Caixa de Fosforo
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CONSTRUÇÃO DA ORDEM
INTRODUÇÃO
Os territórios do Brasil mantiveram-se unidos, ao contrário das ex-colônias espanholas,
que se fragmentaram,principalmente por causa da atuação da nossa elite política, que
demonstrava uma certa homogeneidade ideológica e,graças à tradição burocrática
portuguesa, havia adquirido o treinamento necessário para dirimir os conflitos intra-elite
efundamental para a construção de um sistema político tal qual adotamos: uma
monarquia representativa com o podercentralizado, afastado o predomínio militar. Ele
não ignora, contudo, o fato de que as elites atuavam dentro de certosfatores que
restringiam seu campo de atuação e de decisão.Carvalho defende que a unidade
territorial do Brasil foi uma opção política dentro das várias disponíveis,rejeitando a
idéia de que os fatores econômicos predominaram na constituição dessa unidade (o
Brasil não era compostopor ilhas, da mesma forma que havia fatores de desintegração
havia outros que motivavam a desintegração), bem comoverifica uma casualidade
reversa entre o escravagismo e a manutenção da unidade. Ele afirma que os
políticospreocupavam-se antes com a unidade do que com o escravagismo, ou seja,
manteve-se a escravidão para manter aintegridade, e não o contrário. Opõe-se também à
teoria de que a unidade foi mantida graças à prosperidade tardia doouro no Brasil,
afirmando que tal riqueza já amainava quando da Independência. Também, afirma que a
transmigraçãoda Corte para o Brasil não poderia ser considerada sozinha como um fator
determinante para a manutenção da unidade –poder-se-ia argumentar que a experiência
monárquica preparou os brasileiros para tal transição -, pois a Independênciaviria com
ou sem monarquia.José Murilo conclui que tal modelo político foi uma escolha dentro
de várias existentes, dentro das limitaçõesem que atuava a elite e de acordo com a sua
relativa homogeneidade ideológica e com o treinamento que haviam obtidograças ao
modelo político português.
ELITES POLÍTICAS E CONSTRUÇÃO DO ESTADO
No início do capítulo Murilo expõe as teorias de Mosca e Pareto sobre a atuação das
elites. Para o primeiro, aelite se sustenta no domínio de alguma força social, e quando
esse domínio esvanece, ela perde suas bases desustentação, dando espaço à ascensão de
um novo corpo de elite. Para Pareto, a elite atua por meio da combinação entrea força e
persuasão, e é essa dosagem que, se não adequada ao contexto, gera sua queda.Murilo
explica que a formação dos Estados modernos se deu através do fortalecimento do
poder régio sobrequatro elementos básicos: a burocratização, o monopólio da força, a
criação da legitimidade e a homogeneização dossúditos. Segundo ele, o que determina a
forma de um novo Estado é a forma como se dá o ajustamento entre aburocracia e a
representação das classes – o parlamento. Em Portugal, um país de revolução burguesa
abortada, econseqüentemente no Brasil, houve o predomínio do corpo burocrático sobre
o elemento representativo. Esse sistemafoi caracterizado ainda pela forte presença de
funcionários públicos no parlamento, ou seja, a própria burocracia dogoverno
representava o povo diante dela mesma. Ainda, constante foi a presença de legistas
formados em Coimbra nacomposição desse corpo burocrático. Diferentemente da
Inglaterra, as poucas oportunidades de emprego fora daagricultura colocava sobre o
Estado o peso de fornecer empregos, tornando-o mais visível. Os nobres, em Portugal e
noBrasil, dependiam dos empregos do Estado para obter suas rendas.Essa característica
da formação política portuguesa fez surgir uma elite política razoavelmente
homogênea,graças, senão a sua origem social, a uma socialização e ao treinamento para
as funções administrativas obtido naUniversidade de Coimbra. A concentração dessa
formação em Coimbra, diferentemente da pluralidade dasuniversidades espanholas,
trazia um fator de homogeneidade para as formadas lá. Também, concentrava-se na
formação jurídica e desligava-se de influências religiosas. Assim, as elites políticas
portuguesas se isolavam de doutrinasrevolucionárias. Os juristas que de lá saíram foram
os responsáveis pela criação e sustentação do modelo políticoportuguês, estendendo sua
influência na construção do Estado brasileiro. Daí, a sua maior preocupação foi
amanutenção da unidade. Murilo atribui à transposição dessa elite política homogênea
para o Brasil uma importânciamaior do que a própria transmigração da Corte na
formação do modelo político brasileiro. Por outro lado, as elitespolíticas dependiam da
renda da agricultura, daí que enfrentaram algumas restrições na sua atuação.O efeito
principal de uma elite homogênea seria a redução dos conflitos internos apenas aos
grupos dominantes,por um lado dirimindo conflitos sociais e por outro reduzindo a
mobilidade social, que se complicava com a escravidão.
Assim, o único canal de ascensão social era a própria burocracia. No último quartel do
século XIX houve uma maiorpressão das classes sociais por representação, culminando
em uma significativa redução no número de magistrados nacomposição da elite política
e à ascensão dos advogados e dos profissionais liberais.
A ELITE POLÍTICA NACIONAL: DEFINIÇÕES
José Murilo de Carvalho delimita neste capítulo quem é a elite a que se refere, ou seja,
quem de fato exercepoder sobre as decisões políticas da nação. Em primeiro lugar, ele
coloca o corpo de Ministros, os Senadores,encastelados na sua vitaliciedade, os
Deputados Gerais, que são quase sempre um caminho de passagem para setoresmais
altos e no topo o Conselho de Estado. Segundo ele, o Exército teve, durante o Império,
quase nenhuma forçapolítica dentro do sistema, enquanto instituição. O mesmo se
aplica à igreja. A imprensa funcionou como um fórumalternativo de debate político para
a oposição. Algumas associações de classe, no entanto, conseguiram exercer poder
deforma direta ou indireta, como a Associação Comercial. Por último, fala da
burocracia de segundo escalão, esta compouca possibilidade de ascensão, mas
que, diferentemente do alto escalão, não possuía um
esprit de corps
.