CAIÇARA DO NORTE (RN): UM BERÇÁRIO DE …...O pai Santiago Kovadloff, levou-o para que...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA MESTRADO EM BIOLOGIA ANIMAL CAIÇARA DO NORTE (RN): UM BERÇÁRIO DE TUBARÕES E RAIAS ? LEANDRO YOKOTA RECIFE 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCOCENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIAMESTRADO EM BIOLOGIA ANIMAL

CAIÇARA DO NORTE (RN): UM BERÇÁRIO DE TUBARÕES ERAIAS ?

LEANDRO YOKOTA

RECIFE2005

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LEANDRO YOKOTA

CAIÇARA DO NORTE (RN): UM BERÇÁRIO DE TUBARÕES ERAIAS ?

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado

em Biologia Animal, do Departamento de

Zoologia do Centro de Ciências Biológicas da

Universidade Federal de Pernambuco, como

parte dos requisitos para a obtenção do grau

de Mestre em Ciências na área de Biologia

Animal.

ORIENTADOR:

Profa Dra. Rosângela Paula Lessa

RECIFE

2005

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Diego não conhecia o mar.

O pai Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.

Viajaram para o Sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,

depois de muito caminhar, o mar estava em frente aos seus olhos.

E foi tanta a imensidão do mar, e tanto o seu fulgor,

Que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

- Me ajuda a olhar!

Eduardo Galeano

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Para a mulher da minha vida, Roberta Lovaglio, que

sempre acreditou em meus sonhos e apoiou minhas

decisões. Saiba que te amo muito, e que sem você este

trabalho não seria possível....obrigado pelo apoio,

compreensão, e principalmente pelo carinho e

amor...este trabalho também é seu pequena......

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AGRADECIMENTOS

À Deus pelo suporte e força nos momentos mais difíceis.

À minha orientadora Profa Dra Rosângela Lessa, cuja profunda admiração, aliada a grandepaixão pelos tubarões e raias, me fez viajar 2716 km, para que pudesse usufruir sua orientação.Obrigado pela preciosa orientação, ensinamentos, conselhos e confiança, serei eternamente grato.

Aos professores: Dr. Ricardo de Souza Rosa, Dr. Teodoro Vaske Jr e Dr.Paulo JorgeParreira dos Santos pela participação na banca examinadora e valiosas sugestões.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) pela bolsaconcedida.

Aos pescadores de Caiçara do Norte, pessoas humildes e generosas, que permitiram aamostragem dos tubarões e raias, sem a colaboração destas pessoas este trabalho não sairia dopapel.

Aos amigos Elvis e Rivaldo, pelo auxílio nas amostragens e grande amizade.

A D. Nega, Seu Miguel e família, por me acolherem em sua casa durante as viagens aCaiçara e pela convivência harmoniosa.

Ao grande amigo Gustavo Cordeiro, por permitir que utilizasse seu armazém durante asviagens a Caiçara, pela companhia e apoio.

A minha esposa, Roberta Lovaglio, pelo apoio principalmente neste último mês de correriae por ter dados um toque final aos gráficos e tabelas.

Aos professores Dr. Paulo Santos e Dra Sigridi Neumann pela atenção disponibilizada emajudar no tratamento estatístico dos dados, mesmo com os testes não sendo aplicados, asdiscussões foram de grande valia.

Á todos os professores do curso de pós-graduação em Biologia Animal, em especial a DraEduarda Larrazábal, Dr. Simão Vasconcelos e Dra Verônica Genevois, pela competência e apoio.

Aos amigos do Dimar: Teodoro Vaske, Marcelo Nóbrega, Francisco Marcante, José Lúcio,Santiago Montealegre, Paulo Duarte, Rogério Maciel, Gustavo Cordeiro, Kaio, Rafael e Jaílsonpelos conselhos,apoio e amizade;

Ao grande amigo Santiago Montealegre, por ter me recebido em sua casa quando chegueiem Recife sem ter onde ficar e pela grande amizade criada, só que ainda precisa aprender a jogarbola.

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Ao amigo Rogério Maciel pela grande ajuda prestada quando meu computador pifou no

momento que começava a escrever esta dissertação.

A minha amada irmã Érika Szeibel Yokota e ao meu irmão Michel D. Gianeti por teremenviado dezenas e dezenas, para não falar, uma centena de artigos científicos, provenientes daUSP e FURG respectivamente.

A toda minha família: Eduardo Yokota (pai), Hilda Leonita (mãe), Érika (irmã) e Edu(irmão), que sempre acreditaram em mim e apoiaram as minhas decisões, apesar da distânciavocês sempre estiveram dentro do meu coração e pensamentos.

A toda família de minha esposa pelo apoio e crédito, em especial a minha sogra D. Augusta,por todo apoio moral e companhia importante num momento crítico.

A D. Luzani, a minha mãe pernambucana, vai ser difícil, se não impossível ter a sorte deencontrar uma pessoa igual a senhora, obrigado por tudo.

Ao meu grande amigo Douglas de Araújo, pela amizade, força e apoio on-line

Ao meu grande irmão Michel D. Gianeti, que mesmo a longa distância, compartilhou osmelhores e piores momentos destes dois anos de mestrado AEEEEHHH MULEKE!!!!!

Á Recife por ter me recebido de braços abertos, com certeza Pernambuco se tornou o meusegundo estado.....

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS....................................................................................................... I

LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ III

RESUMO............................................................................................................................ VII

ABSTRACT........................................................................................................................ VIII

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1

2. OBJETIVOS................................................................................................................... 4

2.1 Objetivo Geral........................................................................................................ 4

2.2 Objetivos Específicos............................................................................................. 4

3. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................... 5

3.1 Área de Estudo....................................................................................................... 5

3.2 Pesca........................................................................................................................ 7

3.3 Amostragem............................................................................................................ 14

4. RESULTADOS e DISCUSSÃO PARCIAL................................................................. 18

4.1 Tubarões.................................................................................................................. 20

4.1.1 Espécies de tubarões utilizando a região de Caiçara do Norte comoberçário............................................................................................................................... 20

4.1.1.1 Rhizoprionodon porosus............................................................................. 20

4.1.1.2 Carcharhinus acronotus............................................................................. 27

4.1.1.3 Carcharhinus limbatus............................................................................... 29

4.1.1.4 Carcharhinus falciformis............................................................................ 31

4.1.2 Outras espécies..................................................................................................... 32

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4.1.2.1 Ginglymostoma cirratum............................................................................ 32

4.1.2.2 Carcharhinus leucas................................................................................... 33

4.1.2.3 Carcharhinus plumbeus.............................................................................. 33

4.1.2.4 Galeocerdo cuvier........................................................................................ 34

4.1.2.5 Sphyrna lewini...................................................................................…… 34

4.1.2.6 Sphyrna mokarran……………………………………………………….. 35

4.1.2.7 Carcharhinus signatus…………………………………………………… 35

4.1.2.8 Isurus oxyrinchus……………………………………………………...… 35

4.1.2.9 Prionace glauca…………………………………………………………... 35

4.2 Raias......................................................................................................................... 37

4.2.1 Espécies de raias utilizando a região de Caiçara do Norte como berçário..... 37

4.2.1.1 Gymnura cf. micrura................................................................................... 37

4.2.1.2 Dasyatis guttata........................................................................................... 45

4.2.1.3 Rhinobatos percellens................................................................................. 50

4.2.1.4 Narcine brasiliensis..................................................................................... 53

4.2.1.5 Aetobatus narinari....................................................................................... 55

4.2.1.6 Rhinoptera bonasus.................................................................................... 57

4.2.1.7 Dasyatis marianae....................................................................................... 58

4.2.2 Outras espécies..................................................................................................... 60

4.2.2.1 Dasyatis americana..................................................................................... 60

4.2.2.2 Dasyatis centroura....................................................................................... 62

4.2.2.3 Manta birostris............................................................................................ 63

4.2.2.4 Mobula hypostoma...................................................................................... 63

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5. DISCUSSÃO GERAL.................................................................................................... 64

5.1 Composição específica............................................................................................ 64

5.2 Reprodução de raias............................................................................................... 65

5.3 Berçários.................................................................................................................. 69

5.3.1 Tubarões................................................................................................................ 69

5.3.2 Raias...................................................................................................................... 71

5.3.3 Estratégias de uso................................................................................................. 73

5.4 A Pesca..................................................................................................................... 76

6. CONCLUSÕES.............................................................................................................. 77

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 79

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I

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tubarões capturados em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de

2003 a agosto de 2004.................................................................................................................... 18

Tabela 2 - Raias capturadas em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a

agosto de 2004............................................................................................................................. 19

Tabela 3 - Data de captura, comprimento total (CT) das fêmeas, comprimento total médio e

proporção macho: fêmea dos embriões de P. glauca capturado em Caiçara do Norte (RN)

durante o período de setembro de 2003 a agosto de

2004................................................................................................................................................ 36

Tabela 4 - Distribuição mensal dos neonatos (15-17,4 cm) e da classe de comprimentos

adjacente (17,5-20 cm) de Gymnura cf. micrura capturados em Caiçara do Norte (RN) durante o

período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e dezembro não houve

arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve amostragem............................................. 41

Tabela 5 - Mês de captura, LD da fêmea grávida (LD F), amplitude, tamanho médio, e sexo dos

embriões de Gymnura cf. micrura capturada em caiçara do Norte (RN) durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. * fêmeas com ventre proeminente, sugerindo gravidez. Nos

meses de novembro e dezembro não ocorreu arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve

amostragem.......................................................................................................................... 43

Tabela 6 - Distribuição mensal do diâmetro do maior folículo ovariano (DMF) de D. guttata

capturada em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de

2004................................................................................................................................................ 48

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II

Tabela 7 - Distribuição mensal de indivíduos com o tamanho de nascimento (12,3-15,3 cm) e

próximos ao tamanho de nascimento (15,4-17,3 cm) de D. guttata capturados em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e

dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve

amostragem.................................................................................................................................... 49

Tabela 8 - Distribuição mensal de indivíduos com o tamanho de nascimento (14,8-16,7 cm) e

próximos ao tamanho de nascimento (16,8-18,7 cm) de R. percellens capturados em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e

dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve

amostragem.................................................................................................................................... 52

Tabela 9 - Distribuição das fases de vida pelos meses de coleta de N. brasiliensis capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de

novembro e dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve

amostragem.................................................................................................................................... 54

Tabela 10 - Mês de captura, estado da fêmea, número, tamanho e sexo dos embriões, e diâmetro

do maior folículo ovariano de D. marianae capturada em caiçara do Norte (RN) durante o

período de setembro de 2003 a agosto de

2004................................................................................................................................................ 59

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III

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Vista da praia de Caiçara do Norte....................................................................... 5

Figura 02 – Área de estudo. A seta indica a localização de Caiçara do Norte e o

quadrilátero a região estudada................................................................................................... 8

Figura 03 - Temperatura média anual da água do mar. A. na superfície, B. a 50 m de

profundidade, e C. a 100 m de profundidade. O circulo branco inclui a região de Caiçara do

Norte. Fonte: World Ocean Atlas 2001,Ocean Climate Laboratory/NODC……………... 9-11

Figura 04 - Pescadores manuseando as redes depois da pescaria........................................... 12

Figura 05 - Arrasto de praia.................................................................................................... 13

Figura 06 - Medidas realizadas nos exemplares capturados. (A): Tubarões (B): Raias. Obs.

No caso das raias o CT só foi obtido de R. percellens e N. brasiliensis.................................. 15

Figura 07 - Aparelho copulador dos machos (clásper), a barra preta indica como foi

efetuada a medida..................................................................................................................... 16

Figura 08 - Neonato evidenciando a marca da cicatriz umbilical........................................... 17

Figura 09 - Rhizoprionodon porosus. (A) Neonato (B) Adulto.............................................. 20

Figura 10 - Distribuição da freqüência de comprimentos de R. porosus capturado em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. A seta

indica o tamanho de maturação................................................................................................ 21

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IV

Figura 11 - Distribuição das fases de vida pelas estações do ano de R. porosus capturado

em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004,. (A):

neonatos; (B): jovens com a cicatriz umbilical ainda evidente porém já fechada; (C): jovens

sem a cicatriz umbilical evidente; (D): jovens em maturação e adultos; (E): fêmeas

grávidas, post-partum e com evidências de gravidez. V: verão; O: outono; I: inverno; P:

primavera.................................................................................................................................. 23

Figura 12 - Distribuição das fases de vida pela profundidade de R. porosus capturado em

Caiçara do Norte, durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. (A): neonatos;

(B): jovens com a cicatriz umbilical ainda evidente porém já fechada; (C): jovens sem a

cicatriz umbilical evidente; (D): jovens em maturação e adultos; (E): fêmeas grávidas, post-

partum e com evidências de

gravidez.................................................................................................................................... 24

Figura 13 - Distribuição dos jovens em maturação e adultos de R. porosus, capturados em

Caiçara do Norte durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004, pelas estações

do ano e profundidade. (A): verão/outono; (B): inverno; (C): primavera................................ 26

Figura 14 - Carcharhinus acronotus....................................................................................... 27

Figura 15 - Carcharhinus limbatus....................................................................................…. 29

Figura 16 - Carcharhinus falciformis...................................................................................... 31

Figura 17 - Ginglymostoma cirratum...................................................................................... 32

Figura 18 - Carcharhinus leucas............................................................................................. 33

Figura 19 - Carcharhinus plumbeus........................................................................................ 33

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V

Figura 20 - Galeocerdo cuvier................................................................................................ 34

Figura 21 - Sphyrna mokarran................................................................................................ 35

Figura 22 - Prionace glauca.................................................................................................... 36

Figura 23 - Gymnura cf. micrura............................................................................................ 37

Figura 24 - Distribuição da freqüência de comprimentos de Gymnura cf. micrura capturada

em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

Tamanho de nascimento (classe 16-17,4 cm). A seta indica o tamanho de

maturação................................................................................................................................. 40

Figura 25 - Distribuição mensal do diâmetro do maior folículo ovariano (cm) de Gymnura

cf. micrura capturada em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a

agosto de 2004. O número do lado de cada mês indica o número de fêmeas analisadas. N=

sem dados................................................................................................................................. 42

Figura 26 - Dasyatis guttata................................................................................................. 45

Figura 27 - Distribuição da freqüência de comprimentos de D. guttata capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Tamanho

de nascimento (classe 12,3-15,3 cm). A seta indica o tamanho de maturação........................ 47

Figura 28 - Distribuição mensal dos indivíduos adultos da D. guttata capturados em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.................. 48

Figura 29 - Rhinobatos percellens.......................................................................................... 50

Figura 30 - Distribuição da freqüência de comprimentos de R. percellens capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Tamanho

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VI

de nascimento (classe 14,8-16,7 cm). A seta indica o tamanho de maturação........................ 51

Figura 31 - Narcine brasiliensis.............................................................................................. 53

Figura 32 - Distribuição da freqüência de comprimentos de N. brasiliensis capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. A seta

indica o tamanho de maturação................................................................................................ 55

Figura 33 - Aetobatus narinari................................................................................................ 55

Figura 34 - Rhinoptera bonasus.............................................................................................. 57

Figura 35 - Dasyatis marianae................................................................................................ 58

Figura 36 - Dasyatis americana.............................................................................................. 60

Figura 37 - Embriões de Dasyatis centroura.......................................................................... 62

Figura 38 - Manta birostris..................................................................................................... 63

Figura 39 - Embriões de Mobula hypostoma....................................................................... 63

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VII

RESUMO

Berçários de elasmobrânquios são habitats onde as fêmeas liberam seus filhotes e os jovens

permanecem nas primeiras semanas, meses ou anos de vida. Os berçários geralmente oferecem

aos jovens uma maior fonte alimentar e proteção contra predadores, condições que ajudam a

contrabalançar a mortalidade nesta fase inicial da vida. A identificação, o estudo e o manejo

destas áreas são de fundamental importância para a conservação das espécies, em função da

vulnerabilidade das populações, ainda mais quando se trata dos elasmobrânquios, que possuem

um papel ecológico crítico devido à sua posição apical na cadeia alimentar, contribuindo para o

bom funcionamento e manutenção da diversidade marinha. O presente estudo teve como

proposta analisar a região de Caiçara do Norte, estado do Rio Grande do Norte, suposta área de

berçário, procurando verificar essa hipótese, e em caso positivo, determinar quais espécies fazem

uso da região e como o berçário funciona. Foram efetuadas amostragens mensais durante o

período de setembro de 2003 a agosto de 2004, através do acompanhamento da frota pesqueira

artesanal. Foi amostrado um total de 1300 indivíduos, abrangendo 13 espécies de tubarões e 11

de raias, sendo que deste montante, pelo menos 11 espécies utilizam a região como berçário,

sendo 4 espécies de tubarões: Rhizoprionodon pororus, Carcharhinus acronotus, C. limbatus e

C. falciformis, e 7 espécies de raias, incluindo uma espécie endêmica da região Nordeste:

Gymnura cf. micrura, Rhinobatos percellens, Dasyatis guttata, D. marianae (endêmica),

Narcine brasiliensis, Aetobatus narinari e Rhinoptera bonasus.

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VIII

ABSTRACT

Elasmobranch nursery areas are habitats where females give birth to young and juveniles spent

their first weeks, months or years of life. The nursery area generally provides youngs better

source of food and protection against predation, conditions that counterbalance the early

mortality rate. The identification, study and management of these areas are of major importance

for species conservation, this importance is even greater when elasmobranchs are concerned as

they play a critical ecological role as dominant top predators that contribute to the healthy

functioning and maintenance of marine diversity. The proposal of this work is the study of

elasmobranchs from Caiçara do Norte (RN), a supposed nursery area of sharks and rays, trying

to understand the importance and function of this fortuitous nursery area for the life history of

species. Monthly samples were carried out during one year in landings of artisanal fleet. A total

of 1300 individuals were caught, covering 13 species of sharks and 11 of rays. At least 11

species utilized the area as nursery, 4 of sharks: Rhizoprionodon pororus, Carcharhinus

acronotus, C. limbatus e C. falciformis, and 7 species of rays, including an endemic species of

Northeast region: Gymnura cf. micrura, Rhinobatos percellens, Dasyatis guttata, D. marianae

(endemic), Narcine brasiliensis, Aetobatus narinari e Rhinoptera bonasus.

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1

1. INTRODUÇÃO

Berçários de elasmobrânquios são áreas onde as fêmeas parem seus filhotes e os jovens

permanecem durante as primeiras semanas, meses, ou anos de vida (SPRINGER, 1967;

CASTRO, 1993). Neste primeiro momento, os jovens são inexperientes e vulneráveis, tendendo a

apresentar altas taxas de mortalidade natural (BRANSTETTER, 1990; HOENIG e GRUBER,

1990; HEUPEL e SIMPFENDORFER, 2002). Neste sentido, as áreas de berçários geralmente

fornecem uma ampla gama de itens alimentares e uma atenuação do risco de predação, condições

para que os jovens cresçam relativamente rápido, e se juntem à parte adulta da população

(SPRINGER, 1967; BRANSTETTER, 1990; CASTRO, 1993, SIMPFENDORFER e

MILWARD, 1993).

Como as principais premissas para determinado habitat servir como berçário, são a

abundância de recursos alimentares e uma baixa taxa de predação, que seria realizada

principalmente por tubarões maiores (SADOWSKY, 1967, SPRINGER, 1967, VAN der ELST,

1979), as áreas de berçários costumam ocorrer em águas costeiras, rasas, protegidas e de alta

produtividade. Berçários de elasmobrânquios têm sido encontrados em baías (CASTRO, 1993;

SIMPFENDORFER e MILWARD, 1993) , estuários (SPRINGER, 1967; SNELSON et al.,1984),

lagoas de recifes (GRUBER et al., 1988) ou mesmo em zonas litorâneas de praia aberta

(BRANSTETTER, 1990; LESSA, 1982).

Contudo, o grau de proteção oferecido pelos berçários pode variar (SPRINGER, 1967;

BRANSTETTER, 1990), sendo que as áreas de berçários podem ser classificadas pelo seu grau

de exposição a predadores. Umas são protegidas, porque estão em áreas freqüentemente não

habitadas pelos adultos, enquanto outras não são consideradas protegidas, porque estão

localizadas em habitat freqüentado pelos adultos. BRANSTETTER (1990) sugere que vários

fatores relacionados – freqüência reprodutiva, fecundidade, tamanho de nascimento, taxa de

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2

crescimento – podem ajudar a compensar a taxa de mortalidade inicial. Estes fatores são

contrabalançados por diferentes espécies de diferentes formas, produzindo numerosas estratégias

na fase inicial de vida. Sendo assim o autor propõe que espécies que produzem neonatos

pequenos ou de crescimento lento, utilizam áreas de berçários protegidas, onde a predação é

baixa, reduzindo então a mortalidade dos jovens; enquanto espécies de crescimento rápido ou que

produzem grandes neonatos, podem utilizar áreas menos protegidas contra predação.

O padrão de utilização dos berçários também varia. BASS (1978) classificou os berçários

em primários e secundários. Berçários primários são as áreas onde o parto ocorre e que os jovens

utilizam por um curto período de tempo (semanas ou poucos meses); enquanto os berçários

secundários são as regiões para onde os jovens se deslocam após deixarem os berçários

primários, e permanecem até a maturidade sexual. Contudo, para algumas espécies os berçários

primários e secundários ocorrem na mesma região (SIMPFENDORFER e MILWARD, 1993).

Diferentes da maioria dos peixes ósseos nos quais a fecundação é externa e a sobrevivência

de milhões de ovos e larvas é altamente dependente das variáveis ambientais, os elasmobrânquios

possuem fertilização interna e investimento em pequeno número de embriões que nascem bem

desenvolvidos. A conseqüência deste estilo reprodutivo é que o recrutamento é altamente

dependente do estoque parental e vice-versa (CAMHI et al., 1998), sendo assim o sucesso das

populações de elasmobrânquios é dependente da baixa mortalidade sobre os jovens. Deste modo

a utilização de áreas de berçários mostra-se extremamente vantajosa para a história de vida das

espécies. SPRINGER (1967) já percebendo a importância das áreas de berçários sugeriu que o

tamanho das populações de elasmobrânquios poderia ser limitado através de mecanismos

dependentes de densidade pela quantidade de áreas de berçários disponíveis.

As características citadas acima, associadas ao fato dos elasmobrânquios apresentarem um

crescimento lento que os direcionam a uma maturação sexual tardia, tornam os elasmobrânquios

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um grupo altamente susceptível à sobrepesca (HOLDEN, 1974 e 1977). Além do mais, como

geralmente os berçários estão localizados nas zonas costeiras, ficam mais expostos às atividades

antrópicas, sofrendo com a degradação ambiental e ação da pesca artesanal (CAMHI et al., 1998;

LESSA et al.,1999). Deste modo, várias populações em todo mundo vêm sofrendo um declínio

substancial, com espécies correndo risco de extinção (STEVENS et al., 2000; BAUM et al.,

2003; MYERS e WORM, 2003).

Os elasmobrânquios geralmente ocupam posições elevadas na cadeia alimentar, possuindo

um papel crítico para a diversidade marinha, sendo que o declínio das populações pode acarretar

sérias conseqüências para a estrutura e função do ecossistema marinho, que podem ser ecológica

e economicamente significantes, podendo persistir por longos períodos (STEVENS et al., 2000;

BAUM et al., 2003; MYERS e WORM, 2003).

Deste modo, fica evidente a importância das áreas de berçário para os elasmobrânquios,

sendo que sua identificação, estudo e proteção vêm sendo apontados como cruciais para o

gerenciamento e conservação das populações (NMFS, 1993; BONFIL, 1997, CAMHI et al.,

1998; LESSA et al., 1999). O presente estudo tem como proposta analisar a região de Caiçara do

Norte, estado do Rio Grande do Norte, suposta área de berçário, procurando verificar essa

hipótese, e em caso positivo, determinar quais espécies fazem uso da região e como o berçário

funciona.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral:

Verificar a hipótese de que a região de Caiçara do Norte (RN) constitui-se em um berçário

para tubarões e raias, identificando quais espécies fazem uso da região e como é o seu

funcionamento.

2.2 Objetivos específicos:

- Conhecer a composição específica, tamanho, sexo e segmento populacional (neonatos,

jovens ou adultos) dos elasmobrânquios na área através das capturas ao longo do ano.

- Investigar a importância e função desse eventual berçário para a história de vida das

espécies, tentando elucidar o uso temporal e espacial da área pelas mesmas.

- Contribuir para o conhecimento biológico das espécies capturadas na região.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

Caiçara do Norte (figura 1) está localizada 150 km a noroeste de Natal, situando-se a oeste

do Cabo do Calcanhar, nas coordenadas 050 04’ S e 360 03’ W. Trata-se de um município

tradicional na atividade pesqueira do Estado do Rio Grande do Norte, estando entre os 5 maiores

produtores (entre 25 municípios) de pescado marítimo e estuarino do Estado (IBAMA, 2002). O

bom rendimento pesqueiro é reflexo não só da frota artesanal (considerada a maior do Nordeste),

mas também da alta produtividade biológica da região.

Foto: Leandro Yokota

Figura 01: Vista da praia de Caiçara do Norte.

A Corrente Sul Equatorial, advinda da costa africana, atinge a América do Sul na altura de

100 S, dividindo-se em dois ramos: a Corrente do Brasil que segue sentido sul, e a Corrente Norte

do Brasil, a mais forte das duas, que segue direção noroeste ao longo da costa brasileira

(PETERSON e STRAMMA, 1991). A região de Caiçara do Norte, localizada próxima a zona de

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bifurcação, recebe grande influência do deslocamento da Corrente Norte do Brasil, sendo que tal

fenômeno, somado a ressurgência causada pela topografia submarina na região oceânica

(LAEVASTU e HAYES, 1981) e à pequena extensão da plataforma continental na região, seriam

de alta influência para a produtividade local.

Há cerca de 10 anos vem-se acompanhando a pesca na região através de estudos

envolvendo espécies de teleósteos mais valiosas comercialmente, inclusive Caiçara do Norte

sendo um dos pontos de amostragem do Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos

Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva (REVIZEE) SCORE – NE. Durante as visitas

prévias chamou atenção a grande ocorrência de neonatos e jovens de várias espécies de

elasmobrânquios, o que, aliada à produtividade biológica local e à magnitude da frota artesanal,

levaram a escolha da região para realização deste estudo. Além disto, os pontos de desembarques

estão concentrados em uma pequena extensão de praia (cerca de 1 km) facilitando a coleta de

dados sobre as espécies.

A área de estudo (figura 2) está compreendida entre as latitudes 04O 45’ e 050 03’ S e

longitudes 350 48’ e 360 20’W. O litoral se caracteriza por uma zona de praia aberta, de águas

rasas e túrbidas. A cerca de 300 a 400 m da costa ocorre um canal com média de 6 a 7 metros de

profundidade e a 2km do litoral localizam-se bancos de areia com profundidades variando entre 3

e 5 m. A linha de costa possui a direção oeste-leste e as planícies costeiras são estreitas, quase

inexistentes. O vento alísio de sudeste é persistente, fazendo com que, conforme ressaltado por

MELO (1994), tudo se mova de leste para oeste: ventos, correntes oceânicas, ondas e sedimentos.

A temperatura da água é relativamente alta, com média de 27 graus na superfície, e apresenta

pouca variação (26 graus no inverno e 28 graus no outono) e vertical, sendo que a 50 m de

profundidade a temperatura está em torno de 25-26 graus, e a 100m varia entre 21-24 graus

(WORLD OCEAN ATLAS, 2001) (Figura 3). A alta produtividade local é refletida no volume e

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diversidade de peixes (na maioria jovem), crustáceos e moluscos capturados pelo arrasto de praia,

que provavelmente constituem boa parte da dieta dos elasmobrânquios ocorrente na região. A

média de precipitação anual é de 1200 a 1500 mm, com um período mais seco de agosto a janeiro

(INMET, 1931 a 1990), e a salinidade média é de 36,4 (WORLD OCEAN ATLAS, 2001).

Em média a largura da plataforma continental interna, considerando como limite a isóbata de

50m, é de cerca de 47km, abrangendo quase a totalidade da plataforma continental, cuja largura,

até a quebra do talude continental, é em torno de 53km (MMA, 1996). O relevo da plataforma,

segundo PALMA (1979), é constituído de superfícies relativamente planas, alternadas com

fundos ondulados, campos de areia e feições irregulares de recifes de algas. KOWSMANN e

COSTA (1979), mostram que o recobrimento sedimentar da plataforma continental interna, em

profundidades inferiores a 20 m, é predominantemente de areia terrígena. Para além deste

domínio o fundo se apresentou atapetado por sedimentos carbonáticos (areias e cascalhos), e

elevações semicirculares formadas por arenitos de praia (beach-rocks), ou recifes de corais com

algas calcáreas, esses últimos instalados sobre substrato formado por arenitos e praia.

3. 2. Pesca

A frota pesqueira de Caiçara do Norte é composta por cerca de 240 embarcações, incluindo

botes a motor e a vela (6 a 12m), paquetes (4,5m), jangadas e canoas, que empregam diversos

tipos de arte de pesca e operam em uma larga amplitude de profundidade. Os elasmobrânquios

amostrados neste estudo foram capturados, principalmente, como fauna acompanhante da rede de

espera, arrasto e linha de mão e como espécie alvo na pesca de espinhel.

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Figura 2: Área de estudo. A seta indica a localização de Caiçara do Norte.

1010

100500

1000

3000

20

50200

N

12 km

36o W

5o S

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Figura 03 (Parte A): Temperatura média anual da água do mar na superfície (dados de 1773 a

2001). O círculo branco inclui a região de Caiçara do Norte. Fonte: World Ocean Atlas, 2001.

Ocean Climate Laboratory/NODC.

A

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Figura 03 (Parte B): Temperatura média anual da água do mar à 50 m de profundidade (dados de

1773 a 2001). O circulo branco inclui a região de Caiçara do Norte. Fonte: World Ocean Atlas,

1773 a 2001. Ocean Climate Laboratory/NODC.

B

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Figura 03: Temperatura média anual da água do mar à 100 m de profundidade (dados de 1773 a

2001). O circulo branco inclui a região de Caiçara do Norte. Fonte: World Ocean Atlas, 1773 a

2001. Ocean Climate Laboratory/NODC.

C

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A pesca de rede utiliza três tipos de petrecho: a caçoeira, uma rede de espera de superfície,

com malhas de 6 x 5 cm ou 7 x 6 cm entre-nós, empregada por 29 botes (22 motorizados e 7 à

vela), de 6 a 9m de comprimento, com autonomia de até 3 dias de mar que possuem como

principais espécies alvo: Scomberomosus brasiliensis (serra), S. cavalla (cavala) e Katswonus sp.

(bonito); a tainheira, uma rede de espera de superfície, com malhas de 2,5 x 3,0 cm ou 3,5 x 4,0

cm, empregada por 15 canoas à vela, de 4 a 5 m de comprimento, autonomia de 1 dia no mar,

tendo como espécies alvo Mugil sp. (tainha) e Opisthonema oglinum (sardinha); e a rede

chumbada, uma rede de espera de fundo, com malhas de 2,5 x 3,0 cm ou 3,5 x 4,0 cm, empregada

por 5 botes motorizados e 3 à vela, variando entre 6 e 9m de comprimento e autonomia de até 3

dias no mar, tendo como espécies alvo: Haemulon plumieri (biquara), Lutjanus sp. (guaiuba e

pargo) e Holocentrus ascensionis (mariquita). As redes (figura 4) possuem comprimentos entre

100 e 160 m e altura entre 3 e 4,5m, atuando em profundidades de 3 a 120 m, porém com maior

esforço de pesca desenvolvido entre 5 e 30m.

Foto: Leandro Yokota

Figura 04: Pescadores manuseando as redes depois da pescaria.

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O arrasto de praia, objetivando a captura do camarão, é realizado, como o nome sugere, na

beira da praia, até profundidades de 3 metros (figura 05). A rede possui cerca de 150 m de

comprimento, altura de 5m e malha de 2,5 cm. A comunidade possui 5 redes de arrasto, sendo

que em épocas produtivas, todas podem ser utilizadas simultaneamente. Outro tipo de arrasto,

tendo como espécie alvo o Pomacanthus paru, é realizado nos bancos de areia próximo à costa (3

a 5 m de profundidade), com uma rede similar a do arrasto de praia.

Foto: Gustavo Cordeiro

Figura 05: Arrasto de praia

A pesca de linha é realizada por uma frota de cerca de 25 botes motorizados ou à vela, com

até 3 dias de autonomia no mar, que pescam na quebra do talude e em regiões oceânicas,

utilizando anzol 14; e também por uma frota de 20 paquetes à vela (4,5m de comprimento), com

autonomia de até 2 dias no mar, que pescam principalmente sobre um substrato de recifes de

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algas calcáreas, a profundidades que vão de 10 à 50 m, utilizando anzol 10. Alguns destes

paquetes, pescam ainda em águas mais rasas e costeiras, em fundo de areia e lama.

Apenas 2 barcos operando espinhel (um empregando espinhel de meia água e o outro

espinhel de fundo) pescam na área. Os barcos possuem comprimentos entre 9 e 12 m, e

autonomia de até 3 dias no mar, o comprimento do espinhel é de cerca de 225m contendo 85

anzóis (anzol japonês, número 15), com a pescaria ocorrendo entre 10 e 90 m de profundidade.

3.3 Amostragem

Entre setembro de 2003 e agosto de 2004 foram realizadas amostragens mensais com

acompanhamento dos desembarques da frota artesanal de Caiçara do Norte por um período de 12

dias. No mês de janeiro não houve coleta e durante os meses de novembro e dezembro de 2003, o

arrasto de praia não foi realizado.

Os espécimes de elasmobrânquios capturados foram identificados com as chaves de

COMPAGNO (1984); GADIG (1994) e BIGELOW e SCHROEDER (1953). No caso dos

tubarões foram obtidos o comprimento total (CT) e comprimento interdorsal (CI) de acordo com

COMPAGNO (1984); para as raias foi registrada a largura do disco (LD) e no caso de

Rhinobatos percellens e Narcine brasiliensis o CT também foi obtido. Quando os tubarões eram

desembarcados descabeçados e eviscerados, o CT foi estimado a partir do CI. A unidade

utilizada nas medidas foi o cm.

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Foto: Francisco Marcante

Foto: Teodoro Vaske

Figura 06: Medidas realizadas nos exemplares capturados. (A): Tubarões (B): Raias. No caso das

raias o CT só foi obtido em R. percellens e N. brasiliensis.

O órgão copulador dos machos, conhecido como clásper ou pterigopódio, foi medido da

região posterior da cloaca até sua extremidade terminal (figura 07), e analisado quanto ao grau de

rigidez, sendo classificado em mole, em calcificação e calcificado. A maturidade sexual dos

machos foi estimada a partir relação do tamanho do clásper com o CT ou LD e do grau de

calcificação que apresentavam. Para as fêmeas considerou-se a presença de folículos ovarianos

vitelogênicos, bem como a presença de embriões e ovos no útero. Somente as fêmeas em que foi

CT

CI

CT

LD

A

B

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possível o exame direto do aparelho reprodutor foram consideradas na estimativa do tamanho de

maturação.

Foto: Leandro Yokota

Figura 07: Aparelho copulador dos machos (clásper), a barra preta indica como foi efetuada a

medida.

Nas situações onde a analise do aparelho reprodutor das fêmeas não foi possível, o estágio

de desenvolvimento sexual foi estimado comparando-se com o tamanho de maturidade observado

nos exemplares cujos aparelhos reprodutores foram analisados e com tamanhos de maturação

propostos na literatura. A partir de entrevistas com os pescadores obteve-se informações

referentes ao local, profundidade de captura e presença de embriões ou ovos nos exemplares

desembarcados eviscerados.

O tamanho de nascimento foi estimado a partir da observação do tamanho dos maiores

embriões e dos registros dos menores tamanhos de neonatos tanto da área de estudo quanto da

literatura. Para as espécies vivíparas placentárias, foram considerados neonatos os indivíduos que

apresentaram a cicatriz do cordão umbilical ainda aberta (figura 08), para as espécies vivíparas

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aplacentárias foram considerados neonatos os indivíduos próximos ao tamanho de nascimento

(CASTRO, 1993). A determinação sobre a utilização da área como berçário levou em

consideração a presença de neonatos, pequenos jovens e fêmeas grávidas (CASTRO, 1993).

Foto: Leandro Yokota

Figura 08: Neonato de C. limbatus evidenciando a marca da cicatriz umbilical.

O teste de qui-quadrado foi aplicado para testar diferenças entre proporções, principalmente

a sexual, sendo que a proporção esperada sempre foi a de 1:1. Todos os testes estatísticos

aplicados basearam-se no nível de significância de 0,05.

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4. RESULTADOS e DISCUSSÃO PARCIAL

Foi capturado um total de 1300 exemplares de elasmobrânquios, abrangendo 11 famílias e 24

espécies, sendo 4 famílias e 13 espécies de tubarões (tabela 1) e 7 famílias e 11 espécies de raias

(tabela 2).

Tabela 1: Tubarões capturados em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003

a agosto de 2004.

FAMÍLIA ESPÉCIE FREQÜÊNCIA

ABSOLUTA

FREQÜÊNCIARELATIVA (%)

CARCHARHINIDAE

Rhizoprionodon porosus

Carcharhinus limbatus

Carcharhinus acronotus

Carcharhinus falciformis

Carcharhinus leucas

Carcharhinus plumbeus

Carcharhinus signatus

Galeocerdo cuvier

Prionace glauca

565

40

32

8

2

1

1

2

5

85,2

6,00

4,80

1,20

0,30

0,15

0,15

0,30

0,75

SPHYRNIDAESphyrna lewini

Sphyrna mokarran

1

1

0,15

0,15

LAMNIDAE Isurus oxyrinchus 2 0,30

GINGLYMOSTOMATIDAE Ginglymostoma cirratum 3 0,45

TOTAL 663 100%

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Tabela 2: Raias capturadas em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a

agosto de 2004.

FAMÍLIA ESPÉCIE FREQÜÊNCIA

ABSOLUTA

FREQÜÊNCIARELATIVA (%)

DASYATIDAE

Dasyatis guttata

Dasyatis marianae

Dasyatis americana

Dasyatis centroura

173

22

9

1

27,2

3,45

1,40

0,20

MYLIOBATIDAEAetobatus narinari

Rhinoptera bonasus

Manta birostris

Mobula hypostoma

12

5

3

2

1,90

0,78

0,47

0,31

GYMNURIDAE Gymnura cf. micrura 252 39,6

RHINOBATIDAE

NARCINIDAE

Rhinobatos percellens

Narcine brasiliensis

136

21

21,4

3,30

TOTAL 636 100%

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4.1 Tubarões

4.1.1 Espécies de tubarões utilizando a região de Caiçara do Norte como berçário

4.1.1.1 Rhizoprionodon porosus (Poey, 1861)

rabo-seco, cação-frango

Foto: Leandro Yokota

Foto: Francisco Marcante

Figura 09: Rhizoprionodon porosus. (A) Neonato (B) Adulto

Rhizoprionodon porosus (figura 9) é uma espécie de pequeno porte ocorrendo sobre a

plataforma continental desde o Caribe até o Uruguai (COMPAGNO, 1984), sendo muito comum

na costa brasileira (LESSA, 1986; FERREIRA, 1988; MATTOS et al., 2001). No presente estudo

foi capturado um total de 565 espécimes, principalmente pelas redes caçoeira e tainheira, sendo

251 fêmeas, 260 machos e 51 exemplares nos quais não foi possível determinar o sexo.

O tamanho de maturação estimado para os machos foi de 63,5 a 67 cm de comprimento.

MATTOS et al., (2001) sugeriram um tamanho de maturação para as fêmeas de ~65cm. O maior

B

A

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embrião examinado neste estudo mediu 37,2 cm, o menor neonato 31,9 cm e o maior neonato

39,5 cm, sendo estimado o tamanho de nascimento entre 31,5 a 39,5 cm de comprimento.

A maior proporção de machos nas classes de comprimento de 65 a 85 cm (1,47:1, 2=74,7;

p< 0,0000001) (figura 10), sugere que uma segregação sexual por parte dos adultos possa estar

ocorrendo, porém como a distribuição da freqüência de comprimentos foi baseada em indivíduos

capturados em uma grande amplitude de profundidades, uma melhor conclusão poderá ser

tomada analisando-se a proporção sexual em diferentes classes de profundidades. A maior

proporção de fêmeas em comprimentos superiores a 85cm (1:11,8, 2=54,9; p< 0,0000001), e a

observação de que a partir de 95 cm, só foram amostradas fêmeas, indica que estas atingem

tamanhos superiores aos dos machos, o que é comum entre os tubarões (SPRINGER, 1960;

COMPAGNO, 1984).

0

10

20

30

40

50

60

30-3

5

35-4

0

40-4

5

45-5

0

50-5

5

55-6

0

60-6

5

65-7

0

70-7

5

75-8

0

80-8

5

85-9

0

90-9

5

95-1

00

100-

105

CT (cm)

Fre

qu

ên

cia

Ab

so

luta

Fêmeas

Machos

Figura 10: Distribuição da freqüência de comprimentos de R. porosus capturado em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. A seta indica o tamanho de

maturação.

A ocorrência de neonatos durante todos os meses (figura 11A), sugere que o parto possa

ocorrer durante o ano inteiro, porém o pico de ocorrência no inverno parece sugerir esta estação

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como o principal período de parto. A maior concentração de jovens com a cicatriz umbilical já

fechada na primavera (figura 11B) confirma essa observação.

As fêmeas de R. porosus são capazes de realizar a vitelogênese concomitantemente a

gestação, sendo assim logo após o parto já estão aptas a serem fecundadas (FERREIRA, 1988;

MATTOS et al., 2001), o que é confirmado nesse estudo pela captura de fêmeas grávidas ou

mesmo post-partum com folículos maduros ou em atividade de vitelogênese. A maior

concentração de adultos, incluindo a ocorrência de folículos maduros, fêmeas post-partum,

grávidas com embriões a termo e fêmeas (evisceradas) apresentando a musculatura ventral

altamente distendida, que segundo os pescadores estavam grávidas (fêmeas com indícios de

gravidez) no inverno/primavera (figura 11D e 11E) sugere este período como mais pronunciado

para a cópula.

COMPAGNO (1984) sugeriu que no Brasil o parto e a cópula de R. porosus ocorreriam entre

a primavera e o começo do verão, com período de gestação de 10 a 11 meses. FERREIRA (1988)

propôs um período gestacional similar para exemplares do sudeste, porém afirmou que o parto e a

cópula se concentrariam no inverno, enquanto em Pernambuco o pico de atividade reprodutiva

ocorreria entre o final do inverno e final da primavera, ocorrendo, entretanto, reprodução durante

o ano todo (MATTOS et al., 2001).

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23

Figura 11: Distribuição das fases de vida pelas estações do ano de R. porosus capturado em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004,. (A): neonatos; (B): jovens com a

cicatriz umbilical ainda evidente porém já fechada; (C): jovens sem a cicatriz umbilical evidente; (D):

jovens em maturação e adultos; (E): fêmeas grávidas, post-partum e com evidências de gravidez. V:

verão; O: outono; I: inverno; P: primavera.

A concentração de neonatos e jovens com a cicatriz umbilical já cicatrizada, porém ainda

evidente, em profundidades inferiores a 10 metros (figura 12A e 12B) e de jovens já sem a

cicatriz evidente em profundidades de 10 a 20m (figura 12C) sugerem que as águas mais rasas e

próximas à costa estariam sendo usadas pelos neonatos nos primeiros meses de vida, até estes

atingirem cerca de 45-50 cm, quando então migrariam para águas de 10 a 20 metros. Segundo a

0

5

10

15

20

V O I P0

5

10

15

20

V O I P

0

10

20

30

40

V O I P

0

2040

6080

100

V O I P

0

10

20

30

40

V O I P

ESTAÇÕES DO ANO

FRQUÊNCIA

ABSOLUTA

Fêmeas

Machos

Indeterminado

A

E

C D

B

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Figura 12: Distribuição das fases de vida pela profundidade de R. porosus capturado em Caiçara do Norte,

durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. (A): neonatos; (B): jovens com a cicatriz umbilical

ainda evidente porém já fechada; (C): jovens sem a cicatriz umbilical evidente; (D): jovens em maturação e

adultos; (E): fêmeas grávidas, post-partum e com evidências de gravidez.

curva de crescimento proposta por MONTEALEGRE-QUIJANO (2002), espécimes com

comprimento de 45-50 cm teriam cerca de 6 a 9 meses de idade, o que indicaria o uso das águas

com profundidades inferiores a 10m por um período similar antes do deslocamento para águas de

0

2040

60

80

0 a 10

10 a 20

20 a 50>50

PROFUNDIDADE (m)

Fêmeas

Machos

Indeterminado

0

10

20

30

0 a 10

10 a 20

20 a 50>50

05

10

152025

0 a 10

10 a 20

20 a 50>50

0

20

40

60

0 a 10

10 a 20

20 a 50>50

0

10

20

30

0 a 10

10 a 20

20 a 50>50

FRQUÊNCIA

ABSOLUTA

A B

C D

E

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10-20m, onde os jovens atingiriam a maturidade sexual. Fêmeas grávidas, post-partum ou com

indícios de gravidez se concentraram em profundidades inferiores a 20 m, indicando que o parto

ocorra nessas águas (figura 12E).

As maiores concentrações de machos adultos em águas com profundidades inferiores a 20m

(1,92:1; 2=17,28; p<0,00003) e de fêmeas adultas em profundidades superiores a 20m (1:1,61,

2=4,46; p<0,03) (figura 12D), resgata a idéia de segregação sexual dos adultos. PARSONS

(1983), trabalhando com R. terranovae no Golfo do México, concluiu que os animais se

deslocavam para águas mais profundas nos meses frios, retornando à costa nos meses quentes

para o parto. FERREIRA (1988) acredita que o mesmo ocorreria com R. porosus no sudeste do

Brasil, porém com o parto ocorrendo no inverno, como se trata do hemisfério sul, os meses são os

mesmos, sendo assim o autor sugere também que o fenômeno não se relacionaria diretamente as

estações. Em 1993, também no Golfo do México, CASTRO e WOURMS, (1993) propuseram

que exceto durante o período de cópula, R. terranovae segregaria de acordo com o sexo e

tamanho, com os machos permanecendo em águas mais rasas, enquanto as fêmeas se deslocariam

para águas mais profundas.

No verão-outono (figura 13A), a baixa captura dos adultos, poderia estar refletindo um

esforço de pesca concentrado em profundidades menores, sendo que a captura similar em

profundidades tanto inferiores quanto superiores a 20m, poderia significar na verdade, uma

concentração maior de adultos em águas mais fundas.

No inverno (Figura 13B), observa-se uma concentração significativa dos adultos em

profundidades inferiores a 20m, na proporção de 6 : 1 ( 2=58,1, p<0,0000001), porém com uma

proporção maior de machos (2: 1) ( 2=11,2; p<0,0008). Já na primavera (figura 13C), a

proporção de adultos nas profundidades abaixo de 20m, em ralação à profundidades maiores,

diminui, sendo de 2,17 : 1 ( 2=10,3; p<0,001), devido principalmente a um aumento na proporção

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de fêmeas nas profundidades superiores a 20m, que fica similar a concentração de fêmeas nas

profundidades menores, enquanto os machos continuam se concentrando nas profundidades

inferiores, com uma proporção de 8,5:1 (águas <20m : águas >20m) ( 2=23,7; p<0,0000001). Na

isóbata de 0 a 20m, a proporção sexual foi de 1,89: 1 significativamente favorável aos machos

( 2=4,9, p<0,03), enquanto em águas com profundidades superiores, a proporção foi de 5:1

significantemente favorável às fêmeas ( 2=10,6; p<0,01).

Figura 13: Distribuição dos jovens em maturação e adultos de R. porosus, capturados em Caiçara

do Norte durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004, pelas estações do ano e

profundidade. (A): verão/outono; (B): inverno; (C): primavera.

Através destas observações, conclui-se que no inverno, ocorreria uma aproximação da costa

por parte dos adultos, para realização do parto, cópula e fecundação. Conforme as fêmeas

parissem seus filhotes e copulassem, começariam a migração de volta para águas mais profundas,

PROFUNDIDADE (m)

C

0

50

100

0 a 20 >20

0

50

100

0 a 20 >20

0

50

100

0 a 20 >20

Fêmeas

Machos

A BFREQUÊNCIA

ABSOLUTA

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porém os machos permaneceriam nas águas rasas para continuarem copulando com novas

fêmeas; isso explicaria a diminuição da proporção de adultos na isóbata de 0 à 20m durante a

primavera, devido ao aumento na proporção de fêmeas na isóbata de 20 a 120 m. As fêmeas

ficariam em águas mais profundas, realizando o desenvolvimento gestacional, até o próximo

inverno (agosto, setembro), quando então começariam a se deslocar novamente para águas mais

costeiras dando início a um novo ciclo, sendo, portanto proposto um ciclo anual com gestação de

11 a 12 meses. No caso dos machos, a baixa captura no verão-outono, sugere que estes também

se deslocariam para águas mais fundas após o pico do período reprodutivo, porém, talvez

permaneceriam segregados das fêmeas em águas relativamente mais rasas, visto que nas maiores

profundidades, houve uma maior captura de fêmeas.

A ocorrência de neonatos, jovens (até tamanhos próximos ao de maturação) e fêmeas

grávidas, representando 65% das capturas, caracteriza a utilização das águas costeiras da região,

principalmente até 20m, como um berçário primário e secundário.

4.1.1.2 Carcharhinus acronotus (Poey, 1860)

tubarão-flamengo

Foto: Francisco Marcante

Figura 14: Carcharhinus acronotus

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C. acronotus (figura 14) possui a distribuição limitada ao Atlântico oeste, sendo que no

Brasil é encontrado sobre a plataforma continental entre os estados do Amapá e São Paulo

(LESSA et al., 1999). No presente estudo foi capturado um total de 32 exemplares

principalmente pelas redes caçoeira e chumbada, sendo 11 fêmeas, 18 machos e 3 indivíduos

onde não foi possível à identificação do sexo.

O nascimento para a espécie ocorre entre 38 e 50 cm (COMPAGNO, 1984). Um jovem,

com a cicatriz umbilical já fechada, embora evidente, mediu 59,8 cm de comprimento e foi

capturado a 21 m de profundidade em março. Cinco jovens entre 66,5-106 cm de comprimento

foram capturados entre agosto e março, e 7 jovens em maturação entre 97,6 e 110 cm foram

capturados entre agosto e fevereiro. Indivíduos adultos apresentaram uma maior ocorrência entre

os meses de agosto e novembro (10 machos e 6 fêmeas), contudo um macho e uma fêmea foram

capturados em março e junho respectivamente. Em agosto houve a captura de 2 fêmeas grávidas

com 5-6 embriões ainda prematuros (15-18 cm) e no mês de novembro, outra fêmea, que

segundo o pescador estava grávida. A espécie foi capturada entre 10 e 50 m de profundidade,

apresentando uma maior concentração entre 10 e 30 m, com os jovens restritos às águas de até

30 m.

Na costa de Pernambuco, que funciona como um berçário para a espécie, o parto ocorre no

final da primavera, entre dezembro e janeiro (ETEPE, 1995; HAZIN et al., 2002). O fato do

jovem capturado em março apresentar a cicatriz do cordão umbilical já fechada e a captura em

agosto de 2 fêmeas grávidas com embriões em torno de 15-18 cm, parece sugerir o mesmo

período de parto na região. Neonatos e fêmeas com embriões a termo não foram capturados,

contudo, em função dos hábitos costeiros da espécie, captura de pequenos jovens (incluindo um

com a cicatriz umbilical fechada, porém ainda evidente) e jovens próximos ao tamanho de

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maturação, acredita-se na utilização das águas costeiras (10-30m) da região como um berçário

primário e secundário.

Os hábitos bentônicos da espécie (COMPAGNO, 1984) devem contribuir para a baixa

ocorrência nas capturas, visto que tornaria C. acronotus menos vulnerável as redes caçoeira e

tainheira, que atuam na coluna da água, enquanto a rede chumbada, que teoricamente seria mais

eficiente na captura de C. acronotus, apresenta um esforço de pesca relativamente menor.

4.1.1.3 Carcharhinus limbatus (Valenciennes, 1839)

galha-preta, sucuri-da-galha-preta

Foto: Leandro Yokota

Figura 15: Carcharhinus limbatus

C. limbatus (figura 15) é uma espécie cosmopolita, sendo comumente encontrada em águas

tropicais e subtropicais da plataforma continental, ocorrendo por toda costa brasileira

(COMPAGNO, 1984; GADIG, 1994; LESSA et al., 1999).

No presente estudo, foram capturados 32 neonatos (59,5-68,2 cm comprimento total)

apresentando a cicatriz do cordão umbilical ainda aberta, nos meses de novembro (2 indivíduos) e

dezembro (30 indivíduos), sendo 16 fêmeas, 10 machos e 6 exemplares nos quais não foi possível

a determinação do sexo. No mês de fevereiro, ouviu-se relatos de pescadores, que diziam ter

capturado “galhas-pretas”, estimados em 60-70 cm de comprimento, embora não se tenha

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amostrado nenhum exemplar, achou-se razoável considerar tais informações. Os neonatos foram

capturados em águas rasas e costeiras, de 4 a 12m de profundidade, pela rede caçoeira. Essas

informações sugerem um ciclo reprodutivo bem definido, com parto ocorrendo principalmente no

mês de dezembro, e utilização das águas costeiras da região, durante o final da primavera e

começo do verão, como um berçário primário onde os jovens permanecem por cerca de 2-3

meses, visto que em março já não são mais capturados.

Em junho foram capturadas pelo espinhel, a uma profundidade de 10,5 m, 3 fêmeas

grávidas (195-199 CT), apresentado 6-8 embriões ainda prematuros, variando entre 22,2 e 29 cm

de comprimento, que provavelmente nasceriam no começo do próximo verão. A ausência de

fêmeas grávidas durante a época reprodutiva, provavelmente se relaciona à seletividade da malha

da rede, que não costuma capturar tubarões de grande porte, enquanto o esforço de espinhel, que

seria a melhor fonte de amostragem, é pequeno na área (apenas 2 barcos, que mesmo assim, não

pescam constantemente). Jovens imaturos machos (91-111 CT) foram capturados nos meses de

junho (1) e outubro (2) pela rede caçoeira a profundidades de 4,5 a 15m e dois pré-adultos

também machos, com cerca de 140 cm de comprimento, foram capturados a 90m em dezembro

pelo espinhel, juntamente com uma fêmea que segundo o pescador estava grávida, portando 7

embriões.

Vários estudos envolvendo C. limbatus já foram realizados (CASTRO, 1993 e 1996;

DUDLEY e CLIFF, 1993; CASTILLO-GÉNIZ et al., 1998.). É de comum acordo, nestes

estudos, que a espécie se reproduz na primavera/verão, realizando para isso, grandes migrações

latitudinais, sendo que as áreas de parto, e conseqüentemente, de berçário, ficam segregadas

geograficamente das áreas onde a população passa o outono/inverno. A espécie possui um

período gestacional de 12 meses e ciclo reprodutivo de 2 anos, com período de descanso de 1 ano

para as fêmeas. Após o nascimento, os jovens permanecem nas áreas de berçário por cerca de 3

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meses (CASTRO, 1996), até o final do verão, quando então deixam o berçário primário e migram

com os adultos de volta as áreas onde passam o inverno e outono. Em relação a área estudada,

onde os adultos e jovens passam o outono/inverno é um ponto a ser estudado. O aparecimento de

um jovem e 3 fêmeas grávidas (que dariam a luz na próxima primavera), fora do período

reprodutivo, é uma informação a ser considerada.

4.1.1.4 Carcharhinus falciformis (Müller e Henle, 1839)

lombo-preto

Foto: Leandro Yokota

Figura 16: Carcharhinus falciformis

C. falciformis (figura 16) é uma espécie tipicamente oceânica e de regiões insulares,

ocorrendo também próximo ao talude em todas as regiões do Brasil (COMPAGNO, 1984;

LESSA et al., 1999). O tamanho de nascimento estimado para a espécie é 70-87 cm de

comprimento total (COMPAGNO, 1984). Neste estudo, três neonatos, entre 86,5 e 89,6 cm de

comprimento, foram capturados pela linha de mão, em março, setembro e outubro, em

profundidades de 30 a 40 m e cinco jovens pequenos entre 97,4 e 105,8 cm de comprimento

foram amostrados entre março e outubro, em águas de 35 a 80 m.

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A ocorrência de neonatos e pequenos jovens na porção final da plataforma continental

interna e sobre a plataforma externa, indica a utilização desta região como um berçário primário.

Segundo BRANSTETTER (1987), em seu estudo sobre crescimento e reprodução de C.

falciformis no Golfo do México, a faixa de comprimentos entre 86 e 111cm de comprimento total

(dados observados), a qual abrange os indivíduos amostrados neste estudo, seria constituída

apenas de jovens do ano, sugerindo a utilização do berçário durante no máximo o primeiro ano de

vida, depois deste período os jovens assumiriam uma existência oceânica.

A ausência de fêmeas grávidas a termo sobre a plataforma, provavelmente se deve a um

problema de amostragem, sendo que as mesmas devem realizar apenas breves incursões na área

para o parto, dificultando a captura. Além do mais, o ciclo reprodutivo da espécie não apresenta

uma pronunciada sazonalidade no nascimento dos jovens (COMPAGNO, 1984), o que também

pode ser observado neste estudo pela captura de neonatos em período distintos (março e

setembro/outubro), o que tornaria ainda mais difícil a captura das fêmeas.

4.1.2 Outras espécies

4.1.2.1 Ginglymostoma cirratum (Bonnaterre, 1788)

tubarão-lixa (figura 17)

Foto: Leandro Yokota

Figura 17: Ginglymostoma cirratum

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Três pré-adultos (1 fêmea e 2 machos) entre 188 e 218 cm de comprimento total foram

capturados pelo espinhel de fundo nos meses de primavera-verão (outubro e março) em

profundidades de 13 a 16,5 m.

4.1.2.2 Carcharhinus leucas (Valenciennes, 1839)

cabeça-chata (figura 18)

Foto: Leandro Yokota

Figura 18: Carcharhinus leucas

Duas fêmeas, uma jovem de 192 cm e uma pré-adulta de 220cm, foram capturadas nos

meses de primavera-verão. A primeira em setembro, a 18m de profundidade pelo espinhel, e a

segunda em fevereiro, a 12m pela linha de mão.

4.1.2.3 Carcharhinus plumbeus (Nardo, 1827)

sucuri (figura 19)

Foto: Leandro Yokota

Figura 19: Carcharhinus plumbeus

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Um macho adulto com 194,5 cm de comprimento foi capturado em novembro a 18 m de

profundidade pela rede caçoeira.

4.1.2.4 Galeocerdo cuvier (Peron & Lesueur, 1822)

tubarão-tigre, tintureira (figura 20)

Foto: Leandro Yokota

Figura 20: Galeocerdo cuvier

Uma fêmea pré-adulta, medindo 278cm de comprimento, foi capturada em setembro a 18m

de profundidade pelo espinhel, e em novembro foi desembarcada uma carcaça que apresentou 47

cm de comprimento interdorsal, o animal também foi capturado pelo espinhel a 60 m de

profundidade.

4.1.2.5 Sphyrna lewini (Griffith & Smith, 1834)

tubarão-martelo

Em agosto (2003) foi encontrada na praia a cabeça de um S. lewini, indicando a ocorrência

da espécie na área de estudo. Pelo tamanho da cabeça, que mediu 78 cm de uma extremidade

ocular a outra, se tratava de um grande exemplar.

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4.1.2.6 Sphyrna mokarran (Rüppell, 1837)

tubarão-martelo (figura 21)

Foto: Leandro Yokota

Figura 21: Sphyrna mokarran

Um macho adulto medindo 313 m de comprimento foi capturado em março a 15 m de

profundidade pela rede caçoeira.

4.1.2.7 Carcharhinus signatus (Poey, 1868)

tubarão-toninha

Um macho jovem imaturo, medindo 98 cm de comprimento, foi capturado em julho a 105

m de profundidade pela linha de mão.

4.1.2.8 Isurus oxyrinchus Rafinesque, 1809

anequim, mako, cação-cavala

Um indivíduo com cerca de 190cm foi capturado em setembro, e um macho adulto, com

204 cm, foi amostrado em novembro. Ambos exemplares foram capturados pela linha de mão na

borda do talude.

4.1.2.9 Prionace glauca (Linnaeus, 1758)

tubarão-azul (figura 22)

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Foto: Leandro Yokota

Figura 22: Prionace glauca

Em agosto e dezembro a linha de mão capturou, próximo a quebra do talude, 4 fêmeas

grávidas de Prionace glauca (tabela 3). Em setembro uma fêmea de 246 cm foi desembarcada

eviscerada, os pescadores informaram que a mesma estava prenhe.

Tabela 3: Data de captura, comprimento total (CT) das fêmeas, comprimento total médio e proporção

macho: fêmea dos embriões de P. glauca capturado em Caiçara do Norte (RN) durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004.

Data CT fêmea

(cm)

CT médio

Embriões (cm)

Embriões

machos:fêmeas (total)

08/08/04 250 40,5 1:1,26 (34)

22/08/04 - 28,8 1:2 (30)

25/08/04 220,5 28,5 1:1,45 (27)

17/12/03 224 8,0 (50)

Existem teorias contraditórias envolvendo a população ou as populações de tubarões- azuis

do Atlântico Sul (AMORIM, 1992; HAZIN, 1991; HAZIN et al., 1994; LEGAT e VOOREN,

2002a, 2002b; MONTEALEGRE-QUIJANO et al., 2004), contudo é de comum acordo entre

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estas teorias que a espécie não utiliza a região Nordeste como um berçário. Comparando-se o

tamanho de nascimento proposto por COMPAGNO (1984): 35 a 44 cm, com o tamanho dos

embriões obtidos neste estudo, chega-se a conclusão de que as fêmeas capturadas em agosto

estavam próximas do parto. Os dados apresentados neste estudo servem apenas como uma

informação, devido ao baixo número de fêmeas amostradas. Além do mais não foi observada a

ocorrência de neonatos ou pequenos jovens na área, permanecendo a idéia de que a espécie não

utiliza a região como uma parte de seu berçário.

4.2 Raias

4.2.1 Espécies de raias utilizando a região de Caiçara do Norte como berçário.

4.2.1.1 Gymnura cf. micrura (Bloch & Schneider, 1801)

raia-borboleta (figura 23)

Foto: Leandro Yokota

Figura 23: Gymnura cf. micrura

Gymnura micrura é uma raia de hábitos costeiros e bentônicos, distribuindo-se por toda a

costa brasileira (BIGELOW e SCHROEDER, 1953; LESSA et al., 1999). No presente estudo

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38

foram coletados 252 exemplares que a princípio foram identificados como G. micrura, sendo 163

fêmeas e 89 machos.

Os tamanhos de maturação (tanto para machos como para fêmeas) de Gymnura cf. micrura

encontrados neste estudo foram substancialmente menores aos propostos na literatura. No

presente estudo o tamanho de maturação sugerido para os machos foi de 25,7 a 29,9 cm de

largura, sendo que a partir de 29,9 cm todos machos apresentaram o clásper calcificado.

BIGELOW e SCHROEDER (1953), também julgando pela análise do clásper, concluíram que

um macho de 42cm de largura do disco estaria ainda próximo a alcançar a maturidade sexual.

Folículos sem evidências de vitelogênese com diâmetros de 0,1 a 0,3 cm foram encontrados

em 3 fêmeas entre 34,2 e 35cm, sugerindo que a maturação ocorra próxima a esta faixa de

tamanho, sendo que uma fêmea grávida apresentou 39,4 cm de largura. BIGELOW e

SCHROEDER concluíram que somente fêmeas com 62,5cm de largura estariam aptas a

produzirem filhotes, enquanto DAIBER e BOOTH (1960), estudando espécimes do Atlântico

Norte, sugeriram que uma fêmea com 66,9cm de largura ainda estaria se tornando madura.

A julgar pelas diferenças encontradas entre os tamanhos de maturação de Gymnura micrura,

fica difícil acreditar tratar-se de diferenças em função do número de exemplares amostrados ou

diferentes populações, o que levou ao tratamento dos exemplares como Gymnura cf. micrura.

Além do mais, BIGELOW e SCHROEDER (1953) propõem o tamanho de nascimento variando

entre 15 e 22,5 cm de largura do disco, e DAIBER e BOOTH (1960) comentam que encontraram

embriões com 25,5 cm, que seria quase o tamanho de maturação sugerido para os machos neste

estudo. Em Caiçara o maior embrião observado mediu 17,4cm, enquanto o menor neonato mediu

15cm, sendo o tamanho de nascimento estimado em 15 a 17,4cm de largura do disco.

As fêmeas apresentaram somente o ovário esquerdo funcional, enquanto os dois úteros

foram presentes e funcionais. Os úteros das fêmeas grávidas e post-partum se apresentaram

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39

revestidos de trophonematas (regiões modificadas do epitélio uterino, na forma de longos

apêndices glandulares, que secretam substâncias nutritivas que auxiliam no desenvolvimento do

embrião). O processo de ovulogênese foi encontrado nas fêmeas grávidas sugerindo que as

mesmas estão prontas para serem fecundadas logo após o parto. A fecundidade uterina

apresentou média de 3 embriões por fêmea (n=8, min=1, max=5, s=1,51). BIGELOW e

SCHROEDER (1953) encontraram uma fecundidade uterina de 2 a 6 embriões por fêmea,

enquanto DAIBER e BOOTH (1960) encontraram sempre 5 embriões por fêmea (n=4). Ambos

trabalhos comentam que a ovulogênese ocorre concomitantemente à gestação.

A proporção macho:fêmea dos embriões não foi diferente de 1:1. A distribuição da

freqüência de comprimentos reunindo todos os meses é apresentada na figura 24. A classe de

comprimentos 15-17,4 não apresentou diferença na proporção sexual, porém a amplitude de

comprimentos entre 17,5 e 35 cm apresentou uma proporção macho:fêmea de 1:1,49 que foi

significante ( 2=7,9; p<0,004). Machos ocorreram até a classe de 30-35cm, a partir da qual só

ocorreram fêmeas em números reduzidos.

Esses dados parecem sugerir a presença das raias na área de atuação do arrasto até a

maturação sexual, quando então devem se deslocar para águas mais fundas. A maior proporção

de fêmeas entre 17,4 e 35 cm pode significar uma maior mortalidade dos machos ou que estes

começam a deixar o local antes que as fêmeas. As fêmeas adultas capturadas estão relacionadas

às atividades de parto.

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40

0

20

40

60

15-17,4

17,5-2020-25

25-3030-35

35-4040-45

45-5050-55

55-6060-65

65-70

LD (cm)

Fre

qu

ên

cia

Ab

so

luta

Fêmeas

Machos

Figura 24: Distribuição da freqüência de comprimentos de Gymnura cf. micrura capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Tamanho de

nascimento (classe 16-17,4 cm). A seta vermelha indica o tamanho de maturação dos machos e a

seta azul o tamanho de maturação das fêmeas.

Todos os indivíduos foram capturados em águas rasas e costeiras, de até 3 m de

profundidade pelo arrasto de praia. Neonatos (15-17,3 cm) ocorreram por todo período amostral,

porém apresentaram maiores ocorrências nos meses de abril e setembro/outubro (tabela 4).

Os folículos ovarianos também apresentaram os maiores diâmetros nos meses de abril e

outubro, mas não deixaram de apresentar grandes variações mensais, evidenciadas nos meses de

julho e agosto, onde o número amostral foi maior (figura 25).

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41

Tabela 4: Distribuição mensal dos neonatos (15-17,4 cm) e da classe de comprimentos adjacente

(17,5-20 cm) de Gymnura cf. micrura capturados em Caiçara do Norte (RN) durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e dezembro não houve arrasto de

praia, e no mês de janeiro não houve amostragem.

LD (cm)MÊS

15 – 17,4 17,5 - 20

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

1

1

6

1

3

3

2

5

7

2

7

7

10

8

11

3

1

16

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42

Min-Max

25%-75%

Média-0,2

0,2

0,6

1,0

1,4

1,8

2,2

J_N F_0 M_0 A_1 M_1 J_3 J_4 A_9 S_1 O_1 N_N D_N

Figura 25: Distribuição mensal do diâmetro do maior folículo ovariano (cm) de Gymnura cf.

micrura capturada em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de

2004. O número ao lado de cada mês indica o número de fêmeas analisadas. N= sem

amostragem.

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Tabela 5: Mês de captura, LD da fêmea grávida (LD F), amplitude, tamanho médio, e sexo dos

embriões de Gymnura cf. micrura capturadas em Caiçara do Norte (RN) durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004. * fêmeas com ventre proeminente, sugerindo gravidez. Nos

meses de novembro e dezembro não ocorreu arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve

amostragem.

EMBRIÕES

Mês

LD F

(cm) N Amplitude LD

(cm)

Média LD

(cm)

Sexo

OBS

Março 47,2 - - - - *

Abril 57,5 5 15,7-17,4 16,4 2F, 3M a termo

Junho 55 - - - - *

61,4 4 10,7-11,0 10,9 2F, 2M Julho

62,4 - - - - presença ovos uterinos

45,5 2 1,2-1,6 1,4 -

39,4 1 2,3 2,3 -

53,3 4 5,3-6,3 5,8 3F, 1M

49 3 7,5-7,9 7,7 1F, 2M

59,6 1 8,3 8,3 1F

50 4 10,8-11,2 11 2F, 2M

Agosto

61 - - - - post-partum

Outubro 43,7 - - - - presença ovos uterinos

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A maior captura de fêmeas grávidas no mês de agosto (tabela 5), provavelmente está

relacionada ao local onde o arrasto concentrou seu esforço neste mês, uma faixa de praia na qual

a extensão da areia permite o acesso do arrasto a águas de maiores profundidades (4 –5 m), onde

as fêmeas grávidas foram capturadas.

Devido à pouca informação obtida em relação aos adultos e à falta de dados nos meses de

novembro e dezembro (quando o arrasto não atuou) e janeiro (sem amostragem), pode-se apenas

especular sobre o ciclo reprodutivo. A ocorrência de neonatos por todo período amostral e a

ausência de um padrão sazonal no tamanho dos embriões (tabela 5), além da grande variação dos

tamanhos dos mesmos e dos folículos ovarianos dentro dos meses, sugere uma reprodução

durante o ano inteiro. Porém, a maior ocorrência de neonatos nos meses de abril e outubro e os

maiores diâmetros dos folículos ovarianos nos meses de abril e outubro indicam dois picos de

atividade reprodutiva no ano, um no outono e outro na primavera.

Como, logo após o parto, as fêmeas já estão aptas a serem fecundadas novamente, as

fêmeas responsáveis pelo pico de neonatos no outono, após parto e fecundação, dariam à luz

novamente na primavera, originando o próximo pico de neonatos, sendo que provavelmente o

aumento do número de neonatos em outubro, se estenda pela primavera. Deste modo, sugere- se

um período gestacional de aproximadamente 5 meses.

A ocorrência de neonatos e jovens (até o tamanho de maturação) por todo período amostral,

representando cerca de 84% das capturas e a captura de fêmeas com embriões a termo,

caracterizam a utilização das águas rasas e costeiras da região como um berçário primário e

secundário durante o ano todo.

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4.2.1.2 Dasyatis guttata (Bloch & Schneider, 1801)

raia-manteiga

Foto: Francisco Marcante

Figura 26: Dasyatis guttata

Dasyatis guttata (figura 26) é uma espécie de hábitos costeiros e bentônicos, ocorrendo

desde o México até o sul do Brasil (BIGELOW e SCHROEDER, 1953). No presente estudo

foram capturados 173 exemplares, sendo 83 fêmeas e 90 machos.

Três machos entre 41-46 cm de largura do disco, apresentaram pterigopódios em processo

de calcificação, enquanto 6 indivíduos com largura do disco superior a 49 cm apresentaram

cláspers calcificados, o que sugere uma maturação em torno de 41-46 cm. Uma fêmea de 51 cm

de largura apresentou folículos de 0,4 cm de diâmetro, sem evidências de vitelogênese, enquanto

outra fêmea de 52 cm não possuía o aparelho reprodutor bem desenvolvido. Uma fêmea de 50 cm

apresentava, entretanto, folículos com vitelogênese, medindo cerca de 0,9 cm de diâmetro. A

menor fêmea grávida mediu 62 cm. Baseado nestas informações, sugere-se um tamanho de

maturação para fêmeas em torno de 50-55 cm de largura do disco.

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Durante a realização do projeto ETEPE (1995), analisou-se a dispersão dos comprimentos

do clásper em relação a largura do disco nos machos de D. guttata da costa de Pernambuco,

encontrando-se uma nítida inflexão correspondendo a 45 cm de largura, o que seria indicativo do

começo da maturação sexual, porém baseando-se em BIGELOW e SCHROEDER (1953), que

citaram o tamanho máximo da espécie como 165cm de largura e a ocorrência de indivíduos com

45 cm de largura apresentando cláspers rudimentares, os exemplares foram julgados jovens.

MENNI e LESSA (1998) estabeleceram que machos do Maranhão maturam com 51,5 cm de

largura. THORSON (1983) trabalhando com exemplares da Costa Rica, Colômbia e Venezuela,

sugere que os machos começam a maturar com 40-45 cm, tornando-se completamente maduros

com 55-60 cm de largura do disco. As fêmeas começariam a maturar em torno de 55cm,

tornando-se maduras com ~75 cm.

BIGELOW e SCHROEDER (1953) sugeriram que o tamanho de nascimento seja em torno

de 15 cm de largura, baseados em embriões com 13,3 cm que apresentavam ainda pequenos sacos

vitelínicos. THORSON (1983) estima um tamanho de nascimento entre 16-17,5 cm de largura. O

maior embrião amostrado no presente estudo mediu 15,3 cm de largura do disco e o menor

neonato mediu 12,3 cm, sendo estimado um tamanho de nascimento entre 12,3 e 15,3 cm de

largura do disco. As diferenças devem estar relacionadas ao pequeno número de exemplares

amostrados pelos autores citados.

As fêmeas apresentaram somente os ovários e úteros esquerdos funcionais, sendo que na

maioria das vezes o ovário e útero direito nem eram visíveis. Nas 2 fêmeas grávidas analisadas,

com 2 embriões a termo cada, foram encontrados folículos com vitelos (1 a 2 cm), sugerindo que

as mesmas estão prontas para um novo período gestacional logo após o parto.

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0

10

20

30

40

12,3-15,3

15,4-17,3

17,3-20

20-25

25-30

30-35

35-40

40-45

45-50

50-55

55-60

60-65

65-70

70-75

75-80

LD (cm)

Fre

qu

ên

cia

Ab

so

luta

Fêmeas

Machos

Figura 27: Distribuição da freqüência de comprimentos de D. guttata capturada em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Tamanho de nascimento

(classe 12,3-15,3 cm). A seta vermelha indica o tamanho de maturação dos machos e a seta azul o

tamanho de maturação das fêmeas.

Foram capturados principalmente indivíduos até a classe de comprimento de 20-25 cm LD,

indicando que os jovens deixam o local antes da maturidade sexual (figura 27). Todos exemplares

capturados ocorreram até no máximo 10 m de profundidade, porém neonatos e pequenos jovens

foram capturados exclusivamente pelo arrasto de praia até 3m. Adultos, incluindo fêmeas em

processo de ovulação, foram capturados principalmente em dois períodos distintos, no começo do

outono e começo da primavera (tabela 6 e figura 28), sendo que duas fêmeas grávidas com

embriões a termo (~15 cm de largura) ocorreram em março e uma fêmea post-partum com o

útero altamente distendido e rico em villis (regiões modificadas do epitélio uterino, na forma de

vilosidades, que secretam substâncias nutritivas que auxiliam no desenvolvimento do embrião)

foi capturada em novembro. Como as fêmeas são capazes de serem fecundadas logo após o parto,

esses dados indicam que a espécie reproduza duas vezes ao ano, uma no outono e outra na

primavera, apresentando um período gestacional em torno de 4 meses.

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Tabela 6: Distribuição mensal do diâmetro do maior folículo ovariano (DMF) de D. guttata

capturada em Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

0

1

2

3

4

fev mar abr mai jun jul ago set out nov

Fre

qu

ên

cia

Ab

so

luta

Fêmeas

Machos

Figura 28: Distribuição mensal dos indivíduos adultos da D. guttata capturados em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004.

Data DMF

(cm)

Obs

25/3/2004 0,9

27/3/2004 1 grávida a termo

27/3/2004 2 grávida a termo

22/4/2004 2

26/9/2003 1,8

26/9/2003 2

10/10/2004 1,9

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Indivíduos com o tamanho de nascimento (12,3-15,3 cm) e próximos ao tamanho de

nascimento (15,4-17,3 cm) ocorreram ao longo de todo período amostral (tabela 7), sugerindo

que as estações reprodutivas podem ser mais prolongadas e menos definidas, ou até mesmo estar

ocorrendo durante o ano todo, contudo a maior ocorrência foi nos meses de outono. A não

observação de uma maior ocorrência na primavera estaria relacionada a não realização do arrasto

nos meses de novembro e dezembro.

Tabela 7: Distribuição mensal de indivíduos com o tamanho de nascimento (12,3-15,3 cm) e

próximos ao tamanho de nascimento (15,4-17,3 cm) de D. guttata capturados em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e

dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve amostragem.

LD (cm)MÊS

12,3 – 15,3 15,4 – 17,3

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

0

6

1

3

6

1

1

0

0

0

4

1

17

19

5

13

2

5

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A ocorrência de neonatos e jovens durante o ano inteiro, representando 84 % das capturas, e

a amostragem de fêmeas grávidas com embriões a termo, caracterizam a utilização das águas

costeiras da região como um berçário primário. A observação de que os jovens foram capturados

até a classe de comprimento de 20-25 cm, não pode confirmar que a área esteja sendo utilizada

apenas como um berçário primário, pois como a principal fonte de amostragem foi o arrasto de

praia, que atua somente até os 3 m de profundidade, os jovens a partir de 25 cm podem estar nas

águas de 4/5m de profundidade, adjacentes à atuação do arrasto.

4.2.1.3 Rhinobatos percellens Walbaum, 1792

viola

Foto: Teodoro Vaske Jr.

Figura 29: Rhinobatos percellens

Rhinobatos percellens (figura 29) possui hábitos costeiros e bentônicos habitando fundo de

areia ou lama. No Brasil é a espécie do gênero com mais ampla ocorrência, sendo conhecidos

registros ao longo de todo litoral (BIGELOW e SCHROEDER, 1953, LESSA et al., 1999;

FIGUEIREDO, 1977).

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O tamanho de maturação dos machos foi estimado entre 39,6 a 45 cm de CT, sendo que a

partir de 45 cm todos os machos apresentaram pterigopódios calcificados. A maior fêmea

considerada jovem, mediu 40,5 cm CT, enquanto uma fêmea com 52 cm CT estava grávida. O

maior embrião apresentou 16,7cm CT, enquanto o menor indivíduo livre-nadante capturado

mediu 14,8 cm, sendo assim o tamanho de nascimento foi estimado em 14,8 – 16,7 cm de

comprimento.

0

5

10

15

20

25

30

14,8-16,7

16,8-18,7

18,7-2020-25

25-3030-35

35-4040-45

45-5050-55

55-60

CT (cm)

Fre

qu

ên

cia

Ab

so

luta

Fêmeas

Machos

Figura 30: Distribuição da freqüência de comprimentos de R. percellens capturada em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Tamanho de nascimento

(classe 14,8-16,7 cm). A seta indica o tamanho de maturação.

Foi capturado um total de 136 exemplares (52 fêmeas e 84 machos). Indivíduos próximos

ao tamanho de nascimento (classes de comprimento: 14,8-16,7 e 16,8-18,7 cm) e jovens (até o

tamanho de maturação sexual) foram encontrados durante todo período amostral (tabela 8),

representando 94,8% das capturas (realizadas pelo arrasto de praia a profundidades de até 3m)

(figura 30), sendo que indivíduos próximos ao tamanho de nascimento apresentaram maior

ocorrência no outono e no mês de outubro. Apenas duas fêmeas grávidas (52 – 55,3 cm LD)

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foram amostradas, uma em fevereiro possuindo 2 embriões a termo (16,5-16,7 cm LD) e

apresentando 3 folículos vitelogênicos (3cm) no ovário direito e 4 em processo de vitelogênese

(0,8cm) no ovário esquerdo, e outra em começo de gestação no mês de março, apresentando ovos

uterinos e folículos em processo de vitelogênese. As fêmeas apresentaram ambos ovários e úteros

funcionais e o processo de vitelogênese concomitante à gestação, indica que as mesmas estão

prontas para a fecundação logo após o parto. Machos adultos foram capturados em fevereiro (1),

maio (1), junho (1) e outubro (2).

Tabela 8: Distribuição mensal de indivíduos com o tamanho de nascimento (14,8-16,7 cm) e

próximos ao tamanho de nascimento (16,8-18,7 cm) de R. percellens capturados em Caiçara do

Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de novembro e

dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve amostragem.

Esses dados apontam para estações reprodutivas prolongadas e pouco definidas, com picos

de atividade no outono e primavera, não se descartando a possibilidade da reprodução ocorrer

CT (cm)MÊS

14,8 - 16,7 16,8 – 18,7

FEVEREIRO

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

OUTUBRO

1

0

1

2

3

2

3

1

0

1

1

7

5

2

3

2

0

15

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durante todo ano. Como as fêmeas são capazes de serem fecundadas logo após o parto, sugere-se

que a espécie reproduza duas vezes ao ano, apresentando período gestacional de cerca de 4/5

meses. A ocorrência de neonatos e jovens próximos ao tamanho de maturação, bem como a

captura de fêmeas grávidas, caracterizam as águas costeiras da região como um berçário primário

e secundário para a espécie.

4.2.1.4 Narcine brasiliensis (Olfers, 1831)

treme-treme

Foto: Leandro Yokota

Figura 31: Narcine brasiliensis

N. brasiliensis (figura 31) é a mais comum das Torpediniformes no Brasil, encontrada ao

longo de toda a costa, mas sempre em baixas abundâncias (FIGUEIREDO, 1977; LESSA et al.,

1999). No presente estudo, foram amostrados 21 exemplares pelo arrasto de praia em

profundidades de 0 a 3m, sendo 12 fêmeas e 9 machos.

Machos com 21,6 e 22,3 cm de comprimento apresentaram clásper mole e em calcificação

respectivamente, sugerindo uma maturação em torno de 23-25 cm. Uma fêmea com 24,6 cm de

comprimento não apresentou o aparelho reprodutor desenvolvido. BIGELOW e SCHROEDER

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(1953) estimaram o tamanho de maturação dos machos em 22,5-25 cm e encontraram fêmeas

grávidas com comprimentos de 27,1-32 cm. Os mesmos autores estimaram o tamanho de

nascimento entre 11-12 cm de comprimento. Neste estudo obteve-se exemplares livre natantes de

10,4 cm de comprimento. O tamanho de nascimento ficou estimado em 10,4-12 cm CT.

Tabela 9: Distribuição das fases de vida pelos meses de coleta de N. brasiliensis capturada em

Caiçara do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. Nos meses de

novembro e dezembro não houve arrasto de praia, e no mês de janeiro não houve amostragem.

A tabela 9 apresenta a distribuição mensal dos indivíduos capturados. A ocorrência de

neonatos somente nos meses de março/abril e setembro/outubro sugere que a espécie reproduza

duas vezes ao ano, uma no começo do outono e outra no começo da primavera. Neonatos e

jovens predominaram nas capturas (incluindo indivíduos próximos da maturidade sexual) (figura

32), o que caracteriza a área como um berçário primário e secundário.

SEXO Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out

Fêmeas 0 0 0 0 0 0 0 1 3 NeonatosMachos 0 1 1 0 0 0 0 0 1

Fêmeas 0 1 1 0 2 0 2 0 0Jovensimaturos Machos 0 2 0 0 1 0 2 0 0

Pré-adultos Machos 0 0 1 0 0 0 0 0 0

Adultos Fêmeas 0 0 2 0 0 0 0 0 0

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55

0

1

2

3

4

5

6

7

10--15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55

CT (cm)

Fre

qu

ên

cia

ab

so

luta

F

M

Figura 32: Distribuição da freqüência de comprimentos de N. brasiliensis capturada em Caiçara

do Norte (RN) durante o período de setembro de 2003 a agosto de 2004. A seta indica o tamanho

de maturação.

4.2.1.5 Aetobatus narinari (Euphrasen, 1790)

raia-pintada, raia-chita

Foto: Francisco Marcante

Figura 33: Aetobatus narinari

A. narinari (figura 33) é uma raia costeira que possui ampla distribuição em águas tropicais,

ocorrendo praticamente por toda a costa brasileira (BIGELOW e SCHROEDER, 1953). No

presente estudo, foram coletados 12 exemplares pelo arrasto de praia, rede tainheira e linha de

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56

mão. Todos os indivíduos foram coletados em profundidade de no máximo 12 m. Machos com 58

e 77 cm de largura apresentaram cláspers moles, sendo considerados imaturos, enquanto um

macho com 84,5 cm apresentou clásper calcificado, sendo considerado adulto. Fêmeas com 55,5

e 61,2 cm de largura não apresentaram órgãos reprodutores desenvolvidos.

BIGELOW e SCHROEDER (1953) citaram que para a espécie o tamanho de maturação

varia muito entre regiões distintas, por exemplo, eles analisaram um macho procedente da

Europa, com 112 cm de largura, onde o clásper apresentava a ponta atingindo somente até a

metade da nadadeira pélvica, enquanto outro macho do Panamá, com 74,8 cm de largura, possuía

o clásper bem formado, com as pontas atingindo o final da pélvica. MENNI e LESSA (1998)

analisaram 6 machos do Maranhão, medindo entre 40,6 e 102 cm de largura, que foram

considerados imaturos. Durante o projeto ETEPE (1995) foi encontrado um tamanho de

maturação para machos coletados em Pernambuco em torno de 90 cm.

O tamanho de nascimento proposto por BIGELOW e SCHROEDER (1953) foi de 17-35

cm de largura. Com exceção de um adulto macho amostrado em março e um pré-adulto macho

capturado em novembro, todos os indivíduos foram neonatos ou jovens imaturos, sendo quatro

neonatos (37-38 cm de largura) coletados nos meses de fevereiro, abril, maio e junho, sugerindo

que o parto ocorra no verão/outono, e seis jovens (41,7-61,2 cm) capturados de maio a novembro.

Tais dados sugerem que A. narinari utilize as águas costeiras da região de Caiçara do Norte como

um berçário durante todo o ano

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4.2.1.6 Rhinoptera bonasus (Mitchill, 1815)

raia-ticonha

Foto: Leandro Yokota

Figura 34: Rhinoptera bonasus

R. bonasus (figura 34) é uma raia de hábitos costeiros, sendo que LESSA et al., (1999)

comentam que a espécie possui relatos por toda a costa brasileira. No mês de junho foram

capturados pelo arrasto de praia três indivíduos medindo entre 35,1-39,7 cm de largura.

BIGELOW e SCHROEDER (1953) sugeriram 35 cm de largura como tamanho de nascimento,

enquanto SMITH e MERRINER (1986) encontraram um tamanho médio de embriões a termo de

41,3 cm de largura, sendo assim os exemplares analisados neste estudo foram considerados

neonatos. Tal observação sugere a utilização das águas costeiras da região como um berçário

primário durante o outono, com o parto ocorrendo no mesmo período. Em agosto e outubro

respectivamente, a rede tainheira capturou entre 6 e 10 m, um macho jovem (61,8) e um macho

adulto (78cm).

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4.2.1.7 Dasyatis marianae (Gomes, Rosa & Gadig, 2000)

raia-de-fogo

Foto: Leandro Yokota

Figura 35: Dasyatis marianae

D. marianae (figura 35) é uma espécie de raia costeira descrita recentemente, sendo

considerada endêmica da região nordeste do Brasil, ocorrendo desde do estado do Maranhão até o

sul da Bahia. Entre abril e setembro, com exceção de uma fêmea post-partum capturada pela

linha de mão a 4,5 m, somente machos (5) foram capturados em regiões com fundo de areia e

recifes de algas calcáreas (4 a 20 m) e no canal, pela linha de mão e rede tainheira

respectivamente. O arrasto nos bancos de areia costeiros, ocorreu somente nos meses de outubro

a dezembro, capturando nove machos e sete fêmeas. Todos os machos foram adultos, entre 26,3 a

31 cm de largura. As fêmeas mediram de 30,2 a 33,3 de largura, todas estavam grávidas ou

tinham parido recentemente (tabela 10).

As fêmeas estavam em processo de vitelogênese concomitante à gestação, indicando poder

começar uma nova gestação logo após o parto. Todas as fêmeas apresentaram somente ovário e

útero esquerdo funcionais, sendo o último revestido internamente por villis. Apenas 1 embrião

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foi encontrado por fêmea. Segundo GARCIA (com. pess.)*, indivíduos livre natantes de 10,5 a

12,5 cm de largura são capturados na região por redes de arrasto atuando em profundidades de 3

a 10m, contudo sem informar locais de captura mais precisos. Baseado nestas informações, os

embriões amostrados em novembro e dezembro (13-13,8 cm LD) foram considerados a termo, e

o tamanho de nascimento estimado em 10,5-13,8 cm de largura.

Tabela 10: Mês de captura, estado da fêmea, número, sexo e tamanho dos embriões, e diâmetro do maior

folículo ovariano (DMF) de D. marianae capturada em Caiçara do Norte (RN) durante o período de

setembro de 2003 a agosto de 2004

MÊS ESTADO N

EMBRIÕES

SEXO LD

EMBRIÕES

DMF (cm) OBS

JUNHO

OUTUBRO

NOVEMBRO

NOVEMBRO

NOVEMBRO

NOVEMBRO

NOVEMBRO

DEZEMBRO

Post-partum

Grávida

Post-partum

Post-partum

Post-partum

Grávida

Grávida

Grávida

1

1

1

1

-

F

F

M

7,4

4,9

13,0

13,8

-

11

0,5

0,9

2,3

Embrião com saco

vitelínico

a termo

a termo

* GARCIA, J. Jr. : Laboratório de Biologia Pesqueira (LABIPE) – Departamento de Oceanografia elimnologia – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Av. Praia de Mãe Luiza, s/n, MãeLuiza, Natal – RN, CEP: 59014-100 – [email protected]

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A presença das fêmeas grávidas e post-partum nos meses de novembro e dezembro e a

variação de tamanhos apresentada pelos embriões (tabela 10) sugerem que o parto ocorra no final

da primavera/começo do verão. A captura de uma fêmea post-partum no mês de junho, indica

que a espécie possa se reproduzir duas vezes ao ano, sendo a segunda estação reprodutiva no final

do outono, como a espécie apresentou o processo de vitelogênese concomitante à gestação, o

período de gestação seria de aproximadamente 5 meses.

A informação da captura de indivíduos com tamanhos de nascimento, e a presença de

fêmeas grávidas com embriões a termo e post-partum sugerem a utilização da costa como um

berçário, embora o local exato de captura dos neonatos não seja conhecido, acredita-se que este

esteja próximo aos bancos de areia costeiros, onde foram capturadas as fêmeas a termo e post-

partum. A captura praticamente só de machos no canal e em regiões de fundo de areia e de algas

calcáreas sugere segregação sexual.

4.2.2 Outras espécies

4.2.2.1 Dasyatis americana Hildebrand & Schroeder, 1928

raia-pintada-de-pedra, raia-prego (figura 36)

Foto: Leandro YokotaFigura 36: Dasyatis americana

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Um macho capturado em outubro, medindo 71 cm de largura já apresentava o clásper bem

formado e calcificado. Uma fêmea de 91,8 cm de largura não apresentou folículos ovarianos

visíveis, enquanto outra de fêmea com 81,3 cm, apresentou o maior folículo ovariano medindo

2,5 cm. Somente o ovário e útero esquerdos são funcionais.

Em junho a carcaça de uma fêmea foi encontrada na praia, medindo 124 cm de

comprimento do disco (CD). Foram encontrados 5 embriões no útero medindo entre 13,8-14,4

cm de largura. BIGELOW e SCHROEDER (1953) citam que embriões quase prontos para o

nascimento mediam de 12,6 a 18 cm de largura, sugerindo que o tamanho de nascimento não

ficaria longe de 20 cm de largura. HENNINGSEN (2000), trabalhando com D. americana em

cativeiro, encontrou um tamanho de nascimento médio de 23,8 cm de largura. Os pescadores

desconhecem a captura de indivíduos próximos ao tamanho de nascimento.

Jovens (2 fêmeas 65-72 cm), pré-adultos (3 fêmeas entre77-91,8cm) e adultos (1 macho de

71 cm e 2 fêmeas entre 81,3-83 cm) também foram amostrados. Esses indivíduos foram

capturados pela linha de mão em águas com fundo de cascalho e recifes de algas calcáreas, entre

10 e 20 m de profundidade.

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4.2.2.2 Dasyatis centroura (Mitchill, 1815)

pintada-de-pedra

Foto: Gustavo Cordeiro

Figura 37: Embriões de Dasyatis centroura

Em setembro uma fêmea grávida, com 3 embriões entre 28,5-29,1cm de largura (2 fêmeas e

1 macho) (figura 37) foi capturada pela linha de mão. STRUHSAKER (1969) trabalhando com

D. centroura do sudeste dos EUA, encontrou uma fecundidade uterina de 4 a 6 embriões,

propondo um tamanho de nascimento entre 34 a 37 cm de largura, com o parto ocorrendo no

outono e começo do inverno, depois de um período gestacional de 9 a 11 meses. CAPAPÉ

(1993), trabalhando na Tunísia, sugere: fecundidade uterina de 2 a 6 embriões, duas estações

reprodutivas no ano, com período gestacional de 4 meses e parto em junho e novembro. Pela

análise dos embriões e comparação com os tamanhos de nascimentos propostos, sugere-se que a

fêmea amostrada efetuaria o parto no meio da primavera (novembro), o que estaria concordando

com a segunda época de parto sugerida por CAPAPÉ (1993). Os pescadores desconhecem a

captura de indivíduos próximos ao tamanho de nascimento.

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4.2.2.3 Manta birostris (Donndorff, 1798)

raia-manta, mão-de-tranca (Figura 38)

Foto: Leandro Yokota

Figura 38: Manta birostris

Três jovens imaturos (253-280 cm LD), sendo duas fêmeas e um macho, foram capturados

na primavera-verão (outubro e fevereiro) pela rede caçoeira entre 15 e 55 m de profundidade.

4.2.2.4 Mobula hypostoma (Bancroft, 1831)

raia-manta, mão-de-tranca

Foto: Leandro Yokota

Figura 39: Embriões de Mobula hypostoma

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Duas fêmeas grávidas de M. hypostoma foram capturadas pela rede caçoeira em julho a

uma profundidade de 135 m. A primeira mediu 114 cm da ponta do focinho até a extensão

posterior da nadadeira pélvica e possuía somente um embrião que mediu 40,8 cm de largura; a

segunda mediu 120 cm (mesma medida efetuada na primeira raia) e também apresentou um único

embrião com 45,1 cm de largura. Os embriões estavam bem desenvolvidos (figura 39). Somente

ovário e útero direitos são funcionais, o último com as parede revestidas por villis. BIGELOW e

SCHROEDER (1953) também encontraram apenas um embrião na fêmea que analisaram, e

propuseram que o tamanho de nascimento estaria em torno de 55 cm de largura. Provavelmente

as fêmeas iriam parir no final do inverno.

5. DISCUSSÃO GERAL

5.1. Composição Específica

O presente estudo não deixou servir como um levantamento da fauna de elasmobrânquios

ocorrentes na região estudada e conseqüentemente no Estado do Rio Grande do Norte. A

composição específica observada é típica da Região Nordeste (LESSA et al. 1999), com a já

esperada ausência de espécies de ocorrência menos freqüente e espécies não capturadas devido ao

local e profundidade de atuação dos aparelhos de pesca utilizados, bem como a própria

seletividade dos mesmos.

Contudo nota-se também a ausência de espécies que, devido à área de ocorrência e hábitos,

seriam esperadas nas capturas (LESSA et al. 1999), como Rhizoprionodon lalandii,

Carcharhinus porosus, Sphyrna media, S. tiburo e S. tudes.

Rhizoprionodon lalandii provavelmente ocorre na região, não sendo identificado em função

da dificuldade de separação do congênito R. porosus. C. porosus está citado na Lista Nacional

das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA, 2004), sendo que a ausência

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desta espécie nas capturas deve justamente estar relacionada ao declínio das populações. O

mesmo poderia estar acontecendo no caso das espécies de tubarões-martelo (Sphyrna). Vale

ressaltar, que segundo os pescadores, a cerca de 5 anos era comum a captura de grande

quantidade de jovens de tubarões-martelo pela rede de emalhe, e que com o decorrer do tempo, a

ocorrência destes jovens foram diminuindo até a espécie desaparecer das capturas. De fato,

durante o período de 1 ano no qual se acompanhou os desembarques na região, só foram

amostrados 2 exemplares de tubarão-martelo, sendo um S. lewini e um S. mokarran.

Da mesma forma, chama atenção a captura, sempre em baixo número, de outras espécies

presentes na lista citada acima como Ginglymostoma cirratum e Carcharhinus signatus, além de

espécies também consideradas ameaçadas por LESSA et al. (1999) como Mobula hypostoma e

Manta birostris, e o próprio S. lewini.

5.2 Reprodução das Raias

Na área de estudo os machos maturam com tamanhos inferiores aos das fêmeas e apresentam

tamanhos menores, conforme o padrão geral entre elasmobrânquios (SPRINGER, 1960;

CORTÉS, 2000). O fato das fêmeas atingirem tamanhos superiores, poderia estar relacionado ao

estilo reprodutivo do grupo, sendo que quanto maior o tamanho da fêmea, maior a quantidade de

embriões acomodados em seu ventre (CORTÉS, 2000).

Entre as raias vivíparas, a presença e funcionalidade dos ovários e úteros variam de espécie

para espécie, mas geralmente os ovários e úteros direitos sofrem variados graus de redução ou

perda: Em Urolophus o ovário direito não é funcional, porém ambos úteros são funcionais

(BABEL, 1967), em Dasyatis e Myliobatis somente o ovário e útero esquerdos são funcionais

(RANZI, 1934). BIGELOW e SCHROEDER (1953) encontraram ambos ovários funcionais em

Gymnura, porém com o esquerdo mais desenvolvido, embora DAIBER e BOOTH (1960) tenham

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encontrado somente o esquerdo funcional, ambos os úteros seriam funcionais. Em Rhinobatos

ambos ovários e úteros são funcionais (LESSA, 1982, ROSSOUW, 1983). Comparando-se essas

informações com os dados obtidos neste estudo, fugiu do padrão o fato de M. hypostoma

apresentar somente os ovários e úteros direitos presentes.

Das espécies nas quais foi possível fazer uma estimativa do ciclo reprodutivo (D. guttata, D.

mariane, G. micrura, R. percellens e N. brasiliensis) todas apresentaram períodos gestacionais

curtos (4/5meses), e reprodução duas vezes ao ano, no outono e primavera.

A maioria das raias vivíparas estudadas apresenta períodos gestacionais relativamente curtos

quando comparados aos de outros elasmobrânquios, da ordem de 2 a 6 meses e ciclos envolvendo

duas reproduções ao ano também vêm sendo propostos: Pteroplatytrygon violacea apresentou um

período gestacional de dois meses (RANZI, 1934), D. say 5/6 meses (HESS, 1959 apud SMITH

e MERRINER, 1986), D. guttata, 3 meses com parto no outono (THORSON, 1983), D. sabina,

4/4,5 meses (SNELSON et al., 1988), D. centroura, 4 meses com parto no outono e primavera

(CAPAPÉ, 1993), D. americana, 5,8 meses (HENNINGSEN, 2000), Urolophus halleri, 3 meses

com reprodução duas vezes ao ano (BABEL, 1967), Gymnura micrura gestação de “poucos

meses” com parto no verão e G. altavela, 5/6 meses, com os autores propondo parto no final do

inverno e começo do verão, porém não descartando a possibilidade de um período reprodutivo

prolongado, do inverno até o verão (DAIBER e BOOTH, 1960).

G. cf. micrura, D. guttata, R. percellens apresentaram indícios de reprodução ao longo do

ano, o que se reflete na ocorrência de indivíduos próximos ao tamanho de nascimento por todo

período amostral, levando a considerar a hipótese de que a reprodução ocorre durante o ano

inteiro com dois picos anuais. No caso de G. cf micrura, além da ocorrência de neonatos em

todos meses, também se observa a ausência de um padrão sazonal no tamanho dos embriões,

além da grande variação dos tamanhos dos mesmos e dos folículos ovarianos dentro dos meses.

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Os ciclos reprodutivos de muitas espécies de raias têm sido relacionados às variações de

temperaturas, sendo que em regiões de clima temperado, onde ocorrem marcadas variações

sazonais, os ciclos tendem a ser bem definidos, com o período de temperaturas mais frias (< 15

graus) induzindo o deslocamento das raias para outros locais (LESSA, 1982; LESSA et al. 1986,

GRAY et al., 1997; SNELSON et al., 1988; STRUHSAKER, 1969; MARTIN e CAILLIET,

1988). Sendo assim, as baixas temperaturas das épocas mais frias, acompanhadas das grandes

variações de condições ambientais (SPRINGER, 1967), poderiam dificultar uma reprodução o

ano todo, ou estações reprodutivas mais prolongadas, ou até mesmo um ciclo reprodutivo com 2

reproduções ao ano.

Contudo, em regiões tropicais, onde as condições ambientais são menos variáveis, um ciclo

reprodutivo com 2 reproduções anuais seria possível. BIGELOW e SCHROEDER (1953), em

seus estudos sobre as raias, comentam que nas regiões tropicais algumas espécies de raias

poderiam ainda apresentar estações reprodutivas prolongadas ou até mesmo se reproduzirem

durante o ano inteiro, com sugerido para Gymnura cf. micrura, D. guttata e R. percellens.

No caso de Rhinobatos, outras espécies do gênero foram estudadas exaustivamente por

LESSA (1982) e LESSA et al., (1986), que trabalharam com R. horkelii do sul do Brasil, e

ROSSOUW (1983) que trabalhou com R. annulatus da África do Sul. Os autores encontraram

ciclos reprodutivos bem definidos sazonalmente, com as fêmeas adultas se aproximando da costa

no início do verão para completar a gestação. O parto seguido de cópula ocorre no final do verão,

e os adultos migram de volta para águas mais profundas (de 40 a 100m, no caso de LESSA, 1982

e LESSA et al., 1986), enquanto os jovens permanecem na costa que funciona como um berçário.

LESSA et al., (1986) sugerem que as migrações e definição do ciclo estão estreitamente

relacionadas com a temperatura que varia segundo a época do ano e profundidade. Os autores

subdividem o período reprodutivo em dois: (a): um período de Letargia do ovo, que ocorre em

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águas frias e profundas (40 a 100m) de até 14,40C, onde os ovos fecundados não se desenvolvem,

ficando em repouso por um período de 9 meses; e (b): o período de desenvolvimento

embrionário, durando 4 meses, que ocorre nas águas costeiras e quentes no verão, de até 240C.

ROSSOUW (1983), que também trabalhou em uma região com variações sazonais de

temperaturas consideráveis, demonstra para R. annulatus um período em que os ovos fecundados

não se desenvolvem, que se prolonga de junho a outubro, sendo que após este período segue o

desenvolvimento embrionário (~5 meses), com o parto em março e abril. A gestação é de 10

meses, e entre o parto e a nova gravidez, nesta espécie, ocorre um período de repouso de 2 meses.

Na região de Caiçara do Norte a temperatura da água não sofre grandes mudanças sazonais

e com a profundidade. Segundo WORLD OCEAN ATLAS (2001) a 10m de profundidade a

temperatura varia em média de 26 graus (inverno) a 28 graus (outono), enquanto apresenta uma

média anual de 27 graus na superfície e 21-24 graus a 100m de profundidade. Sendo assim seria

plausível que R. percellens não apresente um ciclo tão definido e um período de letargia do ovo,

apresentando somente um período de desenvolvimento embrionário de cerca 5 meses, podendo

como sugerido, se reproduzir duas vezes ao ano.

Da mesma forma, CAPAPÉ et al., (1975) encontraram, na Tunísia, que o período de

gestação da R. rhinobatos e R. cemiculus, duraria de 4 a 5 meses, com 2 gestações ao ano, porém

trabalharam com um pequeno número de exemplares (11 de R. rhinobatos e 9 de R. cemiculus).

De qualquer forma mais estudos se tornam necessários, com amostragens realizadas no verão e

em águas mais fundas, para melhor esclarecer o ciclo reprodutivo da espécie em questão, o

mesmo valendo para Gymnura cf. micrura e D. guttata.

Dentre as espécies vivíparas aplacentárias existem aquelas que possuem estruturas análogas à

placenta, como regiões modificadas do epitélio uterino que secretam o “leite uterino”, o qual é

absorvido ou ingerido pelos embriões. O maior grau de desenvolvimento destas estruturas ocorre

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na forma de vilosidades do epitélio uterino, conhecidas como villi, ou longos apêndices

glandulares, conhecidos como trophonemata. Estes últimos, penetram no embrião através dos

espiráculos e atingem o esôfago, onde são liberados os nutrientes que são absorvidos no intestino

(RANZI, 1934, AMOROSO, 1960 apud WOURMS 1977, WOURMS 1977). Essas estruturas são

altamente eficientes no apoio ao desenvolvimento embrionário, chegando a superar a eficiência

das placentas verdadeiras (RANZI, 1934).

Nos gêneros onde foi possível uma análise mais apurada do aparato reprodutivo das fêmeas,

devido principalmente à ocorrência de fêmeas grávidas, Dasyatis e Mobula apresentaram a

parede interna do útero revestida por villis, enquanto Gymnura apresentou trophonematas,

corroborando com o observado por RANZI (1934) para raias da ordem Myliobatiformes. Em

Rhinobatos, ocorreu massiva acumulação de vitelo, onde o desenvolvimento é dependente

somente das reservas do ovo (LESSA, 1982).

Desta forma, poderia-se dizer que as raias se apresentaram relativamente prolíficas na região,

com períodos gestacionais curtos e 2 reproduções ao ano, sendo que algumas espécies

apresentaram estações reprodutivas mais prolongadas e até mesmo reprodução ocorrendo durante

o ano todo. Tais ciclos reprodutivos, poderiam de certa forma estar relacionados à estabilidade do

ambiente. Além do que, modos de desenvolvimento embrionário altamente eficientes foram

também apresentados.

5.3 Berçários

5.3.1. Tubarões

Pelo menos 4 espécies de tubarões utilizam a região de Caiçara como berçário: 3 costeiras

(Rhizoprionodon porosus, Carcharhinus acronotus e C. limbatus) e uma que costuma ocorrer

mais próxima ao talude (C. falciformis).

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R. porosus e C. acronotus utilizam as águas costeiras como um bercário primário e

secundário simultaneamente, enquanto C. limbatus utiliza a área (águas de 0-12m) como um

berçário primário sazonal, ocorrendo durante o final da primavera e verão. R. porosus apresenta

reprodução durante o ano inteiro, com o pico de nascimento no final do inverno, os neonatos se

concentrando em águas de até 10 m por um período de 6 a 9 meses, quando então se deslocam

para águas de 10-20m. C. acronotus apresenta parto na primavera, com os jovens concentrados

em águas de 10-30m. C. falciformis utiliza as águas da porção terminal da plataforma interna (30-

50m) e a plataforma continental externa como berçário, onde parece permanecer por no máximo

um ano antes de assumir uma existência oceânica.

MOTTA et al., (2004) estudando uma área de berçário no litoral de São Paulo utilizada por 5

espécies de tubarões, encontraram um padrão sazonal no período de pico de nascimento dos

filhotes, onde a seqüência de parto no decorrer do ano, ocorre das menores para as maiores

espécies e sugerem que tal processo estaria relacionado a uma mitigação da competição entre os

jovens, reduzindo portanto a mortalidade destes na fase inicial de vida. Seqüência semelhante

pôde ser observada neste estudo, com R. porosus (CT neonatos = 31,5-39,5 cm) parindo

principalmente no inverno, C. acronotus (CT neonatos = 38-50 cm) na primavera e C. limbatus

(CT neonatos = 59,5-68,2 cm) no final da primavera/começo do verão.

Para os elasmobrânquios, a sobreposição alimentar e portanto, a competição por alimento,

tende a ocorrer mais entre indivíduos de tamanhos similares do que entre membros de uma

mesma espécie (SPRINGER, 1967; BETHEA et al., 2004). Desta forma, uma eventual

competição por alimentos entre neonatos de R. porosus (31,5-39,5 cm CT) e neonatos de C.

limbatus (59,5-68,2 cm CT) seria atenuada em função da diferença de tamanho. Contudo a

competição por recursos poderia ocorrer entre os neonatos de C. limbatus e jovens de R. porosus,

neste caso uma divisão espacial da área parece ocorrer, pois quando os jovens de R. porosus

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atingem cerca de 45-50 cm, estes se deslocam para águas entre 10 e 20 m, enquanto os neonatos

de C. limbatus permanecem em águas de até 12m. A casual competição por recursos com os

jovens de C. acronotus seria atenuada pela tendência destes habitarem águas um pouco mais

fundas (10-30m).

Tratou-se a competição como eventual, porque na verdade não se pode afirmar que estes

tubarões competem por alimento, pois estudos envolvendo a dieta não foram realizados, além

disso, não existem evidências sugerindo que os recursos alimentares sejam limitantes na área.

Contudo, caso a competição ocorra, uma divisão dos recursos temporal e espacialmente poderia

reduzir a pressão competitiva.

5.3.2 Raias

Segundo LESSA et al., (1999) os gêneros Dasyatis, Gymnura, Rhinobatos, Narcine,

Rhinoptera, Aetobatus, Mobula e Manta são conhecidos por abrangerem raias vivíparas e

costeiras, que utilizam a costa para dar a luz aos seus filhotes.

Pelo menos 7 espécies de raias, incluindo uma espécie endêmica da região nordeste, utilizam

a região de Caiçara do Norte como um berçário primário: Gymnura cf. micrura, Rhinobatos

percellens, Dasyatis guttata, D. marianae (endêmica da Região Nordeste), Narcine brasiliensis,

Aetobatus narinari e Rhinoptera bonasus. Destas G. micrura, R. percellens e N. brasiliensis

também fazem uso da região como bercário secundário. Com os dados obtidos neste estudo não

foi possível determinar para as outras espécies, quais também utilizam a região como um berçário

secundário.

No caso de N. brasiliensis, A. narinari e R. bonasus, para a caracterização da região como

um verdadeiro berçário primário segundo a definição de BASS (1978), ficou faltando a

amostragem de fêmeas com embriões a termo na área, contudo acredita-se que a ausência de

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captura destas esteja mais relacionada à amostragem do que ao fato das fêmeas não ocorrerem na

região. Por exemplo, no caso de N. brasiliensis, onde todos os indivíduos foram capturados pelo

arrasto de praia, a ausência de fêmeas grávidas nas capturas provavelmente está relacionada ao

fato do parto ocorrer em águas fora da atuação do arrasto, sendo que os jovens se deslocam para

águas mais rasas após o parto, ou que as fêmeas realizem apenas breves incursões para liberar os

jovens, não sendo então capturadas; possivelmente a última hipótese poderia ser também aplicada

a A. narinari e R. bonasus, só que abrangendo uma área mais ampla do que a de atuação do

arrasto.

Os jovens de G. cf. micrura, R. percellens, D. guttata, N. brasiliensis e A. narinari utilizam

as águas costeiras e turvas da região durante o ano inteiro, enquanto neonatos de R. bonasus

apareceram somente em junho. Em relação a D. marianae acredita-se que os berçários ocorram

próximos aos bancos de areia costeiros.

Segundo CASTRO (1993), a mera presença de fêmeas grávidas com embriões

relativamente próximos do nascimento, como foi o caso de D. americana, D. centroura e Mobula

hypostoma, não é suficiente para determinação de uma área como berçário primário, em função

das dificuldades de se precisar a proximidade do nascimento ou porque a fêmea pode

prontamente migrar de um habitat a outro. O desconhecimento dos pescadores acerca da captura

de indivíduos próximos ao tamanho de nascimento na região soma à esta idéia. Porém, para D.

americana, a captura de jovens próximos ao tamanho de maturação e adultos sugere a ocorrência

de um berçário secundário em águas de aproximadamente 10-20 m com fundo de recifes de algas

calcáreas. A ocorrência de apenas 3 jovens imaturos de Manta birostris em um período restrito

(primavera-verão) ) impede uma conclusão sobre como a espécie utiliza a região.

Da mesma forma que para os tubarões, não existem evidências que os recursos alimentares

sejam limitantes na área. Embora ocorra uma sobreposição espacial e temporal no uso do berçário

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(com exceção de D. marianae e D. americana), o arrasto de praia sugere que a área seja fonte de

uma grande variedade de peixes, crustáceos e moluscos, os quais devem constituir uma grande

parte da dieta destes animais, portanto, acredita-se que exista pouca competição por recursos

alimentares na área. Contudo, estudos mais detalhados envolvendo a produtividade da área e a

biologia alimentar destas espécies precisam ser realizados.

5.3.3 Estratégias de uso

Os principais motivos que levam os elasmobrânquios a utilizarem áreas de berçários são a

maior disponibilidade de recursos alimentares para os jovens e a diminuição do risco de predação

sobre os mesmos (SPRINGER, 1967; BRANSTETTER, 1990; CASTRO, 1993;

SIMPENDORFER e MILWARD; 1993), sendo que os principais predadores para os jovens de

elasmobrânquios são os tubarões maiores (SPRINGER, 1967). O grau de proteção oferecido

pelas áreas de berçários pode variar de região para região. BRANSTETTER (1990) comenta que

as áreas de berçário podem ser classificadas de acordo com seu grau de exposição a predadores,

existindo áreas protegidas, não habitadas por predadores (ex. baias, estuários, lagoas de recifes) e

áreas não protegidas, onde os predadores podem ocorrer (ex. praias abertas, plataforma

continental).

Por se tratar de uma zona de praia aberta, a região de Caiçara do Norte poderia ser

classificada como uma área não protegida, onde os jovens tubarões ficariam expostos a predação

por parte de grandes tubarões costeiros, fato suportado pela captura de espécies como

Carcharhinus leucas, Carcharhinus plumbeus, Galeocerdo cuvier, Sphyrna mokarran e Sphyrna

lewini, comprovadamente predadores em potencial de outros elasmobrânquios (SPRINGER,

1967; SNELSON et al., 1984; STEVENS, 1984; CLIFF e DUDLEY, 1991; SIMPENDORFER,

1992; CLIFF, 1995; HEITHAUS, 2001). A baixa captura destas espécies deve estar mais

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relacionada à seletividade dos aparelhos de pesca do que à uma baixa abundância, de fato a pesca

de espinhel realizada oportunamente teve mais sucesso na captura das mesmas. Da mesma

maneira, neonatos de C. falciformis se encontram vulneráveis a predação por parte de grandes

tubarões pelágicos na porção terminal da plataforma continental interna e na plataforma

continental externa.

BRANSTETTER (1990) relacionou características da história de vida dos tubarões (como:

freqüência reprodutiva, fecundidade, tamanho de nascimento e taxa de crescimento) à estratégia

de utilização de áreas de berçários. O autor sugeriu que espécies que produzem pequenos

neonatos (<70 cm CT) e que possuem um crescimento lento (K<0,1; crescimento no primeiro ano

de vida menor do que 30% do tamanho de nascimento), como C. leucas, C. plumbeus e

Negaprion brevirostris, seriam muito vulneráveis à predação, e portanto utilizariam áreas de

berçários protegidas, enquanto espécies que embora apresentassem um crescimento lento,

parissem grandes neonatos (>70 cm CT), poderiam fazer uso de áreas menos protegidas, devido à

diminuição da vulnerabilidade pelo maior tamanho dos jovens.

Segundo o autor, espécies como C. acronotus, C. limbatus e C. falciformis, tenderiam a

investir mais nas taxas de crescimento que em outros fatores (K>0,1; crescimento maior do que

40% do tamanho de nascimento no primeiro ano de vida), o que lhes permitiria utilizar como

berçário áreas menos protegidas, como foi observado no presente estudo.

O gênero Rhizoprionodon seria um caso a parte, pois mesmo abrangendo espécies de

crescimento rápido, são de pequeno porte, sendo vulneráveis à predação durante toda a vida.

Neste caso a exposição a predadores seria compensada por uma maturação relativamente rápida e

um ciclo reprodutivo anual, sem períodos de descanso, como também observado na região de

Caiçara, onde R. porosus, apesar de apresentar um pico reprodutivo no inverno, se mostrou

reprodutivamente ativo durante o ano todo e foi a espécie mais abundante na região. Segundo

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MONTEALEGRE-QUIJANO (2002) R. porosus matura com 1,7 anos, uma maturação

relativamente rápida quando comparada a outros tubarões (CORTÉS, 2000).

LESSA (1982) encontrou um valor de K (constante de crescimento) igual a 0,21 para

Rhinobatos horkelii, enquanto ROSSOUW (1983) um K de 0,24 para R. annulatus. HOLDEN

(1977) estudando crescimento de raias, estabeleceu que os valores de K nestes animais variariam

entre 0,2 e 0,3. Levando em conta que BRANSTETTER (1990) considerou como espécies de

crescimento rápido aquelas cujo K fosse superior a 0,1, os valores sugeridos para as raias são

relativamente altos. Sendo assim um maior investimento no crescimento também parece ocorrer

entre as raias, para que possam atingir rapidamente um tamanho que diminua o risco de predação.

Além do mais, a maioria das raias estudadas apresentou períodos de gestação curtos (~5 meses)

com duas reproduções ao ano, com algumas espécies podendo até reproduzir durante o ano todo,

o que pode se encarado também como uma forma de contrabalançar a vulnerabilidade da fase

inicial de vida.

Vários estudos (SWENSON, 1978; BLABER e BLABER, 1980; BLABER et al., 1985;

LASIAK,1986; HAJISAMAE e CHOU, 2003) sugerem que jovens de muitas espécies de peixes

ósseos preferem águas rasas de grande turbidez, devido à relação destas com uma alta

produtividade e uma diminuição da taxa de predação, sendo que as condições de água limpa e de

maiores profundidades, aumentariam o risco de predação. CLARKE (1971) sugeriu que a

turbidez da água em uma região de berçário poderia estar auxiliando na diminuição do risco de

predação de jovens de S. lewini por tubarões maiores. Visto que a grande maioria dos neonatos e

jovens de raias obtidos neste estudo foi capturada pelo arrasto até no máximo 3 m de

profundidade e os neonatos de R. porosus e C. limbatus se concentraram principalmente até os 12

m de profundidade, o risco de predação poderia estar sendo atenuado pelo confinamento dos

neonatos em águas relativamente mais rasas e túrbidas.

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Neonatos de R. porosus, que se encontram próximos à zona de berçário das raias

provavelmente não se alimentam das mesmas devido ao pequeno tamanho dos primeiros, contudo

poderia se esperar uma predação dos neonatos de C. limbatus sobre os menores neonatos de raias

(ex. G. micrura, D. guttata, R. percellens, N. brasiliensis). De qualquer forma 4 m foi a menor

profundidade onde se capturou um neonato de C. limbatus, o que indica que muitos neonatos das

raias poderiam ainda estar protegidos pelas águas rasas. Contudo, mesmo se a predação

ocorresse, estaria restrita aos 3 meses nos quais jovens de C. limbatus ocorrem na área.

5.4 A pesca

A dependência de áreas específicas de berçários é um dos fatores que tornam os

elasmobrânquios mais susceptíveis a extinção (CAMHI, et al., 1998; WALKER, 1998), sendo

que a captura de neonatos e jovens nas áreas de berçário é uma das maiores ameaças as

populações (BONFIL, 1997). No Brasil a captura incidental de elasmobrânquios na pesca

artesanal pode ser muito alta e estar apresentando substancial impacto negativo para as

populações de elasmobrânquios em vários berçários ocorrentes ao longo da costa (LESSA, 1982;

LESSA, 1986; ETEPE, 1995; LESSA et al., 1999). Porém, por se tratar de uma pesca dispersa

por toda a costa brasileira, praticada por comunidades de baixo nível econômico e informacional,

torna-se altamente difícil o acompanhamento e gerenciamento destas pescarias.

Se os estoques de elasmobrânquios irão ser gerenciados ou protegidos, o conhecimento da

localização e extensão das áreas de berçários é de prima importância, sendo sugerida uma

intensificação de estudos deste tipo, para que se possa identificar áreas prioritárias, utilizadas por

um número maior de espécies, onde um maior dispêndio de energia deva ocorrer no sentido de

aplicação de medidas mais restritivas, como estabelecimento de quotas e tamanhos mínimos de

capturas, limitações nos tamanhos de redes e das malhas, aplicações de medidas que minimizem

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as capturas acidentais, fechamento de estações, e até mesmo a proibição da pesca e criações de

áreas de refúgio.

As medidas adotadas devem levar em consideração os aspectos sócios-econômicos e

culturais das comunidades, oferecendo sempre alternativas econômicas às famílias de pescadores,

e porque não, com o próprio envolvimento nas atividades de conservação. A realização de

programas de educação ambiental que desmistifiquem a imagem dos elasmobrânquios e que

informem ao público e aos pescadores sobre a fragilidade das populações são fundamentais.

Outro ponto importante seria a fiscalização e cumprimento das medidas já vigentes, por

exemplo, apesar do arrasto de praia ser uma prática altamente lesiva aos ecossistemas costeiros, e

proibida por lei, continua a ser praticada sem a menor restrição em várias regiões. No sul do

Brasil, o arrasto de praia tem determinado o declínio, de forma assustadora, da população de

Rhinobatos horkelii, dependente da zona de praia como área de parto e berçário (LESSA et al.,

1999).

6. CONCLUSÕES

- Pelo menos 12 espécies de elasmobrânquios utilizam a região como berçário, sendo 4

espécies de tubarões: Rhizoprionodon pororus, Carcharhinus acronotus, C. limbatus e C.

falciformis, e 8 espécies de raias, incluindo uma espécie endêmica da região Nordeste:

Gymnura cf. micrura, Rhinobatos percellens, Dasyatis guttata, D. marianae (endêmica),

Narcine brasiliensis, Aetobatus narinari, Rhinoptera bonasus e D. americana.

- Não se pode afirmar que os jovens elasmobrânquios competem por alimento, pois estudos

envolvendo a dieta não foram realizados, além disso, não existem evidências sugerindo que

os recursos alimentares sejam limitantes na área. Contudo, caso a competição ocorra, uma

divisão dos recursos temporal e espacialmente poderia reduzir a pressão competitiva entre os

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tubarões. No caso das raias, com exceção de D. marianae e D. americana, foi observada uma

sobreposição espacial e temporal no uso do berçário.

- Os jovens tubarões compensam a exposição à predação com um crescimento rápido ou com

uma maior fecundidade. No caso de R. porosus e C. limbatus o confinamento dos jovens à

águas relativamente mais rasas e turvas pode atenuar o risco de predação.

- As raias diminuem o risco de predação pelo confinamento dos neonatos em águas

relativamente rasas e turvas. Além disso, um crescimento rápido, períodos de gestação curtos

(~5 meses) com duas reproduções ao ano, e modos de desenvolvimento embrionários

altamente eficientes, podem ajudar a contrabalançar a vulnerabilidade da fase inicial de vida.

- Se os estoques de elasmobrânquios irão ser gerenciados ou protegidos, o conhecimento da

localização e extensão das áreas de berçários é de prima importância, sendo sugerida uma

intensificação de estudos deste tipo, para que se possa identificar áreas prioritárias, utilizadas

por um número maior de espécies, onde um maior dispêndio de energia deva ocorrer no

sentido de aplicação de medidas mais restritivas.

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