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CADERNO CRH, Salvador, v. 21, n. 52, p. 131-144, Jan./Abr. 2008 131 Candido Alberto Gomes, Hudson Eloy Braga, Weder Matias Vieira Os jornais, diariamente, trazem uma ponta visível da oferta de trabalho e emprego, bem como das exigências para os seus candidatos. Que ocu- pações são solicitadas? Que esboço da estrutura ocupacional se pode divisar? Que exigências são feitas pelos anunciantes? Qual a importância da educação? No século XXI, é possível encontrar indícios de que a escolaridade e outros indicado- res de mérito tendem a ocupar lugar de destaque, conforme várias perspectivas teóricas? Ou as ca- racterísticas atribuídas continuam a ser valoriza- das? Qual o lugar do gênero? Candido Alberto Gomes * Hudson Eloy Braga ** Weder Matias Vieira *** TRABALHO E EDUCAÇÃO: que indicam os anúncios classificados? 1 * Professor titular, fundador da Universidade Católica de Brasília, coordenador do Observatório de Violências nas Escolas – Brasil (UNESCO-UCB). SQS 303-E-601. Cep: 70376-050. Brasília - DF - Brasil. [email protected] ** Mestrando em Educação e Especialista em Adminis- tração Escolar pela Universidade Católica de Brasília. Pro- fessor da Secretaria de Educação do Distrito Federal. [email protected] ***Mestrando em Educação da Universidade Católica de Brasília. Professor lotado da Secretaria Estadual de Goiás e Coordenador Administrativo da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. [email protected] 1 Agradecemos a colaboração de Luciano Almeida Ferreira, professor da Universidade Federal do Tocantins. Mestrando em educação na Universidade Católica de Brasília. Essas indagações inspiraram o presente ar- tigo, de caráter documental e de natureza exploratória, que examinou os anúncios classifi- cados do jornal de maior circulação no Distrito Federal. Três objetivos nortearam a coleta e a aná- lise dos dados: Que ocupações estão mais presen- tes nos anúncios e como se distribuem por ní- veis? Qual a relação entre o perfil da população economicamente ativa e os anúncios de emprego e trabalho? Quais as exigências apresentadas e o que elas sugerem à luz dos principais enfoques teóricos? OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE SEGUNDO AS TEORIAS Longo é o debate sobre as relações entre a educação, as ocupações e, ainda, a renda. Segun- do a visão clássica do funcionalismo e da teoria do capital humano, o desenvolvimento econômi- co depende cada vez mais da educação, que pas- sou a oferecer retornos maiores que o capital físi- co. A crescente relevância da educação é basica-

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Os jornais, diariamente, trazem uma pontavisível da oferta de trabalho e emprego, bem comodas exigências para os seus candidatos. Que ocu-pações são solicitadas? Que esboço da estruturaocupacional se pode divisar? Que exigências sãofeitas pelos anunciantes? Qual a importância daeducação? No século XXI, é possível encontrarindícios de que a escolaridade e outros indicado-res de mérito tendem a ocupar lugar de destaque,conforme várias perspectivas teóricas? Ou as ca-racterísticas atribuídas continuam a ser valoriza-das? Qual o lugar do gênero?

Candido Alberto Gomes*

Hudson Eloy Braga**

Weder Matias Vieira***

TRABALHO E EDUCAÇÃO:que indicam os anúncios classificados?1

* Professor titular, fundador da Universidade Católica deBrasília, coordenador do Observatório de Violências nasEscolas – Brasil (UNESCO-UCB).SQS 303-E-601. Cep: 70376-050. Brasília - DF - [email protected]

** Mestrando em Educação e Especialista em Adminis-tração Escolar pela Universidade Católica de Brasília. Pro-fessor da Secretaria de Educação do Distrito [email protected]

***Mestrando em Educação da Universidade Católica deBrasília. Professor lotado da Secretaria Estadual de Goiáse Coordenador Administrativo da CAPES - Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível [email protected]

1 Agradecemos a colaboração de Luciano Almeida Ferreira,professor da Universidade Federal do Tocantins. Mestrandoem educação na Universidade Católica de Brasília.

Essas indagações inspiraram o presente ar-tigo, de caráter documental e de naturezaexploratória, que examinou os anúncios classifi-cados do jornal de maior circulação no DistritoFederal. Três objetivos nortearam a coleta e a aná-lise dos dados: Que ocupações estão mais presen-tes nos anúncios e como se distribuem por ní-veis? Qual a relação entre o perfil da populaçãoeconomicamente ativa e os anúncios de empregoe trabalho? Quais as exigências apresentadas e oque elas sugerem à luz dos principais enfoquesteóricos?

OCUPAÇÃO E ESCOLARIDADE SEGUNDO ASTEORIAS

Longo é o debate sobre as relações entre aeducação, as ocupações e, ainda, a renda. Segun-do a visão clássica do funcionalismo e da teoriado capital humano, o desenvolvimento econômi-co depende cada vez mais da educação, que pas-sou a oferecer retornos maiores que o capital físi-co. A crescente relevância da educação é basica-

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mente resultante da expansão e complexidade cadavez maiores do conhecimento e de mudanças danatureza do trabalho causadas pela industrializa-ção, particularmente nos campos da tecnologia, daautomação e do desenvolvimento da empresa delarga escala. De um lado, tem havido uma solicita-ção cada vez maior de habilidades profissionais. Deoutro, o número de trabalhadores de quem se re-querem mais habilidades tem aumentado. Dessemodo, as exigências educacionais no mundo do tra-balho se têm elevado. Afora isso, a realização ou odesempenho torna-se progressivamente mais rele-vante que a atribuição de status na estratificaçãosocial. Isso significa que a industrialização constróisociedades abertas e democráticas, onde a educa-ção é um meio efetivo de seleção e mobilidade soci-al, baseado no mérito. Com isso, os status atribuí-dos pelas origens sociais, sexo, etnia etc. decliname emergem os status conquistados pelo mérito, istoé, basicamente pela educação e pela experiência(Davis; Moore, 1945; Clark, 1962; Kerr et al., 1960).

Esta apresentação sintética não deve obscu-recer a cautela de autores como Clark (1962), paraquem a elevação das exigências educacionais dosempregos não é gerada só pela complexidade doconhecimento. Em virtude de vantagens eviden-tes, algumas ocupações buscam o nível superior.De qualquer modo, a teoria técnico-funcional daeducação apresenta três proposições básicas(Collins, 1971):§ A mudança tecnológica exige progressivamente

mais habilidades para o trabalho. Como resulta-do, aumenta a proporção de ocupações que re-querem mais alto nível de habilidades e se elevao nível de exigência de habilidades pelos em-pregos em geral.

§ As crescentes exigências de habilidades levam àmaior demanda de educação por parte dos em-pregadores. Em conseqüência, a escolarização setorna mais longa e matricula-se um maior núme-ro de pessoas.

§ As exigências mais elevadas de educação levamà predominância da realização sobre a atribuiçãoe à construção de sociedades meritocráticas.

Entretanto, se a educação representa capa-

cidades humanas, outras perspectivas teóricasapontam para outros sentidos. As desigualdadessociais não constituem resultado do papel dos in-divíduos e, sim, do poder. A posição social de-pende do acesso de indivíduos e grupos a recur-sos estratégicos, como o capital e outros. Em vezde oportunidades abertas, existe uma estruturapredeterminada de mobilidade, com classificaçõesinstitucionais que constroem trilhos relativamenterígidos. Como exemplos, podem ser citadas as te-orias neo-marxistas da correspondência e a abor-dagem neo-weberiana.

Segundo uma visão hoje parcialmentereformulada, sobretudo no que tange à sua rigidezanterior, Bowles e Gintis (1977) defenderam origi-nalmente a tese da correspondência entre as rela-ções sociais de produção e as relações sociais deeducação. Como resultado, a educação, nos Esta-dos Unidos, reproduz as desigualdades econômi-cas. A economia corporativa capitalista é favorávelà hierarquia e à alienação. A divisão do trabalhona empresa é autocrática. Em correspondência, aescolarização é um processo de produzir pessoaspassivas. Os traços de personalidade necessáriosao trabalho, como modos adequados de auto-re-presentação, dependência e diligência, são produ-zidos pelas escolas. No entanto, como a força detrabalho é estratificada, a escola realiza a socializa-ção por meio de padrões diferenciados, de acordocom as origens sociais dos estudantes e os lugaresque eles ocuparão no sistema produtivo. Ademais,as escolas convencem os alunos de que a seleçãono mundo do trabalho é baseada no mérito, assiminculcando-lhes ideologia.

Por sua vez, o enfoque neo-weberiano con-sidera que as pessoas buscam riqueza, prestígio epoder. Como esses são escassos, tornam-se fontesde conflito. Os indivíduos e grupos levam à arenadiversas espécies de recursos, como propriedades,ferramentas, contatos sociais importantes para acarreira e qualificações profissionais (Collins, 1975).As principais proposições da teoria técnico-funci-onal da educação foram, com efeito, refutadas porCollins (1971). Esse autor observou que o nível deescolaridade da força de trabalho se tem elevado

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além do que seria exigido pelos empregos, geran-do o fenômeno da “super-educação”. Além disso,fatores não econômicos, como a demanda socialde educação, explicam variações das matrículasentre países no mesmo nível de desenvolvimentoeconômico. Essa é uma das razões por que as cor-relações de educação e nível de desenvolvimentoeconômico não implicam necessariamente relaçõescausais, ou seja, educação não “causa” obrigatori-amente desenvolvimento econômico. Outro pontoimportante é que os empregados com mais altaescolaridade não são os que têm mais alta produti-vidade.

Nesse quadro, os requisitos das ocupaçõesnão são fixos, mas determinados pela barganhaentre as pessoas que ocupam as posições e quetentam controlá-las. Em conseqüência, fatores comogênero, classe e etnia continuam a ser importantespara o sucesso. A educação funciona como umabase para a unidade de classes, grupos de status epartidos, isto é, uma espécie de pseudo-etnia(Collins, 1975, 1979). O sentido da educação vema ser, então, o de fornecer credenciais, que servemcomo meios de seleção cultural. Eis porque a ex-pansão educacional não tem provocado mobilida-de social crescente. As credenciais se tornam umaespécie de moeda para a obtenção de empregos,sofrendo os efeitos da “inflação” quando o núme-ro de posições prestigiosas permanece constante:como numa espiral, quanto mais a escolaridade setorna acessível, mais se elevam as exigências edu-cacionais para as ocupações e mais se busca edu-cação (Dore, 1976; Duru-Bellat, 2006).

A ênfase nas organizações como arenas deluta pela aquisição de posições e bens encontra

correspondência na perspectiva do mercado detrabalho segmentado. Doeringer e Piore (1975), emtrabalho pioneiro, distinguiram o mercado primá-rio, que, ao contrário do secundário, tende a pro-porcionar salários altos, boas condições de traba-lho, estabilidade no emprego e oportunidades deavanço na carreira, isto é, existe um mercado in-terno de trabalho. O mercado secundário é o locus

de jovens, mulheres e migrantes e solicita menoshabilidades e escolaridade. Assim, o papel da edu-cação formal difere por segmento do mercado detrabalho e pouco ela pode fazer no sentido demudar os trabalhadores de um segmento para ou-tro, em virtude da defasagem estrutural ecomportamental entre ambos. A educação tem,pois, duplo papel: tanto aloca as pessoas em ocu-pações, como em firmas e ramos de atividade eco-nômica mais ou menos promissores.

Outra alternativa à teoria do capital huma-no é a teoria da fila, segundo a qual, em vez depessoas procurando empregos, há empregos aguar-dando pessoas adequadas (Thurow, 1978). A fun-ção da educação é conferir certificados de“treinabilidade”, enquanto os indivíduos se colo-cam numa fila, com suas credenciais e característi-cas, como sexo, idade e experiência prévia. Osempregadores ordenam essa fila, de tal modo queos candidatos com menores custos de treinamen-to sejam chamados primeiro. Dessa forma, a edu-cação pode ter certo impacto, mas a renda indivi-dual é determinada pela posição do indivíduo nafila e pela distribuição de empregos na economia.

Em suma, conforme as teorias clássicas,variam os significados e o papel da educação, comosintetiza o Quadro 1.

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SOCIEDADE SEM EMPREGOS?

Abrem-se novas vias de debate com a cria-ção de uma sociedade em rede, com as novastecnologias da informação e comunicação e outrasmudanças. Ao contrário do que previam as teoriasclássicas, as sociedades e economias contemporâ-neas não têm aumentado progressivamente as exi-gências ocupacionais; ao contrário, têm reduzidoos postos de trabalho e os requisitos para uma partedas ocupações, a fim de elevar a produtividade.

Com efeito, segundo Castells (2003), o mun-do atual vive um processo de transição histórico-sistêmica, o que tem acarretado mudanças subs-tanciais na estrutura ocupacional, embora a marcacaracterística desse tempo seja a variação de mo-delos de mercado de trabalho e emprego, em con-traste com o que foi prognosticado. A “tese” deuma previsibilidade histórica do mundo pós-guerrafria parece tratar-se de uma falácia, frente a tantasincertezas que se avistam. É possível constatar que,apesar da “aldeia global” em que se tornou o pla-neta, das revoluções tecnológicas em curso e detodos os seus impactos na estrutura socioeconômicados países e mercados, cada vez mais inter-relaci-onados, há direções contraditórias de mudança,muitas inseguranças e incertezas (Kliksberg, 2001).Isso poderia significar que, conforme Bridges(1995), o emprego, tal como conhecíamos há déca-das atrás, estaria com seus dias contados, fadado adesaparecer, não fazendo parte da economia doamanhã e que se terá de reaprender a trabalhar,pois “novas” formas de trabalho e ocupações sur-giram e continuarão a surgir, em um constantedevir. É possível afirmar a existência de uma crise,que Frigotto (1998) identifica como uma síndromedo desemprego estrutural, uma vez que, em seuentendimento, os postos de trabalho são destruídosou precarizados, o que contribui para o surgimentode novas categorias de trabalho. Conforme desta-cado por Rifkin (2004), Castells (2003), Reich (1994)e outros, existe uma nova estrutura ocupacional,decorrente das transformações pelas quais a socie-dade atual tem passado. Enquanto para Rifkin(2004) o grande desafio se encontra num mundo

sem empregos, para Castells (2003) e outros o obs-táculo se situa na deterioração de parte ponderáveldos empregos e na fragilização das relações traba-lhistas. Coincidindo em parte com essas visões,Gaggi e Narduzzi (2006) apontam para o desapare-cimento das classes médias, ante o bulldozer daglobalização, geradora de sociedades de produçãoem massa a baixos custos. Enquanto isso, estabe-lecer-se-ia uma bipolaridade entre os que exercemocupações sofisticadas, de alta remuneração, e osque exercem ocupações simplificadas, de baixarecompensa. Com base nessa realidade, Reich(1994) distinguiu a existência de três novas cate-gorias de trabalho, concentradas na prestação deserviços e não mais na produção industrial: servi-ços rotineiros de produção, serviços pessoais eserviços simbólicos analíticos.

Assim como Reich (1994) frisa a importân-cia do setor de serviços para o mundo do trabalho,Castells (2003) afirma ser esse setor o líder no cres-cimento de emprego, sendo para ele o grande res-ponsável por absorver o excedente da indústriaem declínio. Da mesma forma, Antunes (2004) vêo setor de serviços em franca expansão, incorpo-rando os alijados do mundo produtivo.

O DESEMPREGO JUVENIL

É conhecido que, na América Latina, os jo-vens têm alcançado mais escolaridade, porém me-nos trabalho. Segundo dados da CEPAL, no gru-po etário de 15 a 19 anos, a população que com-pletou o ensino primário aumentou de 60,5% para66,7%, entre 1990 e 2002; no grupo etário de 20 a24 anos, elevou-se de 25,8% para 34,8% os queconcluíram o ensino secundário e, no grupo de 25a 29 anos, os percentuais cresceram de 4,4% para6,5%. Contudo, a população de 15 a 19 anos, nomesmo período, aumentou a sua presença nos se-tores de baixa produtividade, de 63,3% para 69,1%,ao passo que o grupo de 20 a 24 anos de idadepassou de 46,8% para 49,4%. No início desta dé-cada, o desemprego juvenil no continente era odobro da taxa de desemprego dos adultos, isto é,

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de 15,7% e 6,7%, com o hiato tendendo a aumentar.Aproximando as lentes na direção do Brasil

e do Distrito Federal, apesar do incremento daescolarização e da escolaridade (mais 13,6% e 12,6%da média de anos de estudo em 2001-2006, respec-tivamente no Brasil e no Distrito Federal), 36,7% dafaixa de 16 a 24 anos de idade, alvos da pesquisado DIEESE, estavam desempregados nas seis Regi-ões Metropolitanas. O Distrito Federal tinha a ter-ceira pior colocação, com 39,2%, em face, inclusi-ve, do elevado fluxo migratório, constituído em gran-de parte por jovens. Verifica-se, ainda, pelos dadosda PNAD 2006, que, no Brasil, 50,9% dos jovens(15-24 anos) trabalhavam e, no Distrito Federal, opercentual era de 44,4. Preocupantemente, no País,19,9% não estudavam nem trabalhavam, enquan-to no Distrito Federal, esse percentual era de 17,6%.De todos os grupos, esse era o de menor média deanos de estudo, inferior ao ensino fundamentalcompleto (Waiselfisz, 2008).

Dessa forma, o desemprego juvenil se reve-la um problema internacional, nacional e regional.Ao passo que muitas sociedades asseguravam umrito de passagem bem demarcado e relativamentecurto entre infância e idade adulta, a transição hojecontinua dolorosa, porém se espraia por um perí-odo maior de tensões e angústia. A entrada dosjovens no trabalho tende a se fazer por ocupaçõespouco promissoras, daí resultando intensarotatividade, o que contribui também para o au-mento das taxas de desemprego. Ao mesmo tem-po em que se prolonga a adolescência, cria-se umnovo vestíbulo: o do jovem adulto que, não tendoemprego ou trabalho relativamente estável, nãoconsegue alcançar a adultez plena, com a sua res-pectiva autonomia (Gomes, 1990).

Embora a presente pesquisa seja altamentelimitada quanto à investigação dests problema, cabeenfatizar, sob a perspectiva teórica, que, para osfuncionalistas, a primeira ocupação é o principalpreditor da carreira e da mobilidade social (Blau;Duncan, 1967). O início da carreira depende maisda educação que das origens sociais e, em segui-da, as mudanças passam a depender mais do status

da primeira ocupação e da experiência profissio-

nal. Já as teorias da correspondência e a perspecti-va neo-weberiana, já citadas, consideram, em pri-meiro plano, as origens sociais, inclusive étnicas,que determinam o nível de escolaridade com queo jovem ingressa no trabalho e, afinal, a experiên-cia adquirida. Desse modo, o nível de mobilidadetende a ser baixo.

No Brasil, Pastore e Silva (2000) constata-ram que a educação é o mais importantedeterminante das trajetórias sociais futuras, embo-ra num quadro de clara reprodução educacional:quanto mais baixa a escolaridade dos pais, menoselevada a escolaridade média do filho e mais pre-coce a entrada na primeira ocupação. Todavia amobilidade na carreira, ou seja, a mobilidadeintrageracional, é menor que a mobilidadeintergeracional. Em outras palavras, o padrão bá-sico de mobilidade é dado pelos fluxos entre gera-ções e não ao longo da vida. Conclusões comoessa sugerem que, quanto mais baixo o nívelocupacional de entrada, menor a probabilidade deascensão ocupacional e social até o fim da vidaativa. Em outras palavras, a porta de ingresso temum papel estratégico na democratização de opor-tunidades sociais e ocupacionais.

O TRABALHO NO DISTRITO FEDERAL

Aproximando-se do foco deste trabalho, cabeobservar a situação do Distrito Federal, que, entre-tanto, não apresenta dados publicados sobre a pri-meira ocupação, o que seria de grande utilidade.Como os anúncios em tela correspondem a ape-nas uma parte da procura, é relevante descreverprimeiro o panorama. A população economicamen-te ativa do Distrito Federal passou a contabilizar,no mês de setembro de 2006, 1.256,2 mil pessoas,das quais 1.028,8 mil estavam empregadas e 227,4mil estavam à procura de ocupação (Tabela 1). Ataxa de desemprego, por sua vez, passou de 18,5%em agosto para 18,1% da população economica-mente ativa em setembro. Conforme a Pesquisa deEmprego e Desemprego do Distrito Federal – PED/DF, para o mesmo mês, houve aumento do contin-

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gente de ocupados e redução do número de de-sempregados, com a resultante queda na taxa dedesemprego. 

De acordo com a Secretaria de Trabalho doDistrito Federal, a retomada da atividade econômi-ca, no mês em questão, possibilitou o incrementode 16,5 mil oportunidades de trabalho, as quaisviabilizaram o ingresso de 14,7 mil pessoas nomercado de trabalho e, ainda, a redução do con-tingente de desempregados em 1,8 mil, sendo que,em relação às oportunidades, pouco mais de 1,7mil estavam presentes nos anúncios classificadosobjeto desta pesquisa.

Ainda de acordo com a Secretaria de Traba-lho do Distrito Federal e com a Companhia deDesenvolvimento e Planejamento do Distrito Fe-deral – CODEPLAN, o resultado do mercado detrabalho brasiliense acompanhou a tendência na-cional. O aumento do contingente ocupacional nomês foi resultado de movimentos positivos nossetores de serviços (+11,5 mil), administraçãopública (+4,5 mil), construção civil (+1,7 mil) ena rubrica outros (+3,6 mil). Essa última abrangeos trabalhadores do setor agropecuário, de embai-xadas, consulados e representações políticas. Ocrescimento do emprego no mês favoreceu a am-bos os sexos, mas foi maior o número de mulhe-res que o de homens que conseguiram ocupação.Das vagas geradas, 12,2 mil foram preenchidas pormulheres e apenas 4,3 mil por homens.

A População Economicamente Ativa (PEA)apresentou variação positiva (1,2%), passando a

ser estimada em 1.256,2 mil pessoas em setembrode 2006. A taxa global de participação apresentoupequeno decréscimo, passando para 65,2% no mêsem análise, conforme a tTabela 1. Em comparaçãocom setembro de 2005, a PEA cresceu 4,3%, o querepresentou o ingresso de 51,8 mil pessoas na for-ça de trabalho do Distrito Federal.

Em setembro de 2006, o nível de ocupaçãocresceu 1,6%. Esse desempenho se deveu ao cres-cimento ocupacional dos setores da construção civil(4,5%), da administração pública (2,5%) e dos ser-viços (1,9%), que, conjuntamente, superaram odecréscimo nos setores da indústria de transfor-mação (7,4%) e do comércio (1,3%). O comporta-mento do setor de serviços deveu-se ao incremen-to nos ramos de serviços especializados (3,4%),transporte e armazenagem (3,3%), alimentação(2,2%), educação (1,4%), saúde (2,9%) e auxilia-res (1,0%). Esse comportamento superou a quedaapresentada nos ramos de serviços creditícios efinanceiros (10,9%), oficinas mecânicas (1,6%),reparação, limpeza e vigilância (1,7%).

Em relação a setembro de 2005, o nívelocupacional cresceu 4,6%, indicando a criação de45,4 mil postos de trabalho. Foi registrado cresci-mento no setor da construção civil (9,2%), dosserviços (6,7%) e na administração pública (2,6%).Houve queda na indústria de transformação(11,2%) e no comércio (5,4%). 

Quanto às pessoas ocupadas, o Distrito Fe-deral tinha, no mês e ano da coleta de dados dapresente pesquisa, 56,55% no setor de serviços,

alebaT 1 FD-ogerpmesedeogerpmeedasiuqsepadodatluseR-

siaregserodacidnIlasneM lautnecrepoãçairaV atulosbaoãçairaV

60/oga 60/tes lasnem onaon sesem21 lasnem onaon sesem21

)limme(AIP 2,498.1 8,529.1 7,1 2,2 0,3 6,13 9,04 8,55

)limme(AEP 5,142.1 2,652.1 2,1 1,2 3,4 7,41 3,52 7,15

)limme(sodapucO 3,210.1 8,820.1 6,1 7,1 6,4 5,61 8,61 4,54

)limme(sodagerpmeseD 2,922 4,722 )8,0( 9,3 8,2 )8,1( 5,8 3,6

)limme(sovitanI 7,256 6,966 6,2 4,2 6,0 9,61 6,51 1,4

)%(oãçapicitrapedaxaT 5,56 2,56 )5,0( )2,0( 2,1 )3,0( )1,0( 8,0

)%(ogerpmesededaxaT 5,81 1,81 )2,2( 7,1 )6,1( )4,0( 3,0 )3,0(

)PS/EDAESeESEEID,FDG/bTS,TAF/ETM:oinêvnoC(FD/DEP:etnoF

SEPEG/PID/bTS:sodarobalEsodaD

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19,43% na administração pública, 14,42% no co-mércio, 7,62% na indústria e 1,98% naagropecuária. Em relação ao mesmo mês do anoanterior, os serviços e a administração pública ten-diam ao aumento, enquanto a indústria e o comér-cio sofreram redução na percentagem sobre o total(PED-DF - Pesquisa de Emprego e Desemprego noDistrito Federal).

Considerando esse panorama da UnidadeFederativa e tendo a cautela de observar que osanúncios classificados em jornais representamapenas uma parte da oferta de emprego e trabalho,convém destacar, na metodologia explicitada abai-xo, os procedimentos e as implicações para a aná-lise dos dados.

METODOLOGIA

Os dados desta pesquisa foram coletados apartir dos anúncios classificados de oferta de em-prego e trabalho publicados pelo jornal Correio

Braziliense, do Distrito Federal. Foram tabuladasas ocupações, bem como as exigências ou pré-re-quisitos de acesso explicitados. A coleta se reali-zou de 18 de setembro de 2006 a 24 de setembrode 2006, de segunda-feira a domingo. Esse perío-do coincidiu com a semana de referência da Pes-quisa Nacional por Amostra de Domicílio de 2005e foi escolhido em face de a demanda de trabalhonão ser afetada por variações sazonais significati-vas, como a contratação de pessoal temporário paraas festas de final de ano, nem pela retração caracte-rística dos meses de férias. O Correio Braziliense

foi selecionado por ser o jornal de maior circula-ção no Distrito Federal e por veicular o maior nú-mero de anúncios classificados.

Todavia, há de se considerar algumas limi-tações que conduzem, assim, a eventuais desdo-bramentos da pesquisa:§ A demanda de emprego e trabalho somente em

parte se manifesta por meio de anúncios classi-ficados, existindo indicações de várias fontes,entre elas a veiculação de anúncios através dainternet, a indicação pessoal, a oferta de vagas

por meio de cartazes etc. Isso, por sua vez, de-nota a necessidade de ampliação eaprofundamento de futuras pesquisas que en-globem, assim, anúncios eletrônicos em sítiosespecializados e outras formas.

§ A tabulação computou cada anúncio publicado,havendo a possibilidade de a mesma oportuni-dade ter sido apresentada mais de uma vez nasemana pesquisada.

§ O jornal adverte os anunciantes contra a inclu-são de requisitos que possam ser consideradosdiscriminatórios. Assim, alguns dos anúnciospodem não explicitar certos requisitos, comogênero, cor, aparência e outros, ocultando-os depropósito e dissimulando preferências ou rejei-ções a determinadas características dos candida-tos.

§ Os anúncios apresentam dificuldades para severificar a vinculação ao setor econômico e aosetor do mercado de trabalho (formal e informal).

§ Por fim, embora sejam claros, os resultados só seaplicam ao período estudado e ao Distrito Fede-ral, uma unidade federativa atípica, especialmen-te pela presença da administração pública daUnião, pela reduzida área rural e pelas limita-ções à industrialização.

Assim, esta pesquisa não se propõe a testaras teorias clássicas, mas obter indícios sobre a suacontribuição explicativa para a realidade.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Ao todo, foi coletado e analisado um totalde 1.744 anúncios classificados de emprego e tra-balho, sendo esse total subdividido em 802(45,99%) anúncios para o nível básico, 695(39,85%) anúncios para o nível médio e 247(14,16%) anúncios para o nível superior. Emborao jornal não declare os critérios para essa classifi-cação, no primeiro caso se incluem geralmente tra-balhadores urbanos não qualificados, que exercemocupações manuais. No segundo nível, encontram-se predominantemente trabalhadores não manu-ais e profissionais de nível baixo, classificados no

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estrato ocupacional médio-médio (Pastore; Silva,2000). No nível mais alto, predominam ocupaçõesnão manuais que, em grande parte, só podem serexercidas com escolaridade superior, situadas nosestratos ocupacionais médio-superior e superior.

A pirâmide formada por esses números as-sinala a predominância da oferta de emprego e tra-balho para serviços de baixa qualificação. Emboraa estrutura ocupacional brasileira historicamentetenha base alargada e topo reduzido (casa-grande esenzala, sobrados e mocambos...), os estratos mé-dios diminuíram a declividade social entre os doispólos a partir da urbanização e da industrializa-ção. A julgar, porém, pelos autores resenhados, asperspectivas para a diminuição da base podem nãoser promissoras, pela expansão de trabalhos me-nos qualificados, isto é, sem um aumento cons-tante dos mais qualificados.

Percebe-se, nos dados, uma clara predomi-nância do setor de serviços nas ocupaçõesofertadas, tanto para o nível básico quanto para onível médio e o superior. Tal tendência é confir-mada por meio dos dados relativos à PEA do Dis-trito Federal, os quais demonstraram crescimentoda oferta de empregos no setor de serviços para operíodo no qual a pesquisa foi realizada.

Em termos de qualificação, percebe-se que,do total de 1744 anúncios pesquisados, 802(45,99%) solicitaram trabalhadores com baixas exi-gências de qualificação, anúncios esses classifica-dos pelo jornal Correio Braziliense como de nívelbásico e, por sua vez, em grande parte identificadospor Reich (1994) como serviços pessoais, relacio-

nados ao exercício de tarefas simples e repetitivas,geralmente atribuídas a pessoas de fácil trato.

Tomando em conta as categorias de traba-lho identificadas por Reich (1994), existe uma re-lação entre serviços rotineiros de produção e anún-cios de nível médio e entre os serviços simbólicosanalíticos e anúncios de nível superior. Já os ser-viços pessoais se encontram entre anúncios denível básico, anúncios de nível médio e anúnciosde nível superior, embora com a predominânciade anúncios de nível básico (Quadro 2).

Conforme já foi destacado, o crescimentode emprego para o período abrangeu ambos os se-xos, embora tenha sido expressivamente maior aproporção de mulheres que conseguiram ocupa-ção, o que parece explicar-se em parte por meiodos anúncios pesquisados:§ Das 802 vagas de nível básico, um total de 274

(34,16%) exigiu expressamente sexo feminino,sem prejuízo de as mulheres preencherem ou-tras vagas.

§ Das 695 vagas de nível médio, um total de 198(28,49%) exigiu sexo feminino, observada a pos-sibilidade acima.

§ Das 247 vagas de nível superior, um total de 10(4,05%) exigiu sexo feminino para sua ocupa-ção, também com a possibilidade citada.

Com isso, nota-se ainda uma clara predo-minância da oferta de vagas de menor qualificaçãoespecificamente para mulheres. O seu status

ocupacional, assim, parece predominantementeatribuído por fatores inatos, com a escolaridadesendo posta em caráter secundário.

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Ao analisarmos os anúncios de emprego etrabalho com ocupações ofertadas para o nível bá-sico, nota-se coincidência com as conclusões deReich (1994) e Castells (2003), no sentido da clarapredominância da oferta de serviços de baixa qua-lificação, os quais foram identificados por Reich(1994) como a categoria dos serviços pessoais. Fa-zendo-se uma classificação relativamente precária,1,50% dos anúncios se referiam ao setor comerci-al, 15,34% ao setor industrial, com predominân-cia da construção civil, panificação e confeitaria econfecção de roupas, 79,67% aos serviços, comampla maioria dos serviços domésticos, e 3,49%foram indefinidos.

Quanto aos critérios, eles favoreceram, so-bretudo, as mulheres. Ao todo as exigências desexo alcançaram 39,02% e se situaram em primei-ro lugar, antes mesmo da experiência prévia, re-quisito que dificulta o ingresso no trabalho, one-rando, sobretudo, os jovens. Essa concentração desolicitações de trabalhadoras sugere a existênciade “guetos cor de rosa”, em especial nos serviçosdomésticos e de beleza. Sabe-se que as mulheressão sujeitas, no Brasil e na América Latina, a me-nores salários que os homens, embora tenham alcan-

çado escolaridade crescente (CEPAL, 2005). Ficaclaro que a escolaridade foi desconsiderada, excetose subentendida no item curriculum vitae (Tabela2), incidente sobre as outras ocupações. O nadaconsta criminal e o não uso de fumo só aparece-ram nesse nível. A maior incidência de solicitaçãode referências ocorreu para as domésticas.

Passando às ocupações de nível médio, no-tam-se mudanças nos tipos de vagas ofertadas, masa predominância continua sendo nitidamente daoferta de serviços (Tabela 3). Há, porém, exigênci-as de mais alto grau de qualificação do que nosanúncios do nível básico e também de uma cres-cente capacidade para o empreendedorismo. Brid-ges (1995) destacou a abertura do negócio próprioe o crescimento da informalidade como marcasidentificadoras do trabalho numa sociedade semempregos, de forma que, conforme destacado porGentili (1998), caberia ao próprio indivíduo a defi-nição de suas ações pessoais, o que acaba condu-zindo ao crescimento da informalidade em detri-mento de outras formas de trabalho.

Os dados levantados nos anúncios de nívelmédio corroboram esses autores, uma vez que duasdas três ocupações mais freqüentes foram as de

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siatoT 208 582 93 472 341 631 44 04 42 22 71 41 43

siautnecreP 45,53 68,4 61,43 38,71 69,61 94,5 99,4 99,2 47,2 21,2 57,1 42,4

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autônomo e revendedor. O comércio e os serviçosforam majoritariamente representados. O maiornúmero de anúncios se concentrou na categoriade vendedor, atividade que pode ser exercida porconta própria. Ao contrário dos anúncios de nívelbásico, para o nível médio foram feitas maioresexigências de qualificação, tais como escolaridade,conhecimentos específicos de informática ecurriculum vitae. Porém a experiência prévia teveo primeiro lugar, com quase a metade do total, oque constitui um obstáculo ao ingresso e à ascen-são no trabalho. É provável que, elevando-se o nívelde qualificação, a demanda por trabalhadores ex-perientes tenha o sentido de reduzir os custos detreinamento. Ao contrário das visões teóricas an-tes resenhadas, a escolaridade por si só teve papelpouco destacado como elemento seletivo: em pri-meiro lugar, veio a experiência prévia, seguida docurriculum vitae (que indica o nível de escolarida-de), do sexo (também predominantemente femini-no), da Carteira Nacional de Habilitação (que exigegrau de escolaridade); habilidades de informática(implicitamente também sugerindo escolaridade);

veículo próprio e, em oitavo lugar, a escolaridadede nível médio. Assim, a escolaridade parece cons-tituir um filtro secundário nos dados aqui analisa-dos. Haveria uma tendência menor ao“credencialismo”, enquanto os contratantes vãodireto às necessidades do trabalho?

Relacionando ocupações e exigências, veri-fica-se que a experiência foi mais requerida paravendedores, secretárias, motoboys e operadores detelemarketing. O curriculum vitae foi mais exigidopara vendedores, recepcionistas e secretárias, su-gerindo ênfase na formação e na carreira. O estabe-lecimento prévio do sexo foi maior para osmotoboys (masculino) e secretárias e revendedores(feminino). Os conhecimentos de informática in-dicam a introdução de novas tecnologias nos es-critórios, sendo mais freqüentes para telefonistas,recepcionistas e secretárias. O veículo próprio foimais exigido para vendedores, e o registro de clas-se para corretores de imóveis. Por fim, a escolari-dade foi mais solicitada para telefonistas, recepci-onistas e vendedores.

Quanto aos anúncios de nível superior, pre-

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siautnecreP 51,14 94,82 42,31 37,2 80,11 05,01 74,6 33,6 71,4 20,3 03,2 39,9

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dominaram o setor de serviços e as ocupações doschamados serviços simbólicos analíticos, segun-do categorização efetuada por Reich (1994), embo-ra parte das ocupações não requeresse escolarida-de de nível superior (Tabela 4). Desse modo, odestaque na oferta de vagas ficou para dentistas,analistas de sistemas, médicos, programadores eestagiários de nível superior. No caso das vagasoferecidas para dentistas, constatou-se grande nú-mero de ofertas para a divisão de serviços em ummesmo consultório, de modo a reduzir despesaspessoais de ambos os profissionais. Portanto, umaparte expressiva dos anúncios não ofereceu em-pregos, mas trabalho por conta própria ou associ-ação em microempresas. O empreendedorismo,preconizado por Bridges (1995) e Ricca (2004),perdeu força nesse nível, mas ainda assim conti-nua a exercer função de destaque. No tocante àsexigências, reduziu-se a de sexo, que, do primeirolugar para o nível básico, caiu para o sexto lugarno nível superior. Nesse nível, aumentaram asexigências de curriculum vitae (primeiro lugar) ede escolaridade, que passou ao terceiro lugar (con-siderando-se a especialização em saúde e os cur-sos de graduação e pós-graduação). Todavia a ex-

periência prévia alcançou o segundo lugar, enquan-to o conhecimento de informática se manteve noquinto lugar. Nesse nível, cresceram as exigênciasde qualificação e diminuiu o peso aparente dascaracterísticas atribuídas, como o sexo, em face dosníveis anteriores.

Cruzando ocupações e requisitos, ocurriculum vitae foi exigido para quase todos osprogramadores e todos os analistas de sistemas. Aexperiência também foi amplamente exigida dosfarmacêuticos, engenheiros civis, enfermeiros eprogramadores. A necessidade expressa de esco-laridade apareceu mais no caso dos dentistas, es-tagiários e médicos.

Dentre os vários aspectos relevantes, os da-dos evidenciam as dificuldades para acesso aoprimeiro emprego e também para ascensãoocupacional, pois, certamente como medidas paraaumentar a eficiência e reduzir os custos de treina-mento (estes maiores quanto mais altas as qualifi-cações ocupacionais), a experiência profissional élargamente exigida, muito mais que a escolarida-de. Trata-se certamente de um fator que contribuipara o aumento do desemprego juvenil. Apesarde o quesito experiência ter aparecido com maior

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siautnecreP 56,73 31,72 01,8 96,7 92,7 88,6 42,3 18,0 00,0 50,4 42,3 20,2 20,2

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expressividade para os anúncios de nível médio,chegando a 41,15%, atinge índice expressivo tam-bém para o nível básico e o superior, perfazendo35,54% e 27,13%, respectivamente.

CONCLUSÕES: EDUCAÇÃO PARA QUÊ?

Os dados desta pesquisa dão indícios deque os anúncios classificados tiveram super-repre-sentação do setor de serviços e do comércio, quan-do comparados com a distribuição da populaçãoeconomicamente ativa do Distrito Federal. A ad-ministração pública e a categoria residual (outros)foram sub-representadas. A proporção do setorindustrial se reduziu à medida que se elevou onível ocupacional, o contrário acontecendo com ocomércio e os serviços, isto é, o chamado setorterciário tendeu a anunciar mais as suas ofertas deemprego e trabalho, inclusive participando majo-ritariamente de todos os escalões. Portanto, osanúncios proporcionam um espelho um poucodistorcido do trabalho no Distrito Federal, commaior representação do setor terciário e, neste, dosserviços de toda ordem, desde os pessoais até osde analistas simbólicos.

Ainda assim, considerando os três níveis,obteve-se uma pirâmide com base alargada, ondequase metade dos anúncios apareceu no último es-trato e quase 15% no topo. Embora os dados nãoproporcionem uma visão longitudinal, e sim, trans-versal, as atividades econômicas ainda requeremmais pessoal na base. Mesmo com os seus indica-dores, o Distrito Federal não apresenta uma ampli-ação notável das ocupações de mais alto nível e querequerem mais escolaridade. Não se trata de umasociedade pós-industrial, porém a complexidadecrescente, prevista pelas teorias, ainda envolve es-calões seletos de empregos e trabalhos, sem umademanda galopante por educação e qualificações.

Quanto ao papel da educação, ele foi maisreduzido do ponto de vista explícito do que asteorias resenhadas sugerem. As exigências expres-sas de nível de escolaridade não se colocaram en-tre os primeiros lugares, mesmo nos anúncios de

nível superior. Assim, ela não se patenteou comoum filtro de elevada importância e de valor práticopara os empregadores, a exemplo de uma credencialou pseudo-etnia ou um certificado de“treinabilidade”, como sugerem várias perspecti-vas teóricas. Aparentemente, pois, a educação nãofoi um indicador por excelência de característicascomo qualificações, nível sociocultural etc.

Seria lícito, então, concluir que a educaçãonão tem valor dominante? Em princípio, sim. Ha-veria relativo descrédito da escola, face a seusmodestos níveis de qualidade, mesmo como sím-bolo da capacidade de o candidato ser treinado naempresa? Para responder a essa indagação, seriapreciso pesquisar o processo seletivo e as inten-ções dos anunciantes. Contudo, não se pode des-cartar a relevância da educação, visto que outroscritérios foram manifestos nos anúncios, como ocurriculum vitae, os conhecimentos de informática,a posse de Carteira Nacional de Habilitação e re-gistro no órgão de classe. Parece que a educação seoculta implicitamente sob a capa de outras deman-das dos anunciantes. Quando se somamcurriculum e experiência profissional prévia, che-ga-se a um terço dos anúncios do nível básico ecerca de dois terços dos de nível médio e superior.Ficou nítido que as exigências de qualificação su-biram com o escalão ocupacional, mas, como aeducação em si parece embutida ou implícita emdiversas exigências, os seus efeitos podem ser maisindiretos que diretos. A exigência do curriculum

vitae sugere a idéia de carreira e, talvez, de ummercado interno na empresa, ou, possivelmente omercado primário de trabalho, porém é precisomuita prudência.

Quanto à experiência prévia, que dificulta arenovação do mercado de trabalho e o ingresso dosjovens, ela foi um destaque nos três níveis, alcan-çando o seu valor mais baixo no básico (quase umterço) e o mais elevado no médio (perto de meta-de). Associada ao curriculum, sugere que os anun-ciantes tinham interesse predominante em pesso-as treinadas, em vez de treináveis. A ênfase natrajetória anterior inclina-se para a procura do tra-balhador pronto, ao passo que o interesse em edu-

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cação e habilidades básicas tende para a busca dotrabalhador treinável.

Nesse sentido, cabe lembrar uma pesquisasobre jovens empregados no setor terciário do Dis-trito Federal (Gomes, 1989). Os resultados indica-ram que parte das empresas preferia admitir pes-soas com educação geral, aprendendo a ocupaçãoem serviço ou em cursos patrocinados pela pró-pria firma, de modo a se socializarem nela. Outrasdavam preferência a candidatos já treinados, parareduzir os custos. Como se tratou de investigaçãonaturalística, não coube apurar a proporção deorganizações que escolhiam uma ou outra alterna-tiva. De qualquer modo, foram muito freqüentesas críticas à educação geral por empregados e em-pregadores.

Outro aspecto importante foi a procura es-pecífica por mulheres, em especial no nível básico(em parte pelos serviços domésticos), decrescen-do até o nível superior. Ao contrário das expecta-tivas do funcionalismo, o sexo foi importante emmuitos casos, sugerindo status atribuídos. A eledevem-se acrescentar mais exigências atribuídas,como idade, etnia e outras que permanecem nasombra, já que o jornal em tela proíbe a sua men-ção. Com isso, não se pode afiançar em que medi-da o mérito é critério predominante de seleção. Aprocura por mulheres pode ser explicada pelo fatode elas ganharem salários mais baixos, participa-rem do mercado de trabalho secundário e tende-rem a ser mais minuciosas e, supostamente, maisajustáveis a posições subordinadas. Trata-se dasombra da divisão sexual de trabalho, que conti-nua a se projetar na história social do Brasil desdea colonização.

Em suma, os dados sugerem que:§ Os anúncios compuseram uma estrutura pira-

midal, com a base razoavelmente larga. Com isso,as mudanças tecnológicas e econômicas não pa-recem multiplicar as ocupações de alto nível,reduzindo as demais, nem aumentar acelerada-mente as exigências de educação. Por outro lado,isso pode significar um modesto nível de desen-volvimento econômico-social.

§ A educação constituiu requisito explícito de se-

cundária importância. Ao contrário das expecta-tivas das teorias, não apareceu como um filtropor excelência para o emprego e o trabalho. En-tretanto, sua relevância aparece implicitamenteem outros critérios, que, sem ela, não seria pos-sível preencher.

§ A ênfase na experiência prévia e no curriculum

parece expressar a procura mais por trabalhado-res treinados do que treináveis, para pouparcustos, contrariando teorias. Em princípio, aescola pode ser a base, ainda que se valorize maiso que se aprende fora dela.

§ Os grupos aparentemente mais vulneráveis foramos das mulheres e dos jovens. As mulheres pare-cem preferidas para determinadas ocupações, in-dício de que o sexo é fator relevante na seleção.Seus salários, tendencialmente mais baixos queos dos homens, além de certas características,podem ser grandes incentivos à sua procura.

§ Os jovens, numa Unidade Federativa que tinha24,37% de jovens de 15 a 24 anos (PNAD, 2005),enfrentam o obstáculo da experiência prévia parao acesso e a mobilidade ocupacional. Merecemabordagem especial das políticas públicas, nãosó fazendo novas pesquisas, mas utilizando erelembrando as que já foram realizadas.

§ Last but not least, cabe atualizar a roda dos clás-sicos, em vez de reinventá-la. Os custos huma-nos e econômicos são demasiado altos.

(Recebido para publicação em maio de 2007)(Aceito em janeiro de 2008)

REFERÊNCIAS

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RESUMOS, ABSTRACTS, RÉSUMÉS

TRABALHO E EDUCAÇÃO: que indicamos anúncios classificados?

Candido Alberto GomesHudson Eloy BragaWeder Matias Vieira

O presente artigo tem como objeti-vo identificar as ocupações que consti-tuem objeto de anúncios classificadosde oferta de trabalho e emprego, as suasrelações com a distribuição da popula-ção ocupada e os requisitos expressa-mente exigidos, de natureza educacio-nal e outros. Foram examinadas diver-sas perspectivas teóricas sobre as rela-ções entre o trabalho e educação, salien-tando-se as funções dessa última. Fo-

WORK AND EDUCATION: what do theclassified ads indicate?

Candido Alberto GomesHudson Eloy BragaWeder Matias Vieira

The present paper has as objectiveto identify the occupations thatconstitute object of classified ads of workand job offers, their relations to withthe distribution of employed populationand the educational and otherrequirements expressly demanded.Several theoretical perspectives wereexamined about the relations betweenwork and education, being emphasizedthe functions of the latter. The ads

TRAVAIL ET ÉDUCATION: les petitesannonces, que démontrent-elles?

Candido Alberto GomesHudson Eloy BragaWeder Matias Vieira

L’objectif de cet article est d’identifierles activités qui font l’objet des petitesannonces concernant les offres detravail temporaire et d’emplois, larelation qui existe entre elles et ladistribution de la populationembauchée ainsi que les exigencesclairement énoncées, de natureéducationnelle ou autres. Plusieursperspectives théoriques concernant lesrelations entre le travail et la formation

examined were published by the largestcirculation newspaper of the FederalDistrict, during one week. Among theresults, the secondary importance of theformal education stands out, implicitin other requirements demanded. Thefeminine sex and previous experienceare very frequent demands, suggestingwomen and youths as vulnerablegroups. The search seems to addressmore trainable than trained people.

KEYWORDS: education, occupation, work,youth, sociology of the education.

ram examinados os anúncios publica-dos pelo jornal de maior circulação noDistrito Federal, durante uma semana.Dentre os resultados, destaca-se a im-portância secundária da educação for-mal, implícita em outros requisitos exi-gidos. O sexo feminino e a experiênciaprévia são exigências muito freqüentes,sugerindo as mulheres e os jovens comogrupos vulneráveis. A procura parecedirecionar-se mais a pessoas treinadasque treináveis.

PALAVRAS-CHAVE: educação, ocupação, traba-lho, juventude, sociologia da educação.

ont été examinées, mettant plusparticulièrement en évidence le rôle decette dernière. Nous avons étudié lesannonces publiées pendant une semainedans le journal de plus grande circulationdu District Fédéral. Les résultats révèlententre autres l’importance secondaire del’éducation formelle par rapport à d’autresexigences. Être femme et avoir uneexpérience de travail antérieure sont desexigences très fréquentes, ce qui laisseentendre que les femmes et les jeunessont des groupes vulnérables. Les de-mandes semblent s’adresser surtout àdes personnes formées qu’à despersonnes à former.

MOTS-CLÉS: éducation, activités, travail,jeunesse, sociologie de l’éducation.