Campus nº. 373

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CAMPUS DESCOMPASSO DA MÚSICA NAS ESCOLAS DE NOITE, DRAG QUEEN O trabalho das rainhas das festas ESPORTE CAMPUS Foto: Dalai Solino FUTEBOL DE QUINTA Brasiliense e Gama no fundo do poço MERCADO Foto:Dalai Solino Foto: Larissa de Castro SOCIEDADE Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB De 8 a 15 de novembro de 2011, ano 41, edição 373 Apesar de obrigatório na educação básica, ensino musical ainda é privilégio de poucos

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Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), ano 41, edição 373

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CAMPUS

DESCOMPASSO DA MÚSICA NAS ESCOLAS

DE NOITE, DRAG QUEENO trabalho das rainhas das festas

ESPORTE

CAMPUS

Foto: Dalai Solino

FUTEBOL DE QUINTABrasiliense e Gama no fundo do poço

MERCADO

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SOCIEDADE

Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB

De 8 a 15 de novembro de 2011, ano 41, edição 373

Apesar de obrigatório na educação básica, ensino musical ainda é privilégio de poucos

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O resultado da eleição para o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade de Bra-sília pautou a mídia. O fator notícia: “Pela pri-

meira vez, desde a redemocratização do país”, uma “chapa de direita”, de “princípios conservadores e moralistas”, ocupa o posto. E entre questionamentos sobre a legitimidade da votação e previsões quanto à gestão dos estudantes e a possibilidade do resultado ser um “fenômeno que pode vir a se tornar nacional”, a atitude das outras chapas concorrentes me chamou a atenção.

Gritos de protesto, vaias, xingamentos e críticas marcaram o anúncio da vitória e a posse da Alian-ça pela Liberdade para representar os estudantes da UnB. Das oito chapas que concorreram, a única de direita ganhar a votação pareceu ser um golpe dolo-roso para a esquerda, que mostrou não saber perder. Que a esquerda também gosta do poder, isso é cla-ro, e quem não gosta? É curioso que um grupo que se diz em defesa do respeito à diversidade, em coros

de “vocês não nos representam”, condene um pensa-mento supostamente diferente do seu. Desrespeito à escolha de 1.280 estudantes que elegeram a chapa 8 para representá-los. E os direitos das “minorias”?

Não tenho ligação com movimento estudantil ou outro qualquer. Também não sou de “esquerda” ou “direita”. Sou contra todo pensamento extremista e esse é o motivo pelo qual não defendo ideologias. Concordo com o fi lósofo Emmanuel Carneiro Leão em Ética e Comunicação, quando diz que “a ideologia construiu a pior das prisões. Abstrata e entranhada, (...) afasta o homem da grandeza de sua dignidade: a autonomia de ser e realizar-se a si mesmo”.

Esclarecido isso, a impressão que tenho do movi-mento estudantil – uma observação de alguém de fora – é que ele ainda vive assombrado pela ditadura dos anos 1960/70. Devemos, sim, honrar a memória daque-les que morreram, lutaram e foram torturados para garantir essa democracia que vivemos hoje. Mas zelar pela democracia não é doutrinar, impor uma ideologia.

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editora-chefe Nayara Machado Secretária de Redação Paula Bittar Diretora de Arte e Fotografi a Nádia Mendes

Editoras Dandara Lima (p. 3, 4 e 5), Juliana Espanhol (p. 6 e 7), Nayara Machado (p. 1 e 2) e Paula Bittar (p. 8) Diagramadoras Laura Chaer e Mariana Pizarro

Fotógrafos Dalai Solino e Larissa de Castro Projeto Gráfi co Bárbara Cabral, Dandara Lima,Emerson Fraga e Mariana Pizarro

Repórteres Ana Paula Matos, Isabella de Andrade, João Paulo Mariano, Larissa de Castro, Mariana Fagundes e

Pedro Augusto Correia Monitores Alexandre Bastos e Júlia Libório

Jornalista José Luiz Silva Professores Sérgio de Sá e Solano Nascimento ISSN 2237-1850Brasília/DF - Campus Darcy RibeiroFaculdade de Comunicação - ICC Ala NorteCEP 70.910-900 Telefones 61 3107.6498/6501E-mail [email protected]áfi ca Palavra ComunicaçãoTiragem 4 mil exemplares

IDEOLOGIA, NÃO QUERO UMA PRA VIVER

Nayara Machado – editora-chefe

Em protesto contra a privatização anunciada pela presi-dente Dilma Rousseff de três dos maiores aeroportos bra-sileiros – Viracopos e Guarulhos, em São Paulo, e Juscelino Kubitschek, em Brasília – funcionários da Infraero entra-ram em greve no final de outubro. Segundo a Secretaria de Aviação Civil, responsável pelo setor, a medida vai per-mitir aos investidores privados participação em 51% das concessões. O objetivo é atender a demanda da aviação civil para os próximos anos, inclusive o período da Copa de 2014. O Campus foi à fila do check-in no Aeroporto JK saber a opinião dos passageiros sobre a questão.

NA FILAdo check-in

OPINIÃO

“Sou a favor. Desde os equipamentos de controladoria de voo até o banco em que eu sento nos aeroportos, tudo está decadente”

A primeira coisa com que o leitor se depara quan-do pega a edição 372 do Campus é uma lupa do WordArt (ou semelhante). Trocadilho visual

com o nome da secretaria? Brincadeira desnecessária. Mas só erra quem experimenta e, recorrendo ao clichê de autoajuda, melhor errar tentando do que não tentar nada. Continuando na capa, o stand up paddle já foi as-sunto de reportagem do Correio Braziliense há menos de um ano, escrita inclusive por uma ex-aluna da UnB.

Virando a página, o Na Fila foi, por enquanto, o me-lhor do semestre. Desigualdade racial até nos trans-plantes é uma nova abordagem para uma questão an-tiga e essencial. Algumas ressalvas, porém. É estranho ter no sutiã a afi rmação: problema pode ser social. Ela é uma das hipóteses levantadas pelo estudo do Ipea que acredita que a causa para isso é a desigualdade econô-mica. Ou seja, para o Ipea, não há racismo institucional e sim mais um lado de uma questão histórica, mas a tese do racismo é a que sobressai na matéria. A questão

é sutil e faltou sutileza ao tratá-la.O poder de multiplicação de Agnelo, também é re-

levante e traz dados novos. Além disso, ouviu os di-versos lados envolvidos, incluiu pesquisa e por isso está bem fechada. O problema aqui é outro. Tendendo para a crítica ao governo (o que em si não é errado), ela tem a opinião do autor em algumas de suas afi r-mações. Exemplo: “dar a impressão de mais cuidados aos problemas socioeconômicos”. Em que se baseia o jornalista para afi rmar que ele apenas está dando a impressão? Cuidado ao afi rmar é essencial. A verdade tem que ser demonstrada, sempre.

Para terminar, uma matéria como a do Zouk pede um serviço bem feito (como foi feito em Surfe a mil quilômetros do mar) e não apenas uma opção de curso.

ERROS E ACERTOSLucas Marchesini

OMBUDSMAN

EXPEDIENTE

ACESSE O CAMPUS ONLINE WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE

Larissa de Castro

Suely Nadler, 33 anos

“A favor. Se esse for o preço da efici-ência, vale a pena. Ser rápido não só para a Copa do Mundo, mas também

para os brasileiros”

2 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 8 a 15 de novembro de 2011

“Sou contra, pois o certo é o go-verno dar condições aeroportuárias boas com as taxas e impostos que já pagamos”

Emerson Pereira, 25 anos

“Contra. Fui da Força Aérea Brasi-leira e sei como poder fazer greve

é importante para os funcionários. Com a privatização é mais fácil

dominar os funcionários”

Marcos Damaso, 59 anos

Termo sueco que significa “provedor de justiça”, o ombudsman discute a produção dos jornalistas

a partir da perspectiva do leitor.

Paula Castello, 38 anos

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SUSTENTABILIDADE

Construção verde é aposta de longo prazo

João Paulo Mariano e Larissa de Castro

Além de preservar o meio ambiente, moradias com o conceito de sustentabilidade podem ser mais econômicas. Especialistas explicam o processo que alia preservação ambiental a qualidade de vida

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Primeiro edifício ecologicamente sus-tentável do Distrito Federal com o selo Leed (Leadership in Energy

and Environmental Design, do U.S. Green Building Council, que certifica constru-ções sustentáveis), o Green Towers Bra-sília está em construção na Asa Norte, previsto para ser entregue em 2012. Para conseguir o reconhecimento, as medidas começam no processo de construção com rígido controle no descarte de produtos químicos usados na obra para evitar a contaminação do solo.

Além disso, parte dos resíduos sólidos é encaminhada à cooperativa Sonho de Liberdade, em Sobradinho, que faz reuti-lização do material e o comercializa. Ou-tra parte é encaminhada à empresa Areia Bela Vista, na mesma cidade, que trans-forma os resíduos “pesados” em areia. O projeto também prevê reservatório de água da chuva para aproveitamento em lavagem de pisos e consumo de 15% a menos de energia que outros edifícios de mesmo porte.

O prédio é uma exceção no DF, que, segundo especialistas, não alia os bons resultados da construção civil com as medidas de sustentabilidade. De acordo com a pesquisadora Marta Romero, do Laboratório de Sustentabilidade Aplica-da à Arquitetura e Urbanismo (LaSUS), da Universidade de Brasília (UnB), já existe conhecimento técnico, legislação e normas suficientes para que as constru-ções sejam sustentáveis, mas falta inte-resse dos empresários em adotar essas soluções. Para a pesquisadora, aplicar as ideias ecologicamente corretas à cons-trução civil é de suma importância, pois “destruir e poluir os recursos naturais tem um preço pago por toda a comuni-dade, que perde em qualidade de vida”.

CRITÉRIOSMarta Romero explica que uma cons-

trução sustentável deve utilizar materiais que causem o menor impacto ambiental possível e tecnologias que possam ser facilmente assimiladas por futuros usuá-rios. Três etapas são observadas: os mate-riais, a produção da planta e, por último, o processo de construção e o desempe-nho – interação do usuário com o local.

Ao escolher os materiais, segundo a professora do curso de Engenharia Civil da UnB Rosa Maria, deve-se dar priori-dade aos que gastam pouca energia em sua fabricação, possuem baixa toxicida-de, baixa emissão de gases – CO2 – e alto

potencial de reciclagem. No processo da construção é preciso pensar na raciona-lização da água e da energia, além de buscar o reaproveitamento de materiais sólidos geralmente descartados. Em rela-ção à interação com o usuário, considerar critérios de segurança, habitabilidade e manutenção também é importante.

Ao comparar os custos do Green To-wers Brasília com outras construções da Via Engenharia, a engenheira respon-sável pela obra, Juliana Gehlen, coloca como cerca 5% a 10% mais altos. “Ainda assim, os custos não são tão altos quanto as pessoas pensam. Requer mais traba-lho, pois é necessário preparo dos fun-cionários, campanhas educativas dentro da construção e arquitetos e engenheiros envolvidos com sustentabilidade, mas os benefícios vêm a longo prazo.”

POR TRÁS DA REPORTAGEM

Apesar de a área ambiental estar em voga, tivemos dificuldade de en-contrar dados sobre casas e edifícios. Porém, as fontes se mostraram inte-ressadas em conversar sobre edifica-ções sustentáveis: elas gostam tanto do tema ambiental quanto da pro-fissão. Falamos com as especialistas para entender o que é, de verdade, uma construção sustentável e como é o processo. Depois, foi uma corrida em busca de pessoas que têm casas--verdes e de empresas em Brasília que investem em empreendimentos assim.

Exemploem casa

O investimento em obras “verdes” ain-da está em fase de amadurecimento na capital. Felipe Borges, dono da empresa Treetop, desenvolve projeto que usa ma-teriais reciclados na construção, voltado para casas populares e com baixo custo. As casas possuem o mesmo porte das re-sidências do projeto do governo federal Minha Casa Minha Vida, com 32 m², mas o custo de construção seria de R$ 5 mil – o valor mínimo de uma obra do Minha Casa Minha Vida é de R$ 57 mil, de acordo com dados de julho deste ano do Ministério das Cidades.

Durante o processo de construção, a geração de resíduos é praticamente nula. As moradias possuem paredes leves, sem concreto e alvenaria, pois são feitas de WPC (Wood Plastic Composite) – uma mis-tura homogênea de madeira e polímero –, possuem coleta de água da chuva, com-postagem – tratamento de resíduos orgâ-nicos –, captação solar e descarga com água usada no banho e na cozinha, que pode ser reaproveitada.

Eduardo Lyra, 32, engenheiro florestal, mora no Jardim Botânico em uma casa de 92 m² com estrutura formada por barro cru, ensacado e prensados por pilões, que ao endurecer formam grandes tijo-los. “São então criadas largas paredes de adobe capazes de sustentar o telhado da casa ou até mesmo um segundo pavimen-to, além de dar excelente conforto térmi-co”, explica. Além das paredes de barro, Lyra implantou vidros em portas, janelas e tesouras, gestão doméstica de recursos hídricos e aproveitamento de resíduos or-gânicos. A casa levou seis meses para ser construída. “O que essas experiências me mostraram é que não preciso ser arquite-to, engenheiro ou mestre de obras para construir e idealizar uma casa bioconstru-ída”, afirma o dono da casa feita de barro.

Arquiteta e urbanista da Ecohabitar – Arquitetura e Construção, de Cotia, em São Paulo, Maria Nader explica que op-ções de tecnologias de aquecimento solar e de uso racional de água aumentam o custo da obra em 1% a 3% se comparado a uma construção tradicional, o que pode ser recuperado em 18 meses. “No futuro a economia vai durar por toda a vida útil do imóvel.”

Em construção na Asa Norte, o edifício Green Towers Brasília é o primeiro no Distrito Federal a receber o selo internacional que certifica construções sustentáveis

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Lei que obriga o ensino de música na educação básica ainda não é cumprida no Distrito Federal. Especialistas destacam a importância da musicalização infantil no desenvolvimento cognitivo

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Música fora de ritmo nas escolas

Ana Paula Matos

A exigência do ensino de música nas escolas veio com a Lei nº 11.769, sancionada em x18 de agosto de 2008. De acordo com a

legislação, a música deve ser um conteúdo obri-gatório, mas não exclusivo. Isso significa que as escolas, públicas ou privadas, não precisam criar uma disciplina, mas podem inseri-la nas aulas de artes, por exemplo. As escolas teriam três anos para se adaptar. O prazo terminou há dois meses e meio, no entanto, a norma não foi cumprida pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. As escolas públicas não possuem o ensino de música dentro da grade curricular.

A secretaria diz que está reestruturando o cur-rículo escolar da educação básica e que a música é pauta em um dos grupos temáticos de discus-são. Segundo a subsecretária da Educação Bási-ca, Sandra Zita, a previsão é que sejam definidas orientações pedagógicas até o final do ano. Essas orientações devem se alinhar às deliberações do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Quanto à forma como se dará a educação mu-sical nas escolas, a subsecretária diz que duas abordagens devem ser levadas em consideração. Primeiro, a visão tradicional, do ponto de vista instrumental e técnico, em que a música pode ser ensinada dentro da disciplina de artes, por exemplo. E também a perspectiva de trabalho

interdisciplinar, em que professores de outras disciplinas podem utilizar a música como recurso para o ensino do conteúdo. Para a primeira abor-dagem, o professor de artes que leciona a música tem a formação específica para o conteúdo; para a segunda, os professores não necessitam dessa especialização. Segundo Sandra Zita, escolas que optarem pelo uso da música como uma ferramen-ta dentro de outras disciplinas, praticando o que se chama de “musicalidade”, estarão enquadra-das na lei.

A diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa de-clara, no entanto, que o professor formado em música garante a qualidade do ensino e apren-dizagem. Para a diretora, o que está em pauta é a contratação de professores: “Para ter esse pro-fissional, o concurso deve ser realizado e, infeliz-mente, o Estado demora e procura alguma forma de dar um jeito, exigindo de outro professor uma qualificação que nem sempre ele tem”. Quanto à capacitação desses professores, a subsecretária informou que está previsto curso de formação para o ano de 2012.

EM DEBATEA lei não especifica os conteúdos, a carga ho-

rária ou quem irá ministrar o conteúdo, deixan-do margem para diferentes interpretações. Com o intuito de apontar alternativas e possibilidades para a inserção da música nas escolas brasileiras, em março deste ano, a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) pro-moveu reunião com entidades e especialistas da área de todo o país. A partir dessas discussões, foi gerado e encaminhado ao CNE um documen-to para subsidiar o órgão na elaboração de dire-trizes e recomendações para o ensino da música nas escolas da educação básica. Contatado pela reportagem, o CNE informou que não há previsão para divulgar o parecer. De acordo com o MEC, o documento deve tratar de aspectos como a forma-ção de professores, alternativas de carga horária, articulação com as outras linguagens artísticas e integração da música em outras disciplinas.

A professora do Departamento de Música da UnB Maria Cristina de Azevedo participou da reu-nião promovida pelo MEC no início do ano. Para ela, a música tem um espaço tão importante quan-to o das outras disciplinas. A professora enfatiza a necessidade da certificação docente específica em música. “Existe um curso de formação de pro-fessores de música e esses professores têm sabe-res pedagógicos profissionais que os outros não têm, então o profissional deve ser habilitado em licenciatura em música para dar a aula.”

Estudos comprovam que a vivência musical para os pequenos traz benefícios no processo de alfabetização e raciocício matemático

Lei que obriga o ensino de música na educação básica ainda não é cumprida no Distrito Federal. Especialistas destacam a importância da musicalização infantil no desenvolvimento cognitivo

Música fora de ritmo nas escolas

Ana Paula Matos

POLÍTICA DESAFINADAO Campus entrou em contato com 108 escolas públicas de oito regiões administrativas do DF (Ceilândia, Recanto das Emas, Taguatinga, So-bradinho, Brasília, Santa Maria, Samambaia e Brazlândia) e apenas o Centro de Ensino Funda-mental 16 de Taguatinga afirmou possuir o ensino de música dentro da grade. Os diretores alegam conhecimento da lei, mas a falta de profissionais qualificados e/ou diretrizes da Secretaria de Edu-cação do DF impede a inserção do conteúdo. Quando a música aparece, ela é trabalhada de forma interdisciplinar, como ferramenta de ensino para outras disciplinas; dentro da Escola Integral, no contraturno ou, ainda, por meio de parcerias. Diretor do Centro de Ensino Fundamental 208 do Recanto das Emas, Antônio Benetik revela que a maior dificuldade para a implantação da músi-ca dentro da grade é a carência de professores habilitados. “Nós até queremos incluir no plano político-pedagógico da escola, mas não contamos com profissionais qualificados, dentro da rede, para o ensino de música”, declara.

Foto: Dalai SolinoPOLÍTICA DESAFINADAO Campus entrou em contato com 108 escolas públicas de oito regiões administrativas do DF (Ceilândia, Recanto das Emas, Taguatinga, So-bradinho, Brasília, Santa Maria, Samambaia e Brazlândia) e apenas o Centro de Ensino Funda-mental 16 de Taguatinga afirmou possuir o ensino de música dentro da grade. Os diretores alegam conhecimento da lei, mas a falta de profissionais qualificados e/ou diretrizes da Secretaria de Edu-cação do DF impede a inserção do conteúdo. Quando a música aparece, ela é trabalhada de forma interdisciplinar, como ferramenta de ensino para outras disciplinas; dentro da Escola Integral, no contraturno ou, ainda, por meio de parcerias. Diretor do Centro de Ensino Fundamental 208 do Recanto das Emas, Antônio Benetik revela que a maior dificuldade para a implantação da músi-ca dentro da grade é a carência de professores habilitados. “Nós até queremos incluir no plano político-pedagógico da escola, mas não contamos com profissionais qualificados, dentro da rede, para o ensino de música”, declara.

A edição 334 do Campus, de abril de 2009, trazia a reportagem de Ana Paula Paiva e Camila Gue-des sobre a inclusão de música no vestibular da Universidade de Brasíla. Intitulada de Exclusão no vestibular da UnB, a matéria demonstrava como a mudança tornava o processo seletivo mais elitista, pois, até então, apenas 18% dos centros de ensino do Distrito Federal ofereciam a disciplina música no currículo acadêmico.

MEMÓRIA

exemplo. E também a perspectiva de trabalho

– Colaboraram Nayara Machado e Paula Bittar

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EDUCAÇÃO

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Estudos comprovam que a vivência musical para os pequenos traz benefícios no processo de alfabetização e raciocício matemático

Foto: Ana Paula Matos

Com apenas 11 anos, Guilherme toca em eventos e até fez apresentações no Teatro Nacional de Brasília

Infância cheia de sonsPesquisa recente realizada pela York Univer-

sity e pelo Royal Conservatory of Music de Toron-to, no Canadá, demonstra que 90% das crianças que tiveram treinamento musical desenvolve-ram maior inteligência, conhecimento de voca-bulário, tempo de reação e precisão. Quarenta e oito crianças, entre quatro e seis anos, foram divididas em dois grupos e analisadas. Um dos grupos estudou fundamentos básicos da música, como tom, ritmo e melodia. O segundo teve au-las de conceitos básicos de artes visuais, como formas e traços. Antes de começar o programa, a inteligência verbal e espacial de todas as crian-ças foi testada. O mesmo teste foi aplicado após as aulas. O grupo que não estudou música não demonstrou melhorias ou mudanças no cérebro.

Stela Lobato, psicóloga e diretora de uma academia que oferece aulas de musicalização, destaca a importância do contato com a música nos primeiros anos de vida. Segundo ela, dois hemisférios do cérebro são ativados ao mesmo tempo: o racional e o afetivo. De acordo com a psicóloga, esse tipo de experiência facilita a vida em sociedade das crianças e pode até interferir na personalidade: “Imaginação e faz de conta ao simular uma apresentação influenciam a autoes-tima da criança que, bem orientada, poderá de-senvolvê-la positivamente e tornar-se um adulto mais seguro”.

OUVINDO E APRENDENDONo Distrito Federal, o projeto de extensão

“Música para Crianças” da Universidade de Brasília (UnB) divide o ensino em três etapas. A primeira é a Musicalização, para crianças de cinco meses a cinco anos. A segunda etapa, dos cinco aos sete anos, é a Pré-instrumental e de Linguagem Musical. Na terceira fase, após os sete anos, o aluno começa a tocar um ins-trumento a sua escolha. A divisão em fases é importante para adequar a aprendizagem do aluno à idade. De acordo com a professora do Departamento de Música da UnB DeniseScarambone, cada faixa etária tem caracterís-ticas próprias de desenvolvimento e existem estratégias didáticas específicas que devem ser consideradas pelo professor. “Crianças de três a cinco anos, por exemplo, aprendem por imita-ção ou assimilação a outros elementos.”

Alguns prodígios não seguem à risca o apren-dizado por etapas. Com um violino na mão e mui-ta vontade de fazer música, Guilherme Villanova, aluno do projeto da UnB, surpreende com o seu som afinado. Dos seus 11 anos, seis foram dedi-cados à música. Aos quatro começou a Musicali-zação, mas pediu para entrar na turma da amiga que tocava violino. Aprovado para a turma depois de um teste, Guilherme não parou mais: toca vio-lino, teclado e violão. A mãe, Madalena Villanova, exalta a importância da música na vida do filho: “Ele é um garoto muito mais responsável e com iniciativa. Enquanto estiver envolvido com a mú-sica, sei que estará em bom caminho”.

Na Asa Norte, o projeto “Musicalização In-fantil na 307 Norte” adota os moldes do proje-to da UnB. A iniciativa é de um grupo de pais moradores da quadra. As aulas são dadas para crianças de até cinco anos. Uma das mães res-ponsáveis pela organização do projeto, Taíza Nóbrega, revela que o desenvolvimento cog-nitivo e motor das crianças é notório ao longo dos primeiros meses. “No começo as crianças estranham, choram, mas depois se adaptam, prestam mais atenção, interagem durante as aulas. A linguagem verbal é muito desenvolvi-da e as aulas despertam o lado criativo de uma forma incrível.” Taíza notou que, em apenas quatro meses de atividades, a filha de três anos, Luíza, desenvolveu rapidamente a fala, além da percepção musical. “De vez em quando ela me conta as coisas cantando.”

Nas aulas, Taíza fala que as músicas sele-cionadas são principalmente infantis e sempre com letras para estimular o imaginário e a fala das crianças. Com relação ao tipo de música, a professora Denise Scarambone explica que a es-

colha deve ser feita de acordo com os objetivos a serem alcançados, independentemente de ser erudita ou popular.

A faixa etária também é importante na sele-ção musical. Para crianças maiores e adolescen-tes, o indicado é usar músicas pelas quais elas se interessam. Já nas aulas para bebês, quando o objetivo é acalmá-los, é indicado um repertó-rio suave, que dê a sensação de tranquilidade. Músicas animadas são indicadas desde que o objetivo seja estimular o bebê a se movimentar, de forma a desenvolver a coordenação motora.

Para Arthur Pisco, de 16 anos, a música é mais que uma linguagem para desenvolver ha-bilidades, é também um estilo de vida. O estu-dante da Escola de Música de Brasília toca violi-no desde os três anos e já participou de eventos internacionais na Rússia, Alemanha e Argentina. Apesar da pouca idade, Arthur demonstra ma-turidade e até ensina a amiga Sara. Com oito anos, a pequena começou a tocar com cinco. Sara Arruda conta que a música é também uma diversão. “Me emociono e fico contente cada vez que toco.” Arthur complementa a pequena mu-sicista: “Fazer música é o que me faz feliz; ela é bonita, harmoniosa e agrada às pessoas. Fico contente quando apreciam o que eu faço”.

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EMPREGO

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Isabella de Andrade

Dalai Solino

Por dentro da profi ssão: divas da noite

Fogo-fátuo, codinome Boitatá

CURIOSIDADES

?

Um fenômeno raro, que deixa de boca aberta quem já o viu. O fogo-fátuo ge-ralmente aparece em cemitérios e pântanos, onde há grande concentração de matéria orgânica morta. “Organismos do domínio Archaea realizam a decompo-sição de corpos e liberam gases, como o metano e o fossina (hidrogênio fosfora-do)”, explica a professora de biologia Cyntia Kyaw. Ao entrar em contato com o oxigênio, esses gases queimam e geram uma chama azul. Daí surgem diversos mitos, afi nal, luzes estranhas em pleno cemitério assustam qualquer um. No Brasil, com o Boitatá, a cobra de fogo, os indígenas deram outra versão para a reação química. A lenda foi citada pela primeira vez em 1560, num texto do padre jesuíta José de Anchieta. Conta-se que um espírito em forma de cobra protegia as fl orestas contra queimadas, podendo também transformar-se em uma tora em chamas e matar os que destruíssem a fl oresta. Porém, o misterioso Boitatá não passa de uma rápida e contida explosão.

Lenda da cobra de fogo é explicada por manifestação gasosa comum em cemitérios

Ilustração: Barbara Miranda

De eventos empresariais a casamentos, as drag queens, personagens que eram exclusividade de boates gays, são gerenciadas por empresa e não precisam mais trabalhar por conta própria

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Por dentro da profi ssão: divas da noite

As drag queens foram além do mo-vimento de figuras excêntricas que xsurgiu entre os anos 1960 e 1970

e transformaram suas personagens em profissão. As figuras animadas, usando roupas coloridas, saltos altíssimos e mui-ta maquiagem são presença garantida na animação de festas de 15 anos, formatu-ras, casamentos e eventos coorporativos. O entretenimento nas noites tornou-se a principal fonte de renda de muitos desses homens que se montam (se travestem com figurino exagerado) para trabalhar.

O estudante de Artes Cênicas Magno César, 20 anos, começou no ramo no ano passado. O convite veio de amigos que trabalhavam como drags na Caixa Cênica,

única produtora de shows para festas com esse tipo de serviço em Brasília. A ideia para sua personagem surgiu du-rante uma aula de maquiagem cênica. O ator ganha em média R$ 1,2 mil por mês como Natasha Yohara.

A animação feita pelas personagens é o carro-chefe de contratações da empresa. Cada apresentação costuma ter duração de uma hora por festa, o que permite às drags fazerem até três eventos por noite em fins de semana agitados. O cachê por hora pode ir de R$ 350 a R$ 700. Parte do valor vai para o artista e parte para a em-presa, que faz o contrato com os clientes.

Camila Meskell, atriz e uma das donas da empresa de entretenimento, se ins-pirou nos amigos que se apresentavam como drag queens na noite quando criou as atrações. Ao se formar em Artes Cêni-cas na UnB, ela sentiu carência deste tipo de empreendimento no mercado da cida-de. Camila afirma que o cachê das drags é mais alto do que o de outras atrações.

Para Alexandre Loyola, criador de uma das drag queens mais famosas da cidade, Alice Bombom, o começo foi diferente. Sua personagem se apresenta como drag em Brasília há 16 anos e no início não recebia cachê. O artista chegava a pagar para en-

trar nas festas e divulgar seu trabalho. De tanto animar baladas por conta própria, Bombom começou a ser convidada para alguns eventos e a receber cachês sim-bólicos, como o pagamento da gasolina.

Hoje, com Alice Bombom, Loyola – que já trabalhou em boates – faz vários tipos de festa, de formaturas a despedidas de solteiro e ganha em média R$ 450 por noite, trabalhando uma hora. Loyola é autônomo, consegue contratos sem inter-médio de produtoras. Além de ser drag queen, vende seus famosos bombons por Brasília e trabalha em uma rádio da cidade.

Já Luis Felipe Souza, 22 anos, afirma que, embora em temporadas agitadas o cachê seja alto, o emprego fixo também é importante. “Eu não conseguiria me manter apenas como drag, que encaro como diversão.” O estudante de Marke-ting trabalha num restaurante e em alta temporada chega a ir a sete festas por fim de semana. Luis Felipe começou a atuar como drag no início do ano passado com a personagem Pricilla Pirullita. Para ele, o trabalho não se resume às apresentações: “Muitas pessoas vêm desabafar, contar problemas, e até já se assumiram gays para as drags”, conta.

CRIATIVIDADE E PERSONALIDADEPara fazer um bom show, não basta

comprar o figurino e colocar uma peru-ca, é preciso ter personalidade. Magno César destaca a importância da criação da personagem: “É preciso interiorizar quem é essa personagem, com uma aura encantadora e divertida. Para ser uma boa drag, é preciso estar bem com você mesmo e ter consciência de que o clien-te que nos contrata quer sempre o nosso

melhor, pois aquela festa, um casamento, por exemplo, é um momento único para os envolvidos”.

“Desde o início da Caixa Cênica as drags são as mais pedidas. Acredito que o público goste mais pelo glamouque elas levam junto com o lado cômico. As apre-sentações são sempre muito animadas”, afirma Camila Meskell.

ESTILOS DE RAINHA

O ator Magno César define tipos de personagem que podem ser identificadas de acordo com as características da apresentação:

Drag Animadora – Com o micro-fone, faz brincadeiras e interage com os contratantes e os convidados.

Drag Anima Pista – Faz a coreografia para abrir a pista de dança e brinca com os convidados de mesa em mesa durante a festa.

Drag Bate Cabelo – Normalmente se apresenta em boates, fazendo coreografias e dublando músicas durante o show.

Drag Caricata – Também costuma se apresentar em boates e pode ser apresentada como humorista.

Natasha Yohara, personagem de Magno César, pronta para uma festa de 15 anos

Se na tradução literal drag queen é algo como “rainha do arrasto” ou “rainha draga”, elas próprias definem o ter-mo como “rainha montada”, porque criam a personagem

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ESPORTE

Pedro Augusto Correia

Futebol da capital vai mal das pernasSem investimento, Brasiliense e Gama deixaram para trás a época em que frequentavam a elite do esporte nacional. Em 2012, o Distrito Federal não terá representante nas séries A e B do Campeonato Brasileiro pelo segundo ano consecutivo

CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 8 a 15 de novembro de 2011 7

Após um ano desastroso, o futebol de Brasília segue caminhada la-deira abaixo. Carentes de apoio

financeiro e da presença das torcidas no estádio, os dois maiores times da capital, Gama e Brasiliense, estão cada vez mais distantes da elite do futebol nacional.

No Gama a situação é a mais deses-peradora. Sem ganhar nenhum título desde 2003, quando venceu o campeo-nato candango, a equipe foi eliminada na primeira fase da Série D do Campe-onato Brasileiro, após vencer somente dois dos oito jogos disputados. Para o próximo ano, o alviverde não tem sequer vaga garantida no campeonato nacional.

Após a eliminação precoce, os joga-dores do Gama que tinham contrato até dezembro de 2011 foram dispensados. Os restantes foram emprestados para peque-nos clubes de Goiás e do Distrito Federal ou voltaram às categorias de base. Assim, em setembro o clube fechou as portas e entrou de férias. “A situação do Gama é reflexo de problemas administrativos e estruturais muito graves. Espero que daqui pra frente haja mais seriedade de quem dirige o time”, desabafa Daniel Lira, torcedor do Gama e jornalista que acom-panha o futebol da cidade há 10 anos.

No Brasiliense o quadro não é muito melhor. Fundado em 2000, o time amare-lo teve um início recheado de sucessos. Foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2002 e, em 2005, entrou para a história do futebol brasileiro como o clube que mais rapidamente chegou à Série A do campeonato nacional. Depois disso, amar-gou campanhas cada vez piores na Série B e acabou sendo rebaixado em 2010.

Este ano também foi difícil para o Ja-

caré. No último dia 17, após ser golea-do pelo Joinville por 4x1 em seu próprio estádio, o Brasiliense encerrou a cam-panha na Série C, eliminado com duas rodadas de antecipação. Luiz Estevão, presidente do clube, já avisou que, dos 33 jogadores do elenco, 15 serão man-dados embora ao final da temporada.

José de Brito Júnior, diretor da torcida Facção Brasiliense – maior organizada ligada ao time – acredita que a estraté-gia de contratações é a responsável pela situação da equipe. “É fruto da política da diretoria de contratar jogadores ve-lhos, que vêm para Brasília só para pas-sar férias e receber o salário sem ne-nhum comprometimento com o clube.”

RAZÕESA grande dificuldade dos clubes da ci-

dade é atrair os investimentos necessários para sustentar um negócio caro como o futebol. Sem um grande patrocínio des-de 2009, o Gama recebeu R$ 90 mil em 2011. O Brasiliense também não estampou nenhuma marca em sua camisa durante a disputa da Série C deste ano. Enquanto isso, os 12 maiores times do país recebe-ram, em média, pouco mais de R$ 20 mi-lhões apenas pelos patrocínios em unifor-mes. Só o Corinthians ficou com R$ 47,5 milhões. “Não se faz futebol sem dinheiro. Não há como planejar nada para o futuro sem proventos”, explica Vilson de Sá, vice--presidente do Gama.

A alternativa para as equipes candan-gas poderia vir das arquibancadas, o que também está longe de acontecer. Apenas 22 mil pessoas assistiram a todos os 11 jogos que Brasiliense e Gama receberam nas séries C e D, respectivamente, durante

O Brasília é o clube do Distrito Federal que mais vezes disputou a Série A do Campeonato Brasilei-ro. A última das sete oportunida-des aconteceu em 1985. O time, que também é o segundo maior vencedor do Candangão, com oito títulos, não vence o campeonato desde 1987. Em 2012, o Brasília vai disputar apenas a 2ª divisão do Campeonato Brasiliense. Quem faz companhia para o Brasília na se-gunda divisão local é o Sobradinho, que revelou o atacante Dimba para o futebol. O time foi o represen-tante do Distrito Federal na Série A do Campeonato Brasileiro de 1986. Esse também foi o ano do último título da equipe no Candangão.

Situação pior é a dos clubes que já estiveram na elite do futebol nacional, mas hoje fecharam as portas. O Ceub disputou a primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 1973, 1974 e 1975, mas acabou encerrando suas atividades no ano seguinte, devido a problemas fi-nanceiros. A história é semelhan-te à do Taguatinga. Após a saída do empresário Froylan Pinto, que patrocinava o clube, o departa-mento de futebol foi desativado, em 1999. O Taguatinga é um dos maiores vencedores do Campeo-nato Brasiliense, com cinco títulos, e também representou a cidade no Campeonato Brasileiro de 1982.

este ano. O número não chega a um terço da capacidade estimada para o novo Está-dio Nacional de Brasília, que tem capacida-de prevista para 71 mil pessoas.

Com isso, a renda total dos jogos foi de apenas R$ 86 mil. O Santa Cruz, de Per-nambuco, que também disputa a Série D do Campeonato Brasileiro, em sete jogos levou pouco mais de 240 mil pessoas ao seu estádio, arrecadando R$ 2,8 milhões.

“O brasiliense costuma torcer por clu-bes de fora e não tem tradição de ir ao estádio. Nós temos consciência de que for-mar uma torcida é um processo demorado, mas vale lembrar que na fase áurea do Bra-siliense o público enchia o Serejão”, argu-menta Luiz Estevão. O mandatário da equi-pe tem razão. Em três de junho de 2001, na final do Campeonato Brasiliense, contra o Gama, 35 mil pessoas foram ao estádio. O maior público da história do futebol do Distrito Federal aconteceu em 1998, quan-do 51 mil pessoas viram o Gama vencer o Londrina, do Paraná, e subir para a Série A do Campeonato Brasileiro, no Estádio Mané Garrincha.

Apesar das adversidades, os dirigentes dos dois clubes mantêm o otimismo para o próximo ano. “O sucesso de uma tempora-da depende do acerto na hora de contratar. Infelizmente, nas últimas, colocamos muita expectativa sobre jogadores que acabaram não correspondendo. Espero que, para 2012, possamos fazer as contratações cer-tas para voltar à Série B”, diz Luiz Estevão. Para o vice-presidente do Gama, o acerto com um patrocinador está próximo e pode mudar a situação do time. “Nós estamos trabalhando muito atrás disso, já tivemos algumas reuniões e acredito que vai se concretizar”, resume Vilson de Sá.

O BURACO É MAIS EMBAIXO

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Água quente, alguns grãos, uma xícara e muita intuição

PERFIL: Lidija Milovic

“Minha vida é

perfeita. Eu nunca voltaria nem meia hora para trás. Só

quero viver para frente”

8 CAMPUS Jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB Brasília, de 8 a 15 de novembro de 2011

F U T U R O T R A Ç A D O N A B O R R A D E C A F É

Sem bola de cristal, cortina vermelha ou luz de velas, a sala de atendimento da viden-te Lidija Milovic é um ambiente claro, despi-

do de exageros na decoração. As paredes brancas sustentam prateleiras que, por sua vez, servem de vitrine para as esculturas de argila que ela mes-ma fez. Logo na entrada, um piano se esconde em meio a outros objetos. Os dois abajures que com-põem a iluminação, um deles instalado sobre a mesa redonda na qual a adivinha recebe os clien-tes, sugerem certo misticismo. Ao fundo, a copa, exposta ao público, revela, nos detalhes, o moti-vo de minha visita: é lá que Lidija prepara o café.

Não faz amarração, nem traz o amor de volta em 24 horas. Tam-bém não joga tarô, búzios ou ru-nas. A proposta de Linda, como é conhecida por clientes e amigos, é ler a borra do café. É ela quem pre-para a bebida. Três diferentes grãos de cafés nacionais são misturados e moídos. As marcas usadas? Se-gredo. A técnica? Ela não sabe ex-plicar, sabe por em prática. Revela somente que a xícara exige formato específico. Deve ser arredondada.

A figura da esotérica não passa despercebida. Uma mulher exótica. Alta, magra, ruiva, de olhos azuis e que, apesar dos seus 57 anos, esconde a idade atrás do sorriso simpático. Original do Leste Europeu, da Es-lovênia, o sotaque permanece carregado, embora ela more em Brasília há quase 15 anos. É seu charme, sua identidade. De repente, me surpreende. Ajustando os óculos de grau, pergunta: “Você vai querer café?”.

Resolvi arriscar. Seguindo as regras, esperei dois minutos para começar a ingerir e mais sete para degustá-lo. Obedecendo a ordem de deixar a louça sobre a mesa ao longo do processo. “Não segure o café na mão. Se segurar vai dar errado”, me re-preendeu. Quando, nos últimos goles, senti a con-

Mariana Fagundes

sistência da bebida ficando mais espessa, soube que era hora de entregar a xícara para a vidente. Linda depositou o recipiente virado sobre o pires, permitindo que o excesso de líquido escorresse. Em seguida, pegou a xícara e a sacudiu em círculos.

O resultado foi uma surpresa ainda maior. Linda vê imagens e as interpreta conforme sua intuição. Uma casa vazia, coelhos, raízes de árvores, um ma-mífero e um rosto são algumas das figuras que ela identificou em minha borra. Apontando as formas com um palitinho, ela vai explicando o futuro. Seu objetivo é identificar o próximo passo do atual mo-mento do cliente. O prazo de validade da leitura é

pequeno. “O para sem-pre na xícara tem limite de seis meses”, brinca.

Para a adivinha, o café é energia. Não apenas por ser estimu-lante, mas, em especial, por se tornar, em suas mãos, elemento místi-co. Muito além disso, a esotérica encontra na bebida uma forma de

manter-se ligada à faleci-da mãe, uma chance de fazer amigos e driblar a soli-dão e, já que é preciso se alimentar, fonte de renda.

Sem filhos e divorciada, às vezes ela se sente só. Mas não infeliz. Tem como companheira inse-parável a cachorrinha Lady, uma “vira-lata aristo-crata”, como foi apelidada. Também convive com alguns clientes, que ao longo dos anos tornaram-se amigos. Eles diminuem os momentos de solidão. Sacudindo afirmativamente a cabeleira ruiva, Linda diz: “Minha vida é perfeita. Eu nunca voltaria nem meia hora para trás. Só quero viver para frente”.

O estabelecimento, que atualmente fica na 409 Norte, surgiu por acaso. Em 2003, na Iugoslávia de-cidiu montar um café. Mas faltava dinheiro para

comprar uma máquina de café expresso. Era preciso arrumar uma maneira de atrair a clientela. A neces-sidade desencadeou o anúncio: “leitura da borra do café”. No mesmo dia em que Linda fixou a placa com esses dizeres na entrada da antiga cafeteria, uma fila de quase 30 pessoas bateu em sua porta.

A capacidade de interpretar a figura ao fundo da xícara é herança cultural da região onde nas-ceu. A maior influência foi a mãe, que se desta-cava nesse exercício. Aos vinte e poucos anos, movida pela inquietude da idade, Linda passava o dia pedindo para que a mãe lesse na borra o fu-turo. “Tomava 15 xícaras por dia, até que ela fa-lasse exatamente o que eu queria ouvir”, conta.

Os clientes mais assíduos garantem que a precisão das previsões da vidente surpreende. O servidor público Cláudio Moreira já é de casa. Ele consulta Linda há quatro anos. “Os dados da xíca-ra são sempre bem objetivos. Já procurei búzios, tarô, mas aqui é onde vejo mais exatidão”, afirma.

Cerca de 220 fregueses passam pelo espaço de Linda todo mês. Orgulhosa, a dona do local conta que há quem não dê um passo na vida sem con-sultar a xícara. Entretanto, observa que a leitura da borra não assegura o destino de ninguém. “Quem garante o futuro?”, questiona, cheia de mistério. Modéstia, pois dizem que ela garante. Eu ainda não sei. Espero o futuro chegar para ter certeza.

Da esquerda para a direita1 – Frequentadora de bares e festas, Linda gos-ta de ter tempo para cuidar de si. 2 – A borra de café revela figuras. Linda apenas as interpre-ta. 3 – Lidija Milovic aos 3 anos de idade, apren-dendo a andar de bicicleta na antiga Iugoslávia. 4 – Lady, a “vira-lata aristocrata” da vidente, é o xodó de Linda e dos clientes. 5 – Linda em um encontro de amigos, já no Brasil, em 1999.6 – Lidija servindo café antes da consulta.

Dalai Solino

Dalai Solino

Arquivo Pessoal

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