Campus 384

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ano 42 edição 384 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | De 12 de junho a 18 de 2012 depois dos 40 ADOTAR DESÁGUAM p SUS Abortos no OLÍTICA on-line ESTRANGEIRAS, MÃES E PRESAS Mulheres mulas do tráfico internacional sofrem com saudade da família e falta de assistência jurídica no DF

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Nona edição de 2012. Capa (matéria de primeira página) publica os casos de mulheres estrangeiras, vítimas do tráfico internacional, que vivem presas no DF. Página seguinte aborda a situação dos abortos ilegais que acabam concluídos na rede pública de saúde. Logo depois, na 5, matéria expõe crescimento no número de pessoas acima dos 40 anos interessadas em adotar crianças. Greve volta a ser pauta do jornal, mas desta vez o destaque vira o engajamento estudantil - estudantes e professores se unem pelo plano de carreira. A reportagem também fala dos que não concordam com a suspensão das aulas. Na página 7, o assunto são as redes sociais criadas por partidos políticos. Virando a folha, o perfil fecha com chave de ouro a última edição da Turma A (absolutamente feminina) no jornal-laboratório. Os dragões da independência, que protegem os Palácios do Planalto e da Alvorada, mexem com o imaginário social, principalmente das mulheres.

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ano

42 edição

384CAMPUSJornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | De 12 de junho a 18 de 2012

depois dos

40AdotAr

DESÁGUAM

p

SUS

Abortos

no

OLÍTICAon-line

ESTRANGEIRAS, MÃES E PRESASMulheres mulas do tráfico internacional sofrem com saudade da família e falta de assistência jurídica no DF

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CAMPUS | Brasília, de 12 de junho a 18 de junho de 20122

Editora-chefe Isabela MaiaSecretária de Redação Paloma SuertegarayDiretora de Arte Maíra Nunes Projeto Gráfico Carolina Pereira, Ellen Rocha,Luisa Bravo, Mariana Capelo, Patrick Cassimiroe Thiago LimaJornalista José Luiz Silva Professores Sergio de Sá e Solano NascimentoISSN 2237-1850Brasília/DF - Campus Darcy Ribeiro Faculdade de Comunicação - ICC Ala NorteCEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501E-mail [email protected]áfica Plano PilotoTiragem 4 mil exemplares

por | ISABELA MAIA

por | PEDRO AUGUSTO CORREIA

A lei Anti-Bullying foi sancionada pelo go-vernador Agnelo Queiroz no último dia 22, em mais uma demonstração de sua preocupação com a Educação do DF. A lei pretende combater a prática de bullying nas escolas, conscientizan-do pais e alunos e, claro, punindo o responsável.

As denúncias podem ser feitas, por qualquer mãe histérica, tanto à direção da escola, quanto a Secretaria da Educação, ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público ou à própria Polícia Civil. A escola é a responsável por tomar as “providências cabíveis”. Quais são elas e quem as fiscalizará ninguém sabe, já que a lei não diz. Também não prevê quais as punições e quem as aplicará no caso de a escola não cumprir o seu papel.

De boas intenções, Brasília está cheia. A Lei ainda prevê a capacitação dos professores para lidar com esse tipo de situação. E nós já bem sa-bemos que os professores são muitíssissimo bem valorizados aqui. Será que o brasiliense ainda se lembra da greve de 52 dias do magistério? Vocês devem se lembrar do engarrafamento, vai.

Uma pesquisa da Federal de São Carlos apon-ta que 70% das crianças que praticam bullying apanham em casa. Qual será a punição cabível a tais pestes? Talvez devêssemos nos preocupar mais em cumprir e fazer cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente do que em criar leis que pouco dizem e nada resolvem.

colunista fictício criado para ironizar situações cotidianas

ACESSE O CAMPUS ONLINEWWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE

OpiniãoEstudantes secundaristas brasileiros começaram a

contagem regressiva para encarar o temido vestibular, ou, na maior parte do Brasil, o Exame Nacional do En-sino Médio (Enem). Cerca de 70 universidades públi-cas (incluindo a Universidade de Brasília) já utilizam a prova como forma de seleção, com variados critérios. Apesar das já conhecidas dificuldades, a UnB está a poucos passos de substituir o vestibular pelo Enem. A ideia é que somente o PAS permaneça como entrada alternativa, para alunos do ensino médio. Como qual-quer grande mudança, a proposta causa polêmica.

Não é surpresa que os vestibulandos sejam contra. Na fase em que estão, qualquer mudança pode rom-per o tênue equilíbrio. Eles temem, principalmente, o aumento da concorrência. No entanto, a ideia de um vestibular integrado entre universidades públicas, es-pecialmente as federais, precisa ser levada mais a sério. Pelo Estado e pelas instituições. É no mínimo justo que um candidato de Roraima possa, de sua cidade, concorrer a uma vaga na UnB. Assim como é justo que

um brasiliense preencha uma vaga na Universidade Fe-deral do Piauí. Todos os estados contribuem para as federais, e elas são, portanto, de todos.

Um exame integrado como o Enem também traz à tona o problema da desigualdade. E por isso mesmo deve ser valorizado. Enquanto algumas universidades se apressaram em aderir ao exame, outras puderam se dar “ao luxo” de dispensar o incentivo federal (lê-se: aumento de verba) para fazê-lo. Enquanto isso, alunos que não passavam em seus estados conseguiram ingres-sar em universidades públicas menos “prestigiadas”, ta-manha a diferença do ensino de um estado para outro. Essa desigualdade precisa acabar, e o Enem pode (e deve!) funcionar como forma de pressão.

Claro, a UnB não precisa aderir ao Enem na próxima oportunidade. O exame ainda tem falhas que precisam ser corrigidas. Mas essa não é uma decisão que pode ser adiada infinitamente. Uma das maiores universidades do país deve isso aos vestibulandos, e, principalmente, a todo o Brasil.

Ombudsman*

Memória

Os problemas da edição 383 do Campus começam logo na capa. É preciso escrever chamadas menos genéricas e que cumpram a função de capturar a atenção dos leitores. Já na página 2, a Opinião é confusa, faz muitos rodeios e não consegue construir um pensamento inteligível. O editor-chefe parece ter esquecido que essa coluna também deve ser jornalismo. O texto acabou se tornando um festival de afirmações sem fundamento. Pelo menos a coluna Fala, Rovérsio encontrou um estilo textual que condiz com a proposta do espaço.

O Campus acertou ao fazer a cobertura da greve das universidades federais. Afinal, o assunto é de grande interesse para o maior leitor do jornal, o aluno da UnB. A reportagem Paralisação nas universidades federais cumpre o dever de bem informar ao explicar as razões do movimento, o que não foi visto na “grande imprensa”.

Em Aqui nessa mesa de bar, apesar do assunto cativante, é difícil perceber o propósito da reportagem. Faltou um relato mais aprofundado, que fizesse o

leitor entender o que há de tão especial na bebedeira universitária.

Mesmo com quatro pessoas envolvidas na confecção e edição da matéria Trabalhar na UnB, mas não para ela, o texto possui informações mal explicadas e problemas de revisão. Esse espaço não é suficiente para relatar todas as perguntas que ficaram na cabeça dos leitores ao final da reportagem.

Assuntos sem ineditismo precisam de uma abordagem diferenciada para gerar interesse. Do topo da estante ao centro do grupo passa longe disso. O leitor vai se cansar das aspas clichês sobre a importância da leitura.

Por fim, o perfilado dessa edição merecia ter sido mais bem tratado. Talvez seja uma pessoa interessante, mas a reportagem não foi capaz de transmitir isso. Por mais que o Campus seja um espaço de aprendizagem, os erros de português não serão perdoados pelo leitor.

* Termo sueco que significa “provedor de justiça”, o ombudsman discute a produção dos jornalistas a partir da perspectiva do leitor

No suplemento da edição 169 do Campus, de outubro de 1992, o jornal-laboratório foi à cadeia. Longe de citar apenas os já conhecidos problemas, as reportagens surpre-endem por mostrar uma penitenciária de Brasília, a Papuda, com padrões bem diferentes dos nacionais, dos quais o Ban-gu I e Carandiru eram os piores exemplos. O número de presos era menor que a capacidade total, “privilégio” já bas-tante raro na década de 90, e os agentes do Distrito Federal chegavam a ganhar três vezes mais que os de São Paulo.

Na ala feminina, a situação seguia o mesmo padrão. A Papuda abrigava todas as condenadas do DF. Havia 60 de-tentas ocupando as celas coletivas, com capacidade para 70 pessoas, e tinham locais especiais para encontros íntimos, cantina e ambulatório, além de um local para lactantes.

Apesar disso, as presidiárias tinham poucas expectativas para quando saíssem da prisão. Algumas sonhavam em con-

seguir um emprego, enquanto outras tinham certeza apenas da discriminação que estava por vir. “Quando a gente sair, vai ser rejeitada pela sociedade”, desabafou uma das detentas.

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Mãe

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reportagem | FABIANE GUIMARÃESdiagramação | MAÍRA NUNESedição| LAURA VERIDIANA

Justiça

Número de estrangeiras presas no tráfico internacional quadruplicou em sete anos. Em Brasília, elas se ressentem da falta de ajuda jurídica e de contato com a família

e

Pela televisão da Penitenciária Feminina do Dis-trito Federal, popularmente conhecida como Colmeia, a italiana Mônica Sassi assistiu perple-xa à notícia dos recentes terremotos que atingi-

ram seu país. As regiões que sofreram o abalo são vizi-nhas a sua cidade natal, onde moram seus dois filhos e netos. Desesperada, ela ainda não sabe se eles estão bem. Há um ano e dez meses, Mônica foi presa no Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek portando quatro quilos de cocaína escondidos em baterias Dura-cell. A italiana aceitou fazer parte do tráfico internacional depois de perder, em um único acidente, os pais, o mari-do e o filho mais novo, de seis meses – além do emprego em uma cafeteria. A família que lhe restou não a perdoa. Ela mesma não se perdoa. Com a voz embargada, chora de saudades. “Sei que errei”, desabafa em um português perfeito, aprendido dentro da prisão e nos livros de Zibia Gasparetto pelos quais ela, de fé muçulmana, se encan-tou. “Mas sou uma mãe, uma avó. Eu preciso pelo menos ouvir a voz dos meus filhos.”

Assim como Mônica Sassi, outras 10 mulheres es-trangeiras cumprem pena por tráfico internacional na Colmeia. Elas foram mulas – o mais baixo degrau no comércio internacional de drogas. Segundo estatísticas

do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, o número de presidiárias de outras nacionalidades quase quadruplicou em sete anos. Foi de 238, em 2005, para 832 em 2011. Cruzamento de da-dos feito pela reportagem do Campus estima que 99% das atuais encarceradas estrangeiras estão presas por trá-fico internacional. De cocaína, na maioria das vezes. O mais recente relatório mundial de drogas elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), de 2011, aponta aumento significativo da participação do Brasil no tráfico internacional enquanto rota dessa droga. Segundo o relatório, em 2009 foi apre-endida na Europa 1,5 tonelada de cocaína que passou por aqui, quatro vezes mais que o registrado em 2005. O Brasil foi o maior país de trânsito de drogas do conti-nente americano.

Para as mulheres do tráfico internacional, a razão para ingressar no crime é a mesma: necessidade. A ONG paulista Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC) mantém um projeto de assistência a essas presidiárias, batizado de Estrangeiras. Luísa Luz, coordenadora do projeto, explica que a maioria delas sai de países com baixa condição sócio-econômica e não tem nenhum antecedente criminal. Além disso, pelo menos 75% são mães. “Essas mulheres têm uma posição de comando na família. Por isso, quando estão em condição de vulnera-bilidade, são aliciadas mais facilmente”, justifica Luísa. Foi exatamente o que aconteceu com Lashawa Amika, uma jovem de 21 anos da Guiana Inglesa, há um ano e seis meses na Colmeia. Mãe de um menino de três anos, Lashawa sustentava a avó e o filho com o dinheiro que ganhava em uma fábrica de embalagens. Após ser demi-tida, não sabia o que fazer para pagar as dívidas e corria o risco de perder a casa onde morava. Foi quando apareceu a oferta, tentadora, de ser mula. Ela carregava a droga escondida em perucas e estojos de maquiagem quando foi presa. Lashawa não quer voltar para o seu país, quer trabalhar no Brasil, diz que sabe fazer unha e cabelo e que gosta de cuidar de criança. Sente vergonha do que fez. “Ninguém da minha família se envolveu com coisa errada antes”, lamenta.

CHOQUE CULTURAL A pena para o tráfico internacional varia de cinco a

15 anos, mas devido à falta de antecedentes criminais as mulheres costumam pegar de dois a quatro. Muitas traba-lham no presídio e ganham redução de pena por isso. Elas também estudam, facilitando o aprendizado do português. Apesar da convivência com o restante das presidiárias ser boa, o choque cultural é inevitável. “Não temos o mesmo pensamento. Aqui é todo mundo muito livre”, comenta a jovem belga Soumaya Imaankaf, de 21 anos, que pratica-mente só conhece o Brasil encarcerado da Colmeia.

As dificuldades que as presidiárias estrangeiras en-frentam são ainda maiores porque, além de não conhe-cerem a língua, elas não têm família para as acolherem em casos de liberação temporária, ou mesmo para enviar roupas e produtos de higiene. Elas dependem da solida-riedade das colegas e de agentes penitenciárias, por quem nutrem carinho. Muitas sequer sabem quanto tempo ain-da têm que cumprir. “Estamos sozinhas. Ninguém fala nada pra nós”, desabafa a espanhola Angelica Pascale Sanchec, enquanto exibe orgulhosa a foto dos dois filhos adolescentes. O apoio das embaixadas é mínimo. Entre as entrevistadas, as únicas que puderam ligar para a famí-lia por intervenção de representantes são de países como Holanda, Espanha e Itália. O juiz titular da Vara de Exe-cuções Penais do Distrito Federal, Ademar Vasconcelos, se diz “sensibilizado” pela situação. “A presidiária fica an-gustiada por não conhecer as leis, os costumes e os usos”, pontua o juiz.

A ajuda vem do Núcleo de Assistência Jurídica do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), que presta orientação judicial gratuita aos presos do DF e que, neste semestre, também começou a atender as estrangeiras. Uti-lizando-se da fluência dos universitários em outras línguas, o Núcleo começa a esclarecer as dúvidas das presidiárias e tenta conseguir benefícios como saídas esporádicas. “A assistência jurídica do país, como um todo, ainda é muito precária”, desabafa o coordenador do projeto, Alexandre Souza. “Por isso, as faculdades tentam suprir a demanda da defensoria pública.” Detentas estrangeiras já começaram a perceber essa precariedade, embora não entendam nada de Direito. A italiana Mônica Sassi, por exemplo, estranha a demora por uma audiência. “Aqui é tudo muito lento.”

Muitas detentas não têm informações precisas sobre a própria situação jurídica. Sabem quando entraram, mas não quando saem

Sem antecedentes criminais e vínculo direto com as drogas, as estrangeiras da Colmeia entraram para o tráfico por necessidade

mulas

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ISABELLA TONHÁ

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Saúde Pública

reportagem | MARIANA CAPELOdiagramação | MAÍRA NUNESedição | ANA PAULA LISBOA

metade

São quase 11 horas da manhã da quinta-feira 31 de maio e a adolescente dorme num canto do Pron-to Socorro do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). Tem cabelos tingidos, unhas feitas,

descansa coberta por uma manta rosa e acabou de viver uma situação assustadora: a mãe lhe introduziu, a força, um remédio abortivo. A violência não deu o resultado esperado e a menina precisou ser acolhida pela emergên-cia do HRAN. A jovem morena que foi forçada a trocar o conforto da sua cama pela maca do HRAN não vai ter assistência especial e sua história será contabilizada como um aborto normal.

Casos de meninas e mulheres que têm alguma com-plicação na tentativa de interromper uma gravidez são ignorados pelos números da saúde pública. Qualquer procedimento abortivo que dá entrada no hospital, seja ele espontâneo ou induzido, é registrado da mesma for-ma. “Muitas mulheres chegam com sangramento e todas são registradas como casos de aborto espontâneo”, expli-ca Avelar de Barbosa, ginecologista do Hospital Mater-no Infantil de Brasília (Hmib). “Entre elas, claro que há casos em que as próprias mulheres induziram o aborto, mas elas também entram na contabilidade de abortos naturais”. Uma dificuldade na contagem dos casos é que, quando o aborto é mal feito, a paciente chega em diver-sas unidades de saúde, não apenas no Hmib, onde são atendidos os casos legais.

Entre as opções da grávida para interromper a ges-tação, as mais comuns são a compra e o uso ilegal do Cytotec (que sujeita a mulher a um duplo risco já que, além das possíveis complicações no processo, o remédio pode ser falso) e a visita a uma clínica clandestina. O pre-ço de cada escolha varia entre R$ 350 e R$ 3 mil – tudo depende do tempo de gestação e do método escolhido. O custo para saúde da mulher pode ser ainda mais alto: hemorragia, septicemia (inflamação uterina causada pela não eliminação de tecido mórbido), lesões, infecções e até esterilidade. Em muitos casos, a mulher paga com a própria vida.

Quando a paciente chega ao hospital, é feita a cureta-gem, a aspiração manual intrauterina ou o parto induzido (quando há morte do feto com mais de 20 semanas). Há casos em que, na hora da curetagem, o médico encontra a pílula abortiva, que é de aplicação transvaginal. Mesmo que a equipe reconheça que o aborto foi induzido, o có-digo de ética médico a proíbe de revelar o fato. A quebra do sigilo tornaria a situação da paciente muito delicada, porque a mulher teria que lidar com a responsabilização criminal do aborto. “Não cabe ao médico ou a qualquer outro profissional de saúde comunicar à polícia ou à Jus-tiça a ocorrência de aborto inseguro, pois a quebra de sigilo irá expor a mulher a um processo criminal”, explica Debora Diniz, antropóloga e professora da UnB.

A decisão de abortar, a ida à clínica, a ingestão do re-médio, o sangramento e a solidão da perda. Nada disso acontece para a saúde pública. Quem chega ao hospital com uma interrupção mal feita não recebe assistência es-pecializada. Mulheres enquadradas em casos de aborto espontâneo não são encaminhadas para um psicólogo ou assistente social. Fazem parte de uma situação que está fora dos protocolos médicos.

CASOS PREVISTOS EM LEIHá três casos em que o aborto é legalizado: quando a

mãe corre risco de morte, quando a gravidez é resultado de estupro e quando o feto é diagnosticado com anence-falia. Os dois primeiros casos estão previstos no Código Penal Brasileiro, o terceiro é resultado de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Em Brasília, o Hmib cuida desses casos: os previstos em lei são atendidos pelo Programa Aborto Legal, o de anencéfalos é responsabili-dade do Núcleo de Saúde Fetal.

pelaInterrupções ilegais da gravidez que geram complicações são concluídas em hospitais da rede pública e registradas como problemas naturais da gestação. Mães não têm assistência especial e estatísticas são distorcidas

Em casos de estupro, vários hospitais oferecem pro-gramas de amparo dentro de uma rede criada pela Se-cretaria de Saúde do Distrito Federal. Cada programa é batizado com o nome de uma flor. No HRAN, há o programa Margarida. O psicólogo Pedro Henrique Du-arte, que atua no hospital, conta que seu trabalho é dar recursos para que a mulher chegue a uma decisão: ter ou não ter o filho. “Fazemos o acompanhamento e, em caso de aborto, encaminhamos a paciente ao Hmib”, explica. Para ser considerado legal, o aborto em caso de estupro precisa ser feito até a 20ª semana de gestação. “Por de-sinformação, muitas mulheres acabam passando da hora de poder decidir o que querem.”

Em 2012, a assistente social do Hmib Marta Cristi-na Tenório, responsável pelo Programa Aborto Legal, já foi procurada por 14 mulheres grávidas de uma violência sexual. Dessas, cinco abortaram. As outras nove não se encaixaram nos requisitos da interrupção e tiveram que dar continuidade à gravidez. Na maioria dos casos, a mãe entrega o bebê à adoção.

Antes de realizar o aborto, a mulher assina um termo no qual descreve a violência sofrida. Quando o hospital desconfia da veracidade do caso, uma equipe do Ministé-rio Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) verifica a história. “Muitas jovens são pressionadas pela mãe e fazem boletins de ocorrência falsos”, conta Marta. Quando as famílias veem a mentira ficar séria, desistem de solicitar o aborto legal. Com um olhar triste, a assis-tente social explica o que pode acontecer depois disso: “Algumas dizem que vão fazer o aborto fora do hospi-tal”. Se der errado, podem acabar voltando.

Prédio de acolhimento de gestantes no Hmib, onde são realizados os abortos legais da cidade

* colaboração | LAÍSA QUEIROZ

Avelar de Barbosa, ginecologista, atende mulheres que vão interromper a gravidez por anencefalia do feto

LAÍSA QUEIROZ

LAÍSA QUEIROZ

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Marina Gagliardi adotou gêmeas de quatro anos. “Resolvi parar de amar embrião e decidi amar gente”

Ele é um presente”, é como Neusa Ribeiro descre-ve Victor, seu filho de seis anos. Após o primeiro casamento, ela pensava que não iria mais ter fi-lhos. Tinha planos de viajar e aproveitar mais seu

tempo quando os dois primeiros já estivessem crescidos. “Mas a gente não é dona da vida”, acrescenta. A vontade de ampliar a família veio quando se casou com Vladimir de Alcântara, que não tinha filhos. Aos 38 anos, Neusa reverteu a laqueadura das tubas uterinas que havia feito e começou um tratamento de fertilização. Paralelamente, entrou na lista para adotar uma criança. “Eu já sabia que meu filho viria de outra maneira que não a biológica”, explica Neusa. Após três anos de espera, chegou Victor com uma semana de vida.

Nos últimos dez anos, o número de adotantes acima de 40 anos tem crescido. O Cadastro Nacional de Adoção mostra que hoje o maior grupo de pretendentes no Brasil encontra-se entre 41 e 50 anos, somando 39% do total de 27.298 interessados. Esse grupo é composto majoritaria-mente por pessoas solteiras, casais sem filhos e casais em um segundo ou terceiro matrimônio. O fato de a fila de

espera ser demorada contribui para que essa faixa etária seja tão expressiva. No entanto, o dado também revela a existência de novos arranjos familiares. O perfil básico do adotante deixa de ser apenas casal, infértil, entre 30 e 40 anos, e se torna mais amplo.

A experiência de ter um filho aos 41 anos pode ser surpreendente. Neusa pensava que precisaria abrir mão de alguns planos com a chegada do pequeno Victor, mas percebeu que ele poderia ser um grande companheiro. “Ele desconstruiu o que eu achava. Nós viajamos muito juntos. Ele é super tranquilo e tem um conhecimento geral incrí-vel”. Além disso, o menino apresenta à família novos inte-resses. Com seis anos de idade, já se dedica há dois à mú-sica e em breve começará o curso de violoncelo. “Ele tem um ouvido ótimo. Nunca fui muito envolvida com música, mas ele nos motiva a conhecer mais sobre o assunto e a gente vai acompanhando os planos dele”, relata Neusa. É difícil seguir o mesmo pique do filho pequeno. “Minha sorte é que sou uma pessoa muito ativa”, acrescenta.

A psicóloga Soraya Pereira, especializada no atendi-mento de crianças e adolescentes e presidente do grupo de apoio à adoção Aconchego, explica que esses perfis se tornam cada vez mais comuns. “Existem muitos casais de um segundo casamento e nessa faixa etária em busca da adoção. São casais mais velhos que desejam reconstruir a família e geralmente já têm filhos biológicos. Além disso, se desmistificou que é preciso estar casado para ter filhos”. Walter Gomes, supervisor da Seção de Colocação em Fa-mília Substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Distrito Federal, detalha o perfil dos novos adotantes. “As famílias de casais mais velhos já têm mais estabilidade e a criança passa a ser a prioridade”. Outra característica dos pretendentes é a maior flexibilidade em relação ao perfil do adotado. “Eles costumam adotar crianças mais velhas e também grupo de irmãos”, afirma Soraya.

O desejo de adotar tem crescido nos últimos quatro anos. O número de interessados aumentou 60%. “Isso se deve ao maior conhecimento das pessoas em relação ao que é a adoção”, explica Soraya, acrescentando que o Ju-diciário se tornou mais acessível. O tique-taque do relógio biológico deixa de ser um protagonista na decisão de ter filhos. E a escolha das pessoas se torna o mais importante na hora de construir uma família.

“Queria ser mãe. Isso era o mais importante e a adoção era a opção mais sensata”, revela Marina Gagliardi, profes-sora e mãe de duas irmãs gêmeas de quatro anos. Com 36 anos, casada desde os 28 com Rodrigo Wendel dos Santos, Marina faz parte do segundo maior grupo de adotantes,

reportagem | CAROLINA PEREIRA E NATHALE MARTINSdiagramação | MAÍRA NUNESedição | LAURA VERIDIANA

Pessoas com idades entre 41 e 50 anos se tornam o maior grupo de interessados em adotar

na faixa de 31 a 40 anos. Após tentar engravidar fazendo fertilização e sofrer um aborto espontâneo, Marina optou por seguir o caminho da adoção. “Resolvi parar de amar embrião e decidi amar gente.”

A segunda etapa do processo era definir o perfil da criança. “A escolha do perfil foi a parte mais difícil e res-tringi somente a idade em até dois anos. Pensei: é ainda um bebê, então, está bom”, explica. Mas ao frequentar o curso de preparação obrigatório, dado pela Vara da Infân-cia e Juventude, ela descobriu que a criança que ela pro-curava não existia na realidade. Ela decidiu aumentar o perfil para quatro anos de idade e foi então que encontrou as suas filhas. A definição do perfil das crianças pelos pais adotivos exige bastante cuidado. “É preciso conhecer seus limites e estar consciente deles”, alerta Marina.

Existe um número maior de famílias requerentes do que crianças disponíveis para a adoção. Em Brasília, são 144 crianças e adolescentes esperando para serem adota-dos - sendo 67% grupos de irmãos. Na outra ponta, 98% dos 418 requerentes deseja o perfil clássico para adotar: criança abaixo de dois anos, saudável, branca ou morena clara e sem irmãos.

ADOçÃO INDEPENDENTEEm quatro anos dobrou o número de pessoas sol-

teiras interessadas em adotar uma criança. E hoje elas representam 20% do número total de adotantes.

A mudança no perfil do adotante não se restringe a ele, mas é reflexo de um novo conceito de família no qual os laços consanguíneos não são determinantes. “Atualmente se vê com mais naturalidade a construção de uma família não por laços de sangue e sim por esco-lha”, diz Ana Claudia Farranha, professora de Ciências Sociais da Universidade de Brasília e mãe de Maria Ca-rolina, cinco anos.

Ao final do doutorado, Ana Cláudia estava com 36 anos, não tinha um parceiro fixo e já sentia o desejo de ser mãe. Começou a pesquisar sobre adoções e conhe-ceu o grupo de apoio Aconchego. Amadureceu a ideia nos encontros do grupo e decidiu entrar com o processo de adoção. “Na minha estrutura emocional, cabe muito mais adotar do que ter um filho de um namorado qual-quer”, explica.

Maria Carolina chegou com um ano e três meses e se somou à família Farranha, hoje composta por Ana Claudia, Grilo – o cachorro – e a menina. “A adoção não é uma alternativa para quem não pode engravidar, mas uma forma de ter filhos”, destaca Ana Claudia.

Maternidade

A hora certa

Neusa Ribeiro já tinha dois filhos quando se casou com Vladimir de Alcântara e decidiu adotar Victor

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A causa da educação também é nossaEstudantes se juntam aos professores em uma greve por melhores salários e condições de trabalho para os docentes. Quem é contra a suspensão das aulas também se posiciona

reportagem | ANA PAULA LISBOAdiagramação | PAULINA DANIELedição | MARINA DUTRA

Universidade

Desde 24 de maio, Lorena Fernandes participa de reuniões do comando de greve três vezes por semana, passa o tempo livre pintando cartazes e organizando panelaços. Ao contrário do que

se possa pensar, a engajada Lorena não é professora ou servidora. É uma aluna de 25 anos que cursa Serviço So-cial na Universidade de Brasília (UnB). Ela não faz par-te da organização do Diretório Central dos Estudantes (DCE), mas se envolveu no comando de greve, com mais uma centena de alunos, preocupada com o futuro dos profissionais da educação. “Os salários dos educadores são os mais baixos do serviço público. A luta docente é uma luta da educação, por isso, é importante se envolver”, defende.

Professores da Universidade de Brasília (UnB) come-çaram a deixar as salas de aula em 21 de maio. Dos 2.245 docentes, 176 estiveram presentes na assembleia que vo-tou pela suspensão das aulas em 18 de maio. Nos primei-ros dias, estacionamentos, corredores e salas continuavam movimentados. Aos poucos, a UnB se esvaziou. A greve ganhou mais corpo quando 431 alunos aprovaram por unanimidade uma paralisação discente na assembleia de 24 de maio. A decisão, a princípio, não valia por falta de quorum mínimo (1097), mas foi aprovada em um encon-tro de homologação entre 46 Centros Acadêmicos (CAs) e o DCE cinco dias depois.

Há estudantes que reclamam por não se sentirem re-presentados pela decisão da paralisação estudantil. Para esses, Lorena deixa o recado: “Todo posicionamento é bem-vindo nas assembleias, mas, se você não pode sair do computador e gastar seu tempo, não tem chance de dar sua opinião”. A diversidade de ideias fica clara, já que a posição do comando do DCE é contrária ao movimento. O coordenador de assistência estudantil, Mateus Lôbo, considera que o instrumento de greve está sendo banali-zado. “Os professores acabaram de receber um aumento de 4% e merecem ser valorizados, mas o instrumento de greve está sendo usado como a primeira forma de pres-são, em vez da última.”

Para o estudante de Agronomia Caio Batista, 22 anos, a greve estudantil não é válida, por não ser formada por uma classe trabalhista. “Parar de ir às aulas só para apoiar os professores não faz sentido, não há reivindicações. É como se bombeiros fizessem greve para apoiar a greve dos Policias Militares”, explica, indignado. Lucas Bispo, 20 anos, da coordenação do DCE, afirma que há pautas independentes de alunos e professores. “Existe uma re-lação de dependência entre os dois movimentos, mas de independência entre as pautas”, afirma. Estudantes que-rem mais assistência estudantil e 10% do PIB (Produto Interno Bruto) para a educação.

A estudante de Ciências Sociais Gabriella Ferreira, 19 anos, continua vindo à Universidade todos os dias, não tem aulas e acha válida a mobilização de todos pela causa da educação. “As pessoas acham que grevistas são vaga-

bundos, marginais, mas esquecem de que o governo só funciona sob pressão.”

A mobilização dos favoráveis e desfavoráveis ao movi-mento aconteceu de modo intenso. No Departamento de Economia, cerca de cem alunos se reuniram para se posi-cionarem contra a paralisação. Em contrapartida, mais de 60 estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo se juntaram aos professores, em frente ao Ministério do Planejamento, nos dias 28, 29 e 30 de maio para aulas públicas em apoio à causa docente. Reuniões de alunos para debater a greve são cada vez mais frequentes nos CAs e nos departamentos.

GREVE NÃO IDEAL“Esta gestão não apoia repressões violentas contra

quem não quer aderir ao movimento grevista”, esclarece Octávio Torres, coordenador do DCE. Ele ressalta que cada aluno deve ser livre para aderir ou não. Mesmo as-sim, há relatos de panelaços abusivos que invadiram salas de aula na Faculdade de Tecnologia, onde muitos profes-sores continuam trabalhando, e em partes do Instituto Central de Ciências (ICC) Sul. Lorena Fernandes ad-mite que atrapalhar as aulas está na programação do co-mando de greve estudantil. “Queremos fazer panelaços e arrastões pelo Minhocão todos os dias, é uma forma de conscientizar sobre a causa”. Os “arrastões”, porém, in-comodam alguns. “Em vez de bater panelas durante as aulas, que é falta de respeito, por que não vão se mani-festar e fazer panelaço na frente do governo?”, questiona Caio Batista.

Renato Machaim, 21 anos, cursa Ciências Sociais e apoia a greve estudantil, mas tem que continuar indo às aulas. “Todos os meus professores continuam trabalhan-do, se eu faltar por protesto, posso me dar mal”, desabafa. O que acontece com a greve discente, ocorre com a do-cente: a adesão não é total, o movimento se enfraquece e o prejuízo para ambas as partes é maior. “A pior coisa é

a meia greve. A categoria deveria estar realmente unida e decidir por uma greve total ou, então, continuar com as aulas”, critica o estudante de Química Patrick Jorge Santos, 19 anos.

Apesar de concordar com a causa dos educadores, a caloura de Veterinária Fernanda Ferreira se preocupa com o aprendizado: “Os professores vão dar o conteú-do correndo depois”. O estudante de Agronomia Luís Fernando Albernaz, 19 anos, vem todas as semanas à UnB para ter aulas de apenas uma das seis matérias que cursa. Nas próximas férias, ele não vai poder visitar a fa-mília em Minas Gerais como costuma fazer: “Meus pais acham muito ruim, não posso viajar, tenho que continu-ar em Brasília para ter só uma aula”.

Lorena Fernandes (centro) participa de uma das oficinas de confecção de cartazes sobre a greve. “Uma greve nacional é a chance de debater a educação do Brasil como um todo”, almeja a estudante.

“Não pode haver coerção contra quem não quer a greve”, afirma Lucas Bispo, representante do DCE

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que assessora o partido na área de Comunicação. “O principal objetivo da rede social é a interação

entre os militantes, é poder integrá-los. O espaço é um palco de debates”, define a coordenadora de comunica-ção nacional do PRB, Helen Assumpção. O foco na in-tegração de filiados é comum a todas as redes próprias de partidos. Nem sempre esse espaço é aberto para qualquer pessoa. Na Rede10, do PRB, e na RedePV, qualquer ci-dadão brasileiro pode se cadastrar sem mediações. Já na Rede55, do PSD, é necessário que a inscrição do inter-nauta seja aprovada. O veredicto chega por e-mail alguns dias depois do cadastro.

SONDAGENSAs redes sociais dos partidos funcionam de modo

similar aos sites de relacionamento tradicionais. O perfil tem foto, página de recados e bate-papo instantâneo. Há também comunidades separadas, geralmente, por regiões do Brasil. A diferença está nos assuntos de debates que envolvem interesses do partido nas decisões do Congresso Nacional.

Os debates são populares entre os usuários das mídias sociais. Na Rede55 do PSD, houve uma enquete sobre a venda de bebidas alcoólicas em estádios na Copa de 2014. A maioria dos usuários da rede foi contra, mas o Congresso acabou delegando a cada estado a decisão. “Esse foi um teste que fizemos agora. Por enquanto, al-cançamos cerca de dois mil militantes, mas pretendemos alcançar mais de dez mil. Assim, as opiniões terão mais representatividade até mesmo que órgãos de pesquisa nacional”, afirmou ao Campus Guilherme Afif Domin-gos, vice-governador de São Paulo e responsável por dis-

Internet

Aos 29 anos, Rafael Caetano da Silva, farmacêu-tico e professor de química, decidiu ser ativis-ta político. Em março, se filiou a um partido. Desde então, passou a acessar todas as manhãs,

de sua farmácia em Niquelândia (GO), a RedePV, rede social do Partido Verde (PV).

Silva se conecta aos colegas da política brasileira sem sair do interior de Goiás. “Tenho a possibilidade de de-bater com autoridades do partido novas ideias, projetos e leis”, descreve. “Conheci a rede social do PV ao fazer uso do Facebook. Méritos a Mark Zuckerberg. Graças a ele, o mundo se torna cada vez menor.”

“Bem-vindo! Há quatro ações simples para começar a usar a rede: convidar seus amigos para entrar, adicionar conteúdo, escolher uma foto para o perfil e divulgar no seu Twitter.” Estas são as boas-vindas e as recomenda-ções dadas, via e-mail, por três partidos brasileiros que inauguraram as próprias redes sociais.

O último a aderir à moda foi o Partido Republicano Brasileiro (PRB), no dia 9 de maio, seguindo o pioneiro PV e o Partido Social Democrático (PSD). A tendência também influencia a estratégia de comunicação do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) para 2012. “Planejamos lançar a nossa rede social em julho”, garante Ribamar Rodrigues, assessor de Comunicação Nacional da sigla.

No Partido dos Trabalhadores (PT), da atual presidente, as discussões estão inclinadas para revitalização da Comunidade PT, lançada há dois anos só para filiados. “Consideramos a criação de uma rede social exclusiva interessante. Estamos estudando com a direção do PT, mas ainda sem prazos para lançarmos uma”, conta o deputado Geraldo Magela (PT-DF),

seminar a rede social do PSD nos demais estados.Para o PSD, as redes tradicionais como Twitter e

Facebook funcionam como propagadoras do resultado de debates políticos que ocorrem dentro das redes exclusivas. O PT também assegura que continuará investindo nos perfis de sites de relacionamento já existentes, mesmo tendo a rede social própria no plano anual de comunicação. A visão do PV segue a mesma orientação. “Mesmo com Twitter e Facebook, nós não pensamos em acabar com a RedePV, pois são ferramentas diferentes”, afirma José Carlos Lima, diretor de Comunicação do PV.

Na contramão da tendência, o Partido Democrático Trabalhista (PDT) desistiu, há um ano e meio, da pró-pria rede social, que durou seis meses. “O nome era Rede PDT LB (de Leonel Brizola). Não víamos muito retorno e, como havia um custo para mantê-la, resolvemos parar. Decidimos usar Facebook e Twitter, pois é onde as pes-soas estão”, conta Francisco Leite, do Departamento de Comunicação do partido.

CRÍTICAAos olhos de Luiz Iasbeck, doutor em Semiótica e

professor do mestrado em Comunicação da Universida-de Católica de Brasília, utilizar sites de relacionamento tradicionais é uma opção mais democrática que as redes próprias de partidos. “Essas mídias políticas são lugares de confirmação de uma ideologia, não de ampliação do partido”, afirma Iasbeck. E acrescenta: “As redes parti-dárias tendem ao fanatismo e a serem antidemocráticas porque são feitas de pessoas que compartilham apenas o que têm em comum. Naturalmente, buscam afastar as diferenças”.

Max Stabile, pesquisador do Grupo de Pesquisa em Democracia Digital do Instituto de Ciência Política da UnB, compartilha a opinião. “Impedir o acesso livre é prejudicial porque o partido perde o aspecto 2.0 possibi-litado pela internet, que é o processo de colaboração múl-tipla para decisões políticas”, defende Stabile. Segundo o pesquisador, explorar ferramentas abertas como Twitter e Facebook é mais eficaz para alcançar o público jovem e engajar filiados.

virtuaisPartidos criam redes sociais próprias para divulgar decisões e aumentar a popularidade.

Modelo de funcionamento é o do Facebook

reportagem | ELLEN ROCHA E LAÍS MENDES diagramação | PAULINA DANIELedição | ANA PAULA LISBOA

Rede10 do PRBEndereço: rede.prb10.org.brLançamento: Maio de 20121.023 usuáriosLayout semelhante ao do Facebook em cores e ordem das informaçõesDiferencial: Há destaque para notícias do site e do blog do partido na página inicial

Rede PDT LBEndereço inativo: jspdtbrasil.ning.comLançamento: Meados de 2010Teve mil usuáriosLayout baseado em blogDiferencial: Durou seis meses e era voltada para os membros da Juventude PDT

SOCIAIS PARTIDÁRIAS

Rede do PMDBLançamento: previsto para julho Diferencial: É o maior partido brasileiro em número de filiados, o que deve fazer da PMDB15 a maior rede política on-line

Rede PVEndereço: redepv.ning.comLançamento: Abril de 20094.686 usuáriosLayout ultrapassadoDiferencial: Grupos de debate variados, como Juventude do PV e Brasil Sustentável

Rede55 do PSDEndereço: rede55.ning.comLançamento: Outubro de 2011 2.048 usuáriosLayout atual com banners e ícones dinâmicosDiferencial: O partido divulga a rede com seminários de lançamento nas

ELLEN ROCHA

capitais

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No Palácio do Planalto, eles chamam atenção pela imobilidade e a farda suntuosa. Os en-cantos femininos (e atrevidos) não desviam seus olhares. As caretas das crianças não

abrem seus sorrisos. O frio não os faz tremer. Os Dra-gões da Independência estão lá, parados e comporta-dos, dia após dia protegendo o Palácio do Planalto e o Palácio da Alvorada. A guarda militar mais tradicional do país já presenciou a Independência, as guerras da Cisplatina e de Canudos e as principais revoluções do Brasil. Tiradentes foi um dragão e Figueiredo, último presidente da ditadura militar, foi comandante do 1º Regimento de Cavalaria de Guardas (1º RCG), nome oficial dos Dragões.

A guarda foi criada ainda em 1808, para manter as tropas francesas afastadas do território brasileiro e da própria família real, que havia fugido para o Brasil do bloqueio continental de Napoleão Bonaparte. Na épo-ca, havia apenas um esquadrão de cavalaria no país, que era mais empregado em missões de polícia e guar-da do que como forças de combate. D. João fundou então o 1º RCG. O nome Dragões da Independência veio só em 1916, quando um deputado resolveu resga-tar as tradições militares. O significado do termo dra-gão é incerto e remonta do século XVI, para se referir aos soldados que combatiam a pé e se deslocavam a cavalo na França.

Mais de 200 anos depois de sua criação, os Dragões ocupam em Brasília o maior quartel militar do país e um dos maiores da América Latina. Entre as baias para os 400 cavalos do 1º RCG e os extensos campos de pólo, os 1,6 mil dragões treinam intensamente das

reportagem | MARINA DUTRAdiagramação | PAULINA DANIELedição| LAURA VERIDIANA

8h às 17h. Os soldados são maioria entre os Dragões. São

jovens entre 18 e 24 anos que ingressam no regimento através do alistamento militar e acabam ficando. Após um ano de serviço obrigatório, o soldado tem a opção de ficar ou não. “É questão de merecimento, os melho-res acabam ficando”, explica o Yohrano Gomes Vieira, 24 anos, o tenente Vieira do 1º RCG. A distância de casa – a maioria é de fora de Brasília – e o pesado treinamento militar fazem muitos jovens largarem o posto. Dos 525 jovens incorporados em 2011, só 196 permaneceram no quartel.

Ao todo, 41 dragões fazem a proteção dos palácios: um tenente, três sargentos, três cabos, 33 soldados e um clarim (o corneteiro). Talvez os mais famosos se-jam os que fazem a proteção no topo da rampa do Pa-lácio do Planalto. Os soldados ficam imóveis durante duas horas, descansam quatro e voltam ao posto por

mais duas. Rotina que vai das oito horas da manhã até o mesmo horário do dia seguinte. “Para relaxar os músculos só podemos mexer os dedos dos pés. De vez em quando, se não tiver muita gente olhando, também mexemos a mão”, conta o soldado Kelvin Jo-hnson Pereira da Silva, um dos poucos brasilienses do regimento.

O que nem todo mun-do sabe é que, junto com os soldados da rampa, existe sempre um outro na

se afastam. “A nossa função é de contenção. Ataque só em último caso”, esclarece Boechat.

perfilDRAGÕES

De Dom João a Dilma

função de Relações Públicas (RP). É ele quem expli-ca ao público a função dos dragões, fica de olho para ninguém subir na rampa, protege e auxilia os solda-dos durante situações problemáticas. “Certa vez, no Alvorada, uma mulher pulou no espelho d’água, caiu, continuou atravessando e chegou ao Palácio dizendo que recebeu uma missão de rezar no local para salvar a humanidade. Ela acabou presa”, lembra rindo o te-nente Luiz Ricardo Boechat Santos, 27 anos. “Estão sempre tentando nos fazer rir, mas a gente resiste. O RP é essencial nessas horas”, completa Johnson.

Assédio da mulherada é o que não falta duran-te o serviço. “Elas chegam a mostrar partes íntimas, passam de carro sem blusa, tudo para tirar nossa con-centração”, se diverte o soldado Weslei Emmanuel Se-rafim dos Santos, tocantinense de 21 anos. Se algum engraçadinho subir a rampa ligeiramente, os dragões apontam suas lanças, e geralmente os manifestantes

DA INDEPENDÊNCIA

Durante seis meses, o 1º RCG fica no Palácio do Planalto e, nos meses restantes, passa para o Palácio da Alvorada, revezando com o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP)

Um soldado ganha R$ 967. No limite de sete anos na carreira militar, se virar 3º sargento, recebe R$ 2,2 mil

Cerimônia de troca de bandeiras realizada pelos Dragões no Palácio da Alvorada

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ISABELLA TONHÁ