Campylobacter em géneros alimentícios: Resistências aos...

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Campylobacter em géneros alimentícios: Resistências aos antimicrobianos e diversidade genética Andrea Santos 1 , João Carlos Rodrigues 1 , Cristina Belo Correia 2 , Margarida Saraiva 2 , Mónica Oleastro 1 1. Departamento de Doenças Infeciosas, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P. 2. Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P. A campilobacteriose é considerada a principal causa de gastroenterite aguda de origem bacteriana em seres humanos, nos países desenvolvidos. A dose infectante geralmente é baixa (<500 unidades formadoras de colónias) e as espécies mais frequentemente associadas a estas infeções são C. jejuni, seguido de C. coli e C. lari. Nos indivíduos mais frágeis podem ocasionar infecções extra intestinais, designadamente septicemia, e complicações secundárias graves, como meningite, pancreatite, artrite, peritonite, hepatite e endocardite. Esta infeção está associada principalmente ao consumo de leite não pasteurizado e de carnes pouco cozinhadas. As aves são o principal reservatório do agente patogénico, sendo a disseminação facilitada pela ocorrência de contaminações cruzadas. A utilização indiscriminada de antibióticos na produção animal e para fins veterinários, tem contribuído para o aumento do número de estirpes de Campylobacter resistentes aos antimicrobianos, e consequentemente, para o aumento do número de isolados humanos multirresistentes. Enquadramento Objetivo Monitorizar a resistência aos antimicrobianos e avaliar a diversidade genética de estirpes de Campylobacter spp., isoladas em géneros alimentícios de produção nacional, entre Outubro e Dezembro 2012. Resultados Foi observada uma elevada taxa de resistência aos antimicrobianos (Tabela 1); 31% das estirpes apresentaram resistência aos três antibióticos em simultâneo, sendo classificadas como multirresistentes. Antibióticos % Resistência global % Resistência C. coli (n=24) % Resistência C. jejuni (n=5) Ciprofloxacina 93,1 75,0 100,0 Tetraciclina 82,8 79,2 60,0 Eritromicina 34,5 29,2 60,0 Tripla resistência 31,0 Tabela 1- Perfil de resistência das 29 estirpes de Campylobacter spp. isoladas de géneros alimentícios. Conclusões Destacamos: o isolamento de estirpes patogénicas de Campylobacter, sobretudo C. coli, em géneros alimentícios de diferentes origens animais (aves, bovinos e suínos); a elevada taxa de resistência destas estirpes, zoonóticas de origem alimentar, a antimicrobianos utilizados em terapêutica humana; a necessidade de implementar uma vigilância epidemiológica integrada deste microrganismo em Portugal, envolvendo as vertentes humana, veterinária e alimentar. Foram identificadas 24 estirpes da espécie Campylobacter coli (C. coli) e 5 da espécie C. jejuni. As estirpes de C. coli são geneticamente mais conservadas, identificando-se um complexo clonal predominante (CC-828), contrariamente ao observado para as estirpes de C. jejuni, todas de complexos distintos (Figura 1). 4 2 12 1 3 1 1 1 1 1 2 CC-828 CC-1150 NA CC-607 CC-351 CC-446 CC-21 NA Suínos Aves Bovinos Figura 1-Diversidade genómica das estirpes de Campylobacter spp. por MLST C. coli (n=24) C. jejuni (n=5) (n=6) (n=21) (n=2) * * * NA: Não atribuído. Novo complexo clonal, com classificação ainda não atribuída. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1 Ménard A, Dachet F, Prouzet-Mauleon V, Oleastro M, Mégraud F. Development of a real-time fluorescence resonance energy transfer PCR to identify the main pathogenic Campylobacter spp. Clin Microbiol Infect. 2005;11(4):281-7. 2 Eucast, proposed ECOFFS and clinical breakpoints for C. jejuni and C. coli, August 2012. 3 MLST Campylobacter database website (http://pubmlst.org/campylobacter) Materiais e Métodos Amostras de géneros alimentícios positivas para Campylobacter spp (n=29) Determinação da espécie 1 PCR em tempo real com sondas de hibridação Resistência aos antimicrobianos 2 Difusão em disco Diversidade genotípica 3 Multilocus sequence typing (MLST) 51,7% 6,9% 41,4% Carne fresca Pronto a cozinhar Carcaça Tipo de género alimentício 69% 6,9% 24,1% Aves Bovinos Suínos Espécie animal na origem do alimento

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Campylobacter em géneros alimentícios: Resistências aos antimicrobianos e diversidade genética

Andrea Santos1, João Carlos Rodrigues1, Cristina Belo Correia2, Margarida Saraiva2, Mónica Oleastro1

1. Departamento de Doenças Infeciosas, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P. 2. Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, I.P.

A campilobacteriose é considerada a principal causa de gastroenterite aguda de origem bacteriana em seres humanos, nos países desenvolvidos. A dose infectante geralmente é baixa (<500 unidades formadoras de colónias) e as espécies mais frequentemente associadas a estas infeções são C. jejuni, seguido de C. coli e C. lari. Nos indivíduos mais frágeis podem ocasionar infecções extra intestinais, designadamente septicemia, e complicações secundárias graves, como meningite, pancreatite, artrite, peritonite, hepatite e endocardite. Esta infeção está associada principalmente ao consumo de leite não pasteurizado e de carnes pouco cozinhadas. As aves são o principal reservatório do agente patogénico, sendo a disseminação facilitada pela ocorrência de contaminações cruzadas. A utilização indiscriminada de antibióticos na produção animal e para fins veterinários, tem contribuído para o aumento do número de estirpes de Campylobacter resistentes aos antimicrobianos, e consequentemente, para o aumento do número de isolados humanos multirresistentes.

Enquadramento

Objetivo

Monitorizar a resistência aos antimicrobianos e avaliar a diversidade genética de estirpes de Campylobacter spp., isoladas em géneros alimentícios de produção nacional, entre Outubro e Dezembro 2012.

Resultados

• Foi observada uma elevada taxa de resistência aos antimicrobianos (Tabela 1); 31% das estirpes apresentaram resistência aos três antibióticos em simultâneo, sendo classificadas como multirresistentes.

Antibióticos % Resistência

global % Resistência C. coli (n=24)

% Resistência C. jejuni (n=5)

Ciprofloxacina 93,1 75,0 100,0

Tetraciclina 82,8 79,2 60,0

Eritromicina 34,5 29,2 60,0

Tripla resistência

31,0

Tabela 1- Perfil de resistência das 29 estirpes de Campylobacter spp. isoladas de géneros alimentícios.

Conclusões

Destacamos:

• o isolamento de estirpes patogénicas de Campylobacter, sobretudo C. coli, em géneros alimentícios de diferentes origens animais (aves, bovinos e suínos);

• a elevada taxa de resistência destas estirpes, zoonóticas de origem alimentar, a antimicrobianos utilizados em terapêutica humana;

• a necessidade de implementar uma vigilância epidemiológica integrada deste microrganismo em Portugal, envolvendo as vertentes humana, veterinária e alimentar.

• Foram identificadas 24 estirpes da espécie Campylobacter coli (C. coli) e 5 da espécie C. jejuni.

•As estirpes de C. coli são geneticamente mais conservadas, identificando-se um complexo clonal predominante (CC-828), contrariamente ao observado para as estirpes de C. jejuni, todas de complexos distintos (Figura 1).

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1

3

1 1 1 1 1

2

CC-828 CC-1150 NA CC-607 CC-351 CC-446 CC-21 NA

Suínos Aves Bovinos

Figura 1-Diversidade genómica das estirpes de Campylobacter spp. por MLST

C. coli (n=24) C. jejuni (n=5)

(n=6) (n=21) (n=2)

* *

* NA: Não atribuído. Novo complexo clonal, com classificação ainda não atribuída.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 Ménard A, Dachet F, Prouzet-Mauleon V, Oleastro M, Mégraud F. Development of a real-time fluorescence resonance energy transfer PCR to identify the main pathogenic Campylobacter spp. Clin Microbiol Infect. 2005;11(4):281-7. 2Eucast, proposed ECOFFS and clinical breakpoints for C. jejuni and C. coli, August 2012. 3MLST Campylobacter database website (http://pubmlst.org/campylobacter)

Materiais e Métodos

Amostras de géneros alimentícios positivas para Campylobacter spp (n=29)

Determinação da espécie1

PCR em tempo real com sondas de hibridação

Resistência aos antimicrobianos2

Difusão em disco

Diversidade genotípica3

Multilocus sequence typing (MLST)

51,7%

6,9%

41,4% Carne fresca

Pronto a cozinhar

Carcaça

Tipo de género alimentício

69% 6,9%

24,1% Aves

Bovinos

Suínos

Espécie animal na origem do alimento