos 80.

[...] Aconteceu que um dia ele ficou doente.Teve que se aposentar.

E daí?Como é que o cara ia viver em casa?Na toca do dragão, como ele dizia.

No primeiro mês até que ele aguentou.No segundo, o negócio piorou.

No terceiro mês, o caldo entornou.De verdade. [...]

Separar da mulher, ele não queria.Separar da sogra, ele não conseguia. [...]

— PIETRO, Heloisa; ilustrado por Daniel Kondo.

Rotas fantásticas. São Paulo: FTD, 2003, p. 51.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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3. histórias de arrepiar com Ângela Lago. Trabalhar com este livro que também trata de temas de mistério e terror instigaria ainda mais as crianças a conhecerem sobre o tema. Esta imagem2 ilustra uma das páginas do livro 7 histórias para sacudir o esqueleto de Ângela Lago editado pela Companhia das Letras. Este capítulo narra a história “Encurtando o caminho” em que Tia Maria conta que ao sair do colégio já estava escurecendo, então para chegar em casa mais rápido resolveu ir pelo cemitério. Nisto ela avistou uma menina que andava por lá e então perguntou a ela se podia acompanhá-la. A menina disse que tudo bem, pois quando era viva, também tinha medo de andar no cemitério.

2. Disponível em http://www.angela-lago.net.br/livro.html.

rotas Fantásticas: histórias que o povo conta...

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Neste vídeo3 as crianças da Escola Municipal Friedenreich indicam o livro de Ângela Lago. Esta aluna começa contando um pouco uma das histórias do livro, mas diz que para saber o final dessa história, só lendo o livro mesmo. Vale a pena conferir!

Produzindo textos com as crianças

Após o trabalho de apresentação às principais características do gênero, é hora de pedir às crian-ças que pesquisem mais sobre o tema. Nesse pon-to, podemos orientá-las para que elas conversem com seus pais, avós, tios e familiares, perguntando a eles sobre quais lendas mais os assustavam quan-do crianças. As crianças devem ouvir as lendas e

3. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=LDz8nz7uHXA.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

136

compor a sua própria lenda urbana, baseada nos relatos dos familiares e no que foi estudado em sala de aula.

Quando os relatos das crianças estiverem pron-tos, podemos pedir que elas os apresentem oral-mente para os outros alunos. Ao orientar a expo-sição, procuramos saber não apenas quem narrou a lenda para o aluno, mas também quem a contou ao seu familiar ou conhecido, destacando que essas histórias geralmente não são retiradas de livros, mas fazem parte de um repertório da cul-tura oral. Se duas ou mais crianças trouxerem re-latos diferentes sobre uma mesma lenda urbana, aproveitamos a oportunidade para enfatizar que possuir diferentes versões para a mesma lenda é uma das características que compõem o gênero, enfatizando que pequenas alterações são próprias das histórias transmitidas oralmente (“quem con-ta um conto aumenta um ponto”).

rotas Fantásticas: histórias que o povo conta...

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Para ler mais

• A Loira do Banheiro - http://revistaescola.abril.com.br/pdf/a_Loira_do_Banheiro.pdf

• O homem do saco - http://revistaescola.abril.com.br/pdf/homem_do_saco.pdf

• Vovó Maria - http://revistaescola.abril.com.br/pdf/VovoMaria.pdf

Acesso em 15/10/2012.

Para saber mais

• LOPES, Carlos Renato. Lendas urbanas em arquivo: uma relação de suplementaridade. Campinas, 49(1): 11-20, Jan./Jun. 2010.

• TADEU, Jorge. Lendas urbanas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2010.

• TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Editora Perspectiva. São Paulo, 1981.

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Contos de mistÉrio: desVeLando a sua esCrita1

“É a literatura, como linguagem e como ins-tituição, que se confiam os diferentes imagi-nários, as diferentes sensibilidades,valores e comportamentos através dos quais uma socie-dade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses,seus desejos, suas utopias.[...]”

LAJOLO,1999, p.105.

Objetivos das sugestões didáticas

• Propiciar momentos de escuta e reconto de histórias, especificamente, do gênero narrativo de assombração.

• Compreender as características peculiares das narrativas de assombração (Como por exemplo, a importância do susto nessas narrativas, qual o elemento desencadeador do medo, a frequente presença do sobrenatural, a relação entre o real e o imaginário, etc.).

1. Vilma Ricardo Dias, aluna do curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

140

• Reconhecer os recursos linguísticos que permeiam tais narrativas e a caracterizam. (Como por exemplo, o uso do “Certa noite”, em substituição ao “Era uma vez”).

Iniciando a proposta com as crianças...

A obra “Sete Histórias para sacudir o esqueleto”, da Ângela Lago, traz em suas páginas dois impor-tantes elementos das histórias infantis: o suspense e o humor, responsáveis por encantar e envolver os seus ouvintes. Assim, se de imediato os pequenos se hipnotizam e amedrontam com alguns seres/objetos de caráter sobrenatural, no decorrer da narrativa ocorre um abrandamento do medo pelo humor que perpassa as linhas da obra.

Contos de mistério: desvelando a sua escrita

141

De olho no texto verbo-visual

Caio

Em Bom Despacho tinha uma fazenda à venda, mas ninguém queria comprar: era mal assombrada. [...]

De madrugada acordou com uma voz cavernosa [...]

1. As crianças podem conversar e refletir sobre o signi-ficado de algumas expressões, tais como: matutava, voz cavernosa, murmurar, vadiar, dentre outras.

2. É possível ainda, realizar um trabalho de exploração textual acerca das diversas “vozes” presente da narrati-va, ao discutir e analisar com a turma os momentos de falas do narrador e personagens, atentando para a intencionalidade presente nesta alteração de discursos.

3. É possível também analisar o clímax como parte do enredo, bem como o uso de expressões que provo-quem medo, o tempo e espaço assustadores.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Explorar outros livros de histórias de mistérios, comparando as narrativas entre si, tanto no aspecto textual, como no que tange a diagramação dos mesmos, com as ilustrações e uso de cores.

2. a exploração do filme A casa monstro possibilita tecer um diálogo sobre espanto, medo etc.

Contos de mistério: desvelando a sua escrita

143

3. O grupo Palavra Cantada oferece uma opção de trabalho com a linguagem musical, por meio da canção Taquaras. Sendo possível explorar com a turma os sentimentos, sensações e comportamentos ocasionados por uma situação de assombramento.

“Cada vez que eu lembro chego a estremecer Todo aquele esforço para adormecer Quando a minha porta começou a ranger Tinham me avisado o que ia acontecer Pus os cobertores para me esconder E eu nem respirava para não me mexer (...)”.

Produzindo textos com as crianças

• As crianças podem produzir um con-to de mistério a partir da sequência de quadrinhos. Para tanto, se faz neces-sário explorar, antecipadamente, com a turma as características desta narra-tiva, tais como; a brevidade do enredo

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

144

posto, o número reduzido de perso-nagens, diálogos a permear a narrati-va, elemento misterioso/ assustador e complicações/ conflitos.

• É possível ainda a realização de uma leitura dramatizada, atentando a tur-ma para as características desta ativi-dade. Assim, se faz necessário um tra-balho envolto a entonação nas vozes, confecção/ escolha de figurinos, ma-quiagens, som, luz e cenário.

Para ler mais

• BRANDÃO, Ignácio de Loyola. O menino que não teve medo do medo. São Paulo: Editora Global.

• MUNARI, Bruno. Na noite escura. São Paulo: Editora Cosac Naify.

• SAGE, Angie. Minha casa mal-assombrada. Ed. Rocco

Contos de mistério: desvelando a sua escrita

145

Para saber mais

• FOUCAMBERT, Jean. A leitura em questão. Porto Alegre: Artmed, 1994.

• JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

• KAUFMAN, Ana Maria e Maria Helena Rodríguez. Escola, leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artmed, 1995.

• LERNER, Délia. Ler e escrever na escola – o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.

site para navegar com as crianças...

• http://www.angela-lago.net.br/livro.html

147

Pra rimar e Cantar: Poesia de CordeL e outras bataLhas1

A ligação da literatura de cordel com a poesia oral e improvisada – o duelo-performance po-ético e folclórico de dois cantadores, com sua estrutura básica de desafio-resposta – e com temas tradicionais folclóricos é só uma faceta de seu papel de meio impresso popular muito difundido no cenário urbano, mas de grande relevância no cenário rural. Nos poemas que tratam de acontecidos do dia, cumpre também uma função de comunicação folclórico popu-lar: reporta eventos de sua própria comunidade e região, opina sobre eles e leva para o consu-midor local, recodificadas, as mensagens de uma cultura nacional de massas. Ainda assim, a cosmovisão essencial do cordel mostra quase total identificação com as crenças e os valores do nordestino pobre e humilde, mesmo que ra-dicado numa cidade costeira da região, no Cen-tro-Sul do país (Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo), ou em Brasília.

(Curran, 2003, p.25).

1. Bruno Torquato de Araújo, Bia Alves Pinheiro, Cristiane Aparecida Domin-gos de Oliveira, Débora Barbosa dos Santos Camargo e Rildo Nedson Mota de Sousa, alunos do curso de Pedagogia (5º Termo, Noturno) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Objetivos das sugestões didáticas

• Apresentar a literatura de cordel, sob uma perspectiva que dialogue com outras linguagens contemporâneas de expressão popular (notadamente periféricas à arte canônica e que se utilizam do improviso e da poesia).

• Explorar a relação do cordel com vertentes musicais com propósito “similar” como o rap, o repente, as emboladas, modas de viola etc.

• Estimular a curiosidade a respeito de diferentes suportes textuais e/ou estéticos, para um modo de fazer poesia que, apesar de diferente na forma ou no espaço, guarda diversas similaridades.

Iniciando a proposta com as crianças...

O trabalho com literatura de cordel implica em resgatar a tradição oral e popular de cantadores e poetas populares. O cordel enquanto produção cultural possibilita uma gama enorme de possibi-lidades para o trabalho com crianças dos primei-ros ciclos do ensino fundamental. Desde o traba-lho com a oralidade até o uso de música, passando

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

149

pelas artes dramáticas, tradição popular etc. Soma se a isso as diversas possibilidades de letramentos que o cordel (assim como outros gêneros da tradi-ção oral ou mesmo literária) estimula discursiva-mente nas práticas sociais e que a escola por muito tempo ignorou por não pertencer a uma tradição associada ao rigor acadêmico da escolarização. O trabalho pedagógico com o cordel é um caso clás-sico de possibilidades de estímulo de letramentos não dominantes, os chamados “letramentos ver-naculares”, justamente pelas suas características de ligação ao cotidiano, à localidade e ao que não é valorizado socialmente pelo cânone cultural vi-gente (Rojo, 2009 e 2012).

Indicamos a utilização de diferentes suportes textuais: da menção ao cordel como instrumento que registra os acontecimentos prosaicos sob uma ótica lírica, passando pela xilogravura, música etc. Além da utilização das formas informatizadas de comunicação, como blogs e outras plataformas di-gitais, para “fazer cordel” (o mesmo gênero em um novo suporte).

Sugerimos o início do trabalho com literatura de cordel a partir da antologia de cordel chama-da “Amor, História e Luta”, organizada por Márcia

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

150

Abreu (Salamandra, 2005). O volume apresenta folhetos representativos da cultura de cordel (al-guns do final do século XIX), além da contextuali-zação, apresentação a cada cordel reproduzido etc.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Podemos discutir com o grupo de crian-ças o que cada um sabe sobre cordel ou poesia popular improvisada;

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

151

• Outra possibilidade consiste em apre-sentar apenas um folheto da antologia, tendo em vista o volume da obra em si. A sugestão fica por conta do poema “A viagem a São Saruê”, de Manuel Camilo dos Santos.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbo-visual

A Viagem a São Saruê

[...] “Lá quando nasce um menino

não dá trabalho a criarjá é falando e já sabeler, escrever e contar,

canta, corre, salta e faztudo quanto se mandar.

La tem um rio chamado:o banho da mocidade,

onde um velho de cem anostomando banho à vontade

quando sai fora parece ter vinte anos de idade.

Lá não se vê mulher feiae toda moça é formosa

alva, rica e bem decentefantasiada e cheirosa,

igual a um lindo jardimrepleto de cravo e rosa.

É um lugar magníficoonde eu passei muitos dias passando bem e gozando

prazer, amor, simpatias,todo esse tempo ocupei-me

em recitar poesias.” [...] 2

2. ABREU, Marcia (org.) Amor, História e Luta – Antologia de folhetos de cordel. São Paulo: Salamandra, 2005.

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

153

1. As crianças podem explorar o ritmo do cordel, destacando as métricas mais utilizadas (por exemplo: “batatinha quando nasce/se esparrama pelo chão”);

2. Explorar e comparar as diferentes formas de manifestações e de expressão popular, com similaridades ao cordel em relação à forma, conteúdo e/ou expressão;

3. Em outros trechos do referido poema, o autor explora a narração em forma de poesia, o que pode se tornar um mote quanto à importância do ato de narrar uma história fantástica, onde personagens adquirem características heroicas e até sobrenaturais, lugares em que o ambiente é onírico e exuberante. Sem contar como as narrativas subvertem a lógica do tempo e espaço;

4. Exploração do ideal de cidade, homem e mulher (incluindo a questão de gênero) no referido folheto a partir do discurso popular;

5. Notação de palavras (“regionalismos”) não conhecidas pelas crianças. É possível o uso de dicionários ou almanaques que discorram a respeito da etimologia das palavras, ressaltando sempre a importância da atenção ao contexto de palavras e expressões populares e as tidas como “eruditas”.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Comparar a lírica de “a Poesia” (Poetas do Repente João Paraibano e sebastião Dias) a uma faceta pouco explorada do cordel (presente em certa medida no folheto apresentado): a da sensibilidade aos fatos cotidianos e a utopia em uma força redentora da poesia frente ao mundo.

Valdir Teles e Geraldo amâncio em Brasília

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

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a peleja de cego aderaldo com Zé Pretinho.[...]Em casa do tal PretinhoFoi chegando o portadorFoi dizendo: Lá em casaTem um cego cantadorE meu pai manda dizerQue vá tirar-lhe o calorZé Pretinho respondeu:- Bom amigo é quem avisaMenino, dizei ao cegoQue vá tirando a camisaMande benzer logo o lomboQue eu vou dar-lhe uma pisa.”3

[...]

2. Explorar os chamados desafios, ideia que consiste em, basicamente, uma dupla disputar uma peleja musical e poética com intuito de “vencer” o oponente através do humor e do sarcasmo. Um exemplo formidável de tal possibilidade, lemos em “Peleja do Cego aderaldo com Zé Pretinho”, de Firmino Teixeira do Amaral, que faz parte da antologia aqui apresentada. Para arrematar, uma xilogravura de “Peleja de Joaquim Jaqueira com Joao Melquíades” - de autoria não citada.

3. ABREU, Marcia (org.) Amor, História e Luta – Antologia de folhetos de cordel. São Paulo: Salamandra, 2005.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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O Forró da Bicharada

[...] Afinal chegou o diaDa grande reunião

Começou chegar os bichosDe mais alta posição

Num salão todo enfeitadoEra a recepção

Chegou logo o elefanteA girafa e o cameloE a onça suçuarana

Trajando fino modeloE o bode todo cheirosoEndireitando o cabelo

Depois chegou o veadoO urso e a capivara

O avestruz e a águiaO papagaio e a araraE o mestre tamanduá

Passando a língua na cara

A garça toda vaidosaChegou metida a grã-fina

Toda vestida de brancoPor ser rica bailarina

Fazendo inveja ao PavãoNo traje de seda fina

Afinal chegaram todos Os bichos que existia

No reino da bicharadaReinava grande alegriaE rei recebeu a todosCom a maior cortesia.

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

157

3. Demonstrar às crianças como o cordel (neste exemplo, “O forró da bicharada”4, de apolônio alves dos santos) pode ser uma ótima maneira de compreender a função do verbo (destacando especialmente os que marcam o passado em uma narrativa e como o verbo pode auxiliar na descrição de uma cena).

Para ler mais

• Endereço eletrônico: http://digitalizacao.fundaj.gov.br/fundaj2/modules/busca/listar_projeto.php?cod=12&from=0. Acesso em 12/12/12.

4. SANTOS, Apolonio Alves dos. O Forró da Bicharada. IN. Jangada Brasil – Edição Espe-cial: Literatura de Cordel. Disponível em http://www.jangadabrasil.com.br/revista/agosto93/es930818.asp. Acesso em 22/11/2012.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

158

• Endereço eletrônico: http://www.jangadabrasil.com.br/revista/agosto93/index.asp. Acesso em 12/12/12.

Para saber mais

• CURRAN, Mark. História do Brasil em Cordel. São Paulo: Edusp, 2003.

• ROJO, Roxane. Letramentos(s) – práticas de letramento em diferentes contextos. In: Letramentos múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo: Parábola, 2011.

Pra rimar e cantar: poesia de cordel e outras batalhas

159

• ROJO, Roxane. Pedagogia dos multiletramentos - Diversidade cultural e de linguagem na escola. In: ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo (orgs.) Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.

161

entre Contos e Poesias: Versando memória e diVersidade no mundo das PaLaVras1

“Crianças e jovens querem saber sobre o mundo e seus significados, construindo o conceito das coisas que os rodeiam e de si mesmos e podem experimentar esses saberes através da leitura literária. Encontramos, nas narrativas anali-sadas, ludicidade e fantasia, elementos impor-tantes para a formação do leitor; bem como a construção de um repertório em que as diferen-ças culturais estão presentes”.

(Debus e Vasques, 2010, p.143).

1. Felipe Valentim Bonifacio, Fernando Ribeiro, Luiz Paulo Ferreira Santiago Pamella Freire, Samanta Biotti, estudantes do 5º termo do curso de Pedagogia (Noturno) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Objetivos das sugestões didáticas

• Analisar o gênero conto e fazer uma leitura critica sobre suas particularidades e sua subjetividade implícita.

• Comparar os gêneros conto, provérbio e canção, explorando a construção poética do texto (semântica) diferenciada de casa um;

• Explorar o léxico do texto, inserido na representação de memória e diversidade cultural como elementos essenciais para a construção da identidade humana.

• Desenvolver a percepção e interpretação das

metáforas, comparações e metonímias.

Iniciando a proposta com as crianças...

Com essa sugestão didática, é possível proble-matizar a produção da Literatura Afro-brasileira e o pouco espaço dedicado a ela dentro e fora da escola. Perguntar as crianças quais as historias co-nhecem que vem daquele continente? Quantos sa-beriam contar ou já ouviram falar sobre os tuare-

entre Contos e Poesias: versando Memória e Diversidade no Mundo das Palavras

163

gues2? Ou historias dos poderosos reinos africanos de Ghana3 e Achanti4?

O Mar de Manu (Editora Kuanza Produções – São Paulo, 2011, 1ª ed.), obra criada pela escritora

2. Tuaregues são povos constituídos por pastores semi-nomâdes, agricultores e co-merciantes em grande parte muçulmanos situados principalmente na região saha-riana do norte do continente africano.

3. Gana foi um dos maiores impérios formados no continente africano que se desen-volveu para fora das regiões litorâneas ou da África muçulmana. Sua área correspon-dia às atuais regiões de Mali e da Mauritânia, fazendo divisa com o imenso deserto do Saara. Disponível em http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/reino-de-gana.htm - acessado em 19/12/2012.

4. Os ashantis ou axântis são um importante grupo étnico de Gana. Eles foram um povo poderoso, militarista e altamente disciplinado da África Ocidental. Disponí-vel em http://pt.wikipedia.org/wiki/imp%C3%a9rio_ashanti. Acessado em 19/12/2012

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

164

Cidinha da Silva5 e ilustração de Mbiya Kabengele6, é um conto que permite nos aproximar das cultu-ras do continente africano; inspirado na região de fronteira dos países entre o Mali, Níger e Burkina Faso. Além disso, a obra nos oferece ricas ilustra-ções e o conto revela os costumes, lendas e os ricos provérbios próprios das culturas africanas.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Começar a atividade convidando todos a sentarem no chão em roda; falar sobre a autora e o ilustrador, contar um pouco de suas historias pessoais, presente na contra-capa junto de suas fotografias.

• Aproveitar o momento e trazer um mapa mundi e demonstrar a origem de ambos.

5. Mineira de Belo Horizonte, formada em Historia na UFMG.

6. Radicado no Brasil, é natural da Republica Democrática do Congo ex Zaire.

entre Contos e Poesias: versando Memória e Diversidade no Mundo das Palavras

165

• Contar a história para as crianças, explorando as ilustrações, permitindo suas intervenções, problematizando suas hipóteses; explorando os sentidos do texto e das palavras.

De olho no texto verbo-visual

O Mar de Manu

Antes de as cigarras cantarem, chamando a noite, Manu saíra sozinho da vila, contrariando as recomendações de sua mãe. O menino contou a Kadija, a mãe, o sonho de pescar estrelas. Ao ouvir o desejo de Manu, lembrou-se que os homens azuis do deserto espetam estrelas com a

ponta da lança. Sentiu cheiro de perigo e subiu na primeira árvore à

sua frente. O cobertor de medo que tomara conta dele aumenta o frio na barriga. Em eras priscas7, quando os bichos falavam e confiavam nos seres humanos, (…).

Os bichos só entendem o mundo pelo olhar da família.

7. Tempos muito remotos, que ninguém consegue precisar exatamente. Disponível em http://www.achando.info/Priscas - acessado em 27/11/2012

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

166

1. Os trechos da obra podem ser trabalhados de ma-neiras diferentes, orientando para as características do gênero conto.

2. Podemos reler o texto e perceber como a autora utiliza metáfora, comparação e metonímias no texto para conseguir um determinado efeito de sentido na interpretação do leitor.

3. Estudando a construção narrativa do texto pode-mos apontar para o acervo de palavras empregado na obra, estudando o léxico, relacionando o texto com memória e construção de identidade.

4. Conversar com as crianças sobre a relação do ho-mem com a natureza que o conto propõe. A relação dos mais novos com os mais velhos, questionando os tipos de valores construídos e valorizados pela família.

entre Contos e Poesias: versando Memória e Diversidade no Mundo das Palavras

167

5. Explorar como as ilustrações colaboram para a in-terpretação do texto a partir das interpretações feitas pelas crianças.

6. Demonstrar as características dos personagens e cenários e comparar com outras obras literárias infan-tis chamando atenção para os traços do ilustrador. Tal atividade ajuda as crianças a compreender que as ilus-trações também estão carregadas de sentido.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

168

7. Pode-se propor que as crianças formem grupos pe-quenos e que grupos pares discutam sobre a mesma ilustração, depois os grupos apresentam a página que escolheram comparando as analises do que cada um observou.

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

1. Explicar sobre a importância dos pro-vérbios para algumas culturas do continente africano e qual o seu papel social. Podemos relacionar os gêneros e conversar sobre as carac-terísticas dos provérbios demonstrando as seme-lhanças com os outros textos trabalhados e ana-lisados.

PROVÉRBIOS AFRICANOS – A borboleta que esbarra em espinhos rasga as próprias asas. – O hoje é o irmão mais velho do Amanhã, e a garoa é a irmã mais velha da chuva. – Quando não souberes para onde ir, olha para trás e saiba pelo menos de onde vens. - Aquele que tenta sacudir o tronco de uma árvore sacode somente a si mesmo.

– Domínio Público

entre Contos e Poesias: versando Memória e Diversidade no Mundo das Palavras

169

2. Retomar os primeiros conceitos trabalhados em O Mar de Manu, ex-plorando a percepção do gênero canção e suas características poética e sonora. Exploramos o sentido dos versos na can-ção relacionado à música, ao som dos instrumentos. Procuramos identificar a metáfora, comparação e personificação nos versos da canção.

Para saber mais

• Brandão, Ana Paula. Kit “A Cor da Cultura” Saberes e Fazeres v.2 : Modos de sentir. MEC/SEPPIR - Rio de Janeiro, 2006.

• Debus, Eliane e Vasques Margarida. A linguagem literária e a pluralidade cultural: contribuições para uma reflexão étnico-racial na escola. Artigo disponível em http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conjectura/article/viewarticle/19

Estrela

Há de surgir Uma estrela no céu Cada vez que você sorrir Há de apagar Uma estrela no céu Cada vez que você chorarO contrário também Bem que pode acontecer De uma estrela brilhar Quando a lágrima cair Ou então De uma estrela cadente se jogar Só pra ver A flor do seu sorriso se abrir(...)

– Gilberto Gil

171

desCobrindo os Contos PoPuLares1

“O conto popular revela informação históri-ca, etnográfica, sociológica, jurídica, social. É um documento vivo, denunciando costumes, idéias, mentalidades, decisões e julgamentos.”

(CASCUDO, 1946, p.26)

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar o gênero conto popular, enfatizando suas características.

• Utilizar diferentes contos para as crianças saberem distinguir e compreender o que diz o gênero conto popular;

• Propiciar às crianças o entendimento de que a leitura do conto popular pode ser uma fonte de informação, prazer e conhecimento.

1. César Marinho, Fernando Guimarães, Lion Santiago e Mauricéia da Concei-ção (alunos de Pedagogia, 5º termo- vespertino) e Silvana Ferreira Dias – Pro-fessora da rede Municipal de Guarulhos.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Iniciando a proposta com as crianças...

O livro Contos africanos para crianças brasilei-ras, do autor Rogério Andrade Barbosa e ilustra-ções de Mauricio Veneza (editora Paulinas, 2004), traz dois contos que despertam o interesse das crianças, além de ilustrações coloridas que ajudam a contar essas duas histórias. Em um dos contos intitulado “Amigos, mas não para sempre”, somos apresentados à eterna luta entre gato e rato de for-ma concisa e divertida. Já o segundo conto escla-rece o porquê dos jabutis terem o casco rachado. Ambos os contos são temas universais e tradicio-nais, que pertencem à literatura oral de Uganda.

Descobrindo os Contos Populares

173

Sugestões para começar o encontro com o texto

• Podemos iniciar a proposta lendo sobre o autor e o ilustrador, suas origens e his-tórias (essas informações constam no livro). Sobre o autor podemos dizer ain-da que quando a sua obra se trata de um conto, algumas vezes, ele é responsável por recontar uma história já conhecida por algumas pessoas, pois o conto po-pular, muitas vezes, já foi contado, mas tem autoria desconhecida.

• Outra opção seria em uma roda de con-versa levantar, de forma introdutória e espontânea, os elementos que compõe o conto popular como: personagens, tempo, espaço, narrador e clímax. Esse levantamento também ajudará na com-preensão do conto. Além disso, nessa roda, é possível apresentar aos alunos a fábula O leão e o ratinho e, a partir dessa leitura, levantar as impressões dos alu-nos sobre as relações culturais existen-tes, ou não entre os dois gêneros.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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De olho no texto verbal

Amigos, mas não para sempre

Um dia, o rato resolveu que deviam guardar o leite também, da mesma forma como os homens faziam

para não passar fome durante a estação da seca: – De que jeito? – questionou o gato. – Em poucos dias, o leite ficará azedo. – Deixe comigo – respondeu o rato.

– Eu aprendi como as mulheres preparam um tipo de manteiga que eu adoro, a qual elas chamam de

ghee. 2 [...]

1. As crianças podem grifar os verbos do conto e dizer se o verbo está em primeira ou terceira pessoa e, a partir dessa reflexão, identificar a voz do narrador e dos personagens. É importante destacar que em outros contos, o narrador pode ser também o protagonista e assim sua voz aparece em 1ª pessoa.

2. Pedir aos alunos que falem cenas aleatórias do conto. O professor (a) vai fazendo as anotações em cartazes. Depois de prontos, os alunos devem organizar as cenas na ordem original do conto, percebendo a sequência temporal narrativa do conto.

2. BARBOSA, Rogério Andrade. Amigos, mas não para sempre. Contos africanos para crianças brasileiras. São Paulo. Paulinas, 2004. p.1.

Descobrindo os Contos Populares

175

3. A forma como se lê o conto é muito importante, por isso seria interessante propor que as crianças lessem o conto em voz alta, atentando-se, com auxilio do professor (a), às intenções dadas pelo autor em cada parte do texto. Para a leitura as crianças podem se dividir em narrador e personagens.

4. As crianças podem observar a movimentação do narrador no texto, identificando em que momentos aparece e quais os recursos gráficos são utilizados para que se note a sua presença no trecho transcrito, por exemplo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

176

Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

“Os textos curtos, como os contos, possibilitam uma melhor adequação ao fôlego do leitor em formação. E a relação com o momento contemporâneo pode ser um instigante meio de “mergulhar” no clima da obra. Daí para a leitura de romances... E o professor, como um mediador dessas leituras, assume papel funda-mental.”

(Cabral e Mendonça, 2010, p. 03)

Amigos, mas não para sempre

Quando a estação da seca chegou, o gato e rato se alimentaram com os produtos que haviam armazenado nos celeiros. Havia

bastante comida para os dois. Mas o rato não parava de pensar no ghee que ele ocultara na igreja.

– Será que não estragou? Como é que deve estar o gosto agora? – pensava o pequeno roedor.

Morrendo de vontade de provar um pouquinho do ghee, ele planejou uma boa desculpa:

– Tenho de ir à igreja. A filha de minha irmã vai ser batizada e ela pediu que eu fosse o padrinho.

— BARBOSA, Rogério Andrade. Amigos, mas não para sempre. Contos africanos para crianças brasileiras.

São Paulo. Paulinas, 2004.p. 10.

Descobrindo os Contos Populares

177

1. Utilizar dois contos para que as crianças notem as fa-las dos personagens com o uso de travessão e a fala do narrador “observador” sem o travessão, o que evidencia uma característica do gênero. Além disso, deve-se atentar ao fato de que o narrador também apresenta a fala dos per-sonagens e para isso ocorre uma mudança no verbo, como destacado no trecho a seguir.

O Jabuti de asas

Há muito tempo, um jabuti soube que uma grande festa estava sendo organizada pelas aves que viviam voando entre

os galhos das florestas.– Eu também quero ir – disse ele, pondo a cabecinha para

fora do casco. – Mas a festa vai ser no céu- explicou um papagaio – Como é

que você vai voar até lá?

— BARBOSA, Rogério Andrade. O Jabuti de asas. Contos africanos para crianças brasileiras.

São Paulo. Paulinas, 2004.p. 17.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

178

2. apresentar para as crianças diferentes contos que contem histórias sobre animais. Essa atividade pode aju-dar as crianças a perceberem como um mesmo tema pode ser abordado de diferentes maneiras, dependendo do autor e da cultura de que se origina além de notarem uma coe-rência quanto às características do gênero como a presença de narrador e personagens, a forma curta do texto, a pre-sença de apenas uma história a ser contada, além de nota-rem que em alguns contos o desfecho pode ser enigmático.

Esta obra traz cinco contos dos Irmãos Grimm, onde animais encantados e outros seres tratam de diversos temas. Destaque para “A RAPOSA E O GATO”.

O livro Contos Tradicionais do Brasil para crianças reúne al-guns contos recolhidos pelo autor Luís Câmara Cascudo (Ilustrações Cesar Landucci) dentre os quais existe uma seleção de contos que tra-tam dos animais. Um exem-plo interessante é POR QUE O CACHORRO É INIMIGO DE GATO... E GATO DE RATO.

Descobrindo os Contos Populares

179

No livro Conto de animais do mundo todo estão reu-nidos contos tradicionais de diversas culturas do mundo, recolhidos por Naomi Adler. Ao todo são nove contos sobre animais.

Em Contos de animais como contaram aos pais de nossos pais, os autores Ale-xandre Parafita e Rui Pedro Lourenço recontam contos antigos sobre animais.

3. Conversar com as crianças sobre a importância das ilustrações no conto. Será que as ilustrações são primor-diais? As ilustrações sozinhas podem contar uma história? (Ilustrações de Maurício Veneza)3

3. BARBOSA, Rogério Andrade. Amigos, mas não para sempre. Contos africanos para crianças brasileiras. São Paulo. Paulinas, 2004.p. 6 e 16.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

180

3. Pode-se apresentar para as crianças a história “a festa no Céu” em diferentes versões como em vídeo e livro, possibilitando que notem em diferentes versões características do gênero tanto na oralidade quanto na escrita.

Versão de “Festa no Céu” da autora e ilustradora Lúcia Hiratsuka.

Versão de “Festa no Céu” da autora Ana Maria Machado.

Descobrindo os Contos Populares

181

Neste Vídeo, disponibilizado no Youtube e no blog do artista, Augusto Pessôa narra o famoso conto “A Festa no Céu”.

Produzindo textos com as crianças

O professor (a) pode propor que as crianças se dividam em duplas, sendo que uma ficará res-ponsável por reescrever o conto, enquanto a outra fica responsável pelas ilustrações. As produções das crianças devem ser expostas em um blog, for-mando uma espécie de livro virtual. Para utilizar no blog, se as crianças preferirem, o professor (a) pode propor também que as crianças montem ví-deos narrando a história, ilustrados com as ima-gens produzidas.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

182

Para saber mais

• GOTLIB, Nádia Battella. Teoria do Conto. Editora Ática, 10ª ed.; São Paulo: 2003.

• LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O Foco Narrativo. Editora Ática, 10ª ed.; São Paulo: 2002.

• MESQUITA, Samira de. O Enredo. Editora Ática, 3ª ed.; São Paulo: 2002

• Salto para o Futuro “Conto e Reconto: Literatura e (re) criação”, Ano XX, Boletim 16, 2010.

Disponível em: http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/151433Contoreconto.pdf

Descobrindo os Contos Populares

183

site para navegar com as crianças...

O Blog do artista Augusto Pessôa reúne vários contos populares, seja em vídeos ou escritos.

• http://augustopessoacontadordehistorias.blogspot.com.br/2009/02/noticias.html

185

trabaLhando Com Contos PoPuLares1

“Por meio da literatura, seja ela oral ou escri-ta, podemos penetrar diversos mundos, época e sentimentos. Os contos populares, ainda hoje, capturam os mais diferentes leitores, indepen-dentemente da época ou objetivos pelos quais foram produzidos. Eles nos mostram mais que um universo de princesas, dragões e bruxas. Às vezes ocultadas pelas brumas da fantasia, po-demos encontrar reflexos de um mundo muito real: um mundo de costumes e valores, de desi-gualdades sociais, enfim, todo um cotidiano de diferentes povos e tempos”.

(Pinheiro, 2012, p. 13).

1. Adalberto Adão Dire e Denise Helena de S. Camilloto, alunos do curso de Pedagogia da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

186

Objetivos das sugestões didáticas

• Inserir pequenas leituras diárias no cotidiano escolar dos alunos, como forma de desenvol-ver o gosto pela leitura e sua produção.

• Trabalhar a interpretação dessas histórias, levando os conteúdos apresentados ao coti-diano das crianças.

• Discutir as diferenças e semelhanças presen-tes na cultura de outros povos, por meio da inserção de contos de outros países.

• Levar a criança a compreender o que é cul-tura e como a língua e a escrita expressam a formação de um povo.

Iniciando a proposta com as crianças...

Os dois livros de Heloisa Pietro - Lá Vem Histó-ria e Lá Vem História Outra Vez (Editora Compa-nhia das Letrinhas, 2002 e 2003) apresentam his-tórias para conhecer o mundo: valentes samurais no Japão; diabos espertíssimos na Europa Central; no Pólo Norte, ursos que viram estrela, na Austrá-lia, os imensos homens gatos, monstros muito es-

Trabalhando com Contos Populares

187

tranhos. E mais: Macunaíma, Scherazade, O Ne-grinho do Pastoreiro, entre outras, permitem uma viagem através da imaginação de outros povos e de crianças que viveram em outras épocas.

Sugestões para começar o encontro com o texto

• É possível trabalhar com a leitura e in-terpretação através de uma compara-ção entre contos populares de lugares diferentes. Uma brasileira e outra japo-nesa, por exemplo. De maneira que as crianças tragam informações sobre as diferenças que percebem nas histórias

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

188

e no dia a dia em relação a esses dois povos e consequentemente desenvol-ver a curiosidade e o gosto pela leitura.

• Outra forma de se trabalhar os contos populares é exatamente levantando com as crianças as histórias contadas no nosso cotidiano, questionando como elas acham que essas surgiram, já que são obras de autoria popular. Deixando claro para as crianças a im-portância dessas narrativas para a compreensão da realidade.

Trabalhando com Contos Populares

189

De olho no texto verbo-visual

O Pintor do Céu

(História do Folclore Tibetano)

Há muito tempo, vivia no sul da China um velho pintor

de muito talento. O que ele mais gostava de retratar eram

rostos de crianças.

Certa noite [...] Ele estava tão entretido em fazer o retrato

de uma linda menina que nem percebeu que à sua porta

surgira uma misteriosa figura. Ela atravessou o cômodo e,

quando chegou ao seu lado, disse:

- Eu sou a Morte e preciso levá-lo comigo hoje.

- Morte, por favor, diga ao Senhor do céu que estou muito

ocupado e não posso partir sem terminar meu retrato...

O rosto que ele pintava era tão lindo e vivo que parecia lhe

sorrir. Emocionada, a Morte foi-se embora. Quando chegou

ao céu, o Senhor do céu lhe perguntou:

- Morte, o que aconteceu? Você voltou sozinha?

- Senhor, me perdoe, mas não consegui interromper o

velho mestre.

O Senhor do céu ficou furioso com a Morte.

- O que é isso? Você nunca me desobedeceu! Volte já para

a Terra e traga-me o pintor!

(...)

1. Todo conto popular traz consigo aspectos do coti-diano e das vivências de determinado povo. Diante desse aspecto, realizar uma atividade direcionada para o questionamento sobre o que o conto em questão es-

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

190

pelha sobre a realidade vivida pelo povo apresentado. Essa discussão deverá ser oral, onde a criança irá mani-festar livremente as ideias formuladas mediante a inter-pretação dada por cada ao conto.

2. Explorar o emprego de letras maiúsculas e minús-cula, bem como os de nome próprio, uma vez que há diferenças entre “Morte” e “morte”, “Senhor” e “senhor”.

3. Analisar parágrafo, travessão, interrogação, exclama-ção e reticências, como essas pontuações são utilizadas para representar emoções e falas, dando vida ao conto.

4. Levantar entre os alunos o porquê de o pintor gostar de pintar rostos de crianças e, porque achavam que a morte tinha vindo visitá-lo. Existe algum conto brasilei-ro semelhante? Todos os rostos então de criança inclusi-ve os nossos seriam desenhados por um pintor chinês?

Fazendo relações com outros textos verbais e/ou visuais

1. apresentar outras versões dos contos recontados nas duas obras, ampliando o repertório de leitura das crianças. a comparação pode ser uma boa estratégia para que as crianças observem semelhanças e diferenças entre os textos. Como sugestão, podemos indicar o livro Como nasceram as estrelas, de Cla-rice Lispector (Editora Rocco), em que a história do Negrinho do Pastoreio é retomada, além de outras lendas.

Trabalhando com Contos Populares

191

2. Ler trechos do livro His-tórias de Tia Nastácia, de Monteiro Lobato. Nessa obra, há várias referências ao folclore brasileiro. O livro explora de for-ma muito interessante a cultura popular brasileira.

3. assistir aos vídeos do programa Lá vem História da TV Cultura. É possível encontrar vários vídeos na internet ou no site da TV Rá-Tim-Bum (http://tvratimbum.cmais.com.br/)

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

192

Produzindo textos com as crianças

• Organizar uma exposição de desenhos elaborados pelas crianças que recontem os contos trabalhados em sala de aula. De maneira que a criança apresente sua interpretação e representação visual so-bre os mesmos. O que se deseja é pro-mover além do gosto pela leitura e sua interpretação, levar a criança a percep-ção de que as imagens acabam nos ofe-recendo uma interpretação sobre deter-minada realidade, colaborando na nossa formulação de idéias sobre um objeto.

• Promover um dia de contação de his-tórias, em que as crianças deverão nar-rar seus contos para os demais, desen-volvendo assim a oralidade, leitura e escrita, além de motivar os alunos na produção própria. Quando se permite que a criança fale sobre a sua vivência, sua realidade, essa acaba questionando sobre os acontecimentos ao seu redor,

Trabalhando com Contos Populares

193

dando interpretação e buscando respos-tas e soluções para os problemas com os quais se defronta, refletindo, pensando e analisando o seu entorno.

Para saber mais

• CASCUDO, Luis da Câmara. Literatura oral no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Global, 2009.

• FERREIRA NETO, Waldemar. Tradição oral e produção de narrativas. São Paulo: Paulistana, 2011.

• GOMES, Lenice. MORAES, Fabiano. Alfabetizar letrando com a tradição oral. São Paulo, Cortez, 2013.

• PINHEIRO, Nárgyla Maria L. Pimenta. Como você está diferente vovó! : aspectos sócio-históricos dos contos populares. Dissertação de Mestrado apresentada a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas de São Paulo. São Paulo: USP, 2012.

• ROMERO, Silvio. Contos populares no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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a Poesia disseminando o direito1

Os enunciados – sejam eles orais, escritos ou multimodais – exprimem, em certa medida, a individualidade dos sujeitos e suas idiossincra-sias, mas na dependência de situações sociais concretas de enunciação, segundo Bakhtin.

(DIAS et alli, 2012)

Objetivos das sugestões didáticas

• Trabalhar o gênero literário poema

• Relacionar o texto com outros gêneros literários verbais e não verbais: canção, história em quadrinhos, literatura de cordel e obras das artes visuais.

• Compreender e reconhecer a importância da antologia para a produção literária.

1. Carolina Zambotti Simões , Ezequiel Santos, José da Silva, Karen Regina Amorin - Alunos do curso de Pedagogia (Noturno) da Universidade Federal de São Paulo.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Iniciando a proposta com as crianças...

A leitura da obra “Os direitos das crianças se-gundo Ruth Rocha”, escrito por Ruth Rocha (Ed. Companhia das Letrinhas, 2002) apresenta versos compostos por quadrinhas. As páginas são ilustra-das com desenhos feitos pelo ilustrador Eduardo Rocha, que dialogam com os versos, apresentando cenas descritas no poema.

Nossa proposta tem por objetivo principal traba-lhar o gênero literário da poesia, que é pouco traba-lho na escola, com seus elementos característicos. Para iniciar esse trabalho, podemos sugerir uma roda de leitura, onde cada criança pode ler um tre-cho do livro. Podemos questionar os alunos sobre a

A poesia disseminando o direito

197

forma desse texto, o que ele apresenta de diferente, se eles percebem o ritmo, a rima, a forma etc.

De olho no texto verbo-visual

[...]Criança tem que ter nome

Criança tem que ter larTer saúde e não ter fomeTer segurança e estudar

Não é questão de quererNem questão de concordar

Os direitos das criançasTodos têm que respeitar

[...]

1. As crianças podem conversar sobre o léxico dos poemas e canções em grupos para que possam com-preender os possíveis sentidos das palavras e expres-sões, como: “decreto”, “casa de joão-de-barro”, “pomar”, “carreiro de saúva”, etc.;

2. Podem ser explorados as rimas e ritmos da poesia e das canções, trabalhando a repetição e o paralelismo presente de algumas palavras, como: “tem”, “criança”, “questão” e expressões “criança tem que ter”; “não é questão de querer”;

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Fazendo relações com outros textosverbais e/ou visuais

Deveres e Direitos

Crianças: iguais são seus deveres e direitos. Crianças: viver sem preconceito é bem melhor. 

Crianças: a infância não demora, logo, logo vai passar,  Vamos todos juntos brincar.

Meninos e meninas,  Não olhem religião nem raça. 

Chamem quem não tem mamãe,  Que o papai tá lá no céu,

E os que dormem lá na praça.Meninos e meninas, 

Não olhem religião nem cor.  Chamem os filhos do bombeiro, 

Os dois gêmeos do padeiro  E a filhinha do doutor.

(...)

- Toquinho (1987)

1. As crianças podem conversar sobre o léxico dos po-emas e canções em grupos para que possam compre-ender os possíveis sentidos das palavras e expressões, como: brincar, raça, trombadinha etc. Podem ser explo-rados as rimas e ritmos da poesia e das canções, traba-lhando a repetição e o paralelismo presente de algumas palavras, como: raça e praça.

A poesia disseminando o direito

199

2. Explorar a forma como o texto é apresentado relacio-nando a História em Quadrinhos da Turma da Mônica em O Estatuto da Criança e do Adolescente. O acesso pode ser pelo link: http://www.fundacaofia.com.br/c-eats/eca_gibi/capa.htm. Ou pelo link http://www.unicef.org/brazil/pt/monica_estatuto.pdf

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

200

Produzindo textos com as crianças

Produzir fotografias que busquem captar alguns dos direitos das crianças que estão, ou não, sendo garantidos e, posteriormente, apresentar para a escola em murais ou em uma galeria improvisada, explorando a arte visual.

Para ler mais

• Muscat, Bruno. Coleção Sim X Não – Direitos das Crianças, SIM!. Editora Escala Educacional

• Kawahara, Hiro. O Livro dos grandes direitos das crianças. Editora Panda Books, 2011

• Lísias, Ricardo. Coleção Turma dos Direitos Humanos. Vol. 1 e 2. Editora Hedra, 2005

A poesia disseminando o direito

201

Para saber mais

• DIAS, Anair; MORAIS, Cláudia G.; PIMENTAS, Viviane R. e SILVA, Walleska B. Minicontos multimodais: reescrevendo imagens cotidianas. In: Roxane Rojo e Eduardo Moura (Orgs.) Multiletramentos na Escola. Parábola Editorial, 2012.

• FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. Contexto.

• MACHADO, Zélia et al. Literatura no ensino fundamental: uma formação para o estético. In: Egon Rangel e Roxane Rojo (Orgs.). Língua Portuguesa: Ensino Fundamental. Brasília, MEC, 2010.

• RAMOS, Graça. A imagem nos livros infantis: caminhos para ler o visual. Autêntica.

203

CrÉditos das imagens

Página 24 • Chapeuzinho Amarelo. HOLANDA, Chico Buarque de. Chapeuzinho

Amarelo. (Coleção Itaú de livros infantis - 2011), 27ª Edição, Rio de Janeiro: José Olympio, 1997. http://www.ziraldo.com/livros/chapeu_a.htm

Página 27• Chapeuzinho Vermelho e Outros Contos de Grimm. http://www.livrus.

net/perfil_livro.php?id_livro=1261#item1• Chapeuzinho Redondo. http://www.brinquebook.com.br/livro.

php?livro=306

Página 28• Deu a Louca na Chapeuzinho (Hoodwinked). http://www.youtube.com/

watch?v=dN6BGajkptU • Os três porquinhos. http://www.ftd.com.br/detalhes/?id=2458

Página 32• HAURELIO, M. Os três porquinhos em cordel. São Paulo: Editora Nova

Alexandrina, 2011. http://marcohaurelio.blogspot.com.br/2011/06/classico-da-literatura-infantil.html

Página 33• The Project Gutenberg eBook, The Story of the Three Little Pigs, by

Unknown, Illustrated by L. Leslie Brooke. http://www.gutenberg.org/files/18155/18155-h/18155-h.htm

Página 35• Os três Porquinhos Pobres. http://www.companhiadasletras.com.br/

detalhe.php?codigo=40283• Outra Vez os Três Porquinhos. http://www.companhiadasletras.com.br/

detalhe.php?codigo=40285

Página 36• Os 3 Porquinhos. http://www.youtube.com/watch?v=kL5EjA2xu3k• Versão da Ciranda Cultural – Sacolinha da Alegria. Digitalização do

autor.

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

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Página 37• Os Três Porquinhos (2007). http://www.movimentoartecontemporanea.com/

mac/acervo/46/1132/

Página 43• Coraline. http://www.cinepremiere.com.mx/top-10-genialidades-de-neil-

gaiman1.html

Página 46• Coraline Game. http://static2.wikia.nocookie.net/__cb20090829195729/corali-

ne/images/5/56/Coraline_game2.gif

Página 47• Lucy enters the Wardrobe. http://narnia.wikia.com/wiki/Wardrobe• Coraline e o mundo secreto (2009). http://www.youtube.com/

watch?v=LO3n67BQvh0• Coraline em graphic novels. http://neilgaiman.com/works/Books/Coraline/

Página 50 • Alice. http://www.zahar.com.br/livro/alice

Página 52• Alice no metrô. http://www.le.com.br/catalogo-interna/alice-no-metro• Alice in Wonderland: Official Trailer. http://www.youtube.com/

watch?v=pMiCJefpn9Q

Página 53• Alice do País das Maravilhas – Wii. http://www.youtube.com/

watch?v=BNxsXFVQFnE • Para baixo na toca do coelho de Salvador Dali. http://omelete.uol.com.

br/galeria/Alice-por-Salvador-Dali/Para-baixo-na-toca-do-coelho/?slug_conteudo=veja-pinturas-de-salvador-dali-para-alice-no-pais-das-maravilhas

Página 57• Romeu e Julieta, de Ruth Rocha. http://www.salamandra.com.br/main.jsp?lum

PageId=4028818B2F212E9B012F2C6BF30801C2&itemId=8A8A8A8236D948FD0136EE70938D0006#

Página 59 • Mil Pássaros: Sete Histórias de Ruth Rocha. http://www.radio.uol.com.br/#/

album/ruth-rocha/mil-passaros-sete-historias-de-ruth-rocha/3926

Página 62• Romeo and Juliet: (WMC, public domain). https://share.ehs.uen.org/node/499

Créditos das imagens

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Página 63• Mônica e Cebolinha no Mundo de Romeu e Julieta. http://www.monicaro-

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Página 64• Romeu e Julieta em cordel. http://lojanovaalexandria.com.br/nova-alexandria/

colecao-classicos-em-cordel/romeu-e-julieta.html• Ilustrações de Mariana Massarani. http://marianamassarani.blogspot.com.br

Página 72• Os miseráveis. http://www.atica.com.br/SitePages/Obra.aspx?cdObra=2590

Página 76• Young Cosette sweeping: 1886 engraving for Victor Hugo’s Les Misera-

bles. French illustrator Émile Bayard. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ebcosette.jpg

Página 79• Les misérables, Gérard Dubois, Nathan. http://www.ricochet-jeunes.org/ma-

gazine/article/126-gerard-dubois• Os miseráveis em cordel. Digitalização do autor.

Página 84• O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. http://www.companhiadasletras.com.

br/detalhe.php?codigo=40473

Página 86 e 88• O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá. http://www.companhiadasletras.com.

br/detalhe.php?codigo=40473

Página 90• Ilustração de Carybé. http://www.jorgeamado.com.br/obra.

php3?codigo=40473&ordena=1

Página 92• A bola e o goleiro. http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.

php?codigo=40474

Página 97• As aventuras de Pinóquio. http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.

php?codigo=40246

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

206

Página 101• Livro Que história é essa? – Flávio de Souza. http://www.companhiadasletras.

com.br/detalhe.php?codigo=40034• As Novas Aventuras do Pinóquio - Tudo quanto se pode fazer com um nariz

comprido além de dizer mentiras. http://www.ipiageteditora.com.br/detalhes.asp?id=135&produto=959

Página 102• Pinocchio 3000. http://en.wikipedia.org/wiki/Pinocchio_3000

Página 106• Um caldeirão de poemas. http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.

php?codigo=40274

Página 109• Cultura. http://www.iluminuras.com.br/v1/verdetalheslivros.asp?cod=485&txt

Busca=Infantojuvenil&autor=Arnaldo%20Antunes

Página 110• POESIA DE BICICLETA. http://www.lpm.com.br/site/default.asp?Template=../

livros/layout_produto.asp&CategoriaID=626470&ID=940028

Página 114• O Primeiro Homem. http://editora.cosacnaify.com.br/Loja/PaginaLivro/10456/

O-primeiro-homem.aspx

Página 117• Indio bororo. http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Indio_bororo.

jpg?uselang=pt-br

Página 119• Calvin and Hobbes look at the stars. http://www.zoom-comics.com/archi-

ves/4331/calvin-and-hobbes-look-at-the-stars/

Página 128• Rotas fantásticas. http://www.ftd.com.br/detalhes/?id=3159

Página 130• Vovó Maria. http://revistaescola.abril.com.br/pdf/VovoMaria.pdf

Página 133• Os tenebrosos quadros de crianças chorando. http://vejasp.abril.com.br/blo-

gs/vejinha/dez-lendas-urbanas-dos-anos-80/

Créditos das imagens

207

Página 134• Histórias de arrepiar com Ângela Lago. http://www.angela-lago.net.br/livro.

html

Página 140• Histórias de arrepiar com Ângela Lago. http://www.companhiadasletras.com.

br/detalhe.php?codigo=40223

Página 142• Contos de enganar a morte. http://www.ricardoazevedo.com.br/livro/contos-

de-enganar-a-morte/ • Na noite escura. https://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/11121/Na-

noite-escura.aspx • My Haunted House. http://www.harpercollins.com/browseinside/index.

aspx?isbn13=9780060774837 • A hora do cachorro louco. http://www.ricardoazevedo.com.br/livro/trecho-de-

a-hora-do-cachorro-louco/

Página 150• Amor, História e Luta. http://eileiaolivro.blogspot.com.br/2012/02/antologia-

de-folhetos-de-cordel-amor.html

Página 151• Viagem a São Saruê. http://www.onordeste.com/onordeste/enciclopediaNor-

deste/index.php?titulo=Manoel+Camilo+dos+Santos&ltr=m&id_perso=460

Página 155• Peleja de Joaquim Jaqueira com Joao Melquíades. http://digitalizacao.fundaj.

gov.br/fundaj2/files/i/56/00.jpg

Página 163• O mar de Manu. http://cidinhadasilva.blogspot.com.br/

Página 166, 167 e 168• O mar de Manu. Digitalização do autor.

Página 172• Contos africanos para crianças brasileiras. http://www.paulinas.org.br/loja/?sy

stem=produtos&action=detalhes&produto=504580

Página 178• Contos de Grimm: Animais encantados. http://ensfundamental1.files.word-

press.com/2012/03/contos-de-grimm.pdf• Contos Tradicionais do Brasil para crianças. http://www.skoob.com.br/

livro/52577-contos_tradicionais_do_brasil

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

208

Página 179• Conto de animais do mundo. http://www.martinsfontespaulista.com.br/ch/

prod/407169/CONTOS-DE-ANIMAIS-DO-MUNDO-TODO.aspx • Contos de animais como contaram aos pais de nossos pais. http://www.tram-

polimedicoes.pt/crbst_42.html • Ilustrações de Maurício Veneza. Digitalizações do autor.

Página 180• Versão de “Festa no Céu” da autora e ilustradora Lúcia Hiratsuka. http://www.

editoradcl.com.br/Produto/92/festa-ceu-conto-popular-brasil-festa-mar-conto-popular-japao

• Versão de “Festa no Céu” da autora Ana Maria Machado. http://www.ftd.com.br/detalhes/?id=2467

Página 187• La vem história. http://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.

php?codigo=40055

Página 190• Como nasceram as estrelas. http://portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/

ClariceLispector.pdf

Página 191• Histórias de Tia Nastácia. http://teopoetica.sites.ufsc.br/arquivos/lucifer/

Artigos/Hist%C3%B3ria%20de%20Tia%20N%C3%A1stacia%20-%20O%20Bom%20Diabo%20-%20Monteiro%20Lobato.pdf

Página 196• Os direitos das crianças segundo Ruth Rocha. http://encantamentosdaliteratu-

ra.blogspot.com.br/2011/04/os-direitos-das-criancas-segundo-ruth.html

Página 199• Turma da Mônica em O Estatuto da Criança e do Adolescente. http://www.

unicef.org/brazil/pt/monica_estatuto.pdf

Os Cadernos de Residência Pedagógica são materiais

destinados aos residentes do curso de Pedagogia da

UNIFESP e aos professores e gestores das escolas

públicas de Guarulhos. Além de discutir questões de

diferentes níveis e modalidades de ensino, orientam o

início do Programa de Residência Pedagógica. Os

volumes desta série são: Educação Infantil (volume 1),

Primeiro segmento do Ensino Fundamental (volume

2) e Educação de Jovens e Adultos (volume 3), Gestão

Educacional (volume 4), Educação Infantil e

Direitos da Infância (volume 5), O Direito à Infância

e ao Brincar (volume 06), História e Geografia nos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental (volume 07).

CADERNOS DE RESIDÊNCIA PEDAGÓGICA

CAPES rodocênciaPrograma de Consolidação das Licenciaturas