Camille Sainte-Sans

A vida msica de Camille Saint-San marcada pela precocidade com que ele se tornou um exmio instrumentista. J aos onze anos de idade o compositor a que nos referimos j era tido como pianista prodgio. Anos depois, aos dezoito de idade torna-se organista titular da Igreja de Saint-Merri, Paris. Seu desempenho entre as teclas fez Saint-Sans ser conhecido tambm como brilhante improvisador ao rgo.A carreira de Saite-Sans abrange turns de concertos pelo mundo, a composio e o ensino. No seguimento composio, ganha destaque em sua obra a msica sinfnica, com predileo pelo poema sinfnico. Dentro desse gnero comps A dana macabra (1874), que homenageia Franz Lizt. Das sutes para orquestra destacamos O carnaval dos animais, de 1886, que muito contribuiu para o estabelecimento da fama do compositor.Constam na prolfica obra de Saint-Sans cinco sinfonias, cinco concertos para piano, trs concertos para violino, obras de cmara, treze peras o que revela o gosto pela arte lrica -, muitas mlodies , oratrios, motetos e um Rquiem.Em 1817, Camille Sait-Sans est entre os fundadores da Sociedade Nacional de Msica, cujo objetivo promover a msica francesa numa atitude reacionria frente ao entusiasmo do pblico pela msica estrangeira, principalmente pela msica alem. Eis aqui um ponto que define a obra de Sait-Sans dentro moldes da proposta de um nacionalismo francs. Esse fato acaba por deixar Saint-Sans fora do grupo de compositores que franceses mais inovadores, pois o que se visualiza a partir de sua produo uma atmosfera de manter a tradio. Como destaca Massin (1997), embora [Saint-Sans] no tenha vivido na mesma poca que Debussy e Ravel, a principal parte de sua produo situa-se antes de 1895, e seu gosto pessoal levou-o a voltar-se para o passado do que para o futuro (p. 918).Faz-se necessrio informar, pois, que Enquanto os trabalhos de Debussy e Ravel baseavam-se na experimentao e no aperfeioamento das propostas lanadas no romantismo e que chegam ao impressionismo, h tambm um movimento de manuteno de uma tradio musical francesa por parte de outros compositores alm de Saint-Sans como Faur, Dukas, Roussel. Portanto, Saint-Sans no uma exceo.

Nacionalismo

O Nacionalismo, erroneamente visto por muitos como um movimento que busca autovalorizao da nao e negao daquilo que no prprio de uma cultura formadora, fez-se presente como sentimento norteador do fazer musical oitocentista. O sentimento que aflora como orgulho da lngua verncula e na literatura levou, entre outros fatores, unificao da Alemanha e da Itlia, e como destaca Grout (1994, p. 666),

at certo ponto, a escolha de temas de Wagner e Verdi foi um reflexo dos sentimentos patriticos, mas nenhum dos dois manifestou em sua obra um nacionalismo tacanho [,] nenhum desses compositores cultivou um estilo que pudesse caracterizar-se como etnicamente alemo ou italiano.

Note-se que possvel inferir a partir do comentrio do autor supracitado a necessidade de reconhecer a diferena entre valorizao dos elementos da cultura nacional, estabelecimento deles dentro da produo musical, e uma postura xenofbica, que tende a limitar e estagnar a produo musical. Pode-se dizer ainda do comentrio acima que o entendimento equivocado sobre Nacionalismo reitera a ideia de supremacia musical de um grupo tnico.Em pases como Inglaterra, Frana, Estados Unidos, Rssia e alguns do leste Europeu o nacionalismo de manifestou como uma espcie de defesa da criatividade nacional perante as influncias da msica alem, como busca de uma voz independente (GROUT, 1994, p. 667) e como introduo do folclore nacional na msica para o desenvolvimento do estilo com identidade tnica (no to facilmente aceite pelo pblico europeu ou visto como novidade extica).Na Frana, a onda nacionalista se manifesta junto ao renascimento da msica francesa, cujo incio fixa-se em 1871 com a fundao da Sociedade Nacional da Msica Francesa. O contexto histrico vigente poca conturbado. Neste momento a Frana vivencia a proclamao da repblica e a derrota na guerra franco-prussiana. Finalizado o conflito, se completa a unificao alem. O fim humilhante para a Frana alimenta o sentimento nacional francs (ARRUDA, 2001, p. 275).Os objetivos da Sociedade Nacional da Msica Francesa era estimular o trabalho de compositores franceses e a divulgao de suas obras ao pblico. Alm disso, tinha o propsito consciente de reavivar as excelncias caractersticas da msica nacional. A inspirao do movimento nacionalista na Frana ia alm da introduo do folclore na produo musical, a Sociedade Nacional envereda pelo caminho do resgate da msica do passado, como a de Rameau, Gluk e compositores quinhentistas (GROUT, 1994, p. 680).Apesar de os caminhos musicais franceses a partir de 1871 apontarem, como sinaliza Grout (1994), trs grandes linhas de evoluo, enumeradas como tradio cosmopolita (Csar Frank), tradio especificamente francesa (Saint-Sans) e linha evolutiva (Debussy), vamos nos ater ao que dito sobre a tradio francesa, descrita como

essencialmente clssica, assenta na concepo da msica como forma sonora, por oposio concepo de msica como expresso. A ordem e a conteno so fundamentais. A emoo e a descrio s adquirem direito cidadania na medida em que tenham sido inteiramente transmutadas na msica, desde a melodia mais simples mais sutil combinao de sons, ritmos e cores, mas nesta tradio a msica tende sempre a ser lrica ou de dana e no pica ou dramtica, econmica e no prolixa, simples e no complexa, reservada e no grandiloquente; acima de tudo, no lhe interessa transmitir uma mensagem, que acerca do destino ou do cosmos, quer acerca do estado de alma do compositor (GROUT, 1994, p. 682).

Essa tradio francesa , pois, constituda a partir da revisita ao passado. A sntese de uma construo musical que olha para o momento anterior foi realizada Saint-Sans com demonstrao de facilidade em lidar com formas clssicas, e um poder de adotar sem esforo todos os maneirismos em voga no perodo do romantismo (GROUT, 1994, p. 682).Cabe neste posto relacionar o posicionamento de Sainte-Sans e o seu tempo. Se levarmos em considerao as palavras de Jann Pasler, observaremos que h uma razo para as escolhas de Saint-Sans e as alternncias entre monarquistas e republicanos na poltica francesa.