Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013 CARLOS ORSI … · “saber coletivo” que poderiam...

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UNICAMP Universidade Estadual de Campinas Reitor José Tadeu Jorge Coordenador-Geral Alvaro Penteado Crósta Pró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon Atvars Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo Meyer Pró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria Pastore Pró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’Ottaviano Pró-reitor de Graduação Luís Alberto Magna Chefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail leitorju@ reitoria.unicamp.br. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefia de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju Estudo vê risco de ‘efeito manada’ em redes sociais Instrumentos online que permitem agregar a opinião de um grande número de pessoas – como o botão “curtir” do Facebook, ou os rankings de estrelas em livrarias e outros tipos de comércio na in- ternet – muitas vezes são saudados como ferramentas que extraem informação útil e relevante da chamada “sabedoria das multidões”, mas um artigo publicado na edição de 8 de agosto da revista Science sugere que esses resultados podem ser facilmente manipulados, destruindo o “saber coletivo” que poderiam transmitir. “Usamos avaliações feitas por outros para tomar decisões sobre quais hotéis, li- vros, filmes, políticos, notícias, comentá- rios e narrativas merecem nossa atenção ”, escrevem os autores – Lev Muchnik, Si- nan Aral e Sean Taylor, respectivamente, da Universidade Hebraica de Jerusalém, do MIT e da Universidade de Nova York. Eles usaram um site agregador de no- tícias como laboratório. O serviço ofe- rece, aos leitores, a possibilidade de dar uma nota positiva ou negativa aos co- mentários publicados pelos demais. No experimento, um conjunto de mais de 100 mil comentários foi dividido, alea- toriamente, em três grupos. Num deles, todos receberam um ponto positivo, in- dependentemente de sua qualidade in- trínseca; em outro, um ponto negativo. O terceiro grupo foi mantido intocado, como controle. A análise da evolução dos comentários mostrou que os que receberam o ponto positivo aleatório chegaram, ao fim de cinco meses, a um escore médio 25% su- perior aos do grupo de controle. Curio- samente, os que receberam o ponto ne- gativo aleatório tiveram o efeito deletério neutralizado: os usuários do site corrigi- ram, com seus votos, a manipulação ne- gativa, enquanto que a positiva foi, não corrigida, mas amplificada. “Nossos resultados demonstram que, enquanto a influência social positiva se acumula, criando uma tendência de bo- lhas nos rankings, a influência social ne- gativa é neutralizada pela correção das multidões”, concluem os autores. Mosquito do gênero Anopheles, transmissor da malária Reprodução/CDC Evolução parece premiar quem coopera Traição e perfídia são estratégias conde- nadas ao fracasso – no longo prazo. A con- clusão, que pode produzir alguns suspiros de alívio (ao menos em quem não for cínico o bastante para se lembrar da frase de John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”), aparece não num trabalho de filosofia, mas de biologia evolutiva, pu- blicado em 1° de agosto no periódico online Nature Communications, do grupo Nature. Os autores, da Universidade Estadual de Michi- gan, debruçaram-se sobre um surpreenden- te resultado da Teoria dos Jogos, divulgado em 2012. O teorema apresentado ano passa- do demonstrava a existência de uma família de estratégias bem-sucedidas, baseadas em traição e extorsão, para o jogo conhecido como Dilema do Prisioneiro. Esse Dilema é usado como modelo sim- plificado para o estudo de diversos tipos de interação, seja entre pessoas ou, até, espé- cies em ecossistemas. O problema costuma ser formulado em termos de “cooperação” e “deserção”. Se um dos parceiros coope- ra e o outro deserta, o desertor recebe um grande prêmio e o cooperador fica sem nada. Se ambos cooperam, os dois rece- bem uma recompensa modesta. Se ambos desertam, ninguém leva nada. Durante dé- cadas, acreditou-se que, se o jogo é jogado consecutivamente, um grande número de vezes, a cooperação mútua caba sendo a melhor solução. No ano passado, no entanto, os físicos Freeman Dyson e William H. Press apresen- taram uma prova de que existem inúmeras outras soluções – conhecidas pelo nome coletivo de “Estratégias de Determinante Zero” – que permitem que um dos partici- pantes domine o jogo, sonegando ou extor- quindo parte do prêmio do outro, sem que o jogador prejudicado possa reagir: em termos de premiação, para a vítima não ceder à es- tratégia de Determinante Zero é ainda pior do que submeter-se a ela. Agora, porém, Christoph Adami e Arend Hintze escrevem que essas estratégias são insustentáveis num cenário regido pela evo- lução biológica. “Descobrimos que a evolu- ção vai castigá-lo, se você for egoísta e mes- quinho”, disse Adami, em nota divulgada por sua universidade. A chave para o fracasso, no longo prazo, das estratégias de Determinante Zero é a existência de uma população diversificada de jogadores, a possibilidade de comunica- ção entre eles – o que permite identificar, e evitar, trapaceiros – e os mecanismos natu- rais de mutação e seleção. Estratégias ex- torsivas “não são estáveis numa população capaz de se adaptar”, escrevem os autores. Empresa produz etanol de lixo nos EUA A relação entre biocombustíveis, meio ambiente e alimentação é complexa, com vários órgãos internacionais advertindo que, na África e em países do Oriente, as lavouras plantadas para produzir combus- tível estão causando perda de segurança alimentar ou avançando sobre áreas de mata nativa que deveriam ser preservadas. Uma possível solução para o problema se- ria a produção de etanol celulósico, gerado a partir de partes das plantas que não são consumidas como alimento. O processo de converter “lixo vegetal” – aparas de madeira ou palha de milho, por exemplo – em álcool é tecnologicamente mais sofisticado que a produção de álcool a partir das partes da planta ricas em amido ou açúcar, e que são exatamente as usadas na alimentação humana. Dar escala comer- cial a esse tipo de operação tem se mostra- do um desafio. No início de agosto, no en- tanto, o jornal The New York Times noticiou que a subsidiária americana de uma com- panhia europeia, a INEOS Bio, conseguiu, pela primeira vez, produzir uma quantida- de comercial de etanol de madeira, e que o produto começa a ser distribuído ainda neste mês. O objetivo da INEOS Bio é também pas- sar a usar lixo urbano como matéria-prima para produzir combustível. Nem todas as formas de felicidade valem a pena A busca do prazer é o caminho da feli- cidade, dizia o filósofo grego Epicuro, que por causa disso ganhou má fama entre as pessoas que não se davam ao trabalho de perguntar o que, exatamente, ele queria dizer com “prazer”, que para ele tinha mais a ver com serenidade de espírito do que com vinho e festa. E “felicidade” também é um conceito vago: costuma-se falar em felicidade eudemônica, que surge quando se encontra um sentido na vida, quando a pessoa se sente produtiva e útil, e felicidade hedônica, que vem da gratifi- cação dos desejos pessoais mais imedia- tos. Pesquisas mostram que os dois tipos de felicidade estão correlacionados, tanto que, em termos de bem-estar psicológico, é difícil definir qual o “melhor”. Mas um estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade da Caro- lina do Norte e da UCLA, publicado no periódico PNAS, indica que, ao menos para as células do corpo humano, a feli- cidade eudemônica é a que vale. Envol- vendo 80 voluntários, que responderam a questionários sobre bem-estar e cede- ram amostras de sangue, a pesquisa des- cobriu que as pessoas com alta felicidade eudemônica e baixa felicidade hedônica têm um sistema imunológico mais sau- dável que as que se encontram no polo oposto. Na verdade, as pessoas com alto nível de felicidade hedônica e baixa feli- cidade eudemônica apresentaram alguns sinais levemente preocupantes, como maior predisposição a inflamações. Então, formas de felicidade menos ego- ístas fazem bem para a saúde, e prazeres egoístas fazem mal? O estudo tem limitações intrínsecas – do tamanho da amostra à metodologia – e, como diz artigo sobre o assunto publicado no blog Babbage, da revista The Economist, mes- mo que o resultado reflita a realidade, na maioria das pessoas os dois efeitos se cancelam: o benefício do prazer eudemô- nico neutraliza o malefício do hedônico. E também é possível que a relação de causa e efeito corra no sentido oposto: talvez pessoas mais saudáveis tenham mais dis- posição para ajudar o próximo. Vacina contra malária obtém sucesso em teste inicial Uma vacina intravenosa – que preci- sa ser injetada diretamente no sangue do paciente – mostrou-se segura e eficaz contra a malária na primeira fase de um teste clínico, informam pesquisadores americanos em artigo publicado na edi- ção de 8 de agosto da revista Science. O teste envolveu 57 adultos, dos quais 40 receberam doses da vacina, feita com es- porozoítos do parasita Plasmodium falcipa- rum durante um ano. Os demais atuaram como controles. A vacina é feita de esporozoítos – cé- lulas que, normalmente, se desenvol- vem no parasita adulto – enfraquecidos, e preservados por congelamento. Parte dos voluntários recebeu quatro doses da vacina e outra parte, cinco. Os controles não foram vacinados, e todos os grupos sofreram uma infecção controlada por malária. Dos pacientes com cinco doses, nenhum desenvolveu a doença; dos com quatro doses, 30% contraíram malária e, dos controles, 80%. Exames mostra- ram que a reação do sistema imunológi- co, entre os vacinados, foi proporcional à dose aplicada. Os pacientes toleraram bem a vacina, afirmam os autores. Mais estudos ainda precisam ser re- alizados para, entre outras coisas, de- terminar a duração da imunização, e em busca de uma forma de aplicação mais amigável que a injeção intravenosa. Campinas, 12 a 18 de agosto de 2013 2 TELESCÓPIO CARLOS ORSI [email protected]

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UNICAMP – Universidade Estadual de CampinasReitor José Tadeu JorgeCoordenador-Geral Alvaro Penteado CróstaPró-reitora de Desenvolvimento Universitário Teresa Dib Zambon AtvarsPró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários João Frederico da Costa Azevedo MeyerPró-reitora de Pesquisa Gláucia Maria PastorePró-reitora de Pós-Graduação Ítala Maria Loffredo D’OttavianoPró-reitor de Graduação Luís Alberto MagnaChefe de Gabinete Paulo Cesar Montagner

Elaborado pela Assessoria de Imprensa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Periodicidade semanal. Correspondência e sugestões Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, CEP 13081-970, Campinas-SP. Telefones (019) 3521-5108, 3521-5109, 3521-5111. Site http://www.unicamp.br/ju e-mail [email protected]. Twitter http://twitter.com/jornaldaunicamp Assessor Chefe Clayton Levy Editor Álvaro Kassab Chefi a de reportagem Raquel do Carmo Santos Reportagem Alessandro Silva, Carlos Orsi, Carmo Gallo Netto, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Maria Alice da Cruz, Manuel Alves Filho, Patrícia Lauretti e Silvio Anunciação Fotos Antoninho Perri e Antonio Scarpinetti Editor de Arte Luis Paulo Editoração André da Silva Vieira Vida Acadêmica Hélio Costa Júnior Atendimento à imprensa Ronei Thezolin, Patrícia Lauretti, Gabriela Villen e Valerio Freire Paiva Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon e Everaldo Silva Impressão Triunfal Gráfica e Editora: (018) 3322-5775 Publicidade JCPR Publicidade e Propaganda: (019) 3327-0894. Assine o jornal on line: www.unicamp.br/assineju

Estudo vê risco de ‘efeitomanada’ em redes sociais

Instrumentos online que permitem agregar a opinião de um grande número de pessoas – como o botão “curtir” do Facebook, ou os rankings de estrelas em livrarias e outros tipos de comércio na in-ternet – muitas vezes são saudados como ferramentas que extraem informação útil e relevante da chamada “sabedoria das multidões”, mas um artigo publicado na edição de 8 de agosto da revista Science sugere que esses resultados podem ser facilmente manipulados, destruindo o “saber coletivo” que poderiam transmitir.

“Usamos avaliações feitas por outros para tomar decisões sobre quais hotéis, li-vros, filmes, políticos, notícias, comentá-rios e narrativas merecem nossa atenção ”, escrevem os autores – Lev Muchnik, Si-nan Aral e Sean Taylor, respectivamente, da Universidade Hebraica de Jerusalém, do MIT e da Universidade de Nova York.

Eles usaram um site agregador de no-tícias como laboratório. O serviço ofe-rece, aos leitores, a possibilidade de dar uma nota positiva ou negativa aos co-mentários publicados pelos demais. No experimento, um conjunto de mais de 100 mil comentários foi dividido, alea-toriamente, em três grupos. Num deles, todos receberam um ponto positivo, in-dependentemente de sua qualidade in-trínseca; em outro, um ponto negativo. O terceiro grupo foi mantido intocado, como controle.

A análise da evolução dos comentários mostrou que os que receberam o ponto positivo aleatório chegaram, ao fim de cinco meses, a um escore médio 25% su-perior aos do grupo de controle. Curio-samente, os que receberam o ponto ne-gativo aleatório tiveram o efeito deletério neutralizado: os usuários do site corrigi-ram, com seus votos, a manipulação ne-gativa, enquanto que a positiva foi, não corrigida, mas amplificada.

“Nossos resultados demonstram que, enquanto a influência social positiva se acumula, criando uma tendência de bo-lhas nos rankings, a influência social ne-gativa é neutralizada pela correção das multidões”, concluem os autores.

Mosquito do gênero Anopheles, transmissor da malária

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Evolução parece premiar quem coopera

Traição e perfídia são estratégias conde-nadas ao fracasso – no longo prazo. A con-clusão, que pode produzir alguns suspiros de alívio (ao menos em quem não for cínico o bastante para se lembrar da frase de John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”), aparece não num trabalho de filosofia, mas de biologia evolutiva, pu-blicado em 1° de agosto no periódico online Nature Communications, do grupo Nature. Os autores, da Universidade Estadual de Michi-gan, debruçaram-se sobre um surpreenden-te resultado da Teoria dos Jogos, divulgado em 2012. O teorema apresentado ano passa-do demonstrava a existência de uma família de estratégias bem-sucedidas, baseadas em traição e extorsão, para o jogo conhecido como Dilema do Prisioneiro.

Esse Dilema é usado como modelo sim-plificado para o estudo de diversos tipos de interação, seja entre pessoas ou, até, espé-cies em ecossistemas. O problema costuma ser formulado em termos de “cooperação” e “deserção”. Se um dos parceiros coope-ra e o outro deserta, o desertor recebe um grande prêmio e o cooperador fica sem nada. Se ambos cooperam, os dois rece-bem uma recompensa modesta. Se ambos desertam, ninguém leva nada. Durante dé-cadas, acreditou-se que, se o jogo é jogado consecutivamente, um grande número de vezes, a cooperação mútua caba sendo a melhor solução.

No ano passado, no entanto, os físicos Freeman Dyson e William H. Press apresen-taram uma prova de que existem inúmeras outras soluções – conhecidas pelo nome coletivo de “Estratégias de Determinante Zero” – que permitem que um dos partici-pantes domine o jogo, sonegando ou extor-quindo parte do prêmio do outro, sem que o jogador prejudicado possa reagir: em termos de premiação, para a vítima não ceder à es-tratégia de Determinante Zero é ainda pior do que submeter-se a ela.

Agora, porém, Christoph Adami e Arend Hintze escrevem que essas estratégias são insustentáveis num cenário regido pela evo-lução biológica. “Descobrimos que a evolu-ção vai castigá-lo, se você for egoísta e mes-quinho”, disse Adami, em nota divulgada por sua universidade.

A chave para o fracasso, no longo prazo, das estratégias de Determinante Zero é a existência de uma população diversificada de jogadores, a possibilidade de comunica-ção entre eles – o que permite identificar, e evitar, trapaceiros – e os mecanismos natu-rais de mutação e seleção. Estratégias ex-torsivas “não são estáveis numa população capaz de se adaptar”, escrevem os autores.

Empresa produz etanol de lixo nos EUA

A relação entre biocombustíveis, meio ambiente e alimentação é complexa, com vários órgãos internacionais advertindo que, na África e em países do Oriente, as lavouras plantadas para produzir combus-tível estão causando perda de segurança alimentar ou avançando sobre áreas de mata nativa que deveriam ser preservadas. Uma possível solução para o problema se-ria a produção de etanol celulósico, gerado a partir de partes das plantas que não são consumidas como alimento.

O processo de converter “lixo vegetal” – aparas de madeira ou palha de milho, por exemplo – em álcool é tecnologicamente mais sofisticado que a produção de álcool a

partir das partes da planta ricas em amido ou açúcar, e que são exatamente as usadas na alimentação humana. Dar escala comer-cial a esse tipo de operação tem se mostra-do um desafio. No início de agosto, no en-tanto, o jornal The New York Times noticiou que a subsidiária americana de uma com-panhia europeia, a INEOS Bio, conseguiu, pela primeira vez, produzir uma quantida-de comercial de etanol de madeira, e que o produto começa a ser distribuído ainda neste mês.

O objetivo da INEOS Bio é também pas-sar a usar lixo urbano como matéria-prima para produzir combustível.

Nem todas as formas de felicidade valem a pena

A busca do prazer é o caminho da feli-cidade, dizia o filósofo grego Epicuro, que por causa disso ganhou má fama entre as pessoas que não se davam ao trabalho de perguntar o que, exatamente, ele queria dizer com “prazer”, que para ele tinha mais a ver com serenidade de espírito do que com vinho e festa. E “felicidade” também é um conceito vago: costuma-se falar em felicidade eudemônica, que surge quando se encontra um sentido na vida, quando a pessoa se sente produtiva e útil, e felicidade hedônica, que vem da gratifi-cação dos desejos pessoais mais imedia-tos. Pesquisas mostram que os dois tipos de felicidade estão correlacionados, tanto que, em termos de bem-estar psicológico, é difícil definir qual o “melhor”.

Mas um estudo recente, realizado por pesquisadores da Universidade da Caro-lina do Norte e da UCLA, publicado no periódico PNAS, indica que, ao menos para as células do corpo humano, a feli-cidade eudemônica é a que vale. Envol-vendo 80 voluntários, que responderam a questionários sobre bem-estar e cede-ram amostras de sangue, a pesquisa des-cobriu que as pessoas com alta felicidade eudemônica e baixa felicidade hedônica têm um sistema imunológico mais sau-dável que as que se encontram no polo oposto. Na verdade, as pessoas com alto nível de felicidade hedônica e baixa feli-cidade eudemônica apresentaram alguns sinais levemente preocupantes, como maior predisposição a inflamações.

Então, formas de felicidade menos ego-ístas fazem bem para a saúde, e

prazeres egoístas fazem mal? O estudo tem limitações intrínsecas – do tamanho da amostra à metodologia – e, como diz artigo sobre o assunto publicado no blog Babbage, da revista The Economist, mes-mo que o resultado reflita a realidade, na maioria das pessoas os dois efeitos se cancelam: o benefício do prazer eudemô-nico neutraliza o malefício do hedônico. E também é possível que a relação de causa e efeito corra no sentido oposto: talvez pessoas mais saudáveis tenham mais dis-posição para ajudar o próximo.

Vacina contra malária obtém sucesso em teste inicial

Uma vacina intravenosa – que preci-sa ser injetada diretamente no sangue do paciente – mostrou-se segura e eficaz contra a malária na primeira fase de um teste clínico, informam pesquisadores americanos em artigo publicado na edi-ção de 8 de agosto da revista Science. O teste envolveu 57 adultos, dos quais 40 receberam doses da vacina, feita com es-porozoítos do parasita Plasmodium falcipa-rum durante um ano. Os demais atuaram como controles.

A vacina é feita de esporozoítos – cé-lulas que, normalmente, se desenvol-vem no parasita adulto – enfraquecidos, e preservados por congelamento. Parte dos voluntários recebeu quatro doses da vacina e outra parte, cinco. Os controles não foram vacinados, e todos os grupos sofreram uma infecção controlada por malária. Dos pacientes com cinco doses, nenhum desenvolveu a doença; dos com quatro doses, 30% contraíram malária e, dos controles, 80%. Exames mostra-ram que a reação do sistema imunológi-co, entre os vacinados, foi proporcional à dose aplicada. Os pacientes toleraram bem a vacina, afirmam os autores.

Mais estudos ainda precisam ser re-alizados para, entre outras coisas, de-terminar a duração da imunização, e em busca de uma forma de aplicação mais amigável que a injeção intravenosa.

Campinas, 12 a 18 de agosto de 20132TELESCÓPIOCARLOS ORSI

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