CAMPUS ANO 40 - Edição 346

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Campus Jornal-laboratório da Universidade de Brasília v Faculdade de Comunicação v www.fac.unb.br Brasília, de 19 a 31 de maio de 2010 ANO 40 - Edição 346 DO LIXÃO URBANO AO Assentados no Núcleo Monjolo, como dona Neca (foto), saíram da Estrutural e agora aguardam regularização e infraestrutura em um lugar onde o desenvolvimento é proibido Universidade minada Levantamento inédito no campus Darcy Ribeiro indica que os crimes de maior recorrência nos últimos dois anos são roubo e estelionato página 3 v BARRACO RURAL v página 7 v v Tupaciguara, a quase Brasília ESPECIAL Klaus Barbosa Mai Dornelles páginas 4 e 5

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DO LIXÃO URBANO AO BARRACO RURAL Assentados no Núcleo Monjolo, como dona Neca (foto), saíram da Estrutural e agora aguardam regularização e infraestrutura em um lugar onde o desenvolvimento é proibido

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CampusJornal-laboratório da Universidade de Brasília v Faculdade de Comunicação v www.fac.unb.br

Brasília, de 19 a 31 de maio de 2010

ANO 40 - Edição 346

DO LIXÃO URBANO AO Assentados no Núcleo Monjolo, como dona Neca (foto), saíram da Estrutural e agora

aguardam regularização e infraestrutura em um lugar onde o desenvolvimento é proibido

Universidade minadaLevantamento inédito no campus Darcy Ribeiro

indica que os crimes de maior recorrência nos

últimos dois anos são roubo e estelionato

página 3v

BARRACO RURAL

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Tupaciguara, a quase BrasíliaESPECIAL

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Opinião

Editor-chefe: Gustavo AguiarEditores: Clara Araújo, Felipe Müller, Felipe Matheus Pineda, Jerônimo Calorio, Mateus Rodrigues, Raio Gomes, Thiago Borges e Vinícius PedreiraRepórteres: Cecília Garcia, Felipe Giacomelli, Flávio Botelho, Lílian Pessoa, Marcela Mattos, Mariane Rodrigues, Milena Barros, Naiara Lemos, Rodrigo Vasconcelos, Thaís Regina e Vivian RodriguesFotógrafos: Gustavo Aguiar, Juliana Figueiredo, Klaus Barbosa, Mai Dornelles, Nayra Thyemi e Thalita CarricoDiagramadores: Gustavo Aguiar, Juliana Figueiredo, Mai Dornelles e Klaus BarbosaProjeto gráfi co: Gustavo Aguiar, Jerônimo Calorio, Juliana Reis, Mateus Rodrigues e Vinicius PedreiraDiretor de arte: Mai DornellesIlustrações: Felipe Matheus Pineda, Lílian Pessoa, Henrique Teles e Marcos MorceMonitora: Juliana ReisProfessores: Sérgio de Sá e Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaSuporte técnico: Pedro FrançaGráfi ca: Palavra Comunicação Tiragem: 4 mil exemplares

Carta do editorComplicar a pauta! Foi essa a ordem para os assun-tos trazidos pelos repórteres à redação. Nesta medida, a terceira edição do Campus revela o que a microcidade de Tupaciguara tem a ver com a história da construção da Capital Federal. Descobrimos que, por muito pouco, Brasília não nasceu comendo pão de queijo às margens do Rio Paranaíba – o nosso Lago Paranoá, só que 40 vezes maior.

Abordamos ainda a segurança da comunidade acadêmi-ca por meio do levantamento de dados sobre os crimes registrados no campus Darcy Ribeiro nos últimos anos. Quem frequenta a UnB está sempre sob alerta. Assal-tos, estelionatos, roubo de veículos e estupros. Os nú-meros não escondem que o ambiente universitário se desvirtuou. Fica a pergunta: como exercer e participar plenamente da universidade se o ambiente nos parece tão hostil e desfavorável? Ainda sobre UnB, vamos falar sobre os últimos acordos da greve e como os “rachas” no movimento ajudaram o fi m da paralisação.

O Campus acompanhou o dia-a-dia de moradores do Núcelo Rural Monjolo, no Recanto das Emas, para des-cobrir como é viver em um assentamento de condições precárias. Conversamos ainda com diferentes gerações de pilotos de kart e F1 formados na capital – a cidade que foi identifi cada como uma das melhores para se for-mar atletas da velocidade automotiva.

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a Para que(m) escrevemos?Mel Bleil Gallo

Quem é o Campus? Para quem – e para o quê - ele é escrito? É o jornal-laboratório da UnB, conjunto de experimenta-ção e liberdade em um universo razoavelmente pré-defi ni-do: uma universidade no Distrito Federal.

É muito interessante escancarar a crise política em Caldas Novas (GO), mas qual sua relação com a crise em que se encontra o DF e – por que não? – a própria UnB? O que podemos tirar da apatia dos caldasnovenses? Talvez tenha faltado contextualização.

Durante a greve da Universidade de Brasília, a comunida-de acadêmica se mobilizou intensamente sobre o proble-ma político aqui enfrentado. Entretanto, a única reporta-gem sobre o assunto no jornal, “Férias só na primavera”, se restringiu à expectativa do fi m – tido como dado – da paralisação. As mudanças no calendário são importantes, mas não menos relevante é o esquecido drama dos servi-

Doentes de passividadeJeronimo Calório

Não é preciso ser atuante da área de saúde para saber que o Distrito Federal sofre de uma preocupante febre, em que-anticorpos e parasitas dos mais variados tipos lutam diaria-mente. É ocupação daqui, manifestações dali. Em um dia es-tão abraçando monumentos, no outro em confronto com a polícia. O cidadão quer saber: de que patologia perecemos?

O vômito é amargo na boca e desagrada. Logo vão procla-mar: “baderneiros!”, “vândalos”, “bando de vagabundos”. Mais que isso, vão criminalizar os ativistas. A mídia vai mos-trar que qualquer coisa que fuja à ordem é ruim. Alguns professores vão dizer que sentem vergonha. Outros pais vão pedir para que os fi lhos fi quem fora disso, que é besteira fi car se arriscando. Assim, todos vão se esquecendo da his-tória e de suas transgressões.

Fazendo um diagnostico mais profundo, percebe-se que o vírus enfraquece o corpo, deixando seu sistema imunoló-gico debilmente passivo. Apesar dessas enfermidades já as-solarem o Brasil há vários anos, parece que ainda não foi criada uma defesa forte e efi ciente. Talvez por uma cultura de opressão, reforçada pelo ranço das velhas elites e seus instrumentos: o coronelismo, a grande mídia, a impunidade e outros sintomas característicos.

Mais! Todos sabem que a reação é natural do corpo, mas acusam-na de ser a causa da doença. Que diagnóstico é esse?

dores com salários cortados ou dos terceirizados sem garantias trabalhistas básicas.

Idem para a reportagem sobre creches. Sensível e bem apurada, fi ca apenas uma dúvida: como fazem nos-sas mães trabalhadoras e estudantes, sem a tal creche extinta em 1978? Por fi m, “Reza que a dor passa” e “Made in Santa Maria” mostram que a notícia também mora ao lado – apesar de essa proximidade ter sido levemente ignorada na seleção de tweets.

Jeronimo Calório é aluno de Jornalismo da UnB e faz parte da equipe do Campus.

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Mel Bleil Gallo é estudante do sétimo semestre de Jor-nalismo da UnB.

v Ombudskivina é o feminino de Ombudsman e tem como função criticar e analisar o conteúdo de um jornal, repre-sentando a voz do leitor.

Char

ge Eu sei o que vocês vão fazer no próximo verãoHenrique Teles

Campus 40 anos

Mito ou realidade? No Campus da segunda quin-zena de outubro de 1984, discutia-se o futuro

da Capital Federal. A matéria indagava se todas as expectativas em torno de Brasília, aos 24 anos, se-riam cumpridas no futuro. Nesta edição, o mito se renova com a revelação de um capítulo pouco co-nhecido na história da construção da cidade.

Envie sua opinião para [email protected]

Será que o verdadeiro criminoso é quem esta nas ruas, de bandeira na mão e gritos na garganta? Ou será quem está nos escritórios, de terno e sussurros aos ouvidos? O verdadeiro agressor é aquele que para o transito na cara e coragem, ou aquele que covardemente quebra ossos com cassetetes?

Ainda existe. Mesmo que ele esteja quase falecendo, ain-da existem anticorpos que lutam pela sobrevivência. Eles gritam, agrupam-se, avançam e resistem. Mesmo que isso signifi que perdas tristes e amargas, processos, hospitali-zados, humilhação moral e psicológica. Como o combate a uma doença deveria ser, eles cumprem ao chamado.

Sim, estamos doentes. Mas para essa enfermidade não existe remédio, apenas tratamento. Não envolve repouso e nem reclusão. Ao contrário, recomendam-se exercícios físicos e mentais diários, com doses de revolta e indigna-ção infi nitas vezes ao dia. Como diria o fi lósofo indiano Jiddu Krishnamurti, “não é demonstração de saúde ser bem ajustado a uma sociedade profundamente doente”.

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Assentamento rural

Naiara LemosThaís Regina

Ao Monjolo, só se chega com muita sorte. Escondido entre o Recanto das Emas e o Gama, o núcleo rural é um misto de cerrado, pasto, casas populares e barracos. Faltam transporte, saneamento básico, luz e água enca-nada. A terra produz mais poeira do que o milho que o GDF ofereceu para os assentados plantarem. “Tem hora que eu até choro de tristeza”, conta Maria Ferreira dos Santos, 60, conhecida como dona Neca. Ela, a fi lha e o genro se mudaram para lá em setembro de 2008. Desde então, moram em um barraco sem banheiro. A família usava um banheiro químico fornecido pelo GDF, mas retirado do Monjolo em janeiro deste ano. Dona Neca apelou para o improviso. “Nós vamos pro mato”, expli-ca ela, envergonhada.

Durante 22 anos, dona Neca morou em uma área inva-dida da Estrutural. Lá, ela e outros chacareiros planta-vam, criavam animais e catavam material reciclável. O lixão era considerado um problema social, urbanístico e ambiental. A partir de 2008, o governo federal e o Banco Mundial investiram US$ 35,1 milhões no Proje-to Integrado Vila Estrutural (Pive). O valor, que hoje seria equivalente a R$ 61,6 milhões, foi destinado a obras de infraestrutura e desenvolvimento para os mo-radores da segunda maior invasão do DF. A Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) en-tendeu que, das 718 famílias a serem removidas, 70 ti-nham “aptidão agrícola”, ou seja, usavam a terra como fonte de renda e subsistência. Essas famílias aceitaram migrar para o Monjolo.

As condições precárias de adaptação seriam provisórias. O que a princípio duraria três meses, se prolonga por quase dois anos. Parte das obras foi embargada porque 13 lotes estão dentro de uma Área de Proteção Perma-nente (APP). Oswaldo Cassemiro, da Gerência de Fis-calização da Seapa, afi rma que a secretaria, responsável pela escolha do terreno, só descobriu a irregularidade depois que a remoção já havia começado. A falta de li-cenciamento ambiental interrompeu a construção de ca-sas, impediu a instalação de redes elétricas e hidráulicas e proibiu o plantio.

“Lá na Estrutural a gente trabalhava. Aqui não tenho em que pegar. Se a gente mora na terra e não pode viver dela, como é que mora num lugar assim?”, queixa-se dona Neca. “A gente ia ter tudo, não teve foi nada. Só sofrimento.” João Carlos Quija-no, coordenador do Brasília Sustentável – programa do GDF responsável pelo Pive – diz que a remoção não foi forçada. “O nível de assistência que nós estamos dando é estupidamente elevado, muito alto. Principalmente, em comparação ao que eles tinham”, argumenta Quijano.

Vida e morte

Ivonete dos Santos Assis, 48 anos, che-gou ao Monjolo em abril de 2008. “Não tinha ninguém nesse meio de mato, eu só via passarinho cantar.” Hoje, ela divide o barraco com o marido, o neto, dois passa-rinhos, três gatos e seis cachorros. A ge-ladeira e a televisão foram levadas recen-temente, em fevereiro, quando o vizinho fez uma gambiarra elétrica. “Antes era só na lamparina. Quando acabava, a gente alumiava de vela. Comida era só carne de sol. Frango, essas coisas, é novidade”. A água usada para beber, cozinhar, lavar e tomar banho chega de caminhão-pipa, de segunda a sexta-feira. O armazenamento em recipientes antigos e mal tampados aumenta os riscos de contaminação.

Há um mês, Ivonete tem banheiro. O marido ergueu a casinha de madeira, com espaço para banho e vaso sanitário.

DECEPÇÃOEx-moradores da Estrutural que hoje vivem em um assentamento do GDF contam como é depender de

lamparina, caminhão-pipa e banheiro químico

“Ele fez a fossa porque ninguém mais aguentava o banheiro químico. Tinha vez que batia o vento e trazia aquele cheiro. Isso quando não derrubava”. E o banho? “A gente enche o balde, pega a caneca e vai banhando. Não é mais no córrego.” Ela ri.

Dores na barriga, coceira e corrimento. Os sintomas apareceram em outubro de 2008, dois meses depois que Maria Apa-recida Alves Pereira, 29, foi assentada no Monjolo. Além do tratamento, para curar a infecção Maria passou a usar um mata-gal, a 200 metros de seu barraco, no lugar do banheiro químico. “Passava um, dois, três, quatro, cinco meses sem limpar [o banheiro]”, lembra a agricultora.

Recuperada, Maria velou o pai. Antônio Alves Pereira morreu porque sofria dos rins – precisava fazer hemodiálise três vezes por semana – e porque, como a fi lha, era assentado do Núcleo Monjo-lo. Para chegar ao ponto de ônibus mais próximo de casa, ele caminhava, lenta-mente, por duas horas. Às vezes, sangra-va durante o percurso.

Diante do sofrimento do pai, Maria ten-tou colocá-lo em uma lista de pacientes que são levados por uma ambulância para fazer a hemodiálise. Ouviu: “Quan-do alguém daqui [da lista] morrer, a gente coloca ele no lugar”. Mas Pereira morreu primeiro. Havia fi cado três semanas com o sangue impuro, sem hemodiálise. v

Ivonete toma banho de balde no banheiro que o marido construiu. Antes, eles se

lavavam no córrego Monjolo

A gente ia ter tudo, não teve

foi nada. Só sofrimento”“A gente ia ter “A gente ia ter A gente ia ter

tudo, não teve “tudo, não teve tudo, não teve

Dona Neca,

assentada do Monjolo

Desde 2008, dona Neca mora em um barraco no Monjolo. Até hoje, espera pelo fim da construção das casas populares do GDF

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NA TERRA PROMETIDA

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A capital

tituição brasileira. Um dos artigos apro-vados era o que defi nia a mudança da ca-pital para “a região central do país”. Os mineiros JK e Israel Pinheiro, deputados federais à época, fi zeram pronunciamen-tos na Câmara defendendo a instalação da capital em seu estado, utilizando o ar-gumento de que o Planalto Central abran-geria áreas de Goiás e Minas Gerais.

Outro deputado mineiro, Benedito Valla-dares, tentou usar da famosa malandra-gem brasileira. Segundo trecho do livro Brasília: memórias da construção, do histo-riador Lourenço Fernando Tamanini, o parlamentar propôs incluir no texto a expressão “região central do país com-preendida entre o rio Paranaíba e o rio Grande”. Para o historiador, era uma “maneira disfarçada de escrever Triân-gulo Mineiro e de não falar em Planalto Central”.

Os goianos não aceitaram tal acréscimo ao texto original da Constituição e con-seguiram fazer com que o trecho perma-necesse inalterado. Por fi m, Israel Pinhei-ro propôs que o impasse fosse resolvido em votação. Por 108 votos a 102, o texto permaneceu sem mudanças, propondo que a nova capital fosse transferida para o Planalto Central. Para os goianos, um passo já havia sido dado para receber a nova capital brasileira. Já entre os minei-ros, o pensamento era o de que haviam perdido a batalha, mas não a guerra.

Missão Polli Coelho

Com a Constituição de 1946 aprovada e promulgada, o então presidente Eurico Gaspar Dutra criou uma comissão – che-fi ada pelo marechal Djalma Polli Coelho e composta por 11 engenheiros e um mé-dico – para estudar a região demarcada pela Missão Cruls e outras possíveis áre-as, como a de Tupaciguara, que poderiam abrigar a nova capital. Após dois anos de estudos, o grupo começou a escrever o relatório fi nal.

Os engenheiros da comissão favoráveis à região do Triângulo Mineiro argumenta-vam que a área tinha melhor estrutura de transportes, vínculos com áreas do país mais desenvolvidas, condições ideais de

clima e solo fértil. O engenheiro Lucas Lopes chegou a desenhar um novo mapa indicando o quadrilátero na região de Tupaciguara e calculou que a mudança da capital para lá seria mais barata do que para Goiás.

Porém, na contagem fi nal dos votos, a re-gião goiana mais uma vez saiu vencedo-ra. Por uma diferença mínima – seis vo-tos a cinco –, os engenheiros da Missão Polli Coelho consideraram a área mais apropriada do que a de Tupaciguara. Por um voto, o sonho tupaciguariense de ser Brasília não se concretizou.

A cidade que não sabe

“Tupaciguara é assim: uma cidade pra-ticamente sem memória.” As palavras do historiador Muriel Costa de Moura defi nem bem o que a cidade sabe dessa tentativa de reviravolta na mudança da capital federal. Funcionário da Prefeitura Municipal, ele criou e mantém o primei-ro arquivo público da cidade, que tem menos de um ano de existência.

A primeira vez que o assunto veio à tona entre os cidadãos tupaciguarienses foi em reportagem veiculada na extinta Re-vista Impacto, de circulação regional, pu-blicada no ano de 2005. Nela, o relato de um falecido morador da cidade, Eurípe-des Faria, contava que ele, o sobrinho e o sogro acompanharam uma dupla de en-genheiros que haviam sido enviados por JK para conhecer a região do Brilhante, povoado pertencente à Tupaciguara, dis-tante cerca de 30 km da cidade.

Nenhum registro da passagem desses en-genheiros pela região existe ou, se houve algum, desapareceu com o tempo. Todo o conhecimento da cidade a respeito da possível transferência da capital para lá se resume ao bom e velho costume do interior brasileiro: as prosas, histórias e boatos que correm de casa em casa, de rua em rua. Com o tempo, o relato ori-ginal se transformou, como as árvores ao passar das estações, e agora compõe a galeria de histórias que povoam o ima-ginário da pequena Tupaciguara, mineira de nascença, interiorana com orgulho e capital quase que por acidente. v

Flávio Botelhoenviado especial

Em tupi-gua-

rani, o nome significa “terra da

mãe de Deus”. Com pouco mais

de 25 mil habitantes, a cerca de

450 km de Brasília, a cidade lo-

calizada ao norte do Triângulo

Mineiro recebe a todos com um

enorme portal. Neste, o signi-

ficado do nome da cidade está

em latim. E escrito errado. Terra Matris Dei vem logo abaixo do

letreiro “Tupaciguara”. O correto

seria Terra Mater Dei. “Já fala-

mos com os vereadores e com a

prefeitura para que isso seja ar-

rumado”, conta Muriel Costa.

que não foi

Fauze Abdulmassih guarda no escritório de casa um documento importante da histó-ria de Tupaciguara, cidade localizada no Triângulo Mineiro, próxima a Uberlândia. É uma carta, datada de 6 de setembro de 1962, na qual Juscelino Kubitschek pede votos para uma chapa do antigo Partido Social Democrata (PSD), que disputava as eleições para a prefeitura naquele ano.

Em uma cidade que não costuma guar-dar registros históricos, aquela pequena folha amarelada com a assinatura de JK vale muito para o economista aposenta-do de 88 anos, morador e ex-prefeito de Tupaciguara. “Tenho isto aqui guardado com muito carinho, pois foi escrita por aquele ali”, diz, apontando para o retrato de JK pendurado na parede. Mas o que teria o presidente que conduziu a cons-trução de Brasília em comum com essa pequena cidade?

Entre 1946 e 1949, foi travada uma dispu-ta entre goianos e mineiros pela localiza-ção da nova capital do Brasil. Os goianos queriam que fosse seguido o relatório da Missão Cruls, comitiva que em 1893 esco-lheu um quadrilátero de Goiás, no Planal-to Central, para instalar a futura capital. Já os mineiros propunham novo local: uma região do norte do Triângulo Mineiro da qual Tupaciguara era o centro.

Ainda que com propostas distintas, a in-tenção de goianos e mineiros era a mes-ma. “Os dois grupos eram aliados na causa mudancista. Trazer a capital para o interior era a ideia central e primordial”, explica o historiador Ronaldo Costa Cou-to, autor do livro Brasília Kubitschek de Oli-veira. Essa curta passagem da história da mudança da capital do litoral para o inte-rior, que não é muito conhecida, pode ser divida em dois capítulos.

Constituinte de 1946

Com o fi m do Estado Novo, o Congresso Nacional discutiu o texto da nova Cons-

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A história de como um grupo de deputados mineiros, entre

eles JK e Israel Pinheiro, tentou transferir a construção de

Brasília para o Triângulo Mineiro

Fauze Abdulmassih mosta com orgulho a carta de JK e uma foto dele com o

ex-presidente

Em tupi-gua-

rani, o nome significa “terra da

mãe de Deus”. Com pouco mais

de 25 mil habitantes, a cerca de

450 km de Brasília, a cidade lo-

calizada ao norte do Triângulo

Mineiro recebe a todos com um

enorme portal. Neste, o signi-

Por volta dos anos 1930, a modernidade invadiu Tupaciguara, vinda juntamente com o fl uxo migratório de sírio-libaneses, alemães e italianos para a cidade. Prédios e casas com a arquitetura infl uenciada no art dèco começaram a ser levantados. Uma revolução no olhar e na forma de se conceber a cidade. O comércio começou a crescer exponencialmente e a cidade antes comandada pelas fazendas viu suas ruas serem tomadas por um nascente ca-ráter urbano.

Foi nesse contexto que surgiu um dos prédios mais famosos de Tupacigua-ra. Uma edifi cação de dois andares, que abrigava o Cine Teatro Helena e a Rádio Tupaciguara, cernes da modernidade da pacata cidade. Era ali, entre 1930 e 1960, o lugar onde a vida pulsava.

A rua Coronel Joaquim Mendes fi cou conhecida como Vai-e-Vem, tamanho era o número de pessoas que a frequen-tavam. Os rapazes, apoiados nas pare-des, observavam as moças, que paravam para se olhar nos espelhos bisotados da loja A Royal. Paqueras e namoros come-çavam embalados pelos fi lmes do Cine Teatro Helena ou ao som de grandes nomes da música brasileira que mar-cavam presença na Rádio Tupaciguara, como Nelson Gonçalves, Francisco Al-ves, Ângela Maria e Nalva Aguiar, tupa-ciguariense de nascimento.

Dessa época, entretanto, só fi cou a nos-talgia. O Cine Teatro Helena fechou as portas nos anos 70. A Rádio Tupacigua-ra mudou de lugar. Daqueles tempos áu-reos, restou apenas A Royal, que ainda preserva a fachada e o interior da época. “Era uma rua maravilhosa, mas agora está abandonada. Só tem velório e triste-za. Ninguém fi ca mais aqui”, relata Idete Fátima da Silva, funcionária da loja há 31 anos. Nas ruas que antes ecoavam a mú-sica e o fervor das vozes dos que a fre-quentavam, hoje fi ca silenciosa. Ouve-se algo quando anuncia o carro de som: “Atenção: nota de falecimento. Faleceu hoje em nossa cidade...”

Cinco anos em cinquenta

Após o boom da modernidade, Tupaci-guara entrou em uma leve decadência e voltou a ter a rotina das típicas cidades de interior. Muito disso teve a ver com o crescimento da metrópole mais pró-xima, Uberlândia. “A grande maioria da população jovem migrou para lá. Para

os moradores daqui, Uberlândia é con-siderada a cidade do progresso”, relata Muriel Costa, de 26 anos, que é um dos remanescentes de sua turma de colégio que ainda reside na cidade.

Sem muitas opções de diversão, Tupa-ciguara vive situações inusitadas nos fi -nais de semana. Quando não há eventos em Uberlândia ou em outra localidade próxima, como Ituiutaba ou Itumbiara (GO), o jeito é sentar-se em algum bar-zinho e desfrutar da boa hospitalidade mineira, regada a cerveja gelada e (mui-ta) música sertaneja.

A juventude que ainda reside na cidade se reúne nas praças. O vai-e-vem das pessoas lembra os velhos tempos da rua Coronel Joaquim Mendes, mas é o som que chega dos carros e caminhonetes que embala as conversas dos grupos que se formam. Porém, em um momento do ano, Tupaciguara vira referência: o carna-val de rua da cidade é um dos mais famo-sos do interior mineiro. v

ficado do nome da cidade está

em latim. E escrito errado. Terra Matris Dei vem logo abaixo do

letreiro “Tupaciguara”. O correto

seria Terra Mater Dei. “Já fala-

mos com os vereadores e com a

prefeitura para que isso seja ar-

rumado”, conta Muriel Costa.

Filhos de quem?

pacata cidade. Era ali, entre 1930 e 1960,

A rua Coronel Joaquim Mendes fi cou , tamanho

era o número de pessoas que a frequen-tavam. Os rapazes, apoiados nas pare-des, observavam as moças, que paravam para se olhar nos espelhos bisotados da loja A Royal. Paqueras e namoros come-çavam embalados pelos fi lmes do Cine Teatro Helena ou ao som de grandes nomes da música brasileira que mar-cavam presença na Rádio Tupaciguara, como Nelson Gonçalves, Francisco Al-ves, Ângela Maria e Nalva Aguiar, tupa-

Prédio onde funcionava a famosa Rádio Tupaciguara e o Cine Teatro Helena, um

dos primeiros da região

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Colaborou: Gustavo Aguiar

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Fim da greve

Felipe GiacomelliLílian PessoaVívian Rodrigues

Um movimento unido. Essa era a pro-posta inicial da paralisação dos professo-res e funcionários, que pretendia garantir o pagamento da URP. Mas, ao longo do tempo, a realidade se mostrou bastante diferente. Os desafi os lançados durante a batalha pela gratifi cação evidenciaram as divergências existentes dentro dos grupos que protagonizaram a iniciativa grevista.

Os professores seguem recebendo os 26,05% sobre o salário devido a uma li-minar do Supremo Tribunal Federal, até o julgamento defi nitivo. Os funcionários, porém, perderam o direito à gratifi cação, por decisão do Tribunal Regional Fede-ral da 1ª Região, e devem entrar na justiça com liminar.

Na segunda-feira, 10 de maio, em assem-bleia com mais de 500 presentes – que fi zeram fi la fora do Anfi teatro 9 para poder votar – os professores decidiram encerrar a paralisação. Foram 268 votos a favor da volta às aulas, contra 261, além de seis abstenções. Os docentes termina-ram o movimento enquanto ainda havia mobilização, evitando que os departa-mentos retomassem as atividades unila-teralmente, como já estava acontecendo. “O que infl uenciou o fi m da greve foi a falta de perspectiva de para onde levar o movimento”, analisa o professor Sadi dal Rosso, do Departamento de Sociolo-gia. Já os funcionários, até o fechamento desta edição, permaneciam em greve.

Durante a paralisação, tanto a Associa-ção dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB) quanto o Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Univer-sidade de Brasília (Sintfub), represen-tantes das categorias em greve, viram-se expostos aos desgastes provocados pelo processo.

Ao longo das assembleias, o posiciona-mento da diretoria da ADUnB – que procurava encaminhar discussões para o fi m da paralisação – tornou-se opos-ta à opinião de parte dos professores do comando de greve, que pretendiam con-tinuar parados. “A greve não é em soli-dariedade aos servidores. Professores e servidores compõem uma única catego-ria”, afi rma o professor Rodrigo Dantas, do Departamento de Filosofi a, um dos integrantes do comando de greve a favor do movimento.

A divergência na categoria fi cou ainda mais clara por causa da campanha elei-toral para a diretoria da Associação dos Docentes. Os dois grupos em disputa

SEPARADOSEleições da Associação dos Docentes e derrotas judiciais dos servidores dividem o movimento grevista e

contribuem para a volta às aulas depois de 63 dias de paralisação

Divergências entre membros do comando de greve, como Rodrigo Dantas, e a diretoria da ADUnB foram recorrentes

durante a paralisação

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Divisão entre funcionários

Embora o Sintfub expresse um pensamento mais ho-

mogêneo se comparado ao da ADUnB, suas divergên-

cias ganharam força por conta do imbróglio judicial

que excluiu os servidores sindicalizados do julgamen-

to pela manutenção da URP. Os funcionários paga-

ram taxa mensal pelo serviço prestado pelo escritório

Wagner Advogados Associados. A decisão do TRF des-

pertou desconfiança entre os membros e a diretoria

do sindicato. A pressão para que a assessoria jurídica

agilizasse o pedido de liminar aumentou a tensão en-

tre os sindicalizados, gerando embates internos.

Outro conflito enfrentado pelo Sintfub é a falta de

consenso quanto à participação dos trabalhadores

terceirizados, que não recebem a URP, no comando

de greve. “Eu sou contra. No comando devem estar

aqueles que estão em greve”, afirma o diretor executi-

vo do sindicato, Luís Carlos de Sousa. Os terceirizados

defendem sua participação. Esse é o caso de Francisco

Matos, que faz parte do comando de greve e da di-

retoria do Sintfub. “Para o público, todos nós somos

servidores, sem discriminação”, argumenta. (V.R.)

pelo controle da entidade participavam do comando de greve. A Chapa 1, Plu-ral e Independente, representava o mesmo grupo que está na diretoria da ADUnB. O professor Ebnezer Nogueira, candida-to à presidência, é o vice-presidente da atual gestão.

Já a Chapa 2, Participação e Luta, da opo-sição, foi encabeçada por Maria Auxilia-dora César, professora aposentada do Centro de Estudos Avançados Multidis-ciplinares (Ceam). “O confl ito de ideias dentro da ADUnB é salutar, seria horrí-vel se todos pensassem igual”, opina Ma-ria Auxiliadora. As eleições aconteceram dias 18 e 19 de maio, depois do fecha-mento desta edição.

Decisões controversas

A direção da ADUnB provocou polêmi-ca entre os professores em duas ocasiões. A primeira, quando convidou os docen-tes para o Happy Hour da Vitória, em co-memoração à concessão da liminar pelo STF que determinava o pagamento da URP à categoria. O convite foi enviado logo após os funcionários perderem na Justiça o direito à gratifi cação. “O happy hour não teve nada a ver com a situação

dos servidores”, declara Flávio Botelho, presidente da associação.

Outra controvérsia foi um comunicado distribuído na assembleia de 7 de maio. No documento, a instituição afi rmava que estudaria a possibilidade de pedir na Justiça o impeachment do presidente Lula e a prisão do ministro do Planeja-mento, Orçamento e Gestão (MPOG), Paulo Bernardo, do advogado-geral da União, Luís Adams, e do reitor José Ge-raldo. A atitude foi duramente criticada. O professor Antônio Sebben, ex-presi-dente do sindicato, afi rmou que a nota foi irresponsável. “Poderia ter sido uma molecagem, mas quem assina é a direto-ria da nossa entidade”, diz.

Os próprios diretores da Associação dos Docentes fi caram confusos quando vi-ram o comunicado. “Nós não sabíamos da nota. Foi uma decisão unilateral do Flávio Botelho”, afi rma Ebnezer No-gueira. Em contrapartida, Botelho expli-ca a polêmica decisão: “Fui eu quem fi z a nota junto com dois outros diretores da ADUnB. O professor Ebnezer não sa-bia. Íamos para uma negociação [com o MPOG] que chamava nosso movimento de ilegal.” v

PELA MESMA CAUSA

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- Ao todo são 621 ocorrências

- Acidentes e furtos são recordistas em quantidade: 149 acidentes e 276 furtos em geral

- Foram registrados três casos de sequestro em lugares e horários diferentes. Em todos eles as vítimas são homens

80% dos acidentes de trânsito foram à tarde

Biblioteca Central

Destaque de calúnia e ameaça

Recordista em acidentes de trânsito

L4 Norte

Horário variado

Único caso de remoção de cadáverHorário: manhã e tarde

Horário: manhã e tarde

Horário: tarde

Horário: manhã e tarde

100% dos casos registrados são de furto80% entre 13h20 e 14h

85% dos casos registrados no local são referentes a furtos em geral

Instituto de Artes - IDA

Horário: entre 10h e 12hRecordista em furto de veículo

Horário: entre 23h e 5h

Destaque de furtos de veículo e celulares nas festas

Horário variado87% dos casos de estelionato

Recordista em roubo a

70% das vítimas são mulheresHorário: manhã e tardeHorário: noite

Destaque em ato obscenoHorário: manhã

Destaque de ato obscenoHorário: entre 9h e 11h

Casa do Estudante UniversitárioRecordista em casos de lesão corporal

Destaque para localizaçã de veículos furtados

Centro OlímpicoFaculdade de Educação Física

Faculdade de Saúde Minhocão

Pavilhões70% das ocorrências registradas no local são de furto de veículos

Centro Comunitário

Colina67% das ocorrências registradas no local são de furto de veículos

Faculdade de Estudos Sociais Aplicados - FA

Posto de gasolinaRestaurante Universitário

100% dos casos de estupro e atentado violento ao pudorHorário: entre 20h e 21h

L2 Norte

Faculdade de Educação

Faculdade de Tecnologia2º lugar recordista em furto de veículos

Destaque de lesão corporalTodas as vítimas são do sexo masculino

Auditório Multiuso II

v

Agência Banco do Brasil

SAIBA MAIS

transeuntes o

Marcela Mattos

Ainda que estacionamentos e locais er-mos do campus Darcy Ribeiro sejam conhecidos como perigosos, é dentro de salas de aula e laboratórios que ocorrem mais de 60% dos casos de agressões físi-cas e verbais. Essa é uma das revelações do levantamento feito pelo Campus na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) entre o início de janeiro de 2008 e o dia 8 abril de 2010.

Além desses problemas, quem transita pela Universidade também sofre com a grande quantidade de furtos e roubos. Dos 287 casos, 65% são referentes a bicicletas, car-ros e motocicletas. Os estacionamentos do Minhocão e da Faculdade de Tecnolo-gia são os mais visados pelos criminosos. É pela manhã que os assaltantes preferem invadir os veículos, mais precisamente en-tre 10h e 12h. Para o diretor de Transpor-te e Segurança da Prefeitura do campus Darcy Ribeiro, José Sérgio de Souza, esse dado é uma surpresa. “A informação que nos chegava era de mais ocorrências à tar-de e à noite”, afi rma.

Mesmo a recorrência sendo no turno ma-tutino, a verdade é que não existe horário ou local que inibam a ação dos assaltantes. Em 2008, o estudante de sociologia Alan Schvarsberg teve três bicicletas roubadas. A primeira, às 15h, estava presa no corri-mão da rampa de entrada da biblioteca. Os 10 minutos que fi cou lá dentro foram sufi cientes para os ladrões conseguirem quebrar o cadeado e fugir.

As outras duas estavam dentro do Cen-tro Acadêmico de Sociologia. “Meu pneu furou e tive que deixá-la no CA. Lá tem uma salinha fechada, e só eu e um amigo tínhamos a chave. Quando fui buscar no dia seguinte, deparei com a porta arrom-bada. Levaram de novo”, narra. Depois disso, o estudante comprou uma bicicleta

de R$ 80, para não chamar atenção - mas não adiantou. Alan foi roubado pela ter-ceira vez, e teve de arcar com um prejuízo total de mais de R$ 3 mil.

O conto do vigário

Para o diretor de Segurança, uma das maiores difi culdades é reconhecer os criminosos dentro do campus. “Eles an-dam vestidos como estudantes, carregan-do mochilas e cadernos”, explica Souza. Além disso, são bons de papo. Discreto, o famoso 171 também ronda a Universi-dade. Os índices de estelionato e fraude nas agências bancárias são ultrapassados apenas pelos casos de furto e roubo.

De acordo com o delegado da 2ª DP (Asa Norte) Cláudio Ota, uma das ações mais comuns dos golpistas é a da recompen-sa. Após a vítima ter retirado dinheiro, o estelionatário deixa a própria carteira cair propositalmente. Quando a vítima a pega do chão e devolve, ele diz que dentro tem muito dinheiro e quer recompensá-lo pela boa atitude, convidando-o para ir à empresa receber a gratifi cação.

Chegando ao local, o golpista indica a sala, informando que não é permitindo entrar com a bolsa. Iludida, a pessoa abando-na todos os pertences – e difi cilmente os verá novamente. “Os criminosos que praticam esse tipo de crime normalmen-te vêm de outros estados. É muito difícil prendê-los”, explica o delegado.

Agressão contra a mulher

Enquanto registros de atos obscenos são corriqueiros pela manhã e dentro das fa-

culdades, os casos de estupro e atentado violento ao pudor acontecem mais à noite, nas proximidades da L2 Norte. O último estupro registra-do ocorreu em março deste ano, às 20h40, na 606 Norte. Em abril do ano passado, outro crime, atentado violento ao pudor, foi cometido às 21h, na 607.

Algumas semelhanças entre as agressões levam a crer que a mesma pessoa tenha agido nos dois casos. O mesmo retrato falado, feito pela Polícia Civil, foi apresentado às vítmas. Ambas avaliaram o grau de se-melhança entre o criminoso e o retrato com a nota oito. Por enquanto, a polícia não conseguiu encontrar o suspeito, mas, aos poucos, as inves-tigações avançam.

William Aguiar, amigo de uma das vítimas, luta pela prisão do culpado. Ele revela que, após rastreamento da polícia, o celular da última jovem violentada foi encontrado com uma família em Planaltina. “Nos conta-ram que o celular foi comprado na rodoviária. No momento a polícia está à procura do vendedor”, diz. Pedindo socorro por e-mail, ele so-licita a quem tiver alguma ideia do paradeiro do suspeito, que contate os policiais. “Eles precisam muito da sua ajuda e irão investigar toda e qualquer denúncia”. v

Dados inéditos mostram locais onde frequentadores do campus

Darcy Ribeiro estão sujeitos a crimes como roubo, estelionato,

atentado ao pudor e calúnia

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Os criminosos andam

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do campus Darcy Ribeiro

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Ultra-velozes

A convocação dos jogadores brasileiros para a Copa em 140 caracteres

Twittando

Felipe Giacomelli

Preparar-se a vida toda para receber uma oportunidade em que os milésimos de se-gundo fazem a diferença entre o sucesso e a derrota: essa é a realidade dos pilotos de automobilismo. Um esporte caro no qual cada chance dada por uma grande equipe é o último momento de o piloto mostrar serviço. Os números compro-vam a popularidade no DF. A Federação de Automobilismo do Distrito Federal (FADF) tem 820 fi liados, em uma popu-lação de 2,5 milhões. Muito se compa-rado ao estado de São Paulo, com 1.501 associados de um total de 40 milhões de habitantes.

Um dos pilotos do DF é Nathan William, que se recupera de uma cirurgia recente por um problema na perna. Ele tem um fêmur menor que o outro. No quarto, os troféus dividem o espaço da estante com um caderno da Ferrari, caprichosamen-te escondido embaixo de um álbum do desenho Pokémon. A televisão ligada em um canal infantil entrega a pouca idade do menino: nove anos.

Para conseguir entrevistar o garoto, foi necessário ganhar uma disputa desigual com um personagem animado que pode se transformar em dez monstros diferen-tes. Mas bastou perguntar sobre as vitó-rias de Nathan para que ele começasse a falar. Contou sobre a corrida em que liderava, caiu para terceiro lugar faltando duas voltas, mas se recuperou após ultra-passar por fora os rivais. Empolga-se ao falar dos treze segundos de diferença - uma eternidade no automobilismo - para os adversários em outra prova.

Com todos esses feitos, é natural pergun-tarmos se o problema na perna o prejudi-cou: “Até ajudou! Assim eu não conseguia alcançar o freio”, diz o menino com a res-posta na ponta da língua. Foi justamen-te o tamanho do osso que determinou o início no kart, o primeiro desafi o para os pilotos em começo de carreira. Nathan queria jogar futebol com os amigos, mas não conseguia. Para evitar o sedentaris-mo, o jeito foi o automobilismo.

O menino conta com as dicas de Vitor Meira, que atualmente compete na Indycar e fi cou entusiasmado com o talento do jo-vem ao vê-lo nos primeiros treinos. Assim, a carreira já bem assessorada está planejada: retorna às competições em agosto, fi ca no kart até os 15 anos, mas começa a treinar de Fórmula 3 um ano antes. Nathan, assim como todos os meninos que começam no

NA PISTA DO SUCESSO

automobilismo, sonha em chegar à Fórmu-la 1. Ele se espelha em Felipe Nasr, outro brasiliense com o mesmo objetivo.

Vindo de uma família de 30 anos no auto-mobilismo brasileiro, Felipe conta como aproveitou a primeira oportunidade para chamar atenção: “O Augusto Farfus [piloto da BMW no Mundial de Carros de Turis-mo] convidou a equipe do meu tio Amir [Nasr], para competir na Fórmula BMW Americas. Eu consegui um pódio em Inter-lagos. Depois fui chamado para um teste no dia seguinte à fi nal mundial da categoria e bati o recorde da pista que o campeão tinha marcado durante a competição”, afi rma.

O treino rendeu a Felipe Nasr a oportu-nidade de disputar o certame europeu de F-BMW, sagrando-se campeão. No fi nal de 2009, assinou com Steven Robertson

As histórias dos jovens pilotos brasileiros que iniciam carreira no Distrito Federal, conquistam o país e

chegam às competiçõess internacionais, sempre de olho na Fórmula 1

Nathan William exibe os troféus que já ganhou em apenas um ano de carreira no kart

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e Kimi Raikkonen, campeão da F1 em 2007, para a disputa da atual temporada da Fórmula 3 inglesa.

Chegando lá

O campeonato britânico é o objetivo de Yann Cunha, de 19 anos. O brasiliense ainda disputa a versão sul-americana de Fórmula 3, mas já mira a terra da rainha. Em meio a risadas, ele entrega o pai, que fi nanciou toda a carreira: “Ele gosta [de automobilismo] até mais do que eu”. Si-tuação oposta à que viveu Luiz Razia, que percorreu categorias menos badaladas como a Fórmula 3000 Master e a Fór-mula 3000 italiana. “Minhas opções não foram feitas procurando visibilidade e sim correndo em categorias mais baratas. Mas chega uma hora que tem que estar na GP2 para mostrar resultado”, explica por e-mail o piloto que vai disputar a categoria, considerada o último degrau antes da F1.

Baiano, nascido em Barreiras, a 871 qui-lômetros de Salvador, Luiz veio para Bra-sília em 2004. Começou a curta carreira no Kartódromo do Guará, assim como Nathan, Felipe, Yann e tantos outros. Hoje, vivendo na Inglaterra, o atleta está ainda mais próximo de alcançar o sonho compartilhado por todos, pois é piloto de testes da equipe Virgin na F1, esperando ser titular na próxima temporada. v

é o número

“Cada um montou sua casinha e botou o tijolinho. Teve algumas que eu fui o lobo mau e assoprei”

Twitter falso do técnico Dunga, citando uma frase dita pelo verdadeiro comandante durante a convocação da equipe

“Lista estranha com gente esquisita” Maurício Noriega, comentarista do canal SporTV.

“Defi na em uma só palavra a não ida de Paulo Henrique Ganso para a Copa da África? Pena”

Ronaldo, atacante do Corinthians, em resposta a um leitor.

“Se existisse twitter em 2002, a campanha para ir para a Copa teria sido muito maior. Quem sabe teria dado certo”

Romário, ex-jogador da Seleção Brasileira

“Dunga também é cultura. Jogadores de futebol aprenderam a falar uma palavra nova: coerência. O signifi cado fi ca para depois”

Marcelo Tas, apresentador do programa CQC, da TV Bandeirantes

por F

elipe

Math

eus P

ineda

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ha

de pilotos registrados no DF

“O Brasil não concordou com a Seleção do Dunga, mas a concordância nunca foi uma

preocupação para ele”Maurício Ricardo, cartunista e humorista do site

charges.com