Cana Online nº22 - Junho 2015

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Revista Cana Online onde nós do Grupo Alpha Seg Treinamentos fizemos uma pequena participação em uma matéria referente a Brigada de Incêndio em Canaviais. Aproveitem toda a leitura. Link do site da Revista Cana Online http://www.canaonline.com.br/index.html Fonte: Cana Online Fonte: Eduardo F. Mendes

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Clivonei Roberto [email protected]

Luciana [email protected]

CÁ ENTRE NÓS

Nesta época de crise, um dos as-

suntos mais quentes é: como ob-

ter uma renda extra?

Segundo especialistas no assunto,

não basta saber como gerar renda extra,

tem que por a mão na massa! Realizar no-

vas experiência, como serviços adicionais,

nova profissão, fora do horário de expe-

diente normal, diferentemente do seu pla-

no A, de seu trabalho ou atividade tradi-

cional, para então poder gerar uma renda

extra.

Quer dizer que gerar renda extra

nada mais é do que um negócio como ou-

tro qualquer e, como tal, requer esforço,

dedicação, trabalho, investimento e suor.

Normalmente o que dá mais certo é cons-

truir um negócio dentro do próprio ne-

gócio, ou seja, incrementar alguma parte

de sua atividade que não está sendo bem

aproveitada e que tem potencial para ge-

rar essa renda extra.

Nesta edição trazemos dois exem-

plos de oportunidade de renda extra. Um

deles é a dobradinha amendoim/cana. Cul-

tivar amendoim em áreas de renovação de

canavial não é novidade, mas a evolução

na cultura do grão e o aumento dos be-

nefícios agronômicos

como os com a meio-

si, tornam mais atra-

ente esse consórcio.

A outra opção

de renda extra que

está dominando o se-

tor é o recolhimen-

to de palha de cana,

para fins como gera-

ção de energia, etanol

de segunda geração,

produção de pelle-

tes, alimentação para

o gado, ou comercialização de biomassa.

O melhor é que a busca por renda

extra, além de reforçar o caixa, impulsio-

na o setor a inovar, se redescobrir, a criar. É

assim que o negócio se torna sustentável.

Renda extra para o setor de cana!

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Capa

Não é fogo de palha!

Holofote- Qual valor estimulará o setor

a investir em bioeletricidade?

Tendências- A suinocultura até o final

do ano: ventos a favor,

mas com turbulências

Especial Amendoim- O amendoim é

parte do pacote

sustentável da cana

ÍNDICE

Especial Amendoim- O amendoim começa pela semente

Segurança- É fogo!!!

Insectshow- Sphenophorus ganha

status de principal praga

nos canaviais de São Paulo

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Editores: Luciana [email protected]

Clivonei Roberto [email protected]

Redação: Adair [email protected]

Leonardo [email protected]

MarketingRegina Baldin

[email protected]

Editor gráficoThiago Gallo

Tecnologia Industrial- Mais impurezas

e mais palha,

como fica a indústria?

Logística- Área de suprimentos requer

uma logística redonda

Economia- “Setor canavieiro precisa

se organizar, do campo ao

banco”, dizem especialistas

Gestão de Pessoas- O bê-á-bá do campo

Dica de Leitura- Equipes solidárias

Por que em grupo e não sozinho?

Aproveite melhor suanavegação clicando em:

Áudio LinkFotosVídeo

Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: [email protected]

www.canaonline.com.br

CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora

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interessante. Acaba sendo um incentivo

para o gerador.

Onorio Kitayama, consultor e um

dos maiores especialistas no tema

Perto de R$ 300 o MWh

Na Paraíba, três empresas estão inscri-

tas como termoelétricas (Japungu,

Miriri e Giasa), mas têm preferido destinar

energia para irrigar os canaviais. Somente a

Giasa é conectada ao Sistema Elétrico Na-

cional. Mas com preço próximo a R$ 300 o

MWh, a geração de energia passaria a ser

atrativa para as usinas do estado, que hoje

destinam o que sobra do bagaço para ou-

tras finalidades, como ração animal.

Edmundo Barbosa, presidente

do Sindálcool-PB

Mínimo de R$ 330,00 por MWh

Entendemos que hoje o patamar ideal

de preço para a energia da biomassa da

Em torno de R$ 280,00

Baseado em algumas premissas de al-

gum tempo atrás, acredito que seja

remunerador um teto no leilão de R$ 280.

Mas a dificuldade é a obtenção de cré-

dito. Já bancar a linha de transmissão é

uma questão polêmica. A implantação de

um projeto de cogeração precisa ter via-

bilidade técnica e econômica. O empre-

sário tem que considerar o investimento

na térmica e na conexão. O projeto é vi-

ável se levar em consideração a distân-

cia do ponto de conexão. Se a usina está

a 50 km, 60 km da conexão, não pode

ter um projeto de apenas 12 MW ou de

15 MW. Para ser viável, tem que gerar 50

MW, 80 MW. Mas se levamos em conta os

projetos das Hidroelétricas de Santo An-

tonio e Jirau, a linha básica vai até per-

to de Porto Velho. Os pontos de conexão

para as duas usinas ficam próximos, por-

que o pessoal do setor elétrico já sabia

que tinha que brigar por

isso. Sobre a proposta

de dividir o investi-

mento com a cone-

xão em três (entre

governo, conces-

sionária de energia

e gerador), pode ser

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cana, que viabilize boa parte dos projetos

de bioeletricidade das usinas do país, é de

no mínimo R$ 330,00 por MWh. Para esti-

mular a bioeletricidade, falta uma visão de

longo prazo e a valorização das vantagens

de menor investimento e perdas em trans-

missão. Apesar dos avanços já verificados

nas políticas voltadas à eletricidade advin-

da da biomassa, a maioria das empresas su-

croenergéticas não tem interesse em parti-

cipar dos certames de energia. No Leilão

A-5, que ocorreu no final de abril, poucos

projetos de energia de biomassa participa-

ram. A tarifa girou em torno de R$ 278,50

por MWh. Mas entendemos que este é um

nível de tarifa que começa a fazer sentido

para a expansão da cogeração no setor su-

croenérgetico. Caso nos próximos leilões

de energia térmica sejam definidos valores-

teto em torno de R$ 300 por MWh é espe-

rado que aumente a viabilidade de novos

projetos de energia de biomassa.

Plínio Nastari, presidente

da Datagro Consultoria

Cada unidade tem uma realidade

É difícil ter preço-teto padrão, pois cada

usina tem uma eficiência de proje-

to. Não é simples fazer esse cálculo, uma

vez que o setor é bastante heterogêneo

e cada unidade tem sua realidade. O re-

sultado do Leilão A-5 [do final de abril de

2015] não foi frustrante, já que os projetos

já são cadastrados anteriormente e havia

poucos projetos de biomassa cadastra-

dos. Porém, o mais impor-

tante é que a política volta-

da à biomassa nos próximos

leilões seja mantida e conti-

nue sendo aprimorada,

para que possamos

ter o estímulo do

aproveitamen-

to da palha e de

projetos retrofit.

Zilmar

de Souza,

gerente de

bioeletricidade

da Unica (União

da Indústria de

Cana-de-açúcar)

HOLOFOTE

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Bioeletricidade em Minas Gerais

No Leilão A-5, que ocorreu no final de

abril, o preço foi interessante para a

energia da biomassa, próximo de R$ 280

por MWh. Acreditamos que nesses pre-

ços, diversos projetos possam ser viabili-

zados. Em Minas Gerais existem 37 usinas

em operação, das quais 19 vendem ener-

gia para o sistema elétrico. A capacida-

de instalada de geração de energia de to-

das as usinas do estado soma cerca de 6%

do parque gerado de MG. Em 2014 foram

produzidos 3 milhões de MWh, dos quais

1,85 milhões foram vendidos ao sistema, e

o restante utilizado na fabricação de açú-

car e etanol.

Mário F. Campos Filho, presidente da

SIAMIG (Associação das Indústrias

Sucroenergéticas de MG) e economista

Alta Mogiana: aposta na cogeração

As usinas de açúcar e etanol, no ge-

ral, enxergaram como algo importan-

te e estratégico para o negócio aumentar

a participação da energia em seu portfó-

lio. É o caso da Alta Mogiana, que comer-

cializa entre 150 mil e 180 mil MW por

ano, dependendo do nível da moagem.

Para isso, investimos muito em cogera-

ção nos últimos anos. Sobre isso, acredito

numa régua superior a R$ 200 por MW/h.

Acima disso começa a viabilizar alguns in-

vestimentos de médio e longo prazo, mas

não em grande escala ainda. Para termos

investimentos em escala representativa,

precisaríamos de algo a partir de R$ 250/

MWh.

Luiz Gustavo

Junqueira

Figueiredo,

diretor

comercial da

Usina Alta

Mogiana

Uma solução para a conexão

Acredito que as tarifas aplicadas nos úl-

timos leilões, e precisamente no último

[de abril deste ano] foi uma tarifa que sim

pode arregimentar um bom número de pro-

jetos futuros, na casa de R$ 281. Uma ou ou-

tra que precisa de valores acima de R$ 300,

R$ 320 para que o investimento se viabilize.

Muito embora, várias empresas estejam sem

condições de buscar novos financiamentos.

Estão muito alavancadas. No estado de SP,

a Cogen fez nos últimos seis meses um le-

vantamento com alguns grupos. Segundo o

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governo tem reclamado que realiza os lei-

lões e as usinas não vendem energia. Com

o valor de R$ 280, do último leilão, é pos-

sível que investimentos aconteçam. Mas o

maior problema é que governo exige que

a usina faça toda a conexão. Mas com esse

preço, não se consegue fazer isso. Com

esta tarifa a usina precisa fazer um investi-

mento alto na planta, depois precisa arcar

com a linha de transmissão, e depois ainda

é obrigada a doar a linha. Cada quilôme-

tro de linha de transmissão sai por cerca

de R$ 500 mil para a usina. Se a extensão

da linha é de 20 km, por exemplo, imagi-

ne quanto fica essa conta. E o tratamento

com a eólica é diferente. A responsabili-

dade da linha é do governo. Sobre os pró-

ximos leilões de energia [haverá um leilão

A-3 em 24 de julho], não acredito que te-

remos evolução. As usinas em si estão em

condições difíceis. Precisam de nova linha

de crédito, com melho-

ria quanto às garantias

reais e recurso inicial

de investimento. Se-

não, pode-se ter até um

preço de energia viável,

mas o empresário não

vai ter condição de fazer

o projeto. Não acredito

que vamos ter muita

surpresa.

Antonio Gilberto

Gallati, diretor

da TGM

estudo, estas unidades poderiam adicionar

entre 750 e 800 MW, além do que já pro-

duzem. Na maioria dos casos, houve grande

dificuldade com a linha de transmissão. Para

estas empresas se incumbirem também da

conexão, precisariam de uma tarifa de valo-

res acima de R$ 300, R$ 320, R$ 330. O que a

Cogen advoga é que Aneel (Agência Nacio-

nal de Energia Elétrica) e o Ministério de Mi-

nas e Energia viabilizem um modelo tripar-

tite de custeio da conexão, sendo um terço

do investimento para o gerador, um terço

para a distribuidora (que no futuro herdará

a linha), e um terço pela sociedade (gover-

no), que terá a vantagem de ter uma ener-

gia renovável. Seria forma de dividir o risco

e mitigar os custos da conexão.

Newton Duarte, presidente executivo

da Cogen (Associação da Indústria

de Cogeração de Energia)

O problema não está apenas no preço da energia

Em abril houve um leilão de energia A-5,

com pequena participação do setor. O

HOLOFOTE

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12 Junho · 2015

TENDÊNCIAS

A suinocultura até o final do ano: ventos a favor, mas com turbulências

A suinocultura brasileira passou por

momentos difíceis nos anos de

2012 e 2013. Elevada oferta frente

à demanda, retração no consumo, defasa-

gem de preços, alta nos custos de produ-

ção e problemas com os embarques para

o mercado internacional, resultaram em

Ana Malvestio1 e Lara Moraes2

queda na rentabilidade do setor.

Em 2014, a suinocultura apresentou

melhores resultados. Embora os volumes

produzidos pelo Brasil não tenham sofri-

do grandes alterações, a rentabilidade do

setor melhorou bastante. Importantes ex-

portadores como Estados Unidos e alguns

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países da Europa foram afetados por pro-

blemas sanitários e o preço da carne suí-

na subiu em função da menor oferta mun-

dial do produto.

No mesmo ano, a Rússia aumentou a

compra da carne brasileira, depois do es-

tremecimento das relações com a União

Europeia e Estados Unidos por conta do

conflito com a Ucrânia. Além disso, o cus-

to de produção da carne suína também

contribuiu para o melhor desempenho do

setor. As menores cotações do milho fize-

ram o custo de produção permanecer em

patamares mais baixos.

O que podemos esperar para a sui-

nocultura até o final de 2015? O merca-

do internacional deve dar continuidade

ao ajuste de oferta e demanda que se ini-

ciou em 2014 e com isso os preços da car-

ne suína devem permanecer em patama-

res elevados.

Em relação ao mercado externo, o

dólar valorizado deve contribuir para a ge-

ração de receita com as exportações. Ou-

tro ponto importante é a reabertura do

mercado sul africano que ocorreu no fim

do ano passado. A África do Sul já chegou

a ser o quarto maior destino das exporta-

ções de carne suína do Brasil, mas não con-

sumia a carne brasileira desde 2005, quan-

do restringiu sua entrada devido aos focos

de febre aftosa em bovinos registrados no

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14 Junho · 2015

Em relação ao mercado externo, o dólar valorizado deve contribuir para a geração de receita com as exportações

TENDÊNCIAS

Paraná e Mato Grosso do Sul. Com a rea-

bertura, podemos esperar novos negócios

e incremento de volumes comercializados.

Consumo

Do lado do consumo, a demanda

permanece firme, principalmente nos pa-

íses emergentes que apresentam elevado

crescimento populacional e melhora nas

condições de vida. A China, por exemplo,

elevou o seu consumo de carne suína em

3% no ano de 2014 quando comparado a

2013. O Brasil possui alto potencial para a

produção e exportação de carne suína e

a manutenção de uma demanda mundial

elevada é essencial para impulsionar o se-

tor no Brasil.

Desse modo, tudo indica que 2015

será um ano mais animador para a suino-

cultura e que as turbulências que afetaram

o setor em anos anteriores, aparentemen-

te, ficaram para trás. No entanto, alguns

pontos merecem atenção.

Um deles é frequentemente discuti-

do pelos integrantes do setor: o custo de

produção. A ração a base de milho deve

subir de forma moderada em 2015 e, por-

tanto, não deverá se configurar em uma

preocupação para os suinocultores. No

entanto, outros componentes do custo já

tiveram alta nesse ano: ener-

gia, água e combustível. Os

produtores vão precisar ge-

rir o negócio com atenção

para equacionar os seus gas-

tos e evitar possíveis perdas na

rentabilidade.

A Rússia é o maior importador de carne suína do Brasil

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2Analista sênior do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio

1Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas

Outro ponto é o relacionamento do

governo brasileiro com a Rússia, hoje, se-

gundo dados do Ministério da Agricultura

Pecuária e Abastecimento (Mapa), o maior

importador de carne suína do Brasil, res-

ponsável por mais de 50% do valor gera-

do pelas exportações brasileiras. A manu-

tenção do vínculo político e econômico

com este país requer cautela. Não pode-

mos nos esquecer de que, recentemente,

vivenciamos um período de barreiras téc-

nicas e embargos aos frigoríficos impostos

pela Rússia à carne brasileira.

Alerta russo

Adicionalmente, terminada a crise

política entre Rússia, União Europeia e Es-

tados Unidos, o apetite russo pela carne

brasileira pode diminuir. Isso deve aconte-

cer até o fim do ano, quando está previsto

que todos os termos do Acordo de Minsk,

entre Ucrânia e Rússia, estejam implemen-

tados. Com a consolidação do acordo de

cessar-fogo, União Europeia e Estados Uni-

dos pretendem retirar ou abrandar as san-

ções contra o governo russo, o que abriria

novamente as portas da Rússia para a car-

ne desses países.

No cenário interno, a situação eco-

nômica em 2015 não é muito favorável.

De acordo com o Banco Central, a inflação

deve chegar a 8,3% a.a. e o Produto Inter-

no Bruto (PIB) deverá ter uma retração de

1,2%. Esses fatores podem levar a uma di-

minuição do consumo de proteína animal

de forma geral.

Portanto, se de um lado temos pre-

ços e exportações elevados, do outro te-

mos potencial elevação dos custos de

produção, possíveis quedas no consumo

interno e potenciais turbulências na diplo-

macia comercial. Caberá aos produtores e

empresas se prepararem para os riscos do

setor e finalizar mais um ano com um bom

desempenho dentro e fora do país.

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16 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

NA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE, A CANA NÃO PODE DESCARTAR O

AMENDOIM, POIS ELE CONTRIBUI AGRONOMICAMENTE,

ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE

O amendoim é parte do pacote sustentável da cana

Cana e amendoim: dobradinha de sucesso

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APOIO

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18 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

O leitor que conhece pouco so-

bre lavoura canavieira pode es-

tranhar o fato de várias páginas

da CanaOnlline destacarem a cultura do

amendoim, uma vez que a revista é diri-

gida à cana-de-açúcar. Mas é que o amen-

doim faz parte do pacote sustentável da

agroindústria canavieira, como diz Ismael

simbiótica de nitrogênio de 30 a 40 Kg/ha

deixados no solo. Gera renda extra ao pro-

dutor e reduz o custo do plantio de cana –

estimativas indicam que cerca de 20% dos

custos de plantio de cana se consegue re-

duzir no composto dos benefícios da ro-

tação com amendoim. Outro ponto que

contribui para o balanço sustentável é que

Luciana Paiva e Leonardo Ruiz

O amendoim é um produto alimentício com diversas vantagens nutricionais

Perina Júnior, produtor de cana e amen-

doim e presidente da Câmara Setorial da

Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool.

A colocação de Perina decorre dos

seguintes fatores: ao plantar amendoim

nas áreas de reforma de cana, a legumino-

sa oferece ganhos agronômicos, como in-

corporação de material orgânico e fixação

a dobradinha cana/amendoim aumenta a

geração de alimentos na mesma área. Essa

prática faz muito bem à imagem da cana.

“Nessa busca pela sustentabilidade, o se-

tor sucroenergético não pode descartar o

amendoim, pois ele contribui agronomi-

camente, economicamente e socialmen-

te”, salienta Perina.

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20 Junho · 2015

E como o objetivo da CanaOnline é

apresentar soluções que levem ao desen-

volvimento sustentável da cana, o amen-

doim sempre teve espaço em suas pági-

nas. E durante as quatro próximas edições

esse grão terá maior destaque, por meio

do Especial Amendoim, em que traremos

matérias que vão da evolução do cultivo

até os cuidados com cliente final. O Espe-

cial, que conta com o apoio da BASF, terá a

Coplana, a Copercana, a Coopercitrus e o

IAC entre os parceiros de conteúdo.

A recuperação da

cultura do amendoim

Na década de 1970, a produção por

safra de amendoim no Brasil batia a casa

de 1 milhão de toneladas, sendo que par-

te considerável da produção era trans-

formada em óleo. No decorrer dos anos,

a soja foi ocupando as áreas de amen-

doim, afinal, oferecia maior produtivida-

de, maior demanda e, com isso, melhor

remuneração.

Segundo José Arimatéa Calsaverini,

superintendente da Coplana (Cooperativa

Agroindustrial), situada em Jaboticabal, SP,

o amendoim era uma cultura rudimentar,

tinha quantidade, mas não qualidade. Tan-

to que, na década de 1980, o amendoim

desabou de vez, quando se constatou que

o produto brasileiro era pouco controla-

do. “Tinha condições sanitárias péssimas e

índices de aflotoxina (fungo tóxico, nocivo

Cerca de 80% da produção de amendoim no País está estabelecida em áreas de rotação com canavial e pastagens

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NA

ESPECIAL AMENDOIM

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APOIO

ao ser humano e animais) não toleráveis.

Com isso, a cultura do amendoim chegou

ao fundo do poço: caiu de 1 milhão de to-

neladas para 150 mil toneladas.”

Não foi fácil, mas veio a retomada.

cultura do amendoim renascesse ao longo

dos últimos doze anos, saltando de 150

mil toneladas para cerca de 376 mil tone-

ladas (367 mil no plantio de água e 9 mil

no plantio de seca) na safra 2014/15. Em

Agricultores, cooperativas, indústria, pes-

quisadores e fabricantes de máquinas se

uniram. Uma conjunção de fatores, como

variedades produtivas, controle sanitário

e adoção da mecanização, permitiu que a

relação à temporada anterior, a atual safra

deverá registrar um incremento de 40% na

produção e 24% na produtividade média.

A pesquisadora do IEA (Instituto de Eco-

nomia Agrícola), Renata Martins, explica

Plantio mecanizado de amendoim

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22 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

que, no ano passado, a produção foi me-

nor devido ao clima mais seco. O rendi-

mento médio das lavouras, que era de 3

mil quilos por hectare, recuou para 2.721

mil quilos na safra passada.

“Essa é uma safra de recuperação,

com a retomada da produtividade das

plantações. Nesse ciclo, o clima contribuiu

para o bom desenvolvimento das lavou-

ras. Também tivemos um aumento de 13%

na área cultivada com amendoim, princi-

palmente em áreas de renovação de ca-

naviais e pastagens”, afirma Renata. O Es-

tado de São Paulo, historicamente, é o

principal produtor nacional, com partici-

pação de 85% do total. E cerca de 80% da

produção de amendoim no País está esta-

belecida em áreas de rotação com cana e

pastagem.

Inovações tecnológicas

impulsionam a

cultura do amendoim

O IEA destaca que na última década,

a cultura do amendoim tem experimenta-

do a ampliação dos volumes de produção,

impulsionada principalmente pelos ga-

nhos em produtividade. Segundo os pes-

quisadores do IEA, essa dinâmica encon-

tra referências nas mudanças tecnológicas

e institucionais incorporadas à produção

que, também, se estenderam ao beneficia-

mento e processamento do grão com ga-

nhos em qualidade.

IAC liberou quatro variedades da cultura nos últimos cinco anos

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23

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24 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

O engenheiro agrônomo e respon-

sável técnico comercial da Coopercitrus

- Monte Alto, Daniel Pierre Vitória, afir-

ma que, sem dúvidas, houve uma evolu-

ção significativa e positiva no manejo da

cultura do amendoim. Ele conta que o de-

senvolvimento de novas tecnologias no

setor de máquinas e insumos aprimora-

ram a eficiência do trabalho do produtor

rural, que, em alguns casos, se profissio-

nalizou, tornando-se um empresário ru-

ral estruturado com visão macro da cul-

tura. “Ao longo dos últimos anos, houve

grandes investimentos por parte de di-

versas empresas multinacionais de defen-

sivos na forma de pesquisa e registro de

novas moléculas para a cultura do amen-

doim, tornando o manejo mais eficiente e,

consequentemente, menos agressivo ao

meio ambiente”, diz.

Segundo ele, uma dessas empre-

sas é a alemã BASF, que possui um am-

plo portfólio para a cultura, desde o trata-

mento de semente com o STANDAK TOP,

que mantém o stand nos primeiros mo-

mentos de arranque da cultura; o PLATE-

AU, um herbicida padrão de mercado para

o controle de plantas daninhas; o OPERA,

fungicida indispensável no manejo e rota-

ção de produtos, evitando resistência dos

fungos; e o OPERA ULTRA, uma evolução

no controle de doenças fúngicas. “Ainda

IAC OL3: mais ajustado ao período de renovação dos canaviais (125-130 dias)

AR

QU

IVO

IAC

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25

APOIO

fazem parte desse portfólio uma varieda-

de de inseticidas de vários grupos quími-

cos que se encaixam e auxiliam no contro-

le das pragas”, salienta.

“Outras soluções da Basf estão che-

gando, como o ORKESTRA”, informa Pier-

re Vitória, explicando que o novo produ-

to se trata de um fungicida resultante da

mistura de piraclostrobina com uma nova

molécula fluxapiroxade, que promete tra-

zer grandes resultados para a cultura.

Novas variedades

As pesquisas de melhoramento ge-

nético é parte fundamental para a recu-

peração da cultura do amendoim. Visan-

do o desenvolvimento de variedades que

atendam às necessidades da produção

agrícola e do processamento industrial do

amendoim, o Instituto Agronômico (IAC)

da Secretaria de Agricultura e Abasteci-

mento do Estado de São Paulo, liberou

quatro variedades da cultura nos últimos

cinco anos. O pesquisador do IAC, Igná-

cio José de Godoy, conta que todas são do

tipo rasteiro e de alto potencial produtivo.

“Elas possuem em comum a característica

‘Alto oleico’. Grãos com alto teor deste áci-

do graxo conferem ao produto uma maior

resistência à rancificação, prolongando o

Arranquio dos pés de amendoim

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26 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

seu tempo de armazenamento”.

Duas das variedades (IAC OL3 e IAC

OL4) têm ciclo mais ajustado ao período

de renovação dos canaviais (125-130 dias).

Já as outras duas (IAC 503 e IAC 505) são

de ciclo mais longo (130-140 dias), mas

têm como vantagem a menor suscetibili-

dade da cultura às doenças foliares, pro-

piciando maior estabilidade de produção.

Para o futuro, o Instituto tem traba-

lhado em duas linhas alternativas no de-

senvolvimento de novas variedades: ob-

tenção de plantas com ciclo inferior a 130

dias e resistência a doenças foliares, ne-

matoide e ao vírus “vira cabeça”, uma do-

ença emergente na cultura do amendoim.

Atualmente, são plantadas no Estado de

São Paulo de sete a oito variedades, das

quais, seis são IAC.

Cultura altamente

mecanizada

E é na mecanização que se encontra

uma das grandes evoluções da cultura ao

longo dos últimos anos. Fato esse que re-

volucionou o manejo e abriu novos hori-

zontes para a expansão e exploração de

grandes áreas. Atualmente, grande par-

te dos produtores ainda faz o plantio de

amendoim de forma tradicional. Na hora

do preparo de solo é realizada uma ou

duas gradagens pesadas e outra a fim de

nivelar o terreno. Em algumas situações,

é feita, também, uma subsolagem, com o

objetivo de deixar o solo destorroado para

não haver impedimento para a semente

germinar. O pesquisador Godóy conta que

há uma tendência de que, num futuro pró-

ximo, o plantio seja feito sobre a palhada

da cultura anterior (plantio direto ou cul-

tivo mínimo).

O agrônomo da Coopercitrus obser-

va que, na região abrangida pela Coope-

rativa, localizada em Bebedouro, SP, é co-

mum encontrar produtores que plantam

100 e 150 alqueires, sendo que alguns

Após o arranquio, entra a colhedora

Page 27: Cana Online nº22  - Junho 2015

27

APOIO

chegam a mais de 700. “E tudo isso com

pouca mão de obra. Praticamente com

operadores de máquinas e motoristas.”

Ocorre que as atuais máquinas pos-

suem um nível tecnológico bastante gran-

de, sendo que ainda continuam em cons-

tante evolução. A quantidade de ruas

que se consegue colher hoje, por exem-

plo, já é três vezes maior do que há al-

guns anos. Porém, existem alguns proces-

sos que ainda devem ser melhorados. O

arranquio, por exemplo, depende de fato-

res nos quais o agricultor não pode con-

trolar, como a época de colheita atrasada

por causa das condições climáticas adver-

sas. Isso acarreta uma grande quantidade

de vagens que ficam no solo, reduzindo a

produtividade. “Seria um sonho se existis-

se uma máquina que recolhesse essas va-

gens do solo”.

Atualmente, a colheita do amendoim

se dá em duas etapas. A primeira é o ar-

ranquio, feito com arrancadores/inverte-

dores que arrancam as plantas com lâmi-

nas que seccionam as raízes logo abaixo

da região das vagens, elevam as plantas

em uma esteira e as colocam novamente

no solo, porém, invertidas (com as vagens

voltadas para cima). Já o recolhimento das

plantas e despendoamento das vagens

é feito com uma máquina colheitadeira.

Lembrando que, para que esta operação

atinja uma boa qualidade, ela deve ser fei-

ta após um determinado número de dias

de exposição das plantas recém-arranca-

das, ao sol (“cura”).

Mas uma boa colheita não depen-

de apenas das máquinas. Ignácio José de

Godoy, do IAC, afirma que a boa condi-

ção (vigor e sanidade) das plantas é um

fator determinante, assim como a qualida-

de e boa regulagem dos equipamentos. “A

má qualificação do operador e os terrenos

de topografia irregular, ou que não foram

bem preparados, também podem prejudi-

car as operações de colheita.”DIV

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Page 28: Cana Online nº22  - Junho 2015

28 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

O amendoim começa pela semente

O SUCESSO DO CULTIVO DE AMENDOIM É ALTAMENTE DEPENDENTE

DE UMA BOA SEMENTE. POR ISSO, SÃO FUNDAMENTAIS O

TRATAMENTO CORRETO E OS CUIDADOS NO PLANTIO

Plantio de amendoim: é fundamental que seja com sementes tratadas

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Luciana Paiva e Clivonei Roberto

Quando os portugueses chegaram

ao Brasil, o amendoim era um

dos poucos alimentos cultivados

pelos índios, junto com a mandioca, o mi-

lho, a batata, o cará e o inhame. Era sabo-

reado cru, assado ou cozido e ainda havia

a extração do óleo e, por isso, era cobi-

çadíssimo, conforme ressalta Luís Câma-

ra Cascudo em “História da Alimentação

no Brasil” (Editora Global, 1967). O grande

mestre da cultura nacional ainda registra

uma interessante particularidade do ritu-

al de cultivo do amendoim: por ser muito

delicado e de difícil germinação, seu plan-

tio só podia ser feito por mulheres e, além

disso, a planta tinha de ser semeada e co-

lhida pela mesma mulher, índia ou mesti-

ça. Vigorava a crença de que, se o homem

tocasse na planta, arruinaria a colheita.

Há quase 60 anos, o produtor rural

Page 29: Cana Online nº22  - Junho 2015

29

APOIO

rotação de cultura nas áreas de reforma de

seus canaviais. Além disso, planta amen-

doim em terras arrendadas pelos lados de

Bonfim Paulista e Cravinhos.

Leonel, que já ajudou muito o pai a

arrancar as ramas de amendoim à mão pe-

los idos dos anos de 1950, fala com admi-

ração das máquinas que passaram a do-

minar a lavoura, cada vez maiores e mais

potentes, com grande velocidade. Todo

ano, Leonel cultiva ao todo entre 50 e 60

alqueires com amendoim. “Um tempo

atrás até plantávamos mais. Hoje estamos

tendo mais dificuldade para as usinas libe-

rarem área.”

Desde 1980, a produtora rural Car-

Otávio Antonio Leonel, também conheci-

do por Vicão, planta amendoim. Por sorte,

quando entrou na atividade não vigorava

mais o ritual indígena de cultivo do grão,

mas persistia a fama de que o amendoim

era enjoado para nascer, apresentava mui-

tas falhas e muitos dos pés que germina-

vam não tinham vigor, produziam pouco e

geravam grãos raquíticos.

O interior paulista é responsável por

80% do amendoim produzido no Brasil.

A região de maior destaque é a de Ribei-

rão Preto, onde o grão é cultivado nas áre-

as de renovação com cana. Leonel produz

cana nos municípios de Dumont, Guata-

pará, Pradópolis e cultiva amendoim em

Otávio Antonio Leonel: satisfeito com a evolução tecnológica na cultura do amendoim

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Page 30: Cana Online nº22  - Junho 2015

30 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

men Izildinha Penariol acompanha a cul-

tura de amendoim, é tradição de família.

Conta que, quando começou, a lavoura

era muito diferente, todo o processo era

manual. Lembra que cabia a ela a negocia-

ção com catadores de amendoim e com

os saqueiros. Agora o processo é todo me-

canizado. Este ano, Izildinha e seus sócios

plantaram 420 hectares com amendoim,

entre terras próprias e arrendadas, tudo

em área de renovação com cana, a maioria

em Jaboticabal. Mas Izidinha diz que a re-

dução na disponibilidade de terra por par-

te das usinas levou-os a cultivar áreas mais

distantes, para os lados de Santa Ernestina

e São Lourenço do Turvo.

Tanto Leonel como Izildinha lamen-

tam a redução de áreas para amendoim,

mas elogiam a incorporação da tecnolo-

gia pelos amendoinzeiros, não apenas na

mecanização das operações, mas princi-

palmente na parte de fitossanitários, pois o

amendoim começa por uma semente sadia.

A semente do amendoim sob

o ataque de pragas e doenças

Entre os componentes de produção

dessa cultura destaca-se a qualidade das

sementes utilizadas na implantação da la-

voura. As sementes de amendoim apre-

sentam frequentemente baixos percentu-

ais de germinação e vigor, em função de

suas características químicas e estruturais

e das condições de cultivo, maturação, co-

lheita e pós-colheita

Muitas doenças e pragas danificam a

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Cultura do amendoim se dá 80% em área de renovação de cana

Page 31: Cana Online nº22  - Junho 2015

31

APOIO

semente do amendoim no plantio. Consi-

derando que, para o produtor formar a la-

voura da cultura, 37% do custo é com se-

mente, esse problema traz grande prejuízo

pela queda de produtividade que ocasio-

na. Mauro Cottas, da área de Desenvolvi-

mento de Mercados da BASF, explica que

no plantio, vão de 130 a 150 quilos de se-

mente por hectare e o preço do quilo da

semente está em torno de R$ 4. A menor

germinação também significa perda de

investimento. E o amendoim demora em

torno de oito dias para emergir do solo, fi-

cando todo esse tempo sob a ação de pra-

gas e patógenos.

Diversos são os tipos de danos cau-

sados por pragas e doenças às sementes,

destacando-se as perdas de peso, de pu-

reza física e da qualidade fisiológica. Estes

consomem os tecidos de reserva e o em-

brião, determinando a perda de matéria

seca indispensável para as atividades vi-

tais. Além disso, a simples injúria no tegu-

mento pode favorecer o desenvolvimento

de micro-organismos e provocar um au-

mento na atividade respiratória das se-

mentes armazenadas, com consequente

redução de vigor.

Tratamento de sementes

Mauro Cottas recomenda sempre o

uso de sementes de alta qualidade (ger-

minação e vigor), pois o sucesso do culti-

vo de amendoim é altamente dependente

de uma boa semente.

É por isso que a Cooperativa Agroin-

Em dia de Campo, Mauro Cottas fala sobre o portfólio BASF dirigido à cultura do amendoim

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Page 32: Cana Online nº22  - Junho 2015

32 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

dustrial (Coplana), em Jaboticabal, criou o

Programa de Qualidade Semente Coplana.

Fundada em 1963, a cooperativa era fo-

cada principalmente na cultura canavieira,

mas em 1987 iniciou o estímulo à cultura

do amendoim com a agregação de valor

ao cultivo, mecanização no campo, pes-

quisa sobre novas variedades e uso de tec-

nologia no beneficiamento.

A dedicação à lavoura de amendoim,

levou a Coplana a ser a maior produtora

do grão do Brasil, com cerca de 160 pro-

dutores que o cultivam nos Estados de São

Paulo, Minas Gerais e Tocantins. A estima-

tiva da safra brasileira de amendoim em

2015 é de produção superior a 500 mil to-

neladas, produzidas em uma área de plan-

tio em torno de 130 mil a 150 mil hecta-

res. A produção paulista foi entre 430 mil

a 450 mil toneladas, sendo que a Copla-

na produziu 82.250 toneladas (amendoim

em casca, seco e limpo), em uma área de

22.800 hectares.

A Coplana implantou o processo de

rastreabilidade que envolve o cultivo e o

processamento do amendoim, a começar

pela seleção da semente certificada, que

obedece ao Programa de Qualidade Se-

mente Coplana. Segundo Stael Bessa Tei-

xeira da Cunha, gerente do projeto Se-

mentes da Coplana, o objetivo é oferecer

sementes com alta qualidade, para que a

cultura do amendoim alcance o mesmo

nível das sementes de milho e soja, com

total pureza genética.

Nesta safra, Izildinha e seus sócios

colheram 66.800 sacas de 25 quilos de

amendoim, a produção é inteiramente en-

tregue na Coplana, e destinada à prepara-

ção de semente. A Cooperativa conta com

a produção de outros cinco produtores de

“Semente de Amendoim”. Para o plantio

Unidade de grãos da Coplana, em Jaboticabal

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Page 33: Cana Online nº22  - Junho 2015

33

Stael, especialista em tratamento de sementes

APOIO

da próxima safra, Izildinha e seus sócios

reservaram 5.000 sacas. “Todo produtor

de amendoim da Coplana utiliza semen-

te tratada, é uma das garantias da sanida-

de do produto. O amendoim da Coplana é

rastreado”, salienta Izildinha, que integra a

direção da cooperativa.

Com a rastreabilidade é possível co-

nhecer etapas do plantio até a entrega do

produto no destino final. O cliente ob-

tém informações sobre a origem da maté-

ria-prima, insumos utilizados, registros de

qualidade e movimentação desse produ-

to. A Coplana é a maior exportadora de

amendoim do Brasil, responsável por mais

de 40%. No ano passado, exportou 32 mil

toneladas de amendoim em grão. A quali-

dade do amendoim nacional está entre as

melhores do mundo, ao lado do produto

norte-americano. A China e a Índia são os

maiores produtores, porém, com qualida-

de inferior.

A gerente do projeto Sementes da

Coplana informa

que é oferecido ao

produtor de amen-

doim da Coplana

um pacote tecno-

lógico que inclui as

sementes tratadas. O tratamento quími-

co de sementes é uma das técnicas mais

utilizadas na agricultura atual. O seu prin-

cípio baseia-se na existência de produtos

eficientes contra os alvos que se deseja

atingir, que apresentam baixa fitotoxicida-

de e sejam pouco tóxicos ao homem e ao

ambiente. Stael explica que os amendoins

que consumimos são denominados grãos,

já os que são utilizados no plantio são se-

mentes selecionadas e tratadas quimica-

mente com produtos para proteção sani-

tária (fungicidas), proteção de plântulas

(inseticidas) e bioestimulantes.

Desenvolvimento fitotécnico

em prol do amendoim

Mauro Cottas salienta a importância

que a BASF direciona ao amendoim, ofe-

recendo o maior portfólio do mercado de

produtos dirigidos à essa cultura. Nessa

fase de tratamento de sementes, Cottas

destaca o Standak® Top, uma mistura pron-

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Page 34: Cana Online nº22  - Junho 2015

34 Junho · 2015

ESPECIAL AMENDOIM

ta contendo o inseticida Fipronil, do grupo

pirazol, e os fungicidas Piraclostrobina do

grupo das Estrubirulinas e Metil Tiofana-

to do grupo dos Benzimidazois. O produto

é seletivo para amendoim, e quando utili-

zado em tratamento de sementes protege

as plântulas contra o ataque de pragas, e

fungos de sementes no período inicial de

desenvolvimento da cultura. “A proposta

do Standak® Top é evitar os estresses ini-

ciais no desenvolvimento da planta, acele-

rando o arranque, mantendo número ide-

al de plantas por hectare e promovendo

maior engalhamento. Tem longo poder re-

sidual, protegendo a planta até os primei-

ros 25, 30 dias”, diz.

Stael reconhece a eficiência do Stan-

dak® Top. “Oferece uniformidade de ger-

minação, garante manutenção do stand e

maior rapidez no arranque das plântulas”,

salienta. O produtor Leonel conta que uti-

liza muito os produtos da BASF. “Fungi-

cida aplicamos o Opera®. Já o Plateau® é

um herbicida seletivo importantíssimo no

combate das ervas daninhas do amendoim.

E com Standak® Top, praticamente não per-

demos semente. O stand é bem uniforme,

além de ajudar no enraizamento. Também

parece que o amendoim ganha mais vigor.”

Mauro Cottas explica que esse maior

vigor é devido aos benefícios do AgCe-

lence®, resultado de efeitos fisiológicos

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Não mão direita a semente de amendoim; na esquerda, a semente tratada (mais vermelha com a inserção do inseticida, fungicida e bioestimulante)

Page 35: Cana Online nº22  - Junho 2015

35

APOIO

da piraclostrobina na planta, que ofere-

ce maior rapidez no estabelecimento da

cultura, melhor desenvolvimento do sis-

tema radicular e alto índice de área foliar.

Ele explica que na cultura do amendoim

os benefícios AgCelence® provenientes

do Standak® Top podem ser divididos en-

tre vantagens operacionais e diferenciais

agronômicos. A vantagem operacional se

dá pelo longo período em que é possí-

vel utilizar o produto sem que este inter-

fira ou altere o poder germinativo da se-

mente. E o grande diferencial agronômico

é relacionado à alta eficiência no controle

das doenças e pragas de solo, que pode-

rão causar perda do stande caso não se-

jam contidas.

Cottas também salienta outro impor-

tante benefício do Standak® Top: conse-

gue reduzir entre um e dois dias o tempo

que a semente emerge do solo. “Quanto

mais rápido conclui esse processo, menos

risco de contrair doenças; 70% das infesta-

ções acontecem nessa fase”, diz.

Stael observa que esta é uma grande

vantagem do produto, pois a redução no

tempo contribui para que haja menor ex-

posição da semente às pragas e fungos do

solo. Izildinha Penariol também conhece

os benefícios do Standak® Top, como uni-

formidade de germinação e maior vigor, e

salienta que o menor tempo que a plan-

ta emerge do solo não só contribui para

a sanidade da semente, como possibilita

entregar mais rápido a área para a usina

entrar com o plantio de cana. “O fato de

o amendoim nascer dois dias antes pode

parecer pouco tempo, mas para nós faz

muita diferença. As usinas nos pressionam

para entregar a área e quanto antes libe-

rarmos, menor dor de cabeça e mais chan-

ces de renovar a parceria com as usinas.”R

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O quanto antes o amendoim nasce, mais cedo é a colheita e liberação da área para a usina entrar com o plantio de cana

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36 Junho · 2015

SEGURANÇA

Page 37: Cana Online nº22  - Junho 2015

37

É fogo!!!EM 2014, INCÊNDIOS CRIMINOSOS OU ACIDENTAIS, SEGUNDO

A UNICA, DIMINUÍRAM A PRODUÇÃO DE CANA EM 15%.

AS PERDAS CHEGARAM A CERCA DE 40 MILHÕES DE TONELADAS

Page 38: Cana Online nº22  - Junho 2015

38 Junho · 2015

Quem diria que uma simples bitu-

ca de cigarro, jogada quase que

“sem querer” da janela de um

carro que está transitando por uma rodo-

via ou estrada rural, pode causar grandes

prejuízos para as empresas do setor sucro-

energético. O ato, praticado por inúmeras

pessoas, tem uma ação parecida com a de

um lança-chamas, incendiando matas e

plantações de beiras de estradas, entre as

quais, lavouras de cana-de-açúcar.

Mas não são apenas os cigarros que

figuram como os principais causadores de

incêndios. Queima de lixo e aquelas não

controladas em pastos e canaviais, foguei-

ras, quedas de balões e rompimentos de

cabos de alta tensão, além dos constan-

tes atos de vandalismo, também estão as

maiores causas.

O período de estiagem, que vai de

abril a setembro no Centro-Sul, oferece o

cenário perfeito para o aumento dos in-

cêndios nos canaviais. Segundo o diretor

-presidente do Grupo de Saúde Ocupa-

cional da Agroindústria Sucroenergética

(GSO), Mário Márcio dos Santos, essa épo-

ca é marcada pelo tempo seco e baixa

umidade do ar. Fatores esses que, associa-

dos com o vento e picos de temperatura,

aumentam o risco de incêndios em áreas

rurais e urbanas. “A palha deixada no cam-

po pela colheita mecanizada traz inúme-

ros benefícios à cultura, porém, em con-

junto com o período de estiagem, permite

a propagação rápida do fogo em caso de

incêndios, pois se encontra bastante seca

e solta sob a superfície do solo”.

E 2014, que se apresentou como o de

menor pluviosidade dos últimos 45 anos

em alguns estados da região Centro-Sul,

foi uma prova-viva desse fato. Dados da

Polícia Ambiental indicam que, nos nove

primeiros meses do ano, foram registra-

dos quase três mil focos de queimadas e

incêndios florestais no Estado de São Pau-

lo. Um crescimento de 140% em relação

ao mesmo período de 2013. Para a União

da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),

esses incêndios diminuíram a produção de

cana em 15%. As perdas chegaram a cerca

de 40 milhões de toneladas.

Prejuízos

O diretor-presidente do GSO explica

que os incêndios, quando não controlados

SEGURANÇA

Leonardo Ruiz

Mário Márcio: “os incêndios, quando não controlados por uma brigada devidamente treinada, podem trazer inúmeros impactos”

Page 39: Cana Online nº22  - Junho 2015

39

por uma brigada devidamente treinada,

podem trazer inúmeros impactos, como

destruição de plantações e construções

rurais; perda de remanescentes florestais;

morte de animais silvestres, inclusive de

espécies ameaçadas de extinção; poluição

do ar, devido à emissão de material par-

ticulado e de gases poluentes; agravos à

saúde da população, desencadeados pela

poluição; contribuição para o aquecimen-

to global, em decorrência da emissão de

gases de efeito estufa; e acidentes com

queimaduras ou mortes de pessoas.

“Caso o incêndio ocorra quando

a cana estiver no período de colheita, a

mesma será colhida e processada na in-

dústria. Já quando a queima ocorre em

épocas fora do período de safra, a cana é

colhida para que haja a brotação e descar-

tada, representando prejuízo à empresa”.

Santos conta ainda que, em casos em

que a cana está em estágio inicial de bro-

tação ou cana-planta, quando não ocor-

re a recuperação da planta (naturalmen-

te com chuvas ou por meio do salvamento

por irrigação ou fertirrigação), é realiza-

do uma roçada para brotação da mesma.

“Acredito que estes casos são os que re-

presentam maior prejuízo à empresa, pois

afetam diretamente a produtividade da

safra seguinte”.

A palhada, em conjunto com o período de estiagem, permite a propagação rápida do fogo em caso de incêndios

Page 40: Cana Online nº22  - Junho 2015

40 Junho · 2015

Prevenção e combate

Diante desse cenário, é vital que as

empresas adotem algumas práticas visan-

do minimizar a propagação do fogo du-

rante o combate aos incêndios. Uma des-

sas técnicas é o cultivo da palha, onde a

usina incorpora o resíduo deixado pela

colheita mecanizada ao solo, não perden-

do seus benefícios e reduzindo a velocida-

de de propagação. A realização de aceiros

também já é uma técnica amplamente uti-

lizada pelas empresas. Os aceiros consis-

tem em faixas ao longo das cercas, divisas

ou da área a ser queimada, cuja vegeta-

ção é completamente removida da super-

fície do solo, com a finalidade de preve-

nir a passagem do fogo para fora da área

delimitada.

A empresa deve possuir, ainda, um

bom número de equipamentos, que de-

vem estar em excelentes condições de uso

e posicionados em pontos estratégicos,

de preferência em terrenos altos, para que

os funcionários, munidos de binóculos e

rádios, possam fazer a vigilância dos ca-

naviais. Mirantes, caminhões-pipa (ou ca-

minhões-bombeiro), abafadores, mango-

tes, mangueiras, esguichos, EPIs, veículos

leves para apoio, ambulâncias (caso ocor-

ram emergências com vítimas), kits para

aplicação de espuma (que visam abafar a

propagação do fogo e economizar água)

são algumas das ferramentas que devem

estar de plantão 24 horas por dia com o

intuito de inibir e identificar possíveis fo-

cos de incêndio com maior rapidez.

SEGURANÇA

Caso o incêndio ocorra quando a cana estiver no períodode colheita, a mesma será colhida e processada na indústria

Page 41: Cana Online nº22  - Junho 2015

41

Tão importante quanto um bom

equipamento são as brigadas, que

devem contar com pessoas capaci-

tadas para prevenção e combate a incên-

dios. Na área agrícola, o número de inte-

grantes pode ultrapassar 100 pessoas. Já

na área industrial, devem ser seguidas al-

gumas normas específicas da Instrução

A importância das Brigadas de Incêndio

Empresas devem possuir um bom número de equipamentos, que precisam estar em excelentes condições de uso

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Técnica n.º 17 do Corpo de Bombei-

ros. Na hora da formação da brigada,

é importante que as pessoas envolvi-

das apresentem aptidões adequadas

para as atividades que serão desenvol-

vidas. Obesos podem ter dificuldades

em determinadas situações. Pessoas

muito magras podem não apresentar

Page 42: Cana Online nº22  - Junho 2015

42 Junho · 2015

SEGURANÇA

condições para carregar extintores e equi-

pamentos de peso elevado.

O instrutor e proprietário da Al-

pha Seg Treinamentos, Eduardo Ferrei-

ra Mendes, afirma que uma brigada deve

ser constituída de pessoal treinado e ca-

pacitado para esse tipo de atendimento,

que deve estar apto para o uso dos EPI’s

necessários, dos caminhões-bombeiro e

manuseio de mangueiras. “Além disso,

os integrantes precisam estar preparados

para ministrar primeiros socorros se for

necessário”.

A empresa, especializada em forma-

ção e reciclagem das brigada de combate

a incêndio em canavial, forma, em média,

53 turmas anuais, sendo que basicamente

todas estão em atividade. “Os treinamen-

tos (teóricos e práticos) são anuais e capa-

citam quanto aos métodos preventivos e

de combate a incêndios. Também é apli-

cado um curso de primeiros socorros e de

uso adequado de EPI”, afirma Mendes.

Ele conta, ainda, que boa parte das

empresas também opta por aperfeiçoar

os conhecimentos de seus brigadistas nas

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Empresas também optam por aperfeiçoar os conhecimentos de seus brigadistas nas questões de proteção respiratória

Page 43: Cana Online nº22  - Junho 2015

43

questões de proteção respiratória, pro-

dutos químicos, segurança com eletrici-

dade, entre outros. Muitos treinamentos

ocorrem dentro das usinas, onde, a prin-

cípio, é realizada uma reunião com os in-

tegrantes da engenharia e segurança do

trabalho para saber detalhes operacionais

de cada unidade, como se já possuem, ou

não, uma brigada formada. “Após essas in-

formações, temos a condição de indicar a

melhor forma de treinamento, de dizer se

é necessário um novo dimensionamento

dessa brigada, determinar carga horária

e conteúdo programático adequado con-

forme legislação vigente”.

É importante ressaltar que, mesmo

com a brigada alerta 24 horas por dia,

muitas vezes acontece mais de um chama-

O pessoal deve ser treinado e capacitado para esse tipo de atendimento

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Page 44: Cana Online nº22  - Junho 2015

44 Junho · 2015

SEGURANÇA

O controle dos incêndios no Polo Taquari da Odebrecht Agroindustrial

Cada uma das duas usinas do Polo Taquari possui cerca deR$ 100 milhões de reais em patrimônio da brigada de incêndio

Ao longo de 2014, a Unida-

de Alto Taquari, da Odebre-

cht Agroindustrial, localiza-

da no munícipio mato-grossense de

mesmo nome, registrou 23 ocorrên-

cias de incêndios, sendo 60% de ori-

do ao mesmo tempo, dificultando o tra-

balho. Situação esta vivida pela Unidade

Costa Rica, da Odebrecht Agroindustrial,

localizada em município homônimo no in-

terior do Mato Grosso do Sul, em meados

de junho. Ao todo, foram registrados oito

focos de incêndio simultâneos em fazen-

das que fornecem cana-de-açúcar para a

Usina, totalizando cerca de 1.870 hectares.

Para combater os incêndios, com indícios

criminosos, a Unidade acionou a sua bri-

gada e o Corpo de Bombeiros do municí-

pio, com um grupo de, aproximadamente,

100 pessoas. Até o momento, a Odebrecht

Agroindustrial amarga um prejuízo de cer-

ca de R$ 3 milhões de reais. Valor que po-

derá aumentar, pois nessa conta ainda não

foram contabilizados os custos da opera-

ção de combate ou a perda de sacarose

que a queima provocará à cultura.

Page 45: Cana Online nº22  - Junho 2015

45

gem desconhecida, 27% decorrente

de fatores climáticos e 13% por pro-

blemas operacionais. Já na unidade

Costa Rica, que se encontra no Mato

Grosso do Sul, na cidade de mesmo

nome, o número foi ainda maior: 49

incêndios (12% operacionais, 33% por

fatores climáticos e 55% de origem

desconhecida).

Porém, se não fosse pela alta ex-

periência da empresa em combates,

os prejuízos seriam enormes. O supe-

rintendente do Polo Taquari, forma-

do pelas duas unidades citadas, da

Odebrecht Agroindustrial, Luiz Pau-

lo Sant’Anna, conta que cada uma das

duas usinas possui cerca de R$ 100

milhões de reais em patrimônio da

brigada de incêndio. Toda a estrutura

conta com caminhões-bombeiros, ca-

minhões prancha, caminhonetes para

apoio, tratores, tanques para trans-

porte de água, motobombas, aleira-

dores de palha, kits de incêndios ins-

talados em 100% das colhedoras de

cana e outros equipamentos. “Além

disso, todas as nossas frentes de tra-

balho possuem uma brigada de incên-

dio de emergência”.

Mas não é apenas de equipamen-

tos que vive uma brigada. Em Alto Ta-

quari, 72 pessoas constituem as equi-

pes de combate a incêndio. Em Costa

Rica, o número é de 62. “Esses núme-

ros incluem brigadistas, motoristas e

supervisores que se dividem em três

turnos. É importante ressaltar, tam-

bém, que, todos os anos, antes do iní-

cio da safra, todos esses trabalhado-

res passam por cursos de reciclagem,

a fim de renovar e adquirir novos co-

nhecimentos”, relata Sant’Anna.

O superintendente conta que to-

dos os funcionários da empresa pos-

suem formação mínima para agir em

casos de incêndio. “Quando ocorrer

um foco de baixa proporção, chama-

do de nível um, onde apenas uma pe-

quena parcela do canavial é afetada,

“Antes do início da safra, todos esses trabalhadores passam por cursos de reciclagem, a fim de renovar e adquirir novos conhecimentos”, relata Sant’Anna

Page 46: Cana Online nº22  - Junho 2015

46 Junho · 2015

SEGURANÇA

o próprio trabalhador do campo pode

contê-lo, utilizando extintores ou os

kits de incêndio da colhedora.”

O nível dois, segundo Sant’An-

na, consiste num incêndio mediano,

onde apenas um caminhão-bombeiro

é suficiente para apagar o fogo. Nes-

sa hora, o bombeiro e o líder da frente

de trabalho atuam juntos no comba-

te. “Porém, caso o incêndio chegue ao

nível três, procuramos paralisar toda a

operação de colheita, evacuar o entor-

no e acionar, imediatamente, a briga-

da, que vai para a área munida de to-

dos os equipamentos necessários.”

Para a prevenção, cada Unidade

do Polo conta com uma torre de ob-

servação, com cerca de 40 metros de

altura, onde um brigadista observa as

áreas a fim de localizar, rapidamente,

os focos de incêndios e passar as in-

formações necessárias para o restan-

te da equipe. “Em Costa Rica, inclusi-

ve, possuímos câmeras de vigilância

que nos proporcionam maior rapidez

na identificação de problemas”, conta

o superintende.

Outro destaque da empresa é o

uso do Termo-Higrômetro, que mede

a umidade e temperatura do ar e a ve-

locidade do vento. Com o aparelho, o

brigadista consegue analisar a proba-

bilidade da ocorrência de um incêndio,

que é mais provável quando a umida-

A maioria dos incêndios é de origem desconhecida

Page 47: Cana Online nº22  - Junho 2015

47

Com tantos incêndios, se tor-

nou comum que usinas e for-

necedores contratem planos

de seguros agrícolas, um importan-

te instrumento que garante cobertu-

Contratação de Seguro,para que nem tudo vire cinzas

Fogo descontrolado queima a cana e não a palha, transformando o canavial em cinzas

ra frente à ocorrência de incêndio aci-

dental ou criminoso no período de

entressafra. O diretor geral de segu-

ros rurais do Grupo Segurador Banco

do Brasil e MAPFRE, Wady Cury, afirma

de do ar for inferior a 20%, a tempera-

tura superior a 33 graus e a velocida-

de do vento acima de 15 km por hora.

“Quando um desses três elementos

estiver fora do normal, é enviado um

sinal de alerta para as equipes. Caso

dois estejam irregulares, procuramos

remover a palha dos equipamentos

e limpá-los corretamente, deixando

-os fora de risco. Agora, se os três ele-

mentos apresentaram sinais destoan-

tes, paralisamos as operações, pois os

riscos de incêndios são muito altos”,

explica Luiz Paulo Sant’Anna.

Page 48: Cana Online nº22  - Junho 2015

48 Junho · 2015

SEGURANÇA

que a contratação do seguro garanti-

rá que o produtor, em caso de perdas,

receba a indenização de forma a qui-

tar seus débitos referentes à implan-

tação e condução do canavial e, des-

sa maneira, mantenha-se na atividade.

“Nosso seguro é adquirido por pro-

dutores individuais fornecedores de

cana-de- açúcar para usinas. No pe-

ríodo de 2008 a 2015, tivemos 36 re-

gistros de incêndio de um total de

11.500 apólices contratadas, o que re-

presenta uma frequência de 0,30%. A

maior concentração ocorreu ano pas-

sado, quando o BB e MAPFRE recebeu

20 avisos de sinistro”.

Cury explica que o objetivo do

seguro é garantir as perdas decorren-

tes de incêndio, seca, geada, granizo,

chuva excessiva, tromba d´agua, ven-

tos fortes e frios, que resultam na que-

bra de produtividade nos canaviais

segurados. “O aviso de sinistro pode

ser comunicado a qualquer momen-

to dentro da vigência, porém, a deter-

minação das perdas somente ocorrerá

no momento da colheita”.

O custo desse tipo de seguro é

determinado pela localização (municí-

pio e estado), idade e pelo custo de

produção necessário para a implan-

tação e a condução do canavial. Além

disso, não existe aplicação de fran-

quia. O cálculo de indenização é de-

terminado pela perda porcentual da

produtividade após a ocorrência de

um sinistro, multiplicada pelo valor do

custeio de implantação e/ou condição

do canavial definidos no momento da

contratação. O porcentual de perda é

resultado da divisão da produtivida-

de obtida na colheita do canavial pela

produtividade esperada, determina-

da pela seguradora no momento da

contratação. “Para efeito de seguro, a

queima parcial ou total do canavial irá

determinar a intensidade das perdas,

porém a relação entre incêndio parcial

e total não é proporcional às perdas

decorrentes do incêndio”, relata o di-

retor geral de seguros rurais.

“A contratação do seguro garantirá que o produtor, em caso de perdas, receba a indenização de forma a quitar seus débitos referentes à implantação”, diz Wady Cury

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Page 49: Cana Online nº22  - Junho 2015

49

Diante da grande quantidade de

incêndios ocorridos em 2014 na

região de Ribeirão Preto, SP, a

ABAG/RP (Associação Brasileira do Agro-

negócio da região de Ribeirão Preto) as-

sumiu a missão de promover uma ampla

Campanha Institucional de Conscientiza-

ção, Prevenção e Combate aos Incêndios,

feita em parceria com associações de pro-

dutores rurais e diversas usinas localizadas

na Bacia do Rio Pardo e fora dela também.

O objetivo é o de estabelecer um

ABAG/RP lança campanha institucional de conscientização, prevenção e combate aos incêndios

Cana e queimada: cada vez mais distantes

plano de comunicação regionalizado e

voltado à sociedade civil, órgãos de fisca-

lização do Poder Público, jornalistas, for-

madores de opinião e público em geral,

demonstrando a realidade tecnológica

do setor que usa muito pouco do recur-

so de queima para colher cana. “A pro-

posta da campanha tem como estratégia

de comunicação desassociar a ocorrência

dos incêndios do setor produtivo”, adian-

ta o diretor executivo da ABAG/RP Mar-

cos Matos.

Page 50: Cana Online nº22  - Junho 2015

50 Junho · 2015

INSECTSHOW

Sphenophorus ganha status de principal praga nos canaviais de São Paulo

O estado de São Paulo responde

por 60% da produção de cana no

Brasil. Assim, quando uma praga

afeta os canaviais paulistas acende o sinal

de alerta. É o que está ocorrendo com o

Sphenophorus levis, conhecido popular-

mente como bicudo-da-cana.

Segundo o engenheiro agrônomo

PERDAS DE QUASE 30 TONELADAS POR HECTARE E

ANTECIPAÇÃO DA RENOVAÇÃO DO CANAVIAL ESTÃO

ENTRE OS DANOS GERADOS POR ESSA PRAGA

Luciana Paiva

Aloisio Ravagnani Dias, do departamento

Técnico Agropecuário da Coopercitrus, o

Sphenophorus em várias regiões do Cen-

tro-Sul, principalmente São Paulo, assumiu

o primeiro lugar entre as pragas que mais

causam danos ao canavial, em decorrên-

cia da dificuldade de seu controle e pela

severidade de seu ataque, que provoca di-

Page 51: Cana Online nº22  - Junho 2015

51

minuição drástica da produtividade agrí-

cola e renovação antecipada do canavial,

podendo ser até no segundo corte. A bro-

ca-da-cana continua liderando o ranking

nacional das pragas canavieiras, mas seu

controle é amplamente conhecido, além

de mais fácil do que o do Sphenophorus.

Identificado inicialmente na região

de Piracicaba, SP, o bicudo-da-cana se es-

palhou rapidamente pela região Centro-

Sul utilizando como meio de transporte os

caminhões com mudas de cana sem sani-

dade que seguiam para as áreas de reno-

vação ou de formação de novos canaviais,

para atender a expansão canavieira imple-

mentada de 2003 a 2009.

Ravagnani Dias salienta que o fim da

queima da cana é um fator considerável

para a expansão da praga e o corte me-

canizado é uma das fontes de dissemina-

ção. O engenheiro explica que os danos

são causados pelas larvas que broqueiam

os rizomas e os primeiros entrenós basais

que refletem no número, tamanho e diâ-

metro dos colmos finais para a colheita,

sendo que as perdas econômicas podem

ser estimadas com a redução nas tonela-

das de cana esperadas por hectare. Em al-

guns locais têm-se detectado de 50 a 60%

de perfilhos atacados, ocasionando redu-

ções em torno de 20 a 30 toneladas por

hectare (ha).

Canavial atacado por Sphenophorus: morte da soqueira

Page 52: Cana Online nº22  - Junho 2015

52 Junho · 2015

INSECTSHOW

“É muito importante o monitoramen-

to bem feito determinando nível do dano

econômico. Para isso, fazer a inspeção des-

ta praga com equipe treinada e orienta-

da somente para este trabalho de levan-

tamento” diz Ravagnani Dias , que sugere:

deve-se amostrar 2 a 4 pontos por hecta-

re, analisando minuciosamente de meio a

Faz-se a destruição mecânica das soquei-

ras no período de picos de larvas ( junho

a outubro), procurando expor ao máximo

essa forma de inseto aos seus predadores

e ao secamento dos rizomas. Esta exposi-

ção pode ser de uma única vez, ou pulan-

do duas linhas para que se retorne nestas

após 15 a 20 dias.

um metro de socaria (TA e larva), e fazer

iscas no período de outubro a novembro

(adultos).

Controle mecânico

Feito o levantamento, e tomada a

decisão, o controle pode ser cultural, no

caso de canaviais próximos da reforma.

O pesquisador e entomologista New-

ton Macedo observa que o eliminador de so-

queira é eficiente na redução de populações

da praga, mas tem custo inicial e operacional

elevados, e baixo rendimento. O uso de gra-

des aradoras de 34”+ intermediária de 28”

fazem trabalho equivalente a custos e tem-

po operacionais menores que o eliminador.

Os danos são causados pelas larvas que broqueiam os rizomas e os primeiros entrenós basais

Page 53: Cana Online nº22  - Junho 2015

53

Page 54: Cana Online nº22  - Junho 2015

54 Junho · 2015

INSECTSHOW

Eliminador e grade necessitam de cuidados e condições operacionais especiais, como:

1. O momento da destruição é o período seco ( junho a setembro) não fazendo em

dias de chuvas e/ou solo muito úmido. Tanto o eliminador como a grade devem traba-

lhar levantando poeira;

2. Passar o eliminador em faixas alternadas, com retorno em 15 dias para o bom se-

camento do material vegetal e a ação de predadores (principalmente carcarás). Depois da

total eliminação, passar uma grade, ainda no período seco;

3. Na destruição por grade, executar no mínimo três passadas (1ª. grade de 34”; 2ª

e 3ª de 28”) cruzadas, espaçadas em uma semana entre elas, para secamento do material

vegetal e do solo, causando a mortalidade das formas biológicas por exposição ao sol e

pelos predadores;

4. Ambos os equipamentos (Eliminador e Grades) são eficientes na eliminação das

formas jovens (ovos, larvas e pupas), mas não eliminam a maioria dos adultos;

5.Rotação de culturas (amendoim e soja) reduzem a população de Sphenopho-

Eliminando as soqueiras

Page 55: Cana Online nº22  - Junho 2015

55

rus, mas áreas com altas infestações que não terão rotação de cultura devem rece-

ber uma aplicação de inseticida incorporado em área total na 3ª.gradagem. Observa-

ção: Uso de glifosato antes da destruição. O desaleiramento da palha da linha de cana,

após a colheita, facilita a aplicação (cortando a soqueira), melhorando a performance

dos produtos;

7. Áreas cujo levantamento pós-colheita indicam presença da praga, mesmo com

baixo índice de tocos atacados, devem receber o tratamento de soqueira em área total;

8. Áreas de cana bis - fazer 2 tratamentos químicos da soqueira: 1º. logo após a co-

lheita (cortando a soqueira) e 2º. na primavera/verão (drench);

9. Áreas de colheita precoce, com infestações entre 10 e 30% de TA, fazer 2 trata-

mentos químicos: 1º. logo após a colheita (cortando a soqueira) e 2º. na primavera/ve-

rão (drench);

10. Áreas com infestações superiores a 30% de TA, programar para a reforma

imediata.

Utilizando a grade

Page 56: Cana Online nº22  - Junho 2015

56 Junho · 2015

Controle químico

Apesar da eficiência da destruição

mecânica da socaria, Ravagnani Dias sa-

lienta que somente essa medida não é su-

ficiente para reduzir as populações abai-

xo do NDE (nível de dano econômico) em

áreas com médias ou altas infestações. Por

isso, o uso de inseticidas no plantio se faz

necessário, e é fundamental para o mane-

jo, com bons resultados de controle em

cana-planta e cana-soca. Após o primei-

ro corte, e com monitoramento eficiente

e ainda existindo a presença da praga, re-

comenda-se aplicação do químico, dentre

eles: Regent (250g/ha), Regent Duo (1,1l/

ha); Talisman (5l/ha); Imidaclopride (1,5l/

ha); Actara (1Kg/ha); Engeo Pleno (1,5 a

2l/ha).

Ravagnani Dias diz que no contro-

le químico deve-se obedecer e observar

alguns critérios como: aplicação entre os

períodos entre junho a outubro com dis-

co de corte (5 a 10 cm de profundidade),

com vazão de aplicação entre 120 a 150 l/

ha, e períodos de novembro e dezembro

em drench é suficiente, lembrando que

quanto maior infestação, mais difícil é o

controle.

O engenheiro também chama a

atenção para a necessidades de cons-

Danos na soqueira

INSECTSHOW

Page 57: Cana Online nº22  - Junho 2015

57

cientização dos funcionários (equipe de

pragas e operadores de máquinas) en-

volvidos neste manejo, orientação dos ri-

cos de disseminação e medidas a serem

adotadas, como por exemplo, limpeza de

todo o tipo de equipamento, máquinas

(colheitadeiras), transporte, mudas sa-

dias, variedades reconhecidamente boas

de soca.

Controle de Sphenophorus

e aumento de produtividade

No interior paulista, a região de Ri-

beirão Preto, de acordo com a Datagro

Alta Performance, é a que registra maior

incidência da praga, cerca de 60% dos ca-

naviais apresentam Sphenophorus. Mas o

bicudo já chegou à região do Vale do Tie-

tê, onde fica a Agrícola Agrodoce, no mu-

nicípio de Pederneiras.

Júlio Márcio Pereira de Oliveira, só-

cio-propreitário da Agrodoce conta que a

presença da praga foi diagnosticada em

2013 e eles optaram pelo uso do Regent

Duo, da Basf, e a praga foi controlada. “O

produto possui dois princípios ativos, o

que aumenta sua eficiência”, diz. A Agrí-

cola Agrodoce conta com 10 mil hectares

de cana e produção em torno de 640 mil

toneladas.

O que também chama a atenção, se-

gundo o produtor, é que o Regent Duo,

além de controlar a praga, aumenta a pro-

dutividade da cana. “Nossa equipe já re-

gistrou esse efeito. Como a safra está no

começo, nossos números ainda são preli-

minares. Mas no final da safra teremos um

levantamento sobre os ganhos de produ-

ção com o Regent Duo”, salienta Júlio Már-

cio. E a CanaOnline vai mostrá-los.

Cortando a soqueira

para inserir o inseticida

Page 58: Cana Online nº22  - Junho 2015

58 Junho · 2015

CAPA

Fardos de palha passam a compor o cenário canavieiro

Page 59: Cana Online nº22  - Junho 2015

59

Não é fogo de palha!RECOLHIMENTO DE PALHA DE CANA ESTÁ EM ALTA NO SETOR. O PROCESSO

AINDA ESTÁ SENDO APERFEIÇOADO, MAS JÁ SE SABE QUE VEIO PARA FICAR

Page 60: Cana Online nº22  - Junho 2015

60 Junho · 2015

A fotografia dos canaviais brasilei-

ros tem mudado muito nos úl-

timos tempos. Cada vez mais o

fogo sai de cena e com ele a figura ene-

grecida do cortador de cana. As máquinas

ocupam o espaço dos facões e ao fazer a

colheita encobrem o solo com uma chuva

de palha de cana.

Muitos defendiam outras finalidades

para a palha da cana, além da missão de

proteger, nutrir o solo e preservar a umi-

dade. Mas um dos primeiros a enfardá-la

e levá-la para a indústria para que fosse

transformada em energia foi o produtor e

engenheiro agrônomo Luiz Carlos Dalben,

diretor da Agrícola Rio Claro, de Lençóis

Paulista. A prática teve início em 2004 e a

palha sempre foi fornecida ao Grupo Zilor.

A partir da iniciativa de Dalben, o canavial

ganhou a presença de aleiradores, enfar-

dadoras de palha, fardos e pranchas para

embarque.

Durante um bom tempo, o exem-

plo de Lençóis Paulista de recolhimento

de palha de cana era o único no setor, ou

pelo menos o mais conhecido. Até surgir

a Granbio, em 2011, lá em São Miguel dos

Campos, em Alagoas, com a primeira fá-

brica de produção de etanol celulósico. E

como a palha é uma das matérias-primas

do etanol de segunda geração, a Granbio

iniciou no setor um recolhimento “mons-

tro” de palha, montando uma área de ar-

mazenamento para 400 mil toneladas.

O processo adotado pela Granbio é

o de aleirar e enfardar a palha inteira dei-

xada no campo. Os fardos de palha che-

gam à indústria, passam por um proces-

so de trituração e limpeza de impurezas,

para depois seguir para o pré-tratamen-

to. Segundo Manoel Carnaúba, vice-pre-

sidente de Operações da GranBio, por se

tratar de um processo relativamente novo

no setor, haverá espaço para melhorias. E

estão atentos para avaliar outras soluções

que tornem a prática mais competitiva.

Atualmente a Granbio utiliza a palha

apenas na produção de etanol 2G. “Mas

estamos avaliando a possibilidade da uti-

lização para produção de energia tam-

Luciana Paiva

CAPA

Dalben começou a recolher palha em 2004 e virou exemplo no setor

Page 61: Cana Online nº22  - Junho 2015

61

bém. Hoje, a produção integrada de vapor

e energia elétrica é feita a partir do ba-

gaço da cana e da lignina, um subprodu-

to gerado no processo do etanol 2G”, diz

Carnaúba.

Mercado de energia elétrica

promove o boom da palha

Além da Granbio, muitas empresas

avaliam recolher palha para a produção de

energia elétrica, é que o produto passou

a ser o mais remunerador do setor. E os

números da palha empolgam: para a pro-

dução de energia, cada tonelada de palha

de cana equivale a 1,7 tonelada de baga-

ço. Além disso, a palha tem menor umi-

dade, cerca de 13% e gera 3.200 kgcal/kg,

enquanto que o bagaço com umidade de

50% gera 1.800 kgcal/kg.

A boa remuneração da energia so-

mada ao excelente desempenho da palha,

foi o empurrão que o setor precisava para

incrementar o uso dessa biomassa. Segun-

do Samir Azevedo Fagundes, gerente de

equipamentos de cana-de-açúcar AGCO,

um dos estudiosos no assunto, o recolhi-

mento de palha está presente em cerca de

3% dos canaviais. Este número representa

aproximadamente 2 milhões de toneladas

de palha recolhidas anualmente.

“Apesar da expressiva quantidade de

biomassa já recolhida ainda há uma enor-

Enfardamento de palha na Granbio com palha inteira que será triturada na indústria

GR

AN

BIO

Page 62: Cana Online nº22  - Junho 2015

62 Junho · 2015

me quantidade de palha disponível. A re-

cente demanda por energias alternativas à

da produzida pelas hidrelétricas, aliada ao

contínuo desenvolvimento do Etanol 2G

(independente da rota a ser utilizada), irão

colaborar no aumento da quantidade de

palha recolhida”, diz Samir.

Para Henrique Mattosinho D’avila,

Especialista em Negócios do Centro de

Tecnologia Canavieira (CTC), o uso da pa-

lha tem mostrado um grande potencial

para o aproveitamento de oportunidades

de mercado no setor. “Com o aquecimen-

to dos preços da energia elétrica iniciado

na safra 2014/15, com os novos patamares

de preços dos leilões de biomassa e com

as expectativas para o etanol celulósico

no médio prazo, a palha de cana-de-açú-

car deve se consolidar como matéria-pri-

ma tanto para geração de energia elétrica

adicional, quanto para produção de eta-

nol celulósico”, observa. De acordo com

Henrique, o crescimento do uso da palha

no setor dependerá de fatores de merca-

do (elétrico e biocombustível), do nível de

investimento e da capacidade de cogera-

ção e de produção de etanol celulósico

nas usinas.

Zilor amplia parceria

para uso da palha

Nesta safra, os canaviais do Vale do

CAPA

Page 63: Cana Online nº22  - Junho 2015

63

Tietê, região de Lençóis Paulista, onde o

Dalben recolhe palha, foram invadidos

por fardos. É que A Zilor ampliou a par-

ceria para outros oito produtores de cana,

lembrando que a empresa não tem cana

própria.

A Zilor nos informou que realizou

adaptações em suas unidades industriais

para o recebimento e utilização direta nas

caldeiras da palha triturada no campo;

com isso, aumentou de 85 mil (2014/2015)

para 200 mil toneladas (safra 2015/2016)

o recebimento da biomassa, fornecido por

nove produtores. Além de aumentar a sua

disponibilidade de palha para a geração de

energia elétrica limpa e renovável, a em-

presa garante ao fornecedor receita extra,

compartilhando com a cadeia o valor agre-

Armazenamento de palha na

Granbio, em São Miguel dos

Campos, AL: área para 400 mil toneladas

GR

AN

BIO

Júlio Márcio e o transporte de palha da Agrodoce para a Zilor

Page 64: Cana Online nº22  - Junho 2015

64 Junho · 2015

gado que a energia traz para o negócio.

A empresa afirma que há a possibili-

dade de contribuir para a matriz energética

durante o ano todo, não apenas no perío-

do da safra, desde que o governo apre-

sente um modelo com reconhecimento do

diferencial da energia gerada a partir da

biomassa como limpa e renovável, gerada

no período de menor vazão dos reserva-

tórios das hidrelétricas. Atualmente a em-

presa gera mais de 1.000.000 MWh/ano e

comercializa 600.000 MWh/ano, em Con-

tratos de Longo Prazo com vendas realiza-

das nos leilões de 2006 e também no mer-

cado spot.

Agrícola Agrodoce

passa a recolher palha

Entre os novos parceiros de forne-

cimento de palha da Zilor está a Agrícola

Agrodoce, de Pederneiras,

distante cerca de 30 qui-

lômetros de Lençóis. Com

10 mil hectares cultivados

com cana e produção por

safra em torno de 640 mil

toneladas, a Agrodoce se

destaca pela qualidade no

manejo com a cultura.

Sobre o fornecimen-

to de palha para a Zilor,

Júlio Márcio Pereira de Oli-

veira, diretor da Agrodoce,

conta que esse novo plano do Grupo, que

possibilita ampliar a aquisição de palha,

reviu valores e ampliou a distância para

fornecimento entre a indústria e o local de

recolhimento de palha, o que acabou con-

templando a Agrodoce.

Júlio Márcio explica que o processo

CAPA

Aleiramento de palha na Nardini

CO

MU

NIC

ÃO

NA

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Page 65: Cana Online nº22  - Junho 2015

65

de recolhimento é por enfardamento de

palha picada no campo (a enfardadora re-

colhe a palha, pica e libera os fardos), a Zi-

lor quer receber a palha picada para não

ter a operação de tritura-la na indústria.

Diariamente estão sendo recolhidos nos

canaviais da Agrodoce de 60 a 90 tonela-

das de palha, com umidade em torno de

14,5%, cerca de 50% de palha permane-

ce no solo. Júlio Márcio conta que a Zilor

criou uma tabela com índices de impure-

za, por exemplo: palha com impureza en-

tre 3% a 6%, serão descontados 10% do

valor da tonelada. “Isso nos leva a melho-

rar cada vez mais o processo”, salienta. Os

fornecedores de palha da Zilor acompa-

nham online a quantidade de palha forne-

cida, grau de umidade e impureza.

A experiência da Nardini

no recolhimento de palha

Há três anos que a Nardini Agroin-

dustrial, localizada em Vista Alegre do

Alto, SP, recolhe palha de cana para a pro-

dução de energia. “Somos uma das em-

presas pioneiras do setor”, diz Oscar Car-

rasque, gerente industrial. Nesta safra

serão recolhidas 40 mil toneladas de pa-

lha. A Nardini gera por ano, 150.000 Mw,

a palha responde por 15% da energia pro-

duzida. A empresa destina 65% da energia

para o contrato de fornecimento de lon-

go prazo e 35% negocia no mercado spot.

José Carlos Berto, gerente de plane-

jamento e controle agrícola, informa que

35% a 40% da palha fica na lavoura, o res-

tante é aleirada quando a umidade atin-

ge um índice de 15%. Em seguida, é feito

o enfardamento e, posteriormente, o car-

regamento e transporte até a usina. Hoje,

100% da palha recolhida pela Nardini está

em áreas próprias e arrendadas. “Pensa-

mos em adquirir dos fornecedores desde

que o valor seja compatível com o merca-

do. Se o fornecedor solicitar, dependendo

da distância, podemos fazer o recolhimen-

to a custo zero, facilitando, assim, o pro-

cesso de cultivo de soca, já que menos pa-

lha facilita o plantio”, diz.

A prática do recolhimento de pa-

lha, segundo a empresa, deve crescer, mas

desde que todo o processo de geração de

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NA

RD

INI

Enfardamento de palhana Nardini

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66 Junho · 2015

energia seja economicamente viável. Para

quem está pensando em passar a recolher

palha, José Carlos orienta: “Se for usina,

montar o sistema de cogeração, colocar

um triturador de palha e adquirir os equi-

pamentos necessários para o enfardamen-

to e transporte. Para o fornecedor que qui-

ser vender palha enfardada, fazer contrato

com o comprador, adquirir os equipamen-

tos necessários e não se esquecer de le-

vantar os custos para viabilizar o negócio.”

Alta Mogiana inicia

recolhimento de palha

Esta será a safra de estreia no recolhi-

mento de palha da Usina Alta Mogiana, lo-

calizada, em São Joaquim da Barra, SP. Há

estimativa é de recolher 28.336 toneladas,

até o final da safra. “Uma vez que a umida-

de é a principal variável que define reco-

lher, ou não, a palha no campo, concretizar

a estimativa vai depender muito das con-

dições climáticas”, salienta Luís Fernando

Pinheiro da Silva, encarregado de Produ-

ção Agrícola-Energias Renováveis.

A Alta Mogiana mantém entre 40%

e 60% da palha na lavoura, para a manu-

tenção da umidade do solo e benefício da

brotação das soqueiras. Luis Fernando ex-

plica que depois do corte, a palha com

cerca de 5 dias na lavoura, atinge 15% de

umidade, que é o ideal para o enfarda-

mento. “Nessas condições, estima-se que

a efetividade da queima da palha é 50%

maior que a do bagaço. Ou seja, 1 tone-

lada de palha equivale a 1,5 toneladas de

bagaço, em função do poder calorifico. Em

função da baixa densidade e grande volu-

CAPA

Área de recolhimento de palha na Alta Mogiana

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Desde 1985, a Hengel atua no segmento de comer-cialização e transporte de

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Page 68: Cana Online nº22  - Junho 2015

68 Junho · 2015

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me, a palha não é enviada sozinha às cal-

deiras, ela sempre é misturada ao bagaço.”

O método de recolhimento adota-

do pela Alta Mogiana é o de enfardamen-

to com palha inteira e envio na indús-

tria onde será triturada. Segundo Ronildo

Campos da Silva, gerente de Extração do

Caldo, a colheita mecanizada permite o

corte das ponteiras ainda no campo e o

envio da cana picada sem excessos vege-

tais, assim o caldo é processado com me-

nos impurezas. O processo de enfarda-

mento de palha, ao invés do método de

envio de cana com palha para retirada na

indústria, possibilita maior densidade de

carga de cana, menor custo de transpor-

te da cana e na moenda a extração é me-

lhor, com menor desgaste do equipamen-

to. Nesse processo, a palha que ficou na

lavoura é recolhida, enfardada em blocos

que atingem até 500kg de palha (variável

conforme a umidade), chegando na indús-

tria a palha é recebida numa esteira inde-

pendente da moagem da cana, é cortada

em partes menores e juntam-se ao baga-

ço para alimentar as caldeiras.

A previsão de moagem da Alta Mo-

giana para a safra 2015, informa Val-

cir José Bardon Aceti, gerente do Proces-

so-Energias Renováveis, é de 5,3 milhões

de toneladas de cana e 163.024 MWh de

energia cogerada, exportando cerca de

Enfardamento na Alta Mogiana

Page 69: Cana Online nº22  - Junho 2015

69

32kW/h por tonelada. E a Energia elétri-

ca produzida com a palha está estimada

em 12.144MW, aproximadamente 7,5% do

total anual. Sobre os custos do processo

de recolhimento, Valcir diz que ainda não

é possível determinar, mas estimam que o

investimento seja recuperado dentro de

dois anos.

Raízen estuda recolhimento

de palha desde 2004

A Raízen é a maior produtora de

energia elétrica do mundo, a partir do ba-

gaço e da palha da cana-de-açúcar, coge-

ra 940 MW e tem capacidade instalada e

comercialização anual de energia elétrica

de 2,2 milhões de MWh. Todas as 24 uni-

dades do grupo são autossuficientes no

consumo de energia e 13 de suas unida-

des já têm contratos de longo prazo para

a venda de energia. Dez delas têm o Selo

Energia Verde, desenvolvido pela União da

Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), em

um acordo de cooperação com a Câma-

ra de Comercialização de Energia Elétrica

(CCEE) e concedido às usinas geradoras de

bioeletricidade que atendem a critérios de

sustentabilidade constantes do Protoco-

lo Agroambiental do Setor Sucroenergéti-

co Paulista, assinado pelo governo de São

Paulo e o setor em 2007, e requisitos de

eficiência energética.

A primeira experiência com recolhi-

mento de palha do Grupo Raízen foi em

2004, por meio de um projeto piloto na

Usina da Barra, em Barra Bonita, SP, con-

ta Antonio Fernando Lima, diretor de pro-

dução agrícola da Raízen. Foi por meio do

enfardamento de palha. De lá para cá, os

estudos se intensificaram, e ocorrem nas

unidades que contam com estação de lim-

peza a seco como a Ipaussu e Rafard, pois

a quantidade de terra que segue com a

palha é grande, segundo Antonio Fernan-

do, em torno de 8 a 10 quilos por tonelada

de palha, e sem equipamentos que redu-

zem a quantidade de impurezas, os danos

na indústria são grandes.

O recolhimento da palha é por meio

de enfardamento de palha inteira, na in-

dústria há um sistema de desenfardamen-

Recolhimento de palha em canavial da Raízen

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ÍZEN

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70 Junho · 2015

to, onde são retiradas as cordinhas, depois

a palha segue para o triturador. Antonio

Fernando salienta que a Raízen está aten-

da à evolução do processo de uso da pa-

lha, mas que maiores investimentos só

ocorrerão se houver garantias de retorno.

“Hoje, infelizmente, o governo não nos dá

segurança.”

Quando é economicamente

viável recolher a palha?

A instabilidade do governo em rela-

ção ás energias renováveis, realmente as-

susta o setor, que faz muitas contas para

ver se os investimentos compensam. Fran-

cisco Linero, Especialista Agroindustrial do

CTC, diz que a viabilidade em recolhimen-

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ÍZENAntonio Fernando: “só

haverá investimentos se houver garantia de retorno”

Carregamento de fardos na Alta Mogiana

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CAPA

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71

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Page 72: Cana Online nº22  - Junho 2015

72 Junho · 2015

to de palha se faz a partir de uma análi-

se específica para cada usina e depende-

rá das estratégias comerciais, capacidade

tecnológica, fatores de mercado, indicado-

res de custo benefício, custo de oportuni-

panorama de mercado atual, e para usinas

com potencial de exportação de energia

elétrica adicional, em geral preços acima

de R$ 200,00/MWh viabilizariam projetos

de recolhimento de palha.

CAPA

dade e capacidade de investimento. Uma

vez que esse grupo de fatores se mostre

favorável e com índices atrativos à usi-

na, os projetos e investimento em recolhi-

mento de palha tornam-se viáveis. Para o

Samir Fagundes salienta que a bio-

massa palha é utilizada em diferentes ro-

tas, as de maior destaque são: Energia e

Etanol 2G. A crescente demanda por ener-

gia, principalmente no Centro-Sul, tem

É preciso ter cuidado para não aumentar a compactação do solo

Page 73: Cana Online nº22  - Junho 2015

73

promovido o uso da palha na cogeração

de energia. A recuperação dos valores

pago por MWh está viabilizando a reto-

mada dos investimentos em recolhimen-

to de palha. Em termos gerais, valores de

MWh acima de R$ 160,00 tendem a tor-

nar o processo de recolhimento de palha

viável.

O custo da matéria-prima, no caso o

fardo, observa Samir, deve ser levado em

conta no balanço de viabilidade do uso da

palha. O custo do fardo está relacionado

a três fatores: Umidade; Impureza mineral;

Densidade. A combinação destes três fato-

res irá refletir diretamente no custo do far-

do produzido. Ou seja: umidade adequada

+ baixo nível de impureza + maior densi-

dade = menor custo. Além disso, quanto

melhor a qualidade da matéria-prima pro-

duzida, melhor a otimização do uso dos

barbantes que amarram os fardos.

Mas Samir salienta que, assim como

na colheita da cana, o custo do recolhi-

mento da palha pode variar de um canavial

para outro. A otimização logística da ope-

ração é fundamental para redução de cus-

tos. O dimensionamento dos equipamen-

tos e das frentes de colheita deve garantir

um fluxo contínuo de abastecimento de

biomassa. Uma operação “piloto” é sem-

pre recomendada para adequação do pro-

cesso às especificidades de cada cliente.

Para o recolhimento de palha, Júlio

Márcio diz que o investimento é alto, só a

enfardadora que produz fardos com palha

picada custa em torno de R$ 600 mil, de-

pende do valor do dólar, pois é importa-

da, para tracioná-la é necessário trator de

270 cavalos, fora os demais implementos,

como aleiradores, mas a expectativa é que

o negócio se pague em dois anos. Porém,

Júlio alerta: recolhimento de palha com

distância acima de 50 quilômetros não é

viável. Também é preciso mensurar danos

com compactação de solo e perdas agro-

nômicas com a maior retirada da palha.

Análise de viabilidade

técnica e financeira para

recolhimento de palha

O aumento do interesse do setor no

uso da palha tem atraído parceiros de ou-

tros segmentos, como é o caso da Frag-

maq Indústria e Comércio de Máquinas,

de Diadema, SP. Um dos serviços presta-

dos pela empresa é a análise de viabilida-

de técnica e financeira para recolhimen-

to de palha, que abrange todo o processo:

do canavial a entrega ao fornecimento de

energia. Segundo Carlos Zanchini, da Frag-

maq, a análise considera itens como: dis-

ponibilidade de área e de biomassa, raio

médio de distância, integridade do ca-

navial, consumo de combustível, equipa-

mentos apropriados para cada operação,

custos de insumos (cordas e faquinhas) e

avaliação das oportunidades de mercado.

Zanchini sabe que cada caso é um

caso, mas apresenta como exemplo o ga-

nho de uma empresa, que moi 1,5 milhão

Page 74: Cana Online nº22  - Junho 2015

74 Junho · 2015

de toneladas de cana e com produtividade

média de 75 toneladas por hectare, adi-

ciona a palha de cana entre suas matérias

-primas: veja imagem.

Qual o método mais viável

de recolhimento de palha?

Francisco Linero, Especialista Agroin-

dustrial do CTC, explica que atualmente as

duas principais formas de obtenção dessa

biomassa são: 1. Palha solta (Colheita Par-

cial de Palha junto com a cana) e 2. Palha

em fardos. A viabilidade de cada um dos

métodos novamente dependerá das parti-

cularidades de cada usina vinculadas, den-

tre outros fatores a: 1. Participação de área

de colheita própria e de fornecedores; 2.

Raio de recolhimento de cana; 3. Estrutu-

ras industriais para recebimento de cana

e processamento de palha; 4. Disponibi-

CAPA

Análise econômica do uso da palha de cana

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Page 75: Cana Online nº22  - Junho 2015

75

lidade de equipamentos agrícolas (para

colheita de cana e para as frentes de en-

fardamento) e mão de obra; 5. Demanda

diária por cana na indústria; 6. Quantida-

de de palha que se deseja processar, etc.

Para algumas usinas o enfardamento pode

ser o mais viável, para outras a colheita de

palha solta ( junto a carga de cana) e para

outras, ainda, a integração de ambos os

métodos pode ser viabilizada. De modo

geral, os estudos realizados pelo CTC indi-

cam que para raios de recolhimento acima

de 8 km, justificariam a adoção da rota de

palha enfardada.

Nos últimos 10 anos, diz Samir, fo-

ram estudados diferentes formas de apro-

veitamento da palha, onde diversas tec-

nologias foram colocadas à prova, tanto

no campo quanto na indústria. Segundo

ele, no campo, o conceito que apresentou

maior destaque foi o recolhimento da pa-

lha após a colheita mecanizada utilizando

as enfardadoras ditas “gigantes”.

“A densidade obtida nos fardos pro-

duzidos por estas máquinas aliada ao for-

mato dos mesmos são as principais carac-

terísticas que garantem o sucesso desta

tecnologia. Porém a operação no campo

ainda passa por outros dois processos: o

aleiramento (anterior ao enfardamento) e o

recolhimento do fardo (posterior ao enfar-

damento). Ou seja, da mesma maneira que

ocorre na colheita da cana, a complexidade

da operação faz com que o recolhimento

da palha seja um processo dinâmico sem-

pre em busca de melhores soluções para

cada operação específica”, salienta Samir.

Experiência no assunto não falta para

Dalben, a Agrícola Rio Claro conta com

8.611 hectares de cana, com produção de

cana entre 500 mil e 600 mil toneladas. O

método de recolhimento de palha adota-

do pela Rio Claro é o enfardamento, se-

gundo ele, mais eficiente do que levar a

cana com palha para a indústria.

A Agrícola Rio Claro testou enfarda-

mento com rolos redondos com palha in-

teira, mas passou para o enfardamento

com a máquina que tritura a palha e forma

fardos retangulares. De acordo com Dal-

Veja vídeo de aleiramento na Agrícola Rio Claro

Veja vídeo do enfardamento de palha na Agrícola Rio Claro

Page 76: Cana Online nº22  - Junho 2015

76 Junho · 2015

ben, as vantagens em relação aos fardos

redondos são: os retangulares têm maior

rendimento operacional - 400 kg, contra

120 a 160 kg dos redondos que acarretam

perdas em densidade de carga no trans-

porte na acomodação na carroceria e car-

retas; nos retangulares, o processo é de

prensagem, já nos redondos, amarração,

tendo este último maior dificuldade em

desenfardar na indústria.

Para Dalben, é mais vantagem levar

os fardos de cana com palha triturada para

a indústria, inclusive, é uma das exigências

da Zilor, os nove fornecedores de palha da

empresa adotaram o mesmo sistema de

Dalben.

Mas nem tudo são flores no negó-

cio de recolhimento de palha, Dalben aler-

ta que as enfardadoras são de alto custo e

importadas, além da valorização do dólar,

o importador ainda paga 45% de imposto.

“As peças também são importadas, são ca-

ras e demoram para chegar.”

Mas a maioria dos exemplos de re-

colhimento de palha de cana são de far-

dos com palha inteira, Carlos Zanchini, da

Fragmaq, diz que a empresa oferece so-

luções para trituração da palha por meio

de trituradores de baixa potência e alto

torque, instalados na indústria. “Além dos

trituradores, temos ainda em nosso por-

tfólio desenfardadores com retirada de

cordoalha automática, esteiras transporta-

doras, peneiras e todos os equipamentos

necessários para um sistema completo de

processamento.”

Zanchini salienta que é fundamen-

tal reduzir o volume de impurezas mine-

rais que segue com a biomassa e as solu-

Veja vídeo do triturador de palha da Fragmaq

FRA

GM

AQ

CAPA

Page 77: Cana Online nº22  - Junho 2015

77

ções de sua empresa contribuem para isso

e, já há vários projetos em funcionamen-

to ou em desenvolvimento em unidades

sucroenergéticas.

O CTC tem projetos para

recolhimento da palha da cana

O CTC possui projetos em fase co-

mercial para o processamento industrial

de palha de cana-de-açúcar, tanto para a

rota de palha solta – cuja estrutura indus-

trial de separação e processamento deno-

mina-se como Sistema de Limpeza a Seco

– quanto para a rota de palha enfardada.

Henrique Mattosinho D’avila explica

que, no caso da palha enfardada destaca-

se a construção da planta de demonstra-

ção em escala comercial na usina Ferra-

ri, com capacidade de processamento de

100.000 t de palha/safra, a qual deve ini-

ciar as operações em julho de 2015. “Além

disso, apoiado pelos 40 anos de experi-

ência nesse segmento, o CTC entrega ao

mercado uma solução que visa a otimiza-

ção do aproveitamento de palha de cada

usina, considerando os aspectos agronô-

micos, agrícolas e industriais, garantindo a

sustentabilidade do sistema.”

Projeto da Fragmaq em unidade

sucroenergética

Page 78: Cana Online nº22  - Junho 2015

78 Junho · 2015

Na busca por alternativas mais vi-

áveis para o recolhimento de pa-

lha da cana, a Hengel / Bio Palha,

empresa localizada em Assis, SP, tira a en-

fardadora do canavial e coloca a forragei-

ra. O processo é o seguinte: a palha é alei-

rada (como no processo tradicional), em

seguida entra a forrageira picando a pa-

lha e transferindo-a para o transbordo que

se movimenta ao lado da forrageira. Assim

que o transbordo completa sua carga, se-

gue para bascular a palha nos caminhões

de transporte de biomassa. A Hengel /

CAPA

Bio Palha, em uma frota equipada para o

transporte adequado de palha, bagaço,

cavaco de madeira, biomassa em geral.

Essa opção não se trata de uma práti-

ca de quem não entende do assunto, mui-

to pelo contrário, a Hengel desde 1985

atua nas locações de máquinas para movi-

mentações de bagaço, transportes de bio-

massa, recolhimento de palha e comercia-

lização de biomassa.

A empresa iniciou o trabalho com re-

colhimento de palha, por meio de enfar-

damento de palha inteira, em 2006. Além

HEN

GEL

Transbordo bascula no caminhão de transporte de biomassa a palha picada pela forrageira

PROCESSO DE PALHA DE CANA PICADA POR FORRAGEIRA

APRESENTA MENOR QUANTIDADE DE IMPUREZAS, GRANULOMETRIA

UNIFORME E REDUÇÃO NO CUSTO DA OPERAÇÃO

Forrageiras entram no canavial

Page 79: Cana Online nº22  - Junho 2015

79

negócios, é combinar inovação com via-

bilidade econômica, por isso, o desenvol-

vimento tecnológico não para. Há dois

anos, iniciaram a prática de recolhimento

de palha de cana com forrageira. A qua-

lificação e o envolvimento dos profissio-

nais da Hengel / Bio Palha, possibilitaram

o aperfeiçoamento do processo, a tal pon-

to de Danilo afirmar que: “quando olha-

mos a operação completa agrícola + lo-

gística + indústria não temos dúvida que

a operação com forrageira picando na la-

voura mostra ser a melhor opção.”

Para embasar sua colocação, Danilo

apresenta os ganhos diretos com a entra-

da da forrageira:

- Grau de impureza mineral entre 2%

a 3% por tonelada de palha (no processo

de enfardamento varia de 6% a 9%;

- Granulometria baixa de 1,5 a 2,5 cm;

- Menor compactação do solo, de-

vido a diminuição de equipamentos no

processo;

- Reduz a movimentação no pátio da

indústria e a quantidade de funcionários

envolvidos na operação;

- Elimina área de armazenamento

dos fardos (diminuindo o risco de incên-

dio), é utilizada a estrutura já existente de

recebimento de outras biomassas como

bagaço e cavaco;

- Elimina o custo com as cordinhas e

com o desfardamento;

Veja vídeo com a ação da forrageira no canavial

de realizar o aleiramento, enfardamento

e transporte dos fardos até a indústria, a

Hengel / Bio Palha, desenvolveu um pi-

cador de palha, chamado de moinho. O

equipamento fica na indústria e mói os far-

dos de palha, que depois será incorpora-

da ao bagaço. O picador já se encontra em

várias empresas que utilizam a biomassa

como fonte de energia, não só unidades

sucroenergéticas.

Mas a proposta da Hengel / Bio Pa-

lha, segundo Danilo Monteiro, gestor de

Confira o vídeo do moinho de palha em operação na indústria

HEN

GEL

Page 80: Cana Online nº22  - Junho 2015

80 Junho · 2015

- Economia de energia sem o uso do

picador, além de não haver mais o cus-

to de manutenção do equipamento, com

desgaste das facas, por exemplo.

A menor quantidade de impurezas

e a granulometria uniforme para atender

o melhor funcionamento da indústria são

resultado de adaptações que a Hengel /

Bio Palha, realizou na forrageira e de acer-

tos no processo.

Danilo observa que o caminhão ao

transportar os fardos, carrega de 25 a 30

toneladas, já a carga com a palha pica-

da varia de acordo com a umidade da pa-

lha colhida, mas é em torno de 14 tonela-

das. Mesmo com essa menor quantidade

de palha transportada no processo da for-

rageira, essa opção continua mais viá-

vel economicamente, afirma Danilo. “Não

comparamos apenas o peso, o custo de

frete, do barbante e do operacional, mas

sim a operação como um todo, incluindo

a menor quantidade de impurezas e a gra-

nulometria uniforme.”

De acordo com Danilo, a prática de

recolhimento de palha picada com forra-

geira aprimorada pela Hengel / Bio Palha,

já está em desenvolvimento em empresas

sucroenergéticas como Raízen. A empre-

sa também presta serviço no recolhimen-

to de palha para produtores de cana, aten-

dendo a região Centro-Sul.

Danilo observa que para Hengel

sempre há espaço para melhorias contínu-

as, por isso, as pesquisas e os investimen-

tos não param, e além de continuar o apri-

moramento do recolhimento da palha de

cana, a empresa tem no forno outras ino-

vações que contribuirão para incrementar

o uso da biomassa.

Não perca nas próximas edições da

CanaOnline.

CAPA

Forrageira possibilita palha picada com granulometria uniforme

Page 81: Cana Online nº22  - Junho 2015

81

Page 82: Cana Online nº22  - Junho 2015

82 Junho · 2015

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Mais impurezas e mais palha, como fica a indústria?

OS EFEITOS DO AUMENTO DO CORTE MECANIZADO DE CANA

CRUA O USO DA PALHA NAS INDÚSTRIAS SUCROENERGÉTICAS

Luciana Paiva e Leonardo Ruiz

Cana, palha e impurezas seguem para a indústria

A vida da indústria sucroenergética

não tem sido fácil para se adap-

tar às inúmeras mudanças ao lon-

go dos últimos anos. A maior delas foi a

transição da colheita manual para a me-

canizada de cana crua. A escassez de mão

de obra e, no caso de São Paulo, a cria-

ção do Protocolo Agroambiental, assinado

em 2007 e que estipulou a erradicação da

queima da cana-de-açúcar para o ano de

2014 em áreas mecanizáveis, provocaram

uma corrida para se estabelecer a mecani-

zação da lavoura.

Essa “correria” para se adaptar à me-

Page 83: Cana Online nº22  - Junho 2015

83

canização acabou gerando problemas, um

deles é o aumento de impurezas minerais

(3 a 4%) e vegetais (12 a 15%) na indús-

tria. As impurezas sobrecarregam os equi-

pamentos de recepção, preparo e extração

(aumento da carga e do consumo de po-

tência), bem como os sistemas de trans-

porte e movimentação de bagaço, redu-

zem a capacidade de moagem, a extração

para indústria. Os profissionais do Centro

de Tecnologia Canavieira (CTC), Francisco

Linero, Especialista Agroindustrial e Hen-

rique Mattosinho D’avila, Especialista em

Negócios, explicam que tanto a palha sol-

ta, quanto a palha enfardada requerem es-

truturas industriais específicas para sepa-

ração e processamento dessa biomassa.

De modo geral em ambos os casos, a pa-

do caldo e o índice de percolação nos di-

fusores, e desgastam, prematuramente, os

equipamentos, dificultando os tratamen-

tos de caldo e aumentando o custo do

transporte da cana.

A prática do recolhimento da pa-

lha, que cresce no setor em decorrência

dos bons preços da energia, engrossa ain-

da mais a quantidade de terra que segue

lha passa por uma sequência de proces-

sos que incluem o recebimento, abertura,

limpeza e trituração do material para que

possa ser adequadamente utilizado como

combustível em caldeiras.

Em termos financeiros, a chegada de

palha na indústria implica no aumento da

disponibilidade de biomassa, possibilitan-

do, inclusive, incrementos significativos de

Recolhimento de palha precisa de cuidados para levar

menos terra para a indústria

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Page 84: Cana Online nº22  - Junho 2015

84 Junho · 2015

receita com a exportação de energia elé-

trica adicional em períodos de entressafra.

Mas é preciso cuidados no campo durante

o processo de recolhimento da palha para

levar menos terra para a indústria. O Gru-

po Zilor, que desde 2004 utiliza palha para

a produção de energia, emprega uma ta-

bela de porcentagem de impurezas da pa-

lha recebida, por exemplo, se o índice for

entre 3 a 6%, o desconto no valor pago

pela tonelada é de 10%, quanto mais im-

pureza, maior a porcentagem de desconto.

Mas será que a indústria

está pronta para receber

essas impurezas?

O gerente industrial das unidades

Santa Cândida e Paraíso, do Grupo Tonon,

Antônio Carlos Viesser, afirma que, em sua

maioria, as indústrias não estão prepara-

das para processar esse volume de impu-

rezas vegetais (palha) que tem chego às

unidades. “Isso se deve, primeiramente, ao

aumento forçado da mecanização devi-

do à antecipação da não queima da cana.

Além disso, o momento financeiro em que

vive o setor impossibilitou as usinas de in-

vestir em novos processos e melhorias em

equipamentos”.

Ele conta que diversos foram os im-

pactos na indústria, sendo o maior deles

na moenda, pois, com o aumento da pa-

lha, se tem mais fibra, sendo a moenda um

equipamento volumétrico calculado para

processar fibra, acaba-se tendo duas ver-

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

Para Viesser, as indústrias, em sua maioria, não estão preparadas para processar esse volume de impurezas vegetais (palha) que tem chegado às unidades

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tentes, onde o volume de cana processa-

do e a extração da moenda são menores.

Outros empecilhos são o aumen-

to de torta de filtro e, por consequência,

maiores perdas na torta; maiores desgas-

tes com facas, martelos, pentes e cami-

sas de moendas; maior consumo de ele-

trodo de chapisco; maiores desgastes com

chaparia de esteira de cana e bagaço; des-

gastes prematuros de tubulações de cal-

deiras, dificuldades operacionais com sis-

tema de lavagem de gases das caldeiras;

aumento dos insumos na fábrica de açú-

car; interferência da qualidade do açúcar

em relação aos níveis de amido, cinzas e

insolúveis no açúcar e problemas na fer-

As caldeiras estão entre as partes da indústria mais

sensível às impurezas

Crise reduz investimentos em

tecnologias que “protegem” a indústria

das impurezas

Page 86: Cana Online nº22  - Junho 2015

86 Junho · 2015

mentação relacionados à maior presença

de ácido aconítico.

O gerente industrial afirma que, com

esse cenário, as dificuldades são inúme-

ras, pois, para mitigar esses impactos, são

necessários novos investimentos que, por

hora, estão proibidos no setor. “No mo-

mento, cabe a cada empresa usar da cria-

tividade para superar esses desafios.”

Indústria aos poucos se

ajusta as novas tendências

Para o engenheiro de processos (En-

genharia de Açúcar e Álcool – Zanini In-

dústria e Montagens Ltda), Marcus Me-

nato, as indústrias estão, aos poucos, se

adaptando a essa realidade, investindo

em equipamentos e adequação de pro-

cessos que possibilitem a retirada/separa-

Marcus Menato: “A demanda por novos equipamentos voltados a essa nova realidade do setor aumentou consideravelmente”

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Separador de palha e terra

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ção dessa palha antes de passar pela mo-

enda. “Foram realizadas alterações, desde

o sistema de recepção da cana (mesas e

tombadores laterais); instalação dos siste-

mas de limpeza de cana a seco, de telas

perfuradas nos equipamentos de recep-

ção e de separadores de impurezas mine-

rais; aquisição de equipamentos para pro-

cessamento e picagem de palha, além de

desenfardadores; substituição do aço car-

bono pelo inox; aumento do tempo de re-

tenção nos decantadores; modificação e

uso do inox nos geradores de vapor (cal-

deiras) e redimensionamento das esteiras

de bagaço e dos sistemas de filtração do

lodo”.

O engenheiro conta que a deman-

da por novos equipamentos voltados a

essa nova realidade aumentou conside-

ravelmente, sendo que a maioria das usi-

nas está projetando seus investimentos no

sentido de se adequar e, ainda, aprovei-

tar os benefícios da palha no processo de

cogeração.

E os sistemas de limpeza de cana a

seco se encaixaram perfeitamente nesses

planos e já se tornaram uma das principais

saídas das usinas para superar esses desa-

fios. A finalidade principal dessa tecnolo-

gia é a de separar a palha e a terra da cana

colhida mecanicamente. O conceito pode

ser aplicado tanto para o processamen-

to da cana inteira (mesas alimentadoras)

como picada (descarga direta). O proces-

so, que veio para substituir efetivamente a

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Page 88: Cana Online nº22  - Junho 2015

88 Junho · 2015

lavagem da cana, possui eficiência de re-

moção de impurezas entre 40% e 70%.

Em 90% da cana

processada na Barralcool

é utilizado o sistema

de limpeza a seco via úmida

Uma das usinas que já adotou essa

tecnologia é a Barralcool, localizada no

município mato-grossense de Barra do

Bugres. Segundo o gerente industrial,

José Raimundo Costa Neto, em 90% da

cana processada na usina é utilizado o

sistema de limpeza a seco via úmida. “O

processo, utilizado desde 2009, visa reti-

rar as impurezas minerais e aproveitar as

vegetais”.

Além dos benefícios já citados, Costa

Neto afirma, ainda, que o sistema propor-

ciona um aumento de biomassa na usina

e, consequentemente, uma maior oferta

de comercialização de energia.

Usina Pitangueiras

recolhe palha e tem baixa

incidência de impurezas

Na Usina Pitangueiras, localizada

no município paulista de mesmo nome,

o combate às impurezas é feito ainda no

campo, ou seja, a estratégia da Usina é a

Sistema para limpeza de cana a seco e aproveitamento da palha ajuda a diminuir o nível de impurezas mineiras e vegetais na indústria

TECNOLOGIA INDUSTRIAL

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89

de levar cana limpa para a indústria. O ge-

rente industrial da unidade, Gilmar Galon,

conta que foram feitas alterações nas co-

lhedoras a fim de evitar que a palha e a

terra sejam levadas para a área industrial

junto da matéria-prima.

Outra estratégia da Pitangueiras é

trabalhar a conscientização do pessoal da

agrícola, por meio de muito treinamento,

controle rígido e oferecendo prêmio pelo

resultado obtido, isso é fundamental, os

funcionários se empenham mais.

Os métodos têm dado certo, pois

mesmo após ter adotado, a partir da sa-

fra passada, a prática de recolhimento

de palha para a produção de energia, a

quantidade de impurezas da cana da Pi-

tangueiras está entre os menores do se-

tor. “Na safra passada, fechamos com índi-

ce de perda de 1,8% e obtivemos a média

de 60 kg/t de impureza vegetal e 55 kg/t

de impureza mineral. A média do setor é

de 80 kg/t vegetal e 78 kg/t a mineral. O

segmento precisa melhorar a eficiência e

grande parte dessa melhoria deve ser na

área agrícola, pois o açúcar é feito no cam-

po, para a indústria cabe a recuperação”.

Outras medidas que podem ser ado-

tadas pelas empresas visando mitigar os

impactos incluem buscar junto aos forne-

cedores materiais mais resistentes a abra-

são, intensificar a aplicação de eletrodos

nas moendas “chapisco”, e, na medida do

possível, aumentar os diâmetros das cami-

sas da moenda visando garantir moagem/

hora efetiva e extração.

Mesmo com o recolhimento de palha, a Usina Pitangueiras apresenta baixo índice de impurezas

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90 Junho · 2015

Clivonei Roberto

Área de suprimentos requer uma logística redonda

LOGÍSTICA

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O funcionamento de uma usina de

açúcar, etanol e energia é com-

plexo. Tem uma rotina compos-

ta por uma infinidade de processos dife-

rentes. Quando a safra começa, a indústria

inicia a moagem da cana que chega da la-

voura; as colhedoras precisam operar a

todo vapor para não faltar matéria-prima

nas moendas e o departamento de supri-

mentos fica atento com toda a demanda

de insumos, para garantir o bom funcio-

namento de todas as áreas envolvidas no

processo.

Estes são apenas alguns exemplos

de processos que fazem parte do dia-a-

dia da usina, mas que ficam comprometi-

dos ser houver falha em algum ponto da

logística de suprimentos. Afinal, se o car-

regamento com produtos químicos atra-

sar, a fabricação de açúcar e etanol pode

parar. Se não chega “faquinha” para as co-

lhedoras, a colheita pode ser interrompida

e vai faltar cana na esteira. Se a peça não

chegar, a oficina atrasa suas demandas e

se calcário para fertilizar o solo não é en-

tregue na data marcada, o plantio de cana

Logística é assunto sério na Jalles Machado

GESTÃO PROFISSIONAL EM LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS

GARANTE RESULTADOS COM SEGURANÇA PARA AS USINAS

Page 91: Cana Online nº22  - Junho 2015

91

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92 Junho · 2015

vai ter que ficar para depois.

O funcionamento adequado de to-

dos os departamentos da usina requer

uma infinidade de suprimentos, que pre-

cisam ser transportados até a usina com

pontualidade e segurança. “Uma usina

consome vários itens. Desde equipamen-

tos caros, com alta tecnologia, até um

equipamento de proteção individual (epi),

incluindo ainda produtos críticos, como

os químicos, peças encomendadas junto a

fornecedores específicos, ou simplesmen-

te uma resma de papel. Se houver erro no

sistema logístico ou o transportador não

conseguir cumprir com a programação,

pode haver tanto atrasos pontuais, como

a interrupção do processo da usina, com

grande prejuízo”, explica Ricardo Alexan-

dre Otávio, analista de logística do Grupo

Jalles Machado.

Para ele, a área de logística de supri-

mentos é fundamental para o perfeito an-

damento de uma usina sucroenergética.

Mais ainda quando a unidade fica distan-

te dos principais polos fornecedores de in-

sumos para o setor, que é o caso da Jalles

Machado, situada na cidade de Goianésia,

170 km a norte de Goiânia.

Alguns itens utilizados na usina são

comprados na capital goiana, ou mesmo

em outras localidades do estado, como

Itumbiara. No entanto, boa parte dos su-

primentos usada pela unidade tem que

ser transportada do estado de São Paulo

até Goianésia. “Daí a importância de um

departamento de logística funcional e efi-

JALL

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A produção não pode parar por atraso de suprimentos

LOGÍSTICA

Page 93: Cana Online nº22  - Junho 2015

93

caz para a usina. É preciso fazer a avalia-

ção dos materiais, do ponto de pedido,

compreender toda a dinâmica da logísti-

ca, para que nenhum item falte na unida-

de”, salienta Alexandre.

O desafio da área logística da usina

é otimizar a entrega dos diferentes produ-

tos a partir do fornecedor, e sempre en-

tendendo a necessidade do cliente inter-

no. Alexandre salienta que a logística de

suprimentos bem-feita consegue reduzir

custos para a empresa. “Isto ocorre quan-

do esse produto é fabricado e entregue

ao cliente no menor tempo e a um custo

competitivo.”

Alexandre Otávio explica que a Jalles

Machado tem um contrato de prestação

de serviços com um operador logístico. E

para o êxito de cada entrega, é imprescin-

dível a interação entre a equipe da área de

suprimentos da usina com a empresa que

presta serviços logísticos.

Para o suprimento de rotina da usina,

existe um fluxo de compras que a empresa

realiza em várias localidades, como Goiânia

e Itumbiara, GO, e Sertãozinho, Piracicaba

e São Paulo, SP. “O operador logístico con-

tratado recebe as informações diariamen-

te das unidades dos pedidos disponíveis

para coleta. Uma vez o pedido disponível,

o mesmo entra no sistema da transpor-

tadora, que faz o contato com o fornece-

dor para o agendamento. Todo o trâmite

da mercadoria fica disponível no portal do

operador logístico, com dados como dia da

coleta, nome do fornecedor, nota, prazo de

viagem, até a chegada à unidade com com-

provante de entrega”, explica.

De acordo com ele, é importante

para a usina contratar um operador logís-

tico que tenha condições de atender suas

demandas. “A usina tem que se preocupar

apenas em produzir cana e fabricar açúcar,

etanol, energia. Por isso, para ter tranqui-

lidade no dia-a-dia, é importante incum-

bir um operador logístico especializado

no setor e que ofereça vários benefícios.”

Para Alexandre Otávio, é necessá-

rio tomar alguns cuidados para não correr

o risco de ficar na mão. É preciso ter um

operador logístico que tenha rotinas mui-

to bem definidas; tecnologia de informa-

ção ágil e completa; frota moderna e con-

fiável, dotada de equipamento com baixa

Ricardo Alexandre Otávio: a usina requer uma infinidade de suprimentos, que precisam ser transportados com pontualidade e segurança

Page 94: Cana Online nº22  - Junho 2015

94 Junho · 2015

emissão de gases poluentes; serviço de

follow-up; além de licenças e certificações.

“Para oferecer serviços logísticos para

a Jalles Machado é pré-requisito ter todas

as autorizações e licenças exigidas pela le-

gislação. No caso de transporte de produ-

tos químicos, exigimos da transportadora

pelo menos uma certificação, que é o SAS-

SMAQ (Sistema de Avaliação de Seguran-

ça, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade).”

Credibilidade e fidelização

Pela importância da logística de su-

primentos para o Grupo, a Jalles Macha-

do procurou no mercado um operador lo-

gístico com experiência no atendimento

do setor sucroenergético. Firmou contrato

com a TransEspecialista (TE), empresa se-

diada em Sertãozinho, SP, que já se tor-

nou referência em logística de suprimen-

tos para o mercado de açúcar e etanol em

todo o Centro-Sul.

Segundo Ricardo Amadeu da Silva,

CEO da TE, sua empresa atende hoje os

maiores grupos sucroenergéticos do país,

como Adecoagro, Bunge, Raízen, São Mar-

tinho, Odebrecht Agroindustrial, Guarani,

Noble, Biosev, BP Biocombustíveis, SJC,

Cargil, JBS, Jalles Machado, dentre inúme-

ros outros, que são cases de sucesso em

logística de suprimentos neste segmento.

Ele frisa que um portfólio deste nível

é fruto da credibilidade que a TE conquis-

tou junto a este setor. “A credibilidade que

temos neste mercado e a fidelização dos

nossos clientes são o nosso maior patrimô-

nio, resultado de muito trabalho. É uma his-

tória de quinze anos de comprometimento

Ricardo, CEO da TE, “a relação com cada cliente precisa ser muito bem conduzida, com acompanhamento e suporte personalizado”

LOGÍSTICA

Page 95: Cana Online nº22  - Junho 2015

95

Page 96: Cana Online nº22  - Junho 2015

96 Junho · 2015

com o setor, o que faz da TransEspecialista

um ‘porto seguro’ para a agroindústria ca-

navieira na área de logística de suprimen-

tos”, confidencia Ricardo Amadeu.

Refinamento do processo

O know-how no atendimento da lo-

gística de suprimentos de uma usina é fru-

to do refinamento permanente das roti-

nas. Desde o follow-up, aprimoramento

contínuo dos processos, muita seriedade

e comprometimento de toda a equipe.

Um bom layout operacional, com

SLA definido, a integração entre as equi-

pes e o operador Logístico, o que garante

avanços nas rotinas e gera gradativamen-

te mais resultados.

“O refinamento permanente das ro-

tinas é crucial para a sobrevivência das or-

ganizações nesse novo mercado. Por isso,

sempre buscarmos a melhoria é a nossa

tônica”, diz Cesar Montenegro, GOC da TE.

A melhoria constante somente é pos-

sível porque a TransEspecialista realiza um

trabalho especializado, ímpar no mercado.

Ricardo alicerça-se na vontade, energia e

dedicação da equipe, como “ponta de lan-

ça” para o sucesso. Segundo ele, a “equi-

pe” é o segredo do sucesso e diferencial

de competitividade da TransEspecialista.

Equipe afinada e

compromisso com o cliente

A TransEspecialista oferece um pro-

duto diferenciado para o mercado sucro-

energético. O nível de serviço disponibili-

zado é fruto de um trabalho especializado

em logística de suprimentos.

Para Ricardo Amadeu, cada cliente da

TE é muito mais do que um contrato. Exi-

ge um relacionamento atencioso e perso-

nalizado por parte das diferentes equipes

do operador logístico. “A relação com cada

cliente precisa ser muito bem conduzida,

com acompanhamento e suporte perso-

nalizado às suas demandas. Este suporte

é fundamental para que os compromissos

assumidos sejam efetivamente cumpridos

pelo operador. É importante estar sempre

próximo do cliente e, em todas as ques-

tões, é preciso uma integração e um diálo-

go inteligente. Assim, criamos um modelo

cada vez mais criativo e sustentável, sem-

pre aplicando a relação ganha-ganha.”

LOGÍSTICA

Constante renovação de frota

Page 97: Cana Online nº22  - Junho 2015

97

A TE se preocupa em entregar o produto de forma sistêmica

Mesmo com a crise, a TransEspecia-

lista mantém a qualidade operacional e

os diferenciais de serviços oferecidos para

o mercado. Exemplos disso são a manu-

tenção dos entrepostos e centros de dis-

tribuição, a renovação de frota, os treina-

mentos e os investimentos em tecnologia.

A empresa mantém be-

nefícios, como empilhadeiras

comodatadas, follow-up inte-

grado, janelas de entrega com

veículos dedicados em rotas

fixas, desenvolvimentos e as-

sessoria. “Todos estes servi-

ços TE foram configurados nos novos con-

tratos, conforme SLA pactuado”, destaca o

CEO da empresa.

Segundo Ricardo Amadeu, “isto é re-

sultado de um esforço em conjunto de to-

dos, com ajuste em tabelas, maior maturi-

dade das equipes, maior integração entre

as áreas comercial/ operacional, além de

criatividade, para se adequar ao momen-

to difícil, sem perder em qualidade.” Com

essas ações, a empresa consegue executar

uma logística enxuta e eficaz, com resulta-

dos comprovados pelos clientes. “A TE se

preocupa em “entregar o seu produto” de

forma sistêmica, o que é nossa marca nos

nossos quinze anos de mercado”, finaliza.

De acordo com ele, a TransEspecia-

lista acredita muito na força do setor bio-

energético, certa de que os combustíveis

fósseis serão substituídos, que o País pre-

cisará de energia e alimento, e que a in-

dústria da cana entrará novamente num

novo ciclo de crescimento.

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ECONOMIA

“Setor canavieiro precisa se organizar, do campo ao banco”, dizem especialistas

Organizar a gestão, desde o cana-

vial, dando atenção às questões

de tratos culturais e aumento de

produtividade, passando pela integração

das áreas industrial, administrativa e finan-

ceira até chegar ao banco, para aumentar

sua credibilidade junto ao mercado. Essa

foi a mensagem deixada por diversos es-

pecialistas, ao relatar os principais proble-

mas e soluções para a crise do segmen-

to sucroenergético, no dia 28 de maio, em

Ribeirão Preto, SP, durante lançamento da

empresa Organize – Soluções Integradas

para a Gestão Agroindustrial. Entre os pa-

lestrantes e debatedores do evento “O Se-

tor Bioenergético: Uma Resposta à Rea-

lidade” participaram o jornalista Carlos

Alberto Sardenberg; Marcos Fava Neves –

Markestrat / FEA USP; Edivaldo Domingues

Velini - CNTBio e UNESP; Fabiana Balduc-

ci – Credit Suisse; Ismael Perina – Câmara

Setorial da Cadeia Produtiva de Açúcar e

Álcool; Rodolfo Geraldi – Vértice Assesso-

ria e Consultoria Agronômica e Waldemar

Deccache – Deccache Associados.

Os executivos comentaram que no-

Marcos Fava Neves, Fabiana Balducci, Ismael Perina, Rodolfo Geraldi, Waldemar Deccache e Edvaldo Vellini

Andréia Moreno, da MBF Agribusiness

Page 99: Cana Online nº22  - Junho 2015

99

vos modelos de gestão precisam ser im-

plementados no setor para atender ao re-

quisito de consistência e resultados nas

empresas. “Somente assim o mercado fi-

nanceiro deverá olhar para o setor de for-

ma mais flexível, proporcionando a re-

tomada dos financiamentos. A Organize

surge com o apoio financeiro de grandes

players do setor, que precisam ter uma

empresa qualificada com o aval de que o

crédito possa ser destinado às empresas e

que serão bem utilizados”, revelou o só-

cio-diretor da Organize, Marcos Françóia,

da MBF Agribusiness.

A importância da

gestão de qualidade

Fabiana Balducci, do Banco Credit

Suisse, foi enfática em dizer que o gran-

de desafio do segmento é ganhar produ-

tividade, organizar a gestão e cortar cus-

tos. “Falta gestão ativa, o setor aplica mal

o seu dinheiro. É preciso buscar a aliança

com os bons fornecedores, pois a questão

preço não garante a qualidade. Estou fe-

liz com o lançamento da empresa Organi-

ze, pois poderá enxergar os problemas das

empresas e solucioná-los”, disse.

Ismael Perina, presidente da Câma-

Público conhece os diferencias da Organize e se atualiza sobre o cenário do setor

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100 Junho · 2015

ra Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar

e do Álcool, ligada ao Ministério da Agri-

cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),

enfatizou que juntar um time com reno-

mados consultores como aconteceu com

a Organize é uma ótima oportunidade

para ajudar o setor e concordou com Fa-

biana, na importância da gestão e do con-

trole de custos nas empresas.

O sócio-diretor da Organize Rodolfo

Geraldi, da Vértice, ressaltou que o futu-

ro pode ser promissor se o setor enxergar

seus erros e estudá-los para não cometê

-los novamente. “Havia muita euforia du-

rante a expansão do setor e muitas usinas

foram instaladas em locais impróprios,

sem infraestrutura, sem planejamento fi-

nanceiro e sem logística adequada. Não

há capacitação e sem planejamento não

dá para sobreviver”, resumiu.

Weber Valério, sócio-diretor da Or-

ganize e da Consult Agro, lembrou que

o segmento está à deriva e desorganiza-

do. “Precisamos organizar o setor com so-

luções integradas em todas as áreas. Não

dá para elaborar um orçamento sem inte-

grar a área agrícola, industrial e área ad-

ministrativa e financeira. Deve haver uma

sinergia. É possível produzir num nível de

lucratividade e produtividade e reduzir

despesas. Não podemos entregar os pon-

tos, temos que lutar”, finalizou.

“Precisamos organizar o setor com soluções integradas em todas as áreas”, salientou Valério

ECONOMIA

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Page 102: Cana Online nº22  - Junho 2015

102 Junho · 2015

GESTÃO DE PESSOAS

O bê-á-bá do campoÉ PELA DIFUSÃO DO CONHECIMENTO QUE SE APRENDE A DOMINAR AS

FERRAMENTAS AGRÍCOLAS, DA ENXADA À AGRICULTURA DE PRECISÃO

O bê-á-bá do campo passou a ser ensinado em outras lousas

Luciana Paiva

Antes mesmo de as máquinas se

espalharem pelos campos brasi-

leiros, na época em que as mãos

humanas dividiam com a tração animal o

trabalho de lavrar o solo, semear e colher

as safras, a difusão de conhecimento so-

bre práticas agrícolas já fazia a diferença

para a obtenção de maior produtividade e

redução de custos.

Até mesmo as operações agrícolas

Page 103: Cana Online nº22  - Junho 2015

103

mais simples têm seus segredos. O bom

é que existe gente que consegue desven-

dá-los e perpetua o descobrimento ao re-

passá-lo aos demais. Um exemplo é a ta-

refa de carpir o mato, o sucesso da prática

começa ao encabar a enxada. O primeiro

passo é o cuidado com o cabo: é preci-

so raspá-lo, deixá-lo bem lisinho para não

machucar a mão.

Finalizada a operação, o passo se-

guinte é realizar um cirúrgico corte vertical

no final do cabo, um talho de alguns cen-

tímetros, onde será fincada uma estaca de

madeira, chamada cunha. O cabo é intro-

duzido na enxada e aquele talho fica após

a enxada, onde a cunha é fixada para a en-

xada não sair. O encaixe da cunha preci-

sa possibilitar que a lâmina esteja em uma

posição que facilite o corte com perfeição.

Resumindo: encabar a enxada é

como afinar violão, é uma arte. Por isso,

havia até os “mestres encabadores”, re-

quisitados no meio rural para realizarem o

serviço ou ensinarem o ofício. E a aula se

estendia para a forma precisa de amolar

a enxada e finalizava com o jeito de ma-

nipular a ferramenta. O mestre salientava

que na hora de carpir, o trabalhador deve

prestar atenção na sua postura. Manter as

costas eretas, uma perna à frente da outra

e deixar o pé que está na frente na posição

vertical, para que a enxada não bata na ca-

nela e o machuque. A enxada não é para

podar o mato, mas cortá-lo pela raiz. Por

isso, atenção para não ficar embolando o

mato com a terra, ele vai brotar.

Para encabar a enxada de forma correta é preciso de aprendizado

Page 104: Cana Online nº22  - Junho 2015

104 Junho · 2015

Esse aprendizado do campo foi re-

passado por gerações. Assim aconte-

cia nas primeiras culturas agrícolas que

tombaram o solo brasileiro: cana-de

-açúcar, café, algodão e nos roçados

com lavouras de subsistência.

O bê-à-bá do campo

ganha novas vertentes

Mas no século XX, o país pas-

sou da tração animal para a má-

quina, da subsistência para a

economia de escala no campo,

do feudo para a agroindústria.

A primeira colheita mecaniza-

da de arroz no Brasil aconte-

ceu nos anos de 1930 no Rio

Grande do Sul. Em 1952, o então presi-

dente Getúlio Vargas criou o programa

‘Plantai Trigo’ com estímulo à mecaniza-

ção agrícola. A partir desse momento, ini-

ciou a importação de tratores e máquinas

agrícolas.

Por volta de 1960, teve início à fabri-

cação de máquinas pesadas e implantou-

se a produção nacional de tratores. Defi-

nitivamente, o campo brasileiro não era

mais o mesmo. Estava em curso um pro-

cesso evolutivo que teria consequências

não apenas na economia, mas em toda a

sociedade.

E o bê-á-bá do campo ganhou no-

vas línguas, novos traçados, novos per-

sonagens. O aprendizado não dava mais

para seguir o ritmo da enxada, mas o das

máquinas, era preciso ter volume e repas-

sar novos conhecimentos. Roberto Rodri-

gues, produtor rural e ex-Ministro da Agri-

cultura, lembra que na década de 1970,

a agricultura se intensificava no Brasil. O

crescimento acelerado da população e da

renda per capita, e a abertura para o mer-

cado externo mostravam que, sem inves-

timentos em ciências agrárias, o País não

conseguiria reduzir o diferencial entre o

crescimento da demanda e o da oferta de

alimentos e fibras.

Essa conjuntura levou à criação, em

GESTÃO DE PESSOAS

O aprendizado das operações manuais era

repassado por gerações, como acontecia

nas colheitas de café no início do século XX

Page 105: Cana Online nº22  - Junho 2015

105

dezembro de 1972, da Empresa Brasilei-

ra de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Pero Vaz de Caminha, quando escreveu a

primeira carta sobre o Brasil, fez uma pro-

paganda errada, de que ‘o que se planta

aqui tudo dá’. Com isso, as pessoas, os go-

vernos, ficaram achando que é fácil desen-

volver a agricultura no Brasil. Não é nada

disso, precisa de muito investimento, mui-

ta pesquisa, manejo e tecnologias dife-

renciadas, pois o Brasil tem características

próprias”, salienta Roberto Rodrigues.

Embasados nestas características

próprias, os pesquisadores da Embrapa

personalizaram o manejo agrícola brasi-

leiro para atender às condições impostas

pela região tropical. Até então, as práticas

agrícolas eram uma cópia das europeias

e, como não respeitavam as característi-

cas edafoclimáticas do país, danificavam o

solo ao invés de preservá-lo.

As descobertas dos pesquisadores

precisavam ser repassadas ao público ru-

ral. Um dos agentes dessa transmissão

de conhecimento foi a Empresa Brasilei-

ra de Assistência Técnica e Extensão Ru-

ral (Embrater), criada em 1975. A pesquisa

e a difusão de conhecimento permitiram

a abertura de novas fronteiras agrícolas. A

Embrater foi extinta em 1990, no gover-

no Fernando Collor. Porém, a roda do co-

nhecimento não podia parar, o que levou

produtores, entidades rurais e empresas

fornecedoras de produtos e serviços a se

unirem pela continuidade do processo.

Uma dessas ações foi a criação, em

1991, do Serviço Nacional de Aprendiza-

gem Rural (Senar). A entidade conta com

As primeiras frotas de tratores no campo brasileiro

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106 Junho · 2015

27 Administrações Regionais que promo-

vem cursos e capacitações para desenvol-

ver competências profissionais e sociais

em aproximadamente 300 profissões do

meio rural. Segundo o Senar, em 20 anos

foram atendidos 60 milhões de produto-

res e trabalhadores rurais.

Sérgio Perrone Ribeiro é coordena-

dor geral Administrativo e Técnico do Se-

nar-São Paulo. Ele conta que a entidade

desenvolve ações em parceria com 570

sindicatos rurais do estado, mas mesmo

as cidades que não têm sindicato também

podem usufruir dos cursos. Basta a pre-

feitura entrar em contato. “Os cursos são

gratuitos e vão desde práticas rurais à pre-

servação da cultura regional. Atende des-

de pequenos agricultores a grandes em-

presas agrícolas”, diz Ribeiro.

GESTÃO DE PESSOAS

Máquinas na colheita da soja no Rio Grande do Sul na década 1960

Sérgio Perrone Ribeiro: cursos gratuitos e

atendimento de pequenos a grandes produtores

Page 107: Cana Online nº22  - Junho 2015

107

Programa ALFA – Alfabetizando para

Profissionalizar

O bê-à-bá da

alfabetização

A intensificação

do uso de máquinas no

campo foi um dos prin-

cipais fatores que ajudou a impulsionar a

produção agrícola brasileira nos últimos

anos, permitindo o cultivo em larga es-

cala, viabilizando a produção de mais de

uma safra por ano em algumas regiões, e

suprindo a redução de trabalhadores ru-

rais no país.

Mas, diferente da enxada, a máquina,

para ser manipulada, exige não só conhe-

cimento prático, mas alfabetização. O que

levou o Senar do Rio Grande do Sul a criar,

em 1998, o Programa ALFA (Alfabetizando

para Profissionalizar).

Seres Helena Martins, gestora do

ALFA, explica que o Programa é ministra-

do por educadores residentes na comu-

nidade onde é constituída a turma. Esse

educador deve ter no mínimo magistério

e preferencialmente ter experiência do-

cente em alfabetização. É dada a oportu-

nidade a Educadores que já se encontram

aposentados da profissão. O Senar-RS tra-

balha por regiões no estado. Cada região

tem uma Coordenação Pedagógica Regio-

nal que dá apoio pedagógico para mais

ou menos de 10 a 15 professores.

Segundo Seres, o Programa ALFA

tem este ano a duração de 219 horas por

turma, distribuídas no máximo três horas/

dia durante três dias semanais, totalizando

73 dias letivos, tendo início em abril e de-

vendo terminar na primeira quinzena de

outubro. “A faixa etária dos alunos varia

de região para região; neste ano estamos

com alunos entre 20 a 90 anos. Também

iniciamos um projeto piloto no município

de São Francisco de Assis, no Centro de

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Page 108: Cana Online nº22  - Junho 2015

108 Junho · 2015

Atenção Psicossocial (CAPS), de alfabeti-

zação para uma turma da APAE. ”

“O slogan do Programa ALFA é ‘Al-

fabetizando para Profissionalizar’; o pro-

fissionalizar vem do objetivo de ensinar

a escrever seu nome para poder realizar

os cursos oferecidos pelo Senar-RS”, expli-

ca Seres. De acordo com Seres, o públi-

co masculino faz especificamente o pro-

mas e formou 20.990 alunos.

Seres relata que a história de vida

dos participantes do Programa ALFA é um

fator motivador para os integrantes do

Senar/RS. “Eles trazem uma bagagem ri-

quíssima. São muitas as vitórias dos par-

ticipantes que para nós parecem simples

atos, mas para eles, uma janela que se

abre para o mundo. ” O Programa ALFA é

GESTÃO DE PESSOAS

grama com o objetivo de tirar a carteira

de motorista para estar apto para realizar

o curso de Tratores Agrícolas, Colheitadei-

ras, cursos mais voltados para a lavoura,

para a área da aprendizagem. Já o femi-

nino (maioria dos alunos) volta-se para o

Artesanato, Panificação, Doces, Vestuário

Feminino e Masculino. Até o ano de 2014

o Programa ALFA já completou 1.261 tur-

reconhecido com o TOP Cidadania ABRH

2009 e Prêmio Oswaldo Checcia ABRH Na-

cional 2010 - categoria sustentabilidade e

responsabilidade social e o TOP de Marke-

ting ADVB 2011.

Aprendizagem para

adestrar a máquina

A alfabetização e aprendizagem

Alunos de 20 a 90 anos

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Page 109: Cana Online nº22  - Junho 2015

109

abrem até mesmo a janela para dominar

as grandes máquinas com tecnologia em-

barcada. É que depois de aprovados nos

cursos de aprendizagem, os alunos do

ALFA podem realizar o Curso de Agricul-

tura de Precisão (AP) oferecido pelo pró-

prio Senar.

O curso é dirigido a produtores ru-

rais, suas famílias, jovens e trabalhado-

res do meio rural. Tem carga horária de

120 horas e é desenvolvido em módulos

como: AP para todos; Piloto Automático;

Semeadora a taxa variável; Distribuidores

a taxa variável. Para ampliar o programa,

o Senar Nacional firmou parcerias com a

Embrapa, universidades e empresas que

fabricam máquinas de AP.

A participação de empresas de má-

quinas e implementos tem sido funda-

mental para o desenvolvimento da agri-

cultura brasileira. Um exemplo é a Jacto,

uma das maiores fábricas de pulveriza-

dores agrícolas do mundo, localizada em

Pompéia, SP, que criou, em 1979, a Fun-

dação Shunji Nishimura de Tecnologia. Em

1982, inaugurou o Colégio Técnico Shun-

ji Nishimura, e em 2005 a Escola Profissio-

nalizante Chieko Nishimura. Só o Colégio

técnico já formou mais de mil alunos. Há

também a unidade Fatec (Faculdade de

Tecnologia do Estado de São Paulo) uni-

dade Pompéia-Shunji Nishimura, que ofe-

Rafael Arcuri Neto: na Jacto, aprendizagem já é tradição

Page 110: Cana Online nº22  - Junho 2015

110 Junho · 2015

rece o curso de Mecanização em Agricul-

tura de Precisão.

Rafael Arcuri Neto, coordenador de

Treinamento da Jacto, conta que além dos

cursos realizados em Pompéia, são pro-

movidos diversos treinamentos Brasil afo-

ra, em parceria com o Senar, Senai e gran-

des empresas clientes. São treinamentos

técnicos voltados para treinar a equipe de

vendas das concessionárias, consultores

agrícolas, eletricistas e mecânicos e para

o pessoal operacional, como aplicadores

de defensivos – desde o costal até os ope-

radores dos grandes pulverizadores com

agricultura de precisão.

Para facilitar a aprendizagem e au-

mentar o número de pessoas treinadas,

a Jacto também desenvolveu seu simula-

dor para treinamento de operadores de

pulverizadores. As supermáquinas dis-

põem de tecnologia de precisão e mui-

tos recursos que proporcionam aplicação

mais eficiente e com menor perda, mas

para dominá-la é fundamental capacitar

os operadores.

Produção de vídeos

para educação a distância

Há mais de 70 anos, a Jumil, locali-

zada em Batatais, SP, produz implementos

agrícola. Patrícia Morais, diretora da em-

presa, conta que em 1942, a empresa fa-

bricou a primeira plantadora e adubadora

do Brasil. Outro exemplo de pioneirismo,

veio em 1992, a Jumil também foi a pri-

meira empresa de implementos no Brasil a

apresentar o Sistema Pneumático de Dis-

tribuição de Sementes (Exacta Air).

O lema da empresa é: ‘Inovação e

simplicidade de uso’. Patrícia explica que

adotam esse conceito, porque se a tecno-

logia for difícil para ser aplicada, o produ-

tor e o operador não vão conseguir rever-

ter os benefícios em ganho. Mesmo sendo

implementos com tecnologia embarcada,

mas de uso simplificado, a empresa não

abre mão de explicar, mostrar, treinar o

GESTÃO DE PESSOAS

Confira em vídeo entrevista de Rafael à CanaOnline, em que explica como funciona o simulador

Page 111: Cana Online nº22  - Junho 2015

111

cliente como utilizá-los corretamente.

Para isso, a Jumil mantém um depar-

tamento de Treinamento muito ativo, se-

gundo Elton Pereira, coordenador de Trei-

namento, o principal meio de divulgação

do conhecimento é por meio de uma pla-

taforma de Ensino a Distância (EAD). Os

profissionais desse departamento produ-

zem vídeos com a equipe técnica da em-

presa que explicam os detalhes do im-

plemento, como utilizar de forma certa e

como fazer manutenção.

Vitor da Silveira Leite, da área de

Criação de Materiais do departamento de

Treinamento, diz que 70 profissionais es-

tão envolvidos nesse processo de apren-

dizagem e já foram produzidos mais de

15 cursos. A equipe de venda é a primei-

ra a ser treinada. Os vídeos são disponibi-

lizados em um canal online que pode ser

acessado pelos revendedores, consultores

e clientes. A linguagem é de fácil enten-

dimento e o processo apresentado tem o

passo a passo para tirar o máximo apro-

veitamento dos implementos Jumil.

Bê-á-bá do campo

tem academia do saber

Em 19 de fevereiro de 2014, a AGCO

– fabricante e distribuidora mundial de

equipamentos agrícolas – responsável pe-

las marcas Challenger, Fendt, GSI, Massey

Ferguson e Valtra –, inaugurou na cida-

de de Campinas, SP, o Centro de Treina-

mento AGCO Academy. Segundo Alexan-

dre Landgraf, gerente da AGCO Academy,

o espaço é uma plataforma de difusão

de conhecimento e capacitação técnica

e operacional às redes de concessioná-

rias das marcas Massey Ferguson e Valtra

nos países da América do Sul e Central. As

equipes de vendas, peças originais e as-

sistência técnica pós-venda são multipli-

cadoras de conteúdo.

O complexo, construído em uma

área de mais de 3 mil m², recebeu investi-

mentos de R$ 8 milhões para abrigar uma

Confira um dos vídeos produzidos pela equipe de Treinamento da JumilVitor, Patrícia e

Elton: inovação, simplicidade e aprendizagem

Page 112: Cana Online nº22  - Junho 2015

112 Junho · 2015

infraestrutura extremamente moderna

em equipamentos e tecnologia industrial,

tudo para permitir aos alunos a possibili-

dade de ter contato com as mais recen-

tes novidades tecnológicas presentes nas

linhas de tratores, colheitadeiras, pulveri-

zadores e implementos.

Landgraf salienta que a essência do

Espaço do Conhecimento é a capacitação

técnica. Por sua vez, ele oferece um am-

biente multiuso, onde acontece muitas

outras atividades, como visitas de conces-

sionários, de colaboradores internos e in-

clusive de clientes. Além disso, lá são rea-

lizadas reuniões, palestras e lançamentos.

O centro conta com uma área para filma-

gens técnicas e transmissões de cursos e/

ou entrevistas.

Há um estúdio exclusivo para grava-

ções, filmagens e transmissões. Em parce-

ria com Canal Rural, são realizados cursos

a distância via televisão e com uma abran-

gência maior de locais acessados e ho-

rários flexíveis. Isso está disponível para

toda a rede de concessionários e clien-

tes. As gravações são feitas no estúdio e

também nas salas técnicas, onde estão os

componentes e as máquinas.

Mas as ferramentas da empresa dire-

cionadas à difusão de conhecimento vão

além da AGCO Academy. Landgraf diz que

GESTÃO DE PESSOAS

Centro de Treinamento AGCO, em Campinas

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Landgraf salienta que a essência do Espaço do Conhecimento é a capacitação técnica D

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114 Junho · 2015

GESTÃO DE PESSOAS

o conjunto de ações já atendeu cerca de

35 mil pessoas. Entre as iniciativas, o exe-

cutivo dá como exemplo a parceria com o

Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-

trial do Mato Grosso do Sul (Senai/MS), fir-

mada em 2011, onde uma Unidade Móvel

de Treinamento foi equipada com toda a

tecnologia para a realização de cursos para

operadores de máquinas agrícolas, opera-

dores/mantenedores, mecânicos, além de

outros, como especialização em agricultu-

ra de precisão, atendendo a área de grãos,

cana e carnes. O Senai entra com os recur-

sos humanos e a AGCO, com a estrutura e

equipamentos para laboratório.

A cana se rende à maquina

O Brasil é o maior produtor de cana

do mundo. A previsão da safra 2015/16,

segundo a Datagro Consultoria, é de 653

milhões de toneladas, com 354 usinas em

funcionamento. A média de corte meca-

nizado com cana crua no setor (nível Bra-

sil) beira os 85% e o plantio, 63%. Porém,

a cultura canavieira, presente no Brasil há

quase 500 anos, foi a última das grandes

lavouras a aderir à mecanização nos pro-

cessos de colheita e plantio.

O primeiro lançamento nacional de

colhedora de cana foi em 1960, pela famí-

lia Ribeiro Pinto, proprietária da Santal In-

dústria de Máquinas e Equipamentos, lo-

calizada em Ribeirão Preto, SP (a Santal foi

adquirida pela AGCO em 2012). Porém, a

proposta de mecanizar o corte não agra-

dou o público-alvo. O corte mecanizado

era mais caro que o manual e a máquina

gerava perdas. Mas os Ribeiro Pinto não

Interior de uma das 11 salas de aula da AGCO Academy

Page 115: Cana Online nº22  - Junho 2015

115

desistiram. Na década de 1980 lançaram

outro modelo e nos anos de 1990, inova-

ram de vez ao apresentar ao mercado a

primeira colhedora de cana crua do mun-

do, a Amazon. Nessa época, a presença da

colhedora ainda era muito tímida. Em São

Paulo, estima-se que em 1996 a mecaniza-

ção da colheita não passava de 16% e ha-

via cerca 600 mil cortadores de cana.

A cultura canavieira só se rendeu à

máquina nos anos 2000. Fatores como

proibição da queima, escassez de mão de

obra e aumento do custo trabalhista pesa-

ram na decisão. Mas a mudança veio mes-

mo a partir de 2007, quando o setor su-

croenergético paulista, em parceria com as

Secretarias do Meio Ambiente e da Agri-

cultura do Estado de São Paulo, assinou

o Protocolo Agroambiental do Setor Su-

croenergético Paulista. Grande passo para

a mecanização, pois São Paulo responde

por 60% da cana produzida no país.

Com o Protocolo, 170 unidades

agroindustriais e 29 associações de for-

necedores (que representam 5.997 for-

necedores de cana signatários), que jun-

tos significam mais de 90% da produção

paulista, se comprometeram a antecipar o

fim da queima da palha para 2014 nas áre-

as mecanizáveis e para 2017 nas áreas não

mecanizáveis.

Segundo o IEA (Instituto de Econo-

mia Agrícola, da Secretaria de Agricultu-

ra do Estado de São Paulo), em 2007 havia

163 mil cortadores manuais no estado, e a

mecanização da colheita era de 58,3%. Na

safra 2014/15 o índice de mecanização da

colheita atingiu 90%. Estima-se que o nú-

Primeira colhedora de cana produzida no Brasil, na década de 1960

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116 Junho · 2015

mero de trabalhadores do corte de cana

tenha reduzido para cerca de 50 mil no fi-

nal de 2014.

Mesmo com a mecanização, a agroin-

dústria canavieira ainda é o segmento

agrícola que mais emprega mão de obra

no país. A redução do número de cortado-

res de cana tem relação direta com a en-

trada das máquinas, cada colhedora subs-

titui cerca de 80 pessoas. Mas o início de

operação da máquina abre novos postos,

como operador de colhedora e de trans-

bordo, assistente de transbordo, eletricis-

ta, soldador. Por isso, o Protocolo Agro-

ambiental também contempla, entre suas

ações, a qualificação e a recolocação dos

desempregados com a mecanização.

Projeto RenovAção

Para minimizar o problema e, em con-

trapartida, atender a demanda por traba-

lhadores com um novo perfil, foi criado o

projeto RenovAção, um trabalho da União

da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),

que contou com a parceria da Feraesp (Fe-

deração dos Empregados Rurais Assalaria-

dos do Estado de São Paulo) e patrocínio

da Fundação Solidaridad e de empresas

fornecedoras de produtos e serviços. Os

cursos foram ministrados pelo Senai/SP e

Inovação brasileira: primeira colhedora de cana crua do mundo, desenvolvida pela Santal na década de 1990. Cada colhedora equivale a 80 cortadores

GESTÃO DE PESSOAS

Page 117: Cana Online nº22  - Junho 2015

117

Page 118: Cana Online nº22  - Junho 2015

118 Junho · 2015

“Fui indicado para o projeto RenovAção. Cursei o Senai e hoje sou mecânico hidráulico, tenho uma profissão”, diz Deison

qualificou profissionais para atuar no setor

da cana e para outros segmentos.

O Projeto RenovAção apresentou um

grande diferencial: o colaborador se dedi-

cava integralmente ao curso, mas as usi-

nas pagam os salários, transporte, alimen-

tação e PIS. “Esse modelo de dedicação

exclusiva ao treinamento com remunera-

ção foi condição importante para a ma-

nutenção desse profissional nas turmas.

Com esta fórmula, resolveu-se um pro-

blema complicado: a dificuldade de o cor-

tador de cana conciliar o trabalho na co-

lheita durante o dia e os estudos à noite”,

Maria Luiza Barbosa, consultora da Unica

na área de Responsabilidade Social.

O projeto funcionou de 2010 a 2014,

quando o setor passou a ser atendido pelo

Programa Nacional de Acesso ao Ensino

Técnico e Emprego (Pronatec). A agroin-

dústria canavieira é o setor com maior nú-

mero de alunos inscritos e cursos dispo-

nibilizados pelo Pronatec, muitos deles

personalizados para atender as demandas

da cana, a experiência adquirida no Reno-

vAção é o principal fator para esse maior

espaço no programa.

O RenovAção capacitou 6.656 profis-

sionais, um deles é Deison da Silva Soares,

que há sete anos veio do Piauí para ten-

tar uma vida melhor em São Paulo. “Entrei

na Usina da Pedra, em Serrana, para cortar

cana e há cinco anos fui indicado para par-

ticipar do Projeto RenovAção. Cursei o Se-

nai e hoje sou mecânico hidráulico, tenho

uma profissão. O salário melhorou, assim

como a autoestima. Passei a ter mais con-

tato com as pessoas, casei e estou cons-

truindo a minha casa”, conta.

O bê-à-bá no maior grupo

sucroenergético do mundo

Além do Projeto RenovAção e do

Pronatec, as usinas também desenvolvem

seus próprios projetos. A Ra-

ízen, uma das maiores em-

presas de energia do mun-

do, com 40 mil funcionários,

além de ser o maior gru-

po sucroenergético, com 24

unidades produtoras, tam-

GESTÃO DE PESSOAS

Page 119: Cana Online nº22  - Junho 2015

119

bém é grande quando o assunto é difusão

de conhecimento. Lúcia Teles, gerente de

responsabilidade social e formação profis-

sional da Raízen, conta que, desde 2011,

o negócio do segmento de Etanol, Açúcar

e Bioenergia (EAB) da Raízen, possui uma

área de Formação Profissional com três pi-

lares de atuação: Formação, Capacitação e

Desenvolvimento Estratégico:

- O Pilar Formação possui programas

que desenvolvem e preparam profissionais

internos para desempenhar sua função

com maior performance, assim como para

assumir oportunidades na companhia.

Os Programas são:

• Motoristas Cana Picada

• Operador Colhedora

• Operador Colhedora Mantenedor

• Operador Plantio Mecanizado

• Operador Plantio Mecanizado

Mantenedor

• Operador Trator

• Técnico Man. Preditiva Formação

Com a mecanização, a força bruta perdeu espaço, ampliando a presença feminina nos canaviais

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Lúcia Teles: 22.220 pessoas passaram por ações de desenvolvimento da Raízen

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- Pilar de Capacitação possui progra-

mas de aprimoramento e/ou atualização

dos conhecimentos baseado nos gaps dos

resultados obtidos pelas áreas a cada sa-

fra. Alguns programas de capacitações:

• Colheita Mecanizada

• Plantio Mecanizado

• Transporte de cana – público Moto-

ristas Canavieiros e liderança do transporte

• Manutenção Automotiva: Mecânica

de Colhedora e Elétrica

• Manutenção Industrial

• Produção de açúcar, etanol

- Pilar de Desenvolvimento Estraté-

gico possui programas que viabiliza a as-

censão profissional do funcionário, poten-

cializando a sua atuação. Os programas

dão suporte para preparar profissionais

para novos desafios e oportunidades.

• Escola de Líderes

• Geração Raízen

• Educar – Escola de Educação formal

(alfabetização, Ensino fundamental e médio)

• Desenvolvimento dos Estagiários.

Segundo Lúcia, das 22.220 pesso-

as que passaram por ações de desenvol-

vimento, 80% permanecem ativos, ou seja,

trabalham na empresa. Deste montante, 18

mil profissionais são da área agrícola. Hoje,

97% da colheita de cana da Raízen é meca-

nizada e 87% do plantio. A expectativa de

Na Raízen: simulador de colhedora

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GESTÃO DE PESSOAS

Page 121: Cana Online nº22  - Junho 2015

121

produção para esta safra é de aproximada-

mente 60 milhões de toneladas de cana.

A área de Formação da Raízen con-

ta com 70 profissionais. Os cursos além

de acontecerem em sala de aula, também

são vivenciados na prática, com orienta-

ção dos instrutores no canavial. Uma das

ferramentas que contribuem muito para o

aprendizado, observa Lúcia, é o simulador

de colheita, ferramenta que presenta com

alta fidelidade as condições da colheita de

cana. Em julho, a Raízen também contará

com o simulador de caminhão para quali-

ficação de motoristas.

O bê-á-ba do

campo sobre rodas

Escolas móveis que vão onde os alu-

nos estão passaram a ser importantes fer-

ramentas de disseminação de conheci-

mento no campo. A própria Raízen tem

sua Unidade Móvel de Treinamento, com

15 metros de comprimento por 4,3 metros

de altura e 2,7 metros de largura. O es-

paço tem capacidade para atender até 24

alunos por curso, com uma estrutura mo-

derna e equipamentos de última geração

e possibilita total acessibilidade às pesso-

as com deficiência e mobilidade reduzida.

A Unidade Móvel tem estrutura para

realizar mais de 30 cursos profissionali-

zantes, dentro do escopo de manutenção,

elétrica e automação, a unidade atende

cerca de 100 pessoas ao ano.

O Senai é campeão na modalidade

Escolas Móveis. Atualmente, só o Senai

-SP possui 79 unidades móveis que aten-

dem diversas áreas tecnológicas. O proje-

to é realizado em parceria com empresas,

no caso do setor sucroenergético, há al-

guns anos existem as carretas para forma-

ção de operadores de máquinas agrícolas,

Unidade Móvel de Treinamento da Raízen

Page 122: Cana Online nº22  - Junho 2015

122 Junho · 2015

Entre os cursos oferecidos

estão os de auxiliar de climati-

zação automotiva, mecânico de

manutenção de máquinas agrí-

colas, eletricista de máquinas

agrícolas e transmissão mecâ-

nica em máquinas agrícolas. A

Valtra é parceira no projeto.

O Brasil já é o maior pro-

GESTÃO DE PESSOAS

Escola Móvel de Manutenção de Máquinas e Colhedoras de Cana do Senai

Interior da Escola Móvel:todas as partes de uma colhedora

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mas durante a Agrishow 2015, foi lançada

a escola de Manutenção de Máquinas Co-

lhedoras de Cana.

Antonio Cirilo de Souza, especialista

em Educação Profissional, do Senai, expli-

ca que a nova escola móvel é formada por

dois semirreboques. Quando acopladas, as

duas carretas somam 165 metros quadrados

e têm capacidade para atender, simultanea-

mente, até duas turmas com 12 alunos cada.

dutor de cana, café, suco de laranja e se-

gundo em soja, mas o mundo vai preci-

sar muito mais de alimentos. Ainda bem

que os nossos heróis do campo agora são

high-tech, manipulam joystick, mapeiam

o solo com os drones, planejam safras na

tela e acionam máquinas com a ponta do

dedo. Mas tudo isso é possível porque é

dada a oportunidade de aprender o bê-á-

bá do campo.

Page 123: Cana Online nº22  - Junho 2015

123

Equipes solidáriasPor que em grupo e não sozinho?

RENATA DI NIZO EXPLICA NESTE LIVRO A LÓGICA DO BOM FUNCIONAMENTO

DOS GRUPOS NO AMBIENTE CORPORATIVO, ABORDANDO PONTOS

NEVRÁLGICOS COMO O INDIVIDUALISMO E A DESCONSIDERAÇÃO

DO OUTRO. PARA ELA, SOMENTE OS LAÇOS SOLIDÁRIOS MOBILIZAM

A SOLIDARIEDADE NECESSÁRIA AO BOM DESEMPENHO

A partir de constantes mudanças, avanços

tecnológicos e forte necessidade de ino-

vação, o universo corporativo virou uma

torre de babel, impondo às empresas um am-

biente multicultural. Diante desse cenário é pre-

ciso estimular uma ética comportamental capaz

de valorizar o semelhante e, incondicionalmen-

te, ser receptivo às distintas culturas, ao outro,

ao grupo, à integração. Segundo Renata Di

Nizo, garantir um clima aberto à cooperação

é condição de sobrevivência necessária à na-

tureza intrínseca da inteligência coletiva. No

livro Equipes solidárias – Por que em grupo

e não sozinho? (120 p., R$ 39,80), lançamen-

to da Summus Editorial, ela faz uma refle-

xão sobre a necessária transição do mundo

individualista para aquele em que os gru-

pos são possíveis, mesmo diante da con-

tínua dualidade entre real e virtual. Para

ela, somente os laços solidários mobili-

zam o bom desempenho no ambiente corporativo.

“Sabe-se hoje que uma boa política de cargos e salários não é suficiente para re-

ter talentos”, afirma Renata. Segundo ela, as empresas reconhecem a importância de ter

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uma pessoa inovadora? Como

se comporta um gestor de

ideias? De que maneira fomen-

tar a geração de ideias em gru-

po? O primeiro passo, segundo

Renata, é adotar uma atitude

responsável para romper as re-

sistências e propor, incansavel-

mente, um olhar de descoberta

sobre a realidade.

Partindo da dinâmica dos

grupos de ajuda mútua – como

Alcóolicos Anônimos, Tabagis-

tas e Mulheres que Amam De-

mais Anônimas, entre outros

–, a autora explica a lógica do

bom funcionamento grupal no ambiente

corporativo. Baseando-se em leis e pre-

missas que orientam e auxiliam indi-vídu-

os que não teriam sucesso sem o apoio

dos pares, ela aborda pontos nevrálgicos

que atingem as organizações, como o indi-

vidualismo e a desconsideração do outro.

Segundo Renata, alguns gaps comporta-

mentais incidem negativamente no de-

sempenho das equipes e, por conseguin-

te, no resultado dos negócios. “Por mais

que se busquem novas estratégias de ges-

tão de pessoas, é importante saber como

motivá-las. Promover um foco comparti-

lhado de propósito não basta”, afirma.

A autora mostra que assegurar uma

cultura de valor norteada por uma pers-

pectiva ética e pelo princípio da responsa-

bilidade é uma estratégia clara e simples

uma proposta estruturada que assegure o

engajamento – o vínculo afetivo, a vonta-

de de ir além, o entusiasmo pelo trabalho

e pela organização. Para que isso se con-

cretize, diz ela, nada confere tanto peso

como a liderança se importar genuina-

mente com o desenvolvimento das equi-

pes e de cada pessoa. “Sustentar a força

grupal que move montanhas é remar a fa-

vor da diversidade”, complementa a au-

tora, lembrando que a criatividade das

pessoas está intimamente relacionada à

qualidade dos relacionamentos.

Dividida em seis capítulos, a obra

mostra que o grande desafio é a mudança

cultural. Na avaliação da autora, uma cul-

tura de inovação exige valores e atitudes

condizentes, demanda traduzir em miú-

dos o comportamento inovador. O que faz

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que implica direção e, consequentemente,

visão de futuro. Em função do dinamismo

do mercado globalizado, ações comuns e

colaborativas tornam-se mais ágeis e ca-

pazes de antecipar respostas, assegurando

uma vantagem competitiva. “Essa sincro-

nia essencial depende de relacionamento,

ajuda mútua e integração. Daí a necessi-

dade de fortalecer constantemente os vín-

culos de confiança e a comunicação face a

face”, explica. Trata-se, diz ela, de garantir

uma cultura de inovação que depende da

gestão de conhecimento, ou seja, aprendi-

zagem decorrente de um processo contí-

nuo de interação.

Por que em rede e não sozinho? Se-

gundo Renata, o potencial colaborativo,

por meio de redes de inovação entre indiví-

duos e entre empresas, parece fornecer res-

postas mais adequadas

às demandas ambientais.

Em vista disso, pessoas e

organizações estão inter-

ligadas por um conjun-

to de relacionamentos e

redes que surgem, com

base em elos de confian-

ça, como uma linguagem

de vínculos. É uma ma-

neira compartilhada de

interagir com a realida-

de, de enxergar e explo-

rar limitações, diferenças

e distintos aspectos de

um problema. “A eficiên-

cia e a eficácia do capital social dizem res-

peito aos processos e às dinâmicas grupais,

à qualidade de relacionamento e à comu-

nicação. Para tanto, é fundamental a troca

de experiências, a disseminação de estraté-

gias, informações e conhecimentos”, expli-

ca a autora.

Para ela, cada indivíduo necessi-

ta, diariamente, renovar seu propósito,

ver reconhecidos seus esforços e celebrar

suas conquistas. Sustentar uma visão com

metas claras e persegui-las sem esmore-

cer – o que pode ser um desafio hercúleo,

às vezes solitário. Por isso a importância

da força grupal, do clima de cumplicida-

de, possível graças aos vínculos solidá-

rios. Estes, por sua vez, só existem quando

há transparência e confiança. “Trata-se, na

verdade, do estímulo ao diálogo: conhe-

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A autora

Renata Di Nizo

formou-se pela

tradicional Es-

cola Superior

de Arte Dramá-

tica de Barcelo-

na. Em seguida, dedicou-se à pesquisa e

à experimentação da criatividade em gru-

pos, no Instituto de Ciências da Educação

da Universidade Central de Barcelona. Em

Paris, estudou teatro com Augusto Boal e

juntou-se a outros educadores, empenha-

dos em fomentar metodologias arrojadas.

Estudou criatividade em Paris com o so-

ciólogo Guy Aznar e dinâmica e funcio-

namento de grupos na pós-graduação da

Sociedade Brasileira de Dinâmica de Gru-

pos e Coaching Integrado (International

Coaching Institute). Em 2000, criou a Casa

da Comunicação, empresa especializa-

da em soluções de aprendizagem que vi-

sam estimular a expressão criativa e o diá-

logo multicultural, repensar velhas formas

de fazer as coisas e buscar outras melho-

res, inovando – em conjunto – continua-

mente. Sua prática profissional inspirou e

embasou diversos livros, que constituem

importantes subsídios para o desenvolvi-

mento de competências de comunicação

e criatividade.

Título: Equipes solidárias – Por que em grupo e não sozinho?

Autora: Renata Di Nizo

Editora: Summus Editorial

Preço: R$ 39,80 (Ebook: R$ 25,30)

Páginas: 120 (14 x 21 cm)

ISBN: 978-85-323-1018-7

Atendimento ao consumidor: (11) 3865-9890

Site: www.summus.com.br

cer e dar-se a conhecer”, conclui Renata.

A obra inclui depoimentos de fun-

cionários dos mais diversos escalões que

participaram de treinamentos em Recur-

sos Humanos conduzidos pela autora.

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