CANCLINI - Culturas-Hibridas - Fichamento

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Canclini (Culturas hbridas)

(XXV) Todas as tendncias de abdicao do pblico em favor do privado, do nacional em favor do transnacional, que registrvamos h dez anos, acentuaram-se. Dois processos novos, incipientes ento, colaboram nessa reorientao. Um a digitalizao e midiatizao dos processos culturias na produo, na circulao e no consumo, que transfere a iniciativa e o controle econmico e cultural a empresas transacionais (...) (...) A inovao esttica interessa cada vez menos nos museus, nas editoras e no cinema; ela foi deslocada para as tecnologias eletrnicas, para o entretenimento (...). Onde havia pintores ou msicos, h designers e discjockeys. A hibridao, de certo modo, tornou-se mais fcil e multiplicou-se quando no depende dos tempos longos, da pacincia artesanal ou erudita e , sim, da habilidade para gerar hipertextos e rpidas edies audiovisuais ou eletrnicas. (...) agora se trata de renovar periodicamente o equipamento de computador e ter um bom servidor de internet. (XL) Uma viso simplificada da hibridao, como a propiciada pela domesticao mercantil da arte, est facilitando vender mais discos, filmes e programas televisivos em outras regies.(306) Para ser um bom espectador, necessrio abandonar-se ao ritmo, gozar as vises efmeras. (...) dramatizaes frias e indiretas, que no requerem a presena pessoal dos interlocutores. O mundo visto como efervescncia descontnua de imagens, a arte como fast food. Essa cultura pret--penser permite des-pensar os acontecimentos histricos sem preocupar-se em entende-los.(307) (...) Familiarizam diretamente com a sensualidade e a eficcia da tecnologia; do uma tela-espelho, em que se encena o prprio poder, a fascinao de lutar com as grandes foras do mundo aproveitando as ltimas tcnicas e sem o risco das confrontaes diretas. (...)Como se estabeleceu h tempos nos estudos sobre efeitos da televiso, esses novos recursos tecnolgicos no so neutros, nem tampouco onipotentes. Sua simples inovao formal implica mudanas culturais, mas o significado final depende dos usos que lhes atribuem diversos agentes.

(309) (...) Apenas afirmo que a reorganizao dos cenrios culturais e os cruzamentos constantes das identidades exigem investigar de outro modo as ordens que sistematizam as relaes materiais e simblicas entre os grupos.

(328) As prticas artsticas carecem agora de paradigmas consistentes. Os artistas e escritores modernos inovavam, alteravam os modelos ou os substituam por outros, mas tendo sempre referentes de legitimidade. As transgresses dos pintores modernos foram feitas falando da arte de outros.(329) A visualidade ps-moderna, ao invs disso, a encenao de uma dupla perda: do roteiro e do autor. A desapario do roteiro quer dizer que j no existem os grandes relatos que organizavam e hierarquizavam os perodos do patrimnio, a vegetao de obras cultas e populares nas quais a sociedade e as classes se reconheciam e consagravam suas virtudes. (...) O ps-modernismo no um estilo mas a co-presena tumultuada de todos, o lugar onde os captulos da histria da arte e do folclore cruzam entre si e com as novas tecnologias culturais.Outra tentativa moderna de reinaugurar a histria foi a subjetividade do autor. Hoje achamos que a exaltao narcisista do pintor ou do cineasta que querem fazer de sua gestualidade o ato fundador do mundo a pardia pseudolaica de Deus. (...)A vertigem frentica das vanguardas estticas e o jogo de substituies do mercado, em que tudo intercambivel, tirou verossimilhana das preenses fundadoras da gestualidade. A arte moderna, j que no podia ser representao literal de uma ordem mundana desfeita, tambm no pode ser hoje (...) repetio incessante do comeo(...) Nem tampouco metfora da gestualidade poltica que sonhava com mudanas totais e imediatas.(330) O mercado artstico, a reorganizao da visualidade urbana gerada pelas industrias culturais e a fadiga do voluntarismo poltico combinam-se para tronar inverossmil toda tentativa de fazer arte culta ou do folclore a proclamao do poder inaugural do artista ou de agentes sociais proeminentes. (...) sem roteiro nem autor, a cultura visual e a cultura poltica ps-modernas so testemunhas da descontinuidade do mundo e dos sujeitos, a co-presena melanclica ou pardica, segundo o nimo de variaes que o mercado promove para renovar as vendas e que as tendncias polticas ensaiam...para que?(331) Convergem com o terico do ps-modernismo ao pensar que a tarefa da arte consiste, em meio a essas fcies certezas, em questionar sobre as condies em que construmos o real.No vejo nesses pintores, escultores e artista grficos a vontade de inventar ou impor um sentido ao mundo.8 pginas!!O entretenimento o principal produto oferecido pela cultura da mdia, que espetaculariza o cotidiano de modo a seduzir suas audincias e lev-las a identificar-se com as representaes sociais e ideolgicas nela presentes. (Castro, 50)

Na emblemtica dcada de 1960, Guy Debord propunha uma anlise da sociedade moderna como uma sociedade do espetculo. A crtica situacionista dirigia-se tanto ao chamado capitalismo avanado gerador do espetculo difuso da sociedade de consumo quanto ao bolchevismo, denominado capitalismo de Estado e que daria origem ao espetculo concentrado da burocracia centralizada. Em ambos os casos, a noo de espetculo aparece como uma forma alienante de manipulao ideolgica e econmica que nutre uma cultura de lazer e entretenimento fcil, visando docilizao das audincias. Nesse contexto, o espetculo funcionaria como um duplo do mundo, operando com regras prprias e inexorveis em prol da despolitizao e pacificao do pblico. (Castro, 50)O papel desempenhado pelos processos de globalizao de mercado e o surgimento da informtica e da microeletrnica redesenhando nossas prticas quotidianas levam Kellner a propor que estaramos imersos em uma sociedade do infoentretenimento. (Castro, 50)Kellner ressalta o carter instvel e imprevisvel das polticas do espetculo, fazendo com que estas produes nem sempre consigam manipular o pblico. Como consequncia desta caracterstica prpria cutlura da mdia, percebe-se a impossibilidade de se pensar em seus efeitos de modo determinstico. Lanando mo das contribuies dos estudos de recepo, o autor admite que o pblico pode resistir aos significados e mensagens dominantes, criar sua prpria leitura e seu prprio modo de apropriar-se (2001:11) dos produtos miditicos. (Castro,51)

economia acabou por coincidir com a cultura, fazendo com que tudo, inclusive a produo de mercadorias e a alta especulao financeira, se tornasse cultural (JAMESON, 2001, p. 73),

Devido a esta multiplicidade caracterstica da ps-modernidade, j no se trata de conformar os indivduos docilizados a modelos absolutos, polarizando diferenas maniquestas entre rebeldes e integrados, subalternos e dominantes. Trata-se de oferecer uma multiplicidade controlada de modelos e perfis para possvel identificao assimilando, por exemplo, o novo que circula nas cenas underground e domesticando sua rebeldia de modo a arejar e fecundar o mainstream, mantendo sua hegemonia. (Castro,51)