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Agosto 2009 Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico na área do Projeto de Implantação do Campus da UFC em Quixadá - CE. Encaminhado à 4ª Superintendência Regional do IPHAN Prof. Marcos Albuquerque Coordenador do Laboratório de Arqueologia da UFPE. Pesquisador do CNPq Veleda Lucena Arqueóloga responsável Darlene Maciel Arqueóloga

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Agosto 2009

Programa de Prospecção e Resgate Arqueológicona área do Projeto de Implantação do Campus da UFC

em Quixadá - CE.

Encaminhado à 4ª Superintendência Regional do IPHAN

Prof. Marcos AlbuquerqueCoordenador do Laboratório de Arqueologia da UFPE.

Pesquisador do CNPq

Veleda LucenaArqueóloga responsável

Darlene MacielArqueóloga

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Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico na área do Projeto de implantação do Campus da Universidade Federal do 

Ceará ‐ UFC, em Quixadá ‐ CE.    

Encaminhado à 4ª Superintendência Regional do IPHAN  

 Prof. Marcos Albuquerque 

Coordenador do Laboratório de Arqueologia da UFPE. Pesquisador do CNPq 

 Veleda Lucena 

Arqueóloga responsável 

 

Darlene Maciel Arqueóloga 

          

Agosto 2009 

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Referente a: PORTARIA No‐10, DE 8 DE MAIO DE 2009 Nº 87, segunda‐feira, 11 de maio de 2009 

27 ‐ Processo IPHAN nº 01496.000508/2009‐92 Projeto: Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico da Área da Universidade Federal do Ceará 

Arqueóloga Coordenadora: Veleda Christina Lucena de Albuquerque Apoio Institucional: Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco 

Área de Abrangência: Município de Quixadá, no Estado do Ceará. Prazo de Validade: 04 (quatro) meses 

 

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SUMÁRIO 

SUMÁRIO 3

APRESENTAÇÃO 5

INTRODUÇÃO 6

CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ 8

Mapa do município de Quixadá - IPECE 11

Caracterização e Localização. 12

Identificação do Empreendedor 12

Identificação do Empreendimento 13

Localização e Área de Abrangência 14

Identificação do Contexto Histórico Cultural 17

Caracterização do contexto etno-histórico 17

Caracterização do contexto arqueológico 24

Levantamento do estado atual do conhecimento acerca dos bens históricos existentes na área de influência indireta do empreendimento e limites próximos. 25

Levantamento do estado atual do conhecimento acerca dos bens históricos existentes na área de influência indireta do empreendimento e limites próximos. 28

Patrimônio Histórico e Arqueológico. 30

Desenvolvimento da pesquisa arqueológica 30

Metodologia 30

Caracterização da área do empreendimento. 32

Planta de situação do empreendimento, no Município de Quixadá. 34

Plano Diretor do empreendimento. 35

Prospecção de superfície. 36

Estabelecimento dos pontos de sondagem 41

Distribuição das trincheiras da prospecção de superfície 45

Distribuição das trincheiras da prospecção de subsuperfície 46

Planta de distribuição das trincheiras. 48

Planta de distribuição dos cortes. 49

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 50

CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES 51

Considerações finais 54

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BIBLIOGRAFIA 56

EQUIPE TÉCNICA E DE APOIO 57

ANEXOS 58

Documentação fotográfica da prospecção de superfície, de subsuperfície em trincheiras, e por cortes randomicamente distribuídos 59

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APRESENTAÇÃO

Este Relatório corresponde à primeira etapa do Programa de Prospecção e Resgate

proposto, para a área do Campus Quixadá da UF C, visando atender as

determinações da Portaria 230 IPHAN, tendo em vista a obtenção da Licença de

Instalação.

Corresponde ao resultado obtido com a execução de prospecção intensiva nos

compartimentos ambientais de maior potencial arqueológico, na área de interferência

do empreendimento, nos locais que sofrerão impactos potencialmente lesivos ao

patrimônio arqueológico. Foi realizada uma amostragem de subsuperfície, quando se

buscou concentrar esforços no intuito de identificar a presença de remanescentes

arqueológicos na área.

A área estudada corresponde àquela definida como área de intervenção do

empreendimento, que compreende cerca de 4,9617 hectares, situados nas

proximidades do Açude do Cedro, dentro da área do DNOCS.

O Programa de Prospecção e Resgate proposto, para a área do Campus Quixadá da UFC foi realizado em julho de 2009.

A pesquisa foi realizada pela seguinte equipe:.

Coordenação geral Marcos Albuquerque

Direção de campo Veleda Lucena

Arqueóloga de campo Darlene Maciel

Documentação fotográfica Doris Walmsley

Técnico de campo Marcelo Milanez

Assistente de campo Alberes Pessoa

Assistente de campo Luis Marques

Agente administrativa Micarla Brito

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INTRODUÇÃO

Este Relatório resultante da execução do Programa de Prospecção e Resgate

Arqueológico na área do Campus Quixadá da UFC, em Quixadá/CE, abrange toda a

área de intervenção do empreendimento, definida nas plantas fornecidas a UFC.

Foram incluídos neste estudo:

Avaliação do patrimônio cultural (arqueológico) no contexto de inserção macro-regional;

Caracterização etno-histórica e arqueológica da Área de Influência Indireta,

com ênfase nos aspectos materiais da cultura e arrolamento dos bens

legalmente protegidos pela União, por intermédio do IPHAN, daqueles

protegidos pelo Estado do Ceará, e ainda daqueles de interesse dos órgãos

municipais de cultura e/ou educação, encarregados da proteção de bens

culturais.

Diagnóstico dos bens arqueológicos existentes na Área de Influência Direta, buscado por meio de

• Dados secundários, com base na produção acadêmica referente à arqueologia na área de influência;

• Coleta de informações em campo, com base na

o Vistoria de superfície na área do empreendimento;

o Testemunhos orais dos habitantes da área;

Nessa etapa ainda se procurou estimar a quantidade de sítios arqueológicos

eventualmente existentes na área, e a extensão, profundidade, diversidade cultural e

grau de preservação dos depósitos arqueológicos, sendo que o estabelecimento da

amostra não foi realizado com base em ocorrências arqueológicas conhecidas. Antes

se estabeleceu uma amostragem com base em critérios espaciais envolvendo os

compartimentos ambientais de maior potencial arqueológico.

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Nestas áreas foram estabelecidas unidades de área de maior potencial arqueológico,

que foram prospectadas com vistas a localizarem-se eventuais vestígios

arqueológicos de superfície e de subsuperfície. A prospecção de subsuperfície se fez

através da realização de cortes-teste e poços de sondagem, randomicamente

distribuídos em cada unidade.

Este Projeto visa atender à etapa do Programa de Prospecção e Resgate com base

em uma prospecção intensiva, com amostragem de subsuperfície, concentrando

esforços no intuito de estimar a quantidade de sítios arqueológicos existentes nas

áreas a serem afetadas diretamente pelo empreendimento, mormente naquelas de

maior potencial arqueológico.

A execução deste Projeto visa ainda atender os pré-requisitos legais para obtenção

da Licença de Instalação do Campus Quixadá da UFC.

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CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE QUIXADÁ

Localização e Acesso.

O Município de Quixadá integra a

microrregião Mesorregião dos Sertões

Cearenses, integrando a Microrregião do

Sertão de Quixeramobim.

Uma de suas características mais marcantes

é a presença de formações rochosas, os

monolitos cujas formas inspiram diferentes

denominações.

Limita-se a Norte com Itapiuna, a Noroeste

com Choró a Oeste com Quixeramobim, a

Sul com Barnabuiú, a Leste com Ubicuitinga

e a Noroeste com Ibaretama.

O município ocupa uma área de 2.059 km2

que representa 0,83% do Estado. Sua sede,

com uma altitude aproximada de 189

metros, dista 167 km da capital do Estado,

Quixadá desfruta de uma ampla rede de

acesso, o que lhe permite franca conexão

com os municípios vizinhos e de resto todo

o Estado. Um de seus principais acessos

se dá a partir da BR 116, através da CE

122 ou ainda a partir da BR 226 através da

CE 60.

Situação do Município de Quixadá. Fonte Wikipédia

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Detalhe das Vias de acesso a Quixadá. Via de acesso à sede do município. Detalhe do Mapa do Município de Quixadá, Fonte: 

Mapa Rodoviário do Ceará, DNIT ‐ 2002. 

Com coordenadas geográficas de , o Município de Quixadá (sede) inserido no sertão

central do Ceará, apresenta clima do tipo Tropical Quente Semi-árido, com

temperaturas que atingem a média anual de 26,7°C (variando entre 26° a 28°C). As

chuvas que se concentram nos meses de fevereiro a abril, praticamente não

ultrapassam uma média anual de 838,1mm. Acresce-se à baixa pluviosidade a

irregularidade do regime de chuvas, sua concentração e os elevados índices de

evaporação e evapotranspiração durante todo o ano. Ademais, a região de Quixadá

está sujeita à ocorrência de secas severas. Certamente a fisionomia da vegetação

atual não mais reflete o clímax da adaptada vegetação sertaneja. Ao longo dos

séculos as práticas culturais destituídas de cuidados conservacionistas

transformaram a paisagem vegetal. Entretanto, ainda que alterada, ainda predomina

nas áreas não cultivadas mais recentemente, predomina a caatinga arbustiva densa

ou aberta, caracterizada pela presença de cactos e vegetação rasteira com árvores

baixas e cheias de espinho. Nas áreas mais elevadas como na serra do Estevão

ainda prevalece a floresta caducifólia espinhosa, ou caatinga arbórea. Mesmo ali, a

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cobertura vegetal tem sofrido grande alteração, através de desmatamentos e

queimadas com o objetivo de abrir espaço para a agricultura e a pecuária extensiva.

Considerando-se a vegetação nativa tem-se em Quixadá: Caatinga Arbustiva Densa,

Caatinga Arbustiva Fechada e Floresta Caducifólia Espinhosa.

Do ponto de vista geomorfológico, a maior parte do município se insere na Depressão

Sertaneja, onde afloram os Maciços Residuais.

Vista de Quixadá a partir da Serra do Es tevão, tendo em primeiro plano as águas do Açude Cedro.

São os inselbergues, freqüentes na área, uma das características marcantes de

Quixadá, e que lhe empresta notoriedade no âmbito das paisagens naturais.

Os solos variam entre Bruno não Cálcico, Solos Litólicos, Planossolo Solódico,

Podzólico Vermelho-Amarelo, Regossolo e Solonetz Solodizado. Como de resto

acontece na Depressão Sertaneja, em Quixadá grande parte dos solos é pouco

profunda, e o embasamento rochoso quase aflorante concorre para que os solos

encharquem facilmente durante a estação chuvosa e ressequem tão logo se

estabeleça o estio. Outra característica que decorre da geologia regional, dos solos

rasos e pouco lixiviados, é a salinidade elevada dos lençóis que abastecem os poços.

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Caracterização e Localização.

Identificação do Empreendedor

Razão Social: Universidade Federal do Ceará - UFC

CNPJ:

Natureza Jurídica:

Endereço do Empreendedor:

Atividade Principal:

PROPRIETÁRIO do terreno - DNOCS - Departamento Nacional de Obras contra a Seca

Representante Legal:

Pessoa de Contato:

Endereço

Telefones:

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Identificação do Empreendimento O Campus Quixadá da UFC, em Quixadá – CE é um projeto de iniciativa do Governo

Federal que apresenta a seguinte caracterização:

Execução da 1a Etapa do Campus Quixadá, compreendendo a construção de um

bloco de bloco didático (salas de aula) em dois pavimentos, com área total de

1.440,00 m2. A edificação será em estrutura de concreto convencional (vigas, pilares

e laje) e fundações diretas tipo sapatas, vedações em alvenarias de tijolo, esquadrias

de alumínio/vidro, coberta em telha de fibrocimento, revestimentos em pintura textura

e cerâmica nas áreas de banheiros.

O empreendedor solicitou a licença de instalação junto à SEMACE.

 

MUNICÍPIO Quixadá

UF Ceará

ÁREA Área Cartográfica = 4,9617 hectares

PERÍMETRO Comp. Cartográfico = 0,897km

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Localização e Área de Abrangência

A área destinada ao Projeto de Implantação do Campus da UFC em Quixadá está

localizada dentro da área do DNOCS, no Parque do Açude do Cedro.

DESCRIÇÃO DA PROPRIEDADE:

Segundo informações da UFC, a área disponibilizada ao empreendedor, e que

corresponde à área a ser prospectada, está inscrita no polígono definido pelas

coordenadas abaixo

VÉRTICE ZONA LESTE NORTE PC1 24M 493870,4924 9449736,1368PC2 24M 493887,2179 9449486,9228PC3 24M 493689,0211 9449473,5421PC4 24M 493672,2957 9449722,7562

Datum SAD69 – Brasil-IBGE

Área destina-da a implanta-ção do Cam-pus da UFC em Quixadá.

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Vista parcial do terreno destinado à UFC, situado entre a estrada de acesso ao Parque Cedro e os pés dos inselbergs. No conjunto a área constituída é por solos da Depressão sertaneja, cuja cobertura

vegetal atual é constituída por elementos de cultivo sazonal.

A área circunscrita aos vértices apontados, que é a área pleiteada para o

licenciamento ambiental, abrange toda a área passível de interferência física do

empreendimento, na qual uma ou várias ações decorrentes de sua implantação ou

uso, poderão produzir efeitos danosos ao patrimônio.

Assim, sob o prisma da preservação do patrimônio arqueológico foi considerada área

de intervenção não apenas aquelas em que serão executadas as edificações, mas

ainda aquelas em que serão implantadas as obras de infra-estrutura do

empreendimento, e ainda aquelas que estarão disponíveis a uso futuro.

Ainda sob o ponto de vista da preservação de sítios arqueológicos, obras que

porventura incluam a mobilização de material, seja para aterro, seja para alteração da

topografia natural, representam ações de intervenção.

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Plano Diretor do empreendimento.

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Identificação do Contexto Histórico Cultural 

Caracterização do contexto etno‐histórico  

Caracterização do contexto etno-histórico O município de Quixadá está situado na

área do Sertão Central do Ceará, a 167 quilômetros da capital do estado, Fortaleza.

A origem do termo é bastante controversa e tem alimentado polêmicas ao longo dos

últimos séculos. O único ponto de consenso entre os que tentaram explicar sua

origem é de que se relaciona a alguma das línguas indígenas faladas na região por

ocasião do inicio de sua ocupação pelos colonizadores brancos. Segundo Nogueira,

em seu Vocabulário Indígena em Uso na Província do Ceará (1887), o termo teria

origem tapuia, sendo tomado de uma tribo originalmente conhecida como Quixaras.

O naturalista bávaro Martius acredita que o topônimo se origina de Quixeurá.

Teodoro Sampaio em "O tupi na geografia nacional“ relaciona a palavra com algum

idioma do tronco cariri, mas por falta de elementos comprobatórios se abstém de

tentar esclarecer o seu significado. Thomaz Pompeu Sobrinho relaciona o termo

com o tronco lingüístico tupi e atribui o significado de "ponta de pedra encurvada ou

torcida“. A interpretação do estudioso cearense provavelmente se relaciona com as

freqüentes formações rochosas presentes na região de Quixadá (inselbergs)

conhecida popularmente por "terra dos monólitos“. A presença destas formações

rochosas poderia ter sido também a origem de uma antiga denominação usada

pelos habitantes mais antigos: "Curral de Pedra“. Pompeu Sobrinho relaciona ainda

o topônimo com a ocorrência freqüente de uma espécie de porco selvagem na

região conhecido como queixada. A ocupação da região de Quixadá, feita dentro

dos padrões normalmente presentes em outras áreas da antiga capitania do Ceará,

se fez a duras penas. Segundo Capistrano de Abreu, foi no Ceará onde as duas

correntes de povoamento iniciadas em Pernambuco e na Bahia convergiram. O

historiador cearense atribuiu aos pernambucanos a conquista dos “sertões de fora”,

enquanto que aos colonizadores baianos a ocupação dos “sertões de dentro”. 1

Somente no final do século XVII os pedidos de sesmarias se tornaram mais

freqüentes. Dessa época data o início da ocupação das zonas litorâneas e das

ribeiras dos principais rios da capitania, ocupação realizada o mais das vezes com a

instalação de unidades de criação de gado. 2 Foi a expansão da pecuária que

1 ABREU, J. C., Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil. 2 GIRÃO, R., Pequena História do Ceará, pp. 73 e ss.

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possibilitou ainda o surgimento e a interconexão de centros de povoamento pelo

interior do território atualmente compreendido no estado do Ceará. Na fértil região do

Cariri surgiu a vila do Crato que, através de Icó, se entrelaçava com Aracati, que

durante todo o século XVIII foi o grande entreposto cearense. A resistência indígena

foi sempre um severo obstáculo à efetiva ocupação do Ceará, mesmo nas zonas

litorâneas. Por outro lado, a irregularidade das chuvas e as conseqüentes estiagens

prolongadas provocavam períodos de secas que se registram com regularidade

desde 1603, sendo a de 1877 a de mais trágica lembrança. Esses aspectos

retardaram a instalação de unidades produtoras e de povoações naquela capitania.

A atual região de Quixadá era originalmente ocupada por índios canindé e

genipapos, ambos relacionados ao grande grupo denominado pelo colonizador de

tapuia (língua travada). Estes grupos só foram totalmente submetidos no contexto da

chamada Guerra dos Bárbaros, que provocou a aniquilação das populações nativas

locais e de outros grupos que haviam se deslocado antes até o Ceará, fugindo da

expansão da presença do colonizador nas capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio

Grande. Uma das marcas da presença dos nativos era o cemitério situado num

abrigo de rocha a três quilômetros ao norte da cidade, na região de Magé,

descoberto em 1860.3 O colonizador branco chegou através da ribeira do Jaguaribe,

subindo até a região de Quixadá pelos afluentes Banabuiú e Sitiá (rio chamado

pelos canindés de Gueiru). O principal objetivo destes pioneiros era a ampliação das

áreas para a pecuária. Existem referências de ocupação já no século XVII. Em 1641,

um certo Manuel da Silva Lima teria encontrado dois olhos d’água na região do atual

distrito de Dom Maurício, pelo que pediu e obteve uma sesmaria. As concessões de

terra se tornam mais freqüentes no fim do século XVII, mas a ocupação efetiva só se

iniciaria no começo do século XVIII, com as ações de Manoel Gomes de Oliveira e

André Moreira de Barros contra os indígenas. A meados do século XVIII todas as

terras no entorno do rio Sitiá estavam loteadas e doadas como sesmarias. Oriundos

de Pernambuco, os colonizadores ocupavam as ribeiras dos cursos fluviais locais o

Tapuiará, o Quinimporó, o Choró, o Pirangi e o Feijão. Em 1747, José de Barros

Ferreira comprou o sítio chamado Quixadá para instalar uma fazenda de criação de

gado. A localização desse núcleo original coincidiria com a da atual Praça Coronel

Nanam. A fazenda se transformou num ponto de atração para os pioneiros

ocupantes, dando origem a um lugarejo. O proprietário realizou então a doação de

uma parte terreno (100 palmos quadrados) para a ereção de uma capela. O

patrimônio original desse templo também foi doado pelo seu fundador e se constituía 3 SAMPAIO, F. de A. et alli, „Jazida de Ossos do Quixadá“, in: Revista do Instituto Histórico do Ceará, t. 32, pp. 187 e ss, 1918.

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de meia légua de terras, vinte vacas e doze potras. A capela foi construída em 1770

e teve como invocação Jesus, Maria e José. O desejo do fundador de que a

administração da capela repousasse somente em seus descendentes não pode ser

de todo cumprido, uma vez que houve interferências de autoridades eclesiásticas e

civis. Em 1838 fundou-se a Sociedade Perfeita, cujo objetivo era custear um

capelão para o templo até que a mesma fosse elevada à Matriz. A sociedade se

comprometia a dar anualmente 12 vacas leiteiras para o patrimônio da capela.

Apesar de ter atravessado momentos de dificuldades, a capela sobreviveu ao passar

dos séculos, transformando-se lentamente na atual Igreja Matriz do lugar. Nos anos

iniciais do século XX foi autorizada pelas autoridades eclesiásticas no Brasil e em

Roma a ereção de um mosteiro beneditino com a invocação de Santa Cruz de

Quixadá.4 As secas que ao longo representaram um fator de despovoamento e

atraso para o Ceará, paradoxalmente funcionaram como motor impulsionador da

localidade de Quixadá. A mais terrível de que se tem registro, a de 1877, fez com

que o local, anteriormente pouco habitado, experimentasse um aumento

demográfico. Antes da seca. Quixadá possuía "insignificantes fogos, além da casa-

grande da fazenda“. A seca atraiu muitos retirantes ao lugar que contava com

fornecimento de água (a fonte de S. Bento numa fazenda a uma légua na Serra

Branca). Desnorteados e sem objetivo definido, acabavam se acantonando no

entorno de Quixadá e lá permanecendo.

A construção do açude do Cedro iniciada em 1886 consolidou a posição de Quixadá

como importante núcleo de povoação na área sertaneja e reforçou as atividades

comerciais da cidade.

O comércio é hoje a principal atividade econômica do lugar, respondendo por 70%

do PIB municipal e ocupando, majoritariamente num esquema informal, quase 60%

da população economicamente ativa. A criação, com destaque para a avicultura,

representa outro setor importante da economia local. A produção de frangos e ovos

atende o consumo do estado do Ceará além do vizinho Piauí e do Maranhão. A

economia local na atualidade se completa com a pequena atividade fabril de

tecelagem e processamento de couros e com o ecoturismo que explora as

formações rochosas locais e a prática de esportes radicais.

4 “Rescripto e despacho para a ereção canônica da Abadia de Santa Cruz de Quixadá”, in: Revista do Instituto Histórico do Ceará, v. 17, 1903, pp. 299 e ss.

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Paredão principal do Açude Cedro, vendo-se ao fundo a ‘Pedra da Galina Choca’, um dos principais atrativos da área.

No passado a exportação de couros era a grande atividade econômica de Quixadá.

Os produtos locais eram negociados nas feiras de Baturité e Redenção. Com o

aumento da demanda de algodão na Europa da Revolução Industrial, a fibra nativa

passou a ter um papel importante, ainda que efêmero, na economia local. A finais do

século XIX e princípios do XX destacavam-se a produção de aguardente e rapadura,

de farinha de mandioca, de artigos de olaria (potes, panelas, telhas e tijolos) e de

derivados de couros. Também por essas datas, mais precisamente em 1898,

aparece a notícia da descoberta na Serra Azul, nas imediações de Quixadá de

seringais com grande potencial produtivo. A notícia do jornal Ceará, recolhida na

Revista do Instituto Histórico do Ceará informa que trabalhavam na extração do látex

vinte homens5. Entre 1860 e 1863 foram criadas as primeiras escolas públicas. Em

1888 existiam duas escolas, uma para cada sexo, com matricula regular, mas com

alta taxa de evasão escolar. O fenômeno era especialmente forte nas épocas das

grandes secas. Um relato do final do século XIX informa que a situação dessas

escolas e dos professores eram as piores possíveis, faltando os equipamentos

5 Variedades sobre assuntos cearenses“, in: Revista do Instituto Histórico do Ceará, v. 12, 1898, p. 76. 

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básicos para os mesmos, inclusive os livros didáticos. Em 1884 foi fundada uma

associação literária, mas suas atividades se resumiram a uns poucos saraus e

debates históricos. No ano seguinte uma outra sociedade esforçou-se por conseguir

formar uma pequena biblioteca e oferecer aulas de instrução primária e secundária

em cursos diurnos e noturnos. A empreitada fracassou depois de três meses por

falta de alunos com condições mínimas de adquirir o material básico para as aulas.

Apesar de tão infeliz história educacional e literária, Quixadá tem associada ao seu

nome a figura de uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, Rachel de

Queiroz, que visitava freqüentemente sua fazenda no município. Como muitos

outros municípios brasileiros, Quixadá experimentou várias mudanças em seu perfil

político, territorial e administrativo. Apesar de já ter começado a ser povoada a

princípios do século XVIII, somente na segunda metade do século XIX assumiu o

estatuto de distrito subordinado a Quixeramobim. O quadro abaixo resume a

formação administrativa do município cearense.

Legislação Ato administrativo

Lei provincial nº 1.305, de 05/11/1869. Criado o distrito com a denominação Quixadá, subordinado ao município de Quixeramobim.

Lei provincial nº 1.347, de 27/10/1870 Elevado à categoria de vila com a denominação de Quixadá, desmembrado do município Quixeramobim. Sede no núcleo de Quixadá. Constituído do distrito sede.

Lei provincial nº 2.166, de 17/08/1889. Elevado à categoria de cidade com a denominação de Quixadá.

Ato de 13/07/1899. Criado o distrito de Serra de Santo Estevão e anexado ao município de Quixadá

Ato de 23/09/1903. Criado o distrito de Serra Azul e anexado ao município de Quixadá.

Divisão administrativa referente ao ano de 1911

O município aparece constituído de 4 distritos: Quixadá, Serra Azul, Serra de Santo Estevão e São Francisco da Califórnia.

Ato de 07/10/1914. Criado o distrito de Tapuiará e anexado ao município de Quixadá.

Recenseamento Geral de 1/09/1920. O município aparece constituído de 5 distritos: Quixadá, Serra de Santo Estevão, Serra Azul, Tapuiará e Califórnia ex-São Francisco da Califórnia.

Lei estadual nº 2.392, de 08/11/1926. O município de Quixadá adquiriu o extinto município de Laranjeiras e o distrito de Barra do Sitiá, como simples distrito.

Divisão administrativa referente ao ano de 1933.

O município aparece constituído de 10 distritos: Quixadá, Barra do Sitiá, Caiçarinha, Choró, Floriano Peixoto, Junco, Laranjeiras, Serra Azul, Serra do Estevão e Tapuiará. Não figurando o distrito de Califórnia.

Divisão territorial datada de 31/12/1936.

Divisão territorial datada de 31/12/1936. O município é constituído de 12 distritos: Quixadá, Barra do Sitiá, Caiçarinha, Califórnia, Choró, Custódio, Floriano Peixoto, Laranjeiras, Junco, Serra Azul, Serra do Estevão e Tapuiará. Não figurando o distrito de Califórnia.

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Legislação Ato administrativo

Lei nº 406, de 10/10/1937. Lei nº 406, de 10/10/1937. Criado o distrito de Boa Água e anexado ao município de Quixadá.

Divisão territorial datada de 31/12/1937.

Divisão territorial datada de 31/12/1937. O município aparece constituído de 12 distritos: Quixadá, Barra do Sitiá, Boa Água, Caiçarinha, Choró, Custódio, Floriano Peixoto, Laranjeiras, Junco, Serra Azul, Serra do Estevão e Tapuiará.

Decreto estadual nº 448, de 20/12/1938.

O distrito de Serra Azul passou denominar-se São Luís, Barra do Sitiá a denominar-se Barra, Serra de Estevão a denominar-se Estevão, Boa Água a denominar-se Água Boa e Floriano Peixoto a denominar-se Floriano.

Decreto-Lei estadual nº 1.114, de 30/12/1943.

O distrito de Junco passou a denominar-se Muxiopó, Laranjeiras a denominar-se Banabuiu, São Luís a denominar-se Ibaretama, Floriano a denominar-se Juatama e Água Boa a denominar-se Rinaré.

Quadro territorial fixado para vigorar no período de 1939-1943.

O município é constituído de 12 distritos: Quixadá, Barra ex-Barra do Sitiá, Água Boa ex-Boa Água, Caiçarinha, Choró, Estevão ex-Serra do Estevão, Custódio, Floriano ex-Floriano Peixoto, Laranjeiras, Junco, São Luis ex-Serra Azul e Tapuiará.

Divisão territorial datada de 1/07/1950.

O município aparece constituído de 12 distritos: Quixadá, Banabuiú ex-Laranjeiras, Caiçarinha, Choró, Custódio, Estevão, Ibaretama ex-Floriano, Muxiopó ex-Junco, Rinaré ex-Boa Água, Sitiá ex-Barra do Sitiá e Tapuiará.

Lei estadual nº 1.153, de 22/11/1951. O distrito de Estevão passou a denominar-se Dom Maurício.

Divisão territorial datada de 1/07/1955.

O município é constituído de 12 distritos: Quixadá, Banabuiú, Caiçarinha, Choró, Custódio, Dom Maurício ex-Estevão, Ibaretama, Juatama, Muxiopó, Rinaré, Sitiá e Tapuiará

Lei estadual nº 3.326, de 11/06/1957. O distrito de Muxiopó passou a denominar-se Daniel de Queiroz.

Lei estadual nº 4.447, de 02/01/1959. Desmembra do município de Quixadá os distritos de Choró e Caiçarinha e Dom Maurício e Daniel Queiroz, para formar o novo município de Choró.

Divisão territorial datada de 1/07/1960. O município é constituído de 8 distritos: Quixadá, Banabuiú, Custódio, Ibaretama, Juatama, Rinaré, Sitiá e Tapuiará.

Lei estadual nº 6.709, de 21/10/1963. Desmembra do município de Quixadá os distritos de Banabuiú, Rinaré e Sitiá, para formar o novo município com denominação de Laranjeiras do Norte ex-Banabuiú.

Lei estadual nº 6.653, de 14/10/1963. Desmembra do município de Quixadá o distrito de Ibaretama. Elevado à categoria de município.

Divisão territorial datada de 31/12/1963. O município é constituído de 4 distritos: Quixadá, Custódio, Juatama e Tapuiará.

Lei estadual nº 8.339, de 14/12/1965.

O município de Quixadá adquiriu os extintos municípios e distritos de Banabuiú, Caiçarinha, Choró, Daniel Queiroz, Dom Maurício, Ibaretama, Rinaré, Sitíá, como simples distrito.

Lei estadual nº 7.104, de 08/01/1964. Criado o distrito de Cipó dos Anjos e anexado ao município de Quixadá.

Divisão territorial datada de 31/12/1968.

O município é constituído de 13 distritos: Quixadá, Banabuiú, Caiçarinha, Choró, Cipó dos Anjos, Custódio, Daniel de Queiroz, Dom Maurício, Ibaretama, Juatama, Rinaré, Sitiá e Tapuiará.

Divisão territorial de 18/08/1988. Mantém situação anterior.

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Legislação Ato administrativo

Lei estadual nº 11.427, de 26/01/1988. Desmembra do município de Quixadá os distritos de Banabuiú, Sitiá e Rinaré, para formar o novo município de Banabuiú.

Lei estadual nº 11.431, de 08/05/1988. Desmembra do município de Quixadá o distrito de Ibaretama. Elevado à categoria de município.

Lei municipal nº 1.425, de 10/10/1991. Criado o distrito de São Bernardo e anexado ao município de Quixadá.

Lei municipal nº 1.364, de 1990 Criado o distrito de São João dos Queirozes e anexado ao município de Quixadá.

Divisão territorial de 17/01/1991. O município é constituído de 8 distritos: Quixadá, Cipó dos Anjos, Custódio, Daniel de Queiróz, Dom Maurício, Juatama, São João dos Queirozes e Tapuiará.

Lei municipal nº 1.528, de 09/09/1993. São criados os distritos de Califórnia e Juá e anexado ao município de Quixadá.

Divisão territorial de 01/06/1995.

O município é constituído de 11 distritos: Quixadá, Califórnia, Cipó dos Anjos, Custódio, Daniel de Queiróz, Dom Maurício, Juá, Juatama, São Bernardo, São João dos Queirozes e Tapuiará.

Divisão territorial de 2003. Mantém situação anterior.  

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Caracterização do contexto arqueológico 

Em que pese a realização de alguns estudos pontuais anteriores, os estudos

arqueológicos mais sistemáticos do Ceará têm se desenvolvido a partir dos anos

1990. Um estudo que embora já conte com um conjunto de dados significativos,

não logrou ainda o estabelecimento de uma síntese. Não se entenda nesta

afirmativa qualquer sombra de crítica, pois, na realidade o número de dados

considerando-se a extensão territorial e a amplitude temporal não permitiria,

certamente, uma síntese confiável. Nos de 1990, com a criação de dois núcleos

de estudos voltados ao estudo da pré-história no Ceará – o Núcleo de Estudos de

Etnologia e Arqueologia (NEEA), localizado na Capital, Fortaleza, e o Núcleo de

História e Arqueologia do Sertão Central, situado no Município de Quixadá retomou-

se com maior ímpeto as pesquisas arqueológicas iniciadas na década dos anos

1960. O NEEA, ao contrário do NHASC que desenvolve estudos no Sertão

Cearense, voltou-se para o estudo da ocupação pré-histórica do litoral, através do

Projeto Litoral, quando diversos sítios arqueológicos foram localizados ao longo da

costa. Dos estudos desenvolvidos no âmbito dos Sertões Cearenses, têm-se

notícia de sítios arqueológicos sobretudo nos municípios de Quixadá, Tauá e de

Quixeramobim, levantados a partir de informações da mídia, de Relatórios de

pesquisa e de Registros no IPHAN

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Levantamento  do  estado  atual  do  conhecimento  acerca  dos  bens históricos existentes na área de influência indireta do empreendimento e limites próximos.   

O levantamento de dados secundários foi efetuado através fontes da documentação textual secundária (fontes bibliográficas), e dados cadastrais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (registros do IPHAN), fontes do Estado e Prefeitura local. Foram consultados a partir da base de dados do IPHAN (Arquivo Noronha Santos) os tombamentos inscritos nos Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, Livro Histórico, Livro de Belas Artes e no Livro das Artes Aplicadas.

No município de Quixadá um único monumento está assentado nos Livros Tombo, com base no Nº Processo: 1082-T-83. Refere-se ao Açude do Cedro, inscrito no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico sob o número 087, em data: 19-7-1984, e no Livro de Belas Artes sob o número 563, também em 19-7-1984. Trata-se de uma construção do último quartel do século XIX, início do XX com uma arquitetura sólida, que se conta entre as primeiras grandes obras do governo federal para o ‘combate à seca'. Segundo a Descrição do IPHAN “O Açude do Cedro localiza-se a 06 km da cidade de Quixadá. O açude foi a primeira grande construção envolvendo rede de canais de irrigação, feita após a seca ocorrida entre os anos de 1877 e 1879. Os estudos preliminares foram realizados pelo engenheiro inglês Jules Revy, em 1882. Após a suspensão das obras, o projeto foi revisto pelo engenheiro Ulrico Murça em 1889. O projeto foi concluído em 1906, pelo engenheiro Bernardo Piquet Carneiro e Cunha Figueiredo. O açude é formado por cinco barragens que represam o rio Sitiá. Destas cinco, duas são de alvenaria e as três restantes são de terra revestida com grandes blocos de rocha granítica (sienito).

A região é formada pelo relevo geográfico em inselberg - grandes afloramentos sieníticos isolados. O trecho mais importante da barragem está construído entre dois desses morros. A rede de irrigação foi projetada por Bernardo Piquet Carneiro, e é formada por canais que permitiram, inicialmente, a irrigação de uma área de 2.000 hectares. A partir de 1907, o conjunto de barragens passou a ser administrado pelo recém-criado DNOCS- Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. Os galpões das oficinas são construídos em alvenaria e pedra. A barragem possui em seu coroamento, guarda corpo trabalhado em ferro e pilares em cantaria. O guarda corpo foi produzido pela empresa escocesa Walter Macfarlane e Co, em 1906.”

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Entre os municípios limítrofes, apenas em Quixeramobim, do qual teve origem Quixadá, consta dos Livros de Tombo do IPHAN um monumento registrado com base no Processo: 0745-T-64. Refere-se à Casa de Câmara e Cadeia, inscrita no Livro de Belas Artes sob o número 500, em data de 9-2-1972. Está situada na Praça da Matriz, em Quixeramobim – CE, onde atualmente funciona a Câmara Municipal de Quixeramobim Segundo a Descrição do IPHAN a Casa de Câmara e Cadeia de Quixeramobim é “Construção do século XIX, arrematada em 1818 pelo Sr. Jacinto de Souza Pimentel. Sóbria, em estilo setecentista, tem o primeiro pavimento em pedra e cal, e o segundo em alvenaria. A parte superior da fachada principal possuía duas janelas retangulares, com ombreiras de pedra e gradis em ferro. Reformas no imóvel transformaram-nas em duas portas retangulares. A fachada posterior ainda guarda a aparência original, possuindo disposição semelhante à anterior, tendo a escada no seu lado direito”.

Ao nível estadual consta apenas um registro de bem tombado no município de Quixeramobim. Refere-se à CASA DE ANTONIO CONSELHEIRO EM QUIXERAMOBIM. O tombamento da casa de Antonio Conselheiro, localizada à Rua Cônego Aureliano Mota nº 210, em Quixeramobim a nível municipal se deu em 12 de janeiro de 2006, em seção da Câmara Municipal de Quixeramobim. Provavelmente em decorrência deste tombamento, o IPHAN se dispôs a realizar “o levantamento de toda a paisagem cultural da estrada entre a cidade de Antonio Conselheiro, Quixeramobim no Ceará, e os vestígios do arraial de Canudos, na Bahia”.

 

Figura 1 - Detalhe do Mapa Monumentos Tombados e Preservados - 2005. Secretaria de Planejamento e Gestão. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPCE.

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No que concerne à existência de terras indígenas, o município de Quixadá não estão

assinaladas as terras indígenas. Por outro lado, no município estão assinadas áreas

de preservação estadual – Monumento Natural “Os Monólitos de Quixadá” (16) e a

Reserva Particular do Monumento Nacional de “Não me Deixes” (4). Também em

Quixeramobim a Reserva Particular do Monumento Nacional de “Rio Bonito” (9).

 

 

 

Figura 2 - D etalhe do Mapa Unidades de Preservação Ambiental e Terras I ndígenas - 2005. Secretaria de Planejamento e Gestão. Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE.

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Levantamento  do  estado  atual  do  conhecimento  acerca  dos  bens históricos existentes na área de influência indireta do empreendimento e limites próximos. 

Do ponto de vista da presença de sítios arqueológicos, no âmbito da área de

influência indireta, que correspondente ao município de Quixadá, foram localizados

seis registros de sítios arqueológicos na base de dados do IPHAN em 22/de julho de

2009:

Gruta do Magé

Abrigo-sob-rocha, utilizado como habitação por grupos pré-históricos, apresentando

peças líticas lascadas e ossos humanos.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00021)

Oficina Lítica da Pedra Riscada

Área com cerca de 900 m2, a céu aberto, apresentando com artefatos líticos

(núcleos e lascas em arenito silicificado e quartzito), além de seixos (material bruto),

evidenciando a sua utilização como oficina lítica por grupos pré-históricos.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00020)

Pedra do Corisco

Sítio rupestre constituído por grafismos geométricos em paredão rochoso.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00031)

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Pedra do Tanque

Sítio rupestre constituído por paredão rochoso apresentando pinturas geométricas e

carimbos de mãos.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00076)

Serra dos Macacos

Área com cerca de 5000 m2, onde se registrou a presença de 61 círculos formados

por agrupamento de pedras. Em 9 desses círculos, registrou-se a presença de

cerâmica e lítico sem especificação.

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00007)

Sítio Aldeamento

42 círculos formados por agrupamento de pedras foram registrados em área de

aproximadamente 400 m2. A presença de cerâmica e lítico sem especificação foi

detectada fora e dentro dos círculos (4).

(http://portal.iphan.gov.br/portal/montaDetalheSitioArqueologico.do?id=CE00006)

Visando encontrar algum indicador conhecido, buscou-se uma maior aproximação

através do levantamento de dados dos municípios limítrofes Barnabuiú, Choró,

Ibaretama, Itapiúna, Morada Nova, Quixeramobim e Ubicuitinga. Apenas no

município de Quixeramobim existem registros de sítios arqueológicos na base de

dados do IPHAN. Até 22 de julho de 2009 se encontram registrados os sítios:

Cachoeira do Nego, Canhotinho, Jordão, Mocó, Pedra do Letreiro, Poço da Serra,

Santa Maria, São José, Serrote da Fortuna e Serrote da Onça.

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Patrimônio Histórico e Arqueológico. 

 

Desenvolvimento da pesquisa arqueológica 

Metodologia 

O corte metodológico utilizado nesta pesquisa, em face do iminente uso intensivo do

solo, não permite adotar-se uma abordagem teórica que privilegie quer o espaço,

quer o tempo. Tem-se assim que buscar amostrar os espaços que integram a área

sob estudo.

Na realidade, esta etapa de pesquisa arqueológica compreende um estudo

intensivo sobre uma área, na qual se buscou estabelecer inicialmente um panorama

geral, superficial, para em seguida enfocar o levantamento sistemático de sub-

superfície, por unidade espacial estabelecida. O critério estabelecido para a

definição das unidades espaciais não pode levar em consideração diferenças entre

zonas ambientais, haja vista a homogeneidade ambiental que se apresenta na área.

Assim, não cabe neste estudo privilegiar a compartimentação ambiental considerada

a partir de qualquer período de tempo específico, freqüentemente utilizado em

estudos regionais 6 . Neste tocante apenas se pode permitir neste estudo a

compartimentação temporal em termos do conhecimento referente à presença

humana ou não.

Tais áreas foram durante o período imediatamente anterior à ocupação colonial

praticamente dominadas por grupos nômades ou quiçá semi-sedentários. Segundo

a tradição oral retransmitida por viajantes e, sobretudo pelos padres da Companhia

de Jesus, tais grupos correspondem a populações coletoras que foram obrigadas a

cooptar ou a buscar novas paragens.

6 Thomas, D. H.,1969. 

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Sob a perspectiva de uma abordagem de pesquisa em sucessivos estádios, a

primeira etapa corresponde a uma prospecção de superfície7. Assim, nas áreas

onde forem registrados vestígios arqueológicos, seriam coletadas amostras

sistemáticas e intensivas do material em superfície visando a proporcionar

informações relativas a cronologia, localização e extensão de cada ocupação e uso

funcional de secções do sítio8.

Com base em tais premissas, nesta etapa, quando se buscou estimar a quantidade

de sítios arqueológicos eventualmente existentes na área, e a extensão,

profundidade, diversidade cultural e grau de preservação dos depósitos

arqueológicos, o estabelecimento da amostra não se fez com base no universo de

ocorrências arqueológicas conhecidas. Antes se estabeleceu uma amostragem

com base em critérios espaciais. Foram estabelecidas faixas de um metro e meio

de largura, no sentido norte-sul do empreendimento, com distanciamento de 20m

entre si, por toda a área a ser estudada. Em seguida form realizadas prospecções

de subsuperfície randomicamente distribuídas por todo a área.

Não foram localizados vestígios arqueológicos de ocupação, quer superficiais, quer

subsuperficiais.

7 Barry, B. J. L., and  A. Baker, 1968 8 Rechman & Watson, 1970; Whallon & Kantman, 1969 

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Caracterização da área do empreendimento.

Quixadá, inserida nos Sertões Cearenses, apresenta vastas áreas com uma

topografia plana, característica das depressões sertanejas. Os maciços residuais

que permeiam as depressões sertanejas, em Quixadá se mostram particularmente

expressivos na Serra do Estevão. Mas são as formações isoladas, os inselbergs ou

monólitos dispersos sobre as terras baixas da depressão sertaneja que vão

efetivamente caracterizar a paisagem de Quixadá.

Vista parcial de Quixadá, onde sobressaem os inselbergs.

Os solos pouco profundos que predominam na área, repousam sobre a rocha matriz.

Tal condição, associada à topografia resulta em solos muito secos durante a

estiagem, e encharcados durante o período chuvoso. O clima quente promovendo

altos índices de evaporação, associado à geologia da área, aos solos jovens,

resultam na presença recorrente de lençóis d’água salinizadas.

A área onde se pretende implantar 1a Etapa do Campus Quixadá, da UFC está

situada à margem da estrada de acesso ao Parque Cedros, em área de domínio das

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Depressões Sertanejas. Uma área plana, que se estende por cerca de cinco

hectares.

Outrora ocupada pela vegetação de caatinga, ao longo do processo colonial e até os

dias atuais, a vegetação nativa vem sendo substituída, durante as invernadas por

cultivos de ciclo curto, transformadas em pasto aos a colheita.

Pouco sujeito ao acúmulo de novos sedimentos, as condições do solo se refletem no

processo de preservação de eventuais vestígios arqueológicos. Mesmo os

vestígios mais antigos, não se espera que estejam sob espessos pacotes

sedimentares. Elementos abandonados à superfície, durante as práticas de cultivo

sofrem um processo de mobilização tanto vertical quanto horizontal, sem entretanto

experimentar grandes deslocamentos. Tais condições permitem estabelecer-se

uma expectativa de baixa confiabilidade na estratigrafia como elemento de definição

de associações, de cronologias relativas. Tais aspectos deverão se considerados

na orientação da seleção de técnicas de escavação a serem utilizadas.

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UFC

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AT Ó R I O D E A R Q U E

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Localização da área da UFCno município de Quixadá

CAMPUS UFC

ESCALA:INDICADA

Baseado no mapa do GPS Treackmaker

Ibaretama

Morada Nova

Morada Nova

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Prospecção de superfície.

Os estudos realizados iniciaram-se com a abertura de faixas de 1,5m de largura, no

sentido norte-sul da área, eqüidistantes 20m entre si. A prospecção intensiva de

superfície deu-se dentro dessas faixas, abrangendo assim toda a área de

interferência direta do empreendimento conforme preconiza o Art. 2º da PORTARIA

IPHAN Nº 230, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2002, publicada no D.O.U. de 18/12/029.

O terreno onde se pretende implantar o Campus Quixadá da UFC estava em uso

no momento da execução do estudo. Parte deste (sul) estava sendo usado como

pasto para gado grosso (bovino) e gado miúdo (ovino), comportando em seu interior

uma estrutura de curral.

Mansos e curio-sos, os carneiros compartilhavam a área de escavação.

Esse pasto estava separado do resto (norte) por uma cerca de arame farpado. Uma

segunda parte do terreno (noroeste) estava sendo usada para o cultivo de milho

9 Art 2º - No caso de projetos afetando áreas arqueologicamente desconhecidas, pouco ou mal conhecidas que não permitam inferências sobre a área de intervenção do empreendimento, deverá ser providenciado levantamento arqueológico de campo pelo menos em sua área de influência direta. Este levantamento deverá contemplar todos os compartimentos ambientais significativos no contexto geral da área a ser implantada e deverá prever levantamento prospectivo de subsuperfície.

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destinado à alimentação de animais e uma terceira, (nordeste) coberta por

vegetação arbustiva baixa.

Próximo ao centro havia uma construção abandonada em alvenaria de tijolo e

cimento Portland, ao lado de valas e grandes cavas, todos com água.

Construção abandonada.

As cavas de on de a areia superficial foi retirada e at é então não utilizada. Aquela escavação atingiu ainda camadas mais profundas, de textura mais argilosa.

As informações orais recolhidas sobre essas valas não foram divergentes:

a) retirada de material de profundidade para confecção de tijolos manuais;

b) instalação de tanques para piscicultura.

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A primeira hipótese parece improvável pela regularidade das formas e sua

distribuição, além da ausência de vestígio de fornos (embora pudesse se tratar e

tijolos crus. Na realidade não foram localizados vestígios que sugerisse a conexão

de tijolos. A segunda hipótese é mais plausível. De qualquer sorte a intervenção

no terreno, se por um lado poderia ter danificado um eventual sítio arqueológico, na

realidade deixou á mostra um longo perfil do terreno, no qual não foram observados

vestígios arqueológicos. Na realidade apenas uns poucos fragmentos de louça

doméstica recente, foram observados à superfície.

Louça recente encontrada à su-perfície.

Cacimbão na área da UFC.

Além das interferências acima referidas, ali foi escavado um cacimbão, que poderia

estar associado a uma ocupação também recente face ao uso de cimento portland.

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Marcação dos 

pontos de início 

das trincheiras. 

Remoção  da  vegetação 

herbácea  de  modo  a 

permitir  a  abertura  da 

trincheira. 

 

Embora haja referências ao potencial em arte rupestre na área de Quixadá, referido

em textos de arqueologia, na tradição oral dos habitantes locais, não se tem relatos.

Mesmo concentrando esforços em buscar informações junto a guias locais (guias de

trilhas, de escaladas, de visitas a cavernas), apenas se pode obter uma referência

nas imediações do Parque Cedro: Uma gruta onde estaria escrito “.Quinca por

Deus ...”, sobrepondo-se a “outros caracteres que não podem ser decifrados”. Face

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ao adensamento da vegetação naquela ocasião, o guia não conseguiu acessar a

gruta.

Uma verificação do Ph do terreno comprovou que este é favorável à prática de

cultura sazonal, portanto ao seu uso por parte de grupos agricultores, entretanto

durante o levantamento visual de superfície na área não foram localizados vestígios

arqueológicos quer relacionados ao período pré-histórico quer ao histórico.

Teste do Ph do solo na UFC..

 

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Estabelecimento dos pontos de sondagem 

Identificado o perímetro do terreno foram inicialmente realizados cortes-teste que

serviram para estabelecer a expectativa estratigráfica. Em seguida foram

demarcadas as trincheiras em paralelo a um dos lados do terreno e eqüidistantes

entre si de 20m. Em cada uma das trincheiras foi removida a vegetação, de modo a

permitir a prospecção e superfície.

 

Exemplo  de  uma 

trincheira  de  su‐

perfície. 

Marcação dos pontos 

de início das 

trincheiras. 

 

40

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Em seguida cada trincheira foi escavada de modo a permitir a prospecção de subsuperfície 

ao longo do traçado. 

 

Ainda ao  longo das  trincheiras,  foram demarcados os  locais dos cortes, assinalados 

por bandeirolas. 

Trincheira  de  subsuper‐

fície,  já  concluída  e 

fechada. 

 

41

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Ao lado, Corte marcado na trincheira. 

Deste modo, por toda a área em estudo foram realizadas prospecções sistemáticas

de superfície e de subsuperfície, além de cortes de 1mx1m, randomicamente

distribuídos.

Os pontos, pré-estabelecidos em planta, foram transpostos para campo com base

nas coordenadas estabelecidas e cada ponto assinalado com bandeirolas coloridas

para facilitara sua visualização pela equipe encarregada da escavação.

A área disponibilizada à UFC, em Quixadá está situada à jusante da barragem

principal do Açude Cedro, em trecho do vale onde outrora vagueava o Rio Sitiá ou

um de seus afluentes. Ali as terras são férteis e mais profundas, onde predomina o

solo constituído de areia fina, siltosa, marrom à superfície (entorno de até 90 cm),

seguindo-se o silte arenoso pouco compacto a muito compacto, marrom (entre 90

cm, atingindo algumas vezes 5 a 6 metros). Por vezes o segundo estrato é

constituído por uma argila siltosa acinzentada, que se sobrepõe à camada de silte

arenoso marrom. Por fim apresenta um estrato de silte arenoso com pedregulhos de

quartzo, de espessura variável que repousa sobre a rocha matriz.

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A área destinada à UFC é, portanto, um terreno de várzea, em parte de formação

local, mas predominantemente deposicional, inserido em um vale ladeado por dois

grandes blocos residuais.

A prospecção de superfície não revelou vestígios arqueológicos depositados no solo.

Também não foram localizados vestígios arqueológicos de subsuperfície.

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Distribuição das trincheiras da prospecção de superfície

 

WP  Zona  Leste  Norte  Altitude Presença de material arqueológico  Número de catálogo 

TS 01  24M  493674,5  9449718  196,233 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 02  24M  493690  9449721  198,637 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 03  24M  493712,3  9449723  201,28  Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 04  24M  493739,8  9449724  199,598 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 05  24M  493761,5  9449725  199,838 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 06  24M  493785,6  9449726  207,048 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 07  24M  493808  9449727  205,847 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 08  24M  493829,7  9449730  206,087 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 09  24M  493852,3  9449730  207,769 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TS 10  24M  493871,6  9449729  206,568 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

 A documentação fotográfica da prospecção de superfície está sendo apresentada em anexo.

  

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Distribuição das trincheiras da prospecção de subsuperfície 

 WP  Zona  Leste  Norte  Altitude Presença de material arqueológico  Número de catálogo 

TSS 01  24M  493674,5 9449718 196,233 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 02  24M  493690 9449721 198,637 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 03  24M  493712,3 9449723 201,28 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 04  24M  493739,8 9449724 199,598 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 05  24M  493761,5 9449725 199,838 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 06  24M  493785,6 9449726 207,048 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 07  24M  493808 9449727 205,847 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 08  24M  493829,7 9449730 206,087 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 09  24M  493852,3 9449730 207,769 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente 

TSS 10  24M  493871,6 9449729 206,568 Sem ocorrência de material arqueológico  Não concernente  A documentação fotográfica da prospecção de subsuperfície está sendo apresentada em anexo.  

45

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Localização dos pontos de prospecção por cortes randomicamente distribuídos. 

 

Corte  Zona  Leste  Norte  Altitude Dimensões do 

Corte Presença de material arqueológico  Ocorrência em superfície 

Número de catálogo 

C001  24M  493684,1  9449604  187,581 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C002  24M  493715  9449513  197,195 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C003  24M  493733,5  9449543  196,474 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C004  24M  493741,7  9449606  186,38 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C005  24M  493768,2  9449657  186,14 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C006  24M  493800,2  9449531  194,311 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C007  24M  493807,1  9449718  183,977 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C008  24M  493845,6  9449534  194,551 1 x 1x0,35 m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C009  24M  493854,5  9449694  176,527 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

C010  24M  493870,6  9449725  177,968 1 x 1 x0,40m Ausência de material arqueológico em 

subsuperfície Ausência de material em 

superfície Não concernente 

A documentação fotográfica da prospecção de subsuperfície está sendo apresentada em anexo

 

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LA

BO

R

AT Ó R I O D E A R Q U E

O

LO

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AT Ó R I O D E A R Q U E

O

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i ve

r s i d a d e F e d e r a l d eP e r n

am

bu

co

Localização das trincheiras

CAMPUS UFC

ESCALA:INDICADA

LEGENDA

Área do campus da UFC

Área em parte ocupada por construção eem parte degradada.

Localização do curral

Trecho onde não foi possível abriras trincheiras

Trincheiras onde foram realizadasas prospecções de superfície esubsuperfície

Área alagada na qual foi escavada uma valapara passagem d`água

TSS 03TSS 01TSS 05 TSS 06 TSS 07 TSS 08 TSS 09

TSS 11TSS 02

TSS 04

TSS 12

TSS 13

TSS 10

N

47

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LA

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AT Ó R I O D E A R Q U E

O

LO

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LA

BO

R

AT Ó R I O D E A R Q U E

O

LO

GIA

Un

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am

bu

co

Localização das trincheiras

CAMPUS UFC

ESCALA:INDICADA

LEGENDA

Área do campus da UFC

Área em parte ocupada por construção eem parte degradada.

Localização do curralÁrea alagada na qual foi escavada uma valapara passagem d`água

Cortes realizados

N

48

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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL 

 

O  trabalho  de  educação  patrimonial  foi  voltado  especialmente  para  a  população 

residente no entorno do Açude do Cedro, bem como para os estudantes presentes 

no local. 

Buscou‐se entrar em contato com a população local de modo a esclarecer o porquê 

da presença da equipe, bem como estimular o conhecimento acerca da necessidade 

de  estudar  e  preservar  o  patrimônio  cultural.  Uma  palestra  foi  realizada  com 

estudantes  do  ensino  técnico.  A  equipe  esteve  acessível  a  prestar  informações  e 

receber  em  campo  qualquer  pessoa  disposta  a  conhecer  os  procedimentos  do 

trabalho. 

Palestra do coordenador da equipe de arqueologia Marcos Albuquerque  aos estudantes do curso técnico ‐no  CEFET/ UFC. 

 

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CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES 

 

1. Considerações históricas 

a. A área cedida pelo DNOCS  (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) à UFC corresponde a uma gleba de 5 hectares, na área do Parque Cedro, à margem da Estrada do Cedro, a jusante da barragem principal do Açude Cedro.  

b. Além da  função precípua de  reservatório para  as escassas  águas da região, o Açude Cedro foi concebido como um plano mais amplo, que integrava, com base na  irrigação, o desenvolvimento das culturas de vazante, a piscicultura e o aproveitamento das áreas de montante e o abastecimento de água da cidade de Quixadá. 

c. Na realidade a área atualmente cedida à UFC,  integrava o Projeto de irrigação implantado à jusante da barragem, que previa a distribuição de água através de dois canais abertos, que correm ao longo do vale e que beneficiariam cerca de 1000 ha.    

d. Embora concebido para atender a um conjunto de pequenas glebas, com o uso racional da água para a lavoura, problemas com o manejo das  águas,  a montante  da  barragem  bem  como  com  o  uso  para  a irrigação, dificultaram  a  implantação e manutenção do projeto, que não chegou a atingir mais que 500 ha.   

e. Ao longo do tempo os canais de irrigação foram desativados e outros projetos, em glebas  cedidas pelo DNOCS,  foram ocupando o espaço das terras antes destinadas ao Projeto de Irrigação. 

f. As  terras  ora  cedidas  à  UFC  haviam  vinham  sendo  utilizadas  no presente,  informalmente, para agricultura e criatório de gado bovino e ovino.   

g. Anteriormente ali foi aberto um cacimbão (cerca de 7mde diâmetro), que fornece boa água. 

h. Outras  cavas  foram  abertas  no  terreno,  possivelmente  visando  a piscicultura.     Não  foram  localizados registros deste uso e  tampouco as informações orais puderam auxiliar. 

 

2. Considerações geoarqueológicas 

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a. As  terras  de Quixadá,  inseridas  nos  Sertões  Cearenses,  apresentam vastas áreas com uma topografia plana, característica das depressões sertanejas.      Os  maciços  residuais  que  permeiam  as  depressões sertanejas,  em Quixadá  se mostram  particularmente  expressivos  na Serra do Estevão.     Mas  são as  formações  isoladas, os  inselbergs ou monólitos dispersos sobre as terras baixas da depressão sertaneja que vão efetivamente caracterizar a paisagem de Quixadá. 

b. Os solos pouco profundos que predominam na área, repousam sobre a rocha matriz.   Tal condição, associada à topografia resulta em solos muito  secos  durante  a  estiagem,  e  encharcados  durante  o  período chuvoso. O  clima  quente  promovendo  altos  índices  de  evaporação, associado à geologia da área, aos solos  jovens, resultam na presença recorrente de lençóis d’água salinizadas. 

c. Em decorrência do regime pluvial da região, a rede fluvial está sujeita a  sofrer uma drástica variação no volume de  suas águas durante os períodos de estiagem nas  invernadas.     Tais alterações  favorecem a alternância  de momentos  de  deposição  e  de  erosão  nas  terras  dos vales. 

d. A  área disponibilizada  à UFC, em Quixadá está  situada  à  jusante da barragem principal do Açude Cedro, em trecho do vale onde outrora vagueava o Rio Sitiá ou um de seus afluentes. Ali as terras são férteis e mais  profundas,  onde  predomina  o  solo  constituído  de  areia  fina, siltosa, marrom  à  superfície  (entorno  de  até  90  cm),  seguindo‐se  o silte arenoso pouco compacto a muito compacto, marrom  (entre 90 cm,  atingindo  algumas  vezes  5  a  6 metros).    Por  vezes  o  segundo estrato  é  constituído  por  uma  argila  siltosa  acinzentada,  que  se sobrepõe à camada de silte arenoso marrom. Por  fim apresenta um estrato de  silte  arenoso  com pedregulhos de quartzo, de  espessura variável que repousa sobre a rocha matriz. 

e. A área destinada à UFC é, portanto, um terreno de várzea, em parte de  formação  local,  mas  predominantemente  deposicional,  inserido em um vale ladeado por dois grandes blocos residuais. 

3. Considerações arqueológicas: 

a. A área destinada à UFC independentemente de práticas de irrigação é favorável a prática de agricultura sazonal. 

b. Muito pouco  se  conhece arqueologicamente da presença de grupos de  cultivadores pré‐históricos nas  terras baixas do  sertão  central do Ceará. 

c. O  único  exemplar  de machado  de  pedra  pré‐histórico  existente  no Museu Histórico de Quixadá foi adquirido por doação, sem referência quanto  à  origem  e  procedência.      Trata‐se  de  uma  peça  de  gume polido. 

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d. Outras referências a presença de vestígios arqueológicos no município decorrem do estudo realizado para a implantação da Estrada de Ferro TransNordestina, e se referem a material lítico lascado. 

e. Embora  haja  referências  ao  potencial  em  arte  rupestre  na  área  de Quixadá,  referido  em  textos  de  arqueologia,  na  tradição  oral  dos habitantes locais, não se tem relatos.   Mesmo concentrando esforços em  buscar  informações  junto  a  guias  locais  (guias  de  trilhas,  de escaladas, de visitas a cavernas), apenas se pode obter uma referência nas  imediações do Parque Cedro: Uma gruta onde estaria escrito “... por Deus ...”, sobrepondo‐se a “outros caracteres que não podem ser decifrados”.     Face ao adensamento da vegetação naquela ocasião, o guia não conseguiu acessar a gruta.   Recomenda‐se buscar localizá‐la em outra ocasião. 

 

4. Considerações  sobre  a  prospecção  arqueológica  de  superfície  e  de subsuperfície na área da UFC 

a. Por se tratar de uma área pouco extensa, e sobretudo homogênea, do ponto  de  vista  de  compartimentação  ambiental,  a  metodologia adotada na pesquisa arqueológica tomou por base o estabelecimento de uma amostragem com base em critérios espaciais. 

b. Foi  estabelecida  uma  seqüência  de  linhas  paralelas,  e  eqüidistantes entre si de 20 metros, que cobriam inteiramente o terreno. 

c. Ao longo de todas as linhas foram estabelecidas faixas de 1 metro de largura. 

d. Em cada uma das faixas foi limpa a vegetação10 de modo a permitir a visualização da superfície. 

e. Cada  uma  das  faixas  foi  escavada,  constituindo  trincheiras  que permitiram  a  avaliação  de  subsuperfície  (cerca  de  20  cm)  quanto  à presença ou não de vestígios arqueológicos. 

f. Ao  longo  das  trincheiras  foram  ainda  realizados  cortes‐teste  em profundidade, randomicamente distribuídos em cada unidade. 

10 A área se encontrava em parte ocupada por pastagem ( cerca de 40%), parte com plantio de milho – já seco (cerca de 25%), e os 35% restantes distribuídos entre a vegetação ruderal, construções e as cavas abertas.

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Considerações finais

A pesquisa desenvolvida na área do Campus Quixadá da UFC , em Quixadá-CE,

propiciou prospecções intensivas no conjunto da área do empreendimento que

sofrerá impactos potencialmente lesivos ao patrimônio arqueológico de forma a

estimar a quantidade de sítios arqueológicos existentes nas áreas a serem afetadas,

direta ou indiretamente, pelo empreendimento e a extensão, profundidade,

diversidade cultural e grau de preservação nos depósitos.

Foi desenvolvida em duas etapas. A primeira etapa buscou propiciar a partir de um

exaustivo levantamento prospectivo de superfície, uma primeira visão do

compartimento ambiental estabelecido. Não foram localizados vestígios

arqueológicos nessa etapa.

Na segunda etapa, promoveu-se uma prospecção sistemática de subsuperfície, por

amostragem, através da execução de cortes-teste randomicamente distribuídos e

plotados com base no Sistema de Posicionamento Global (GPS).

Não foram localizados vestígios arqueológicos de subsuperfície nesta área.

A execução deste estudo, do ponto de vista da construção do conhecimento, tem o

caráter de etapa intermediária, ainda uma fase de levantamento, assim, a divulgação

de seus resultados necessariamente se direciona ainda para um público mais

especializado. Sob esta perspectiva, os meios previstos para a divulgação dos

resultados compreendem o próprio Relatório de pesquisa, a ser disponibilizado em

meio digital e impresso nas bibliotecas do IPHAN e do Programa de Pós Graduação

em Arqueologia da UFPE, bem como no ‘site’ do Laboratório de Arqueologia da

UFPE, www.magmarqueologia.pro.br.

De acordo com a pesquisa realizada e os resultados obtidos, consideramos que do

ponto de vista do patrimônio arqueológico foram atendidas as exigências legais para

a implantação do empreendimento

g. A implantação do empreendimento não interferirá fisicamente em áreas urbanas nem em áreas em que estejam registradas edificações oficialmente reconhecidas como de interesse histórico. Não se prevê, portanto, riscos em relação ao patrimônio arquitetônico.

h. A área por onde se desenvolve o empreendimento corresponde a uma região de depósitos sedimentares, não atingindo, portanto, áreas

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propícias à presença de cavernas de interesse espeleológico relevante. Tampouco foi registrada a ocorrência de fósseis, quer animais quer vegetais nesta área.

i. Assim considerando, as obras do empreendimento envolveriam unicamente riscos com relação ao patrimônio arqueológico.

j. Intervenções anteriores (abertura das cavas para implantação dos tanques de piscicultura, edificações, etc.) já haviam destituído de contexto cerca de 18% do terreno.

k. Com base na prospecção arqueológica realizada,

i. Face à malha amostral utilizada para a abertura das trincheiras, que privilegiou toda a área destinada à UFC;

ii. Face à interpretação estratigráfica de todas as camadas encontradas;

iii. Face a ausência de material arqueológico;

l. Podemos afirmar com segurança que, na área cedida à UFC e que foi por nossa equipe prospectada, não foram localizados vestígios arqueológicos, quer à superfície, quer em subsuperfície, que indicasse a presença de assentamentos pré-históricos naquela área.

m. Considerando a possibilidade de um achado fortuito (vestígio arqueológico decorrente de perda, etc., não associado a um assentamento), durante as obras, foram realizadas ações, formais e informais, de conscientização junto a alunos e professores, bem como a trabalhadores locais, no sentido de, através da educação patrimonial, buscar sua preservação.

Tendo em vista o resultado obtido, consideramos que foram atendidas as exigências legais de avaliação de riscos ao Patrimônio Arqueológico, nesta área.

Assim, somos de Parecer que o IPHAN poderia se pronunciar favoravelmente à concessão da Licença de Instalação e de Operaçao.

 

54

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BIBLIOGRAFIA

Barry, B. J. L., and A. Baker

Geographic sampling. In Spatial Analysis, edited by B. J. L. Barry and

D. Marble. Prentice-Hall, Englewood Cliffs. 1968. Pp. 91-100.

Redman, C. L., and P. J. Watson

1970 Systematic, intensive surface collection. American Antiquity 35:279-291.

Thomas, D. H.

1969 Regional sampling in archaeology a pilot Great Basin research design. Annual Report Archaeological Survey. Department of Anthropology. University of California, Los Angeles.

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EQUIPE TÉCNICA E DE APOIO

Este Programa de Prospecção e Resgate Arqueológico na área do Projeto de

implantação do Campus da Universidade Federal do Ceará - UFC, em Quixadá - CE,

contou com a participação dos seguintes profissionais:

Coordenação geral Marcos Albuquerque

Direção de campo Veleda Lucena

Arqueóloga de campo Darlene Maciel

Documentação fotográfica Doris Walmsley

Técnico de campo Marcelo Milanez

Assistente de campo Alberes Pessoa

Assistente de campo Luis Marques

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ANEXOS 

 

 

 

 

 

 

57

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Documentação  fotográfica  da  prospecção  de  superfície,  de 

subsuperfície em trincheiras, e por cortes randomicamente distribuídos 

 

 

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Ponto de Referência TS 01

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08700

Orientação: S

Leste: 493674,539

Norte: 9449717,687

Altitude (m): 196,233

Ponto de Referência TSS 01

Zona: 24M

Leste: 493674,539

Norte: 9449717,687

Altitude: 196,233

Doc. Fotográfico: DSC09475

Orientação: S

Ponto de Referência: C01

Zona: 24M

Leste: 493684,082

Norte: 9449604,022

Altitude 3:

187,581

Doc. Fotográfico: DSC05905

Orientação: N

59

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Ponto de Referência TS 02

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08702

Orientação: S

Leste: 493689,982

Norte: 9449720,968

Altitude (m): 198,637

Ponto de Referência TSS 02

Zona: 24M

Leste: 493689,982

Norte: 9449720,968

Altitude: 198,637

Doc. Fotográfico: DSC09474

Orientação: S

Ponto de Referência: C02

Zona: 24M

Leste: 493714,986

Norte: 9449513,485

Altitude 3:

197,195

Doc. Fotográfico: DSC05903

Orientação: N

60

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Ponto de Referência TS 03

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08705

Orientação: S

Leste: 493712,301

Norte: 9449722,517

Altitude (m): 201,28

Ponto de Referência TSS 03

Zona: 24M

Leste: 493712,301

Norte: 9449722,517

Altitude: 201,28

Doc. Fotográfico: DSC09472

Orientação: S

Ponto de Referência: C03

Zona: 24M

Leste: 493733,455

Norte: 9449542,904

Altitude 3:

196,474

Doc. Fotográfico: DSC05900

Orientação: E

61

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Ponto de Referência TS 04

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08706

Orientação: S

Leste: 493739,805

Norte: 9449724,178

Altitude (m): 199,598

Ponto de Referência TSS 04

Zona: 24M

Leste: 493739,805

Norte: 9449724,178

Altitude: 199,598

Doc. Fotográfico: DSC09470

Orientação: S

Ponto de Referência: C04

Zona: 24M

Leste: 493741,655

Norte: 9449606,149

Altitude 3:

186,38

Doc. Fotográfico: DSC05909

Orientação: E

62

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Ponto de Referência TS 05

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08708

Orientação: S

Leste: 493761,464

Norte: 9449724,68

Altitude (m): 199,838

Ponto de Referência TSS 05

Zona: 24M

Leste: 493761,464

Norte: 9449724,68

Altitude: 199,838

Doc. Fotográfico: DSC09458

Orientação: S

Ponto de Referência: C05

Zona: 24M

Leste: 493768,207

Norte: 9449657,23

Altitude 3:

186,14

Doc. Fotográfico: DSC05911

Orientação: N

63

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Ponto de Referência TS 06

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08711

Orientação: S

Leste: 493785,558

Norte: 9449726,248

Altitude (m): 207,048

Ponto de Referência TSS 06

Zona: 24M

Leste: 493785,558

Norte: 9449726,248

Altitude: 207,048

Doc. Fotográfico: DSC09456

Orientação: S

Ponto de Referência: C06

Zona: 24M

Leste: 493800,228

Norte: 9449531,495

Altitude 3:

194,311

Doc. Fotográfico: DSC05897

Orientação: W

64

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Ponto de Referência TS 07

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08715

Orientação: S

Leste: 493807,98

Norte: 9449727,325

Altitude (m): 205,847

Ponto de Referência TSS 07

Zona: 24M

Leste: 493807,98

Norte: 9449727,325

Altitude: 205,847

Doc. Fotográfico: DSC09454

Orientação: S

Ponto de Referência: C07

Zona: 24M

Leste: 493807,079

Norte: 9449717,707

Altitude 3:

183,977

Doc. Fotográfico: DSC05914

Orientação: N

65

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Ponto de Referência TS 08

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08716

Orientação: S

Leste: 493829,713

Norte: 9449729,643

Altitude (m): 206,087

Ponto de Referência TSS 08

Zona: 24M

Leste: 493829,713

Norte: 9449729,643

Altitude: 206,087

Doc. Fotográfico: DSC09452

Orientação: S

Ponto de Referência: C08

Zona: 24M

Leste: 493845,591

Norte: 9449534,038

Altitude 3:

194,551

Doc. Fotográfico: DSC05893

Orientação: N

66

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Ponto de Referência TS 09

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08719

Orientação: S

Leste: 493852,321

Norte: 9449730,349

Altitude (m): 207,769

Ponto de Referência TSS 09

Zona: 24M

Leste: 493852,321

Norte: 9449730,349

Altitude: 207,769

Doc. Fotográfico: DSC09450

Orientação: S

Ponto de Referência: C09

Zona: 24M

Leste: 493854,498

Norte: 9449693,937

Altitude 3:

176,527

Doc. Fotográfico: DSC04123

Orientação: N

67

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Ponto de Referência TS 10

Zona: 24M

Doc.Fotográfico DSC08721

Orientação: S

Leste: 493871,62

Norte: 9449729,498

Altitude (m): 206,568

Ponto de Referência TSS 10

Zona: 24M

Leste: 493871,62

Norte: 9449729,498

Altitude: 206,568

Doc. Fotográfico: DSC09504

Orientação: S

Ponto de Referência: C10

Zona: 24M

Leste: 493870,645

Norte: 9449725,245

Altitude 3:

177,968

Doc. Fotográfico: DSC04116

Orientação: E

68