Calouste Gulbenkian

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Calouste Gulbenkian Calouste Gulbenkian, um dos pioneiros do desenvolvimento petrolfero no Mdio Oriente, nasceu em 1869, em Istambul (Turquia), descendente de uma abastada famlia de comerciantes armnios. estudou em Londres e aos 18 anos diplomou-se em Engenharia. Elaborou vrios trabalhos sobre as potencialidades da explorao do petrleo no Mdio Oriente, sendo o primeiro a impulsionar esta indstria no Golfo Prsico, e serviu de ligao entre as indstrias petrolferas americanas e russas. Ajudou tambm a organizar a Turkish Petroleum Co. - hoje, Iraq Petroleum Company.Depois da Primeira Guerra Mundial, fixa residncia em Frana. E, em 1928, participa no acordo de diviso da velha Turkish Petroleum Company, o que lhe valeria a alcunha de o senhor cinco por cento. Esse acordo consistia na atribuio, a cada uma das companhias - BP, Shell Group, Companhia Francesa de Petrleos e Standard Oil/Mobil Oil - de 23,75 por cento do respectivo capital, cabendo a Calouste Gulbenkian os restantes cinco por cento.Aliando o dinheiro ao amor pela arte, Gulbenkian foi reunindo uma vasta coleco de obras, valendo-se do seu estatuto diplomtico para movimentar livremente as peas que adquirira.O tactical enemyNo incio da Segunda Guerra Mundial, Gulbenkian est em Paris, como conselheiro comercial da embaixada da Prsia. Quando a Frana invadida pelas tropas do III Reich, o Governo francs, ento chefiado pelo general Ptain, muda-se para Vichy. Gulbenkian acompanha-o, ainda que muito contrariado. Porm o facto no visto com bons olhos pelo Governo ingls, que o toma como um acto de reconhecimento do governo de Vichy, e passa a consider-lo um tactical enemy.Gulbenkian sente isso como um insulto e intenta judicialmente contra o Governo ingls, vindo a ganhar o processo. Todavia, as relaes nunca mais seriam as mesmas e o magnata do petrleo no concretizou a oferta da sua coleco National Gallery, em Londres, onde j estava prevista uma ala com o seu nome.A vida em Vichy naquela ocasio no era fcil para um homem habituado a viver na sua linda casa em Paris, conta Azeredo perdigo. Entretanto, em Vichy, Gulbenkian conhece o embaixador portugus Caeiro da Mata, e resolve vir passar duas semanas a Portugal, pas que no conhecia, mas que os seus amigos lhe diziam satisfazer os seus desejos de sol e paz, to prprios do povo armnio.Em vez de duas semanas, Gulbenkian acabaria por ficar 13 anos, fixando residncia no melhor hotel da capital, o Aviz (onde hoje fica situado o hotel Sheraton). Ocupava a suite D. Filipa de Lencastre, era boa pessoa e pagava bem, conta o seu criado de quarto, Adelino Sequeira. Era de simpatias ou antipatias, mas sempre muito exigente, acrescenta.Calouste Saris Gulbenkian esteve dez anos sem sair de Portugal e a nica vez que o fez foi numa visita a Paris. A sua vida na capital portuguesa era feita com os amigos Caeiro da Mata, o conhecido mdico Fernando Fonseca e Azeredo Perdigo. Acompanhava-o tambm a sua secretria, Isabelle Riehl, a quem viria a oferecer um palacete em Sintra, nos Seteais.No se dava bem, nem com a mulher - Nevarte Gulbenkian, que residia em Paris e s veio uma vez a Portugal -, nem com o filho, Nubar Sarkis Gulbenkian, que era considerado como um playboy. Mantinha, no entanto, uma boa relao com a filha e o genro, Rita e Kevork Essayan, pais de Mikhael Essayan, um dos actuais administradores da Fundao.Uma pessoa muito importanteComo era voz corrente que estava uma pessoa muito rica em Lisboa, Calouste Gulbenkian recebia inmeras cartas com pedidos, a que s no respondia se entendia que tinham algum sentido poltico.Gostava de gatos - tinha sete ou oito, diz o seu criado de quarto, quatro siameses e quatro vadios. No tinha carro nem motorista particular. Andava sempre de txi com o senhor Esteves, um motorista de Sintra que vinha a Lisboa sempre que Calouste Gulbenkian o chamava. Com o senhor Esteves e muitas vezes com a sua secretria, ia passear para Monsanto, levando sempre um saquinho com po para dar aos pssaros.Passado algum tempo de Gulbenkian ter chegado a Lisboa, Azeredo Perdigo recebe um telefonema do hotel Aviz: dizem-lhe que falam da parte de uma pessoa muito importante que desejava consult-lo e lhe pedia para ir ao hotel. Diga a esse senhor, sem desrespeito, que por dever da deontologia profissional os advogados no vo a casa dos clientes, respondeu. Pouco depois telefona-lhe Caeiro da Mata, dizendo que a pessoa em causa poderia ter um certo interesse para o pas. Azeredo Perdigo acede.O advogado que Calouste Gulbenkian recebe conhecido em Portugal como um jurista finssimo, famoso pelas suas causas clebres que defendeu, entre as quais as dos Rotschild, interessados na compra do Banco Nacional Ultramarino, que ento entrara em crise; a falncia da Torlades e os casos Ricardo Coves e Antnio Lus Gomes contra a Misericrdia do Porto. Bisneto de um dos homens da batalha do Mindelo, que ops miguelistas a liberais., Azeredo perdigo nasceu em Viseu, em 1896. Pensava cursar engenharia na Blgica, o que acabou por no acontecer por entretanto ter falecido o seu padrinho que iria custear os estudos. Vem para Lisboa no ano da implantao da Repblica e faz o exame final de Direito em Coimbra.Nunca entrou em conflito com Salazar, que o considerava um vermelhusco e, mantinha relaes de amizade com o Cardeal Cerejeira. Porm, o mesmo j no se passava com Marcelo Caetano, devido a algumas rivalidades pessoais, dizia-se. E enquanto Salazar, de forma surpreendente, aceitou logo a ideia de uma Fundao como a Gulbenkian, Marcelo nunca viu com bons olhos o projecto de uma instituio particular, independente da tutela do Estado.Um cliente pouco interessanteAzeredo perdigo conhece ento, Calouste Gulbenkian no Hotel Aviz. O cliente no me interessou muito, diz, tinha clientes to bons ou melhores do que ele, mas a sua personalidade, essa interessou-me muito, acrescenta. Tinha a preocupao da legalidade.Enquanto seu advogado, Azeredo perdigo viria a redigir o testamento de Calouste Gulbenkian em Junho de 1953. Nele, o testador legava a parte remanescente dos seus bens a uma Fundao que teria o seu nome e acolhesse a sua coleco de arte, espalhada por vrios pases. As minhas obras de arte - dizia em 1947, em carta a Lord Crawford, - so os meus amigos de toda a vida e julgo natural o sentimento de ansiedade que tenho sobre o seu lar.Por testamento, criava assim uma instituio particular, portuguesa e perptua, de fins caritativos, artsticos, educativos e cientfico. Porqu em Portugal? Devido ao valor da paz portuguesa e estabilidade das instituies que do garantias aos instituidores.Nomeia seus executores testamentrios Azeredo Perdigo, o genro Kerkov Essayan e Lord Radcliffe, cabendo a este ltimo assumir a presidncia da Fundao, por recusa do advogado portugus. Isso significaria para mim um grande prejuzo material, explica Azeredo perdigo.A opinio de SalazarQuando Gulbenkian morre, em Julho de 1955, o seu filho Nubar constesta a validade do testamento e a interpretao das suas clusulas. Perdigo tenta chegar a um acordo extrajudicial. Por duas vezes chegou a acordo com os contestantes e por duas vezes estes o quebraram: Ao outro dia as exigncias eram sempre outras, recorda. terceira tentativa, chama a secretria e diz-lhe: Acompanhe estes senhores, porque no tenho mais nada a tratar com eles. A questo ento submetida a tribunal. Ferrer Correia e Jos Dantas Perdigo, filho de Azeredo Perdigo, patrocinam a aco. O tribunal pronuncia-se a seu favor, o que possibilitou um acordo com o filho de Calouste Gulbenkian, que pelo testamento de seu pai viria a receber de herana apenas um milho e meio de dlares, tal como a sua irm Rita.Entretanto Lord Radcliffe recusa a presidncia da Fundao, por esta implicar a sua mudana para Lisboa. Azeredo Perdigo vai ento falar com Salazar e pergunta-lhe que dever convidar para o cargo. Quem tem de ser presidente da Fundao o senhor; no tem alternativa, responde-lhe o presidente do Conselho.Em Julho de 1956 promulgado o decreto-lei que institui a Fundao. na mesma altura, perante a melhor sociedade lisboeta e na presena do senhor ministro da Educao nacional, segundo a Imprensa da poca, feita a apresentao da Fundao Calouste Gulbenkian e do seu primeiro Conselho de Administrao -Jos de Azeredo Perdigo (presidente), Charles Kinshaw, D. Domingos de Sousa Holsteinbeck (Duque de Palmela) e Pedro Teotnio Pereira, embaixador portugus em Londres.PAULA AZEVEDO, EXPRESSO, 8 DE DEZEMBRO DE 1989

Calouste Gulbenkian

Nascimento23 de Maro de 1869skdar[1]

Morte20 de Julho de 1955(86anos)Lisboa

OcupaoEngenheiro e empresrio

Calouste Sarkis Gulbenkian, em armnio: GCC (skdar, 23 de Maro de 1869 Lisboa, 20 de Julho de 1955), foi um engenheiro e empresrio armnio otomano naturalizado britnico (1902), activo no sector do petrleo e um dos pioneiros no desenvolvimento desse sector no Mdio Oriente.[2] [3] Foi tambm um mecenas, tendo dado um grande contributo para o fomento da cultura em Portugal. A sua herana esteve na origem da constituio da Fundao Calouste Gulbenkian.[esconder]BiografiaNasceu numa famlia de abastados comerciantes armnios de Istambul. O seu pai importava querosene da Rssia.Estudou em Londres, no King's College, onde obteve o diploma de Engenharia (1887).Fez uma viagem Transcaucsia em 1891, visitando os campos petrolferos de Baku. Aos 22 anos de idade, publicou o livro La Transcaucasie et la Pninsule d'Apchron - Souvernirs de Voyage, do qual alguns captulos foram publicados numa revista que chegou s mos do ministro das Minas do governo otomano.[4] Gulbenkian foi por este encarregado de elaborar um relatrio sobre os campos de petrleo do Imprio Otomano, em especial na Mesopotmia.Negociador hbil e esclarecido, perito financeiro de grande categoria, Gulbenkian negociou contratos de explorao petrolfera com os grandes financistas internacionais e as autoridades otomanas, fomentando a explorao racional e organizada desta fonte de energia emergente. A indstria internacional dos petrleos comeava a tomar forma no fim do sculo XIX. Gulbenkian organizou o grupo Royal Dutch, serviu de ligao entre as indstrias americanas e russas e deu o primeiro impulso indstria na regio do Golfo Prsico.Durante a Primeira Guerra Mundial sugeriu em Frana a criao de um gabinete para controlo do petrleo, o Comit Gnrale du Ptrole, chefiado por Henri Brenger.[5] Ao servio deste comit, obteve xito para um seu plano: pelo Tratado de San Remo (1920), a Frana ganhou Gr-Bretanha o direito a administrar os interesses do Deutsche Bank na companhia de petrleo turca (os ingleses faziam-no desde 1915).Em 1928, desempenhou papel fulcral nas negociaes multipartidas entre grandes empresas internacionais para a diviso da ento Turkish Petroleum Co., Ltd. (hoje a Iraq Petroleum Co., Ltd.) entre a Anglo-Persian Oil Co. (hoje a BP), a Royal Dutch Shell Group, a Companhia Francesa de Petrleos e a Near East Development Corp. (metade da Standard Oil e metade da Socony Mobil Oil). A cada uma coube 23,75% do capital e, a Calouste Gulbenkian, 5%. Este facto originou que Gulbenkian ficasse conhecido na indstria do petrleo como "o Senhor Cinco por Cento". A riqueza que acumulou permitiu-lhe satisfazer a paixo pelas obras de arte.A 28 de Fevereiro de 1950 foi agraciado com a Gr-Cruz da Ordem Militar de Cristo.[6]Vida familiarEm 1892 desposa em Londres Nevarte Essayan, tal como ele natural de Cesareia e descendente de famlia armnia nobre e abastada. Do casamento nascem dois filhos Nubar Sarkis (1896-1972) e Rita Sirvarte (1900-1977).O filho de Rita Sirvarte, Mikhael Essayan (1927-2012), foi Presidente honorrio da Fundao, e o seu filho Martin Essayan bisneto de Calouste Gulbenkian , actualmente, administrador da Fundao, responsvel pelas actividades na Gr-Bretanha e na Repblica da Irlanda, e tambm pelo Servio das Comunidades armnias.Colecionador de arteCalouste Gulbenkian foi um amante de arte e homem de raro e sensvel gosto, alm de reunir uma extraordinria coleco de arte, principalmente europeia e asitica, de mais de seis milhares de peas.Na arte europeia, reuniu obras que vo desde os mestres primitivos pintura impressionista. Uma parte desta coleco esteve exposta por emprstimo, entre 1930 e 1950, na National Gallery (Londres) em Londres, e Galeria Nacional de Arte em Washington, DC.[7] Figuram na coleco obras de Carpaccio, Rubens, Van Dyck, Rembrandt, Gainsborough, Romney, Lawrence, Fragonard, Corot, Renoir, Boucher, Manet, Degas, Monet e muitos outros.Alm da pintura, reuniu um importante esplio de escultura do antigo Egipto, cermicas orientais, manuscritos, encadernaes e livros antigos, artigos de vidro da Sria, mobilirio francs, tapearias, txteis, peas de joalharia de Ren Lalique, moedas gregas, medalhas italianas do Renascimento, etc. Quando de sua morte, em 1955, a sua coleo de obras de arte estava avaliada em mais de 15 milhes de dlares.Foi desejo de Gulbenkian que a coleco que reuniu ao longo da vida ficasse exposta num mesmo local. Assim , em Lisboa, desde Junho de 1960. Em 1969 foi inaugurado o edifcio-sede da Fundao Calouste Gulbenkian (que acolhe os servios centrais da Fundao, 2 auditrios, salas de conferncias e 2 espaos expositivos) e o Museu, onde se encontra esta coleco permanente. Em 1983 foi inaugurado o Centro de Arte Moderna, no mesmo parque junto Praa de Espanha onde se localizam todos esses edifcios.FilantropiaTal como soube reunir uma enorme fortuna ao longo da vida, Gulbenkian soube distribu-la em testamento com generosidade. Na caridade, deixou verbas para especial proteco das comunidades armnias, que altura no tinham asseguradas as necessidades bsicas pelas organizaes internacionais. Foi benfeitor do Patriarcado Armnio de Jerusalm. Como era devoto da Igreja Armnia, fez construir em Londres a Igreja de So Sarkis, dedicado memria dos seus pais e onde se encontram as suas cinzas.Em Abril de 1942, entrou em Portugal pela primeira vez, convidado pelo embaixador de Portugal em Frana. Inicialmente, Lisboa seria apenas uma escala numa viagem a Nova Iorque, mas o empresrio adoeceu e acaba ficando mais tempo do que planeara, agradado com a paz que em Portugal se vivia durante o conflito que devastava o resto da Europa. Sentindo-se bem acolhido, estabeleceu residncia permanente em Lisboa, no Hotel Aviz. Acabou por se instalar definitivamente at sua morte em 1955.O testamento, datado de 18 de Junho de 1953, criou a fundao com o seu nome que ficou herdeira do remanescente da sua fortuna, e que tem fins caritativos, artsticos, educativos e cientficos, elegendo Portugal para a sua fixao - agradecendo, postumamente, o acolhimento que teve num momento crtico da histria da Europa e sabendo o respeito que em Portugal haveria pelo escrupuloso cumprir da sua vontade.