Trabalho realizado: Rafaela V. Nº15 Sandra G. Nº20 Tomás Nº22.
Cana Online nº22 - Junho 2015
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1
2 Junho · 2015
3
Clivonei Roberto [email protected]
Luciana [email protected]
CÁ ENTRE NÓS
Nesta época de crise, um dos as-
suntos mais quentes é: como ob-
ter uma renda extra?
Segundo especialistas no assunto,
não basta saber como gerar renda extra,
tem que por a mão na massa! Realizar no-
vas experiência, como serviços adicionais,
nova profissão, fora do horário de expe-
diente normal, diferentemente do seu pla-
no A, de seu trabalho ou atividade tradi-
cional, para então poder gerar uma renda
extra.
Quer dizer que gerar renda extra
nada mais é do que um negócio como ou-
tro qualquer e, como tal, requer esforço,
dedicação, trabalho, investimento e suor.
Normalmente o que dá mais certo é cons-
truir um negócio dentro do próprio ne-
gócio, ou seja, incrementar alguma parte
de sua atividade que não está sendo bem
aproveitada e que tem potencial para ge-
rar essa renda extra.
Nesta edição trazemos dois exem-
plos de oportunidade de renda extra. Um
deles é a dobradinha amendoim/cana. Cul-
tivar amendoim em áreas de renovação de
canavial não é novidade, mas a evolução
na cultura do grão e o aumento dos be-
nefícios agronômicos
como os com a meio-
si, tornam mais atra-
ente esse consórcio.
A outra opção
de renda extra que
está dominando o se-
tor é o recolhimen-
to de palha de cana,
para fins como gera-
ção de energia, etanol
de segunda geração,
produção de pelle-
tes, alimentação para
o gado, ou comercialização de biomassa.
O melhor é que a busca por renda
extra, além de reforçar o caixa, impulsio-
na o setor a inovar, se redescobrir, a criar. É
assim que o negócio se torna sustentável.
Renda extra para o setor de cana!
Capa
Não é fogo de palha!
Holofote- Qual valor estimulará o setor
a investir em bioeletricidade?
Tendências- A suinocultura até o final
do ano: ventos a favor,
mas com turbulências
Especial Amendoim- O amendoim é
parte do pacote
sustentável da cana
ÍNDICE
Especial Amendoim- O amendoim começa pela semente
Segurança- É fogo!!!
Insectshow- Sphenophorus ganha
status de principal praga
nos canaviais de São Paulo
Editores: Luciana [email protected]
Clivonei Roberto [email protected]
Redação: Adair [email protected]
Leonardo [email protected]
MarketingRegina Baldin
Editor gráficoThiago Gallo
Tecnologia Industrial- Mais impurezas
e mais palha,
como fica a indústria?
Logística- Área de suprimentos requer
uma logística redonda
Economia- “Setor canavieiro precisa
se organizar, do campo ao
banco”, dizem especialistas
Gestão de Pessoas- O bê-á-bá do campo
Dica de Leitura- Equipes solidárias
Por que em grupo e não sozinho?
Aproveite melhor suanavegação clicando em:
Áudio LinkFotosVídeo
Entre em contato:Opiniões, dúvidas e sugestões sobre a re-vista CanaOnline serão muito bem-vindas:Redação: Rua João Pasqualin, 248, cj 22Cep 14090-420 – Ribeirão Preto, SPTelefones: (16) 3627-4502 / 3421-9074Email: [email protected]
www.canaonline.com.br
CanaOnline é uma publicaçãodigital da Paiva& Baldin Editora
6 Junho · 2015
7
interessante. Acaba sendo um incentivo
para o gerador.
Onorio Kitayama, consultor e um
dos maiores especialistas no tema
Perto de R$ 300 o MWh
Na Paraíba, três empresas estão inscri-
tas como termoelétricas (Japungu,
Miriri e Giasa), mas têm preferido destinar
energia para irrigar os canaviais. Somente a
Giasa é conectada ao Sistema Elétrico Na-
cional. Mas com preço próximo a R$ 300 o
MWh, a geração de energia passaria a ser
atrativa para as usinas do estado, que hoje
destinam o que sobra do bagaço para ou-
tras finalidades, como ração animal.
Edmundo Barbosa, presidente
do Sindálcool-PB
Mínimo de R$ 330,00 por MWh
Entendemos que hoje o patamar ideal
de preço para a energia da biomassa da
Em torno de R$ 280,00
Baseado em algumas premissas de al-
gum tempo atrás, acredito que seja
remunerador um teto no leilão de R$ 280.
Mas a dificuldade é a obtenção de cré-
dito. Já bancar a linha de transmissão é
uma questão polêmica. A implantação de
um projeto de cogeração precisa ter via-
bilidade técnica e econômica. O empre-
sário tem que considerar o investimento
na térmica e na conexão. O projeto é vi-
ável se levar em consideração a distân-
cia do ponto de conexão. Se a usina está
a 50 km, 60 km da conexão, não pode
ter um projeto de apenas 12 MW ou de
15 MW. Para ser viável, tem que gerar 50
MW, 80 MW. Mas se levamos em conta os
projetos das Hidroelétricas de Santo An-
tonio e Jirau, a linha básica vai até per-
to de Porto Velho. Os pontos de conexão
para as duas usinas ficam próximos, por-
que o pessoal do setor elétrico já sabia
que tinha que brigar por
isso. Sobre a proposta
de dividir o investi-
mento com a cone-
xão em três (entre
governo, conces-
sionária de energia
e gerador), pode ser
8 Junho · 2015
cana, que viabilize boa parte dos projetos
de bioeletricidade das usinas do país, é de
no mínimo R$ 330,00 por MWh. Para esti-
mular a bioeletricidade, falta uma visão de
longo prazo e a valorização das vantagens
de menor investimento e perdas em trans-
missão. Apesar dos avanços já verificados
nas políticas voltadas à eletricidade advin-
da da biomassa, a maioria das empresas su-
croenergéticas não tem interesse em parti-
cipar dos certames de energia. No Leilão
A-5, que ocorreu no final de abril, poucos
projetos de energia de biomassa participa-
ram. A tarifa girou em torno de R$ 278,50
por MWh. Mas entendemos que este é um
nível de tarifa que começa a fazer sentido
para a expansão da cogeração no setor su-
croenérgetico. Caso nos próximos leilões
de energia térmica sejam definidos valores-
teto em torno de R$ 300 por MWh é espe-
rado que aumente a viabilidade de novos
projetos de energia de biomassa.
Plínio Nastari, presidente
da Datagro Consultoria
Cada unidade tem uma realidade
É difícil ter preço-teto padrão, pois cada
usina tem uma eficiência de proje-
to. Não é simples fazer esse cálculo, uma
vez que o setor é bastante heterogêneo
e cada unidade tem sua realidade. O re-
sultado do Leilão A-5 [do final de abril de
2015] não foi frustrante, já que os projetos
já são cadastrados anteriormente e havia
poucos projetos de biomassa cadastra-
dos. Porém, o mais impor-
tante é que a política volta-
da à biomassa nos próximos
leilões seja mantida e conti-
nue sendo aprimorada,
para que possamos
ter o estímulo do
aproveitamen-
to da palha e de
projetos retrofit.
Zilmar
de Souza,
gerente de
bioeletricidade
da Unica (União
da Indústria de
Cana-de-açúcar)
HOLOFOTE
9
Bioeletricidade em Minas Gerais
No Leilão A-5, que ocorreu no final de
abril, o preço foi interessante para a
energia da biomassa, próximo de R$ 280
por MWh. Acreditamos que nesses pre-
ços, diversos projetos possam ser viabili-
zados. Em Minas Gerais existem 37 usinas
em operação, das quais 19 vendem ener-
gia para o sistema elétrico. A capacida-
de instalada de geração de energia de to-
das as usinas do estado soma cerca de 6%
do parque gerado de MG. Em 2014 foram
produzidos 3 milhões de MWh, dos quais
1,85 milhões foram vendidos ao sistema, e
o restante utilizado na fabricação de açú-
car e etanol.
Mário F. Campos Filho, presidente da
SIAMIG (Associação das Indústrias
Sucroenergéticas de MG) e economista
Alta Mogiana: aposta na cogeração
As usinas de açúcar e etanol, no ge-
ral, enxergaram como algo importan-
te e estratégico para o negócio aumentar
a participação da energia em seu portfó-
lio. É o caso da Alta Mogiana, que comer-
cializa entre 150 mil e 180 mil MW por
ano, dependendo do nível da moagem.
Para isso, investimos muito em cogera-
ção nos últimos anos. Sobre isso, acredito
numa régua superior a R$ 200 por MW/h.
Acima disso começa a viabilizar alguns in-
vestimentos de médio e longo prazo, mas
não em grande escala ainda. Para termos
investimentos em escala representativa,
precisaríamos de algo a partir de R$ 250/
MWh.
Luiz Gustavo
Junqueira
Figueiredo,
diretor
comercial da
Usina Alta
Mogiana
Uma solução para a conexão
Acredito que as tarifas aplicadas nos úl-
timos leilões, e precisamente no último
[de abril deste ano] foi uma tarifa que sim
pode arregimentar um bom número de pro-
jetos futuros, na casa de R$ 281. Uma ou ou-
tra que precisa de valores acima de R$ 300,
R$ 320 para que o investimento se viabilize.
Muito embora, várias empresas estejam sem
condições de buscar novos financiamentos.
Estão muito alavancadas. No estado de SP,
a Cogen fez nos últimos seis meses um le-
vantamento com alguns grupos. Segundo o
10 Junho · 2015
governo tem reclamado que realiza os lei-
lões e as usinas não vendem energia. Com
o valor de R$ 280, do último leilão, é pos-
sível que investimentos aconteçam. Mas o
maior problema é que governo exige que
a usina faça toda a conexão. Mas com esse
preço, não se consegue fazer isso. Com
esta tarifa a usina precisa fazer um investi-
mento alto na planta, depois precisa arcar
com a linha de transmissão, e depois ainda
é obrigada a doar a linha. Cada quilôme-
tro de linha de transmissão sai por cerca
de R$ 500 mil para a usina. Se a extensão
da linha é de 20 km, por exemplo, imagi-
ne quanto fica essa conta. E o tratamento
com a eólica é diferente. A responsabili-
dade da linha é do governo. Sobre os pró-
ximos leilões de energia [haverá um leilão
A-3 em 24 de julho], não acredito que te-
remos evolução. As usinas em si estão em
condições difíceis. Precisam de nova linha
de crédito, com melho-
ria quanto às garantias
reais e recurso inicial
de investimento. Se-
não, pode-se ter até um
preço de energia viável,
mas o empresário não
vai ter condição de fazer
o projeto. Não acredito
que vamos ter muita
surpresa.
Antonio Gilberto
Gallati, diretor
da TGM
estudo, estas unidades poderiam adicionar
entre 750 e 800 MW, além do que já pro-
duzem. Na maioria dos casos, houve grande
dificuldade com a linha de transmissão. Para
estas empresas se incumbirem também da
conexão, precisariam de uma tarifa de valo-
res acima de R$ 300, R$ 320, R$ 330. O que a
Cogen advoga é que Aneel (Agência Nacio-
nal de Energia Elétrica) e o Ministério de Mi-
nas e Energia viabilizem um modelo tripar-
tite de custeio da conexão, sendo um terço
do investimento para o gerador, um terço
para a distribuidora (que no futuro herdará
a linha), e um terço pela sociedade (gover-
no), que terá a vantagem de ter uma ener-
gia renovável. Seria forma de dividir o risco
e mitigar os custos da conexão.
Newton Duarte, presidente executivo
da Cogen (Associação da Indústria
de Cogeração de Energia)
O problema não está apenas no preço da energia
Em abril houve um leilão de energia A-5,
com pequena participação do setor. O
HOLOFOTE
11
12 Junho · 2015
TENDÊNCIAS
A suinocultura até o final do ano: ventos a favor, mas com turbulências
A suinocultura brasileira passou por
momentos difíceis nos anos de
2012 e 2013. Elevada oferta frente
à demanda, retração no consumo, defasa-
gem de preços, alta nos custos de produ-
ção e problemas com os embarques para
o mercado internacional, resultaram em
Ana Malvestio1 e Lara Moraes2
queda na rentabilidade do setor.
Em 2014, a suinocultura apresentou
melhores resultados. Embora os volumes
produzidos pelo Brasil não tenham sofri-
do grandes alterações, a rentabilidade do
setor melhorou bastante. Importantes ex-
portadores como Estados Unidos e alguns
13
países da Europa foram afetados por pro-
blemas sanitários e o preço da carne suí-
na subiu em função da menor oferta mun-
dial do produto.
No mesmo ano, a Rússia aumentou a
compra da carne brasileira, depois do es-
tremecimento das relações com a União
Europeia e Estados Unidos por conta do
conflito com a Ucrânia. Além disso, o cus-
to de produção da carne suína também
contribuiu para o melhor desempenho do
setor. As menores cotações do milho fize-
ram o custo de produção permanecer em
patamares mais baixos.
O que podemos esperar para a sui-
nocultura até o final de 2015? O merca-
do internacional deve dar continuidade
ao ajuste de oferta e demanda que se ini-
ciou em 2014 e com isso os preços da car-
ne suína devem permanecer em patama-
res elevados.
Em relação ao mercado externo, o
dólar valorizado deve contribuir para a ge-
ração de receita com as exportações. Ou-
tro ponto importante é a reabertura do
mercado sul africano que ocorreu no fim
do ano passado. A África do Sul já chegou
a ser o quarto maior destino das exporta-
ções de carne suína do Brasil, mas não con-
sumia a carne brasileira desde 2005, quan-
do restringiu sua entrada devido aos focos
de febre aftosa em bovinos registrados no
14 Junho · 2015
Em relação ao mercado externo, o dólar valorizado deve contribuir para a geração de receita com as exportações
TENDÊNCIAS
Paraná e Mato Grosso do Sul. Com a rea-
bertura, podemos esperar novos negócios
e incremento de volumes comercializados.
Consumo
Do lado do consumo, a demanda
permanece firme, principalmente nos pa-
íses emergentes que apresentam elevado
crescimento populacional e melhora nas
condições de vida. A China, por exemplo,
elevou o seu consumo de carne suína em
3% no ano de 2014 quando comparado a
2013. O Brasil possui alto potencial para a
produção e exportação de carne suína e
a manutenção de uma demanda mundial
elevada é essencial para impulsionar o se-
tor no Brasil.
Desse modo, tudo indica que 2015
será um ano mais animador para a suino-
cultura e que as turbulências que afetaram
o setor em anos anteriores, aparentemen-
te, ficaram para trás. No entanto, alguns
pontos merecem atenção.
Um deles é frequentemente discuti-
do pelos integrantes do setor: o custo de
produção. A ração a base de milho deve
subir de forma moderada em 2015 e, por-
tanto, não deverá se configurar em uma
preocupação para os suinocultores. No
entanto, outros componentes do custo já
tiveram alta nesse ano: ener-
gia, água e combustível. Os
produtores vão precisar ge-
rir o negócio com atenção
para equacionar os seus gas-
tos e evitar possíveis perdas na
rentabilidade.
A Rússia é o maior importador de carne suína do Brasil
15
2Analista sênior do Centro PwC de Inteligência em Agronegócio
1Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas
Outro ponto é o relacionamento do
governo brasileiro com a Rússia, hoje, se-
gundo dados do Ministério da Agricultura
Pecuária e Abastecimento (Mapa), o maior
importador de carne suína do Brasil, res-
ponsável por mais de 50% do valor gera-
do pelas exportações brasileiras. A manu-
tenção do vínculo político e econômico
com este país requer cautela. Não pode-
mos nos esquecer de que, recentemente,
vivenciamos um período de barreiras téc-
nicas e embargos aos frigoríficos impostos
pela Rússia à carne brasileira.
Alerta russo
Adicionalmente, terminada a crise
política entre Rússia, União Europeia e Es-
tados Unidos, o apetite russo pela carne
brasileira pode diminuir. Isso deve aconte-
cer até o fim do ano, quando está previsto
que todos os termos do Acordo de Minsk,
entre Ucrânia e Rússia, estejam implemen-
tados. Com a consolidação do acordo de
cessar-fogo, União Europeia e Estados Uni-
dos pretendem retirar ou abrandar as san-
ções contra o governo russo, o que abriria
novamente as portas da Rússia para a car-
ne desses países.
No cenário interno, a situação eco-
nômica em 2015 não é muito favorável.
De acordo com o Banco Central, a inflação
deve chegar a 8,3% a.a. e o Produto Inter-
no Bruto (PIB) deverá ter uma retração de
1,2%. Esses fatores podem levar a uma di-
minuição do consumo de proteína animal
de forma geral.
Portanto, se de um lado temos pre-
ços e exportações elevados, do outro te-
mos potencial elevação dos custos de
produção, possíveis quedas no consumo
interno e potenciais turbulências na diplo-
macia comercial. Caberá aos produtores e
empresas se prepararem para os riscos do
setor e finalizar mais um ano com um bom
desempenho dentro e fora do país.
16 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
NA BUSCA PELA SUSTENTABILIDADE, A CANA NÃO PODE DESCARTAR O
AMENDOIM, POIS ELE CONTRIBUI AGRONOMICAMENTE,
ECONOMICAMENTE E SOCIALMENTE
O amendoim é parte do pacote sustentável da cana
Cana e amendoim: dobradinha de sucesso
17
APOIO
18 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
O leitor que conhece pouco so-
bre lavoura canavieira pode es-
tranhar o fato de várias páginas
da CanaOnlline destacarem a cultura do
amendoim, uma vez que a revista é diri-
gida à cana-de-açúcar. Mas é que o amen-
doim faz parte do pacote sustentável da
agroindústria canavieira, como diz Ismael
simbiótica de nitrogênio de 30 a 40 Kg/ha
deixados no solo. Gera renda extra ao pro-
dutor e reduz o custo do plantio de cana –
estimativas indicam que cerca de 20% dos
custos de plantio de cana se consegue re-
duzir no composto dos benefícios da ro-
tação com amendoim. Outro ponto que
contribui para o balanço sustentável é que
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
O amendoim é um produto alimentício com diversas vantagens nutricionais
Perina Júnior, produtor de cana e amen-
doim e presidente da Câmara Setorial da
Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool.
A colocação de Perina decorre dos
seguintes fatores: ao plantar amendoim
nas áreas de reforma de cana, a legumino-
sa oferece ganhos agronômicos, como in-
corporação de material orgânico e fixação
a dobradinha cana/amendoim aumenta a
geração de alimentos na mesma área. Essa
prática faz muito bem à imagem da cana.
“Nessa busca pela sustentabilidade, o se-
tor sucroenergético não pode descartar o
amendoim, pois ele contribui agronomi-
camente, economicamente e socialmen-
te”, salienta Perina.
19
20 Junho · 2015
E como o objetivo da CanaOnline é
apresentar soluções que levem ao desen-
volvimento sustentável da cana, o amen-
doim sempre teve espaço em suas pági-
nas. E durante as quatro próximas edições
esse grão terá maior destaque, por meio
do Especial Amendoim, em que traremos
matérias que vão da evolução do cultivo
até os cuidados com cliente final. O Espe-
cial, que conta com o apoio da BASF, terá a
Coplana, a Copercana, a Coopercitrus e o
IAC entre os parceiros de conteúdo.
A recuperação da
cultura do amendoim
Na década de 1970, a produção por
safra de amendoim no Brasil batia a casa
de 1 milhão de toneladas, sendo que par-
te considerável da produção era trans-
formada em óleo. No decorrer dos anos,
a soja foi ocupando as áreas de amen-
doim, afinal, oferecia maior produtivida-
de, maior demanda e, com isso, melhor
remuneração.
Segundo José Arimatéa Calsaverini,
superintendente da Coplana (Cooperativa
Agroindustrial), situada em Jaboticabal, SP,
o amendoim era uma cultura rudimentar,
tinha quantidade, mas não qualidade. Tan-
to que, na década de 1980, o amendoim
desabou de vez, quando se constatou que
o produto brasileiro era pouco controla-
do. “Tinha condições sanitárias péssimas e
índices de aflotoxina (fungo tóxico, nocivo
Cerca de 80% da produção de amendoim no País está estabelecida em áreas de rotação com canavial e pastagens
RA
FAEL
MER
MEJ
O -
CO
PER
CA
NA
ESPECIAL AMENDOIM
21
APOIO
ao ser humano e animais) não toleráveis.
Com isso, a cultura do amendoim chegou
ao fundo do poço: caiu de 1 milhão de to-
neladas para 150 mil toneladas.”
Não foi fácil, mas veio a retomada.
cultura do amendoim renascesse ao longo
dos últimos doze anos, saltando de 150
mil toneladas para cerca de 376 mil tone-
ladas (367 mil no plantio de água e 9 mil
no plantio de seca) na safra 2014/15. Em
Agricultores, cooperativas, indústria, pes-
quisadores e fabricantes de máquinas se
uniram. Uma conjunção de fatores, como
variedades produtivas, controle sanitário
e adoção da mecanização, permitiu que a
relação à temporada anterior, a atual safra
deverá registrar um incremento de 40% na
produção e 24% na produtividade média.
A pesquisadora do IEA (Instituto de Eco-
nomia Agrícola), Renata Martins, explica
Plantio mecanizado de amendoim
22 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
que, no ano passado, a produção foi me-
nor devido ao clima mais seco. O rendi-
mento médio das lavouras, que era de 3
mil quilos por hectare, recuou para 2.721
mil quilos na safra passada.
“Essa é uma safra de recuperação,
com a retomada da produtividade das
plantações. Nesse ciclo, o clima contribuiu
para o bom desenvolvimento das lavou-
ras. Também tivemos um aumento de 13%
na área cultivada com amendoim, princi-
palmente em áreas de renovação de ca-
naviais e pastagens”, afirma Renata. O Es-
tado de São Paulo, historicamente, é o
principal produtor nacional, com partici-
pação de 85% do total. E cerca de 80% da
produção de amendoim no País está esta-
belecida em áreas de rotação com cana e
pastagem.
Inovações tecnológicas
impulsionam a
cultura do amendoim
O IEA destaca que na última década,
a cultura do amendoim tem experimenta-
do a ampliação dos volumes de produção,
impulsionada principalmente pelos ga-
nhos em produtividade. Segundo os pes-
quisadores do IEA, essa dinâmica encon-
tra referências nas mudanças tecnológicas
e institucionais incorporadas à produção
que, também, se estenderam ao beneficia-
mento e processamento do grão com ga-
nhos em qualidade.
IAC liberou quatro variedades da cultura nos últimos cinco anos
23
24 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
O engenheiro agrônomo e respon-
sável técnico comercial da Coopercitrus
- Monte Alto, Daniel Pierre Vitória, afir-
ma que, sem dúvidas, houve uma evolu-
ção significativa e positiva no manejo da
cultura do amendoim. Ele conta que o de-
senvolvimento de novas tecnologias no
setor de máquinas e insumos aprimora-
ram a eficiência do trabalho do produtor
rural, que, em alguns casos, se profissio-
nalizou, tornando-se um empresário ru-
ral estruturado com visão macro da cul-
tura. “Ao longo dos últimos anos, houve
grandes investimentos por parte de di-
versas empresas multinacionais de defen-
sivos na forma de pesquisa e registro de
novas moléculas para a cultura do amen-
doim, tornando o manejo mais eficiente e,
consequentemente, menos agressivo ao
meio ambiente”, diz.
Segundo ele, uma dessas empre-
sas é a alemã BASF, que possui um am-
plo portfólio para a cultura, desde o trata-
mento de semente com o STANDAK TOP,
que mantém o stand nos primeiros mo-
mentos de arranque da cultura; o PLATE-
AU, um herbicida padrão de mercado para
o controle de plantas daninhas; o OPERA,
fungicida indispensável no manejo e rota-
ção de produtos, evitando resistência dos
fungos; e o OPERA ULTRA, uma evolução
no controle de doenças fúngicas. “Ainda
IAC OL3: mais ajustado ao período de renovação dos canaviais (125-130 dias)
AR
QU
IVO
IAC
25
APOIO
fazem parte desse portfólio uma varieda-
de de inseticidas de vários grupos quími-
cos que se encaixam e auxiliam no contro-
le das pragas”, salienta.
“Outras soluções da Basf estão che-
gando, como o ORKESTRA”, informa Pier-
re Vitória, explicando que o novo produ-
to se trata de um fungicida resultante da
mistura de piraclostrobina com uma nova
molécula fluxapiroxade, que promete tra-
zer grandes resultados para a cultura.
Novas variedades
As pesquisas de melhoramento ge-
nético é parte fundamental para a recu-
peração da cultura do amendoim. Visan-
do o desenvolvimento de variedades que
atendam às necessidades da produção
agrícola e do processamento industrial do
amendoim, o Instituto Agronômico (IAC)
da Secretaria de Agricultura e Abasteci-
mento do Estado de São Paulo, liberou
quatro variedades da cultura nos últimos
cinco anos. O pesquisador do IAC, Igná-
cio José de Godoy, conta que todas são do
tipo rasteiro e de alto potencial produtivo.
“Elas possuem em comum a característica
‘Alto oleico’. Grãos com alto teor deste áci-
do graxo conferem ao produto uma maior
resistência à rancificação, prolongando o
Arranquio dos pés de amendoim
26 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
seu tempo de armazenamento”.
Duas das variedades (IAC OL3 e IAC
OL4) têm ciclo mais ajustado ao período
de renovação dos canaviais (125-130 dias).
Já as outras duas (IAC 503 e IAC 505) são
de ciclo mais longo (130-140 dias), mas
têm como vantagem a menor suscetibili-
dade da cultura às doenças foliares, pro-
piciando maior estabilidade de produção.
Para o futuro, o Instituto tem traba-
lhado em duas linhas alternativas no de-
senvolvimento de novas variedades: ob-
tenção de plantas com ciclo inferior a 130
dias e resistência a doenças foliares, ne-
matoide e ao vírus “vira cabeça”, uma do-
ença emergente na cultura do amendoim.
Atualmente, são plantadas no Estado de
São Paulo de sete a oito variedades, das
quais, seis são IAC.
Cultura altamente
mecanizada
E é na mecanização que se encontra
uma das grandes evoluções da cultura ao
longo dos últimos anos. Fato esse que re-
volucionou o manejo e abriu novos hori-
zontes para a expansão e exploração de
grandes áreas. Atualmente, grande par-
te dos produtores ainda faz o plantio de
amendoim de forma tradicional. Na hora
do preparo de solo é realizada uma ou
duas gradagens pesadas e outra a fim de
nivelar o terreno. Em algumas situações,
é feita, também, uma subsolagem, com o
objetivo de deixar o solo destorroado para
não haver impedimento para a semente
germinar. O pesquisador Godóy conta que
há uma tendência de que, num futuro pró-
ximo, o plantio seja feito sobre a palhada
da cultura anterior (plantio direto ou cul-
tivo mínimo).
O agrônomo da Coopercitrus obser-
va que, na região abrangida pela Coope-
rativa, localizada em Bebedouro, SP, é co-
mum encontrar produtores que plantam
100 e 150 alqueires, sendo que alguns
Após o arranquio, entra a colhedora
27
APOIO
chegam a mais de 700. “E tudo isso com
pouca mão de obra. Praticamente com
operadores de máquinas e motoristas.”
Ocorre que as atuais máquinas pos-
suem um nível tecnológico bastante gran-
de, sendo que ainda continuam em cons-
tante evolução. A quantidade de ruas
que se consegue colher hoje, por exem-
plo, já é três vezes maior do que há al-
guns anos. Porém, existem alguns proces-
sos que ainda devem ser melhorados. O
arranquio, por exemplo, depende de fato-
res nos quais o agricultor não pode con-
trolar, como a época de colheita atrasada
por causa das condições climáticas adver-
sas. Isso acarreta uma grande quantidade
de vagens que ficam no solo, reduzindo a
produtividade. “Seria um sonho se existis-
se uma máquina que recolhesse essas va-
gens do solo”.
Atualmente, a colheita do amendoim
se dá em duas etapas. A primeira é o ar-
ranquio, feito com arrancadores/inverte-
dores que arrancam as plantas com lâmi-
nas que seccionam as raízes logo abaixo
da região das vagens, elevam as plantas
em uma esteira e as colocam novamente
no solo, porém, invertidas (com as vagens
voltadas para cima). Já o recolhimento das
plantas e despendoamento das vagens
é feito com uma máquina colheitadeira.
Lembrando que, para que esta operação
atinja uma boa qualidade, ela deve ser fei-
ta após um determinado número de dias
de exposição das plantas recém-arranca-
das, ao sol (“cura”).
Mas uma boa colheita não depen-
de apenas das máquinas. Ignácio José de
Godoy, do IAC, afirma que a boa condi-
ção (vigor e sanidade) das plantas é um
fator determinante, assim como a qualida-
de e boa regulagem dos equipamentos. “A
má qualificação do operador e os terrenos
de topografia irregular, ou que não foram
bem preparados, também podem prejudi-
car as operações de colheita.”DIV
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28 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
O amendoim começa pela semente
O SUCESSO DO CULTIVO DE AMENDOIM É ALTAMENTE DEPENDENTE
DE UMA BOA SEMENTE. POR ISSO, SÃO FUNDAMENTAIS O
TRATAMENTO CORRETO E OS CUIDADOS NO PLANTIO
Plantio de amendoim: é fundamental que seja com sementes tratadas
RIC
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DO
CA
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LHO
Luciana Paiva e Clivonei Roberto
Quando os portugueses chegaram
ao Brasil, o amendoim era um
dos poucos alimentos cultivados
pelos índios, junto com a mandioca, o mi-
lho, a batata, o cará e o inhame. Era sabo-
reado cru, assado ou cozido e ainda havia
a extração do óleo e, por isso, era cobi-
çadíssimo, conforme ressalta Luís Câma-
ra Cascudo em “História da Alimentação
no Brasil” (Editora Global, 1967). O grande
mestre da cultura nacional ainda registra
uma interessante particularidade do ritu-
al de cultivo do amendoim: por ser muito
delicado e de difícil germinação, seu plan-
tio só podia ser feito por mulheres e, além
disso, a planta tinha de ser semeada e co-
lhida pela mesma mulher, índia ou mesti-
ça. Vigorava a crença de que, se o homem
tocasse na planta, arruinaria a colheita.
Há quase 60 anos, o produtor rural
29
APOIO
rotação de cultura nas áreas de reforma de
seus canaviais. Além disso, planta amen-
doim em terras arrendadas pelos lados de
Bonfim Paulista e Cravinhos.
Leonel, que já ajudou muito o pai a
arrancar as ramas de amendoim à mão pe-
los idos dos anos de 1950, fala com admi-
ração das máquinas que passaram a do-
minar a lavoura, cada vez maiores e mais
potentes, com grande velocidade. Todo
ano, Leonel cultiva ao todo entre 50 e 60
alqueires com amendoim. “Um tempo
atrás até plantávamos mais. Hoje estamos
tendo mais dificuldade para as usinas libe-
rarem área.”
Desde 1980, a produtora rural Car-
Otávio Antonio Leonel, também conheci-
do por Vicão, planta amendoim. Por sorte,
quando entrou na atividade não vigorava
mais o ritual indígena de cultivo do grão,
mas persistia a fama de que o amendoim
era enjoado para nascer, apresentava mui-
tas falhas e muitos dos pés que germina-
vam não tinham vigor, produziam pouco e
geravam grãos raquíticos.
O interior paulista é responsável por
80% do amendoim produzido no Brasil.
A região de maior destaque é a de Ribei-
rão Preto, onde o grão é cultivado nas áre-
as de renovação com cana. Leonel produz
cana nos municípios de Dumont, Guata-
pará, Pradópolis e cultiva amendoim em
Otávio Antonio Leonel: satisfeito com a evolução tecnológica na cultura do amendoim
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30 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
men Izildinha Penariol acompanha a cul-
tura de amendoim, é tradição de família.
Conta que, quando começou, a lavoura
era muito diferente, todo o processo era
manual. Lembra que cabia a ela a negocia-
ção com catadores de amendoim e com
os saqueiros. Agora o processo é todo me-
canizado. Este ano, Izildinha e seus sócios
plantaram 420 hectares com amendoim,
entre terras próprias e arrendadas, tudo
em área de renovação com cana, a maioria
em Jaboticabal. Mas Izidinha diz que a re-
dução na disponibilidade de terra por par-
te das usinas levou-os a cultivar áreas mais
distantes, para os lados de Santa Ernestina
e São Lourenço do Turvo.
Tanto Leonel como Izildinha lamen-
tam a redução de áreas para amendoim,
mas elogiam a incorporação da tecnolo-
gia pelos amendoinzeiros, não apenas na
mecanização das operações, mas princi-
palmente na parte de fitossanitários, pois o
amendoim começa por uma semente sadia.
A semente do amendoim sob
o ataque de pragas e doenças
Entre os componentes de produção
dessa cultura destaca-se a qualidade das
sementes utilizadas na implantação da la-
voura. As sementes de amendoim apre-
sentam frequentemente baixos percentu-
ais de germinação e vigor, em função de
suas características químicas e estruturais
e das condições de cultivo, maturação, co-
lheita e pós-colheita
Muitas doenças e pragas danificam a
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Cultura do amendoim se dá 80% em área de renovação de cana
31
APOIO
semente do amendoim no plantio. Consi-
derando que, para o produtor formar a la-
voura da cultura, 37% do custo é com se-
mente, esse problema traz grande prejuízo
pela queda de produtividade que ocasio-
na. Mauro Cottas, da área de Desenvolvi-
mento de Mercados da BASF, explica que
no plantio, vão de 130 a 150 quilos de se-
mente por hectare e o preço do quilo da
semente está em torno de R$ 4. A menor
germinação também significa perda de
investimento. E o amendoim demora em
torno de oito dias para emergir do solo, fi-
cando todo esse tempo sob a ação de pra-
gas e patógenos.
Diversos são os tipos de danos cau-
sados por pragas e doenças às sementes,
destacando-se as perdas de peso, de pu-
reza física e da qualidade fisiológica. Estes
consomem os tecidos de reserva e o em-
brião, determinando a perda de matéria
seca indispensável para as atividades vi-
tais. Além disso, a simples injúria no tegu-
mento pode favorecer o desenvolvimento
de micro-organismos e provocar um au-
mento na atividade respiratória das se-
mentes armazenadas, com consequente
redução de vigor.
Tratamento de sementes
Mauro Cottas recomenda sempre o
uso de sementes de alta qualidade (ger-
minação e vigor), pois o sucesso do culti-
vo de amendoim é altamente dependente
de uma boa semente.
É por isso que a Cooperativa Agroin-
Em dia de Campo, Mauro Cottas fala sobre o portfólio BASF dirigido à cultura do amendoim
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32 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
dustrial (Coplana), em Jaboticabal, criou o
Programa de Qualidade Semente Coplana.
Fundada em 1963, a cooperativa era fo-
cada principalmente na cultura canavieira,
mas em 1987 iniciou o estímulo à cultura
do amendoim com a agregação de valor
ao cultivo, mecanização no campo, pes-
quisa sobre novas variedades e uso de tec-
nologia no beneficiamento.
A dedicação à lavoura de amendoim,
levou a Coplana a ser a maior produtora
do grão do Brasil, com cerca de 160 pro-
dutores que o cultivam nos Estados de São
Paulo, Minas Gerais e Tocantins. A estima-
tiva da safra brasileira de amendoim em
2015 é de produção superior a 500 mil to-
neladas, produzidas em uma área de plan-
tio em torno de 130 mil a 150 mil hecta-
res. A produção paulista foi entre 430 mil
a 450 mil toneladas, sendo que a Copla-
na produziu 82.250 toneladas (amendoim
em casca, seco e limpo), em uma área de
22.800 hectares.
A Coplana implantou o processo de
rastreabilidade que envolve o cultivo e o
processamento do amendoim, a começar
pela seleção da semente certificada, que
obedece ao Programa de Qualidade Se-
mente Coplana. Segundo Stael Bessa Tei-
xeira da Cunha, gerente do projeto Se-
mentes da Coplana, o objetivo é oferecer
sementes com alta qualidade, para que a
cultura do amendoim alcance o mesmo
nível das sementes de milho e soja, com
total pureza genética.
Nesta safra, Izildinha e seus sócios
colheram 66.800 sacas de 25 quilos de
amendoim, a produção é inteiramente en-
tregue na Coplana, e destinada à prepara-
ção de semente. A Cooperativa conta com
a produção de outros cinco produtores de
“Semente de Amendoim”. Para o plantio
Unidade de grãos da Coplana, em Jaboticabal
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33
Stael, especialista em tratamento de sementes
APOIO
da próxima safra, Izildinha e seus sócios
reservaram 5.000 sacas. “Todo produtor
de amendoim da Coplana utiliza semen-
te tratada, é uma das garantias da sanida-
de do produto. O amendoim da Coplana é
rastreado”, salienta Izildinha, que integra a
direção da cooperativa.
Com a rastreabilidade é possível co-
nhecer etapas do plantio até a entrega do
produto no destino final. O cliente ob-
tém informações sobre a origem da maté-
ria-prima, insumos utilizados, registros de
qualidade e movimentação desse produ-
to. A Coplana é a maior exportadora de
amendoim do Brasil, responsável por mais
de 40%. No ano passado, exportou 32 mil
toneladas de amendoim em grão. A quali-
dade do amendoim nacional está entre as
melhores do mundo, ao lado do produto
norte-americano. A China e a Índia são os
maiores produtores, porém, com qualida-
de inferior.
A gerente do projeto Sementes da
Coplana informa
que é oferecido ao
produtor de amen-
doim da Coplana
um pacote tecno-
lógico que inclui as
sementes tratadas. O tratamento quími-
co de sementes é uma das técnicas mais
utilizadas na agricultura atual. O seu prin-
cípio baseia-se na existência de produtos
eficientes contra os alvos que se deseja
atingir, que apresentam baixa fitotoxicida-
de e sejam pouco tóxicos ao homem e ao
ambiente. Stael explica que os amendoins
que consumimos são denominados grãos,
já os que são utilizados no plantio são se-
mentes selecionadas e tratadas quimica-
mente com produtos para proteção sani-
tária (fungicidas), proteção de plântulas
(inseticidas) e bioestimulantes.
Desenvolvimento fitotécnico
em prol do amendoim
Mauro Cottas salienta a importância
que a BASF direciona ao amendoim, ofe-
recendo o maior portfólio do mercado de
produtos dirigidos à essa cultura. Nessa
fase de tratamento de sementes, Cottas
destaca o Standak® Top, uma mistura pron-
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34 Junho · 2015
ESPECIAL AMENDOIM
ta contendo o inseticida Fipronil, do grupo
pirazol, e os fungicidas Piraclostrobina do
grupo das Estrubirulinas e Metil Tiofana-
to do grupo dos Benzimidazois. O produto
é seletivo para amendoim, e quando utili-
zado em tratamento de sementes protege
as plântulas contra o ataque de pragas, e
fungos de sementes no período inicial de
desenvolvimento da cultura. “A proposta
do Standak® Top é evitar os estresses ini-
ciais no desenvolvimento da planta, acele-
rando o arranque, mantendo número ide-
al de plantas por hectare e promovendo
maior engalhamento. Tem longo poder re-
sidual, protegendo a planta até os primei-
ros 25, 30 dias”, diz.
Stael reconhece a eficiência do Stan-
dak® Top. “Oferece uniformidade de ger-
minação, garante manutenção do stand e
maior rapidez no arranque das plântulas”,
salienta. O produtor Leonel conta que uti-
liza muito os produtos da BASF. “Fungi-
cida aplicamos o Opera®. Já o Plateau® é
um herbicida seletivo importantíssimo no
combate das ervas daninhas do amendoim.
E com Standak® Top, praticamente não per-
demos semente. O stand é bem uniforme,
além de ajudar no enraizamento. Também
parece que o amendoim ganha mais vigor.”
Mauro Cottas explica que esse maior
vigor é devido aos benefícios do AgCe-
lence®, resultado de efeitos fisiológicos
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Não mão direita a semente de amendoim; na esquerda, a semente tratada (mais vermelha com a inserção do inseticida, fungicida e bioestimulante)
35
APOIO
da piraclostrobina na planta, que ofere-
ce maior rapidez no estabelecimento da
cultura, melhor desenvolvimento do sis-
tema radicular e alto índice de área foliar.
Ele explica que na cultura do amendoim
os benefícios AgCelence® provenientes
do Standak® Top podem ser divididos en-
tre vantagens operacionais e diferenciais
agronômicos. A vantagem operacional se
dá pelo longo período em que é possí-
vel utilizar o produto sem que este inter-
fira ou altere o poder germinativo da se-
mente. E o grande diferencial agronômico
é relacionado à alta eficiência no controle
das doenças e pragas de solo, que pode-
rão causar perda do stande caso não se-
jam contidas.
Cottas também salienta outro impor-
tante benefício do Standak® Top: conse-
gue reduzir entre um e dois dias o tempo
que a semente emerge do solo. “Quanto
mais rápido conclui esse processo, menos
risco de contrair doenças; 70% das infesta-
ções acontecem nessa fase”, diz.
Stael observa que esta é uma grande
vantagem do produto, pois a redução no
tempo contribui para que haja menor ex-
posição da semente às pragas e fungos do
solo. Izildinha Penariol também conhece
os benefícios do Standak® Top, como uni-
formidade de germinação e maior vigor, e
salienta que o menor tempo que a plan-
ta emerge do solo não só contribui para
a sanidade da semente, como possibilita
entregar mais rápido a área para a usina
entrar com o plantio de cana. “O fato de
o amendoim nascer dois dias antes pode
parecer pouco tempo, mas para nós faz
muita diferença. As usinas nos pressionam
para entregar a área e quanto antes libe-
rarmos, menor dor de cabeça e mais chan-
ces de renovar a parceria com as usinas.”R
ICA
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VALH
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O quanto antes o amendoim nasce, mais cedo é a colheita e liberação da área para a usina entrar com o plantio de cana
36 Junho · 2015
SEGURANÇA
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É fogo!!!EM 2014, INCÊNDIOS CRIMINOSOS OU ACIDENTAIS, SEGUNDO
A UNICA, DIMINUÍRAM A PRODUÇÃO DE CANA EM 15%.
AS PERDAS CHEGARAM A CERCA DE 40 MILHÕES DE TONELADAS
38 Junho · 2015
Quem diria que uma simples bitu-
ca de cigarro, jogada quase que
“sem querer” da janela de um
carro que está transitando por uma rodo-
via ou estrada rural, pode causar grandes
prejuízos para as empresas do setor sucro-
energético. O ato, praticado por inúmeras
pessoas, tem uma ação parecida com a de
um lança-chamas, incendiando matas e
plantações de beiras de estradas, entre as
quais, lavouras de cana-de-açúcar.
Mas não são apenas os cigarros que
figuram como os principais causadores de
incêndios. Queima de lixo e aquelas não
controladas em pastos e canaviais, foguei-
ras, quedas de balões e rompimentos de
cabos de alta tensão, além dos constan-
tes atos de vandalismo, também estão as
maiores causas.
O período de estiagem, que vai de
abril a setembro no Centro-Sul, oferece o
cenário perfeito para o aumento dos in-
cêndios nos canaviais. Segundo o diretor
-presidente do Grupo de Saúde Ocupa-
cional da Agroindústria Sucroenergética
(GSO), Mário Márcio dos Santos, essa épo-
ca é marcada pelo tempo seco e baixa
umidade do ar. Fatores esses que, associa-
dos com o vento e picos de temperatura,
aumentam o risco de incêndios em áreas
rurais e urbanas. “A palha deixada no cam-
po pela colheita mecanizada traz inúme-
ros benefícios à cultura, porém, em con-
junto com o período de estiagem, permite
a propagação rápida do fogo em caso de
incêndios, pois se encontra bastante seca
e solta sob a superfície do solo”.
E 2014, que se apresentou como o de
menor pluviosidade dos últimos 45 anos
em alguns estados da região Centro-Sul,
foi uma prova-viva desse fato. Dados da
Polícia Ambiental indicam que, nos nove
primeiros meses do ano, foram registra-
dos quase três mil focos de queimadas e
incêndios florestais no Estado de São Pau-
lo. Um crescimento de 140% em relação
ao mesmo período de 2013. Para a União
da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),
esses incêndios diminuíram a produção de
cana em 15%. As perdas chegaram a cerca
de 40 milhões de toneladas.
Prejuízos
O diretor-presidente do GSO explica
que os incêndios, quando não controlados
SEGURANÇA
Leonardo Ruiz
Mário Márcio: “os incêndios, quando não controlados por uma brigada devidamente treinada, podem trazer inúmeros impactos”
39
por uma brigada devidamente treinada,
podem trazer inúmeros impactos, como
destruição de plantações e construções
rurais; perda de remanescentes florestais;
morte de animais silvestres, inclusive de
espécies ameaçadas de extinção; poluição
do ar, devido à emissão de material par-
ticulado e de gases poluentes; agravos à
saúde da população, desencadeados pela
poluição; contribuição para o aquecimen-
to global, em decorrência da emissão de
gases de efeito estufa; e acidentes com
queimaduras ou mortes de pessoas.
“Caso o incêndio ocorra quando
a cana estiver no período de colheita, a
mesma será colhida e processada na in-
dústria. Já quando a queima ocorre em
épocas fora do período de safra, a cana é
colhida para que haja a brotação e descar-
tada, representando prejuízo à empresa”.
Santos conta ainda que, em casos em
que a cana está em estágio inicial de bro-
tação ou cana-planta, quando não ocor-
re a recuperação da planta (naturalmen-
te com chuvas ou por meio do salvamento
por irrigação ou fertirrigação), é realiza-
do uma roçada para brotação da mesma.
“Acredito que estes casos são os que re-
presentam maior prejuízo à empresa, pois
afetam diretamente a produtividade da
safra seguinte”.
A palhada, em conjunto com o período de estiagem, permite a propagação rápida do fogo em caso de incêndios
40 Junho · 2015
Prevenção e combate
Diante desse cenário, é vital que as
empresas adotem algumas práticas visan-
do minimizar a propagação do fogo du-
rante o combate aos incêndios. Uma des-
sas técnicas é o cultivo da palha, onde a
usina incorpora o resíduo deixado pela
colheita mecanizada ao solo, não perden-
do seus benefícios e reduzindo a velocida-
de de propagação. A realização de aceiros
também já é uma técnica amplamente uti-
lizada pelas empresas. Os aceiros consis-
tem em faixas ao longo das cercas, divisas
ou da área a ser queimada, cuja vegeta-
ção é completamente removida da super-
fície do solo, com a finalidade de preve-
nir a passagem do fogo para fora da área
delimitada.
A empresa deve possuir, ainda, um
bom número de equipamentos, que de-
vem estar em excelentes condições de uso
e posicionados em pontos estratégicos,
de preferência em terrenos altos, para que
os funcionários, munidos de binóculos e
rádios, possam fazer a vigilância dos ca-
naviais. Mirantes, caminhões-pipa (ou ca-
minhões-bombeiro), abafadores, mango-
tes, mangueiras, esguichos, EPIs, veículos
leves para apoio, ambulâncias (caso ocor-
ram emergências com vítimas), kits para
aplicação de espuma (que visam abafar a
propagação do fogo e economizar água)
são algumas das ferramentas que devem
estar de plantão 24 horas por dia com o
intuito de inibir e identificar possíveis fo-
cos de incêndio com maior rapidez.
SEGURANÇA
Caso o incêndio ocorra quando a cana estiver no períodode colheita, a mesma será colhida e processada na indústria
41
Tão importante quanto um bom
equipamento são as brigadas, que
devem contar com pessoas capaci-
tadas para prevenção e combate a incên-
dios. Na área agrícola, o número de inte-
grantes pode ultrapassar 100 pessoas. Já
na área industrial, devem ser seguidas al-
gumas normas específicas da Instrução
A importância das Brigadas de Incêndio
Empresas devem possuir um bom número de equipamentos, que precisam estar em excelentes condições de uso
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ENTO
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Técnica n.º 17 do Corpo de Bombei-
ros. Na hora da formação da brigada,
é importante que as pessoas envolvi-
das apresentem aptidões adequadas
para as atividades que serão desenvol-
vidas. Obesos podem ter dificuldades
em determinadas situações. Pessoas
muito magras podem não apresentar
42 Junho · 2015
SEGURANÇA
condições para carregar extintores e equi-
pamentos de peso elevado.
O instrutor e proprietário da Al-
pha Seg Treinamentos, Eduardo Ferrei-
ra Mendes, afirma que uma brigada deve
ser constituída de pessoal treinado e ca-
pacitado para esse tipo de atendimento,
que deve estar apto para o uso dos EPI’s
necessários, dos caminhões-bombeiro e
manuseio de mangueiras. “Além disso,
os integrantes precisam estar preparados
para ministrar primeiros socorros se for
necessário”.
A empresa, especializada em forma-
ção e reciclagem das brigada de combate
a incêndio em canavial, forma, em média,
53 turmas anuais, sendo que basicamente
todas estão em atividade. “Os treinamen-
tos (teóricos e práticos) são anuais e capa-
citam quanto aos métodos preventivos e
de combate a incêndios. Também é apli-
cado um curso de primeiros socorros e de
uso adequado de EPI”, afirma Mendes.
Ele conta, ainda, que boa parte das
empresas também opta por aperfeiçoar
os conhecimentos de seus brigadistas nas
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Empresas também optam por aperfeiçoar os conhecimentos de seus brigadistas nas questões de proteção respiratória
43
questões de proteção respiratória, pro-
dutos químicos, segurança com eletrici-
dade, entre outros. Muitos treinamentos
ocorrem dentro das usinas, onde, a prin-
cípio, é realizada uma reunião com os in-
tegrantes da engenharia e segurança do
trabalho para saber detalhes operacionais
de cada unidade, como se já possuem, ou
não, uma brigada formada. “Após essas in-
formações, temos a condição de indicar a
melhor forma de treinamento, de dizer se
é necessário um novo dimensionamento
dessa brigada, determinar carga horária
e conteúdo programático adequado con-
forme legislação vigente”.
É importante ressaltar que, mesmo
com a brigada alerta 24 horas por dia,
muitas vezes acontece mais de um chama-
O pessoal deve ser treinado e capacitado para esse tipo de atendimento
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44 Junho · 2015
SEGURANÇA
O controle dos incêndios no Polo Taquari da Odebrecht Agroindustrial
Cada uma das duas usinas do Polo Taquari possui cerca deR$ 100 milhões de reais em patrimônio da brigada de incêndio
Ao longo de 2014, a Unida-
de Alto Taquari, da Odebre-
cht Agroindustrial, localiza-
da no munícipio mato-grossense de
mesmo nome, registrou 23 ocorrên-
cias de incêndios, sendo 60% de ori-
do ao mesmo tempo, dificultando o tra-
balho. Situação esta vivida pela Unidade
Costa Rica, da Odebrecht Agroindustrial,
localizada em município homônimo no in-
terior do Mato Grosso do Sul, em meados
de junho. Ao todo, foram registrados oito
focos de incêndio simultâneos em fazen-
das que fornecem cana-de-açúcar para a
Usina, totalizando cerca de 1.870 hectares.
Para combater os incêndios, com indícios
criminosos, a Unidade acionou a sua bri-
gada e o Corpo de Bombeiros do municí-
pio, com um grupo de, aproximadamente,
100 pessoas. Até o momento, a Odebrecht
Agroindustrial amarga um prejuízo de cer-
ca de R$ 3 milhões de reais. Valor que po-
derá aumentar, pois nessa conta ainda não
foram contabilizados os custos da opera-
ção de combate ou a perda de sacarose
que a queima provocará à cultura.
45
gem desconhecida, 27% decorrente
de fatores climáticos e 13% por pro-
blemas operacionais. Já na unidade
Costa Rica, que se encontra no Mato
Grosso do Sul, na cidade de mesmo
nome, o número foi ainda maior: 49
incêndios (12% operacionais, 33% por
fatores climáticos e 55% de origem
desconhecida).
Porém, se não fosse pela alta ex-
periência da empresa em combates,
os prejuízos seriam enormes. O supe-
rintendente do Polo Taquari, forma-
do pelas duas unidades citadas, da
Odebrecht Agroindustrial, Luiz Pau-
lo Sant’Anna, conta que cada uma das
duas usinas possui cerca de R$ 100
milhões de reais em patrimônio da
brigada de incêndio. Toda a estrutura
conta com caminhões-bombeiros, ca-
minhões prancha, caminhonetes para
apoio, tratores, tanques para trans-
porte de água, motobombas, aleira-
dores de palha, kits de incêndios ins-
talados em 100% das colhedoras de
cana e outros equipamentos. “Além
disso, todas as nossas frentes de tra-
balho possuem uma brigada de incên-
dio de emergência”.
Mas não é apenas de equipamen-
tos que vive uma brigada. Em Alto Ta-
quari, 72 pessoas constituem as equi-
pes de combate a incêndio. Em Costa
Rica, o número é de 62. “Esses núme-
ros incluem brigadistas, motoristas e
supervisores que se dividem em três
turnos. É importante ressaltar, tam-
bém, que, todos os anos, antes do iní-
cio da safra, todos esses trabalhado-
res passam por cursos de reciclagem,
a fim de renovar e adquirir novos co-
nhecimentos”, relata Sant’Anna.
O superintendente conta que to-
dos os funcionários da empresa pos-
suem formação mínima para agir em
casos de incêndio. “Quando ocorrer
um foco de baixa proporção, chama-
do de nível um, onde apenas uma pe-
quena parcela do canavial é afetada,
“Antes do início da safra, todos esses trabalhadores passam por cursos de reciclagem, a fim de renovar e adquirir novos conhecimentos”, relata Sant’Anna
46 Junho · 2015
SEGURANÇA
o próprio trabalhador do campo pode
contê-lo, utilizando extintores ou os
kits de incêndio da colhedora.”
O nível dois, segundo Sant’An-
na, consiste num incêndio mediano,
onde apenas um caminhão-bombeiro
é suficiente para apagar o fogo. Nes-
sa hora, o bombeiro e o líder da frente
de trabalho atuam juntos no comba-
te. “Porém, caso o incêndio chegue ao
nível três, procuramos paralisar toda a
operação de colheita, evacuar o entor-
no e acionar, imediatamente, a briga-
da, que vai para a área munida de to-
dos os equipamentos necessários.”
Para a prevenção, cada Unidade
do Polo conta com uma torre de ob-
servação, com cerca de 40 metros de
altura, onde um brigadista observa as
áreas a fim de localizar, rapidamente,
os focos de incêndios e passar as in-
formações necessárias para o restan-
te da equipe. “Em Costa Rica, inclusi-
ve, possuímos câmeras de vigilância
que nos proporcionam maior rapidez
na identificação de problemas”, conta
o superintende.
Outro destaque da empresa é o
uso do Termo-Higrômetro, que mede
a umidade e temperatura do ar e a ve-
locidade do vento. Com o aparelho, o
brigadista consegue analisar a proba-
bilidade da ocorrência de um incêndio,
que é mais provável quando a umida-
A maioria dos incêndios é de origem desconhecida
47
Com tantos incêndios, se tor-
nou comum que usinas e for-
necedores contratem planos
de seguros agrícolas, um importan-
te instrumento que garante cobertu-
Contratação de Seguro,para que nem tudo vire cinzas
Fogo descontrolado queima a cana e não a palha, transformando o canavial em cinzas
ra frente à ocorrência de incêndio aci-
dental ou criminoso no período de
entressafra. O diretor geral de segu-
ros rurais do Grupo Segurador Banco
do Brasil e MAPFRE, Wady Cury, afirma
de do ar for inferior a 20%, a tempera-
tura superior a 33 graus e a velocida-
de do vento acima de 15 km por hora.
“Quando um desses três elementos
estiver fora do normal, é enviado um
sinal de alerta para as equipes. Caso
dois estejam irregulares, procuramos
remover a palha dos equipamentos
e limpá-los corretamente, deixando
-os fora de risco. Agora, se os três ele-
mentos apresentaram sinais destoan-
tes, paralisamos as operações, pois os
riscos de incêndios são muito altos”,
explica Luiz Paulo Sant’Anna.
48 Junho · 2015
SEGURANÇA
que a contratação do seguro garanti-
rá que o produtor, em caso de perdas,
receba a indenização de forma a qui-
tar seus débitos referentes à implan-
tação e condução do canavial e, des-
sa maneira, mantenha-se na atividade.
“Nosso seguro é adquirido por pro-
dutores individuais fornecedores de
cana-de- açúcar para usinas. No pe-
ríodo de 2008 a 2015, tivemos 36 re-
gistros de incêndio de um total de
11.500 apólices contratadas, o que re-
presenta uma frequência de 0,30%. A
maior concentração ocorreu ano pas-
sado, quando o BB e MAPFRE recebeu
20 avisos de sinistro”.
Cury explica que o objetivo do
seguro é garantir as perdas decorren-
tes de incêndio, seca, geada, granizo,
chuva excessiva, tromba d´agua, ven-
tos fortes e frios, que resultam na que-
bra de produtividade nos canaviais
segurados. “O aviso de sinistro pode
ser comunicado a qualquer momen-
to dentro da vigência, porém, a deter-
minação das perdas somente ocorrerá
no momento da colheita”.
O custo desse tipo de seguro é
determinado pela localização (municí-
pio e estado), idade e pelo custo de
produção necessário para a implan-
tação e a condução do canavial. Além
disso, não existe aplicação de fran-
quia. O cálculo de indenização é de-
terminado pela perda porcentual da
produtividade após a ocorrência de
um sinistro, multiplicada pelo valor do
custeio de implantação e/ou condição
do canavial definidos no momento da
contratação. O porcentual de perda é
resultado da divisão da produtivida-
de obtida na colheita do canavial pela
produtividade esperada, determina-
da pela seguradora no momento da
contratação. “Para efeito de seguro, a
queima parcial ou total do canavial irá
determinar a intensidade das perdas,
porém a relação entre incêndio parcial
e total não é proporcional às perdas
decorrentes do incêndio”, relata o di-
retor geral de seguros rurais.
“A contratação do seguro garantirá que o produtor, em caso de perdas, receba a indenização de forma a quitar seus débitos referentes à implantação”, diz Wady Cury
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SIL
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APF
RE
49
Diante da grande quantidade de
incêndios ocorridos em 2014 na
região de Ribeirão Preto, SP, a
ABAG/RP (Associação Brasileira do Agro-
negócio da região de Ribeirão Preto) as-
sumiu a missão de promover uma ampla
Campanha Institucional de Conscientiza-
ção, Prevenção e Combate aos Incêndios,
feita em parceria com associações de pro-
dutores rurais e diversas usinas localizadas
na Bacia do Rio Pardo e fora dela também.
O objetivo é o de estabelecer um
ABAG/RP lança campanha institucional de conscientização, prevenção e combate aos incêndios
Cana e queimada: cada vez mais distantes
plano de comunicação regionalizado e
voltado à sociedade civil, órgãos de fisca-
lização do Poder Público, jornalistas, for-
madores de opinião e público em geral,
demonstrando a realidade tecnológica
do setor que usa muito pouco do recur-
so de queima para colher cana. “A pro-
posta da campanha tem como estratégia
de comunicação desassociar a ocorrência
dos incêndios do setor produtivo”, adian-
ta o diretor executivo da ABAG/RP Mar-
cos Matos.
50 Junho · 2015
INSECTSHOW
Sphenophorus ganha status de principal praga nos canaviais de São Paulo
O estado de São Paulo responde
por 60% da produção de cana no
Brasil. Assim, quando uma praga
afeta os canaviais paulistas acende o sinal
de alerta. É o que está ocorrendo com o
Sphenophorus levis, conhecido popular-
mente como bicudo-da-cana.
Segundo o engenheiro agrônomo
PERDAS DE QUASE 30 TONELADAS POR HECTARE E
ANTECIPAÇÃO DA RENOVAÇÃO DO CANAVIAL ESTÃO
ENTRE OS DANOS GERADOS POR ESSA PRAGA
Luciana Paiva
Aloisio Ravagnani Dias, do departamento
Técnico Agropecuário da Coopercitrus, o
Sphenophorus em várias regiões do Cen-
tro-Sul, principalmente São Paulo, assumiu
o primeiro lugar entre as pragas que mais
causam danos ao canavial, em decorrên-
cia da dificuldade de seu controle e pela
severidade de seu ataque, que provoca di-
51
minuição drástica da produtividade agrí-
cola e renovação antecipada do canavial,
podendo ser até no segundo corte. A bro-
ca-da-cana continua liderando o ranking
nacional das pragas canavieiras, mas seu
controle é amplamente conhecido, além
de mais fácil do que o do Sphenophorus.
Identificado inicialmente na região
de Piracicaba, SP, o bicudo-da-cana se es-
palhou rapidamente pela região Centro-
Sul utilizando como meio de transporte os
caminhões com mudas de cana sem sani-
dade que seguiam para as áreas de reno-
vação ou de formação de novos canaviais,
para atender a expansão canavieira imple-
mentada de 2003 a 2009.
Ravagnani Dias salienta que o fim da
queima da cana é um fator considerável
para a expansão da praga e o corte me-
canizado é uma das fontes de dissemina-
ção. O engenheiro explica que os danos
são causados pelas larvas que broqueiam
os rizomas e os primeiros entrenós basais
que refletem no número, tamanho e diâ-
metro dos colmos finais para a colheita,
sendo que as perdas econômicas podem
ser estimadas com a redução nas tonela-
das de cana esperadas por hectare. Em al-
guns locais têm-se detectado de 50 a 60%
de perfilhos atacados, ocasionando redu-
ções em torno de 20 a 30 toneladas por
hectare (ha).
Canavial atacado por Sphenophorus: morte da soqueira
52 Junho · 2015
INSECTSHOW
“É muito importante o monitoramen-
to bem feito determinando nível do dano
econômico. Para isso, fazer a inspeção des-
ta praga com equipe treinada e orienta-
da somente para este trabalho de levan-
tamento” diz Ravagnani Dias , que sugere:
deve-se amostrar 2 a 4 pontos por hecta-
re, analisando minuciosamente de meio a
Faz-se a destruição mecânica das soquei-
ras no período de picos de larvas ( junho
a outubro), procurando expor ao máximo
essa forma de inseto aos seus predadores
e ao secamento dos rizomas. Esta exposi-
ção pode ser de uma única vez, ou pulan-
do duas linhas para que se retorne nestas
após 15 a 20 dias.
um metro de socaria (TA e larva), e fazer
iscas no período de outubro a novembro
(adultos).
Controle mecânico
Feito o levantamento, e tomada a
decisão, o controle pode ser cultural, no
caso de canaviais próximos da reforma.
O pesquisador e entomologista New-
ton Macedo observa que o eliminador de so-
queira é eficiente na redução de populações
da praga, mas tem custo inicial e operacional
elevados, e baixo rendimento. O uso de gra-
des aradoras de 34”+ intermediária de 28”
fazem trabalho equivalente a custos e tem-
po operacionais menores que o eliminador.
Os danos são causados pelas larvas que broqueiam os rizomas e os primeiros entrenós basais
53
54 Junho · 2015
INSECTSHOW
Eliminador e grade necessitam de cuidados e condições operacionais especiais, como:
1. O momento da destruição é o período seco ( junho a setembro) não fazendo em
dias de chuvas e/ou solo muito úmido. Tanto o eliminador como a grade devem traba-
lhar levantando poeira;
2. Passar o eliminador em faixas alternadas, com retorno em 15 dias para o bom se-
camento do material vegetal e a ação de predadores (principalmente carcarás). Depois da
total eliminação, passar uma grade, ainda no período seco;
3. Na destruição por grade, executar no mínimo três passadas (1ª. grade de 34”; 2ª
e 3ª de 28”) cruzadas, espaçadas em uma semana entre elas, para secamento do material
vegetal e do solo, causando a mortalidade das formas biológicas por exposição ao sol e
pelos predadores;
4. Ambos os equipamentos (Eliminador e Grades) são eficientes na eliminação das
formas jovens (ovos, larvas e pupas), mas não eliminam a maioria dos adultos;
5.Rotação de culturas (amendoim e soja) reduzem a população de Sphenopho-
Eliminando as soqueiras
55
rus, mas áreas com altas infestações que não terão rotação de cultura devem rece-
ber uma aplicação de inseticida incorporado em área total na 3ª.gradagem. Observa-
ção: Uso de glifosato antes da destruição. O desaleiramento da palha da linha de cana,
após a colheita, facilita a aplicação (cortando a soqueira), melhorando a performance
dos produtos;
7. Áreas cujo levantamento pós-colheita indicam presença da praga, mesmo com
baixo índice de tocos atacados, devem receber o tratamento de soqueira em área total;
8. Áreas de cana bis - fazer 2 tratamentos químicos da soqueira: 1º. logo após a co-
lheita (cortando a soqueira) e 2º. na primavera/verão (drench);
9. Áreas de colheita precoce, com infestações entre 10 e 30% de TA, fazer 2 trata-
mentos químicos: 1º. logo após a colheita (cortando a soqueira) e 2º. na primavera/ve-
rão (drench);
10. Áreas com infestações superiores a 30% de TA, programar para a reforma
imediata.
Utilizando a grade
56 Junho · 2015
Controle químico
Apesar da eficiência da destruição
mecânica da socaria, Ravagnani Dias sa-
lienta que somente essa medida não é su-
ficiente para reduzir as populações abai-
xo do NDE (nível de dano econômico) em
áreas com médias ou altas infestações. Por
isso, o uso de inseticidas no plantio se faz
necessário, e é fundamental para o mane-
jo, com bons resultados de controle em
cana-planta e cana-soca. Após o primei-
ro corte, e com monitoramento eficiente
e ainda existindo a presença da praga, re-
comenda-se aplicação do químico, dentre
eles: Regent (250g/ha), Regent Duo (1,1l/
ha); Talisman (5l/ha); Imidaclopride (1,5l/
ha); Actara (1Kg/ha); Engeo Pleno (1,5 a
2l/ha).
Ravagnani Dias diz que no contro-
le químico deve-se obedecer e observar
alguns critérios como: aplicação entre os
períodos entre junho a outubro com dis-
co de corte (5 a 10 cm de profundidade),
com vazão de aplicação entre 120 a 150 l/
ha, e períodos de novembro e dezembro
em drench é suficiente, lembrando que
quanto maior infestação, mais difícil é o
controle.
O engenheiro também chama a
atenção para a necessidades de cons-
Danos na soqueira
INSECTSHOW
57
cientização dos funcionários (equipe de
pragas e operadores de máquinas) en-
volvidos neste manejo, orientação dos ri-
cos de disseminação e medidas a serem
adotadas, como por exemplo, limpeza de
todo o tipo de equipamento, máquinas
(colheitadeiras), transporte, mudas sa-
dias, variedades reconhecidamente boas
de soca.
Controle de Sphenophorus
e aumento de produtividade
No interior paulista, a região de Ri-
beirão Preto, de acordo com a Datagro
Alta Performance, é a que registra maior
incidência da praga, cerca de 60% dos ca-
naviais apresentam Sphenophorus. Mas o
bicudo já chegou à região do Vale do Tie-
tê, onde fica a Agrícola Agrodoce, no mu-
nicípio de Pederneiras.
Júlio Márcio Pereira de Oliveira, só-
cio-propreitário da Agrodoce conta que a
presença da praga foi diagnosticada em
2013 e eles optaram pelo uso do Regent
Duo, da Basf, e a praga foi controlada. “O
produto possui dois princípios ativos, o
que aumenta sua eficiência”, diz. A Agrí-
cola Agrodoce conta com 10 mil hectares
de cana e produção em torno de 640 mil
toneladas.
O que também chama a atenção, se-
gundo o produtor, é que o Regent Duo,
além de controlar a praga, aumenta a pro-
dutividade da cana. “Nossa equipe já re-
gistrou esse efeito. Como a safra está no
começo, nossos números ainda são preli-
minares. Mas no final da safra teremos um
levantamento sobre os ganhos de produ-
ção com o Regent Duo”, salienta Júlio Már-
cio. E a CanaOnline vai mostrá-los.
Cortando a soqueira
para inserir o inseticida
58 Junho · 2015
CAPA
Fardos de palha passam a compor o cenário canavieiro
59
Não é fogo de palha!RECOLHIMENTO DE PALHA DE CANA ESTÁ EM ALTA NO SETOR. O PROCESSO
AINDA ESTÁ SENDO APERFEIÇOADO, MAS JÁ SE SABE QUE VEIO PARA FICAR
60 Junho · 2015
A fotografia dos canaviais brasilei-
ros tem mudado muito nos úl-
timos tempos. Cada vez mais o
fogo sai de cena e com ele a figura ene-
grecida do cortador de cana. As máquinas
ocupam o espaço dos facões e ao fazer a
colheita encobrem o solo com uma chuva
de palha de cana.
Muitos defendiam outras finalidades
para a palha da cana, além da missão de
proteger, nutrir o solo e preservar a umi-
dade. Mas um dos primeiros a enfardá-la
e levá-la para a indústria para que fosse
transformada em energia foi o produtor e
engenheiro agrônomo Luiz Carlos Dalben,
diretor da Agrícola Rio Claro, de Lençóis
Paulista. A prática teve início em 2004 e a
palha sempre foi fornecida ao Grupo Zilor.
A partir da iniciativa de Dalben, o canavial
ganhou a presença de aleiradores, enfar-
dadoras de palha, fardos e pranchas para
embarque.
Durante um bom tempo, o exem-
plo de Lençóis Paulista de recolhimento
de palha de cana era o único no setor, ou
pelo menos o mais conhecido. Até surgir
a Granbio, em 2011, lá em São Miguel dos
Campos, em Alagoas, com a primeira fá-
brica de produção de etanol celulósico. E
como a palha é uma das matérias-primas
do etanol de segunda geração, a Granbio
iniciou no setor um recolhimento “mons-
tro” de palha, montando uma área de ar-
mazenamento para 400 mil toneladas.
O processo adotado pela Granbio é
o de aleirar e enfardar a palha inteira dei-
xada no campo. Os fardos de palha che-
gam à indústria, passam por um proces-
so de trituração e limpeza de impurezas,
para depois seguir para o pré-tratamen-
to. Segundo Manoel Carnaúba, vice-pre-
sidente de Operações da GranBio, por se
tratar de um processo relativamente novo
no setor, haverá espaço para melhorias. E
estão atentos para avaliar outras soluções
que tornem a prática mais competitiva.
Atualmente a Granbio utiliza a palha
apenas na produção de etanol 2G. “Mas
estamos avaliando a possibilidade da uti-
lização para produção de energia tam-
Luciana Paiva
CAPA
Dalben começou a recolher palha em 2004 e virou exemplo no setor
61
bém. Hoje, a produção integrada de vapor
e energia elétrica é feita a partir do ba-
gaço da cana e da lignina, um subprodu-
to gerado no processo do etanol 2G”, diz
Carnaúba.
Mercado de energia elétrica
promove o boom da palha
Além da Granbio, muitas empresas
avaliam recolher palha para a produção de
energia elétrica, é que o produto passou
a ser o mais remunerador do setor. E os
números da palha empolgam: para a pro-
dução de energia, cada tonelada de palha
de cana equivale a 1,7 tonelada de baga-
ço. Além disso, a palha tem menor umi-
dade, cerca de 13% e gera 3.200 kgcal/kg,
enquanto que o bagaço com umidade de
50% gera 1.800 kgcal/kg.
A boa remuneração da energia so-
mada ao excelente desempenho da palha,
foi o empurrão que o setor precisava para
incrementar o uso dessa biomassa. Segun-
do Samir Azevedo Fagundes, gerente de
equipamentos de cana-de-açúcar AGCO,
um dos estudiosos no assunto, o recolhi-
mento de palha está presente em cerca de
3% dos canaviais. Este número representa
aproximadamente 2 milhões de toneladas
de palha recolhidas anualmente.
“Apesar da expressiva quantidade de
biomassa já recolhida ainda há uma enor-
Enfardamento de palha na Granbio com palha inteira que será triturada na indústria
GR
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62 Junho · 2015
me quantidade de palha disponível. A re-
cente demanda por energias alternativas à
da produzida pelas hidrelétricas, aliada ao
contínuo desenvolvimento do Etanol 2G
(independente da rota a ser utilizada), irão
colaborar no aumento da quantidade de
palha recolhida”, diz Samir.
Para Henrique Mattosinho D’avila,
Especialista em Negócios do Centro de
Tecnologia Canavieira (CTC), o uso da pa-
lha tem mostrado um grande potencial
para o aproveitamento de oportunidades
de mercado no setor. “Com o aquecimen-
to dos preços da energia elétrica iniciado
na safra 2014/15, com os novos patamares
de preços dos leilões de biomassa e com
as expectativas para o etanol celulósico
no médio prazo, a palha de cana-de-açú-
car deve se consolidar como matéria-pri-
ma tanto para geração de energia elétrica
adicional, quanto para produção de eta-
nol celulósico”, observa. De acordo com
Henrique, o crescimento do uso da palha
no setor dependerá de fatores de merca-
do (elétrico e biocombustível), do nível de
investimento e da capacidade de cogera-
ção e de produção de etanol celulósico
nas usinas.
Zilor amplia parceria
para uso da palha
Nesta safra, os canaviais do Vale do
CAPA
63
Tietê, região de Lençóis Paulista, onde o
Dalben recolhe palha, foram invadidos
por fardos. É que A Zilor ampliou a par-
ceria para outros oito produtores de cana,
lembrando que a empresa não tem cana
própria.
A Zilor nos informou que realizou
adaptações em suas unidades industriais
para o recebimento e utilização direta nas
caldeiras da palha triturada no campo;
com isso, aumentou de 85 mil (2014/2015)
para 200 mil toneladas (safra 2015/2016)
o recebimento da biomassa, fornecido por
nove produtores. Além de aumentar a sua
disponibilidade de palha para a geração de
energia elétrica limpa e renovável, a em-
presa garante ao fornecedor receita extra,
compartilhando com a cadeia o valor agre-
Armazenamento de palha na
Granbio, em São Miguel dos
Campos, AL: área para 400 mil toneladas
GR
AN
BIO
Júlio Márcio e o transporte de palha da Agrodoce para a Zilor
64 Junho · 2015
gado que a energia traz para o negócio.
A empresa afirma que há a possibili-
dade de contribuir para a matriz energética
durante o ano todo, não apenas no perío-
do da safra, desde que o governo apre-
sente um modelo com reconhecimento do
diferencial da energia gerada a partir da
biomassa como limpa e renovável, gerada
no período de menor vazão dos reserva-
tórios das hidrelétricas. Atualmente a em-
presa gera mais de 1.000.000 MWh/ano e
comercializa 600.000 MWh/ano, em Con-
tratos de Longo Prazo com vendas realiza-
das nos leilões de 2006 e também no mer-
cado spot.
Agrícola Agrodoce
passa a recolher palha
Entre os novos parceiros de forne-
cimento de palha da Zilor está a Agrícola
Agrodoce, de Pederneiras,
distante cerca de 30 qui-
lômetros de Lençóis. Com
10 mil hectares cultivados
com cana e produção por
safra em torno de 640 mil
toneladas, a Agrodoce se
destaca pela qualidade no
manejo com a cultura.
Sobre o fornecimen-
to de palha para a Zilor,
Júlio Márcio Pereira de Oli-
veira, diretor da Agrodoce,
conta que esse novo plano do Grupo, que
possibilita ampliar a aquisição de palha,
reviu valores e ampliou a distância para
fornecimento entre a indústria e o local de
recolhimento de palha, o que acabou con-
templando a Agrodoce.
Júlio Márcio explica que o processo
CAPA
Aleiramento de palha na Nardini
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RD
INI
65
de recolhimento é por enfardamento de
palha picada no campo (a enfardadora re-
colhe a palha, pica e libera os fardos), a Zi-
lor quer receber a palha picada para não
ter a operação de tritura-la na indústria.
Diariamente estão sendo recolhidos nos
canaviais da Agrodoce de 60 a 90 tonela-
das de palha, com umidade em torno de
14,5%, cerca de 50% de palha permane-
ce no solo. Júlio Márcio conta que a Zilor
criou uma tabela com índices de impure-
za, por exemplo: palha com impureza en-
tre 3% a 6%, serão descontados 10% do
valor da tonelada. “Isso nos leva a melho-
rar cada vez mais o processo”, salienta. Os
fornecedores de palha da Zilor acompa-
nham online a quantidade de palha forne-
cida, grau de umidade e impureza.
A experiência da Nardini
no recolhimento de palha
Há três anos que a Nardini Agroin-
dustrial, localizada em Vista Alegre do
Alto, SP, recolhe palha de cana para a pro-
dução de energia. “Somos uma das em-
presas pioneiras do setor”, diz Oscar Car-
rasque, gerente industrial. Nesta safra
serão recolhidas 40 mil toneladas de pa-
lha. A Nardini gera por ano, 150.000 Mw,
a palha responde por 15% da energia pro-
duzida. A empresa destina 65% da energia
para o contrato de fornecimento de lon-
go prazo e 35% negocia no mercado spot.
José Carlos Berto, gerente de plane-
jamento e controle agrícola, informa que
35% a 40% da palha fica na lavoura, o res-
tante é aleirada quando a umidade atin-
ge um índice de 15%. Em seguida, é feito
o enfardamento e, posteriormente, o car-
regamento e transporte até a usina. Hoje,
100% da palha recolhida pela Nardini está
em áreas próprias e arrendadas. “Pensa-
mos em adquirir dos fornecedores desde
que o valor seja compatível com o merca-
do. Se o fornecedor solicitar, dependendo
da distância, podemos fazer o recolhimen-
to a custo zero, facilitando, assim, o pro-
cesso de cultivo de soca, já que menos pa-
lha facilita o plantio”, diz.
A prática do recolhimento de pa-
lha, segundo a empresa, deve crescer, mas
desde que todo o processo de geração de
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RD
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Enfardamento de palhana Nardini
66 Junho · 2015
energia seja economicamente viável. Para
quem está pensando em passar a recolher
palha, José Carlos orienta: “Se for usina,
montar o sistema de cogeração, colocar
um triturador de palha e adquirir os equi-
pamentos necessários para o enfardamen-
to e transporte. Para o fornecedor que qui-
ser vender palha enfardada, fazer contrato
com o comprador, adquirir os equipamen-
tos necessários e não se esquecer de le-
vantar os custos para viabilizar o negócio.”
Alta Mogiana inicia
recolhimento de palha
Esta será a safra de estreia no recolhi-
mento de palha da Usina Alta Mogiana, lo-
calizada, em São Joaquim da Barra, SP. Há
estimativa é de recolher 28.336 toneladas,
até o final da safra. “Uma vez que a umida-
de é a principal variável que define reco-
lher, ou não, a palha no campo, concretizar
a estimativa vai depender muito das con-
dições climáticas”, salienta Luís Fernando
Pinheiro da Silva, encarregado de Produ-
ção Agrícola-Energias Renováveis.
A Alta Mogiana mantém entre 40%
e 60% da palha na lavoura, para a manu-
tenção da umidade do solo e benefício da
brotação das soqueiras. Luis Fernando ex-
plica que depois do corte, a palha com
cerca de 5 dias na lavoura, atinge 15% de
umidade, que é o ideal para o enfarda-
mento. “Nessas condições, estima-se que
a efetividade da queima da palha é 50%
maior que a do bagaço. Ou seja, 1 tone-
lada de palha equivale a 1,5 toneladas de
bagaço, em função do poder calorifico. Em
função da baixa densidade e grande volu-
CAPA
Área de recolhimento de palha na Alta Mogiana
CO
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67
Desde 1985, a Hengel atua no segmento de comer-cialização e transporte de
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me, a palha não é enviada sozinha às cal-
deiras, ela sempre é misturada ao bagaço.”
O método de recolhimento adota-
do pela Alta Mogiana é o de enfardamen-
to com palha inteira e envio na indús-
tria onde será triturada. Segundo Ronildo
Campos da Silva, gerente de Extração do
Caldo, a colheita mecanizada permite o
corte das ponteiras ainda no campo e o
envio da cana picada sem excessos vege-
tais, assim o caldo é processado com me-
nos impurezas. O processo de enfarda-
mento de palha, ao invés do método de
envio de cana com palha para retirada na
indústria, possibilita maior densidade de
carga de cana, menor custo de transpor-
te da cana e na moenda a extração é me-
lhor, com menor desgaste do equipamen-
to. Nesse processo, a palha que ficou na
lavoura é recolhida, enfardada em blocos
que atingem até 500kg de palha (variável
conforme a umidade), chegando na indús-
tria a palha é recebida numa esteira inde-
pendente da moagem da cana, é cortada
em partes menores e juntam-se ao baga-
ço para alimentar as caldeiras.
A previsão de moagem da Alta Mo-
giana para a safra 2015, informa Val-
cir José Bardon Aceti, gerente do Proces-
so-Energias Renováveis, é de 5,3 milhões
de toneladas de cana e 163.024 MWh de
energia cogerada, exportando cerca de
Enfardamento na Alta Mogiana
69
32kW/h por tonelada. E a Energia elétri-
ca produzida com a palha está estimada
em 12.144MW, aproximadamente 7,5% do
total anual. Sobre os custos do processo
de recolhimento, Valcir diz que ainda não
é possível determinar, mas estimam que o
investimento seja recuperado dentro de
dois anos.
Raízen estuda recolhimento
de palha desde 2004
A Raízen é a maior produtora de
energia elétrica do mundo, a partir do ba-
gaço e da palha da cana-de-açúcar, coge-
ra 940 MW e tem capacidade instalada e
comercialização anual de energia elétrica
de 2,2 milhões de MWh. Todas as 24 uni-
dades do grupo são autossuficientes no
consumo de energia e 13 de suas unida-
des já têm contratos de longo prazo para
a venda de energia. Dez delas têm o Selo
Energia Verde, desenvolvido pela União da
Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), em
um acordo de cooperação com a Câma-
ra de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE) e concedido às usinas geradoras de
bioeletricidade que atendem a critérios de
sustentabilidade constantes do Protoco-
lo Agroambiental do Setor Sucroenergéti-
co Paulista, assinado pelo governo de São
Paulo e o setor em 2007, e requisitos de
eficiência energética.
A primeira experiência com recolhi-
mento de palha do Grupo Raízen foi em
2004, por meio de um projeto piloto na
Usina da Barra, em Barra Bonita, SP, con-
ta Antonio Fernando Lima, diretor de pro-
dução agrícola da Raízen. Foi por meio do
enfardamento de palha. De lá para cá, os
estudos se intensificaram, e ocorrem nas
unidades que contam com estação de lim-
peza a seco como a Ipaussu e Rafard, pois
a quantidade de terra que segue com a
palha é grande, segundo Antonio Fernan-
do, em torno de 8 a 10 quilos por tonelada
de palha, e sem equipamentos que redu-
zem a quantidade de impurezas, os danos
na indústria são grandes.
O recolhimento da palha é por meio
de enfardamento de palha inteira, na in-
dústria há um sistema de desenfardamen-
Recolhimento de palha em canavial da Raízen
CO
MU
NIC
AÇ
ÃO
RA
ÍZEN
70 Junho · 2015
to, onde são retiradas as cordinhas, depois
a palha segue para o triturador. Antonio
Fernando salienta que a Raízen está aten-
da à evolução do processo de uso da pa-
lha, mas que maiores investimentos só
ocorrerão se houver garantias de retorno.
“Hoje, infelizmente, o governo não nos dá
segurança.”
Quando é economicamente
viável recolher a palha?
A instabilidade do governo em rela-
ção ás energias renováveis, realmente as-
susta o setor, que faz muitas contas para
ver se os investimentos compensam. Fran-
cisco Linero, Especialista Agroindustrial do
CTC, diz que a viabilidade em recolhimen-
CO
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ÍZENAntonio Fernando: “só
haverá investimentos se houver garantia de retorno”
Carregamento de fardos na Alta Mogiana
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CAPA
71
A FRAGMAQ é uma empresa especializada em for-necer soluções para trituração de materiais atra-vés de trituradores de baixa potência e alto torque.
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72 Junho · 2015
to de palha se faz a partir de uma análi-
se específica para cada usina e depende-
rá das estratégias comerciais, capacidade
tecnológica, fatores de mercado, indicado-
res de custo benefício, custo de oportuni-
panorama de mercado atual, e para usinas
com potencial de exportação de energia
elétrica adicional, em geral preços acima
de R$ 200,00/MWh viabilizariam projetos
de recolhimento de palha.
CAPA
dade e capacidade de investimento. Uma
vez que esse grupo de fatores se mostre
favorável e com índices atrativos à usi-
na, os projetos e investimento em recolhi-
mento de palha tornam-se viáveis. Para o
Samir Fagundes salienta que a bio-
massa palha é utilizada em diferentes ro-
tas, as de maior destaque são: Energia e
Etanol 2G. A crescente demanda por ener-
gia, principalmente no Centro-Sul, tem
É preciso ter cuidado para não aumentar a compactação do solo
73
promovido o uso da palha na cogeração
de energia. A recuperação dos valores
pago por MWh está viabilizando a reto-
mada dos investimentos em recolhimen-
to de palha. Em termos gerais, valores de
MWh acima de R$ 160,00 tendem a tor-
nar o processo de recolhimento de palha
viável.
O custo da matéria-prima, no caso o
fardo, observa Samir, deve ser levado em
conta no balanço de viabilidade do uso da
palha. O custo do fardo está relacionado
a três fatores: Umidade; Impureza mineral;
Densidade. A combinação destes três fato-
res irá refletir diretamente no custo do far-
do produzido. Ou seja: umidade adequada
+ baixo nível de impureza + maior densi-
dade = menor custo. Além disso, quanto
melhor a qualidade da matéria-prima pro-
duzida, melhor a otimização do uso dos
barbantes que amarram os fardos.
Mas Samir salienta que, assim como
na colheita da cana, o custo do recolhi-
mento da palha pode variar de um canavial
para outro. A otimização logística da ope-
ração é fundamental para redução de cus-
tos. O dimensionamento dos equipamen-
tos e das frentes de colheita deve garantir
um fluxo contínuo de abastecimento de
biomassa. Uma operação “piloto” é sem-
pre recomendada para adequação do pro-
cesso às especificidades de cada cliente.
Para o recolhimento de palha, Júlio
Márcio diz que o investimento é alto, só a
enfardadora que produz fardos com palha
picada custa em torno de R$ 600 mil, de-
pende do valor do dólar, pois é importa-
da, para tracioná-la é necessário trator de
270 cavalos, fora os demais implementos,
como aleiradores, mas a expectativa é que
o negócio se pague em dois anos. Porém,
Júlio alerta: recolhimento de palha com
distância acima de 50 quilômetros não é
viável. Também é preciso mensurar danos
com compactação de solo e perdas agro-
nômicas com a maior retirada da palha.
Análise de viabilidade
técnica e financeira para
recolhimento de palha
O aumento do interesse do setor no
uso da palha tem atraído parceiros de ou-
tros segmentos, como é o caso da Frag-
maq Indústria e Comércio de Máquinas,
de Diadema, SP. Um dos serviços presta-
dos pela empresa é a análise de viabilida-
de técnica e financeira para recolhimen-
to de palha, que abrange todo o processo:
do canavial a entrega ao fornecimento de
energia. Segundo Carlos Zanchini, da Frag-
maq, a análise considera itens como: dis-
ponibilidade de área e de biomassa, raio
médio de distância, integridade do ca-
navial, consumo de combustível, equipa-
mentos apropriados para cada operação,
custos de insumos (cordas e faquinhas) e
avaliação das oportunidades de mercado.
Zanchini sabe que cada caso é um
caso, mas apresenta como exemplo o ga-
nho de uma empresa, que moi 1,5 milhão
74 Junho · 2015
de toneladas de cana e com produtividade
média de 75 toneladas por hectare, adi-
ciona a palha de cana entre suas matérias
-primas: veja imagem.
Qual o método mais viável
de recolhimento de palha?
Francisco Linero, Especialista Agroin-
dustrial do CTC, explica que atualmente as
duas principais formas de obtenção dessa
biomassa são: 1. Palha solta (Colheita Par-
cial de Palha junto com a cana) e 2. Palha
em fardos. A viabilidade de cada um dos
métodos novamente dependerá das parti-
cularidades de cada usina vinculadas, den-
tre outros fatores a: 1. Participação de área
de colheita própria e de fornecedores; 2.
Raio de recolhimento de cana; 3. Estrutu-
ras industriais para recebimento de cana
e processamento de palha; 4. Disponibi-
CAPA
Análise econômica do uso da palha de cana
FRA
GM
AQ
75
lidade de equipamentos agrícolas (para
colheita de cana e para as frentes de en-
fardamento) e mão de obra; 5. Demanda
diária por cana na indústria; 6. Quantida-
de de palha que se deseja processar, etc.
Para algumas usinas o enfardamento pode
ser o mais viável, para outras a colheita de
palha solta ( junto a carga de cana) e para
outras, ainda, a integração de ambos os
métodos pode ser viabilizada. De modo
geral, os estudos realizados pelo CTC indi-
cam que para raios de recolhimento acima
de 8 km, justificariam a adoção da rota de
palha enfardada.
Nos últimos 10 anos, diz Samir, fo-
ram estudados diferentes formas de apro-
veitamento da palha, onde diversas tec-
nologias foram colocadas à prova, tanto
no campo quanto na indústria. Segundo
ele, no campo, o conceito que apresentou
maior destaque foi o recolhimento da pa-
lha após a colheita mecanizada utilizando
as enfardadoras ditas “gigantes”.
“A densidade obtida nos fardos pro-
duzidos por estas máquinas aliada ao for-
mato dos mesmos são as principais carac-
terísticas que garantem o sucesso desta
tecnologia. Porém a operação no campo
ainda passa por outros dois processos: o
aleiramento (anterior ao enfardamento) e o
recolhimento do fardo (posterior ao enfar-
damento). Ou seja, da mesma maneira que
ocorre na colheita da cana, a complexidade
da operação faz com que o recolhimento
da palha seja um processo dinâmico sem-
pre em busca de melhores soluções para
cada operação específica”, salienta Samir.
Experiência no assunto não falta para
Dalben, a Agrícola Rio Claro conta com
8.611 hectares de cana, com produção de
cana entre 500 mil e 600 mil toneladas. O
método de recolhimento de palha adota-
do pela Rio Claro é o enfardamento, se-
gundo ele, mais eficiente do que levar a
cana com palha para a indústria.
A Agrícola Rio Claro testou enfarda-
mento com rolos redondos com palha in-
teira, mas passou para o enfardamento
com a máquina que tritura a palha e forma
fardos retangulares. De acordo com Dal-
Veja vídeo de aleiramento na Agrícola Rio Claro
Veja vídeo do enfardamento de palha na Agrícola Rio Claro
76 Junho · 2015
ben, as vantagens em relação aos fardos
redondos são: os retangulares têm maior
rendimento operacional - 400 kg, contra
120 a 160 kg dos redondos que acarretam
perdas em densidade de carga no trans-
porte na acomodação na carroceria e car-
retas; nos retangulares, o processo é de
prensagem, já nos redondos, amarração,
tendo este último maior dificuldade em
desenfardar na indústria.
Para Dalben, é mais vantagem levar
os fardos de cana com palha triturada para
a indústria, inclusive, é uma das exigências
da Zilor, os nove fornecedores de palha da
empresa adotaram o mesmo sistema de
Dalben.
Mas nem tudo são flores no negó-
cio de recolhimento de palha, Dalben aler-
ta que as enfardadoras são de alto custo e
importadas, além da valorização do dólar,
o importador ainda paga 45% de imposto.
“As peças também são importadas, são ca-
ras e demoram para chegar.”
Mas a maioria dos exemplos de re-
colhimento de palha de cana são de far-
dos com palha inteira, Carlos Zanchini, da
Fragmaq, diz que a empresa oferece so-
luções para trituração da palha por meio
de trituradores de baixa potência e alto
torque, instalados na indústria. “Além dos
trituradores, temos ainda em nosso por-
tfólio desenfardadores com retirada de
cordoalha automática, esteiras transporta-
doras, peneiras e todos os equipamentos
necessários para um sistema completo de
processamento.”
Zanchini salienta que é fundamen-
tal reduzir o volume de impurezas mine-
rais que segue com a biomassa e as solu-
Veja vídeo do triturador de palha da Fragmaq
FRA
GM
AQ
CAPA
77
ções de sua empresa contribuem para isso
e, já há vários projetos em funcionamen-
to ou em desenvolvimento em unidades
sucroenergéticas.
O CTC tem projetos para
recolhimento da palha da cana
O CTC possui projetos em fase co-
mercial para o processamento industrial
de palha de cana-de-açúcar, tanto para a
rota de palha solta – cuja estrutura indus-
trial de separação e processamento deno-
mina-se como Sistema de Limpeza a Seco
– quanto para a rota de palha enfardada.
Henrique Mattosinho D’avila explica
que, no caso da palha enfardada destaca-
se a construção da planta de demonstra-
ção em escala comercial na usina Ferra-
ri, com capacidade de processamento de
100.000 t de palha/safra, a qual deve ini-
ciar as operações em julho de 2015. “Além
disso, apoiado pelos 40 anos de experi-
ência nesse segmento, o CTC entrega ao
mercado uma solução que visa a otimiza-
ção do aproveitamento de palha de cada
usina, considerando os aspectos agronô-
micos, agrícolas e industriais, garantindo a
sustentabilidade do sistema.”
Projeto da Fragmaq em unidade
sucroenergética
78 Junho · 2015
Na busca por alternativas mais vi-
áveis para o recolhimento de pa-
lha da cana, a Hengel / Bio Palha,
empresa localizada em Assis, SP, tira a en-
fardadora do canavial e coloca a forragei-
ra. O processo é o seguinte: a palha é alei-
rada (como no processo tradicional), em
seguida entra a forrageira picando a pa-
lha e transferindo-a para o transbordo que
se movimenta ao lado da forrageira. Assim
que o transbordo completa sua carga, se-
gue para bascular a palha nos caminhões
de transporte de biomassa. A Hengel /
CAPA
Bio Palha, em uma frota equipada para o
transporte adequado de palha, bagaço,
cavaco de madeira, biomassa em geral.
Essa opção não se trata de uma práti-
ca de quem não entende do assunto, mui-
to pelo contrário, a Hengel desde 1985
atua nas locações de máquinas para movi-
mentações de bagaço, transportes de bio-
massa, recolhimento de palha e comercia-
lização de biomassa.
A empresa iniciou o trabalho com re-
colhimento de palha, por meio de enfar-
damento de palha inteira, em 2006. Além
HEN
GEL
Transbordo bascula no caminhão de transporte de biomassa a palha picada pela forrageira
PROCESSO DE PALHA DE CANA PICADA POR FORRAGEIRA
APRESENTA MENOR QUANTIDADE DE IMPUREZAS, GRANULOMETRIA
UNIFORME E REDUÇÃO NO CUSTO DA OPERAÇÃO
Forrageiras entram no canavial
79
negócios, é combinar inovação com via-
bilidade econômica, por isso, o desenvol-
vimento tecnológico não para. Há dois
anos, iniciaram a prática de recolhimento
de palha de cana com forrageira. A qua-
lificação e o envolvimento dos profissio-
nais da Hengel / Bio Palha, possibilitaram
o aperfeiçoamento do processo, a tal pon-
to de Danilo afirmar que: “quando olha-
mos a operação completa agrícola + lo-
gística + indústria não temos dúvida que
a operação com forrageira picando na la-
voura mostra ser a melhor opção.”
Para embasar sua colocação, Danilo
apresenta os ganhos diretos com a entra-
da da forrageira:
- Grau de impureza mineral entre 2%
a 3% por tonelada de palha (no processo
de enfardamento varia de 6% a 9%;
- Granulometria baixa de 1,5 a 2,5 cm;
- Menor compactação do solo, de-
vido a diminuição de equipamentos no
processo;
- Reduz a movimentação no pátio da
indústria e a quantidade de funcionários
envolvidos na operação;
- Elimina área de armazenamento
dos fardos (diminuindo o risco de incên-
dio), é utilizada a estrutura já existente de
recebimento de outras biomassas como
bagaço e cavaco;
- Elimina o custo com as cordinhas e
com o desfardamento;
Veja vídeo com a ação da forrageira no canavial
de realizar o aleiramento, enfardamento
e transporte dos fardos até a indústria, a
Hengel / Bio Palha, desenvolveu um pi-
cador de palha, chamado de moinho. O
equipamento fica na indústria e mói os far-
dos de palha, que depois será incorpora-
da ao bagaço. O picador já se encontra em
várias empresas que utilizam a biomassa
como fonte de energia, não só unidades
sucroenergéticas.
Mas a proposta da Hengel / Bio Pa-
lha, segundo Danilo Monteiro, gestor de
Confira o vídeo do moinho de palha em operação na indústria
HEN
GEL
80 Junho · 2015
- Economia de energia sem o uso do
picador, além de não haver mais o cus-
to de manutenção do equipamento, com
desgaste das facas, por exemplo.
A menor quantidade de impurezas
e a granulometria uniforme para atender
o melhor funcionamento da indústria são
resultado de adaptações que a Hengel /
Bio Palha, realizou na forrageira e de acer-
tos no processo.
Danilo observa que o caminhão ao
transportar os fardos, carrega de 25 a 30
toneladas, já a carga com a palha pica-
da varia de acordo com a umidade da pa-
lha colhida, mas é em torno de 14 tonela-
das. Mesmo com essa menor quantidade
de palha transportada no processo da for-
rageira, essa opção continua mais viá-
vel economicamente, afirma Danilo. “Não
comparamos apenas o peso, o custo de
frete, do barbante e do operacional, mas
sim a operação como um todo, incluindo
a menor quantidade de impurezas e a gra-
nulometria uniforme.”
De acordo com Danilo, a prática de
recolhimento de palha picada com forra-
geira aprimorada pela Hengel / Bio Palha,
já está em desenvolvimento em empresas
sucroenergéticas como Raízen. A empre-
sa também presta serviço no recolhimen-
to de palha para produtores de cana, aten-
dendo a região Centro-Sul.
Danilo observa que para Hengel
sempre há espaço para melhorias contínu-
as, por isso, as pesquisas e os investimen-
tos não param, e além de continuar o apri-
moramento do recolhimento da palha de
cana, a empresa tem no forno outras ino-
vações que contribuirão para incrementar
o uso da biomassa.
Não perca nas próximas edições da
CanaOnline.
CAPA
Forrageira possibilita palha picada com granulometria uniforme
81
82 Junho · 2015
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Mais impurezas e mais palha, como fica a indústria?
OS EFEITOS DO AUMENTO DO CORTE MECANIZADO DE CANA
CRUA O USO DA PALHA NAS INDÚSTRIAS SUCROENERGÉTICAS
Luciana Paiva e Leonardo Ruiz
Cana, palha e impurezas seguem para a indústria
A vida da indústria sucroenergética
não tem sido fácil para se adap-
tar às inúmeras mudanças ao lon-
go dos últimos anos. A maior delas foi a
transição da colheita manual para a me-
canizada de cana crua. A escassez de mão
de obra e, no caso de São Paulo, a cria-
ção do Protocolo Agroambiental, assinado
em 2007 e que estipulou a erradicação da
queima da cana-de-açúcar para o ano de
2014 em áreas mecanizáveis, provocaram
uma corrida para se estabelecer a mecani-
zação da lavoura.
Essa “correria” para se adaptar à me-
83
canização acabou gerando problemas, um
deles é o aumento de impurezas minerais
(3 a 4%) e vegetais (12 a 15%) na indús-
tria. As impurezas sobrecarregam os equi-
pamentos de recepção, preparo e extração
(aumento da carga e do consumo de po-
tência), bem como os sistemas de trans-
porte e movimentação de bagaço, redu-
zem a capacidade de moagem, a extração
para indústria. Os profissionais do Centro
de Tecnologia Canavieira (CTC), Francisco
Linero, Especialista Agroindustrial e Hen-
rique Mattosinho D’avila, Especialista em
Negócios, explicam que tanto a palha sol-
ta, quanto a palha enfardada requerem es-
truturas industriais específicas para sepa-
ração e processamento dessa biomassa.
De modo geral em ambos os casos, a pa-
do caldo e o índice de percolação nos di-
fusores, e desgastam, prematuramente, os
equipamentos, dificultando os tratamen-
tos de caldo e aumentando o custo do
transporte da cana.
A prática do recolhimento da pa-
lha, que cresce no setor em decorrência
dos bons preços da energia, engrossa ain-
da mais a quantidade de terra que segue
lha passa por uma sequência de proces-
sos que incluem o recebimento, abertura,
limpeza e trituração do material para que
possa ser adequadamente utilizado como
combustível em caldeiras.
Em termos financeiros, a chegada de
palha na indústria implica no aumento da
disponibilidade de biomassa, possibilitan-
do, inclusive, incrementos significativos de
Recolhimento de palha precisa de cuidados para levar
menos terra para a indústria
DIV
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NIN
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84 Junho · 2015
receita com a exportação de energia elé-
trica adicional em períodos de entressafra.
Mas é preciso cuidados no campo durante
o processo de recolhimento da palha para
levar menos terra para a indústria. O Gru-
po Zilor, que desde 2004 utiliza palha para
a produção de energia, emprega uma ta-
bela de porcentagem de impurezas da pa-
lha recebida, por exemplo, se o índice for
entre 3 a 6%, o desconto no valor pago
pela tonelada é de 10%, quanto mais im-
pureza, maior a porcentagem de desconto.
Mas será que a indústria
está pronta para receber
essas impurezas?
O gerente industrial das unidades
Santa Cândida e Paraíso, do Grupo Tonon,
Antônio Carlos Viesser, afirma que, em sua
maioria, as indústrias não estão prepara-
das para processar esse volume de impu-
rezas vegetais (palha) que tem chego às
unidades. “Isso se deve, primeiramente, ao
aumento forçado da mecanização devi-
do à antecipação da não queima da cana.
Além disso, o momento financeiro em que
vive o setor impossibilitou as usinas de in-
vestir em novos processos e melhorias em
equipamentos”.
Ele conta que diversos foram os im-
pactos na indústria, sendo o maior deles
na moenda, pois, com o aumento da pa-
lha, se tem mais fibra, sendo a moenda um
equipamento volumétrico calculado para
processar fibra, acaba-se tendo duas ver-
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
Para Viesser, as indústrias, em sua maioria, não estão preparadas para processar esse volume de impurezas vegetais (palha) que tem chegado às unidades
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tentes, onde o volume de cana processa-
do e a extração da moenda são menores.
Outros empecilhos são o aumen-
to de torta de filtro e, por consequência,
maiores perdas na torta; maiores desgas-
tes com facas, martelos, pentes e cami-
sas de moendas; maior consumo de ele-
trodo de chapisco; maiores desgastes com
chaparia de esteira de cana e bagaço; des-
gastes prematuros de tubulações de cal-
deiras, dificuldades operacionais com sis-
tema de lavagem de gases das caldeiras;
aumento dos insumos na fábrica de açú-
car; interferência da qualidade do açúcar
em relação aos níveis de amido, cinzas e
insolúveis no açúcar e problemas na fer-
As caldeiras estão entre as partes da indústria mais
sensível às impurezas
Crise reduz investimentos em
tecnologias que “protegem” a indústria
das impurezas
86 Junho · 2015
mentação relacionados à maior presença
de ácido aconítico.
O gerente industrial afirma que, com
esse cenário, as dificuldades são inúme-
ras, pois, para mitigar esses impactos, são
necessários novos investimentos que, por
hora, estão proibidos no setor. “No mo-
mento, cabe a cada empresa usar da cria-
tividade para superar esses desafios.”
Indústria aos poucos se
ajusta as novas tendências
Para o engenheiro de processos (En-
genharia de Açúcar e Álcool – Zanini In-
dústria e Montagens Ltda), Marcus Me-
nato, as indústrias estão, aos poucos, se
adaptando a essa realidade, investindo
em equipamentos e adequação de pro-
cessos que possibilitem a retirada/separa-
Marcus Menato: “A demanda por novos equipamentos voltados a essa nova realidade do setor aumentou consideravelmente”
DIV
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NIN
I
Separador de palha e terra
87
ção dessa palha antes de passar pela mo-
enda. “Foram realizadas alterações, desde
o sistema de recepção da cana (mesas e
tombadores laterais); instalação dos siste-
mas de limpeza de cana a seco, de telas
perfuradas nos equipamentos de recep-
ção e de separadores de impurezas mine-
rais; aquisição de equipamentos para pro-
cessamento e picagem de palha, além de
desenfardadores; substituição do aço car-
bono pelo inox; aumento do tempo de re-
tenção nos decantadores; modificação e
uso do inox nos geradores de vapor (cal-
deiras) e redimensionamento das esteiras
de bagaço e dos sistemas de filtração do
lodo”.
O engenheiro conta que a deman-
da por novos equipamentos voltados a
essa nova realidade aumentou conside-
ravelmente, sendo que a maioria das usi-
nas está projetando seus investimentos no
sentido de se adequar e, ainda, aprovei-
tar os benefícios da palha no processo de
cogeração.
E os sistemas de limpeza de cana a
seco se encaixaram perfeitamente nesses
planos e já se tornaram uma das principais
saídas das usinas para superar esses desa-
fios. A finalidade principal dessa tecnolo-
gia é a de separar a palha e a terra da cana
colhida mecanicamente. O conceito pode
ser aplicado tanto para o processamen-
to da cana inteira (mesas alimentadoras)
como picada (descarga direta). O proces-
so, que veio para substituir efetivamente a
DIV
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88 Junho · 2015
lavagem da cana, possui eficiência de re-
moção de impurezas entre 40% e 70%.
Em 90% da cana
processada na Barralcool
é utilizado o sistema
de limpeza a seco via úmida
Uma das usinas que já adotou essa
tecnologia é a Barralcool, localizada no
município mato-grossense de Barra do
Bugres. Segundo o gerente industrial,
José Raimundo Costa Neto, em 90% da
cana processada na usina é utilizado o
sistema de limpeza a seco via úmida. “O
processo, utilizado desde 2009, visa reti-
rar as impurezas minerais e aproveitar as
vegetais”.
Além dos benefícios já citados, Costa
Neto afirma, ainda, que o sistema propor-
ciona um aumento de biomassa na usina
e, consequentemente, uma maior oferta
de comercialização de energia.
Usina Pitangueiras
recolhe palha e tem baixa
incidência de impurezas
Na Usina Pitangueiras, localizada
no município paulista de mesmo nome,
o combate às impurezas é feito ainda no
campo, ou seja, a estratégia da Usina é a
Sistema para limpeza de cana a seco e aproveitamento da palha ajuda a diminuir o nível de impurezas mineiras e vegetais na indústria
TECNOLOGIA INDUSTRIAL
DIV
ULG
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ÃO
ZA
NIN
I
89
de levar cana limpa para a indústria. O ge-
rente industrial da unidade, Gilmar Galon,
conta que foram feitas alterações nas co-
lhedoras a fim de evitar que a palha e a
terra sejam levadas para a área industrial
junto da matéria-prima.
Outra estratégia da Pitangueiras é
trabalhar a conscientização do pessoal da
agrícola, por meio de muito treinamento,
controle rígido e oferecendo prêmio pelo
resultado obtido, isso é fundamental, os
funcionários se empenham mais.
Os métodos têm dado certo, pois
mesmo após ter adotado, a partir da sa-
fra passada, a prática de recolhimento
de palha para a produção de energia, a
quantidade de impurezas da cana da Pi-
tangueiras está entre os menores do se-
tor. “Na safra passada, fechamos com índi-
ce de perda de 1,8% e obtivemos a média
de 60 kg/t de impureza vegetal e 55 kg/t
de impureza mineral. A média do setor é
de 80 kg/t vegetal e 78 kg/t a mineral. O
segmento precisa melhorar a eficiência e
grande parte dessa melhoria deve ser na
área agrícola, pois o açúcar é feito no cam-
po, para a indústria cabe a recuperação”.
Outras medidas que podem ser ado-
tadas pelas empresas visando mitigar os
impactos incluem buscar junto aos forne-
cedores materiais mais resistentes a abra-
são, intensificar a aplicação de eletrodos
nas moendas “chapisco”, e, na medida do
possível, aumentar os diâmetros das cami-
sas da moenda visando garantir moagem/
hora efetiva e extração.
Mesmo com o recolhimento de palha, a Usina Pitangueiras apresenta baixo índice de impurezas
90 Junho · 2015
Clivonei Roberto
Área de suprimentos requer uma logística redonda
LOGÍSTICA
JALL
ES M
AC
HA
DO
O funcionamento de uma usina de
açúcar, etanol e energia é com-
plexo. Tem uma rotina compos-
ta por uma infinidade de processos dife-
rentes. Quando a safra começa, a indústria
inicia a moagem da cana que chega da la-
voura; as colhedoras precisam operar a
todo vapor para não faltar matéria-prima
nas moendas e o departamento de supri-
mentos fica atento com toda a demanda
de insumos, para garantir o bom funcio-
namento de todas as áreas envolvidas no
processo.
Estes são apenas alguns exemplos
de processos que fazem parte do dia-a-
dia da usina, mas que ficam comprometi-
dos ser houver falha em algum ponto da
logística de suprimentos. Afinal, se o car-
regamento com produtos químicos atra-
sar, a fabricação de açúcar e etanol pode
parar. Se não chega “faquinha” para as co-
lhedoras, a colheita pode ser interrompida
e vai faltar cana na esteira. Se a peça não
chegar, a oficina atrasa suas demandas e
se calcário para fertilizar o solo não é en-
tregue na data marcada, o plantio de cana
Logística é assunto sério na Jalles Machado
GESTÃO PROFISSIONAL EM LOGÍSTICA DE SUPRIMENTOS
GARANTE RESULTADOS COM SEGURANÇA PARA AS USINAS
91
92 Junho · 2015
vai ter que ficar para depois.
O funcionamento adequado de to-
dos os departamentos da usina requer
uma infinidade de suprimentos, que pre-
cisam ser transportados até a usina com
pontualidade e segurança. “Uma usina
consome vários itens. Desde equipamen-
tos caros, com alta tecnologia, até um
equipamento de proteção individual (epi),
incluindo ainda produtos críticos, como
os químicos, peças encomendadas junto a
fornecedores específicos, ou simplesmen-
te uma resma de papel. Se houver erro no
sistema logístico ou o transportador não
conseguir cumprir com a programação,
pode haver tanto atrasos pontuais, como
a interrupção do processo da usina, com
grande prejuízo”, explica Ricardo Alexan-
dre Otávio, analista de logística do Grupo
Jalles Machado.
Para ele, a área de logística de supri-
mentos é fundamental para o perfeito an-
damento de uma usina sucroenergética.
Mais ainda quando a unidade fica distan-
te dos principais polos fornecedores de in-
sumos para o setor, que é o caso da Jalles
Machado, situada na cidade de Goianésia,
170 km a norte de Goiânia.
Alguns itens utilizados na usina são
comprados na capital goiana, ou mesmo
em outras localidades do estado, como
Itumbiara. No entanto, boa parte dos su-
primentos usada pela unidade tem que
ser transportada do estado de São Paulo
até Goianésia. “Daí a importância de um
departamento de logística funcional e efi-
JALL
ES M
AC
HA
DO
A produção não pode parar por atraso de suprimentos
LOGÍSTICA
93
caz para a usina. É preciso fazer a avalia-
ção dos materiais, do ponto de pedido,
compreender toda a dinâmica da logísti-
ca, para que nenhum item falte na unida-
de”, salienta Alexandre.
O desafio da área logística da usina
é otimizar a entrega dos diferentes produ-
tos a partir do fornecedor, e sempre en-
tendendo a necessidade do cliente inter-
no. Alexandre salienta que a logística de
suprimentos bem-feita consegue reduzir
custos para a empresa. “Isto ocorre quan-
do esse produto é fabricado e entregue
ao cliente no menor tempo e a um custo
competitivo.”
Alexandre Otávio explica que a Jalles
Machado tem um contrato de prestação
de serviços com um operador logístico. E
para o êxito de cada entrega, é imprescin-
dível a interação entre a equipe da área de
suprimentos da usina com a empresa que
presta serviços logísticos.
Para o suprimento de rotina da usina,
existe um fluxo de compras que a empresa
realiza em várias localidades, como Goiânia
e Itumbiara, GO, e Sertãozinho, Piracicaba
e São Paulo, SP. “O operador logístico con-
tratado recebe as informações diariamen-
te das unidades dos pedidos disponíveis
para coleta. Uma vez o pedido disponível,
o mesmo entra no sistema da transpor-
tadora, que faz o contato com o fornece-
dor para o agendamento. Todo o trâmite
da mercadoria fica disponível no portal do
operador logístico, com dados como dia da
coleta, nome do fornecedor, nota, prazo de
viagem, até a chegada à unidade com com-
provante de entrega”, explica.
De acordo com ele, é importante
para a usina contratar um operador logís-
tico que tenha condições de atender suas
demandas. “A usina tem que se preocupar
apenas em produzir cana e fabricar açúcar,
etanol, energia. Por isso, para ter tranqui-
lidade no dia-a-dia, é importante incum-
bir um operador logístico especializado
no setor e que ofereça vários benefícios.”
Para Alexandre Otávio, é necessá-
rio tomar alguns cuidados para não correr
o risco de ficar na mão. É preciso ter um
operador logístico que tenha rotinas mui-
to bem definidas; tecnologia de informa-
ção ágil e completa; frota moderna e con-
fiável, dotada de equipamento com baixa
Ricardo Alexandre Otávio: a usina requer uma infinidade de suprimentos, que precisam ser transportados com pontualidade e segurança
94 Junho · 2015
emissão de gases poluentes; serviço de
follow-up; além de licenças e certificações.
“Para oferecer serviços logísticos para
a Jalles Machado é pré-requisito ter todas
as autorizações e licenças exigidas pela le-
gislação. No caso de transporte de produ-
tos químicos, exigimos da transportadora
pelo menos uma certificação, que é o SAS-
SMAQ (Sistema de Avaliação de Seguran-
ça, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade).”
Credibilidade e fidelização
Pela importância da logística de su-
primentos para o Grupo, a Jalles Macha-
do procurou no mercado um operador lo-
gístico com experiência no atendimento
do setor sucroenergético. Firmou contrato
com a TransEspecialista (TE), empresa se-
diada em Sertãozinho, SP, que já se tor-
nou referência em logística de suprimen-
tos para o mercado de açúcar e etanol em
todo o Centro-Sul.
Segundo Ricardo Amadeu da Silva,
CEO da TE, sua empresa atende hoje os
maiores grupos sucroenergéticos do país,
como Adecoagro, Bunge, Raízen, São Mar-
tinho, Odebrecht Agroindustrial, Guarani,
Noble, Biosev, BP Biocombustíveis, SJC,
Cargil, JBS, Jalles Machado, dentre inúme-
ros outros, que são cases de sucesso em
logística de suprimentos neste segmento.
Ele frisa que um portfólio deste nível
é fruto da credibilidade que a TE conquis-
tou junto a este setor. “A credibilidade que
temos neste mercado e a fidelização dos
nossos clientes são o nosso maior patrimô-
nio, resultado de muito trabalho. É uma his-
tória de quinze anos de comprometimento
Ricardo, CEO da TE, “a relação com cada cliente precisa ser muito bem conduzida, com acompanhamento e suporte personalizado”
LOGÍSTICA
95
96 Junho · 2015
com o setor, o que faz da TransEspecialista
um ‘porto seguro’ para a agroindústria ca-
navieira na área de logística de suprimen-
tos”, confidencia Ricardo Amadeu.
Refinamento do processo
O know-how no atendimento da lo-
gística de suprimentos de uma usina é fru-
to do refinamento permanente das roti-
nas. Desde o follow-up, aprimoramento
contínuo dos processos, muita seriedade
e comprometimento de toda a equipe.
Um bom layout operacional, com
SLA definido, a integração entre as equi-
pes e o operador Logístico, o que garante
avanços nas rotinas e gera gradativamen-
te mais resultados.
“O refinamento permanente das ro-
tinas é crucial para a sobrevivência das or-
ganizações nesse novo mercado. Por isso,
sempre buscarmos a melhoria é a nossa
tônica”, diz Cesar Montenegro, GOC da TE.
A melhoria constante somente é pos-
sível porque a TransEspecialista realiza um
trabalho especializado, ímpar no mercado.
Ricardo alicerça-se na vontade, energia e
dedicação da equipe, como “ponta de lan-
ça” para o sucesso. Segundo ele, a “equi-
pe” é o segredo do sucesso e diferencial
de competitividade da TransEspecialista.
Equipe afinada e
compromisso com o cliente
A TransEspecialista oferece um pro-
duto diferenciado para o mercado sucro-
energético. O nível de serviço disponibili-
zado é fruto de um trabalho especializado
em logística de suprimentos.
Para Ricardo Amadeu, cada cliente da
TE é muito mais do que um contrato. Exi-
ge um relacionamento atencioso e perso-
nalizado por parte das diferentes equipes
do operador logístico. “A relação com cada
cliente precisa ser muito bem conduzida,
com acompanhamento e suporte perso-
nalizado às suas demandas. Este suporte
é fundamental para que os compromissos
assumidos sejam efetivamente cumpridos
pelo operador. É importante estar sempre
próximo do cliente e, em todas as ques-
tões, é preciso uma integração e um diálo-
go inteligente. Assim, criamos um modelo
cada vez mais criativo e sustentável, sem-
pre aplicando a relação ganha-ganha.”
LOGÍSTICA
Constante renovação de frota
97
A TE se preocupa em entregar o produto de forma sistêmica
Mesmo com a crise, a TransEspecia-
lista mantém a qualidade operacional e
os diferenciais de serviços oferecidos para
o mercado. Exemplos disso são a manu-
tenção dos entrepostos e centros de dis-
tribuição, a renovação de frota, os treina-
mentos e os investimentos em tecnologia.
A empresa mantém be-
nefícios, como empilhadeiras
comodatadas, follow-up inte-
grado, janelas de entrega com
veículos dedicados em rotas
fixas, desenvolvimentos e as-
sessoria. “Todos estes servi-
ços TE foram configurados nos novos con-
tratos, conforme SLA pactuado”, destaca o
CEO da empresa.
Segundo Ricardo Amadeu, “isto é re-
sultado de um esforço em conjunto de to-
dos, com ajuste em tabelas, maior maturi-
dade das equipes, maior integração entre
as áreas comercial/ operacional, além de
criatividade, para se adequar ao momen-
to difícil, sem perder em qualidade.” Com
essas ações, a empresa consegue executar
uma logística enxuta e eficaz, com resulta-
dos comprovados pelos clientes. “A TE se
preocupa em “entregar o seu produto” de
forma sistêmica, o que é nossa marca nos
nossos quinze anos de mercado”, finaliza.
De acordo com ele, a TransEspecia-
lista acredita muito na força do setor bio-
energético, certa de que os combustíveis
fósseis serão substituídos, que o País pre-
cisará de energia e alimento, e que a in-
dústria da cana entrará novamente num
novo ciclo de crescimento.
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TR
AN
SESP
ECIA
LIST
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98 Junho · 2015
ECONOMIA
“Setor canavieiro precisa se organizar, do campo ao banco”, dizem especialistas
Organizar a gestão, desde o cana-
vial, dando atenção às questões
de tratos culturais e aumento de
produtividade, passando pela integração
das áreas industrial, administrativa e finan-
ceira até chegar ao banco, para aumentar
sua credibilidade junto ao mercado. Essa
foi a mensagem deixada por diversos es-
pecialistas, ao relatar os principais proble-
mas e soluções para a crise do segmen-
to sucroenergético, no dia 28 de maio, em
Ribeirão Preto, SP, durante lançamento da
empresa Organize – Soluções Integradas
para a Gestão Agroindustrial. Entre os pa-
lestrantes e debatedores do evento “O Se-
tor Bioenergético: Uma Resposta à Rea-
lidade” participaram o jornalista Carlos
Alberto Sardenberg; Marcos Fava Neves –
Markestrat / FEA USP; Edivaldo Domingues
Velini - CNTBio e UNESP; Fabiana Balduc-
ci – Credit Suisse; Ismael Perina – Câmara
Setorial da Cadeia Produtiva de Açúcar e
Álcool; Rodolfo Geraldi – Vértice Assesso-
ria e Consultoria Agronômica e Waldemar
Deccache – Deccache Associados.
Os executivos comentaram que no-
Marcos Fava Neves, Fabiana Balducci, Ismael Perina, Rodolfo Geraldi, Waldemar Deccache e Edvaldo Vellini
Andréia Moreno, da MBF Agribusiness
99
vos modelos de gestão precisam ser im-
plementados no setor para atender ao re-
quisito de consistência e resultados nas
empresas. “Somente assim o mercado fi-
nanceiro deverá olhar para o setor de for-
ma mais flexível, proporcionando a re-
tomada dos financiamentos. A Organize
surge com o apoio financeiro de grandes
players do setor, que precisam ter uma
empresa qualificada com o aval de que o
crédito possa ser destinado às empresas e
que serão bem utilizados”, revelou o só-
cio-diretor da Organize, Marcos Françóia,
da MBF Agribusiness.
A importância da
gestão de qualidade
Fabiana Balducci, do Banco Credit
Suisse, foi enfática em dizer que o gran-
de desafio do segmento é ganhar produ-
tividade, organizar a gestão e cortar cus-
tos. “Falta gestão ativa, o setor aplica mal
o seu dinheiro. É preciso buscar a aliança
com os bons fornecedores, pois a questão
preço não garante a qualidade. Estou fe-
liz com o lançamento da empresa Organi-
ze, pois poderá enxergar os problemas das
empresas e solucioná-los”, disse.
Ismael Perina, presidente da Câma-
Público conhece os diferencias da Organize e se atualiza sobre o cenário do setor
100 Junho · 2015
ra Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar
e do Álcool, ligada ao Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),
enfatizou que juntar um time com reno-
mados consultores como aconteceu com
a Organize é uma ótima oportunidade
para ajudar o setor e concordou com Fa-
biana, na importância da gestão e do con-
trole de custos nas empresas.
O sócio-diretor da Organize Rodolfo
Geraldi, da Vértice, ressaltou que o futu-
ro pode ser promissor se o setor enxergar
seus erros e estudá-los para não cometê
-los novamente. “Havia muita euforia du-
rante a expansão do setor e muitas usinas
foram instaladas em locais impróprios,
sem infraestrutura, sem planejamento fi-
nanceiro e sem logística adequada. Não
há capacitação e sem planejamento não
dá para sobreviver”, resumiu.
Weber Valério, sócio-diretor da Or-
ganize e da Consult Agro, lembrou que
o segmento está à deriva e desorganiza-
do. “Precisamos organizar o setor com so-
luções integradas em todas as áreas. Não
dá para elaborar um orçamento sem inte-
grar a área agrícola, industrial e área ad-
ministrativa e financeira. Deve haver uma
sinergia. É possível produzir num nível de
lucratividade e produtividade e reduzir
despesas. Não podemos entregar os pon-
tos, temos que lutar”, finalizou.
“Precisamos organizar o setor com soluções integradas em todas as áreas”, salientou Valério
ECONOMIA
101
102 Junho · 2015
GESTÃO DE PESSOAS
O bê-á-bá do campoÉ PELA DIFUSÃO DO CONHECIMENTO QUE SE APRENDE A DOMINAR AS
FERRAMENTAS AGRÍCOLAS, DA ENXADA À AGRICULTURA DE PRECISÃO
O bê-á-bá do campo passou a ser ensinado em outras lousas
Luciana Paiva
Antes mesmo de as máquinas se
espalharem pelos campos brasi-
leiros, na época em que as mãos
humanas dividiam com a tração animal o
trabalho de lavrar o solo, semear e colher
as safras, a difusão de conhecimento so-
bre práticas agrícolas já fazia a diferença
para a obtenção de maior produtividade e
redução de custos.
Até mesmo as operações agrícolas
103
mais simples têm seus segredos. O bom
é que existe gente que consegue desven-
dá-los e perpetua o descobrimento ao re-
passá-lo aos demais. Um exemplo é a ta-
refa de carpir o mato, o sucesso da prática
começa ao encabar a enxada. O primeiro
passo é o cuidado com o cabo: é preci-
so raspá-lo, deixá-lo bem lisinho para não
machucar a mão.
Finalizada a operação, o passo se-
guinte é realizar um cirúrgico corte vertical
no final do cabo, um talho de alguns cen-
tímetros, onde será fincada uma estaca de
madeira, chamada cunha. O cabo é intro-
duzido na enxada e aquele talho fica após
a enxada, onde a cunha é fixada para a en-
xada não sair. O encaixe da cunha preci-
sa possibilitar que a lâmina esteja em uma
posição que facilite o corte com perfeição.
Resumindo: encabar a enxada é
como afinar violão, é uma arte. Por isso,
havia até os “mestres encabadores”, re-
quisitados no meio rural para realizarem o
serviço ou ensinarem o ofício. E a aula se
estendia para a forma precisa de amolar
a enxada e finalizava com o jeito de ma-
nipular a ferramenta. O mestre salientava
que na hora de carpir, o trabalhador deve
prestar atenção na sua postura. Manter as
costas eretas, uma perna à frente da outra
e deixar o pé que está na frente na posição
vertical, para que a enxada não bata na ca-
nela e o machuque. A enxada não é para
podar o mato, mas cortá-lo pela raiz. Por
isso, atenção para não ficar embolando o
mato com a terra, ele vai brotar.
Para encabar a enxada de forma correta é preciso de aprendizado
104 Junho · 2015
Esse aprendizado do campo foi re-
passado por gerações. Assim aconte-
cia nas primeiras culturas agrícolas que
tombaram o solo brasileiro: cana-de
-açúcar, café, algodão e nos roçados
com lavouras de subsistência.
O bê-à-bá do campo
ganha novas vertentes
Mas no século XX, o país pas-
sou da tração animal para a má-
quina, da subsistência para a
economia de escala no campo,
do feudo para a agroindústria.
A primeira colheita mecaniza-
da de arroz no Brasil aconte-
ceu nos anos de 1930 no Rio
Grande do Sul. Em 1952, o então presi-
dente Getúlio Vargas criou o programa
‘Plantai Trigo’ com estímulo à mecaniza-
ção agrícola. A partir desse momento, ini-
ciou a importação de tratores e máquinas
agrícolas.
Por volta de 1960, teve início à fabri-
cação de máquinas pesadas e implantou-
se a produção nacional de tratores. Defi-
nitivamente, o campo brasileiro não era
mais o mesmo. Estava em curso um pro-
cesso evolutivo que teria consequências
não apenas na economia, mas em toda a
sociedade.
E o bê-á-bá do campo ganhou no-
vas línguas, novos traçados, novos per-
sonagens. O aprendizado não dava mais
para seguir o ritmo da enxada, mas o das
máquinas, era preciso ter volume e repas-
sar novos conhecimentos. Roberto Rodri-
gues, produtor rural e ex-Ministro da Agri-
cultura, lembra que na década de 1970,
a agricultura se intensificava no Brasil. O
crescimento acelerado da população e da
renda per capita, e a abertura para o mer-
cado externo mostravam que, sem inves-
timentos em ciências agrárias, o País não
conseguiria reduzir o diferencial entre o
crescimento da demanda e o da oferta de
alimentos e fibras.
Essa conjuntura levou à criação, em
GESTÃO DE PESSOAS
O aprendizado das operações manuais era
repassado por gerações, como acontecia
nas colheitas de café no início do século XX
105
dezembro de 1972, da Empresa Brasilei-
ra de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Pero Vaz de Caminha, quando escreveu a
primeira carta sobre o Brasil, fez uma pro-
paganda errada, de que ‘o que se planta
aqui tudo dá’. Com isso, as pessoas, os go-
vernos, ficaram achando que é fácil desen-
volver a agricultura no Brasil. Não é nada
disso, precisa de muito investimento, mui-
ta pesquisa, manejo e tecnologias dife-
renciadas, pois o Brasil tem características
próprias”, salienta Roberto Rodrigues.
Embasados nestas características
próprias, os pesquisadores da Embrapa
personalizaram o manejo agrícola brasi-
leiro para atender às condições impostas
pela região tropical. Até então, as práticas
agrícolas eram uma cópia das europeias
e, como não respeitavam as característi-
cas edafoclimáticas do país, danificavam o
solo ao invés de preservá-lo.
As descobertas dos pesquisadores
precisavam ser repassadas ao público ru-
ral. Um dos agentes dessa transmissão
de conhecimento foi a Empresa Brasilei-
ra de Assistência Técnica e Extensão Ru-
ral (Embrater), criada em 1975. A pesquisa
e a difusão de conhecimento permitiram
a abertura de novas fronteiras agrícolas. A
Embrater foi extinta em 1990, no gover-
no Fernando Collor. Porém, a roda do co-
nhecimento não podia parar, o que levou
produtores, entidades rurais e empresas
fornecedoras de produtos e serviços a se
unirem pela continuidade do processo.
Uma dessas ações foi a criação, em
1991, do Serviço Nacional de Aprendiza-
gem Rural (Senar). A entidade conta com
As primeiras frotas de tratores no campo brasileiro
106 Junho · 2015
27 Administrações Regionais que promo-
vem cursos e capacitações para desenvol-
ver competências profissionais e sociais
em aproximadamente 300 profissões do
meio rural. Segundo o Senar, em 20 anos
foram atendidos 60 milhões de produto-
res e trabalhadores rurais.
Sérgio Perrone Ribeiro é coordena-
dor geral Administrativo e Técnico do Se-
nar-São Paulo. Ele conta que a entidade
desenvolve ações em parceria com 570
sindicatos rurais do estado, mas mesmo
as cidades que não têm sindicato também
podem usufruir dos cursos. Basta a pre-
feitura entrar em contato. “Os cursos são
gratuitos e vão desde práticas rurais à pre-
servação da cultura regional. Atende des-
de pequenos agricultores a grandes em-
presas agrícolas”, diz Ribeiro.
GESTÃO DE PESSOAS
Máquinas na colheita da soja no Rio Grande do Sul na década 1960
Sérgio Perrone Ribeiro: cursos gratuitos e
atendimento de pequenos a grandes produtores
107
Programa ALFA – Alfabetizando para
Profissionalizar
O bê-à-bá da
alfabetização
A intensificação
do uso de máquinas no
campo foi um dos prin-
cipais fatores que ajudou a impulsionar a
produção agrícola brasileira nos últimos
anos, permitindo o cultivo em larga es-
cala, viabilizando a produção de mais de
uma safra por ano em algumas regiões, e
suprindo a redução de trabalhadores ru-
rais no país.
Mas, diferente da enxada, a máquina,
para ser manipulada, exige não só conhe-
cimento prático, mas alfabetização. O que
levou o Senar do Rio Grande do Sul a criar,
em 1998, o Programa ALFA (Alfabetizando
para Profissionalizar).
Seres Helena Martins, gestora do
ALFA, explica que o Programa é ministra-
do por educadores residentes na comu-
nidade onde é constituída a turma. Esse
educador deve ter no mínimo magistério
e preferencialmente ter experiência do-
cente em alfabetização. É dada a oportu-
nidade a Educadores que já se encontram
aposentados da profissão. O Senar-RS tra-
balha por regiões no estado. Cada região
tem uma Coordenação Pedagógica Regio-
nal que dá apoio pedagógico para mais
ou menos de 10 a 15 professores.
Segundo Seres, o Programa ALFA
tem este ano a duração de 219 horas por
turma, distribuídas no máximo três horas/
dia durante três dias semanais, totalizando
73 dias letivos, tendo início em abril e de-
vendo terminar na primeira quinzena de
outubro. “A faixa etária dos alunos varia
de região para região; neste ano estamos
com alunos entre 20 a 90 anos. Também
iniciamos um projeto piloto no município
de São Francisco de Assis, no Centro de
DIV
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ÃO
SEN
AR
-RS
108 Junho · 2015
Atenção Psicossocial (CAPS), de alfabeti-
zação para uma turma da APAE. ”
“O slogan do Programa ALFA é ‘Al-
fabetizando para Profissionalizar’; o pro-
fissionalizar vem do objetivo de ensinar
a escrever seu nome para poder realizar
os cursos oferecidos pelo Senar-RS”, expli-
ca Seres. De acordo com Seres, o públi-
co masculino faz especificamente o pro-
mas e formou 20.990 alunos.
Seres relata que a história de vida
dos participantes do Programa ALFA é um
fator motivador para os integrantes do
Senar/RS. “Eles trazem uma bagagem ri-
quíssima. São muitas as vitórias dos par-
ticipantes que para nós parecem simples
atos, mas para eles, uma janela que se
abre para o mundo. ” O Programa ALFA é
GESTÃO DE PESSOAS
grama com o objetivo de tirar a carteira
de motorista para estar apto para realizar
o curso de Tratores Agrícolas, Colheitadei-
ras, cursos mais voltados para a lavoura,
para a área da aprendizagem. Já o femi-
nino (maioria dos alunos) volta-se para o
Artesanato, Panificação, Doces, Vestuário
Feminino e Masculino. Até o ano de 2014
o Programa ALFA já completou 1.261 tur-
reconhecido com o TOP Cidadania ABRH
2009 e Prêmio Oswaldo Checcia ABRH Na-
cional 2010 - categoria sustentabilidade e
responsabilidade social e o TOP de Marke-
ting ADVB 2011.
Aprendizagem para
adestrar a máquina
A alfabetização e aprendizagem
Alunos de 20 a 90 anos
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SEN
AR
-RS
109
abrem até mesmo a janela para dominar
as grandes máquinas com tecnologia em-
barcada. É que depois de aprovados nos
cursos de aprendizagem, os alunos do
ALFA podem realizar o Curso de Agricul-
tura de Precisão (AP) oferecido pelo pró-
prio Senar.
O curso é dirigido a produtores ru-
rais, suas famílias, jovens e trabalhado-
res do meio rural. Tem carga horária de
120 horas e é desenvolvido em módulos
como: AP para todos; Piloto Automático;
Semeadora a taxa variável; Distribuidores
a taxa variável. Para ampliar o programa,
o Senar Nacional firmou parcerias com a
Embrapa, universidades e empresas que
fabricam máquinas de AP.
A participação de empresas de má-
quinas e implementos tem sido funda-
mental para o desenvolvimento da agri-
cultura brasileira. Um exemplo é a Jacto,
uma das maiores fábricas de pulveriza-
dores agrícolas do mundo, localizada em
Pompéia, SP, que criou, em 1979, a Fun-
dação Shunji Nishimura de Tecnologia. Em
1982, inaugurou o Colégio Técnico Shun-
ji Nishimura, e em 2005 a Escola Profissio-
nalizante Chieko Nishimura. Só o Colégio
técnico já formou mais de mil alunos. Há
também a unidade Fatec (Faculdade de
Tecnologia do Estado de São Paulo) uni-
dade Pompéia-Shunji Nishimura, que ofe-
Rafael Arcuri Neto: na Jacto, aprendizagem já é tradição
110 Junho · 2015
rece o curso de Mecanização em Agricul-
tura de Precisão.
Rafael Arcuri Neto, coordenador de
Treinamento da Jacto, conta que além dos
cursos realizados em Pompéia, são pro-
movidos diversos treinamentos Brasil afo-
ra, em parceria com o Senar, Senai e gran-
des empresas clientes. São treinamentos
técnicos voltados para treinar a equipe de
vendas das concessionárias, consultores
agrícolas, eletricistas e mecânicos e para
o pessoal operacional, como aplicadores
de defensivos – desde o costal até os ope-
radores dos grandes pulverizadores com
agricultura de precisão.
Para facilitar a aprendizagem e au-
mentar o número de pessoas treinadas,
a Jacto também desenvolveu seu simula-
dor para treinamento de operadores de
pulverizadores. As supermáquinas dis-
põem de tecnologia de precisão e mui-
tos recursos que proporcionam aplicação
mais eficiente e com menor perda, mas
para dominá-la é fundamental capacitar
os operadores.
Produção de vídeos
para educação a distância
Há mais de 70 anos, a Jumil, locali-
zada em Batatais, SP, produz implementos
agrícola. Patrícia Morais, diretora da em-
presa, conta que em 1942, a empresa fa-
bricou a primeira plantadora e adubadora
do Brasil. Outro exemplo de pioneirismo,
veio em 1992, a Jumil também foi a pri-
meira empresa de implementos no Brasil a
apresentar o Sistema Pneumático de Dis-
tribuição de Sementes (Exacta Air).
O lema da empresa é: ‘Inovação e
simplicidade de uso’. Patrícia explica que
adotam esse conceito, porque se a tecno-
logia for difícil para ser aplicada, o produ-
tor e o operador não vão conseguir rever-
ter os benefícios em ganho. Mesmo sendo
implementos com tecnologia embarcada,
mas de uso simplificado, a empresa não
abre mão de explicar, mostrar, treinar o
GESTÃO DE PESSOAS
Confira em vídeo entrevista de Rafael à CanaOnline, em que explica como funciona o simulador
111
cliente como utilizá-los corretamente.
Para isso, a Jumil mantém um depar-
tamento de Treinamento muito ativo, se-
gundo Elton Pereira, coordenador de Trei-
namento, o principal meio de divulgação
do conhecimento é por meio de uma pla-
taforma de Ensino a Distância (EAD). Os
profissionais desse departamento produ-
zem vídeos com a equipe técnica da em-
presa que explicam os detalhes do im-
plemento, como utilizar de forma certa e
como fazer manutenção.
Vitor da Silveira Leite, da área de
Criação de Materiais do departamento de
Treinamento, diz que 70 profissionais es-
tão envolvidos nesse processo de apren-
dizagem e já foram produzidos mais de
15 cursos. A equipe de venda é a primei-
ra a ser treinada. Os vídeos são disponibi-
lizados em um canal online que pode ser
acessado pelos revendedores, consultores
e clientes. A linguagem é de fácil enten-
dimento e o processo apresentado tem o
passo a passo para tirar o máximo apro-
veitamento dos implementos Jumil.
Bê-á-bá do campo
tem academia do saber
Em 19 de fevereiro de 2014, a AGCO
– fabricante e distribuidora mundial de
equipamentos agrícolas – responsável pe-
las marcas Challenger, Fendt, GSI, Massey
Ferguson e Valtra –, inaugurou na cida-
de de Campinas, SP, o Centro de Treina-
mento AGCO Academy. Segundo Alexan-
dre Landgraf, gerente da AGCO Academy,
o espaço é uma plataforma de difusão
de conhecimento e capacitação técnica
e operacional às redes de concessioná-
rias das marcas Massey Ferguson e Valtra
nos países da América do Sul e Central. As
equipes de vendas, peças originais e as-
sistência técnica pós-venda são multipli-
cadoras de conteúdo.
O complexo, construído em uma
área de mais de 3 mil m², recebeu investi-
mentos de R$ 8 milhões para abrigar uma
Confira um dos vídeos produzidos pela equipe de Treinamento da JumilVitor, Patrícia e
Elton: inovação, simplicidade e aprendizagem
112 Junho · 2015
infraestrutura extremamente moderna
em equipamentos e tecnologia industrial,
tudo para permitir aos alunos a possibili-
dade de ter contato com as mais recen-
tes novidades tecnológicas presentes nas
linhas de tratores, colheitadeiras, pulveri-
zadores e implementos.
Landgraf salienta que a essência do
Espaço do Conhecimento é a capacitação
técnica. Por sua vez, ele oferece um am-
biente multiuso, onde acontece muitas
outras atividades, como visitas de conces-
sionários, de colaboradores internos e in-
clusive de clientes. Além disso, lá são rea-
lizadas reuniões, palestras e lançamentos.
O centro conta com uma área para filma-
gens técnicas e transmissões de cursos e/
ou entrevistas.
Há um estúdio exclusivo para grava-
ções, filmagens e transmissões. Em parce-
ria com Canal Rural, são realizados cursos
a distância via televisão e com uma abran-
gência maior de locais acessados e ho-
rários flexíveis. Isso está disponível para
toda a rede de concessionários e clien-
tes. As gravações são feitas no estúdio e
também nas salas técnicas, onde estão os
componentes e as máquinas.
Mas as ferramentas da empresa dire-
cionadas à difusão de conhecimento vão
além da AGCO Academy. Landgraf diz que
GESTÃO DE PESSOAS
Centro de Treinamento AGCO, em Campinas
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Landgraf salienta que a essência do Espaço do Conhecimento é a capacitação técnica D
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114 Junho · 2015
GESTÃO DE PESSOAS
o conjunto de ações já atendeu cerca de
35 mil pessoas. Entre as iniciativas, o exe-
cutivo dá como exemplo a parceria com o
Serviço Nacional de Aprendizagem Indus-
trial do Mato Grosso do Sul (Senai/MS), fir-
mada em 2011, onde uma Unidade Móvel
de Treinamento foi equipada com toda a
tecnologia para a realização de cursos para
operadores de máquinas agrícolas, opera-
dores/mantenedores, mecânicos, além de
outros, como especialização em agricultu-
ra de precisão, atendendo a área de grãos,
cana e carnes. O Senai entra com os recur-
sos humanos e a AGCO, com a estrutura e
equipamentos para laboratório.
A cana se rende à maquina
O Brasil é o maior produtor de cana
do mundo. A previsão da safra 2015/16,
segundo a Datagro Consultoria, é de 653
milhões de toneladas, com 354 usinas em
funcionamento. A média de corte meca-
nizado com cana crua no setor (nível Bra-
sil) beira os 85% e o plantio, 63%. Porém,
a cultura canavieira, presente no Brasil há
quase 500 anos, foi a última das grandes
lavouras a aderir à mecanização nos pro-
cessos de colheita e plantio.
O primeiro lançamento nacional de
colhedora de cana foi em 1960, pela famí-
lia Ribeiro Pinto, proprietária da Santal In-
dústria de Máquinas e Equipamentos, lo-
calizada em Ribeirão Preto, SP (a Santal foi
adquirida pela AGCO em 2012). Porém, a
proposta de mecanizar o corte não agra-
dou o público-alvo. O corte mecanizado
era mais caro que o manual e a máquina
gerava perdas. Mas os Ribeiro Pinto não
Interior de uma das 11 salas de aula da AGCO Academy
115
desistiram. Na década de 1980 lançaram
outro modelo e nos anos de 1990, inova-
ram de vez ao apresentar ao mercado a
primeira colhedora de cana crua do mun-
do, a Amazon. Nessa época, a presença da
colhedora ainda era muito tímida. Em São
Paulo, estima-se que em 1996 a mecaniza-
ção da colheita não passava de 16% e ha-
via cerca 600 mil cortadores de cana.
A cultura canavieira só se rendeu à
máquina nos anos 2000. Fatores como
proibição da queima, escassez de mão de
obra e aumento do custo trabalhista pesa-
ram na decisão. Mas a mudança veio mes-
mo a partir de 2007, quando o setor su-
croenergético paulista, em parceria com as
Secretarias do Meio Ambiente e da Agri-
cultura do Estado de São Paulo, assinou
o Protocolo Agroambiental do Setor Su-
croenergético Paulista. Grande passo para
a mecanização, pois São Paulo responde
por 60% da cana produzida no país.
Com o Protocolo, 170 unidades
agroindustriais e 29 associações de for-
necedores (que representam 5.997 for-
necedores de cana signatários), que jun-
tos significam mais de 90% da produção
paulista, se comprometeram a antecipar o
fim da queima da palha para 2014 nas áre-
as mecanizáveis e para 2017 nas áreas não
mecanizáveis.
Segundo o IEA (Instituto de Econo-
mia Agrícola, da Secretaria de Agricultu-
ra do Estado de São Paulo), em 2007 havia
163 mil cortadores manuais no estado, e a
mecanização da colheita era de 58,3%. Na
safra 2014/15 o índice de mecanização da
colheita atingiu 90%. Estima-se que o nú-
Primeira colhedora de cana produzida no Brasil, na década de 1960
116 Junho · 2015
mero de trabalhadores do corte de cana
tenha reduzido para cerca de 50 mil no fi-
nal de 2014.
Mesmo com a mecanização, a agroin-
dústria canavieira ainda é o segmento
agrícola que mais emprega mão de obra
no país. A redução do número de cortado-
res de cana tem relação direta com a en-
trada das máquinas, cada colhedora subs-
titui cerca de 80 pessoas. Mas o início de
operação da máquina abre novos postos,
como operador de colhedora e de trans-
bordo, assistente de transbordo, eletricis-
ta, soldador. Por isso, o Protocolo Agro-
ambiental também contempla, entre suas
ações, a qualificação e a recolocação dos
desempregados com a mecanização.
Projeto RenovAção
Para minimizar o problema e, em con-
trapartida, atender a demanda por traba-
lhadores com um novo perfil, foi criado o
projeto RenovAção, um trabalho da União
da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica),
que contou com a parceria da Feraesp (Fe-
deração dos Empregados Rurais Assalaria-
dos do Estado de São Paulo) e patrocínio
da Fundação Solidaridad e de empresas
fornecedoras de produtos e serviços. Os
cursos foram ministrados pelo Senai/SP e
Inovação brasileira: primeira colhedora de cana crua do mundo, desenvolvida pela Santal na década de 1990. Cada colhedora equivale a 80 cortadores
GESTÃO DE PESSOAS
117
118 Junho · 2015
“Fui indicado para o projeto RenovAção. Cursei o Senai e hoje sou mecânico hidráulico, tenho uma profissão”, diz Deison
qualificou profissionais para atuar no setor
da cana e para outros segmentos.
O Projeto RenovAção apresentou um
grande diferencial: o colaborador se dedi-
cava integralmente ao curso, mas as usi-
nas pagam os salários, transporte, alimen-
tação e PIS. “Esse modelo de dedicação
exclusiva ao treinamento com remunera-
ção foi condição importante para a ma-
nutenção desse profissional nas turmas.
Com esta fórmula, resolveu-se um pro-
blema complicado: a dificuldade de o cor-
tador de cana conciliar o trabalho na co-
lheita durante o dia e os estudos à noite”,
Maria Luiza Barbosa, consultora da Unica
na área de Responsabilidade Social.
O projeto funcionou de 2010 a 2014,
quando o setor passou a ser atendido pelo
Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec). A agroin-
dústria canavieira é o setor com maior nú-
mero de alunos inscritos e cursos dispo-
nibilizados pelo Pronatec, muitos deles
personalizados para atender as demandas
da cana, a experiência adquirida no Reno-
vAção é o principal fator para esse maior
espaço no programa.
O RenovAção capacitou 6.656 profis-
sionais, um deles é Deison da Silva Soares,
que há sete anos veio do Piauí para ten-
tar uma vida melhor em São Paulo. “Entrei
na Usina da Pedra, em Serrana, para cortar
cana e há cinco anos fui indicado para par-
ticipar do Projeto RenovAção. Cursei o Se-
nai e hoje sou mecânico hidráulico, tenho
uma profissão. O salário melhorou, assim
como a autoestima. Passei a ter mais con-
tato com as pessoas, casei e estou cons-
truindo a minha casa”, conta.
O bê-à-bá no maior grupo
sucroenergético do mundo
Além do Projeto RenovAção e do
Pronatec, as usinas também desenvolvem
seus próprios projetos. A Ra-
ízen, uma das maiores em-
presas de energia do mun-
do, com 40 mil funcionários,
além de ser o maior gru-
po sucroenergético, com 24
unidades produtoras, tam-
GESTÃO DE PESSOAS
119
bém é grande quando o assunto é difusão
de conhecimento. Lúcia Teles, gerente de
responsabilidade social e formação profis-
sional da Raízen, conta que, desde 2011,
o negócio do segmento de Etanol, Açúcar
e Bioenergia (EAB) da Raízen, possui uma
área de Formação Profissional com três pi-
lares de atuação: Formação, Capacitação e
Desenvolvimento Estratégico:
- O Pilar Formação possui programas
que desenvolvem e preparam profissionais
internos para desempenhar sua função
com maior performance, assim como para
assumir oportunidades na companhia.
Os Programas são:
• Motoristas Cana Picada
• Operador Colhedora
• Operador Colhedora Mantenedor
• Operador Plantio Mecanizado
• Operador Plantio Mecanizado
Mantenedor
• Operador Trator
• Técnico Man. Preditiva Formação
Com a mecanização, a força bruta perdeu espaço, ampliando a presença feminina nos canaviais
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Lúcia Teles: 22.220 pessoas passaram por ações de desenvolvimento da Raízen
120 Junho · 2015
- Pilar de Capacitação possui progra-
mas de aprimoramento e/ou atualização
dos conhecimentos baseado nos gaps dos
resultados obtidos pelas áreas a cada sa-
fra. Alguns programas de capacitações:
• Colheita Mecanizada
• Plantio Mecanizado
• Transporte de cana – público Moto-
ristas Canavieiros e liderança do transporte
• Manutenção Automotiva: Mecânica
de Colhedora e Elétrica
• Manutenção Industrial
• Produção de açúcar, etanol
- Pilar de Desenvolvimento Estraté-
gico possui programas que viabiliza a as-
censão profissional do funcionário, poten-
cializando a sua atuação. Os programas
dão suporte para preparar profissionais
para novos desafios e oportunidades.
• Escola de Líderes
• Geração Raízen
• Educar – Escola de Educação formal
(alfabetização, Ensino fundamental e médio)
• Desenvolvimento dos Estagiários.
Segundo Lúcia, das 22.220 pesso-
as que passaram por ações de desenvol-
vimento, 80% permanecem ativos, ou seja,
trabalham na empresa. Deste montante, 18
mil profissionais são da área agrícola. Hoje,
97% da colheita de cana da Raízen é meca-
nizada e 87% do plantio. A expectativa de
Na Raízen: simulador de colhedora
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GESTÃO DE PESSOAS
121
produção para esta safra é de aproximada-
mente 60 milhões de toneladas de cana.
A área de Formação da Raízen con-
ta com 70 profissionais. Os cursos além
de acontecerem em sala de aula, também
são vivenciados na prática, com orienta-
ção dos instrutores no canavial. Uma das
ferramentas que contribuem muito para o
aprendizado, observa Lúcia, é o simulador
de colheita, ferramenta que presenta com
alta fidelidade as condições da colheita de
cana. Em julho, a Raízen também contará
com o simulador de caminhão para quali-
ficação de motoristas.
O bê-á-ba do
campo sobre rodas
Escolas móveis que vão onde os alu-
nos estão passaram a ser importantes fer-
ramentas de disseminação de conheci-
mento no campo. A própria Raízen tem
sua Unidade Móvel de Treinamento, com
15 metros de comprimento por 4,3 metros
de altura e 2,7 metros de largura. O es-
paço tem capacidade para atender até 24
alunos por curso, com uma estrutura mo-
derna e equipamentos de última geração
e possibilita total acessibilidade às pesso-
as com deficiência e mobilidade reduzida.
A Unidade Móvel tem estrutura para
realizar mais de 30 cursos profissionali-
zantes, dentro do escopo de manutenção,
elétrica e automação, a unidade atende
cerca de 100 pessoas ao ano.
O Senai é campeão na modalidade
Escolas Móveis. Atualmente, só o Senai
-SP possui 79 unidades móveis que aten-
dem diversas áreas tecnológicas. O proje-
to é realizado em parceria com empresas,
no caso do setor sucroenergético, há al-
guns anos existem as carretas para forma-
ção de operadores de máquinas agrícolas,
Unidade Móvel de Treinamento da Raízen
122 Junho · 2015
Entre os cursos oferecidos
estão os de auxiliar de climati-
zação automotiva, mecânico de
manutenção de máquinas agrí-
colas, eletricista de máquinas
agrícolas e transmissão mecâ-
nica em máquinas agrícolas. A
Valtra é parceira no projeto.
O Brasil já é o maior pro-
GESTÃO DE PESSOAS
Escola Móvel de Manutenção de Máquinas e Colhedoras de Cana do Senai
Interior da Escola Móvel:todas as partes de uma colhedora
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mas durante a Agrishow 2015, foi lançada
a escola de Manutenção de Máquinas Co-
lhedoras de Cana.
Antonio Cirilo de Souza, especialista
em Educação Profissional, do Senai, expli-
ca que a nova escola móvel é formada por
dois semirreboques. Quando acopladas, as
duas carretas somam 165 metros quadrados
e têm capacidade para atender, simultanea-
mente, até duas turmas com 12 alunos cada.
dutor de cana, café, suco de laranja e se-
gundo em soja, mas o mundo vai preci-
sar muito mais de alimentos. Ainda bem
que os nossos heróis do campo agora são
high-tech, manipulam joystick, mapeiam
o solo com os drones, planejam safras na
tela e acionam máquinas com a ponta do
dedo. Mas tudo isso é possível porque é
dada a oportunidade de aprender o bê-á-
bá do campo.
123
Equipes solidáriasPor que em grupo e não sozinho?
RENATA DI NIZO EXPLICA NESTE LIVRO A LÓGICA DO BOM FUNCIONAMENTO
DOS GRUPOS NO AMBIENTE CORPORATIVO, ABORDANDO PONTOS
NEVRÁLGICOS COMO O INDIVIDUALISMO E A DESCONSIDERAÇÃO
DO OUTRO. PARA ELA, SOMENTE OS LAÇOS SOLIDÁRIOS MOBILIZAM
A SOLIDARIEDADE NECESSÁRIA AO BOM DESEMPENHO
A partir de constantes mudanças, avanços
tecnológicos e forte necessidade de ino-
vação, o universo corporativo virou uma
torre de babel, impondo às empresas um am-
biente multicultural. Diante desse cenário é pre-
ciso estimular uma ética comportamental capaz
de valorizar o semelhante e, incondicionalmen-
te, ser receptivo às distintas culturas, ao outro,
ao grupo, à integração. Segundo Renata Di
Nizo, garantir um clima aberto à cooperação
é condição de sobrevivência necessária à na-
tureza intrínseca da inteligência coletiva. No
livro Equipes solidárias – Por que em grupo
e não sozinho? (120 p., R$ 39,80), lançamen-
to da Summus Editorial, ela faz uma refle-
xão sobre a necessária transição do mundo
individualista para aquele em que os gru-
pos são possíveis, mesmo diante da con-
tínua dualidade entre real e virtual. Para
ela, somente os laços solidários mobili-
zam o bom desempenho no ambiente corporativo.
“Sabe-se hoje que uma boa política de cargos e salários não é suficiente para re-
ter talentos”, afirma Renata. Segundo ela, as empresas reconhecem a importância de ter
DICA DE LEITURA
124 Junho · 2015
uma pessoa inovadora? Como
se comporta um gestor de
ideias? De que maneira fomen-
tar a geração de ideias em gru-
po? O primeiro passo, segundo
Renata, é adotar uma atitude
responsável para romper as re-
sistências e propor, incansavel-
mente, um olhar de descoberta
sobre a realidade.
Partindo da dinâmica dos
grupos de ajuda mútua – como
Alcóolicos Anônimos, Tabagis-
tas e Mulheres que Amam De-
mais Anônimas, entre outros
–, a autora explica a lógica do
bom funcionamento grupal no ambiente
corporativo. Baseando-se em leis e pre-
missas que orientam e auxiliam indi-vídu-
os que não teriam sucesso sem o apoio
dos pares, ela aborda pontos nevrálgicos
que atingem as organizações, como o indi-
vidualismo e a desconsideração do outro.
Segundo Renata, alguns gaps comporta-
mentais incidem negativamente no de-
sempenho das equipes e, por conseguin-
te, no resultado dos negócios. “Por mais
que se busquem novas estratégias de ges-
tão de pessoas, é importante saber como
motivá-las. Promover um foco comparti-
lhado de propósito não basta”, afirma.
A autora mostra que assegurar uma
cultura de valor norteada por uma pers-
pectiva ética e pelo princípio da responsa-
bilidade é uma estratégia clara e simples
uma proposta estruturada que assegure o
engajamento – o vínculo afetivo, a vonta-
de de ir além, o entusiasmo pelo trabalho
e pela organização. Para que isso se con-
cretize, diz ela, nada confere tanto peso
como a liderança se importar genuina-
mente com o desenvolvimento das equi-
pes e de cada pessoa. “Sustentar a força
grupal que move montanhas é remar a fa-
vor da diversidade”, complementa a au-
tora, lembrando que a criatividade das
pessoas está intimamente relacionada à
qualidade dos relacionamentos.
Dividida em seis capítulos, a obra
mostra que o grande desafio é a mudança
cultural. Na avaliação da autora, uma cul-
tura de inovação exige valores e atitudes
condizentes, demanda traduzir em miú-
dos o comportamento inovador. O que faz
DICA DE LEITURA
125
que implica direção e, consequentemente,
visão de futuro. Em função do dinamismo
do mercado globalizado, ações comuns e
colaborativas tornam-se mais ágeis e ca-
pazes de antecipar respostas, assegurando
uma vantagem competitiva. “Essa sincro-
nia essencial depende de relacionamento,
ajuda mútua e integração. Daí a necessi-
dade de fortalecer constantemente os vín-
culos de confiança e a comunicação face a
face”, explica. Trata-se, diz ela, de garantir
uma cultura de inovação que depende da
gestão de conhecimento, ou seja, aprendi-
zagem decorrente de um processo contí-
nuo de interação.
Por que em rede e não sozinho? Se-
gundo Renata, o potencial colaborativo,
por meio de redes de inovação entre indiví-
duos e entre empresas, parece fornecer res-
postas mais adequadas
às demandas ambientais.
Em vista disso, pessoas e
organizações estão inter-
ligadas por um conjun-
to de relacionamentos e
redes que surgem, com
base em elos de confian-
ça, como uma linguagem
de vínculos. É uma ma-
neira compartilhada de
interagir com a realida-
de, de enxergar e explo-
rar limitações, diferenças
e distintos aspectos de
um problema. “A eficiên-
cia e a eficácia do capital social dizem res-
peito aos processos e às dinâmicas grupais,
à qualidade de relacionamento e à comu-
nicação. Para tanto, é fundamental a troca
de experiências, a disseminação de estraté-
gias, informações e conhecimentos”, expli-
ca a autora.
Para ela, cada indivíduo necessi-
ta, diariamente, renovar seu propósito,
ver reconhecidos seus esforços e celebrar
suas conquistas. Sustentar uma visão com
metas claras e persegui-las sem esmore-
cer – o que pode ser um desafio hercúleo,
às vezes solitário. Por isso a importância
da força grupal, do clima de cumplicida-
de, possível graças aos vínculos solidá-
rios. Estes, por sua vez, só existem quando
há transparência e confiança. “Trata-se, na
verdade, do estímulo ao diálogo: conhe-
126 Junho · 2015
A autora
Renata Di Nizo
formou-se pela
tradicional Es-
cola Superior
de Arte Dramá-
tica de Barcelo-
na. Em seguida, dedicou-se à pesquisa e
à experimentação da criatividade em gru-
pos, no Instituto de Ciências da Educação
da Universidade Central de Barcelona. Em
Paris, estudou teatro com Augusto Boal e
juntou-se a outros educadores, empenha-
dos em fomentar metodologias arrojadas.
Estudou criatividade em Paris com o so-
ciólogo Guy Aznar e dinâmica e funcio-
namento de grupos na pós-graduação da
Sociedade Brasileira de Dinâmica de Gru-
pos e Coaching Integrado (International
Coaching Institute). Em 2000, criou a Casa
da Comunicação, empresa especializa-
da em soluções de aprendizagem que vi-
sam estimular a expressão criativa e o diá-
logo multicultural, repensar velhas formas
de fazer as coisas e buscar outras melho-
res, inovando – em conjunto – continua-
mente. Sua prática profissional inspirou e
embasou diversos livros, que constituem
importantes subsídios para o desenvolvi-
mento de competências de comunicação
e criatividade.
Título: Equipes solidárias – Por que em grupo e não sozinho?
Autora: Renata Di Nizo
Editora: Summus Editorial
Preço: R$ 39,80 (Ebook: R$ 25,30)
Páginas: 120 (14 x 21 cm)
ISBN: 978-85-323-1018-7
Atendimento ao consumidor: (11) 3865-9890
Site: www.summus.com.br
cer e dar-se a conhecer”, conclui Renata.
A obra inclui depoimentos de fun-
cionários dos mais diversos escalões que
participaram de treinamentos em Recur-
sos Humanos conduzidos pela autora.
DICA DE LEITURA
127