Candangos

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A história de quem construiu Brasília

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Bruna Nery de Almeida

Marcela Lacerda Costa

Rebeca Maria Ramos Tabosa

Candangos a história não contada

Resumo

Candangos são as pessoas que participaram da construção de Brasília, oitenta mil

trabalhadores braçais, unidos a partir do ideal de construir - literalmente - o progresso.

Oriundos de várias partes do Brasil, mas principalmente do Nordeste, vieram fugidos

de uma grande seca e em busca de melhor condição de vida. No entanto, não foi essa

realidade que encontraram, trabalharam 18 horas por dia e sofreram extremos maus

tratos.

Palavras-chave: trabalhadores, Brasília, maus tratos

Abstract

Candangos are the people who participated in the construction of Brasilia, and eighty

thousand laborers, united from the ideal of building - literally - progress. From various

parts of Brazil, but mainly in the Northeast, came fleeing drought and a wide in search

of better living conditions. However, there was this reality that met, worked 18 hours a

day and suffered extreme mistreatment.

Keywords: laborers, Brasilia, mistreatment

Chegada dos candangos

Núcleo Bandeirante

Introdução

O trabalho a seguir trata da história que não foi contada sobre a construção

de Brasília, dos seus personagens principais, os candangos, que deram seu suor e

materializaram o sonho de Juscelino Kubitschek, que foi dar uma nova capital ao

Brasil, e não tiveram o devido reconhecimento pela sua contribuição, passando, em

seguida, de protagonistas a invasores da nova cidade.

Mostrar a realidade dos candangos é uma difícil tarefa, pois este aspecto

foi muito abafado na época, não existindo portanto muitas fontes. Por isso o artigo

será ilustrado por depoimentos de personagens que contam a realidade que viveram,

além de outros, como jornalistas e escritores.

Durante Brasília

O termo candango surgiu em 1889 num dicionário compilado por Cândido

de Figueiredo. De origem africana, designava gente desprezível e de mau gosto. Era

a designação dada aos portugueses dedicados ao infame e rendoso tráfico negreiro.

Com o tempo e o uso, a palavra “candango” mudou de significado, tornando-se

sinônimo de pioneiro, desbravador, brasileiro comum e operário de Brasília.

No primeiro ano da construção da nova capital, o número de

candangos chegou a aproximadamente 2.500. Com o decorrer e evolução da obra,

foram chegando mais e mais candangos, saltando para 65 mil em dois anos, tendo

finalmente chegado em torno de 80 mil trabalhadores.

Essas pessoas vieram atrás da utopia de melhorar suas condições de

vida, mas encontraram condições de trabalho inóspitas e tratamento desumano,

tendo que morar em tendas e barracas de madeira e trabalharam em regimes de

dezoito horas diárias, se revezando durante a madrugada, para que o trabalho nunca

parasse. Até no carnaval, os trabalhadores foram impossibilitados de se divertir, pois

a água foi cortada e não receberam o salário, tendo que ficar assim, no

acampamento e continuar trabalhando.

De acordo com Geraldo Campos, para a rádio CBN, “serviam comida

estragada, as pessoas não tinham um tratamento digno, como ser humano, era

aquela montoeira de gente em alojamentos de tábua”.

Inicialmente havia apenas homens. Quem mudou isso, em 1958, foi

Manuel Mendes, o primeiro candango que propôs levar mulher e filhos, mesmo

sem ter instalações básicas necessárias para abrigar uma família.

O único hospital que tinha era improvisado, e assim, não dava suporte

para atender grávidas nem doentes, pois era voltado para atender unicamente

operários acidentados, tendo que ir a cidades próximas para ter o atendimento

necessário.

Um dos acontecimentos mais trágicos na história dos candangos foi o

incidente da Pacheco Fernandes, onde a Guarda de Brasília (GEB) reprimiu com

violência os trabalhadores no acampamento dos funcionários dessa construtora,

que recebiam uma razoável remuneração, péssimas condições de trabalho e

comida precária além de serem muito pressionados para trabalho ininterrupto

visando cumprir os prazos de entrega. A confusão começou quando dois

carpinteiros teriam recebido marmitas em péssima condição de higiene, ao

reclamarem tiveram mandato de prisão, os outros candangos não deixaram isso

acontecer, e a partir dai começou toda a briga.

Os mortos e feridos graves do acontecido teriam sido colocados

em um veículo de carga e enterrados em algum lugar de Brasília. Esse fato tem

duas versões diferentes, que é a que foi notificada e a que os candangos contam,

a oficial diz que foram um morto e três feridos, já o outro lado afirma 20 a mais de

100 assassinados. (Teixeira, 1982; Frederico, 1980)

Pós - Brasília

Depois da construção, a maioria dos candangos foi expulsa da capital, e

tiveram que ir morar nas cidades-satélites. Segundo relata Marta Maria Pereira,

filha de um candango, "Jogaram a gente no meio do cerrado sem água, sem luz e

sem casa”. Sem casa, pois os próprios candangos tiveram que pagar pelo lote que

receberam, deixando de comprar muitas vezes comida para pagar a sua terra.

Começou a segregação entre pobres e ricos, candangos e pioneiros. Onde os

operários das construções são os candangos e os engenheiros, ou o “pessoal

com mais estudo” são os pioneiros. Os pioneiros ficariam no Plano Piloto,

conseguiriam espaço na sociedade, já os candangos iriam para as cidades-

satélites, para não sujar a imagem do plano-piloto.

O candango Cosme, que teve que ir morar em Ceilândia, cidade criada

em 1971 para erradicar as invasões que surgiram em diferentes pontos do Distrito

Federal, viu um comunicado na televisão chamando os candangos de flagelados.

“Foi quando eu percebi que o trabalhador no Brasil é flagelado”, disse. Ser

chamado de flagelado para Cosme talvez tenha o mesmo impacto de chamar os

pioneiros de candangos.

De acordo com Magnólia Correia, "eles nunca receberam uma medalha,

um diploma. Não tem plano de saúde, esperam até dois meses num atendimento

no posto e ninguém liga para eles.”

JK e os Candangos

Em 1959, foi construída uma escultura em bronze, com 8 metros de

altura, de Bruno Giorgi, chamada “Os Candangos” ou “Os Guerreiros”, em

homenagem a esses trabalhadores. Justamente pelo fato de existir uma história

não contada sobre esses “guerreiros”, ou um esquecimento quanto a sua

contribuição a intenção dessa obra pode não ter sido alcançada, pois muitos que

passam por ela e a vêem nem sequer sabem o que ela representa.

Considerações finais

O sentimento que essas pessoas carregam por sua participação se

traduz em uma mescla de indignação e orgulho. Indignação com o destino de

suas vidas, pois não foi isso que eles sonharam e esperavam encontrar no

cerrado brasileiro quando se dispuseram a deixar suas famílias ou levá-las para

um lugar até então desconhecido com o intuito de erguer do “nada” uma cidade, e

orgulho por ter cumprido a missão, ter feito parte de uma história inédita que foi a

construção de uma cidade planejada. Apesar do reconhecimento que não tiveram,

os candangos amam Brasília e apenas lamentam não poder usufruir dela, ter

emprego, moradia no Plano Piloto e espaço na sociedade

Os Guerreiros – Bruno Giorgi, 1959,

Praça dos Três Poderes, Brasília.

Manuel Mendes, candango, guarda até hoje

a garrafinha com o pó do cerrado

Referências

DICIONÁRIO INFORMAL. Candangos Disponível em:

http://www.dicionarioinformal.com.br/buscar.php?palavra=candango

acessado em 16 de maio de 2010

NO MINUTO. Brasília 50 anos. Disponível em: http://www.nominuto.com/especial/especial-

brasilia-50-anos/candangos-sinonimo-de-coragem-e-perseveranca/51066/

acessado em 16 de maio de 2010

OBJETHOS. Observatório da ética jornalística. Disponível em:

http://objethos.wordpress.com/2009/11/09/pacheco-fernandes-50-anos-de-ausencia-do-

jornalismo/

acessado em 16 de maio de 2010

CORREIO BRAZILIENSE. Eu estudante. Disponível em:

http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=9958&tp=25 acessado em 16 de

maio de 2010

CORREIO BRAZILIENSE. 50 bravos candangos Disponívelem:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/03/24/cidades,i=181607/50+BRAVO

S+CANDANGOS+O+MULTIMIDIA+DA+CONSTRUCAO.shtml

acessado em 16 de maio de 2010

CORREIO BRAZILIENSE. 50 bravos candangos. Disponível em:

http://www2.correiobraziliense.com.br/50bravoscandangos/

acessado em 16 de maio de 2010