Camila Domingues/ Hiper hipertexto -...

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h ipertext o Jornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril 2009 – Ano 11 – Nº 70 ANO 11 Página 3 Camila Domingues/ Hiper Campus da PUC terá aeromóvel Universidade retoma sonho de Coester AS DUAS FACES DA MODA Mortos-vivos chineses em exposição inquietante Veleiros do mundo no Guaíba Página 12 Júlia Schwarz/ Hiper Bernardo Ribeiro/ Hiper Bruno Todeschini/ Hiper Lívia Stumpf/ Hiper Desfiles no sofisticado Donna Fashion e na passarela montada no novo shopping popular da cidade Página 6 e 7 Coester concede entrevista exclusiva ao Hipertexto e percorre interior do aeromóvel Página 5

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hipertextoJornal da Famecos/ PUCRS. Porto Alegre, março-abril 2009 – Ano 11 – Nº 70

ANO11

Página 3

Camila Domingues/ Hiper

Campus da PUC terá aeromóvel

Universidade retoma sonho de Coester

AS DUAS FACES DA MODA

Mortos-vivoschineses

em exposiçãoinquietante

Veleirosdo mundono GuaíbaPágina 12

Júlia Schwarz/ Hiper

Bernardo Ribeiro/ Hiper

Bruno Todeschini/ Hiper

Lívia Stumpf/ Hiper

Desfiles no sofisticado Donna Fashion e na passarela montada no novo shopping popular da cidade

Página 6 e 7Coester concede entrevista exclusiva ao Hipertexto e percorre interior do aeromóvel

Página 5

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Porto Alegre, março-abril 20092 abertura hipertexto

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hiper-texto/ 045/ index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora de Jornalismo: Cristiane

FingerProdução dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico e de Fotografia.Professores Responsáveis: Tibério Var-gas Ramos e Ivone Cassol (redação e edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo).Estagiários matriculados e voluntários:Gerente de produção: Rodolfo Soares Manfredini Editores: André Di Giorgio Mantese, Pedro Palaoro, Joyce Copstein e Mariana

Pires.Editor de Fotografia: Bruno Todeschini e Camila Domingues.Redação: André Di Giorgio Mantese, Cássio Hübner Santestevan, Danielle Brites Rodrigues, Eduardo Silveira, Fernando Soares, Flávia Drago Gordim, Joyce Copstein, Júlia Schwarz Moreira, Júlia Souza Alves, Lorenço Oliveira Borba, Marcus Perez, Marina Sant’Anna de Oliveira, Mariana de Mattos Pires, Morgana Laux, Natalia Rech, Rodolfo

Soares Manfredini, Shaysi Melate, Stéfano Aroldi Santagada, Tiago Kern do Amaral e Yasmine Santos. Repórteres Fotográficos: Bárbara Winckler Arena, Bernardo Ribeiro, Bolívar Abascal Oberto, Bruno Todeschini, Clarissa Leite Caum, Diogo Lucato Oliveira, Fernan-da Vergara Grabauska, Guilherme Herz, Guilherme Santos, Henry Soares, Jonathan Gabriel Klippel Heckler, Lívia Stumpf, Ma-ria Helena Sponchiado, Mariana Gomes da Fontoura e Paula Cunha Tanscheit.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem 5.000

Saudade da alegriae da irreverência de João

EDITORIAL

Por Morgana Lauxe Yasmine Santos

Alunos e professores da Famecos, assim como familiares de João Fran-cisco Arnizaut M a c h a d o d e V a r g a s , c o -nhecido como João Arnizaut, lamentaram a morte do jovem, ocorrida em 17 de março. O es-tudante do cur-so de Relações Públicas, de 19 anos, foi vítima de um crime na-quela madru-gada, em Porto Alegre.

Nascido na Capital, João viveu a infância em Barce-lona e recentemente havia passado um ano em Loui-siana (EUA) em intercâm-bio de estudo. No quinto semestre de Relações Pú-blicas, havia concluído um curso para comissário de bordo recentemente. Em sua página pessoal no Orkut, suas comunidades evidenciam o amor pelas cantoras Britney Spears e Madonna, assim como a admiração pelo grupo T.A.T.U e por Jay Vaquer, além de música eletrônica. Bárbara Mori – atriz da novela Rubi – era sua pai-xão, e balas de goma e ge-latina estavam entre seus

doces preferidos, conforme o seu perfil.

No Orkut, o estudante também se dizia ateu e in-tegrante de comunidades que abominavam a homo-

fobia (aversão a homossexu-ais). Destacava também a expe-riência de via-jar ao exterior, referindo sua passagem pelos Estados Unidos. Ele falava idio-mas como inglês e francês e era fã dos livros de Clarice Lispec-tor, Lya Luft e Agatha Christie.

J o h n n y , como era cha-m a d o p e l o s

amigos, era um menino divertido. Segundo sua amiga Briane Caroline Andreis Soares, 19 anos, ele adorava brincar, fazer piadas e rir. “Não se im-portava com quem esta-va olhando. João apro-veitava cada m o m e n t o . A d o r a v a dançar, curtia as festas ao máximo, mas odiava bebidas e drogas.” Briane também comentou sobre a opção profissional de seu amigo. “Ele escolheu Rela-ções Públicas por ser uma

pessoa muito diplomática, se adaptar a qualquer si-tuação e a tipos de pessoas diferentes.”

A professora de Ciências da Comunicação e do curso de Relações Públicas Neka Machado, coordenadora do Núcleo de Eventos da Famecos, acompanhou a trajetória de João na Fa-culdade de Comunicação. “Ele tinha uma alegria imensa no coração, era participativo e também uma pessoa especial, pois sua formação cultural era muito interessante. João se destacava por ser quem era. Eu o conheci no segun-do semestre e, atualmente, ele estava no quinto. Ti-vemos uma aproximação muito forte na disciplina de Negociação, uma vez que, nela, a gente conhece um pouco de como a pessoa é, sua personalidade.”

João, conforme a pro-fessora Neka, deixará

saudades para muitas pesso-as, por ter sido um menino es-pecial, queri-do, doce e in-teligente. “Era u m a p e s s o a encantadora,

cheia de planos e projetos, um garoto muito afetivo. Ele estava pronto para vida, fazendo uma trajetó-ria de continuar voando, continuar vivendo o mun-do”, lamentou.

João tinha 19 anos

Estudante de Relações Públicas da Famecos, cheiode sonhos, foi assassinado antes de completar 20 anos

A IMAGEM

Os filhos da terra lembram o antes de uma Porto Alegre que festejou 237 anos

Diogo Lucato/ Hiper

Por Raíssa Genro

Um grupo de estudantes criou o Núcleo Acadêmico do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul. Mais de 30 universitários participaram da reunião em 14 de março, no Sin-dicato, formando o novo núcleo. A reunião começou com o debate sobre o objetivo da iniciativa, que prevê a discussão e defesa da obrigatoriedade do diploma, bem como capacitação e enca-minhamento de propostas sobre diretrizes curriculares dos cursos de Jornalismo, em discussão no Ministério da Educação.

A idéia do Núcleo surgiu em

reunião, em fevereiro, da direção do Sindicato com alunos da Fa-mecos que estiveram no 16º Con-gresso Brasileiro de Estudantes de Comunicação Social (Cobre-cos), realizado em janeiro. Laion Espíndula, aluno do Jornalismo da PUC, explica que, “além das discussões específicas queremos levantar a noção de categoria que será importante no futuro”.

O encontrou contou com alunos da PUCRS, UFRGS, Uni-sinos, Ulbra e Santa Maria. A primeira atividade foi participar da passeata de 31 de março em defesa do diploma. O presidente do Sindicato, José Maria Nunes, louvou a iniciativa.

Sindicato tem núcleo Acadêmico

“Era uma pessoa encantadora, cheia

de planos e projetos, um garoto muito

afetivo.”

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Porto Alegre, março-abril 2009 3geralhipertexto

Por Júlia Souza Alvese Morgana Laux

“Estudos mostram que tomar café da manhã pode melhorar a memória. Mamãe estava certa o tempo todo”. Essa é a apenas uma das placas que compõe o conjun-to de dicas da exposição Corpo Humano Real e Fascinante, loca-lizada no Centro de Convenções do BarraShoppingSul, no período de 7 de março a 10 de maio. São 16 corpos e 225 órgãos verdadeiros expostos e acessíveis ao público.

A forma utilizada para a pre-servação desses corpos e órgãos impressiona os visitantes. A poli-merização, técnica desenvolvida a partir da evolução da mumifica-ção dos cadáveres, é considerada por espectadores da ciência como uma verdadeira “arte anatômica”, de aparência e textura plástica. Com esse recurso, pode-se dizer que a mostra é totalmente crua, apresenta secções transversais do corpo, veias, cérebros e sistemas complexos, que não parecem complicados aos olhos do públi-co, de diversas faixas etárias, que recebem orientação de monitores.

Curiosamente, os olhos são falsos nos corpos. Em um deles, vê-se o único par verdadeiro, em uma criança de cinco anos. A mo-nitora esclarece “o tamanho dos olhos não muda entre a infância e

a idade adulta, dessa maneira, os olhos são maiores em comparação ao cérebro, dando a impressão de que eles estão com os olhos arregalados”.

Outras surpresas despertam a atenção do público que ganha es-paço para esclarecer suas dúvidas e receber explicação por meio de textos rápidos ou comentários de especialistas que circulam pelo ambiente. Os visitantes também percorrem uma sala especial com fetos das principais fases embrio-nárias, isolada com a intenção de respeitar questões éticas e religiosas. “Me surpreendi com o ser humano. Fiquei em dúvida se realmente era um ser humano. Só não me choquei com os fetos porque a monitora garantiu que eram decorrentes de fatalidades espontâneas”, comenta Lorena Laux, 60 anos.

Os órgãos saudáveis fazem um contraponto aos prejudicados pelo hábito do fumo. Pulmões doentes agredidos por enfisema geram o sentimento de conscien-tização aos que observam com atenção a mensagem transmi-tida por uma urna envidraçada contendo cigarros abandonados pelo público. A ação estimula o anti-tabagismo e desperta uma reação dos visitantes.

Corpo Humano Real e Fasci-nante conquista também aprova-

ção e admiração de profissionais da área da saúde. Luciano Scopel, 22 anos e estudante de medicina, qualifica a exposição como a me-lhor aula de anatomia de sua vida: “Não é apelativa e sim essencial, pois quanto mais se conhece o corpo, melhor se entende e se pre-vine as doenças. Ainda pretendo trazer a minha família aqui”, diz o jovem empolgado. Para Eduardo Buttelli, 40 anos, médico cardio-logista, a amostra é um verdadeiro espetáculo: “Concede ao público uma ideia geral e correta de nossa espécie. Nem na faculdade pude observar tão bem o corpo. Mesmo para os leigos, é interessante e de fácil entendimento.”

Apesar das referências e do alto número de visitações (450 mil em São Paulo, em 2007, e 220 mil no Rio, ano passado), Corpo Humano Real e Fascinante não foi autorizado pelo presidente Hugo Chávez de expor na Venezuela.

A origem dos corpos cria dú-vidas e aguça o interesse mórbido das pessoas. Boatos dizem que os cadáveres são de criminosos executados na República Popular da China. Segundo a assessoria de imprensa do evento, todos os indivíduos foram acometidos de morte natural, “optando” por participar de um programa de doação dos corpos em benefício da ciência e educação.

Um olhar para dentro do corpo humano Exposição itinerante que chegou a Porto Alegre mostra os seres humanos por baixo da pele

Por Eduardo Silveira

O ex-secretário de governo da Prefeitura de Canoas, na admi-nistração passada, Chico Fraga, é o centro das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que relaciona empresários e políticos, acusados de irregularidades em licitações para fornecimento de alimenta-ção escolar e realização de obras de infraestrutura, com recursos municipais, estaduais e federais, que foram iniciadas e estão para-lisadas pelo fim da remessa das verbas. O ex-prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) e seu mais próximo colaborador foram indi-ciados e tiveram bens bloqueados a pedido do MPF.

Levantamento policial indica que Chico Fraga é detentor de um patrimônio constituído de 25 imovéis e uma dezena de veícu-los, registrados no seu nome, de familiares e terceiros. Segundo a Federal, os bens são incompatí-veis com a renda declarada à Re-

ceita Federal. As provas estão em documentos e diálogos telefônicos encontrados durante as investiga-ções. As escutas em fevereiro de 2008 mostram que Fraga ligou para um dos seus interlocutores avisando que iria passar um imó-vel adquirido para o nome de seu irmão Jorge Armando.

A devassa policial na Pre-feitura de Canoas iniciou em dezembro de 2007. O prefeito e o secretário de Governo foram acusados pelo MP por fraudar, entre os anos de 2005 e 2006, os processos de licitação para o fornecimento de merenda escolar na cidade. A investigação surgiu a partir da Operação Solidária que apontou desvio de 6 milhões de reais. Em gravações telefônicas, apareceram nomes de deputados federais e estaduais, que gozam de Foro privilegiado e só poderão ser processados com permissão do Supremo Tribunal Federal, que ainda não se pronunciou.

Os desvios de recursos, que começaram com a merenda das

crianças, teria chegado a licitações para obras de saneamento básico, construção de estradas e irrigação no Rio Grande do Sul, segundo a Operação Solidária da PF. Duas empresas de engenharia foram arroladas. Em setembro do ano passado, o ministro Marco Auré-lio de Mello, do Supremo, enviou um parecer, através do Inquérito Parlamentar 2741, autorizando a quebra do sigilo telefônico e de e-mail dos deputados federais Eliseu Padilha (PMDB) e José Otavio Germano (PP), além do ex-secretário de governo de Canoas, Francisco Fraga.

A deputada Luciana Genro (Psol) acredita numa articulação da corrupção de Canoas com a fra-de no Detran. “Esse esquema de-monstra indícios de que o Estado do Rio Grande do Sul precisa de transparência nas suas relações”, disse. O advogado Ricardo Cunha, defensor de Fraga, garante que há apenas indícios contra seu cliente e ele vem respondendo todos os questionamentos levantados.

No olho do furacão em CanoasPor Fernando Rotta Weigert

A permanência da exigência do diploma para o exercício do jornalismo continua indefinida. Em 1º de abril, a questão estava na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF), mas foi adiada. O STF ainda não definiu a nova data para apreciação do tema.

Desde 2006, depois de limi-nar do presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, não se faz mais necessária a formação acadêmica para trabalhar na área, regulamentada por lei em 1969. A discussão sobre o diploma começou em 2001, quando o Sindicato dos Rádios e Televisões de São Paulo, em conjunto com o Ministério Pú-blico daquele estado, entraram na justiça reclamando a incons-titucionalidade da exigência da formação acadêmica para ser jornalista. Segundo os autores da ação, a obrigatoriedade “fere a liberdade de expressão”. “Isso

é uma falácia”, contesta o pre-sidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sergio Murilo, “me mostre algum cidadão brasileiro que foi impe-dido de manifestar sua opinião devido à regulamentação pro-fissional da categoria”, desafia.

Em frente ao tribunal, cerca de 70 estudantes com dois tam-bores gritavam por um bem que ainda nem lhe foi concedido, o diploma. Vanessa Gonçalves, da Unimep, de Piracicaba, que viajou 15 horas até Brasília em um dos três ônibus que foram à Praça dos Três Poderes, es-tava indignada pela ausência de manifestantes. “A gente fez questão de vir de tão longe para defender algo tão importante. Nem jornalistas, nem estudan-tes, aqui de perto apareceram”. Em 31 de março, estudantes de todo o estado se reuniram, em Porto Alegre, para gritar em favor do diploma: “jornalismo só com diploma”.

O DIPLOMA É NOSSO

As pessoas atônitas ou fascinadas diante do espectro de si mesmas

Guilherme Herz/ Hiper

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Porto Alegre,março-abril 20094 geral hipertexto

Por Stéfano Aroldi Santagada

A prefeitura pretende iniciar ainda esse ano a revitalização da Praça 15 de Novembro e de seu entorno. Possibilitada pela trans-ferência dos camelôs para o Cen-tro Popular de Compras (CPC), o Camelódromo, a reforma faz parte do processo de revitalização do Centro da capital. Pelo projeto, a praça será reformulada e o Chalé, ampliado.

Em março, o prefeito José Fogaça assinou o termo de adita-mento de contrato de permissão de uso do espaço. Segundo o acordo, os atuais permissionários do local ficarão responsáveis pela restauração e ampliação do Cha-lé, que ganhará um novo salão com cafeteria e deques externos. Além disso, o terraço e o segun-do piso serão liberados para uso exclusivo de mesas, ampliando a capacidade de atendimento em 50%. As melhorias no entorno do estabelecimento ficarão sob res-ponsabilidade do poder público.

O plano prevê ainda o alarga-mento de calçadas e a abertura de vias para o trânsito de veículos, como na Marechal Floriano e José Montaury. Em frente ao Mercado Público, no Largo Glênio Perez, um deque será instalado para a colocação de mesas, incentivando o lazer e o turismo no local. Os projetos integram o programa

“Viva o Centro”, desenvolvido desde 2005 pela prefeitura e que visa o resgate e a reabilitação do Centro Histórico de Porto Alegre.

Uma das principais obras realizadas até o momento pelo programa foi a construção do Ca-melódromo. No espaço, inaugura-do em fevereiro, estão reunidos os 800 ambulantes que ocupavam e tumultuavam as vias centrais da cidade. Para a prefeitura, o maior desafio agora é manter os antigos camelôs longe das ruas. Glenio Bohrer, arquiteto e gerente do “Viva o Centro”, confia no envol-vimento da sociedade para o êxito do projeto e no engajamento dos vendedores para o sucesso do

CPC. “Os camelôs saíram das ruas por adesão. Eles estão interessa-dos que o camelódromo dê certo”, garante o arquiteto.

Ainda para esse ano, em par-ceria com o programa Monu-menta do Ministério da Cultura, o município pretende investir aproximadamente R$ 3 milhões na reforma da Praça da Alfândega, que receberá nova iluminação, novo paisagismo e pavimento – reconstituindo o antigo traçado dos canteiros. A obra, já licitada, inclui ainda a abertura controlada de veículos na rua dos Andradas, no trecho entre a General Câmara e a Caldas Junior. Também estão previstas a reforma da Praça da

Matriz, a revitalização da rua General Câmara, a conclusão das obras de urbanização da praça Revolução Farroupilha – em par-ceria com a Trensurb – e a inaugu-ração do Centro Cultural da Caixa, no antigo Cine Imperial. Com es-sas intervenções, o governo muni-cipal espera mobilizar a sociedade e atrair novos investimentos para o Cent ro. “A expectativa é que essas obras gerem interesse para outras obras”, imagina Bohrer, citando como exemplo o plano de reforma da Galeria Chaves, uma iniciativa sob responsabilidade do setor privado.

Nova paisagem no Centro Espaços vazios dão início à revitalização da zona central de Porto Alegre Outro problema a ser en-

frentado pelo poder público é a grande concentração de ônibus nas ruas centrais de Porto Alegre. Hoje, de acor-do com a prefeitura, são 33 mil viagens de coletivos que chegam ao Centro diaria-mente, com apenas 30% de ocupação.

Os congestionamentos na Avenida Salgado Filho, por exemplo, e nas proximida-des da Estação Rodoviária já fazem parte do cotidiano porto-alegrense. Para con-tornar a situação que ajuda na degradação da área, a prefeitura aposta na implan-tação dos Portais da Cidade. De acordo com o projeto, orçado em cerca de R$ 300 milhões, serão construídos três terminais que ligariam os ônibus procedentes dos bairros ao Centro. As esta-ções seriam edificadas na Cairú (Zona Norte), na Aze-nha e nas proximidades do estádio Beira-Rio.

O plano também prevê a construção de um túnel sub-terrâneo na avenida Borges de Medeiros e de um via-duto próximo à rodoviária, ligando a Rua da Conceição a Júlio de Castilhos. A inten-ção da prefeitura é iniciar as obras em 2010 e financiá-las por meio de uma Parceria Público-Privada.

EXCESSO

DE ÔNIBUS

PREOCUPA

O deslocamento dos camelôs situados na Praça XV para o Centro Popular de Compras facilitou a circulação no local

Por Yasmine Santos

A tradição popular passou dos quintais cheios de plantas, que a cada sintoma indicava um chá, para a oficialização de seus efeitos curativos e implantação da fitote-rapia pelo SUS na rede pública. Medicamentos fitoterápicos são aqueles preparados a partir de plantas, ou parte delas, com efeito preventivo ou de cura à doença.

A implantação da fitoterapia como prática médica significa a pesquisa de produtos até serem considerados eficazes e seguros, garantido o controle de produção e qualidade. A indústria farma-cêutica já adota a produção de medicamentos com base de ervas e plantas medicinais. Nos anos anos 80, a consagração popular e a tradição passaram para a medi-cina oficial.

Um dos primeiros fitoterápi-cos distribuídos na rede pública foi o Bactrim, que tem dois prin-cípios ativos, o sulfametoxazol e trimetoprima. É encontrado nas

farmácias. O agente de pressão para que esses medicamentos che-gassem às drogarias foi a própria população, pelo alto preço dos produtos químicos.

Mercado de ervasNo Mercado Público, em Porto

Alegre, há bancas que vendem chás e ervas de todos os tipos. A promessa de antiinflamatórios naturais, como a arnica, malva, tanchagem (também conhecida como transagem), faz pessoas, como o vendedor de plantas medi-cinais Cláudio Daniel, utilizarem-se delas sem procurar um espe-cialista no caso. “Quando a gente procura um médico, ele receita um remédio que vai fazer a gente ficar bom de uma coisa e estragar outra”, brinca. Ele crê mais na tradição passada de família.

Lair Groff diz que muito do que sabe sobre os chás que vende, aprendeu com o próprio freguês. Ele sempre tem sugestões pron-tas para fazer um chá milagroso. Para quem sofre de pressão alta,

folha de chuchu ou casca de noz pecã é infalível. Mamica de cadela com tanchagem cura gastrite. Em hematomas, basta passar arnica. Pó amargo, pó ferro e pixirica são recomendados aos diabéticos. Se o problema é colesterol alto, há mais de 15 ervas. “Chá, via oral, não tem contra-indicação”, garante.

RestriçõesO médico Mario Biancamano

se mostra incomodado quanto ao uso de fitoterápicos sem a estandardização – padronização no processo de elaboração para garantir a eficácia e segurança. “Onde há a estandardização, tem um controle maior. Mas quando é colocada água quente em cima de uma planta, são extraídas substâncias que você não sabe o que podem causar. A plantas secas ou verdes provocam reações diferentes”, pondera.

A tradição popular passada ao longo das gerações sobre o uso de chás não alerta sobre como deve

ser preparado para servir como medicamento. Assim como Lair Groff acredita não haver mal al-gum, Mario Biancamano discorda e exemplifica: “Pela sabedoria popular, a babosa, se colhida depois da chuva, pode ser tóxica. No chá, outros princípios podem ser ativados.”

Biancamano cita também o jambolão, utilizado pela cultura popular no tratamento da diabe-tes. “A nossa faculdade de farmá-cia da Federal fez uma pesquisa tentando identificar os princípios

ativos encontrados no jambolão. Nenhum deles conseguiu ter uma ação. O que acontece é que a po-pulação usa, pode funcionar por um sinergismo de ação daquela planta, mas isso não tem como estandardizar. Poder ser bom para um, não para outro”, alerta.

Constatado pela Organização Mundial de Saúde que cerca de 80% da população usa e confia nos produtos medicinais de ori-gem vegetal, o SUS acredita que possa ser uma alternativa para reduzir custos no sistema público.

Implantação da fitoterapia pelo SUS

O uso popular provocou a implantação dos fitoterápicos pela rede pública

Bernardo Ribeiro/ Hiper

Diogo Lucato/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 2009 5transportehipertexto

MOBILIDADE

Aeromóvel terá trecho experimental na PUC

A partir de agosto, começam os ensaios pelo campus

Por Marina Sant’Anna de Oliveira

Mais cedo do que imaginam, os alunos da PUCRS serão sur-preendidos com uma inovadora alternativa de transporte ambien-talmente sustentável. O projeto do Aeromóvel, implantado no Campus da Universidade, foge das ruas movimentadas e ganha as alturas. Com estilo aerodinâ-mico, produzido em alumínio (razão de sua leveza) e com vastas janelas de vidro, este "trem aéreo" terá linha experimental concluída em agosto próximo pela empresa Aeromóvel Brasil S/A (ABSA).

O projeto deste sistema de mobilidade urbana simples, eco-nômico e não poluente é do téc-nico aeronáutico gaúcho Oskar Coester que realizou os primeiros testes, em Porto Alegre, em 1978. A tecnologia foi exportada para Jakarta, Indonésia, onde funciona com sucesso desde 1989. O Aero-móvel servirá para deslocamento dos acadêmicos, professores e funcionários no interior do cam-pus central.

A linha do Aeromóvel terá quatro estações no campus. Par-tirá da Faculdade de Engenharia,

prédio 30; ultrapassando em tempo estimado de um minuto a Avenida Ipiranga sobre o Arroio Dilúvio, chegando ao ponto final, no Centro Clínico do Hospital São Lucas, próximo ao Complexo Es-portivo da PUCRS. Como o trajeto é curto e a velocidade de até 40 quilômetros por hora, as pessoas ficarão em pé. No interior, haverá somente assentos preferenciais para idosos, gestantes ou porta-dores de deficiência.

O veículo terá apenas um carro, com a capacidade para 100 passageiros. A diferença do Aero-móvel para o trem convencional é sua locomoção silenciosa. Por não ser movido a gasolina, não polui o ar. No lugar do tradicional mo-tor, causador do conhecido ruído de trem, há um motor elétrico, fonte de vibração que se encontra afastada do veículo, em módulos facilmente isoláveis. Propulsores pneumáticos a gás natural, ou energia elétrica, que controlam pressão, direção e velocidade do ar (pressurizado por ventiladores estacionários), darão movimen-tação ao veículo, resultando na viagem silenciosa e sem impactos ambientais.

Outro benefício do sistema Aeromóvel é o compromisso com a segurança. Por exemplo: se dois veículos viessem a se aproximar, o ar comprimido entre as placas de propulsão atuaria como um colchão de ar, impedindo o cho-que e o possível descarrilamento.

Segundo o professor de En-genharia e coordenador institu-cional do Projeto Aeromóvel na PUCRS, Edgar Bortolini, estive-ram envolvidos na primeira etapa de desenvolvimento mais de 100 professores e estudantes bolsistas da PUCRS e UFRGS. O traçado experimental, com viagem de dois minutos, "será um pequeno trecho de 100 a 150 metros, que será utilizado para a realização de ensaios na estrutura", diz Bortolini.

A linha regular, prevista para 2010, terá aproximadamente 1.300 metros, com uma duração horária de quatro minutos, sem incluir o tempo de intervalo em cada estação. Serão investidos, até o final da primeira fase de experi-mentos, cerca de R$ 3,4 milhões. Não foi determinado ainda se haverá ou não cobrança de tarifa para a utilização do veículo.

Enquanto a Indonésia já ade-riu ao uso do Aeromóvel, em Porto Alegre, o protótipo desse meio de transporte e sua linha piloto estão prontos desde 1982, porém nada mais aconteceu. Ain-da assim, o criador da invenção, Oskar Coester, idealiza um dia concretizar o seu plano.

Com aproximadamente um quilômetro, ao longo da Aveni-da Loureiro da Silva, em Porto Alegre, próximo a Usina do Gasô-metro, o protó-tipo está parado há anos. Apesar de ter sofrido de-predações de pi-chadores, está em ótimas condições de uso. “É só acionar”, garante Coester.

Um homem simples e cheio de ideias, ele foi capaz de inovar no sistema de transportes e de mobi-lidade urbana em todo o mundo, mas em algumas capitais brasilei-ras, como Porto Alegre, não teve sucesso. Mesmo assim, nunca se cansou de lutar a favor da hu-manidade. Sua invenção é prova disto. Coester acredita que o valor das coisas está na capacidade de compreender o novo em nossas vidas, deixando a arrogância e o individualismo de lado.

Muitas pessoas desconhecem o que é um Aeromóvel. O novo assusta e pode tirar o interesse de conhecimento das pessoas, pensar desta forma, para Coester, é burrice. “Sempre foi assim. Tu queres coisa mais irracional do que as guerras? Então, as pessoas fazem coisas difíceis de acreditar. Eu acho que as mudanças, real-mente, vêm com a crise. Situações quase desesperadoras fazem pensar em mudar. Infelizmente é assim. Eu não tenho dúvida que a gente terá que mudar, porque continuar nesse ritmo não dá", lamenta o empresário pelo atraso da mentalidade, não só dos brasi-leiros, mas do mundo todo.

Muitos fatores impediram o sucesso do Aeromóvel no País, como a falta de investimentos financeiros e de incentivo gover-namental para este meio como transporte público. A viabilidade técnica e a questão econômica já foram comprovadas, o projeto está apto a ser implantado. É considerado um planejamento racional e gasta menos da metade da energia de um ônibus. Além de tudo, é elétrico, garantindo,

com isto, a preservação do meio ambiente. Depois de trabalhar 13 anos na Varig, o técnico em aero-náutica e fundador da empresa Coester Automação S.A., se fez a seguinte pergunta: por que não percorrer mil quilômetros em me-nos tempo que dez quilômetros nos grandes centros urbanos? Era 1963 e ele queria resolver o pro-blema do espaço físico e reduzir o peso morto dos veículos. Onde

achar espaço? A idéia era arrumar uma via expressa exclusiva elevada, fora do alcance de quaisquer obs-táculos das ruas e avenidas, a um

baixo custo, colocando os veículos acima do tráfego congestionado. Assim, surgiu a expressão "trem aéreo". Como fazer para evitar o excesso de peso morto e garantir a principal função, em conceito de aeromóvel, a de transportar gente? Era preciso construir um veículo leve.

Em seguida, veio o grande desafio: fazê-lo andar ecologica-mente, mas com a mesma capa-cidade das tecnologias correntes. Foi simples como o princípio do barco à vela. Em vez de colocar a vela em cima e esperar o vento soprar, a colocaram embaixo. Em 1977, veio a confirmação. O con-sumo de energia era viável e para percorrer um quilômetro foram gastos apenas 40 watts de ener-gia. O projeto Aeromóvel estava pronto para se mostrar ao mundo. "É importante lembrar que a linha piloto não é obra realizada com dinheiro público. Isto aqui fui eu que paguei", desabafa Coester, na visita ao protótipo.

Na luta pela aceitação de seu projeto no Brasil, ele entrou em contato com o ministro de Ciência e Tecnologia, entre o 1985 e 1987, Renato Archer, que audaciosamente lhe propôs: "por que nós não pensamos em fazer um Centro Tecnológico de Mobilidade Urbana lá no Rio Grande do Sul, envolvendo uni-versidades, empresas privadas e o poder público?” Surgiu, então, a cartada final que contribuiu para o início de diálogos entre professores e alunos de diversas áreas, ganhando a oportunidade de poderem estar por dentro do projeto Aeromóvel e estudarem todos os aspectos técnicos que envolvem o transporte em si.

Oskar Coester, o criador do Aeromóvel, em frente a unidade do transporte estagnada no Gasômetro, em Porto Alegre

Fotos Bruno Todeschini

Ele criouum trem-aéreonão poluente

Oskar Coester,um inventorpersistente

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Porto Alegre, março-abril 20096 variedades hipertexto

Por Júlia Schwarz Centro Popular de Compras

(CPC) também teve seu desfile de modas. Por uma hora e 15 minu-tos, dia 31 de março, 70 modelos, escolhidos na comunidade local pelo olheiro Ademir Gewher, vestiram a moda e os sonhos es-condidos atrás do balcão de cada estande.

O frisson entre os especta-dores era o mesmo de qualquer desfile de moda e não se resumia à expectativa de conhecer as ten-dências populares pesquisadas pela produtora de moda Isabela Tonin. À beira da passarela, havia espaço apenas para autoridades e familiares dos modelos. Espremi-das no pequeno espaço e ansiosas pela estreia de filhos, sobrinhos ou amigos, selecionados e treina-dos dias antes, algumas pessoas nem sabiam que o evento era um desfile de modas.

A professora de educação física Val Soares, ex-jurada de concursos de beleza, acreditava que iria torcer pela sobrinha na disputava do título de ‘rainha do Camelódromo’. Ao descobrir a verdadeira natureza do evento, reclamou da pouca divulgação da primeira exibição de moda do es-tabelecimento. “Importante para Porto Alegre por tirar essa gente do comércio de rua”, comentou.

A estudante Ariane Pasinato sabia bem porque estava ansiosa. Tinha dois motivos: a estreia da irmã como modelo e a sua, como

expectadora de um evento de moda. Argumentou que o desfile é válido por atrair a população ao Camelódromo, promovendo a circulação de pessoas entre as bancas. Serve também para divul-gação dos produtos aos clientes, que podem reconhecer melhor a moda nas roupas populares.

Gerente da construtora Verdi e responsável pela administração do Centro Popular de Compras, Noedi Casagrande, explicou que a proposta é divulgar a moda expos-ta e produzida pelos próprios lo-jistas. Segundo ele, as confecções vendidas por cerca de metade dos comerciantes locais são de produ-ção própria “o que torna alguns itens únicos”. Para aprimorar as criações, os vendedores fizeram recentemente uma excursão às lojas da rua 25 de Março, em São Paulo. Em breve, terão oportuni-dade de realizar cursos de venda, criação e produção de moda de vestuário, calçados e assessórios.

Os apresentadores do progra-ma Patrola (RBS TV), Rodaika Daudt e Ico Thomas, comanda-ram o desfile que teve música pop e gritos dos familiares dos modelos a cada entrada na pas-sarela. A intensidade da vibração lembrava um estádio de futebol. A torcida não era apenas pela exibição das peças e dos corpos, mas o sonho de prosperidade que se anunciava. Para o lojista, a pos-sibilidade de ter reconhecimento e aumentar suas vendas; pais e amigos dos modelos, o glamour

de uma profissão.O secretário municipal da

Indústria e Comércio, Idenir Cecchin, destacou a função inte-gradora do desfile na medida em que filhos servem de manequins para as produções dos pais, além da experiência empreendedora. O fato só é possível com a instala-ção destes comerciantes no CPC, longe das intempéries das ruas. Independentemente da demora na entrega do Camelódromo, a construção foi embargada três vezes, alguns sonhos de prospe-ridade desfilados na passarela se mostraram viáveis. A comerciante Janete Conceição reconheceu que estava apreensiva quanto ao futu-ro dos negócios na inauguração do CPC. Depois do desfile, admitiu já ter obtido lucros suficientes para expandir sua banca.

Camelódromo fashion Centro Popular de Compras faz seu primeiro

desfile de moda, antes do décimo Donna Fashion

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Fotos Júlia Schwarz/ Hiper

Setenta modelos vivem dia de glória

Torcidas entusiasmadas acompanharam o desfile apresentado pelos repórteres do programa Patrola, da RBS TV

Uma guitarra na praça

Com apenas guitarra, amplificador e bateria, Geraldo Lopes faz do público que circula pela área central seu auditório. Músico eclético com 40 anos de carreira, quatro CDs gravados, encanta e canta todos os dias na Praça Uruguai. Os admiradores o acompanham, tal como o flautista de Hamelin a tocar Jair Rodrigues e Roberto Carlos.

Segundo o povo, “quem canta, seus males espanta”. Sobre esses males, Lopes prova que pouco sabe. O sorriso no rosto é a prova.

Café amargo

Eroldina Ribeira vende café há 15 anos no Centro da capital. No bairro Sarandi, mora com mais quatro famílias, todas de vendedores ambulantes. Seus clientes, os mesmos há anos, já viraram amigos. Por isso, percebem seu sorriso amargo nos últimos dias. Acontece que desde que abriu o Camelódromo, no Centro, os filhos foram trabalhar lá e os negócios não vão nada bem. Além de assegurar seu ganha-pão, ainda tem outro exercício: driblar a fiscalização da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (SMIC) em suas rondas, na Praça da Alfândega.

Por Natália Rech

Brasil afora

A Feira do Peixe, junto ao Mercado Pú-blico, é porto-alegren-se. Porém, na monta-gem do complexo de sua última edição, teve a mãozinha de várias partes do Brasil, in-clusive do Nordeste. A falta de operários qua-lificados fez com que gente, como Silvidio Ramos Santos, viesse buscar aqui o dinheiro que falta na Bahia, seu estado natal. Vindo de

São Paulo, diz ter adorado o Rio Grande do Sul. A sua estadia aqui foi curta, porém, no final da obra, ele recomeça uma longa jornada. O operário quer agora construir sua própria vida, nem que pra isso viaje Brasil afora.

AntônioConselheiro

A ronda da morte é sua his-tória de vida. F.P. perambula pela Capital, distribuindo folhe-tos de sua igreja. Conta a sua vida permeada pelo cortejo da morte. Garante que há um ano teve mais de 10 tipos diferentes de cânceres. Atualmente, se diz curado de todos e atribui o feito a fé em Deus. Figura carimba-da, esse “Antônio Conselheiro” urbano faz convites a todos para comparecer às missas diárias e afirma: “Eu fui curado, juro. Você também pode”.

Fotos Guilherme Herz/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 2009 7variedadeshipertexto

Começam os eventos do Année de la France au BrésilPor Shaysi Melate

Este é o ano certo para conhe-cer os encantos da cultura fran-cesa. A iniciativa dos governos francês e brasileiro em promover o Ano da França no Brasil é uma retribuição à homenagem feita ao nosso país pela França em 2005. Assim, ao longo de 2009, o Brasil sediará eventos de grande, médio e pequeno portes em todo seu território, cujos objetivos são apresentar uma França atual, di-versa e aberta. No Rio Grande do Sul, o Donna Fashion Iguatemi inaugurou o projeto.

Mais de dois milhões de fran-ceses foram mobilizados pelo Ano do Brasil na França, há quatro

anos, além da atenção que o evento ganhou nos principais ve-ículos de comunicação da mídia francesa durante boa parte do ano. Juremir Machado da Silva, professor da Faculdade de Co-municação Social (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), esteve em Paris em 2005. Ao re-cordar a viagem, comenta que foi montada uma praia brasileira na beira do Rio Sena, com o caracte-rístico som do samba envolvedo o cenário: “Eu lembro que foi muito intenso, só se falava no Brasil”.

O projeto apresentou bons resultados, como o aumento de turistas franceses no Brasil em 27% e 450 milhões de dólares em

produtos brasileiros exportados para a França. A ideia de inter-câmbio cultural não só aproxima as relações econômicas e políticas entre os países, mas também liga as populações envolvidas, as quais abrem seus horizontes ao influenciar uma a outra com suas diferentes culturas. Desse modo, através de uma programação cul-tural e cooperativa de qualidade, o evento objetiva aperfeiçoar e consolidar a presença da França no Brasil, valorizando a parceria franco-brasileira em ascensão.

Oficialmente, o Ano da Fran-ça no Brasil está previsto para acontecer de 21 de abril a 15 de novembro de 2009 e será finan-ciado por ambos os países. A

programação gira em torno de três eixos. O primeiro é a França hoje, com suas criações artísticas, inovações tecnológicas, pesqui-sas científicas, debates de ideias e dinamismos econômicos. O segundo, a França diversa, com suas diferentes regiões, culturas e costumes. O terceiro, a França aberta, que busca mais parcerias franco-brasileiras.

O projeto, que foi anunciado em 2006, consiste em mostras, palestras, espetáculos, atividades culturais, encontros universitá-rios, científicos e comerciais. Por-to Alegre sediará eventos como o Seminário Malraux e a exposição fotográfica Reflexio, ambos no Santander Cultural. Os 100 Anos

de Arte na França, no Margs, apresentará pinturas de Manet, Van Gogh, Monet, Picasso, entre outros. A Feira do Livro receberá escritores, pensadores e intelec-tuais franceses, além de grandes obras, tanto clássicas como atu-ais, da literatura francesa.

Ronan Prigent, adido cultu-ral da França em Porto Alegre, acredita que o evento representa a compatibilidade que sempre existiu entre os dois países. Para ele, seu país influencia o Brasil “sobretudo no pensamento, na cultura, nos estudos”. E conclui: “É um momento bom para que as relações voltem a ser baseadas no que realmente tem valor, que é a inteligência”.

Por Shaysi Melate

A 10ª edição do Donna Fashion Iguatemi, principal even-to de moda do Rio Grande do Sul, utilizou o tema ‘Ano da França no Brasil’ para apresentar ao público as tendências do outono-inverno 2009. Além da inspiração fran-cesa, outras referências de estilo estiveram presentes de 1º a 5 de abril no Shopping Iguatemi.

O país que deu origem a re-nomados estilistas, como Coco Chanel, Yves Saint Laurent e Christian Dior, é o berço das gran-des inovações da moda. Quem compareceu à primeira edição do Donna Fashion deste ano presen-ciou o estilo francês na decoração do ambiente e na passarela, em releituras de fortes tradições do vestuário parisiense.

TendênciasNos desfiles, viu-se o branco

e o preto predominarem nas modelagens elegantes. Intensas representantes da moda francesa, ambas as cores, neutras e práticas,

permanecem sendo referência de sofisticação. Unidas ou isoladas, caracterizaram a coleção cheia de contrastes da Colcci, que teve como convidada especial a atriz gaúcha Juliana Didone. O poder do preto foi reforçado pela grife Cori, com muitas peças de alfaia-taria escuras, e pela vencedora do concurso Next Generation, Carla Bal, estudante de moda, que apresentou uma coleção só de roupas pretas.

Outras sugestões apareceram, como o estilo boyfriend, que consiste em roupas levemente masculinas, jeans soltos e paletós de ombro largo. A modelo Marcele Bittar, convidada da Bob Store, abriu o desfile vestindo uma calça do gênero. Ainda assim, o jeans skinny (calça bem justa, com corte reto até o tornozelo) mantém seu lugar garantido no guarda-roupa por mais uma temporada.

Paola Deodoro, editora de moda do jornal Zero Hora, ao falar dos opostos estilos de jeans, afirmou que “todos os movimen-tos da moda funcionam assim:

usam uma ideia à exaustão, aí vem uma virada muito grande”. Comentou também que a tendên-cia boyfriend ganhará destaque no inverno. “É a mais forte e a mais nova”, explicou.

O tricô pesado, como o blusão de lã, também ganhou espaço. Linhas grossas compõe casacos que podem terminar até mesmo no pé, como mostrou uma peça da TNG, utilizada pela atriz Fer-nanda Machado.

A pantalona voltou com te-cidos refinados em calças sociais, associando classe a conforto. A estilista da Le Lis Blanc, que convidou a atriz Letícia Birkheu-er para o desfile, confirmou a referência em sua coleção, com vários modelos sofisticados, além de tons variados.

O xadrez, característico de todo inverno, não é nada parecido com aquele dos anos noventa, da época grunge. Agora, apresenta misturas bem femininas, ao estilo francês. O desfile da marca Lua, influenciado pelas cidades Paris, Londres e Barcelona, trouxe um

toque romântico aos tecidos. A Renner reforçou uma ideia

que já se observa no visual dos porto-alegrenses: lenços. Com diversas cores e estampas, é o acessório da estação e pode ser utilizado tanto por mulheres quanto por homens. O ator Eri-berto Leão, que usava o adereço, recebeu muitos aplausos ao entrar na passarela.

Na moda masculina, a Spiri-to Santo chamou atenção. Seus convidados, todos músicos, como Frejat, desfilaram com roupas

modernas e descontraídas. O destaque vai para a camiseta cuja estampa é o rosto do presidente norte-americano Barack Obama, o funk brother, segundo a grife. Vai virar hit.

Durante os cinco dias de even-to, 22 coleções foram apresen-tadas na passarela montada no 5º andar do estacionamento do shopping Iguatemi. Criado há oito anos, o Donna Fashion mostrou aos gaúchos as novidades em moda e estilo para o inverno que está chegando. Que venha o frio.

O glamour damoda Donnaem Porto Alegre

Entre os dias 1º e 5 de abril, o Shopping Iguatemi de Porto Alegre recebeu pelo décimo ano seguido o maior evento de moda do Estado, o Donna Fashion

O Donna Fashion teve desfiles de 22 coleções dedicadas ao outono e inverno

Lívia Stumpf/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 20098 ciência hipertexto

No ano de seu bicentenário, Charles Darwin recebe uma ho-menagem no Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS. A expo-sição “(R) Evolução de Darwin” reconstitui o barco H.M.S Beagle, onde o naturalista viajou durante cinco anos com a frota inglesa, fazendo suas coletas sobre botâ-nica, a evolução e as etapas desse mapeamento.

Aberta em 25 de março, a ex-posição permanece até dezembro. Junto são promovidas palestras, debates e conferências. Dividida em “A Viagem do Beagle”; “A Ori-gem da Vida”; “A Evolução”; “A Biodiversidade” e “A Vida e Obra de Darwin”, a exibição mostra as origens e pesquisas do pensador.

Ao entrar no museu, uma réplica de nove metros de com-primento e 12 metros de altura do Beagle é avistada. Segundo o coordenador da exposição, Luiz Felipe Scolari, é uma cópia fiel, realizada pelos próprios funcionários do MCT. O painel eletrônico com todo o percurso de Darwin está ao lado de outro com um mapa detalhado da Ilha de Galápagos. A cabine do natu-ralista nos cinco anos de pesquisa também foi reproduzida, com a rede em que Darwin dormia, em cima de uma mesa de madeira, totalmente desprovida de con-

forto e espaço. Há também cartazes e jogos

interativos explicando a Teoria da Evolução e a Seleção Natural. No segundo andar do museu, é possí-vel encontrar o próprio inventor, sentado em seu escritório, ao re-dor de livros. O corpo do boneco de Charles Darwin, constituído basicamente de sucata, recebeu

um toque final com próteses dos pés e das mãos vindas dos Esta-dos Unidos. A veracidade chega a assustar.

O espaço está aberto à visita-ção de terça a domingo, das 9h às 17h, na Avenida Ipiranga 6681. O ingresso geral custa R$ 12 e para crianças, idosos, estudantes e professores, R$ 9,00.

Por Mariana Pires

Há 178 anos, na manhã de 27 de dezembro, partia de Plymoun-th, Inglaterra, o H.M.S. Beagle, “navio de sua majes-tade”, para expedição de mapeamento ao redor do mundo. Na viagem que durou cinco anos, estava Charles Darwin, na-turalista autor da Te-oria da Evolução, que desenvolve o princí-pio da descendência com modificação e a explicação para a diversidade da vida na terra através da seleção natural (onde o mais adaptável ao ambiente sobrevive).

Darwin percorreu ao redor do mundo, passando pela América do Sul, onde esteve no Brasil, e pelo Oceano Pacífico, nas Ilhas de Galápagos. Nesta última teve suas melhores idéias de pesquisa. Na época, com 22 anos, o britânico deixou uma teoria que seria dis-cutida pelos próximos 200 anos e levou um biólogo brasileiro a refazer em 2008 seu trajeto.

Felipe Gobbi Grazziotin, for-mado em Biologia, já trabalhou com plantas, bactérias e ver-tebrados. Hoje faz doutorado com ênfase em Zoologia, na Universidade Estadual Paulista. As pesquisas sobre serpentes o levaram a diversos arquipélagos, entre eles, Galápagos, no Pacífico. Em 2006, seu orientador Hussam Zaher, do Museu de Zoologia da USP, estabeleceu que deveria estudar a herpetofauna (fauna de répteis e anfíbios) no Equador. O projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e aprovado pelo Parque Nacional de Galápagos e Fundação Charles Darwin, que fiscaliza e desenvolve pesquisa no arquipélago, coletaria serpentes das 13 ilhas. A investigação visa compreender as relações evolu-tivas entre elas e as serpentes do continente, assim como estudar o processo de diferenciação dessas espécies nas distintas ilhas.

Em junho de 2008, Grazziotin e 12 tripulantes partiram no barco Queen Mabel, uma pequena trai-neira de 14x5 metros, saindo da Ilha de Santa Cruz, Porto Ayora. Igual a Darwin, as condições de pesquisa não eram muito favo-ráveis e todos dormiam em alto mar, nos cômodos do barco equi-pado também com um pequeno laboratório. O que mais surpreen-deu o biólogo, em Galápagos, foi

Após passar por Fernando de Noronha e pela Bahia, em 1° de abril de 1832 o navio H.M.S Bea-gle chegou ao Rio e lá permane-ceu por três meses. O naturalista Charles Darwin aventurou-se pelas matas atrás de novos ani-mais e plantas exóticas. Mas sua decepção foi com os brasileiros.

Os dias no solo do Brasil pareceram-lhe extremamente desagradáveis no contato com o povo nativo: “Todos aqui podem ser subornados. Um homem pode tornar-se marujo ou médico, ou assumir qualquer outra profissão, se puder pagar o suficiente. Os brasileiros, até onde vai minha capacidade de julgamento, pos-suem só uma pequena quantia daquelas qualidades que dão dignidade à humanidade.”

A descrição dos brasileiros em seu diário é cruel: “São igno-rantes, covardes e indolentes ao extremo; hospitaleiros e bem-hu-morados enquanto isso não lhes causar problemas; temperados, vingativos, mas não explosivos; satisfeitos com suas personalida-des e seus hábitos.”

Da justiça, sua impressão não foi melhor: “Não importa o tama-nho das acusações que possam existir contra homem de posses, é seguro em pouco tempo estará livre”. Parece que mudou pouco.

ver a marca da descendência com modificação em cada animal das ilhas. As espécies relacionadas como lagartos, tartarugas, ser-pentes ou pássaros eram muito

semelhantes e, ao mesmo tempo, cla-ramente distintas de local para local.

Para Grazziotin, biologia é evolução e o trabalho de Da-rwin, como sua vida, são uma aula de fazer ciência. “Detalhista e meticuloso, tentan-do responder todas as críticas, buscando

ativamente todos os pontos fracos e discordantes dentro da hipóte-se formulada, Darwin viajou e coletou dados por cinco anos e passou 23 escrevendo sua obra-prima. Dessa forma, subverteu o pensamento popular da época ao não acreditar em um ser divino que molda cada uma das espécies terrestres, e explicou a variação dos organismos através de leis

naturais”, esclarece.Falar de Teoria da Evolução é

se referir a Charles Darwin. Qua-se dois séculos após se constata a contribuição de outros pesqui-sadores que explicaram e corri-giram alguns pontos do estudo evolutivo. A Teoria da Evolução, como qualquer pesquisa cientí-fica, não está pronta, é sempre sujeita a reformulações e rein-terpretações baseadas em novas evidências. Grazziotin considera que o principal empecílio para se acreditar na evolução está na dificuldade de vê-la no dia-a-dia e no bloqueio de alguns preceitos religiosos. “Infelizmente ainda falta muito tempo para que a evo-lução seja completamente aceita e compreendida pela população. Mesmo assim o processo evolu-tivo acontece todos os dias, nos hospitais, por exemplo, a cada momento necessitamos de an-tibióticos mais potentes porque a população bacteriana evolui e fixa genes para resistência”, completa.

Uma péssimaimpressão do BrasilO H.M.S Beagle aporta em Porto Alegre

No caminho de Darwin

A reprodução de Darwin, exposta no Museu da Pucrs, é tão fiel que assusta

Brasileiro refez a trajetória do naturalista em 2008

Felipe Gobbi Grazziotin

Réplica do barco em que Darwin pesquisou espécies durante cinco anos

Fotos Mariana Fontoura/ Hiper

Luciana M. Lobo

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Porto Alegre, março-abril 2009 9esportehipertexto

Por Fernando Soares

No dia 30 de março, a Seleção Brasileira de futebol esteve na PUCRS. Jogadores e comissão técnica utilizaram o Parque Es-portivo da universidade para a preparação pro jogo contra o Peru, ocorrido em 1° de abril, no Estádio Beira-Rio. “O local foi es-colhido por reunir uma estrutura e localização que beiram a perfei-ção”, afirmou Guilherme Ribeiro, administrador da Seleção.

Os titulares na partida dis-putada no dia anterior, frente à seleção equatoriana, em Quito, realizaram trabalhos na piscina. Os reservas, acrescidos de Kaká, que se recuperava de uma lesão e não havia integrado a delegação no Equador, fizeram um jogo-treino com os juniores do Grêmio.

O treinamento foi fechado aos visitantes, somente profis-sionais da imprensa previamente credenciados tiveram acesso. Mesmo assim, muitas pessoas permaneceram do lado de fora do complexo na tentativa de ver alguns dos principais jogadores do futebol mundial. Das janelas dos prédios das faculdades de Educação Física e Medicina, alguns curiosos estudantes tam-bém observavam as atividades realizadas no gramado.

A passagem do Brasil em Porto Alegre foi bem sucedida. O time comandado pelo técnico Dunga derrotou os peruanos por 3 a 0 e, com o resultado, assumiu a vice-liderança das Eliminató-rias.

Seleçãotreina naPUCRS

Kaká e Pato no campus

Por Flávia Drago

Os 885 tenistas que vieram de 39 países na Copa Gerdau de Tênis deste ano não ofuscaram o brilho de um jovem tenista com um apelido tipicamente brasileiro: Zé. Mas este novo talento está longe de ser um qualquer, sua energia vibrante o destaca dos demais. José Pe-reira Junior, carinhosamente chamado de Zé, confirmou o seu favoritismo ao vencer o ba-dalado evento que aconteceu na Associação Leopoldina Juvenil, repetindo a dose de 2008.

Todos queriam ver o Zé em ação, traçando sua trajetória rumo ao bicampeonato - por esse motivo, seus jogos eram sempre os mais movimentados. Alguns dos sócios, enrolados em suas toalhas (já que a pisci-na do clube é praticamente ao lado das quadras) buscavam algum lugar, mesmo em pé, para assisti-lo. A torcida gaúcha repre-sentava bem o País, dando-lhe o apoio, fazendo reclamações e incendiando o clima a favor do brasileiro.

Logo após sua vitória nas semifinais contra o eslovaco Filip Horansky, que deu sua passagem às finais, Zé foi direto para uma piscina mais afastada do burburi-nho das quadras para se alongar e relaxar. “Se eu não faço isso, não presto amanhã”, confidencia.

José Pereira Junior, de 18 anos, é pernambucano, mas hoje em dia mora em Florianópolis, onde treina. Antes, morou em Curitiba e foi nesta cidade que teve seu primeiro contato com o esporte. Seu pai trabalhava em uma academia de tênis, enquanto os filhos, Zé é o mais novo de três irmãos, tornaram-se bolerinhos (os gandulas do tênis). A irmã mais velha, Teliana, 20 anos, hoje tenista profissional, foi a primeira a se envolver com o jogo. “Eu fiquei mais na minha, não tinha aquele negócio de jogar sempre. A minha paixão pelo tênis surgiu mesmo foi com meus irmãos, vendo eles jogarem. Foi graças a minha família”, conta.

Não parou mais. Com 13 anos já faturava torneios importantes, ganhou o patrocínio do Instituto Tênis e começou a viajar para disputar. E foi com essas experi-ências que adquiriu uma grande característica sua que expõe com o maior orgulho: ele não desiste. Foi se inspirando no primeiro do ranking atual da ATP, o espanhol Rafael Nadal, que ele tornou-se tão otimista: “A raça, aquela motivação dele que eu não sei de

onde que ele tira... eu estou ten-tando me espelhar bastante nisso aí, não desistir jamais.” Outro ídolo dele é o Guga, pela simpli-cidade e humildade, que são duas qualidades que o pernambucano diz ter aprendido na própria Copa Gerdau. “Pelo fato de eu ter sido o campeão ano passado, eu vim aqui e todo mundo me parabeni-zava. Eu poderia muito bem não olhar, dar um de ‘mascarado’, mas eu não sou assim. Acho que isso aqui me ensinou bastante a ser simples e ser humilde”.

Essa foi a 4ª Copa Gerdau para o Zé, e também a última, já que atingiu a idade máxima para competir. Ganhou três delas, con-secutivas (uma, porém, na chave de 16 anos). O sentimento? “É um sentimento gostoso. Mas não por estar na final, de estar até aqui. Te dá um ‘negocinho’ frio assim na barriga sabendo que você nunca

mais vai voltar a jogar nesse tor-neio. Uma despedida. Vou sentir muita falta disso aqui, é como se eu tivesse em casa mesmo”. O jovem diz que sempre vai lembrar a motivação que teve na quadra. “Eu ia para um canto da quadra e uma pessoa falava : ‘vamo!’, ia para outro e ouvia também: ‘vamo!’. Em nenhum momento desisti, sempre pensei: vai dar, vai dar!”, diz o menino que não se intimida com a pressão, pelo o contrário, ele até gosta. Agora, pretende disputar os futures, challengers e até o Rolland Garros juvenil para profissionalizar-se com a categoria que já lhe per-tence.

No ensolarado domingo, ao conquistar o bicampeonato em cima do estadunidense Tennys Sandgrend, Zé agradeceu à torci-da, alegando: “nunca conseguiria sem vocês”. Dedicou o prêmio ao

pai, da mesma forma que fez no ano passado, como presente de aniversário. O bicampeão provou que veio para ficar. Sai de Porto Alegre para conquistar o mundo.

Relax no Parque Esportivo

Elson Sempé Pedroso/ Hiper

Pedro Revillion/ Hiper

Todo o final do mês de março, Porto Alegre torna-se o palco principal para o tênis juvenil mundial. Ocorre na As-sociação Leopoldina Juvenil, nas chaves de 18 anos, e na Sogipa, com as chaves de 12, 14 e 16, com entrada franca.

O evento, além de inter-nacional, é considerado um dos mais importantes junto com os quatro Grand Slam desta categoria (Aberto da Austrália, Rolland Garros, Aberto dos Estados Unidos e Wimbledon). A Copa é patro-cinada durante todos os anos pela mesma empresa, e foi, em 2007, elevada ao Grupo A, que é o mais alto nível que uma competição pode chegar.

Por ser uma verdadeira la-pidadora de jóias no esporte, já recebeu em diversas edições, nomes que integram, ou já integraram, o topo do ranking da ATP e WTP, como Gusta-vo Kuerten, Andy Roddick, David Nalbadian, Fernando Gonzáles, Mario Zabaleta, Jo-Wilfried Tsonga, Svetlana Kuznetsova e Ana Ivanovic.

Copa Gerdau,o berço de

novos talentos

Nome comum, talento especialTÊNIS

O pernambucano Zé conquistou o bicampeonato da Copa Gerdau de Tênis, na Leopoldina Juvenil, em março

Todos os anos, novos talentos são revelados no campeonato mundial juvenil

Pedro Revillion/ Hiper

Camila Domingues/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 200910 entrevista hipertexto

Por Fernando Soares

O Internacional chegou ao ano de seu centenário como clube vitorioso dentro e fora de campo. Um processo de reestruturação, iniciado há sete anos, transfor-mou o colorado em colecionador de títulos. Campeão de tudo, orgulham-se os torcedores. A revolução administrativa, res-ponsável por elevar o clube ao patamar alcançado, foi ideali-zada por Fernando Carvalho ao assumir a presidência do Sport Clube Internacional, em 2002.

Incluído no seleto rol de no-mes importantes da história do Internacional, Carvalho foi pre-sidente entre 2002 e 2006. Com um faro que raros dirigentes pos-suem, ele percebeu as mudanças que o futebol moderno começava impor às agremiações. Conscien-te de que o sucesso no campo estava diretamente relacionado à boa administração, tomou medi-das, até então, pouco usuais nos clubes brasileiros como pagar os funcionários em dia e fazer contratos de longo prazo com atletas. Além disso, valorizou o patrimônio colorado através de melhorias na infraestrutura e in-vestiu recursos substanciais nas categorias de base, tornando a venda de jogadores um re-levante incremento na receita anual. Os frutos do trabalho de remodelação perduram até hoje, e são simbolizados principalmente pela conquista dos títulos da Libertadores da América e do Mundial, ambos em 2006.

Modesto, ele recusa o rótulo de maior presidente da história do Internacional. “O Inter teve diversos dirigentes importan-tes, muitos deles são meus ído-los, não posso achar que tenha sido superior a eles”, afirma. No entanto, essa opinião não é compartilhada pela maioria dos torcedores. Irrefutavelmen-te, os colorados afirmam, com brilho nos olhos e gratidão, que o atual vice-presidente de fute-bol foi o melhor mandatário que o clube já teve.

– Como começou sua liga-ção com o Internacional?

– Começou muito cedo, por volta dos sete ou oito anos de idade. Meu pai era colorado fanático e meus tios também. Assim me tornei colorado, até porque não havia espaço para ser diferente. Em 1961, fui ao meu primeiro jogo. Desde então, passei a acompanhar o clube. Lia o jornal de trás para frente e acompanhava os plantões esportivos das emis-soras de rádio. Isso continua até hoje.

– Imaginava, um dia, tornar-se dirigente do Inter?

– Isso era uma coisa inal-cançável, quase impossível. Na faculdade, era reconhecido como

um colorado. Estava sempre discutindo com os gremistas. Até que o meu, então, professor de direito financeiro assumiu como vice-presidente do Departamento Financeiro e me convidou para ser diretor em 1982. Assim comecei minha vida de cartola. Fiquei como advogado do clube durante algum tempo e depois passei para outros setores como marketing e administração, mas sempre na assessoria jurídica. Em 1988, fui vice de futebol na gestão do pre-

sidente Pedro Paulo Záchia. Nem gosto de lembrar porque não tinha experiência e fui mal. Eu não esta-va preparado para aquilo. A partir daí, pela primeira vez, comecei a pensar em ser presidente.

– O processo iniciado pelos mandarins (dirigentes que re-formularam o clube e montaram o grupo vitorioso dos anos 70) é semelhante ao trabalho feito na sua gestão de presidente?

– O Inter foi totalmente re-modelado a partir de 1969 pelos mandarins e tornou-se o grande time da década de 1970. Existem algumas semelhanças nos traba-lhos. Os mandarins tinham uma ideia de futebol que é a mesma que eu tenho: futebol de compe-tição, onde se privilegia o coletivo em detrimento do craque, muito treinamento, foco, cuidar de deta-lhes e enfrentar os adversários em todas as áreas. Essa filosofia nós tivemos ao assumirmos. Estrutu-

ramos o clube para enfrentamen-tos no tribunal, na imprensa e em todos os lugares.

– O senhor procurou se espe-lhar em algum outro dirigente?

– Na vida, a gente se espelha em várias pessoas. Quando mais jovem, tinha como exemplo meu tio José Carlos Costa Gama. De-pois, como dirigente, Aldo Dias Rosa, Ibsen Pinheiro e até os do Grêmio Rudi Armin Petry e Fábio

Koff. Nem todos fazem tudo certo, mas fazem a maior parte das coi-sas de forma correta.

– Percebe-se que o senhor como dirigente procura não criar polêmicas e atritos. Isso é raro no futebol brasileiro. Como o senhor separa o torcedor do dirigente?

– Quem assiste jogo ao meu lado, sabe que sou completamente torcedor. Xingo o árbitro, recla-mo do zagueiro que não voltou, do lateral que não apoiou. No entanto, após o jogo, preciso ter maturidade, pois represento o clube. Não posso dizer nada que vá prejudicar o Internacional.

– Ao encerrar seu mandato em 2006, o senhor se afastou do clube por mais de um ano. Retor-nou em 2008, após eliminação na Copa do Brasil. O que motivou sua volta?

– Retornei devido às circuns-tâncias. Na época, estávamos sem treinador e não havia nome de consenso entre Vitório (Piffe-ro) e Giovanni (Luigi). Embora fossem grandes amigos, havia uma discussão pública entre eles que não era boa para o clube. Na minha avaliação, o treinador que preenchia os requisitos era o Tite, que tinha contra ele o fato de ter trabalhado no Grêmio. O que

é uma grande bobagem, mas no Rio Grande do Sul é assim. Então, para tentar resolver a questão e minimizar uma even-tual contrariedade à contratação do Tite, me propus a ajudar e assumi a posição de assessor do Departamento de Futebol. Foi muito bom. O ambiente no clube se acalmou e ganhamos a Copa Sul-Americana. No final do ano, tinha a ideia de ir para o Clube dos 13, tornando-me executivo remunerado. Isso não se concretizou e fiquei para o centenário, por ser um ano diferenciado.

– Em 2010 haverá eleição para a presidência do Clube dos 13. Há possibilidade de o senhor concorrer ao cargo e ser sucessor de Fábio Koff?

– É muito cedo para falar disso, ainda não é hora. A elei-ção é só no final de 2010. Fábio Koff é um grande presidente e tem gás para mais uma gestão.

– O Internacional prioriza-rá alguma competição no ano de centenário?

– Queremos sair bem em todas as competições. Porém, o Campeonato Brasileiro, por todo esse charme do centenário,

40 anos do Beira-Rio e 30 anos do último título, tem valor um pouco superior. Disputaremos seis cam-peonatos, quando o calendário ficar apertado, vamos ter de optar e utilizar o grupo que temos.

– O que o Internacional faz para não repetir os erros que outros clubes brasileiros comete-ram em seus centenários?

– A primeira coisa foi isolar o vestiário da festa e da come-

moração. Jogadores e comissão técnica não participam de nada, o único foco é nos jogos e nas com-petições. Com trabalho e cuidado tudo dará certo. É claro, deve-se ter qualidade, acho que temos um grupo de atletas qualificados.

– O grupo de jogadores do Inter é um dos melhores do país. O plantel é suficiente ou ainda existe alguma carência?

– O grupo é adequado para enfrentar essa campanha. Por en-quanto, não pretendemos acres-centar nenhuma peça. Na metade do ano, se não conseguirmos renovar alguns contratos, talvez tenhamos que contratar e fazer alguma reposição.

– Nos últimos dois anos, o Inter passou por remodelações no meio da temporada. O desem-penho em campo foi prejudicado com entradas e saídas de atletas e técnicos. Neste ano, a situação mudará?

– Este ano será diferente. Se houver alguma saída, temos 32 jogadores e a reposição já está no grupo. Dificilmente haverá movimentação. Se houver, serão poucas.

– O Inter venderá alguém na metade da temporada?

– Alguém sairá na metade do ano. Ano passado, não vendemos ninguém importante. O Alex era pra ter sido vendido em julho, ficou e foi somente agora. Então, houve um represamento em alguns compromissos do clube. Assim, na metade do ano, certa-mente venderemos alguém.

– A cada temporada, o clube aposta em promessas oriundas das categorias de base e de outros times. A busca por jovens atletas de qualidade ainda em formação é uma tendência a ser mantida?

– Sim. Continuaremos fazen-do isso, porque o objetivo é ter jogadores formados e, quando houver a necessidade de substi-tuição, contar com garotos que estão aqui há seis meses ou um ano. Eles são preparados para um futuro próximo, aí o ingresso no time é natural.

– No seu primeiro ano como presidente, o Inter escapou do rebaixamento no Brasileirão na última rodada, em Belém. Ao deixar a presidência, o clube era campeão do mundo. Como o senhor descreve essa trajetória de Belém a Yokohama?

– De Belém a Yokohama é o nome do livro que eu estou fazen-do, relata dificuldades, caminhos que traçamos e percorremos. É um script de um filme que deu certo. Cada vez que recordo, me emociono. Como as coisas deram tão certo. Foi uma coisa maravi-lhosa, é quase indescritível.

– Qual a escalação do Inter dos teus sonhos?

– Manga (Clemer); Cláudio Duarte, Figueroa, Índio e Vacaria; Carpegiani, Falcão, Jair e Fernan-dão; Valdomiro e Claudiomiro.

EXCLUSIVA / Fernando Carvalho

Senda de vitórias écom ele

De Belém a Yokohama: da beira do inferno à glória de campeão mundial

Bernardo Ribeiro/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 2009 11perfilhipertexto

Edgar Vasques, a mão por trás do Rango Com 40 anos de carreira, o desenhista continua a criar a todo nanquim

Por Natália Rech

Edgar Vasques está contente. Apesar do sangue, suor e aquarela, acaba de finalizar mais uma obra, “a mais trabalhosa de todas”. Num bar pitoresco do viaduto da Borges de Medeiros, cartunistas, parceiros do desenhista, o parabenizam inter-rompendo sua tradicional batata com mostarda picante, prato obrigatório do Tutti Giorni. A comemoração tem nome e motivo: um ano e seis meses de trabalho e pesquisa intensos para trazer aos quadrinhos, em 60 páginas, a obra de Lima Barreto, O triste Fim de Policarpo Quaresma. A adaptação entra para a lista dos 18 trabalhos pró-prios, sem contar diversas parcerias, deste porto-alegrense que aportou desde cedo no mundo dos grafismos e continua a abrir portas para outros talentos gráficos, independente do mau tempo.

“Cartunista, chargista, ilustra-dor, quadrinhista, caricaturista, tudo no mesmo cara pelo preço de um”, como diz na sua auto-propaganda, Vasques é tudo isso e ainda mais. Quando possível, se dedica às artes plásticas, ten-do feito algumas vernissages. Formado em Arquitetura, diz ter se aposentado no mesmo dia que finalizou o curso. Como prova só buscou o diploma 25 anos após a formatura. Não é preciso saber muito do mundo do humor gráfico para ver nele um porta-estandarte apaixonado do tema. Isso fica claro já no primeiro contato. O ho-mem baixinho, de barba saliente,

expressões fortes ditas sem receio, mesmo entre goles de uísque, faz qualquer ouvinte imaginar que seu desenho tem mais do que tinta, talvez sangue encorpado. Aliás, Vasques parece um típico personagem de quadrinhos, po-rém inadaptável às margens do papel. Uma criatura que nem seu mestre, desenhista Canini, seria capaz de inventar.

Criador do personagem Ran-go, colaborador de jornais que fizeram história como Folha da Manhã e Pasquim, Vasques nas-ceu em 5 de outubro de 1949, no Hospital São Francisco, na Capi-tal. “Quando minha mãe me deu à luz, a luz que me deu foi essa: um céu do entardecer da primavera, às 18h”. Aliás, mesma hora em que a entrevista começou, com meia hora de atraso perdoada pelo seu jeito boa praça.

Vasques vê o desenho como uma linguagem base, comum a todos, principalmente na infân-cia. Questiona o abandono dessa atividade quando a escrita e a fala surgem. Desenho é prosse-guimento, e os desenhistas não param. “Tu risca na parede, leva um pau e vira bancário. Já meus pais achavam meus rabiscos bo-nitinhos”, observa, falando dos desafios da arte na infância. Seus pais, habituados à cultura, desde cedo o apresentavam como artista aos amigos. Neste ambiente de respeito às artes, quarto dos seus cinco irmãos se tornaram artistas, caso de Oscar Simch, ator da peça

Homens de Perto.Se sua vida daria um romance,

nem ele sabe. Porém, um quadri-nho, já é uma cogitação. Trocando a modéstia pela realidade, afirma: “Eu sou um dos melhores dese-nhistas do Brasil”. Vasques está sempre à procura do próximo desenho, enquanto veste a reali-dade com seus tons, criando um jogo de palavras e uma relação genial entre os fatos mundanos, que mais tarde resultará em um trabalho. O artista gaúcho se diz ciumento com o desenho. De Mil-lôr Fernandes recebeu o conselho de deixar seu talento encontrar o próprio limite. Pela falta de opor-tunidade e situação financeira, a necessidade de remuneração ocupou espaço na sua agenda de criação. Além de ser contador de histórias, teve outro mérito. In-centivou jovens de lápis trêmulos a fortificar o traço.

A Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul), criada na década de 80, teve suas primeiras reuniões em sua casa. Hoje, acon-tecem no bar citado acima, onde desenhistas variados e agregados trocam experiências. Nesse pon-to, o círculo de artistas como o estradeiro Augusto Bier e o jovem Rodrigo Rosa se encontram para garantir a tradição do grafismo gaúcho que Vasques define como a “junção da verve brasileira com grafismo platino, faz piada e colo-ca o dedo na ferida.”

Nada de teste vocacional ou algo do tipo. Ser desenhista era o único

percurso. Em 1969, ingressou na UFRGS, em Artes Plásticas e Ar-quitetura. Com a efervescência do contexto social da época, o estudo artístico não bastava. “Sentíamos que precisávamos fazer algo”, conta. Acabou se dedicando apenas à Fa-culdade de Arquitetura que, longe do marasmo das Artes, fervia idéias,

contestação e vontade política. Com o Centro Acadêmico ativo, inventar era a ordem e desse vocabulário surgiu a Grillus, revista que lançou Rango, seu trabalho mais conhecido. Dois anos depois, foi chamado para a Folha da Manhã, e a tira se tornou diária. Lá, lançou outros cartunistas na sessão O quadrão, como Schröder e Santiago.

Quadrinho denuncia miséria e injustiçaMais um dia de trabalho na

Caldas Júnior, e Vasques procura algo para ler na banca. Observa que um camburão da polícia o acompanha até sua casa. O reca-do é claro: “Estamos de olho em você”. Naquela época, o Brasil era comandado por homens de farda e neste meio nasceu Rango. Mas se nem a fome matou o personagem, não seria a censura a conseguir. Com Porto Alegre como play-ground, mesmo estando no Cais do Porto ou na Andradas, uma semelhança era latente: a miséria. Ao avistar a fauna humana de-gradante que se acumulava mais do que o crescimento incensado na década de 70, Vasques via nas ruas o inferno da renda nas mãos de poucos. Rango é um miserável, moribundo e desempregado que vive no lixo. Com outros ícones da miséria, o humor crítico se desenvolve. O quadrinho foi o responsável pela apreensão de

uma edição do jornal O Pasquim das bancas, em 1977. Porém, pela graça do público, o livro foi o mais vendido da Feira do Livro de 1974. Vasques acredita que o pior da ditadura não é o impedimento de divulgar a mensagem, mas o artista ter que mandá-la de forma cifrada e elitizada.

O ilustrador também atuou em publicidade, na LP&M edito-res e na prefeitura de Porto Alegre por 10 anos, até 2004. Ultima-mente, foi premiado pelas carti-lhas desenvolvidas para Refinaria Alberto Pasqualini, da Petrobras. O parceiro da família Verissimo, deu cara (e coração?) ao Analista de Bagé, publicado durante sete anos na revista Playboy. Agora, Vasques tem uma consultoria para desenhistas. Enfrenta a difi-culdade de viver da arte em uma época que viver é difícil. Contudo, sua inquietude artística não cessa, está cheio de ideias.É possível

encontrá-lo sempre com um ske-tchbook, onde desenha o mundo como vê. ”As meninas bonitas não vão embora, ficam aqui”, demons-tra o caderno. Todo lugar é lugar de desenhar. As tarefas de aula ou reuniões dançantes concorriam com arte. “Eu me defini no mundo como desenhista. Eu não posso fugir disso”, diz.

Sensível, tem olhos de lupa para captar as falhas sociais e transpor para o papel. Seus temas são de impacto, mostram estrago e exigem conserto. A fome de Rango é de justiça e, mesmo tendo um estômago forrado de espe-rança, até a própria vira piada. O sarcasmo de sua obra procura passar um entendimento da rea-lidade, comunicar-se além de se expressar. “Se entendem outra coisa, mas melhorarem a piada, tudo bem”, brinca. Esse é Edgar Vasques, cujo talento foi confun-dido com arma pelos militares.

Ilustrador exibe seu caderno com desenhos de pessoas que costuma retratar

Lívia Stumpf/ Hiper

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Porto Alegre, março-abril 200912 ponto final hipertexto

Por Joyce Copstein

A Copa do Mundo chegou mais cedo a Porto Alegre. Mas, no lugar do futebol, que só virá à capital em 2014, foi a Vela que roubou a atenção do público. No final de março, a Nations Cup 2009 levou sete equipes femininas e dez masculinas ao Clu-be Veleiros do Sul, durante cinco dias, para disputar o pódio de melhor do mundo. Ao todo, atletas de 13 países correram a Match Race nas águas do Guaíba. Representando o Brasil estavam os times de Henrique Ha-ddad, que chegou em segundo lugar, e de Juliana Senfft, que ficou em sexto.

Aos 21 e 20 anos, respectivamente, Haddad e Juliana se submetem, junto aos colegas de equipe, a uma preparação física como a de qualquer outro esporte. Além dos treinos n’água – que podem durar até quatro horas –, praticam musculação e exercícios aeróbicos. “São 15 minutos de regata, mas é muito cansativo”, constata

Haddad. Na rotina, entram ainda as aulas na faculdade.

Há, também, o fator psicológico. Afinal, se, de um lado, a vela pode ser uma ativida-de mansa, tranquila, embalada por música

lounge, a disputa durante uma regata é estressante e exigente. “Teoricamente é

um esporte mais light, mas na competição a pressão é forte”, comenta Haddad.

Além da navegação de regata, há a de cruzeiro, modalidade favorita de Danilo Ribeiro, editor do portal Popa.com.br e

velejador há cerca de 40 anos. “Na regata, o que importa é ver quem anda mais rápido, e é necessário ter muita habilidade”, afirma Ribeiro, “mas o velejador de cruzeiro quer apenas passear e tem outros tipos de preocupações”. E quais seriam? “É preciso ver se fará tempo bom na ida e na volta, pegar uma carta náutica para saber onde há pedras, certificar se existe profundidade suficiente para passar, se podem ter navios no caminho, conhecer as regras”, explica ele, que tem habilitação de Capitão.

Todo esse conhecimento pode ser obtido em cursos de navegação – o Veleiros do Sul é um que oferece aulas,

inclusive para crianças – e certificado em exames de habilitação, necessários para velejar. É como tirar uma carteira de mo-torista, com a diferença de que os testes para a obtenção do título de Arrais, Mestre e Capitão são apenas teóricos. Feito isso, um bom barco com cabine custa por volta de 36 mil reais, e é possível mantê-lo em um clube ou marina por uma mensalidade que parte de duzentos reais.

De resto, é só subir no veleiro e apro-veitar o dia. Para o velejador de cruzeiro, o objetivo não é chegar, mas ir. “Velejar proporciona o contato com a natureza e belas paisagens”, afirma Ribeiro, que vê, no barco, apenas a moldura de um quadro: os amigos são a tela. “Para praticar a Vela, bas-ta ter vontade”, comenta o vice-campeão Haddad, que veleja há 13 anos. Já Juliana Senfft começou mais cedo, aos quatro. Filha de medalhista olímpico, tem como objetivo chegar também às Olimpíadas. Definitiva-mente, uma velejadora de regata.

Competição de Vela trouxe equipes de todos os continentes à capital gaúcha

Quando o importante é chegar

Por Marcus Perez e Júlia AlvesOBSERVATÓRIO DO SAGUÃO

Brincadeira sériaOs assuntos que não são manchetes,

mas que os leitores curtem saber, agora, passam a figurar neste espaço. O nome da coluna surgiu de uma brincadeira com o famoso site, Observatório de Imprensa, fórum que reúne leitores, telespectadores e interessados na área da mídia, onde são manifestadas opiniões sobre o que rola no mundo dos veículos de comunicação, espe-cialmente no jornalismo. O Observatório do Saguão brinca com duas idéias: o site sobre mídia e o novo saguão da Famecos. Mesmo assim, a proposta é séria, aqui se-rão abordados informações que circulam nos corredores da faculdade e no campus, buscando estar mais perto do leitor.

Surpresa! Surpresa!Uau! Foi assim que muitos reagiram,

quando chegaram ao saguão da Famecos

no início do semestre. Mesinhas, cadeiras, poufs, uma nova pintura, tudo isso em um design arrojado e cores bem chamativas. Mas como tudo na vida, há os que gostam e os que criticam. Como dizem, gosto é que nem…, deixa pra lá. Em um ponto todos concordam: as mudanças surpreenderam. Das pessoas com opinião formada – sim, sempre tem aquele que não sabe o que pen-sar, vai entender! – dois grupos despontam em seus quadrados: os que aprovam a mudança e os contrários.

Estilo profissionalOba, até que enfim, o sofá veterano

de guerra perto do CAAP foi aposentado! Ainda assim a turminha não perdeu um lugar para sentar. Foi mais ou menos essa a reação dos que curtiram as reformas. O melhor é poder assistir de camarote o desfile diário de famequianos, ou seria das

famequianas? Dizem que o visual do saguão ficou “a cara” dos profissionais de comunicação. Outras línguas de trapo falam: “o bar veio pro saguão, olha só, até fica vazio no intervalo”. Tem o malandrinho que reconhece: “agora, posso fazer o que mais gosto e em grande estilo: matar aula”.

Coisa infantilA turma do contra alega que a entrada

do prédio ficou muita parecida com certa escola de uma novela juvenil da TV Globo (seria a tal Malhação?). Outros acham que a decoração e a pintura deu um certo ar in-fantil ao ambiente, que devia ser um pouco mais sério. Pois é, onde estará o tal espírito acadêmico? Os chatos se queixaram de tudo, de que as reformas não haviam aca-bado quando as aulas começaram e era um transtorno, pois atrapalhava a passagem..

Projeto iradoO look moderninho da faculdade mexe

com a galera seja no real ou no virtual. En-quanto alguns buscam melhor se acomodar aumentando ou diminuindo a altura das poltronas (os reguladores sumiram) e até mudando a posição das cadeiras (estão pre-sas ao piso!), outros viajam se inspirando no visual, no vaivém da turma. E quando o novo ficar velho e datado, o que vai acon-tecer? Bem, chama o professor Fabian que ele faz outro projeto irado na moda.

Jonathan Heckler/ Hiper

Pedro Revillion/ Hiper

As meninas lutaram com o barco e chegaram em sexto

Camila Domingues/ Hiper

Muita cor e brilho na entrada da faculdade