Campus - nº 407, ano 43

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Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013 ABORTO A FORMAÇÃO IMPORTA Grupo de mulheres com baixa escolaridade têm mais risco de morrer por procedimento ilegal GDF CONCURSO PARA DOCENTE Edital para a Escola de Música permite contratação de professor para ensinar instrumento que não domina TURISMO FINANCIAMENTO ONLINE Empresas bancam viagem de internautas em troca de publicidade. Novo site já reúne mais de dois mil brasileiros BRASÍLIA, 19 A 26 DE NOVEMBRO DE 2013 CAMPUS Núcleo Rural na BR 251 é o local com maior número de horas sem luz. Agricultores como Isidoro Cenci têm equipamentos danificados pela falta de energia O LADO MAIS ESCURO DO DF Douglas Lemos NÚMERO 407 ANO 43

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Edição 407, ano 43, de Campus, de 19-11 a 26-11 de 2013

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Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013ABORTOA FORMAÇÃO IMPORTAGrupo de mulheres com baixa escolaridade têm mais risco de morrerpor procedimento ilegal

GDFCONCURSO PARA DOCENTEEdital para a Escola de Música permite contratação de professor para ensinar instrumento que não domina

TURISMOFINANCIAMENTO ONLINEEmpresas bancam viagem de internautas em troca de publicidade. Novo site já reúne mais de dois mil brasileiros

BRASÍLIA, 19 A 26 DE NOVEMBRO DE 2013

CAMPUS

Núcleo Rural na BR 251 é o local com maior número de horas sem luz.

Agricultores como Isidoro Cenci têm equipamentos

danificados pela falta de energia

O LADO MAIS ESCURO DO DFDouglas Lemos

NÚMERO 407 ANO 43

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CAMPUS2 Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013

CAMPUSJornal-laboratório da

Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília

Editor-chefe: Gabriel LuizEditores: Adriano Belmiro, Ingrid BorgesRepórteres: Ana Teresa Malta, Brunna Ribeiro, Ana Teresa Malta, Maria Tereza Matos, Pedro Silva , Tamara MirandaFotógrafo: Douglas LemosProjeto Gráfico: Beatriz Ferraz, Hermano

Araújo, Marianna Nascimento e Nadjara MartinsProfessores: Sérgio de Sá e Solano Nasci-mentoMonitoras: Marianna Nascimento e Nadjara MartinsJornalista: José Luiz da Silva

Gráfica: Palavra ComunicaçãoTiragem: 4 mil exemplaresContato: 61 3107-6498/6501E-mail: [email protected]ço: Faculdade de Comunicação, Campus Darcy Ribeiro, Instituto Central de Ciências - Ala Norte, Brasília, DF

Poucos dos que seguram um exemplar do Campus sa-bem que ele é feito por duas turmas diferentes. Sai edição toda semana, mas cada equi-pe tem um período de 14 dias para apurar e “fechar” o jornal, como se diz no nosso jargão. Esta é a última edição da nos-sa turma, que conseguiu tocar o Campus com expediente de apenas dez pessoas.

Ao longo do semestre, aprimoramos nossas técnicas de entrevista e apuração. Ba-ses de dados, como o Datasus, ferramenta consultada na ma-téria de Maria Tereza Matos, não amedrontam como antes. Ela teve a ideia de relacionar os números de mortes refe-rentes a tentativas de aborto com o grau de escolaridade das mulheres e descobriu um dado relevante, que o leitor deve encontrar na reportagem.

No desejo de sair da zona de conforto, quem lê este jor-nal-laboratório irá perceber que nesta edição, não foi dado enfoque a nenhuma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília. Os olhos dos nossos

Carta do Editor

repórteres se voltaram para além dos pilares do Minho-cão, o Instituto Central de Ciências.

Por exemplo, Ana Teresa Malta fez um levantamento dos locais do Distrito Federal onde mais falta energia. Ela decidiu visitar o triste cam-peão: um núcleo rural próxi-mo à BR 251 que ficou mais de 30 horas no escuro de ja-neiro a setembro deste ano, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica.

Não é pertinente usar este espaço para contar todos os bastidores do jornal. Seriam necessários mais do que os 1,7 mil caracteres disponí-veis. Se bem que, para quem lê, não interessam o sofri-mento na hora de se pensar um título chamativo nem a pressão angustiante de quan-do se aproxima o deadline. O que de fato importa é o Cam-

pus ser impresso a tempo, custe o que custar. Se conse-guimos vencer o desafio du-rante este segundo semestre de 2013, cabe a você, leitor, definir.

Memória

Gabriel Luiz

Na matéria de capa da edição 373 do Campus, de novembro de 2011, Ana Paula Matos mostrou o descumprimento de lei que obriga o ensino de música no DF. A reportagem Música fora de ritmo

nas escolas fez um levantamento em 108 estabelecimentos públicos da região, e, na época, somente o Centro de Ensino Fundamental 16, de Taguatinga, afirmava possuir ensino musical dentro da grade curricular.

Além de professores e alunos, a repórter também ouviu especialistas, que destacaram o papel positivo da musicalização

RecorteDouglas Lemos

Ombudsman

As opções de lazer são reduzidas na capital federal, comparada a outras grandes metrópoles brasileiras. Há apenas uma alternativa de parque de diversão na cidade

Depois de avanços no Campus 404, a última edição volta a pecar nas fotografias que ilustram o jornal. Algu-mas não têm contexto, outras não informam. Nenhuma de-las chama atenção de quem se dedica à leitura do jornal. A qualidade da impressão prejudica e há, quase sempre, muitos percalços para se con-seguir boas imagens, no en-tanto fica a impressão de que esse aspecto foi deixado de lado pela equipe. Apesar dis-so, a edição apresenta em duas reportagens bons usos de grá-ficos, com soluções criativas.

Apesar de Crime de cor

confirmar um problema já co-nhecido, esse não é o erroda reportagem. A informação de mais impacto é a do número

de homicídios de negros, tanto que está na chamada e no su-tiã. No texto, entretanto, não é isso que ocupa mais destaque, o dado demora até a aparecer.

Ótima reportagem de capa, Fúria sobre rodas não se con-tentou em dar voz apenas às reclamações. Os repórteres ouviram também motoris-tas, especialistas e consegui-ram fugir do caminho mais fácil de simplesmente mos-trar que o problema existe e passageiros estão indignados.

A arte do esforço decepciona. O texto parece simplesmen-te juntar alguns personagens e não consegue inseri-los de fato na questão problematiza-da. Parece muito pouco para representar a cena artística de Planaltina. A reportagem

trata da falta de apoio, mas não ouve nenhum dos res-ponsáveis pela destinação de verbas para a cultura. Décadas

de discriminação começa com uma boa abertura descritiva, mas se perde em meio a tan-tas aspectos. Falta foco, todos os problemas dos ciganos não cabem em uma reportagem curta. Além disso, os últimos parágrafos tendem à editoria-lização e se baseiam apenas na fala de um dos entrevistados.

Os filhos da favela conse-gue encerrar bem a edição, com uma abordagem humana do cotidiano dos jovens que moram na invasão. O jorna-lismo ganha quando aposta em revelar o que, comumente, está longe dos olhos do leitor.

Alexandre de Paula

*Termo sueco que significa "provedor da justiça", discute a produção dos jornalistas sob a perspectiva do leitor. Fulano é aluno do Xº semestre FAC.

no desenvolvimento cognitivo infantil.

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3CAMPUSBrasília, 19 a 26 de novembro de 2013

Serpenteando a BR 251, armazéns, plantações e máquinas formam um

dos maiores produtores de grãos por hectare do Brasil. Começando por volta do Km 7, a região — quase Goiás, quase Minas — abriga o núcleo rural conhecido por Programa de Assentamento Dirigido (PAD). Apesar do sucesso com o trigo, o milho e a soja, a área guarda outro tipo de recorde, mais amargo: é a região do DF com maior número de horas sem luz elétrica. “Aqui, se um cachorro mijar no poste, cai a energia”, brinca o fazendeiro Isidoro Cenci, morador do Capão Seco, uma das zonas do PAD.

Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), de janeiro a setem-bro de 2013 foram cerca de 31 horas no escuro. No mes-mo período em 2012, foram 27,6 horas, e em 2011, 21. No entanto, pelos relatos da po-pulação, as horas parecem se estender mais do que as esta-tísticas. E os prejuízos tam-bém. A dona de casa Jussara Aparecida diz que não há sa-ída: “Relampeia e cai a luz, é

QUEDAS E PREJUÍZOS ELETRICIDADE

só armar pra chover”. Há qua-tro meses, uma dessas quedas estragou eletrodomésticos da moradia.

Enquanto ela lamenta a perda do freezer, o fazendei-ro Leandro Maldaner enfren-ta uma batalha judicial contra a Companhia Energética de Brasília (CEB) desde 2006. A falta de energia danificou as máquinas da Fazenda Pascoal, da qual Maldaner é sócio. A reposição dos equipamentos vindos de São Paulo demorou cerca de uma semana, estra-gando metade da produção de trigo. O resultado foi um pre-juízo de R$ 180 mil, calcula o fazendeiro, que quer uma in-denização da CEB no mesmo valor.

Um dos principais pro-blemas na região não é a total ausência de luz, e sim o forne-cimento elétrico em potência insuficiente, conforme relata o engenheiro agrônomo Cláu-dio Malinski, que trabalha na Cooperativa Agropecuária do PAD (Coopa/DF) e está há mais de 30 anos na região. Ele explica que as frequentes redu-ções e instabilidades na volta-gem acabam exigindo mais dos

Ana Teresa Malta

motores dos equipamentos agrícolas e acelerando o des-gaste deles.

Malinski acredita que a estrutura elétrica não foi am-pliada na mesma proporção que o crescimento das ativi-dades, mas faz uma ressalva: “Ainda estamos melhores do que o Entorno”. Infelizmente, a CEB e a Companhia Ener-gética de Goiás (CELG) dis-putam as piores posições no ranking de desempenho elabo-rado pela Aneel. Em 2012, elas ocupavam, respectivamente, o terceiro e o segundo pio-res lugares dentre as grandes distribuidoras energéticas do país, atrás apenas da Centrais Elétricas do Pará (Celpa).

Para o professor Mauro Severiano, da Faculdade de Engenharia Elétrica da Uni-versidade de Brasília (UnB), o principal problema da CEB é o desrespeito aos índices estabe-lecidos pela Aneel. A agência determina limites para a dura-ção e a frequência das quedas de energia de acordo com as condições de cada região. Na área do PAD, o máximo anu-al permitido em 2012 eram 43 horas, mas foram superadas 60 horas sem luz.

Segundo o administrador da Agropecuária Cenci, Se-veriano Walendorff, na pri-meira semana de novembro deste ano a energia já havia faltado duas vezes. Ele diz que as quedas costumam ter dura-ção de quatro ou cinco horas, além de episódios mais curtos e frequentes, de até 30 minu-tos. “Que nós nem considera-mos mais.” Walendorff, que está há 33 anos no PAD, avalia também que o atendimento da CEB está piorando, pois costu-mava ser mais rápido.

E os problemas não afetam somente a agropecuária. As aulas são prejudicadas no Cen-tro Educacional do PAD/DF. “Ontem mesmo, quando che-gamos às 7h30, a escola estava sem energia, que só foi voltar às 10h”, relata Sueli de Fátima, secretária da escola. Os 250 alunos do período noturno são os mais prejudicados. De ma-nhã, a falta de energia faz os professores buscarem alterna-tivas que não envolvam uso de equipamentos elétricos, mas durante a noite as aulas preci-sam ser interrompidas, explica a vice-diretora, Silvania Pauli-no.

A CEB, por meio da as-sessoria de Comunicação, afirmou que a área traz mais dificuldades que outras no Distrito Federal, pois no nú-cleo rural os postes de luz e os circuitos elétricos são mais es-paçados e extensos, e a própria

quantidade de árvores é um obstáculo. Além disso, a com-panhia explica que a região apresenta lugares de difícil acesso, condição que considera impossibilitar que equipes tra-balhem quando a energia falta durante à noite.

Impossível é deixar de no-tar os sotaques e os sobreno-mes propagados no PAD/DF. Segundo relatos dos morado-res, o PAD/DF foi criado no final dos anos 70 como forma de abastecer Brasília. Muitos gaúchos vieram para a região que agora produz mais de 30 culturas e exporta para cidades como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Malinski afirma que o clima e os inves-timentos em pesquisas foram os principais fatores que con-tribuíram para o desenvolvi-mento do local. Imagine se os cachorros não mijassem nos postes.

Douglas Lemos

Para Cláudio Malinski, engenheiro agrônomo há 30 anos na Cooperativa Agro-pecuária do PAD, a instabilidade da energia desgasta os equipamentos da lavoura

O núcleo rural PAD é o lugar do DF com maior número de horas sem energia. A CEB é a terceira pior companhia elétrica do país

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CAMPUS4 Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013

FAZ DE CONTA LEVADO A SÉRIOPEDAGOGIA

Colégios privados de Brasília, que há anos fazem simulações de

reuniões de órgãos nacionais e internacionais com alunos do ensino médio, passaram a envolver estudantes do ensi-no fundamental no processo. Como são consideradas na avaliação, essas simulações — que incluem sessões da Câma-ra dos Deputados e reuniões de comitês da Organização das Nações Unidas (ONU) — pre-cisam ser aprovadas pelo Con-selho de Educação do DF.

Maria Clara Garcia de Me-nezes, 13, está no 7° ano do Leonardo Da Vinci, colégio particular do DF, que este ano passou a oferecer aos alunos do ensino fundamental opor-tunidade de aumentar a nota do bimestre participando da simulação Onuvinci Jr — or-ganizada pelo colégio Leo-nardo da Vinci. “Eu gostei, foi um aprendizado a mais”, conta Maria, que representou a Chi-na. Com maturidade, ela pen-sa no mercado profissional: “Achei importante aprender a discursar, melhorei minha oratória. Isso vai ajudar no futuro em uma entrevista de emprego”, conta ela, que quer ser jornalista. A mãe, Paula Barzon, vê pontos positivos na participação da menina na ati-vidade extraclasse: “Ela agora tem uma postura mais adulta, senso crítico mais apurado. Mas, a princípio, ela achava que não ia dar conta”.

Para as escolas públicas, o Ministério da Educação exi-ge padronização nas formas de avaliação dos alunos. Em colégios particulares, isso fica a cargo de cada instituição, desde que conste na propos-

ta pedagógica do colégio. “A proposta tem que passar pelo Conselho de Educação do DF para aprovarmos”, declara o coordenador de Supervisão Institucional e Normas de En-sino da Secretaria de Educação do DF, Marcos Silvio Pinhei-ro. Foi o caso do Leonardo Da Vinci. Segundo Pinheiro, as simulações têm de ser conside-radas um incentivo ao apren-dizado do aluno, e estarem claras desde o início: “A escola pode realizar. O que exigimos é que o currículo seja seguido e as questões avaliadas sejam coerentes a ele.” As escolas renovam as propostas pedagó-gicas a cada cinco anos. Caso ela não seja cumprida, a ins-tituição deve sofrer sanções. Denúncias de irregularidades podem ser feitas à Secretaria de Educação.

No Sigma, outro colégio de Brasília, há simulações de reuniões do Superior Tribu-nal Federal (STF), da Câmara dos Deputados e de comitês da ONU. Elas vêm ocorrendo há 13 anos no ensino médio, mas em 2013 alunos do 9° ano puderam participar. “Em 2005, estudantes mais novos partici-param, mas paramos. Volta-mos agora por pedido dos alu-nos”, revela Paulo Macedo de Almeida, coordenador das si-mulações do colégio, pioneiras na cidade. Em 2001, por inicia-tiva de um ex-aluno, a escola tornou a simulação parte do currículo. “Abraçamos a ideia. Faz parte da nossa proposta pedagógica, não tivemos pro-blemas para aprová-la”, conta ele. O colégio substitui a nota das provas discursivas mensais de História e Geografia pela nota de empenho no evento.

Rogério Bontempo Cândido Gontijo, 15, afirma que exis-te pressão sob os alunos, mas que a participação vale a pena: “Posso dizer que estou viciado já. Existe pressão porque vale nota, mas o processo é grati-ficante”. No evento, os par-ticipantes são avaliados pelo Documento de Posição Oficial (DPO), aplicado como uma prova; pela oratória e conhe-cimento demonstrado e pela noite cultural, em que stan-ds de cada país são montados para retratar suas cultura e so-ciedade com apresentações de palco.

HISTÓRICOEmiliano Amorim é funda-

dor e atual secretário-geral da Internacionali Negocia, insti-tuição que realiza simulações em Brasília há 13 anos. Foi ele quem implantou no Sigma as simulações. Formado em Ci-ência Política, Relações Inter-nacionais e História pela UnB, Amorim participava de simu-lações na universidade e teve a ideia de expandir isso para os colégios. “Vi que existia no exterior e que era possível de ser feito aqui”, conta. Os even-tos começaram com equipe de 17 pessoas e cinco comitês nas simulações. Hoje, seu staff gira em torno de 50 envolvidos e a maior simulação teve 13 comi-tês. As simulações incluem a Agência de Comunicação e o Jovem Executivo, comitês que trabalham a função da impren-sa e de empresários, respecti-vamente.

A Negocia criou o Modelo Internacional do Brasil (MIB) para que os estudantes de me-lhor desempenho do país pu-dessem competir. O prêmio

Brunna Ribeiro

O último MIB aconteceu em Brasília de 31 de novembro a 3 de dezembro de 2012e reuniu 250 estudantes do Brasil

Divulgação

Escolas particulares do DF passam a usar simulações de reuniões e assembleias também no ensino fundamental

para o melhor delegado é a participação em uma simula-ção de Harvard, universidade dos Estados Unidos. Emiliano Amorim acredita que a ex-pansão do modelo para alunos mais novos é positiva “Pelo ensino fundamental não ser pressionado com vestibular, é mais flexível. As crianças têm mais energia, são críticas. Não dá para comparar a cobrança. E se os pais autorizam a par-ticipação é porque os filhos querem, e é uma vivência ma-ravilhosa.”

"Achei importante aprender a discursar.

Melhorei minha oratória"

Maria Clara Garcia, aluna do 7º ano do colégio

Leonardo Da Vinci

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5CAMPUSBrasília, 19 a 26 de novembro de 2013

FAZ DE CONTA LEVADO A SÉRIO PROFESSORES DESAFINADOS EDUCAÇÃO

Concurso para docente da Escola de Música de Brasília permite que candidatos ensinem instrumento que não sabem tocarPedro Silva

Como é difícil tocar um instrumento musical sem se ter domínio so-

bre ele, um concurso público para professor da Secretaria de Educação do Distrito Fe-deral tem ares de ironia. O edital admite que o candidato aprovado dê aulas na Escola de Música de Brasília (EMB) sem passar por uma prova prática que comprovaria a habilidade com o instrumento. O único teste será uma avaliação escri-ta, marcada para o próximo dia 8 de dezembro.

“Vão admitir o indivíduo sem avaliar se ele é capaz ou não, sem que ninguém tenha noção do quanto ele toca, ou, na melhor das h i p ó t e s e s , sem saber se é o candida-to ideal para o cargo’’, re-clama Ayr-ton Pisco, p r o f e s s o r de violino e orquestra da EMB. “Não vai ser selecionado o melhor instrumentista, mas o candi-dato que passou em direito administrativo, atualidades e lei orgânica do DF’’, pondera, citando conteúdos exigidos na prova teórica.

Dos 79.239 inscritos para concorrer às 804 vagas para professor de educação básica do DF, 96 disputam 17 vagas direcionadas ao ensino profis-sionalizante de música, cada uma voltada a um instrumento específico.

O edital lançado dia 5 de setembro exibia erros crassos.

Era aceito diploma de licen-ciatura plena em Música com habilitação no instrumento. O documento, no entanto, ao menos em Brasília, não exis-te, uma vez que o único curso superior em Música da cidade, oferecido pela Universidade de Brasília (UnB), ainda não o concede. Outra diplomação aceita era bacharelado no ins-trumento. Porém, a UnB não possui bacharelado em oito das 17 especialidades em música do edital.

A Escola de Música de Brasília enviou memorando à Secretaria de Educação pedin-do mudanças nas exigências

dos diplomas, e a inclusão de prova prática no exame. A Secretaria de Administração Pública do DF (SEAP), órgão r e s p o n s á v e l pela elaboração do edital, o re-tificou no dia 20 de setembro. A habilitação no instrumento

foi descartada, e passou-se a aceitar, além do bacharelado, que se manteve, a licenciatura plena em Música, que é obtida sem que se tenha de praticar, ao longo da graduação, um instrumento. Não foi incluída, ainda, a avaliação prática.

“Pode acontecer de um ex-celente pianista concorrer em pé de igualdade com uma pes-soa que fez licenciatura, mas que não tem a menor ideia do que seja um teclado de piano’’, afirma o coordenador do De-partamento de Música da UnB, Vadim Arsky. Ele lembra que,

para ingressar na UnB, o can-didato a estudante de música passa por prova específica de instrumento no vestibular ou PAS.

Na avaliação do vice-dire-tor da Faculdade de Direito da UnB, Mamede Said, que é es-pecialista em direito adminis-trativo, houve displicência na formulação do edital. “E a re-tificação feita através do novo edital não resolve o problema. Estão contratando professores que vão ser do quadro perma-nente do GDF por décadas. Como vão abdicar de um as-pecto que é crucial na avalia-ção do candidato?’’, questiona.

“Se foi descuido ou não, cabe ao que cada um pensa’’, diz a secretária-adjunta da SEAP, Jackeline Aguiar. Segundo ela, se a prova prática for incluí-da no processo seletivo, novo

edital terá que ser feito. “Não podemos fazer uma alteração dessa magnitude no edital do concurso sem cancelá-lo inte-gralmente. Nada vai ser alte-rado, o concurso vai ocorrer como previsto’’, acrescenta.

De acordo com a secretá-ria-adjunta, o fato de haver eleições no próximo ano não permite atrasos no concurso. “O GDF precisa desse con-curso homologado antes do dia 30 de junho, que é o prazo limite eleitoral para homolo-gar concurso público e efetu-ar as nomeações ainda no ano de 2014’’, afirma Jackeline. A formulação de um novo edi-tal adiaria a homologação do concurso e a nomeação dos candidatos aprovados, que só poderiam ser feitas a partir de fevereiro de 2015, após a posse de governadores, parlamenta-

res e presidente. O diretor da Escola de

Música de Brasília, Ataide de Mattos, não quis comentar o assunto. O professor da EMB Ayrton Pisco diz que o caso não está recebendo a atenção devida. “Houve uma suces-são de erros. A escola ficar de fora da elaboração do edital, por exemplo, foi um erro. Se houvesse vontade política, se-ria encontrada rapidamente uma solução.’’ Ele entrou com ação judicial para cancelar o concurso, mas a liminar foi indeferida. Alegou-se que não cabe ao Judiciário adentrar nas funções da SEAP e da banca examinadora, e que o candida-to aprovado poderá perder o cargo nos três anos de estágio probatório, se verificada inca-pacidade de exercê-lo. Pisco vai recorrer.

Pedro Silva

Roda de choro: violão 7 cordas, bandolim e saxofone estão no edital e podem ter professor pouco qualificado.Não há bacharelado em Brasília para os dois instrumentos de corda

"Entregaremos o aluno a alguém que ou não sabe nada, ou pouco

sabe daquilo que vai ensinar"

Ayrton Pisco,professor da EMB

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CAMPUS6 Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013

FINANCIAMENTOSEM FRONTEIRAS

TURISMO

Paulo Caproni

A estudante de cinema Isabella Reis estuda para exames de proficiência em inglês há dois anos. Ela busca doações para visitar a indústria do cinema

Site oferece ajuda de empresas para viagens. Plataforma divulga projetos culturais e garante publicidade aos patrocinadores

Quem sonha viajar pelo mundo costuma ter de transpor, logo de cara,

um obstáculo capaz de desa-nimar até os mais experientes montanhistas. A trilha para conseguir o dinheiro neces-sário a uma viagem bem suce-dida é, para muitos, íngreme, escorregadia e cheia de onças-pintadas. Mas alguns viajantes têm encontrado na internet a ajuda de que tanto precisam. No fim de outubro, o site Tre-volta.com lançou a primeira plataforma online de finan-ciamento coletivo de viagens aberto para empresas.

“A proposta é dar às pes-soas a oportunidade de ter sua viagem paga por patrocinado-res e vista pelo mundo”, afir-ma, em entrevista pelo Skype, Mark Karimov, CEO do Tre-volta. “As empresas terão a oportunidade de patrocinar viagens de pessoas comuns em troca de publicidade ou de tarefas a serem cumpridas pe-los viajantes.” O Trevolta tem apenas nove funcionários em um colorido escritório em Jo-anesburgo, na África do Sul, e teve, segundo a empresa, mais de um milhão de visitas só na primeira semana de lança-mento. Outros sites de finan-ciamento coletivo como o In-diegogo e Kickstarter também se propõem a apoiar diversos projetos culturais, inclusive viagens, mas não são abertos a financiamentos de empresas.

Funciona assim: uma em-presa que vende máquinas fo-tográficas, por exemplo, pode

escolher patrocinar o plano de viagem de alguém que queira visitar belos lugares e dar ao viajante a tarefa de tirar fotos de cada lugar que visita usando a máquina da empresa e, en-tão, postá-las em redes sociais. Fabricantes de energéticos ou de equipamentos de trilha também podem pedir que os aventureiros usem seus produ-tos e gravem vídeos das cami-nhadas ou escaladas feitas por eles. Mas quem não é chegado a esportes radicais ou a andan-ças extensas também pode ter muito a oferecer. “Há patroci-nadores interessados em tipos de atividades muito diversos”, diz Karimov . “O importan-te é que os viajantes sugiram projetos que tenham algo de extraordinário, que inspirem outras pessoas ou que tenham algum propósito acadêmico ou científico.”

Tamanha gama de possi-bilidades pode atrair o patro-cínio vindo tanto de pessoas comuns como também de universidades, de ONGs e de entidades religiosas. É o que espera a norte-americana Jes-sie Hamilton, estudante de Gerenciamento de Negócios Internacionais que se inscre-veu no site. “Pretendo conse-guir até US$ 3 mil para ajudar nas passagens. Estou estudan-do espanhol na Costa Rica e logo irei à França aprimorar meu francês. Mas a língua é só uma ferramenta. Meu tra-balho mais importante é com missões”. Protestante da Igreja Metodista, Jessie presta ajuda

humanitária e prega a Bíblia por onde passa. “Com certeza meu maior desafio vai ser a viagem para Jordan, no Orien-te Médio. Os países daquela região são sempre perigosos para cristãos”, conta a estu-dante.

Isabella Reis, produtora de cinema em Brasília que tam-bém se inscreveu no site, quer estudar línguas, mas seu maior sonho é “conhecer melhor a indústria do cinema mundo afora”. Ela e outras centenas de brasileiros correspondem a 6% dos 34 mil inscritos para a primeira leva de viajantes, de-finida no último dia 4 de no-vembro. A partir desse dia, os inscritos começaram a montar suas páginas, de preferência de forma criativa. Segundo Kari-mov, até o fim de novembro alguns aventureiros já estarão alçando voo.

DIVERGÊNCIASEntretanto, não há con-

senso. O site já foi acusado em redes sociais e em blogs de ser uma grande fraude, planejada somente para coletar infor-mações pessoais dos inscritos. O indiano Protik Mukhopa-dhyay usou a página do face-book do site para criticar a fal-ta de uma ferramenta contra spams (como o Recaptcha) no momento de fazer a inscrição. A romena Lacra Timofciuc, especialista em marketing, de-monstrou ceticismo com um comentário irônico no mural do site no facebook: “Todos querem viajar, ninguém quer

pagar. Ótimo!”. Sites de análise de segurança como scamvoid.com recomendam cautela às pessoas que se inscrevem em sites abertos há tão pouco tem-po.

Karimov afirma que a companhia não distribui dados de nenhum inscrito, nem mes-mo para os patrocinadores. “A única informação pública é aquela que os próprios viajan-tes colocam em suas páginas”, esclarece. “Não há problema nenhum em se pedir dinheiro para uma viagem. Ninguém é obrigado a contribuir”, rebate Jessie. Kartik Kwatra, indiano formado em Ciências da Com-putação, também se juntou ao projeto, e diz não ter razão para desconfiar das intenções de seus idealizadores. “Todo mundo sai ganhando. O site recebe comissões dos patro-cinadores, que, por sua vez, ganham público e o público ganha um site para atrair mais patrocinadores”, afirma Kwa-tra em entrevista via chat.

Thais Pugliezi é formada em turismo, trabalha em agên-cias de viagens há oito anos e também está otimista quanto à proposta de financiamento coletivo para viagens. “É uma ideia que tem tudo para dar certo. As próprias agências de viagem convencionais po-deriam se beneficiar de pro-jetos como esse, financiando aventureiros com a tarefa de descobrir os melhores lugares para se visitar e pedindo dicas de viagem para repassar a seus clientes”. Irismar Costa, do se-tor de vendas da agência Mun-dial Turismo, afirma que esse tipo de projeto não chega nem aos pés do autofinanciamento em termos de público. “Não é algo com o qual tenhamos que nos preocupar”, enfatiza. Tal-vez ainda não, mas a cultura do financiamento coletivo virtual está se expandindo no merca-do brasileiro. Prova disso são os mais de 35 sites voltados à arrecadação para projetos de diversas áreas.

Paulo Caproni

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7CAMPUSBrasília, 19 a 26 de novembro de 2013

No Brasil, o risco de uma mulher que tenha estudado até o ensino

médio morrer por complica-ções decorrentes de um aborto ilegal é 15 vezes maior do que a de uma que tenha formação universitária. Isso é o que re-vela levantamento exclusivo feito pelo Campus no Data-sus, a base de dados do Minis-tério da Saúde. Os números confirmam que quanto menor o grau de instrução maiores as chances de morte materna por interrupção voluntária da gravidez.

Pelos dados de 2011, os mais recentes do Datasus, tentativas de aborto mataram 1,08 em cada grupo de 1 mi-lhão de mulheres que cursa-ram até ensino médio. Entre aquelas com curso superior — ao menos iniciado —, o índi-ce de mortes foi de 0,071 para cada 1 milhão.

Daniela*, 23 anos, por pouco, não aumentou as esta-tísticas. Mãe pela primeira vez aos 17 anos, ela engravidou do segundo filho em 2011 quan-do cursava o segundo ano do ensino médio. Ela explica que trabalhar, estudar e cuidar de uma criança era muito difícil e, por isso, decidiu interromper a segunda gravidez. “Quando descobri, tomei chá de buchi-nha e passei muito mal duran-te vários dias com vômitos e diarréia. Mas não quis ir ao médico, porque tinha medo que eles descobrissem o que eu tinha feito e chamassem a polícia.” Ela diz que, apesar de passar mal por conta do chá, não sabia se ele tinha sido efi-caz e, por isso, decidiu tomar Citotec — medicamento para tratamento de úlceras utiliza-

O GRUPO MAIS EXPOSTOSAÚDE

do como abortivo. “Consegui os comprimidos e achei um site na internet que explicava como usar. Tive uma hemor-ragia muito forte durante dias, tive muito medo de morrer, mas não quis buscar ajuda.” Daniela conta que só foi ao hospital duas semanas após o aborto, quando ainda tinha hemorragia e muitas dores. “Quando cheguei, os médicos me internaram. Senti muito medo, pois achavam que eles poderiam me denunciar”.

Para o médico Avelar de Holanda Barbosa, coordena-dor de Ginecologia e Obste-trícia da Secretaria de Saúde e membro do Comitê de Mor-talidade Materna do DF, o caso de Daniela não é exceção. “Complicações por abortos malfeitos ou incompletos ma-tam mais mulheres pobres e menos instruídas porque mui-tas utilizam os medicamentos de forma errada.” Barbosa, no entanto, afirma que felizmen-te as mulheres agora têm tido menos medo de procurar o hospital em casos de com-plicação. “Antigamente, a equipe médica fazia também o papel de polícia, se preocu-pando mais em in-terrogar a paciente que atendê-la. Hoje não se pode mais denunciar, embora algumas ainda não saibam”. Em 2005, o Ministério da Saúde criou a Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento. De acordo com o documento, em caso de aborto espontâneo ou provo-cado, o profissional de saúde não pode comunicar o fato

Maria Tereza Matos

à autoridade policial, judicial e nem ao Ministério Público em razão de sigilo. “O que ainda acontece é um desleixo no tra-tamento da mulher que aborta. Muitas mortes por complica-ções de aborto acontecem den-tro do hospital porque a equipe médica tende a tratar com des-caso a paciente”, lamenta Bar-bosa. “Às vezes, ela chega com hemorragia e tem que esperar mais de 24 horas por um atendimento. Há ainda um j u l g a -m e n -to de valor p o r p a r t e de al-guns pro-f i s s i o -nais.”

POLÊMICAMyriam Mastrella, soció-

loga e pesquisadora do Anis (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero), acredita que há subnotificação nos da-dos reunidos pelo Ministério da Saúde. “É provável que o número de mulheres que mor-rem seja até maior, mas não são registrados. Até em relação aos abortos legais, os dados são defasados. Mas sabemos que as

mulheres negras, pobres e menos escolarizadas

são as que mais sofrem as consequências de

um aborto clandes-tino”. De acordo com a pesquisa-dora, a mulher com maior grau de instrução e maior poder aquisitivo tem acesso a me-dicamentos com menos risco de

a d u l t e -ração e

a clí-n i c a s q u e ,

a p e s a r de clan-

destinas, têm profissionais compe-

tentes para fazer o proce-dimento de forma segura e

higiênica.Para Myriam, a escola-

ridade se relaciona não só com a renda, mas com o acesso à informação mais confiável. “Geralmente uma mulher com cur-so superior vai ter um

círculo de convivência profissional maior, pode ter

contato com médicos ou ter

um ginecologista que a acom-panhe e acaba tendo informa-ções mais precisas. Já as mais pobres contam apenas com o saber popular e tomam medi-camentos sem nenhum tipo de orientação médica.”

A socióloga e assesso-ra parlamentar do CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria), Joluzia Batis-ta, reitera os argumentos da pesquisadora e afirma que a descriminalização do aborto poderia mudar o quadro. “O exemplo que a gente tem do Uruguai hoje é que a descrimi-nalização, aliada a uma políti-ca de planejamento familiar, é capaz de evitar as mortes de mulheres. No entanto, as convicções morais e religiosas cada vez mais conservadoras impedem que o Brasil tenha um debate realmente sério so-bre o assunto”, lamenta.

Já Lenise Garcia, profes-sora do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília e presidente do Movimento Na-cional Cidadania pela Vida — Brasil Sem Aborto, discorda. “A legalização do aborto não mudaria esse quadro até por-que, mesmo em países onde é permitido, ele continua exis-tindo de forma clandestina. Muitos abortos não aconte-cem por razões financeiras, mas porque essa mulher não quer que essa gravidez venha a público, no caso de gravidez na adolescência ou de infide-lidade. Aborto é um procedi-mento extremamente invasivo que provoca sequelas físicas e emocionais. Ele não é a solu-ção”, afirma.

Número de mortes por abortos ilegais é 15 vezes maior em mulheres com baixo nível de formação acadêmica

* Nome fictício para preservar a

identidade da entrevistada

Page 8: Campus - nº 407, ano 43

CAMPUS8 Brasília, 19 a 26 de novembro de 2013

Estar em harmonia com o meio ambiente, pro-duzir seu próprio ali-

mento, investir em qualidade de vida. Esses são alguns dos benefícios do cultivo de ali-mentos em região urbana. A agricultura urbana é a cultura de alimentos, temperos, ervas e até animais em áreas próxi-mas às moradias. São formas de agricultura urbana hortas comunitárias, escolares, plan-tações feitas em apartamentos e telhados verdes.

No Distrito Federal a prá-tica está se desenvolvendo aos poucos. Na Rodoviária Interestadual do DF, o pro-grama Terminal Viver Verde incentiva os funcionários ,a plantarem alimentos como al-face, couve, rúcula, pimenta, cebolinha e salsa. O plantio é feito em uma área do jardim que fica atrás do prédio. A ma-nutenção da horta é realizada pelos próprios funcionários sob orientação do jardinei-ro Adailton Nunes. “Aqui eu posso aprender e ensinar o que eu sei para os companhei-ros, todo mundo coloca a mão na terra e leva o aprendizado para sua casa também”, conta Nunes. Os alimentos são livres de agrotóxicos e adubos quí-micos. O adubo utilizado na horta é produzido por meio de compostagem, feita com resto de folhas e caules resultantes da poda do jardim. Os cus-tos são pagos pelo Consórcio Novo Terminal, administra-dor da rodoviária.

A cerca de 30km da Rodo-viária, outro projeto dá bons resultados. A horta comunitá-ria do Itapoã, além de incen-tivar a alimentação saudável, é um projeto social que bene-ficia as crianças da região. No

início os idealizadores preci-saram enfrentar a resistência da comunidade “Trazíamos os caminhões cheios de adubo e os vizinhos não gostavam do fedor. Por isso transformamos a horta em um projeto social, assim, explicávamos a impor-tância para a comunidade e as pessoas que não gostavam, hoje, participam ativamente”, conta a coordenadora da hor-ta, Sheila Santos. No espaço, são desenvolvidos, ainda, pro-jetos como oficinas de teatro, dança, rodas de terapia e mo-vimentos brincantes.

A área de 640 m², locali-zada na quadra 378 do Itapoã, produz cerca de 1500 alfaces, 750 cebolinhas, 200 pés de rúcula, entre outros vegetais. De tudo que é produzido, 20% fica com a administração, que cede a área e alguns funcioná-

rios, 20% vai para aqueles que cuidam da horta de forma es-porádica e o restante fica com os membros mais ativos, que vendem os produtos a preços populares para moradores e escolas da região. “As pessoas vêm aqui e pegam o que que-rem. Como não é preciso frete e nem estrutura de venda, ba-rateamos o processo”, explica Sheila. A vizinhança apoia o projeto “Essa área era só barro na época da chuva e poeira na época do sol, além de ser depó-sito de entulho. Agora parece que até a temperatura da qua-dra melhorou”, conta a mora-dora Raimunda Nonata.

A horta comunitária do Itapoã recebe apoio da Em-presa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). A Ema-ter desenvolve um programa

de apoio à Agricultura Urba-na, que consiste em formentar projetos de hortas comunitá-rias e escolares. O coordena-dor do programa de Agricul-tura Urbana da Emater-DF, Rogério Lúcio Dianna Júnior, explica que o papel da empresa é oferecer qualificação para os moradores e, quando necessá-rio, fornecer insumos, semen-tes e mudas. Uma vez por mês, um agrônomo visita as hortas e indica os melhores métodos para fazer a manutenção sem agrotóxicos.

“Para participar, basta mandar o projeto de uma hor-ta urbana. Analisamos para ver se é viável e o que precisa ser feito”, explica Lúcio Júnior. “Para ter o apoio da Emater, é imprescindível a participa-ção da comunidade.” Além da horta do Itapoã, outros lugares

também recebem o apoio da emater, como Sobradinho e São Sebastião.

O ex-secretário de Agricul-tura do DF João Luiz Homem de Carvalho acredita ser preci-so mais do que hortas comu-nitárias. “Agricultura urbana é uma prática comum em pa-íses devastados por guerras ou grandes desastres naturais. As pessoas precisam plantar mais perto de casa para que a comi-da não falte”, explica. “O Brasil não deve esperar acontecer um desastre para então começar a plantar o que consome, temos que fazer pequenos canteiros nas nossas casas, apartamen-tos, escolas.” Carvalho acredita que plantar mais próximo de casa pode acabar com o mono-pólio das grandes empresas de agrotóxicos e insumos quími-cos.

Tamara Miranda

LAVOURAS NA CIDADEAGRICULTURA

Tamara Miranda

Plantações de pequeno e médio porte são tendência no Distrito Federal e cidades-satélites. Prática barateia custos à população

A horta comunitária do Itapoã recebe apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Parte dos produtos fica para os que cuidam da horta, e o resto é vendido a preços baixos. Alfaces e cebolas são tipos de vegetais mais plantados no local