Canastra véia - Cosme F. Marques

96
JÉCA TABÚA CANASTRA VÉIA CANASTRA VÉIA CANASTRA VÉIA CANASTRA VÉIA VERSOS VERSOS VERSOS VERSOS

description

Livro prefaciado por Câmara Cascudo, da autoria do professor e poeta natural de Bananeiras - Pb, naturalizado santa-cruzense (RN) Cosme Ferreira Marques

Transcript of Canastra véia - Cosme F. Marques

Page 1: Canastra véia   - Cosme F. Marques

JÉCA TABÚA

CANASTRA VÉIACANASTRA VÉIACANASTRA VÉIACANASTRA VÉIA VERSOSVERSOSVERSOSVERSOS

Natal Editora 1946

Page 2: Canastra véia   - Cosme F. Marques

JÉCA TABÚA

CANASTRA VÉIACANASTRA VÉIACANASTRA VÉIACANASTRA VÉIA

VERSOSVERSOSVERSOSVERSOS

Natal Editora 1946

Page 3: Canastra véia   - Cosme F. Marques
Page 4: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Apresentando um Poeta

LUIS DA CAMARA CASCUDO

Apresento-vos ao poeta Cosme Ferreira Marques. Todos os seus versos estão reunidos,

como vegetação legítima do sertão, flores, cardos, corimbos, folhas, no bôjo da canastra véia

acolhedora e uma.

Vereis a simplicidade comunicativa do poeta e os elementos que ele dispôz para fazer

ouvir sua voz até as margens do mar, vinda do coração da terra norte rio grandense entre as

pedras altas e brancas dos serrotes, dos taboleiros imensos, povoados pela estridência metálica

da sariema

Jeca Tabúa mora na cidade de Santa Cruz, um cento de quilômetro para o interior.

Cercado de filhos, ganhou até poucos meses, vencimentos que seriam recusados por uma

semana de trabalho urbano. Duzentos cruzeiros mensais!

Com esse dinheiro, a família tradicionalmente viva, palpitante de inteligência e de

vibração, bem grande e bem resignada, o poeta não deixou de cantar e sonhar, entre pedras e

sofrimentos, numa atitude obstinada de exilado que teima em olhar, no horizonte longínquo, a

sombra da terra em que nasceu.

Não haverá valorização mais alta, irrespondível e lógica que o perguntar-se ao criador

em que estado e circunstância psicológica realizou a sua criação.

Certo é que o talento é determinador de maravilhas em qualquer posição tomada ante a

vida. Mas vamos pensar no que seria Alexandre Magno tendo nascido na Albânia ou Vitor Hugo

cidadão de Karthum. E se o elemento econômico, ambientador, não anima ou retarda o vôo

luminoso da poesia. Ninguém discute que os poemas da Liberdade foram escritos na cadeia e

que quase todos os mestres do Humorismo foram homens tristes, de vida triste.

Cosme Ferreira Marques é poeta que, antes do livro, nos dá uma lição de perseverança

e de fidelidade letrada. Tudo que o podia desanimar e vencer não o desanimou nem o venceu.

Passou epidemia, tempestade, crise, desalento, como um avião atravessa nuvem ou, lembrando

um verso de Ferreira Itajubá: - um gume cortando polpas de maçãs maduras.

Page 5: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Quando muita gente desanimou e virou homem prático, acabando rico e dispéptico, Jeca

Tabúa continuou poeta, poeta, poeta.

Vereis, Leitor bem intencionado, que todos os temas desse livro são assuntos humanos,

episódios domésticos, nomes de filhos, de amigos, de companheiros, ramos da paisagem doce e

ambiental que o cerca.

Para Cosme Ferreira Marques, para sua inteligência sensível e grande coração

afetuoso, a Poesia é a grande consoladora, a luz serena, dando calor e guiando.

Para ele a Poesia é sagrada e ritual, como Saadi, Omar Kaiíam, Tagore ou Mistral.

Nada mais emocional que esse pai que não pode comprar um presente para o

aniversário da filhinha, o mais simples, o mais pobre, o mais humilde presente. Para festeja-la

escreve um soneto, uma canção e entrega à filha, como a oferta do seu sangue, a luz do

espírito, o ritmo do coração. A pena, como o bico do pelicano clássico, abre o peito e a filhinha

recebe um presente arrancado à alma que a gerou.

Lembro que, na Idade Média, quando os trovadores e troveiros viajavam sempre,

passando e repassando a muralha dos Pirineus, indo para os reinos de Castela, Aragão, Leão e

Navarra, indo para a Provença, para o condado portugalense do conde Afonso Henrique, não

tinham, muitas vezes, uma só moeda na sacolinha pobre.

Chegava o poeta, o felibre, o mestre cantor, na cabeça de uma ponte. Era preciso pagar

a travessia, o direito de pedágio. O poeta parava, erguia a citara ou o citolon, e cantava, ao vento

triste da tarde, uma canção. Era a moeda que Deus lhe dera para viver.

Cantava e passava. Pagara o direito do pedágio.

Assim Jeca Tabúa, Cosme Ferreira Marques. Quando a emoção lhe exige os direitos da

impressão mental, quando a família lhe pede a prova da alegria cordial, quando os amigos

recordam, inconscientemente, o dia de festa e de oferta, o poeta, sem a moeda que os homens

fabricam e que vale tudo para a poeira do Mundo ergue a voz, cantando num verso simples, o

direito de cunhar e circular a outra rutilante moeda cujos domínios estão em todos os espíritos.

E assim passa, de coração em coração, para o Futuro...

Page 6: Canastra véia   - Cosme F. Marques

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, José Maria Marques e Isabel Oscarlina dos Santos, um preito de

devotamento.

A minha esposa, companheira de lutas e canseiras, um conjunto de admiração e amor.

Aos meus idolatrados filhinhos José Maria Neto, Maria do Rosário Marques, José

Maurício Marques, Maria Lúcia Marques, Maria do Socorro Marques e José Mário Marques, um

beijo paternal.

À memória de todos aqueles que, já desaparecidos, ou ausentes, relembro nas pobres

páginas deste livro; á uns a minha saudade, á outros, a minha eterna lembrança.

Ao meu irmão Francisco de Assis Marques e família, fraternal amizade.

Aos companheiros de Repartição, um amplexo afetuoso.

Ao Cel. Vivaldo Pereira de Araújo, o meu eterno reconhecimento.

Page 7: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Algumas palavras

CANASTRA VÉIA... título pobre e desgracioso para um livro. Escolhi-o. O que é senão o

meu livro, um baú de recordações?

Os seus versos, se é que a essa mistura de frases rimadas, pode-se dar esse nome, são

cantos pobres, destituídos de floreios literários, representando apenas, imagens de pessoas e

coisas dos bons tempos da meninice. Quis, retratá-las, gravando em versos aquilo que tanto

amei e continua fielmente impressa no meu Eu.

A primeira parte do livro está constituída de “Pés Quebrados” numa linguagem matuta,

toda regional. Procurei arremedar esta linguagem falada pelos nossos sertanejos sofredores;

procurei pintar em versos, as imagens tão queridas, que rodeavam a minha existência, quando

ainda criança; e, MEU CORAÇÃO, BAÚ VÉIO I CANÇADU, guarda no seu mais recôndito, no

seu amago, tantas lembranças que ainda hoje povoam a minha fraca imaginação.

A segunda parte, posso chamá-la de “Vibrações d’Alma”. São cantos desferidos ao

toque de um sentimento, quer de afeição, de dedicação e de gratidão, a amigos, filhos e

protetores. É um heterogêneo de versos, quadras, acrósticos, sonetos etc. São pedaços da

minha alma, ofertórios de meu coração; são lamentos, são festins oferecidos a todos a quem me

dirigi.

Para oferecer ao público trabalho tão insignificante, recorri tão somente ao grande

mestre “Sentimento”, cooperando com o mesmo, a linguagem regional tão costumeira entre o

nosso povo. Ofereço, portanto, não um livro, mas, retalhos de minha alma, repartidos entre os

que recebam este sem outro fito, a não ser o de dispensar ao Jéca Tabúa, os defeitos e erros

que aos montes se encontram no CANASTRA VÉIA.

Com estas palavras apresenta-se

O AUTOR

Page 8: Canastra véia   - Cosme F. Marques

PARTE I

Page 9: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CANASTRA VÉIA ... Ao Afonso Geroncio da Fonseca

Canastra véia... tú tem

dentro de tú bem guardado,

as istóra dum passadu

todo meu:

Canastra, juro pru Deus

inquanto vida tivé

di zelá essis papé

di lembrança:

Minha vida di criança...

adispôi a di rapás.

daquelis tempus pra trás

tempus bão:

Baú di arrecordação

qui guarda tantas lembrança,

tant’inluzão e isperança

quêu tinha:

Page 10: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Canastra! Canastra minha,

vô(*) ti dizê di verdade,

sois, baú só di sódade

i judiação:

Também o meu coração,

é um baú véio i cançadu...

Más trái tudim bem féxado

I siguro;

Já tô* véio, tô* maduro,

a morte logo mi arcança...

más num carrega Sinhô

a canastra de lembrança.

(*) Escrito no original como vê e tê, em evidente erro tipográfico. No corpo do texto

foram igualmente corrigidos erros análogos, em que foram acrescentados os

correspondentes acentos circunflexo e agudo, para assinalar as palavras oxítonas ou

monossílabos tônicos, ausentes por evidente erro de tipografia. No mais foi respeitada

a ortografia correspondente à linguagem matuta utilizada pelo autor, na primeira parte

da obra, e, na segunda parte, aos hábitos ortográficos não uniformes, vigentes à época

anterior à reforma ortográfica de 1943.

Page 11: Canastra véia   - Cosme F. Marques

D. ZÉFINHA As Exmas. Sras. Iací Xavier e Hermilia G.

Gonçalves Bezerra

Sinhôras, mi alembru dela...

da boa D. Zefinha,

a dona de CAIÇARINHA

tão falada...

Arma grande, arma dotada

qui a guarde u Redentô,

a munta gente curô

na redondeza;

Seus remédio, era certesa

I tinhum munta valía..

Ela dava méópatía

pelo dôtô;

a munta gente sarvô

dûa morte agarantida,

a muntos ela deu vida

i saúde;

Page 12: Canastra véia   - Cosme F. Marques

era chêa de virtude,

era munto caridósa

era a muié mais bondósa

di redó;

Morreu, foi mermo qui o Só

fartár-nos durante o dia,

Beladona...Jalapa...Nós-vomica

Suas dósa...méópatia...

Março de 1938

Page 13: Canastra véia   - Cosme F. Marques

VELHOS CARREIROS À memória do ilustre Abdias Gomes de Almeida

Bezerra, o incentivador de RIMARIOS.

Um carro a gemê e a chorá

decendo numa ladêra..

di vagá, ca priguicêra

acustumada.

Cantando...aquela tuada

nua harmunia dólente,

fazia gêmê a gente

u seu canto;

a tarde, era um quebranto,

i naquela vagarêsa,

du carro e da naturêsa

era bunito;

di vêz in quanto, um grito

du carrêro Bacuráu,

cum o ferrão feito de pau

na mão;

Page 14: Canastra véia   - Cosme F. Marques

gritava, na solidão

do dia quase acabado,

é Brioso...é Bordado

é boi?!...

Passado qui já se foi,

a tempos cumo sois mau!

Mais num apaga a lembrança

Di João Birro e Bacuráu.

.

Page 15: Canastra véia   - Cosme F. Marques

QUÉQUÉU Ao coronel José Rodrigues de Carvalho

Meu sinhô, mi iscute bem,

mi preste toda atenção;

é uma recordação

di minino;

Si num mi faiá u tino,

inté num sô isquecido,

u seu nome era Ocrido

vurgo Quéquéu;

a menininho incréu!

era mermo artilôso,

era muito perigoso

i brigão;

fazia judiação

era u dimonho in figura

era dessas criatura

impossíve;

Page 16: Canastra véia   - Cosme F. Marques

U minino era incrive

erum perigo patrão,

si paricia um tufão

amolestado;

ôje ta munto mudado,

dizem qui é aviadô...

o Quéquéu, já ta dereito...

nun sei cuma indireitô.

Page 17: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MÃE ANINHA Ao Miguel Rocha Sobrinho

Eu vi ela; tanto tempo

qui eu num via a véinha,

assistente mãe Aninha

Santiago;

Na minmóra ainda trago

u seu retrato instampado;

pôs tombem eu fui pegado

pur éla;

Muntos hóme i donzela

pur as mão dela passô,

a muntos ela ajudô

a vivê;

Mãe Aninha, u meu prazê,

Toda minha gratidão,

vae inscrita nestes verço

num preito de dimiração.

Page 18: Canastra véia   - Cosme F. Marques

GAMELEIRA VEIA... Ao compadre e amigo João Felipe Damasceno (Dadão)

Quanta sódade q’ueu sinto,

daquela arve frondáda,

onde toda meninada

si divirtia!

Na sua sombra si uvía,

u canto dos passarinho

qui nela fazia us ninho

di amô;

ô antão-se us Bêja-frô

cas suas pena dórada,

cherando as frô prefumada

cun bico;

as vêze cismando fico,

pensando óras inteira,

vendo a véia gamilêra

tão arta;

Page 19: Canastra véia   - Cosme F. Marques

in minh’arma si retrata

us seus gaio agigantado

i dibáxo amoquecado

nóis vivia;

a gente si divirtia,

era pagóde i fonção,

sentado u véio Dadão

assuviava,

i u tempo assim si passava

cumo um sonho di esperança...

vida boa...vida rica

nossa vida di criança.

Page 20: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CRIME

Matá um a férro frio,

assaciná um cristão...

dá facada bem nus vão

dum sê,

Sinfóicá só pru querê

isfalicê dipindurado,

ô antão se envenenando

cum arsenu,

inguli quarqué veneno

somente pra s’ispichá,

tê gosto di si matá

pru gosto,

pru via quarqué disgosto

ô antão-se ruêdêra...

ô mermu cum lambedêra

ô punhá,

Page 21: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Tê u gosto di matá

somente pru marvadeza,

marvado di natureza

rim...

pois tudo isso pra mim,

num é crime meu patrão,

crime, é ingratidão

di muié;

ela si torna um quicé,

amolado i cortadô...

mata a vida e u amô

mas siguro;

Meu patrão, aqui li juro,

esse crime é sem perdão...

diviria havê centença

pru crime d’ingratidão.

Page 22: Canastra véia   - Cosme F. Marques

JOÃO PINHEIRO Ao Dr. Odorico Ferreira de Souza

Patrão vaimicê se alembra

du nego véi João Pinheiro,

u mió aboiadêro

i bóiadô?

Si alembra seu Dôtô

qui quando ele abóiava

as rua regurgitava

di gente?

inda trago bem patente

u abôio sintimentá,

aquele abôio sem iguá

no Norte...

Guela chêa, peito forte

tipo mermu du vaquero,

mi alembro dôtô, mi alembro

du abôio di João Pinhêro...

Page 23: Canastra véia   - Cosme F. Marques

DISEJOS... Ao Dr. Lourival Ferreira de Souza.

Seu dôtô, eu num dêsejo

casa boa nem riqueza;

nem tómóve nem beleza

nu falá;

num desejo viajá

pru essis mundo ixtrangero,

nem pru Rio de Janêro

nem Baía;

nem também tê regalia

di muita comódação...

nem vuá nus avião

di viadô;

nem imbaicá nus vapô

qui anda pur má afora,

eu num desejo mióra

ninhua;

Page 24: Canastra véia   - Cosme F. Marques

eu num quero côsa argua

dessas muderna inventada,

di raido qui fás zuáda

i falação;

eu só queria patrão,

nu mundo tê um prazê,

duns óio, q’ueu sei mordê

mastigá...

pra u gosto dêsse óiá

ficá nas minha guéla

(pois patrão, os óio dela...)

a zóim!...

Page 25: Canastra véia   - Cosme F. Marques

FABIÃO DAS QUÊMADA Ao Horacio Rocha

Era piqueno, mi alembru

du cantadô Fabião;

su rébeca, seu baião

gêmedô;

Puéta provizadô;

nêgo véi intiligente,

perigoso nu repente

da puizía;

onde cantava, curria

um povão pra iscutá

u puéta sem iguá

na rêbêra;

I cantava a noite intêra

históra de apartação,

das vaquejada de então

qui havia;

Page 26: Canastra véia   - Cosme F. Marques

a sua rébéca gimia

no seu Redondo sinhá,

a gaiganta ritinia

num canto sintimentá...

Page 27: Canastra véia   - Cosme F. Marques

ARRITIRANTES... Ao Coronel Ezequiel Mergelino de Souza

Coroné num sadimire

du istado qui mi vê,

venho di riba du quimquê,

du sertão:

mi arrepare meu patrão,

a mizéra mi consome,

dois fio morreu a fome

nus caminho;

aqui patrão, tô sosinho,

morto di fome, cançado...

a famia, ali nu quebrado

mi ispéra,

cum fome, mardita éra

qui trás a seca terrive,

é duro Patrão, é horrive,

pra mim;

Page 28: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Eu nunca mi vi assim,

nu istado qui mi vê,

vendu meus fio morrê

nus braço,

foi pra mim cumo um pedaço

tirado do coração,

mi secorra coroné,

uma ismola meu patrão.

Page 29: Canastra véia   - Cosme F. Marques

QUEBRANTO Ao amigo José Josias Bezerra

Tu num néga meu amigo,

qui andas aduençado;

ti vejo assim tão calado

i triste!?...

A móde qui já sintiste

ô antão-se tás sentindo

dentru di tú si bulindo

um négóiço?

Tem coidado, esse tróço

é doença, ti agaranto,

é u marvado quebranto

duenção,

ele ataca u coração

méxe cum côipo da gente,

não tem cristão c’aguente

um mêi,

Page 30: Canastra véia   - Cosme F. Marques

si agarra dua vêis

fás da gente aquele móio,

Quebranto, náce dus óio

das cabôca;

dá abrimento di boca,

é aquela priguiçêra...

fás da gente ua porqueira

dus cão;

Amigo, é duenção,

u quebranto é di matá,

i u réméido qui li séive,

é cum éla si cazá.

Page 31: Canastra véia   - Cosme F. Marques

AQUELA CASA! Ao Dr. Octacilio Ferreira de Souza

Meu patrão, aquéla casa,

qui s’avista na ladêra,

tão cheia de trepadêra

du mato;

vóis tá vendo seu matrato,

aquele seu abadono,

cumo uma casa sem dono

insquicida?

pôs ali já ôve vida,

já teve folicidade;

oje só resta a sódade

i a tapéra;

Pôs ali in ôtras éra

inzistiu um ninho di amô,

aus rédó...tantas fulô...

er’um jardim;

Page 32: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Seu moço, ói bem pra mim

veja meu zóio a chorá,

foi ali u meu artá

meus bem querê;

Meu patrão póde me crê,

eu vivo assim na mizéra

quinem aquela tapéra,

disprezada;

Vivo quá arma penada,

pércurando uma inluzão...

só mi encontro ca sódade

TAPÉRA DU CORAÇÃO.

Page 33: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MADRINHA AMALIA Á D. Nanita Ferreira de Souza.

Patrôa, madrinha Amáia

uma santa criatura,

era a image da candura

i piadade;

arma chêa de bondade,

a todos ela agradava,

in sua casa, num fartava

gente;

munto carma, e paciente,

cunversadera i risôna,

i ingraçada...

a morte levô-a; a marvada!

a coração inpedrado!...

minha madrinha, lá do céo

abençôe seu afiado.

Março de 1940

Page 34: Canastra véia   - Cosme F. Marques

INVERNO Ao Dr. João Francisco Dantas Sales

Cai a chuva a noite intêra,

ronca bem perto o truvão;

já se alegra o meu sertão

quirido;

ai cuma é divertido,

a gente ainda deitado

vendu a chuva nu téiado

batendo?

Di menhã, a gente vendo

us campo dágua cuberto,

u rio cheio, bem perto

zuando...

us bizerro iscramuçando

numa carrera danada,

inté mermo a bicharada

fica contente;

Page 35: Canastra véia   - Cosme F. Marques

inverno é cá pra gente

cuma ôro meu patrão...

si transfóima mundo i gente

cum inverno no sertão.

Março de 1946

Page 36: Canastra véia   - Cosme F. Marques

GRATIDÃO As professoras Leonor Vasconcelos e Palmira

Barbosa, de quem recebi os mais belos e Melhores ensinamentos.

Donas me alembro bem...

tinha seis ano interado,

quando fui matriculado

na iscóla;

Eu tinha boa cachola

dessas de intéligença,

i junto ca paciença

de vaimincês,

aprendi in pocos mês

lê, iscrevê i contá,

aprendi a dézenhá

tombem;

minha mimóra inda tem

lembrança i satisfação

in lembrá as purfessôra

qui me déro inducação.

Maio de 1940

Page 37: Canastra véia   - Cosme F. Marques

AMÔ SERTANÊJO Ao poeta Abel Rodrigues de Carvalho na noite de 23 de Junho de 1940 em C. Novos.

Nua noite cuma essa,

cum um céo todo arrendado

d’istrelas alumiado

e luá...

Dessas Lua sem iguá

cum’otra num se vê,

nessas noite eu vi nacê

meu amô;

Seu moço, vóis já provô,

u gosto dessa paxão,

das cabôca du sertão,

tão bunita?

A sódade aqui mi grita,

num mi dêxa más falá...

seu Abé, u amô nace

duns óio qui sabe óiá.

Page 38: Canastra véia   - Cosme F. Marques

SECA... Ao Dr. Eloi de Souza, ilustre batalhador sertanejo.

Seu dôtô, vóis já conhece

u fragelo du sertão?

Vaimincê já viu patrão

a seca?

Qui tem sido toda a pêica

di nós pobre sertanejo,

é quinem aquele bêjo

de Juda?

Farça, ruim, úriuda

marvada...inquelemente,

acaba cas nossa gente

e cuns bicho?...

A dimonha tem capricho

de tudo í insfolando,

povo e gado dizimando

sem dó;

Page 39: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Seu dôtô, é más mió

a gente num ispricá

us grande e terrive má

das criza;

trás a fome, cumo briza

seu vento, nicícidade

i toda calamidade

vem cum ela;

é bem feia a cara dela,

num tem nada di bom trato,

isso eu li juro patrão,

pois já vi u seu retrato.

Fevereiro de 1941

Page 40: Canastra véia   - Cosme F. Marques

LUA CHÊA Ao Dr. Camara Cascudo.

Moço, seu fosse inducado,

tivesse munto sabê,

minha vida er’inscrevê,

prus jorná;

Falava nesse luá

dessas Lua qui lumêa,

qui nu sertão quilarêa,

inté a gente;

a móde qui ela sente

u ca gente ta sentindo;

ela só véve sirrindo

meu patrão;

a lua cá du sertão,

parece qui é dotada,

foru más bem trabaiada

póde crê;

Page 41: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Quando a lua vem nacê,

nu tempo qui ela é chêa,

é bunita cumo bêia

seu dôtô;

Seu CATULE discantô,

a lua du Ciará,

más moço, u meu luá...

u meu luá...

Eu sô capás di jurá,

cum ele num tem parêa,

o brio dele patrão

inté a arma alumêa.

Agosto de 1941.

Page 42: Canastra véia   - Cosme F. Marques

A SEU PUDESSE! Ao grande iniciador radiofônico Luis Romão.

Seu môço, eu uvi dizê

qui a munto já si criô,

n’argença Pernambucana

um tar dum Indicadô?

A móde quinem um raido,

qui fala pras murtidão,

inspricando as boa nova

pru meio di falação?

A seu moço seu pudêsse,

tombem nu bicho falá!..

Amostrava u meu sertão

Prus povo das Capitá;

Dibuiavá a vida véia

qui nós leva nessa terra...

dizia todas beleza

das verdura cá da serra.

Page 43: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Quiria moço dizê

da lindeza dus luá,

da lua tamãe dum bombo

la nu céo a lumiá.

A seu tivesse córáge,

í dinheiro seu tivesse,

só pra í lá nus Natá,

A SEU MOÇO SEU PUDESSE!

Agosto de 1941.

Page 44: Canastra véia   - Cosme F. Marques

OIA’ DI FÔGO Ao ilustre poeta Jaime dos Guimarães Vanderley

Teus óio cabôca, são

duas chama qu’incandêa,

dois óio de Só d’inverno

dois brio di Lua chêa...

Duas véla si quêmando,

duas braza di aroêra

duas lús di óstrómóve

duas boca di caêra.

dois vurcão s’incendiando

duas lús qui dóe nas vista

duas róda di festejo

dessas di fogo de vista.

Duas chalêra fervendo,

fervendo cum água quente...

teus óio cabôca quêmam,

inté a arma da gente...

Agosto de 1941.

Page 45: Canastra véia   - Cosme F. Marques

FLOR HUMANA.... A D. Auta Brandão, no estagio, realizado no D. E. E. em Dezembro de 1941

Sá dona, u mundo véio,

é um imenso jardim,

é grande, é munto gránde

parece num tê más fim.

I penso qui o jardinêro

qui esse jardim fabricô,

iscuiêu dona, as muié,

pra sê dele suas fulô.

Tem di toda versidade,

tem fulô feia i catita,

i vóis sa dona sois uma

du bróco das mai bunita.

Carculo, qui as outra frô,

véve chêa di ciúme,

pruquê vós tem más carrego

nu vosso chêro i préfume.

Page 46: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Sá dona, vóis tem más vida,

nesses óio tão faguêro...

u disgosto qui mi mata,

é eu num sê jardinêro...

Don’Auta, peço perdão

Pru essa minha artitude,

más sá dona, é du matuto,

(Falá verdade, é vértude).

Page 47: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CARIDADE... Ao Doutor Mariano coelho, o benemerito Médico da zona sertaneja.

Patrão, vaimencê amostra

da caridade a figura;

a pois é a criatura

más bondosa,

a arma más caridosa

qui já viu esses meus óio,

seu dôtô vóis sois um móio

de bondade;

vóis retrata essa bérdade

a más santa das virtude,

vóis tem salucitude

di pai;

nessa rêbêra, num ai

um más mió qui o sinhô,

todo mundo seu dôtô,

li qué bem;

Page 48: Canastra véia   - Cosme F. Marques

I nesses verço tombem,

amostro a sastifação,

levum dôtô Mariano

toda minha gartidão.

Janeiro de 1942.

Page 49: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CABÔCA DU SERTÃO Ao compadre e amigo Luís Patriota.

Teus cabelo são pretinho,

quinem aza de caraúna,

tem um brio da rizina

do tronco da baraúna.

Teus óio, são tão iscuro

quinem fruita di quixaba,

tem a lúa da Lúa chêa

briante qui nun se acaba.

Tua boca é piquinina

dentes branco qui alumia,

teus lábios, são paricido

ca porpa da melancia...

Tens a vós da juriti

quando canta nu baxío,

tem u saluço das água,

das água mança du rio.

Page 50: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Infim cabôca, tu sois

a vida qui mi incanta,

Sois todinha amodelada

pur um mudelo di Santa.

Outubro de 1943.

Page 51: Canastra véia   - Cosme F. Marques

DEPOIS DAS FESTAS Ao ilustre casal, JOSÉ C. FIUZA-MARIETA

BEZERRA, o meu humilde mas sincero parabém, pela data tão significativa de suas Bodas de prata.

Cheguei tarde, eu ricunheço,

u meu vagá, minha tardança;

más vaimicês mi discurpem

tô véio quinem as gança...

Más imbora mermo tarde,

a vóis um verço dirijo,

os meu sinceros imbóra

pelo vosso arrigusijo.

Pru vossa sastifação

nesse dia, um tesôro...

meus voto qui vóis assista,

as vossas Boda de Ôro.

Page 52: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Eu quis pessoarmente

o meu abraço levá...

más...num diga a ninguém

num tinha rôpa pra i lá.

Page 53: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CUNHICIMENTO Para Dr. Djalma Marinho e Teodorico Bezerra.

Seu coroné Tidurico,

fez travá cunhicimento,

cum Bacharé de talento,

létrado;

Dôtô, Djarma, falado,

um moço di numiáda,

qui fás questão increcada

si acaba;

Num sô dôtô, num sei falá,

sô matuto aferventado,

más moços, sô divógádo

di ceitação;

eu só resôrvo questão,

sem fala, sem briga, sem guerra...

encrencas qui vem dus óios,

das cabôca de minha terra.

Março de 1944.

Page 54: Canastra véia   - Cosme F. Marques

NOITE DE SÃO JOÃO Ao amigo Nestor Galhardo.

Seu môço, eu vejo S. João,

mais um S. João sertanejo,

um S. João qui sempre vejo

Toda vida,

O mato, di fronte erguida

lá na frente du têrrêro,

infêitado, esguio, lampêro

contente;

Vêno u povão, toda gente

in seu rédó frótiando

i u fuguêrão si quémano

a vontade;

S. João di felicidade

di fartura i di discançu,

brandu como u remanço

Dûa canção;

Page 55: Canastra véia   - Cosme F. Marques

ai quanta arrecordação

daquelis tempus passadu!

hôje tá tudo mudado

nem parece.

um fôgo num aparéce,

fuguêra já num inziste,

até a inmage du Santo

arrepare qui tá trixte.

Page 56: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MARGARIDA... Ao Miguel Andrade.

Seu moço, a Margarida,

aquela véia véinha,

ricurvada i bem pretinha

quinem caivão;

aquela véia patrão,

trabaiava noite i dia,

i criô grande famia

na fartura;

Inté qui pra sepurtura

seu coipo véio baxô,

num sei si arguem chorô

pur ela;

Morte bunita a dela,

Morreu cum’uma criança...

Margarida, toma esses verço

Tua corôa di lembrança.

Março de 1944.

Page 57: Canastra véia   - Cosme F. Marques

SOFRER Ao Cícero Pinto, amigo de lutas.

Môço, a vida véia

é um má di sufrimento,

é cabeça sem idéia

é idéia sem alento.

U mundo, véia candêia

trás a gente acorrentado,

inxãme grande di abêia

num vivê atribulado.

U rico récrama a vida,

pru tê feito mau negóiço,

u pobre coisa perdida

arrecrama seus distróço.

Carcule meu véio amigo,

a vida de um poeta!

Arma sôrta sem perigo,

Êle num véve, végéta.

Page 58: Canastra véia   - Cosme F. Marques

U ISTAJO NO RETRATO...

Eu venho dôtô Anfilóco

Nessis verço aprezentá,

Us agente da Sigunda

Qui vinhéro istagiá.

I apruveito a monção,

Prus Sinhô agradicê,

As lição tão pruveitosa

Qui vinhemu arrecebê.

Nossos agradicimentos...

Si torne tombem patente,

A tôdus daqui da casa

I us dôtôris assistentes.

Tôdus elis si mostraro,

Chêis de dedicação.

Cum paciença incinaro

Istatisca in prufuzão.

Page 59: Canastra véia   - Cosme F. Marques

In nome dus companhêrus

Da sigunda vô falá...

Dizejâno a vaimincês

Filis ano, bons Natá.

Cuntinuano a verçada,

Dô uma coipa fié,

Cumeço cum Zé Farnande

Agente di São Tumé.

U seu Bizerra Linhare

Di Currai Nóvo é agente,

U Ivã dos Acari

Nunca fêi vergonha a gente.

A Naí, das Serra Nêga

Das Parêa, a Guiomá,

Jucurutú tombem vêi

Nosso amigo Precevá.

O Arnaldo druminhôco,

Dus Jardin du Siridó,

U Perera das Fulôres

Ademá, dus Caicó.

Mai u batuta da Turma,

Gerente, dôtô di fato...

É u Zé Luí di França

Lá di Santana dus Mato.

Page 60: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Di Báxa Verde é o Pedro,

Bem franzino u rapagóte,

Da istatisca ele é

O mai novo, é u fióte.

U úrtimo, u du finá,

Dêssi istajo tão falado,

Sô eu, u de Santa Crui,

Químbáxo vô assinado.

Natal, 22 de Dezembro de 1941.

Page 61: Canastra véia   - Cosme F. Marques

ESTAGIO DE CURRAES NOVOS Ao Delegado Regional, aos Delegados Seccionaes e

Secretario e aos Delegados Municipais da 2ª. Zona.

Senhor doutor Anfiloquio

Venho pedir permissão

Para do estagio fazer

A rude apresentação

Seu Dôtô seu Anfiloqo

Vei fazer encerramento

Do ta Recenseamento

Do Istago:

Dôtô Óto, cum seu trajo

De terno branco agajota

É delegado de nota

i num é sonso:

O Monsenhô Palo Éronso

É um pade delegado

Quim unto tem trabaiado

Nos laboro:

Page 62: Canastra véia   - Cosme F. Marques

O ôtro munto simploro

(é gente do mió pano)

Dôtô Zé Merenciano

É um valô

O seu Jorfi é um pavô,

É nos trabaio incansavi

São este qui fóima a chave

Da dereção;

Inda tem u cidadão

o sinhô Mané Cuêio

Qui do censo é um istêo

Bão:

Pra uvi as instrução

Da dereção rifirida,

A trinca foi reunida

Dos Delegado:

Dos municipio do Istado

Isso é, de todos não

Aguenhite notu os quistão

No cerramento;

O premeiro é no momento

U valô ca du Sertão

Seu Sobrinho-confusão

Preguntadô:

Page 63: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Aparece ótru Sinhô

Sabidão di dimirá

Seu Olavo dus Jorná...

Dêrêtô:

Dus otro é um valô

Nem qui seja nesa lista

Seu Geronso o charadista

Topado

Seu Laro de ané passado

É dôtô de grunumia

Nos Boletim de famia

é pesado:

Lá vai outro delegado,

Ese é bom qui nem se fala...

Zé Santa so fala im bale

Dos Caicó:

Seu elampe eu tenho dó

Desse pobe delegado

Nem drumí póde o coitado

só pensando

ôtro é só preguntando

P’ra das lição cuiê fruto

Aprigio, sub-produto

Industriá...

Page 64: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Terminando vô falá

Cum veidade e cum certeza

Seu Bizerra, das impreza...

Da istatisca:

E pru fim seguindo a risca

Desse trabaio braçá...

O colega de Bizerra

P’ra baixo vae se assiná

* *****

Dotores vão discuipando,

O geitão cuma eu penso

A refém desse tá censo

Nacioná

Nós vihemos si ajuntá

P’ra uvi uma lição,

Dos dôtô cá da sessão

Secioná

É um serviço braçá

Cuma dixe um delegado

Nas capitá do Istado

Ôtro dia

Page 65: Canastra véia   - Cosme F. Marques

Tem sido tanta ingrisia

De dimirá todo povo,

Uveia ta pondo ovo!

Avali:

Foi coisa que nunca vi

Cuma ta tudo mudado

Só mermo prus delegado

Do censo:

Só tendo o juízo menso

É preciso que se ajeite

Si não galinha da leite

é um horror:

Nesse caso Monsenhô

O censo vai p’ra dois ano

Seu dôtô Merenciano

Qui diga:

Tudo isso é uma ispiga

Pur isso qui o povo berra

Só seu dôtô Oto Guerra

Ispricando

Monsenhô vá discurpando

Essa linguage rastêra,

Embaixo vou assinando

Jéca Tabúa Pêrêra.

Page 66: Canastra véia   - Cosme F. Marques

PARTE II

Page 67: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEU PRESENTE A minha esposa no seu natalício.

Muito embora nada possa ofertar-te,

Ao transpores mais um aniversario,

Recebe ao menos, este verso tão sem arte

Incolor...mas, nele se reparte

A minha alma, à ti ó meu sacrário.

Mil castelos formulei em minha vida,

Ilusões, quimeras, quantas lembranças!

Nessa luta intermina, ó querida,

Há um gênio tutelar, minha guarida

Aonde guardo todas as esperanças.

E hoje, nesse dia tão feliz,

Sinto cousa alguma te ofertar...

Pobre de mim, apenas dar-te-hei

O meu verso, mas, ele vae levar

Sorrisos, paz, amor e alegrias

A ti Maria, anjo do meu lar.

5 de Maio de 1942.

Page 68: Canastra véia   - Cosme F. Marques

ACROSTICOS Ao Cel. Vivaldo Pereira de Araujo, a quem devo a

publicação do presente livro, toda minha gratidão.

Venci, senhor, porem a vós o dêvo,

Ingrato sería, senão o confessasse,

Venci, eis o meu maior enlêvo

A lira velha quase a espatifar-se

Lesta, ágil, pululando de ccontente,

Diz da gratidão assim publicamente

O meu sonho realisou-se finalmente.

Publiquei o meu livro, quanta emoção!

Em vê-lo espalhado por toda parte!

Reuni em versos, o meu próprio coração

Embora despido de retórica e de arte.

Imaginei-o infiltrando-se pelos lares

Retrovertendo alegrias e pesares

Á terra, ás gentes, aos céus e mares.

Santa Cruz, 26 de julho de 1946.

Page 69: Canastra véia   - Cosme F. Marques

II

A Eunice Pereira, virtuosa, culta e incansável trabalhadora pró Reinado Social de Cristo.

CCCCurrais Novos, Jerusalem da zona sertaneja, RRRRecebes cheia de fé a sacrossanta lei, IIIIrradiada de luz, que a brancura alveja; SSSSois exemplo fiel de pacificadora grei. TTTTens os olhos, voltados para a Igreja, OOOO teu estímulo e força está em Cristo Rei. RRRReine em ti eternamente o decálogo de Moizés, EEEE na confusão ilusória e sofistica desta era, IIIInflamados de amor em Cristo, gritem os fieis: Cristo vence, Cristo reina, Cristo impera. Currais Novos, 9 de Julho de 1946.

Page 70: Canastra véia   - Cosme F. Marques

III

Ao amigo Elpidio e família no centésimo vigésimo dia do desaparecimento do seu inesquecível filho,

um preito de gratidão.

GGGGeraldo, botão de rosa desabrochado, eeeem um jardim de roseiral em flor, rrrrespiraste, o ar odorificado aaaaspiraste da vida o seu odor; llllutaste qual antigo cavaleiro ddddivisando o porto alvissareiro oooouvindo o canto sublime do amor. AAAAté um dia, a carpa traiçoeira, ttttétrica, horrível, sem piedade, aaaarrastou-te, levando-te a fogueira iiiimensa, de sua grã calamidade; ddddormes em paz, e sobranceira eeeeleva-se tu’alma para a eternidade. PPPPadeceste na terra, sem um lamento, eeeestoico, sereno, imensamente forte, rrrresististe heroico a tanto sofrimento eeeentregando-te a Deus, á própria sorte; iiiimaginavas já perto o teu momento, rrrrisonho, em dor atroz mostras alento aaaabraçando sorrindo, o espectro da morte.

Santa Cruz, 6 de junho de 1946.

Page 71: Canastra véia   - Cosme F. Marques

IV

Ao casal Francisco Tales Bastos e Alice Bastos, oferece o autor.

JJJJóia humana, presente do bom deus, OOOOuro engastado e unido por dois élos; SSSSois presente dos anjos, vindo dos céus ÉÉÉÉs objeto e amor, ciumes e desvelos. LLLLevem estes versos, todos meus desejos, EEEE os teus dias se multipliquem em anos, OOOO teu caminho seja um florir de beijos NNNNa tua vida nunca encontres desenganos. AAAAlcances feliz, o trajeto da vitória RRRReazlises os teus sonhos, na existência, DDDDeixes um nome emoldurado pela glória OOOO teu guia perene seja a inocência.

Santa Cruz, 26 de julho de 1946.

Page 72: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEUS PARABENS Ao benemérito casal-Gregorio e Mocinha Barroca,

na passagem de suas Bodas de Prata.

“B“B“B“Badalam os sinos nos zimbórios dos tempos” OOOOuve-se alegre, os seus carrilhões, DDDDuas almas escutam unidas em laços AAAAo som compassado de seus corações SSSSonhando felizes jungidas em abraços. DDDDuas almas... dois sonhos... duas vidas... EEEEternamente felizes eternamente unidas. PPPParabens eu vos dou, na data de hoje, RRRRelembra a saudade do dia feliz, AAAAos pés do altar num jura de amores TTTTecido de rosas, de meigo matiz... AAAAceitai neste verso, meu jarro de flores.

3 de Março de 1944.

Page 73: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEU MELHOR PRESENTE Para meu filho José Maria Neto, no seu terceiro

aniversário.

JJJJamais meu filho esquecerei, OOOO dia do teu aniversario; SSSSempre em versos relembrarei ÉÉÉÉste dia, no tempo milenário. MMMMais um ano, assistes prazenteiro, AAAAumentando o florir d’uma existência, RRRReina em ti, o élo verdadeiro, IIIInquebrantavel jugo; a inocência AAAAmparando-se do mundo traiçoeiro. NNNNeste dia, meu filho, eu te ofereço EEEEstes versos, o meu melhor presente... TTTTêm eles anjinho, todo meu aprêço OOOO amor, minh’alma, tudo finalmente.

12 de Agosto de 1942.

Page 74: Canastra véia   - Cosme F. Marques

E A HUMANIDADE PASSA! Ao reverendo Padre Severino Bezerra.

Ei-lo! o mesmo quadro cruel de há mil anos! Evocativo... soberbo... extraordinário... O Cristo, o Redentor do gênero humano Sofre, agonisa, expira no Calvario. Passam-se dias, quantos desenganos! Corre veloz o tempo milenário, e Jesus contempla a terra de enganos chora os pecados deste val mortuario, Cada hora se repete essa agonia, O Cristo sofre; quem sua dor alivia? E a humanidade passa, sem ver tanta aflição. O DEUS, O JUSTO, o meigo NAZARENO Olha-a, olhar tão puro tão sereno Lança mais uma vez, o seu grande perdão.

Maio de 1942.

Page 75: Canastra véia   - Cosme F. Marques

A MINHA FILHA MARIA DO ROSARIO

(NO SEU TERCEIRO ANIVERSARIO)

Tres anos de existência vaes galgando na escala ascendente desta vida; linda flôr, no jardim desabrochando minha rosa entre as demais querida, E hoje, teu natal comemorando o teu lar, a tua pobre guarida, sente-se feliz, seu anjo adorando, Rainha da festa, tão bela, tão garrida. Queiras pois, minha filha, aceitar este verso, como a melhor lembrança de um dia de tua vida de creança. É meu presente, é o que posso te ofertar, guarda-o no coração, o teu sacrário, guarda-o bem, Maria do Rosario. 17 de Agosto de 1943.

Page 76: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEU VERSO

Ao meu filho José Mauricio na passagem de seu primeiro natalício.

Meu filho, eis o teu primeiro ano no ciclo do tempo vertiginoso; sorris tão satisfeito, tão ufano qual rei, em seu trono majestoso. Alheio a todo sofrimento humano, alheio ao momento angustioso, meu filho, péde ao bom Deus tão soberano a paz para o Brasil laborioso. Nesta hora terrível e angustiosa que o mundo em peso se estraçalha, vês tudo meu filho, cor de rosa; Guarda pois Mauricio este meu verso... nêsse transe que o mundo se amortalha péde a Cristo a paz para o Universo. 22 de Agosto de 1942.

Page 77: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEUS ANOS Á mim no meu 34º aniversario.

Sem festa, sem musica e sem flores, assisto o dia de meu aniversario; ao lado de Maria, esposa dos amores, dos filhos, minha mãe e um amigo solitário. Ao parco almoço, teço meus louvores, aos pratos de sabor extraordinário... pratos excelentes, desprendiam olores... - galinha substitue o meu feijão diário.- Sentia-me alegre, satisfeito e bem disposto, pois assim demonstrava o próprio rosto e o apetite voraz com o qual estava. Guardarei deste dia, grata lembrança, pois ainda mandei que enchessem a pança de um pobre faminto que passava. 6 de Outubro de 1942.

Page 78: Canastra véia   - Cosme F. Marques

BENEDICTUS QUI VENIT IN NOMINE DOMINE Ao neo-sacerdote, Francisco das Chagas Neves Gurgel,

como lembrança do dia de sua primeira Missa.

Ser Padre, é possuir muito heroísmo, uma fé inquebrantável e tão forte... ser Padre, é encarar com estoicismo. Esse val de dores, sem luz e sem norte. Ser Padre, é ser grande, vencendo o abismo, a dor, a humanidade, até a própria sorte; Ser Padre...pregar o cristianismo, a pobresa da vida, a belesa da morte... Ser Padre, é a tarefa rude e espinhosa de mostrar a outrem a estrada gloriosa do Calvario, da justiça e do amor. A vós Padre Francisco, alma generosa, Santa Cruz diz genuflexa e radiosa, BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR!

22 de Novembro de 1942.

Page 79: Canastra véia   - Cosme F. Marques

A MOEMA

No seu natalicio

Moema, linda tupi da grã nação tabajara, tens a alvura da garça a belesa da YARA...

Soiois a eleita da tribo protegida de TUPAN, sejas sempre nessa Taba a IAUPÊ-JAÇANÃ.

que cresças forte e viril, como a nossa Baraúna, são os desejos que vota o velho IRÊRÊ-UNA.

Santa Cruz, 23 de Outubro de 1943.

Page 80: Canastra véia   - Cosme F. Marques

FUNCIONÁRIOS

Aos Colegas de repartição e aos do Brasil inteiro

Oferece o Autor

Vida de Trabalho, áspera e dificultosa, é a dura vida amigos, que levamos; A carestia surge negra e assombrosa, agora sim a um tempo nós exclamamos. Nossos filhos e esposa carinhosa sofrem; com qual esforço lutamos para vencermos a estrada escabrosa, com o pouco ordenado que ganhamos! Mas, nem por isso, de estarmos a morrer Deixaremos de cumprir nosso dever Como se percebêssemos grandes honorários. E unidos pediremos ao sempiterno E também ao nosso papae governo, Tenha pena dos pobres funcionários! Santa Cruz, 26 de julho de 1946

Page 81: Canastra véia   - Cosme F. Marques

FELICIDADES A minha filha Maria Lucia Marques, no seu

terceiro aniversario.

Lucinha , eis o teu terceiro ano, na rosa dos ventos, da existência: o teu lar, hoje sente-se ufano, festejando teu natal de inocência. A minha lira coitada se esmaece, cada ano, cada hora, cada instante: mas, coração de pae nunca envelhece neste dia, assim tão fulgurante. E repuxando as cordas dessa lira, arranco-lhe sons, a alma delira, em lamentos de um velho trovador... São lamentos, que para ti, ainda brilha e um pai beijando a sua filha em extasis de paternal amor. Santa Cruz, 14 de maio de 1946.

Page 82: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEU PRESENTE

A minha esposa no seu trigésimo aniversario.

Maria, minha adorada companheira, assistes hoje, mais um feliz natal... apenas dar-te-ei, minha alma inteira, como presente, mimo de valor real. De meu jardim, és a rosa altaneira, das flores, és rainha sem igual, és conforto, nos dias de canseira és meu lírio de puresa virginal. és alma de minha alma, és farol, és meu guia, és meu grande sol iluminando com refulgentes brilhos. és meu tudo, és meu diáfano arcanjo, emfim Maria, és meu sublime anjo a meiga e terna mãe de meus filhos. Santa Cruz, 5 de maio de 1946.

Page 83: Canastra véia   - Cosme F. Marques

FELICIDADES A’ Maria do Socorro, no seu primeiro Natalicio,

Oferece seu Pai.

Eis querida filha, o teu primeiro ano: Um fulgir de auroras, uma alvorada, Um tremeluzir de azas, diáfano, Um romper alegre de loira madrugada. Um raiar de sol, lindo e soberano, Um azul de ceu todo estrelado, Lesta viração, ao longo do Oceano Um murmúrio alegre de chirear alado. Um jardim em flor, todo perfume, Um amor puro, santo, sem ciúme, Mais um astro no ceu, novo luzeiro. E neste dia filhinha, o mundo imerso Numa esperança de paz para o Universo, Tens o teu natal, no solo brasileiro. Santa Cruz, 21 de Setembro de 1945.

Page 84: Canastra véia   - Cosme F. Marques

MEUS SINCEROS EMBORAS Ao compadre e amigo José Bezerra, no seu natalício.

oferece o Autor.

Queria possuir aquela luz,

Coruscante de chamas que alumia; Queria amigo, ter força de obuz na minha esquelética poesia. Queria versos derramar a flux, Queria musicas só de harmonia, Queria a sapiência de Jesus Para festejar o teu alegre dia. No entanto, caminho por escombros uma lira velha a pesas-me aos hombros e um rasto apagado de meu verso. Aceita-o, talvez, cinzas de lembrança, um centavo, de uma era de esperança, no Cruzeiro imenso do Universo.

Santa Cruiz, 21 de Setembro de 1945.

Page 85: Canastra véia   - Cosme F. Marques

RAMALHETE A minha filha Maria do Rosario, no dia de seu

segundo aniversario. Oferece seu pae.

Minha filha, neste dia tão feliz que assistes, dois anos de existência eu almejo minha linda flor de Lis o bafejo perene da inocência. Minha filha, hoje eu bem quizera auferir-te todos meus desejos aceita pois ó linda primavera um ramalhete formado só de beijos. Muita cousa Lálo eu te daria tuas mãos de mimos encheria si pudesse, até o Universo... mas, nada tenho, coitado de teu pai! minha filha, ao menos aceitai a misérrima estrofe deste verso. Santa Cruz, 17 de agosto de 1942.

Page 86: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CARA PRETA Ao Sr. João Ferreira de Souza

Surgiu como um fantasma na cidade; vindo talvez de um pequeno povoado, cantar, eu única felicidade e cantava, sublime triste e maguado:

-“Quando o sol nace é rei, a mei dia ele é mórgado, di tarde é isfalecido di noite é sepurtado”-

Durante muito tempo, sua vóz se ouvia, ao belo alvorecer de um novo dia ou a bela tardinha o ocaso quase posto: Uma manhã calou-se para sempre o canto, ele morrera, partira sem um pranto ao raiar de uma formosa manhã de agosto.

Agosto de 1945.

Page 87: Canastra véia   - Cosme F. Marques

SACERDOTE Ao Revmo. Padre Alair Vilar, uma pálida lembrança

na passagem de seu natalício.

Padre, síntese da grandesa e da verdade, deixada pelo meigo e Divino Nazareno Padre, páramo grandioso de sublimidade, de justiça fecunda, de espírito sereno. Padre, poema milenário da cristandade, escrito em frases de estilo tão ameno Padre, escrutínio de virtude e santidade és grande demais para um mundo tão pequeno. Padre Alair, que o dia feliz destes teus anos seja para vós e vossos fieis paroquianos uma data feliz, santa alegre e jubilar. Que Santa Cruz, em peso, una, genuflexa ao seu pároco querido e estimado, peça, as graças perenes que o ceu lhe pode dar.

Santa Cruz, 6 de junho de 1946.

Page 88: Canastra véia   - Cosme F. Marques

A MINHA FILHA MARIA DO ROSARIO (NO SEU QUINTO ANIVERSARIO)

Nos teus anos, nada te ofereço, nada filhinha eu posso dar-te, apenas, esta data não esqueço de cedinho minha filha, abraçar-te. inda dormias risonha no teu berço o meu premio filha, foi beijar-te; com mimo, eu dou-te este verso mimo tão pobre, coitado tão sem arte. mas ele, minha filha, tem valor... tem meu coração, cheio de amor que para os filhos, é santo hostiário.

Meu anjinho, eu peço-te, aceitar como pálida lembrança de teu pai, um beijo paternal, MARIA DO ROSARIO.

Santa Cruz, 17 de Agosto de 1945.

Page 89: Canastra véia   - Cosme F. Marques

CARITAS BONITAS Ao ilustre amigo Dr. Mariano, cujo lema “Caridade

e Bondade” está gravado em outro, nos corações dos que conhecem a palavra gratidão.

A vossa vida é um poema do trabalho, vossas virtudes, um saltério salutar: a vossa casa, é para os pobres agasalho, da profissão fizestes o vosso altar. Doutor, eu bem sei que nada valho, no entanto eu não posso ocultar, e neste verso borrifado de orvalho da gratidão imensa, infinda sem par. Cansada e paupérrima, a minha lira, fala bem alto ao homem que admira, ao protetor do pobre ser humano; ela ainda sente, lampejos de harmonia, e faz brotar esquelética poesia, em honra insigne ao Doutor Mariano. Currais Novos, 6 de julho de 1946.

Page 90: Canastra véia   - Cosme F. Marques

JESUS NO HORTO

Ao monsenhor Paulo H. de Melo

Eil-o, sublime, grande na sua dor, Prostrado em terra, em humilde oração; Pedindo ao mundo, um pouco de amor para aliviar seu torturado coração. E como no Horto continua, sofredor, Triste ao ver tanta ingratidão: No sacrário a sós, o meu Senhor Numa eterna e palpitante oração. Como no Horto, Jesus está orando... Ao mundo ingrato, ainda implorando, Cansado, triste...solitario e exangue! Oh mundo desvairado, quanta tortura! Quereis dar-lhe mais taça de amargura? Quereis Vel-O ainda a gotejar SANGUE? Santa Cruz, 15 de Setembro de 1944.

Page 91: Canastra véia   - Cosme F. Marques

RAMILHETE A minha filha Maria Lucia, no seu primeiro natalício.

Um ano completas Mimosa flor, élo paterno de puro amor.

Risonha e linda fragrante essência Meu branco lírio só de inocencia.

Aceita filha os meus desejos, um ramilhete de quentes beijos. Santa Cruz, 14 de Maio de 1944.

Page 92: Canastra véia   - Cosme F. Marques

POÉTA

Ao culto espirito de Clovis J. de Andrade.

Rimas, abecedário cheio de harmonia pensamentos de um cérebro portentoso, sentir em verso, a própria poesía de um ser inteligente e ardoroso. Ser Poéta, é caminhar numa via de um sonho tão lindo e majestoso, é lançar ao mundo, um canto de magía o ninho dum rimário glorioso. Ser Poéta, é sentir a dor, a alegria é rimar numa suprema agonia, uma vida, um mundo, um Universo; Ser Poéta, é amar, gosar, sofrer, ser Poéta, é em sonhos reviver vida e alma na estrofe de um verso. Santa Cruz, 25 de agosto de 1944.

Page 93: Canastra véia   - Cosme F. Marques

AO MEU FILHO JOSÉ MAURICIO

(NO SEU 2.º NATALICIO)

Meu filho, completas hoje dois anos, de uma vida tão cheia de inocência... desconheces ainda, os grandes desenganos desconheces ainda a própria existencia. Estás alheio, ao erro dos humanos desta vida tão cheia de inclemência, deixando rastros de horríveis danos, A guerra, a dor e a prepotência. Inocencia qual lindo beija-flor a voejar a procura de um odor, desconheces meu filho, até a vida: Um dia, já crescido, e bem feliz has de ler estes versos que te fiz lembrando a ti, essa data tão querida. Santa Cruz, 22 de agosto de 1943.

Page 94: Canastra véia   - Cosme F. Marques

AO MEU FILHO JOSÉ MARIA NETO

(NO SEU 4.º ANIVERSARIO NATALICIO)

Mais um ano de existência, tú alcanças nesse mundo sombrio e complicado; Paira em ti, as fulgidas esperanças De um mundo melhor, mais desejado... Mais um passo nesta vida tú avanças em caminhos de roseiraes juncado, a vida é para ti, um mar de bonanças é um céo de estrelas fulgurado. Queira Deus, meu filho, que um dia a senda da vida, venhas galgar Forte, sobranceiro e sem porfia. E hoje comungo da harmonia Que reina como sempre em nosso lar No evento dessa data de alegria. Santa Cruz, 12 de agosto de 1943.

Page 95: Canastra véia   - Cosme F. Marques

HOSTIA SANTA Ao Paulo Eduardo no dia de sua primeira Comunhão. Oferece o autor.

Eis Paulinho, o anhélo do Cristão, Receber a Jesus na Eucaristia... E Ele satisfeito, em teu coração, Descança de sua eterna agonia. Parabens Paulo, que este dia, Relembres com grã satisfação Seja a data perene de alegria o dia da primeira Comunhão. És inocente, e o meigo Nazareno, Gosta imensamente dos pequenos... És para Êle a linda Flor de Lis; Ama-O, Paulinho, com todo teu ardor, Seja Êle, teu guia, teu Senhor, PAULO EDUARDO, Deus te faça feliz. Santa Cruz, 4 de fevereiro de 1945.

Page 96: Canastra véia   - Cosme F. Marques

LAGRIMAS

Ao Sr. José Ferreira de Medeiros e filhos, no trigésimo dia Do desaparecimento da inesquecível esposa e mãe Téca.

Não, não choro a viuvez de um marido não choro dos filhos a orfandade, verto lagrimas que têm outro sentido lagrimas santas, rebentos da saudade. A morte é certa; quem não há carpido. este transe repleto de crueldade? Quantas lagrimas já não tem vertido desde o principio, toda humanidade? Morreu Teresa, a esposa tão querida, perdeu-se mais uma preciosa vida que os anjos a sua alma acompanhe. Pae e filhos, aceitae este meu verso, como vós eu vivo também na dôr imerso por ver partir mais uma esposa MÃE. Santa Cruz, 27 de Agosto de 1946.