Canto da Iracema

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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURAL CANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 68 > JULHO 2011 Nº 06 > Junho 2011 a cultura cearense pertinho de você!

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Arte e cultura do Ceará.

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UMA PUBLICAÇÃO DO INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO SOCIOCULTURALCANTO DA IRACEMA > ANO 12 > Nº 68 > JULHO 2011

Nº 06 > Junho 2011

a cultura cearense pertinho de você!

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EDITORIAL

>>>>> as matérias publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores!// TIR

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> Q U E M S O M O S !coordenação geral zeno falcão • coordenador adjunto pingo de fortaleza • editora e jornalista resp. joanice sampaio - jp 2492 - ce• produtor executivo arnóbio santiago • assistente de produção tieta pontes • revisão rodrigo de oliveira - tembiu.pro.br • colabora-dores audifax rios / oswald barroso / augusto moita / calé alencar / kazane / nilze costa / talles lucena • conselho editorial augusto moita/ audifax rios / calé alencar / erivaldo casimiro • diagramação artzen • contatos > canto da iracema rua joaquim magalhães 331 / cep60040-160 / centro / fortaleza / ceará / (85) 3032.0941 / [email protected] > solar av. da universidade 2333 / benfica / fortaleza/ ceará (85) 3226.1189 / [email protected]

FOTO CAPA > DIVULGAÇÃO

EDITORIAL

Julho é sempre um mês especial. Período de férias em Fortaleza e pelo restantedo país, reservam opções de diversão e programas culturais para todos os gostose bolsos. Aos que pretendem seguir uma programação unida às atividades culturais,oficinas e debates que norteiam os interesses da juventude e da sociedade em geral,o destino é a bucólica Praia de Icapuí, onde será realizado o IX AcampamentoLatino-Americano da Juventude de Icapuí. Na capital, o rock vai rolar solto com abanda Jardim Suspenso, com seu show tributo a Rita Lee e aos Mutantes no Dragãodo Mar.

E aqui no Canto, esta edição também está ainda mais especial. Homenageamos otrabalho da ONG Associação Solidariedade e Arte – Solar, pelos seus seis anos deatuação. Vamos conhecer sua história, seus trabalhos desenvolvidos e as pessoas que acompõem. Dentro desta homenagem, Augusto Moita rememora os tempos conselheiristasde Pingo de Fortaleza, pessoa à frente desta nau. Nilze Costa e Silva puxa a loa e poeticamen-te diz a você leitor(a), sua experiência na comunidade Solar.

Outro baluarte da cena artística cearense, Calé Alencar, faz suas referências aos solares numaespécie de cortejo de maracatu. E mais, Audifax Rios ainda em clima de festejo junino tecereferências aos santos do mês de junho e faz um passeio no tempo pela Praia de Iracema.Curta as férias e boa leitura!

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PEDRO, TODOS SABEMOS, ERA O DECANO DOS PESCADORES DA GALILÉIA AQUEM O MESTRE ENTREGOU OS PÉTREOS DESTINOS DA SUA CONFRARIA. OVELHO PESCADOR NÃO ACREDITAVA EM MILAGRES. TANTO QUE FICOU ES-

PANTADO COM A GRANDE QUANTIDADE DE PESCADOS NA SUA REDE QUANDODA FAMOSA REUNIÃO SOBRE AS ÁGUAS CUJA SUPERFÍCIE ELE CONHECIA TÃO

BEM. MEDROSO, NÃO CANTAVA DE GALO E NEGOU CONHECER O PRÓPRIOPATRÃO NUMA EMBARAÇOSA NOITE. JOÃO VEIO PARA CONFUNDIR. ERA PRI-MO DO HOMEM E O BATIZOU NAS ÁGUAS LÍMPIDAS DO JORDÃO, INSERINDO-

O NA IRMANDADE QUE O PRÓPRIO MESTRE INVENTARA. É CONFUNDIDOCOM O EVANGELISTA E BAGUNÇA MAIS AINDA QUANDO APARECE MENINO EMFIGURA DE PASTOR DE OVELHAS. ANTÔNIO É DE UMA GERAÇÃO MAIS NOVA.

MIDIÁTICO, TIDO CASAMENTEIRO E, EM BARBALHA, NO CEARÁ, SEU IMENSOTRONCO É ALISADO COM TERNURA PELAS DONZELAS CASADOIRAS DURANTEO NOVENÁRIO EM SUA HONRA. ESTES TRÊS SANTOS PODEM SER VISTOS JUN-

TOS NA CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO FILHO DO CANTOR/COMPOSITORMATINHO DA VILA. O MEU SÓ AGUENTOU DOIS, ANTONIO JOÃO; O PEDRO

FICOU DE FORA, BATIZA O REBENTO DO FALCÃO.

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O NICHO DE MARIINHA – Foi no dia 21 de novembro de 1934 que ficouinstituída a comissão encarregada das obras da capelinha destinada à invoca-ção de São Pedro, padroeiro dos pescadores, ali na Praia do Peixe, a decantadaIracema. Estava à frente dona Mariinha Holanda e a pedra fundamental foilançada no Natal do ano seguinte em cerimônia presidida pelo Arcebispo Metro-politano, Dom Manoel da Silva Gomes, mais conhecido como Bolo Confeitado. Ainauguração deu-se a 22 de janeiro de 1939 e em 1953 (23 de agosto) acapelinha passou a abrigar a Paróquia Oriental de Nossa Senhora do Líbano (dorito Melquita), com a finalidade de prestar assistência religiosa à colônia sírio-libaneza de Fortaleza. O vigário era o Monsenhor Paulo Kalas. Dona MariinhaHolanda era líder comunitária do pedaço e foi madrinha da jangada São Pedroque participou do raid Fortaleza-Rio de Janeiro, saindo a 8 de setembro de 1941da praia dos amores, sob as bençãos do Padre Pedro Perdigão Sampaio. Abenfeitora faleceu no dia 6 de agosto de 1972 na Casa de Saúde São Raimundoe empresta seu nome a uma rua no Cocó/Guararapes.

O AÇUDE DO FRANCÊS – A Casa Boris foi fundada em 1869, compunha afirma Théodore Boris & Irmãos (depois Boris Fréres & Cie Ltd.) e ficava instaladanum prédio próximo à Alfândega, no número 10 da rua que hoje se chama Boris.O logradouro, de curto trajeto, nasce na Avenida Historiador Raimundo Girão(Aquidabã) em frente ao citado prédio de pedra da aduana, construção executa-da por Tobias Figueira de Melo e Ricardo Lange para a firma Cará HarbourCorporation Ltd. Tal edifício foi ocupado posteriormente pela Receita Federal ehoje pertence à Caixa Econômica e será centro cultural em breve. A Rua Boristermina na Praça do Cristo Redentor, na esquina do Teatro São José. Os Boristrouxeram fotógrafo da França que documentou a cidade de antanho, documentotransformado em álbum de luxo. A família do cônsul francês, Bertrand, falecidoem 1987, pintou e bordou na Província, tanto que o Oceano Atlântico era apeli-dado pelos matutos (e gozadores pracianos) de Açude do Boris. Ultimamente asede da empresa, com torre e tudo, havia sido transformada no Ateliê Paleta,galeria do marchand Tota de Tal, que lançou o pintor Antunys, deu um grau nopaletó do Falcão e uma aparada no bigode de ouro do Belchior.

VILA MORENÍSSIMA – A Praia de Iracema era pródiga em bons restauran-tes. Em 1926 Ramon de Castro e Antonio Barbosa fundaram o Restaurante Beira-Mar, na Rua Pacajus, que ficou conhecido como Restaurante do Ramon, umparaense que chegou por aqui em 1914 para dirigir o Art Nouveau de José Rola.O Lido, em frente ao Iracema Plaza fechou as portas em 1984, primava pelacozinha requintada e boa música. Havia ainda o Tony’s, o Caçarola e, maisantigamente, o Alabama. Nenhum, porém, colecionou tanta história como oEstoril, a vitrina da própria cidade. Abrigando a boemia da capital por sucessivasgerações o chique restaurante instalado no antigo solar (Vila Morena) dos Porto,reduto de revolucionários, artistas, poetas, músicos, foi dirigido por uma outrafamília, os Pequeno, e até criação de galos de briga abrigava. Como também oseternos garçons Sitônio, Baleia e Alemão. Durante a II Guerra Mundial serviu decassino para os oficiais americanos e ali, ao fresco da brisa dos verdes maresd’Alencar nasceu o apelido de “coca-cola” dado às garotas mais avançadas queali iam ter em procura dos loiros samangos e seus verdejantes dólares.

P.S.- A MEMÓRIA DAS DATAS AQUI CITADAS DEVO-AS, MAIS UMA VEZ, AO CRITERIOSO NIREZ,QUE É MIGUEL ÂNGELO DE AZEVEDO, AUTOR DE CRONOLOGIA ILUSTRADA DE FORTALEZA.

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Meu tio Benigno morava numa casa pequena e muito simpática, defronte à igrejinha de São Pedro.Nós éramos muito criança e ir à praia tornava-se um acontecimento. Alguma coisa além de piqueni-que. Uma aventura, talvez. A prima Jana tinha a minha idade, coisa de cinco anos, e o mar aberto nostrazia muito medo. Por isso preferíamos cavar buracos na areia e ver a água brotando até formarpequenos lagos. Desse tempo, ficaram algumas fotografias nas quais aparece minha mãe com umaturma de meninos misturados à areia, e a lembrança nebulosa das ondas batendo nas pedras doquebra-mar.

Na adolescência, a Praia de Iracema continuou a ser uma aventura. Aliás, o fim de uma aventura.Morávamos próximo à praia do Ideal e de lá partíamos em viagem marítima, tripulando uma bóiaenorme, oceano afora, para dar nas costas longínquas da praia do Comercial ou, ainda mais além, nocontinente dos iracemitas. Por vezes, em meio aos périplos, éramos atacados por águas vivas eabandonávamos as bóias, como maus comandantes, saindo em loucas braçadas até a terra firme.

Uma vez por mês, sempre num domingo, o passeio era feito por terra, com roupas distintas e semmolecagem. Naquele tempo, almoçar fora era algo de muito raro para nós. Daí a afeição especial quea ida ao Lido tomava para todos da família. Saborear pratos chiques, com nomes chiques tirados docardápio, ouvindo musica e vendo o mar bater nas pedras, ali de junto, era o máximo. O almoçotranscorria um tanto solene e torcíamos para que se prolongasse, além da sobremesa. Depois acaminhada pelo calçadão da praia, de barriga cheia e sem ligar para o solzão. O formato do IracemaPlaza sempre me intrigava. Era feito um transatlântico ancorado no lado errado da praia.

Memórias pessoais da Praia de IracemaPo

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Depois a Praia de Iracema virou comentário lá em casa, por causa das loucuras da minha irmãCristiana. Não é que ela, além de pular da Ponte Metálica, arriscando estrepar-se numa pedra ou numaponta de ferro, corta-se numa longarina, ainda por cima levava meu irmão Ted, uma criança de 12 anosde idade, e o fazia pular também! Além do mais, esse negócio de ver o pôr do sol da Ponte Metálica,muito bem que era coisa de hippie, mas havia também os maconheiros, até por isso mesmo!

Eu sei que a Ponte Metálica era boa para namorar. Um pouco perigoso, talvez, principalmente ànoite. Mas era para lá que eu escapava com a Rejane, depois de uma reunião de trabalho, queaconteciam ali perto. A gente se agarrava, com um medo danado de aparecer algum ladrão ou, sabe-se lá, algum estrupador. Mas, na outra boquinha da noite, estávamos lá de novo.

Depois virei poeta e militante da esquerda. A Praia de Iracema, é claro, passou a ser o Estoril, bom,foi aquilo que todo mundo já sabe: muita agitação, amizade do Rogaciano, músicos e outros poetas,conversa boa até certa hora da noite... Hoje, porém, o que me atrai na Praia de Iracema são ascaminhadas matinais, meio cooper, meio passeio, entre restos de alegria boêmia, bairro um tantosonolento, sol morno a revelar portas, paredes e telhados que as luzes da noite escondem. Caminhopelo calçadão e vou até a Ponte dos Ingleses, para ver o mar e, especialmente, a loja da estação deobservação de botos. Aprende a diferenciá-los dos golfinhos, são mais altivos e menos infantis. Aqueletrecho de mar é deles. Alegria saudável da natureza, contra os espigões de cimento. Parece um pedaçodo paraíso que vem nos visitar.

Há varias formas de se visitar a Praia de Iracema, eu prefiro todas. Não sei bem se porque meuumbigo teria sido enterrado por lá ou se gostei de sua água.

// DIVULGAÇÃO

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Tambores, batuques ancestrais, festivais, solidariedade e muita arte.São seis anos, uma criança, digamos. Embora muito jovem, muitojá fez e terá o que produzir daqui em diante. A lista de realizações éextensa, fazendo côro às premiações conquistadas e aos reconheci-mentos já obtidos durante este tempo. Coisa de gente grande.

Concebida pelo sonho de canalizar as ações que seus criadoresrealizavam na área cultural do Ceará, assim, em junho de 2005,nasceu a Associação Cultural Solidariedade e Arte – Solar. A ONG,criada pelo músico e produtor cultural Pingo de Fortaleza e pelosprodutores culturais Tieta Pontes, Jorge Ramos (falecido), ErivaldoCasimiro (então seu primeiro presidente) e Arnóbio Santiago, reu-nia ainda, o artista plástico Raimundo Ataíde (falecido no início dostrabalhos), posteriormente, a livreira Mileide Flores, o escritor AlanMendonça e o músico, escritor e artista plástico Descartes Gadelha,figura presente em todos os projetos até hoje.

Projetos que iniciaram ainda em 2005 numa parceria com o UNICEF,escritório Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí, para a implementaçãodo tema de participação social da cultura no projeto selo UNICEFMunicípio Aprovado. Desde então, cinco linhas de ação programáticanorteiam o trabalho da Solar: voluntariado (Futebol Solidário eSolar com Arte na Sala de Espera, no Hospital Albert Sabin), asses-soria e consultoria (UNICEF, Prefeitura da Meruoca), difusão (pro-jeto Maracatu Az de Ouro nas Feiras, projeto de montagem e difusãodo espetáculo “O Mamulengo Conta Histórias”, com o grupo Estrelado Norte; lançamento dos seguintes discos e publicações impressas:CD da banda Marcatu Vigna Vulgaris, das Dramistas do Guriú, doCongo Real de Aquiraz, do griô Descartes Gadelha (“Ritmos deLuz”) e de Pingo de Fortaleza (“Maracatu-ará”), “Livro da Chu-va”, do poeta Zé Neto, “Lenda da Estrela Brilhante”, livro de Des-cartes Gadelha, e a Revista Canto da Iracema – Solar, em parceria

IRRADIANDO CULTURA

“Jorge foi uma inspiração para todos nós da Solar, seu jeito manso e cordialde resolver muitas questões nos tranquilizava, sua prática entre nós foi umexemplo de companheirismo simplicidade e benevolência e procuramosreverenciá-lo sempre”, revela Pingo de Fortaleza.

com o Instituto Canto da Iracema; produção (Festival de Inverno daSerra da Meruoca, Acampamento Latino-Americano de Icapuí eritual Tambores Ancestrais da Noite Escura) e formação: MaracatuSolar – Programa de Formação Continuada, que agrega mais de300 pessoas e atua o ano inteiro.

Ainda na proposta de formação, em 2008, passou a ser o Ponto deCultura Fortaleza dos Maracatus. Um espaço de formação que visacontribuir para a consolidação da cultura do maracatu cearense. NoPonto, são ofertadas oficinas de Produção de textos, Artes Visuais,Fotografias, Audiovisual, Música e gravação em áudio e vídeo dosmaracatus no carnaval, dentro e fora do espaço físico da Solar.Dentre as produções dos alunos, estão os documentários Maracatucá,de Viviane Tavares, e O Negrume, de Zezé Malaquias; exposições deFotografia e a exposição de Artes Plásticas. Além do trabalho deformação do Ponto de Cultura, a Solar ainda vem desenvolvendoum conjunto de oficinas como a formação em Artes Visuais Podeentrar, a casa é sua, sobre o patrimônio material de Fortaleza, osQuatro Ciclos de História e Estética do Maracatu Cearense, a oficinaTeatro de Rua, com a Trupe Tramas, dentre outros.

Este ano, dentre as atividades serão realizadas as seguintes: oficinaO Clima das Cores – Serra, Litoral e Sertão do Ceará (Artes Visuais);oficina de Manipulação e Encenação de Bonecos; oficina de Produ-ção Literária em Cordel; Seminário sobre revistas editadas no Ceará;e o quinto ciclo do Maracatu – História e Estética, no qual sãoapresentados todos os aspectos do maracatu.

“Sou muito grato aos amigos, ao universo, às instituições. Isso fazcom que a gente esteja aqui todo dia trabalhando. O clima é semprebom. Nesses seis anos acredito que crescemos muito”, declara Pingode Fortaleza, presidente da Solar.

Seis anos de Solidariedade e Arte

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ÃOSALVE JORGE!Jorge Ramos foi um dos fundadores da Solar. Sempre tido como a pessoa conciliadora, responsá-vel pela parte burocrática dos projetos desenvolvidos até o seu falecimento em 2009. Embora emoutro plano, a figura de Jorge é muito marcante e lembrada pelos membros da instituição queajudou a fundar.

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...de Ponto a Ponto!

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“O maracatu Solar nasceu como nascem as auroras, ou seja, veio trazer luz para a vida, que é composta de esperança, alegria ecrescimento. Sem a luz nada existiria. Portanto, a filosofia do Solar é juntar pessoas através da arte e da consciência de pertencimentocultural de forma prazerosa. Fora da arte não existe salvação. Se os antigos quilombolas brigaram por liberdade, os maracatus são novosquilombos que lutam por cultura, conscientização e arte. É o canto, a dança, a fraternidade, a religiosidade vividos dentro de umacenografia feita de amor. Só que isso é o melhor que a África Negra nos legou”. (DESCARTES GADELHA – ESCRITOR, ARTISTA PLÁSTICO,MÚSICO E UM DOS FUNDADORES DO MARACATU SOLAR)

“Comecei minha atuação na Solar recentemente através do módulo de edição e montagem de Vídeo do curso de Realização emAudiovisual, realizado pela Solar e produzido pelo Ponto de Cultura Fortaleza dos Maracatus. Esse trabalho dá continuidade a umtrabalho que já venho desenvolvendo a respeito do tema Tradição e Documentário”. (VINÍCIUS ALVES – PROFESSOR DE AUDIOVISUAL)

“Eu gosto de trabalhar com os artistas. Eu amo todos eles, são meus amigos. Amo cada um com suas loucuras. Tenho o maior carinhopor todos eles. Estamos aqui para tocar o barco pra frente. Aqui a gente faz de tudo um pouco. Na hora do sufoco um ajuda o outro,pois somos uma equipe pequena. E olhando pra trás a gente vê que crescemos muito”. (TIETA PONTES – PRODUTORA)

“Em setembro de 2008, soube através de um anúncio no jornal sobre o curso História e Estética do Maracatu, que aconteceria naAssociação Cultural Solidariedade e Arte – Solar, cujo responsável era Pingo de Fortaleza, e, desde então, nunca mais saí da Solar.No ano seguinte já era eu a responsável pelo 3.º Ciclo do curso História e Estética do Maracatu, assumindo papel de coordenadorado curso. Passei por todas as alas existentes no maracatu: negra, baiana, calunga, batuque e até rainha. Hoje faço parte da equipedo Ponto de Cultura Fortaleza dos Maracatus, aprovado pelo Programa Cultura Viva do Ministério da Cultura com a parceria daSecretaria de Cultura do Estado do Ceará”. (CRISTINA CASTRO – PROFESSORA E COORDENADORA PEDAGÓGICA DO PONTO DE

CULTURA FORTALEZA DOS MARACATUS)

“Em meados de 2003 conheci Pingo de Fortaleza, quando ele coordenava o projeto Mapeamento Cultural de Aquiraz, que tinha a intuito de catalogaras manifestações culturais daquela cidade. Em 2005, em visita a casa de Pingo, ele me falou que iria desenvolver um trabalho semelhante junto aoUNICEF, só que estendido a todos os municípios do Ceará e Rio Grande do Norte e me convidou para fazer parte da Solar. Eu aceiteio convite. Desde então faço parte da Diretoria Executiva da entidade, considero-me um dos fundadores da instituição. Atuei emtodos os projetos e programas que a Solar executou de lá pra cá, no início como assistente de produção, mas logo me torneiprodutor cultural, participo da elaboração dos projetos, da execução e de suas prestações de contas, uma espécie de produtorexecutivo de tudo que se desenvolve. Na verdade, a Solar, nestes seis anos de existência, foi e vem sendo para mim uma faculdadede produção cultural e artística. Aqui aprendi bastante, conheci inúmeras pessoas e fiz grandes amizades. Orgulho-me muito defazer parte da família Solar”. (ARNÓBIO SANTIAGO – PRODUTOR EXECUTIVO)

“Depois de fazer um projeto gráfico para a banda Vigna Vulgares, o Pingo me convidou para participar de uma produção chamadaMaracatu nas feiras livres, onde fiz todas as peças gráficas. Logo, depois não paramos mais, pois a cada edital e cada projeto aSolar crescia e puxava o meu braço para o mundo das artes visuais e da produção. A partir daí comecei a entrar de cabeça emprojetos maiores e mais ambiciosos na Solar. Hoje considero a Solar como parte da minha vida, pois ela acompanhou e participoude todos os momentos tristes, felizes e de transição profissional e afetiva. Parabéns família Solar pelos seus seis anos e que venhalogo mais quatro, para festejarmos em grande estilo uma década”. (MARILDO MONTENEGRO – DIRETOR DE ARTE E VIDEOMAKER)

“A arte no Brasil estava meio órfã e graças a estes projetos e entidades temos um grande passo para um melhoramento da sociedade,ao passo de que a arte se coloca como forma de transformar as pessoas. A Solar deu passo muito grande disseminando a arte em todosos aspectos. Foi uma somatória. Como facilitador, orientador a gente acaba dividindo pra multiplicar e a Solar está dividindo. Quemganha com isso é a sociedade”. (VLAMIR SOUSA – ARTISTA PLÁSTICO E FACILITADOR DO PONTO DE CULTURA FORTALEZA DOS

MARACATUS)

“Estou na Solar porque acredito em sua proposta de integração cultural. Cheguei aqui em 2007 para brincar o maracatu e me sentifeliz em fazer parte desse espaço multiétnico, brincante, aberto a todos e todas que visam alinhar os seus pensamentos para criar umacomunidade artística feliz, sem vícios da competição, como estrelas que se juntam para iluminar melhor. E fui convidada pelo Pingode Fortaleza para compor a equipe que forma o Ponto de Cultura Fortaleza dos Maracatus, na qualidade de Coordenadora Pedagógica.Não poderia deixar de expressar a minha gratidão a todas as pessoas que somam conosco e vêm contribuir para que o Núcleo dePesquisas seja consolidado. Valeu!” (ELIAHNE BRASILEIRO – ARTISTA E COORDENADORA PEDAGÓGICA DO PONTO DE CULTURA FORTA-LEZA DOS MARACATUS)

“Estou aqui desde 2008. Cheguei aqui e me encantei com o local porque é voltado à arte, à cultura. Comecei a frequentar aqui,o Pingo me convidou pra frequentar o maracatu. Gostei. E com o passar do tempo foi me engajando em alguns projetos e algunseventos. Fui tomando gosto e estou aqui até hoje”. (FABRÍCIO OLIVER – ASSISTENTE DE PRODUÇÃO)

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Houve uma época em nossa loura desaconselhada pelo sol em que omovimento conselheirista novamente tomou corpo, fazendo com queartistas das mais diferentes manifestações tornassem-se defensoresferrenhos das pregações do beato cearense: Pr. Arruda, nas letras;Rosemberg Cariry, no cinema; Audifax Rios, na pintura; Pingo deFortaleza, na música; e muitos outros que minha falha memória nomomento me trai.

João Wanderley Roberto Militão que, para quem não sabe, é o singeloPingo, empolgou-se tanto com o conselheirismo que adotou todo ovisual canudense. Sua dedicação foi tão extremada que chegou aregimentar dentro do seu círculo de amizades muitos jagunços deúltima hora. Esse escriba que vos relata só não entrou para a confrariaporque um companheiro mais lúcido alertou-me que se aquele negó-cio desse certo eu não iria me dar bem, pois o beato em sua Belo Montepregava a total proibição da cachaça, que era a coisa à época que eumais gostava.

O incauto jornalista Nelson Augusto, não tendo tido a mesma minhasorte, foi cooptado por nosso centaurino Pingo a acompanhá-lo até olongínquo e escaldante sertão baiano, para de lá voltarem trazendoconsigo a força da revolução que desmontaria o governo militarusurpador.

O contato mantido na terra acarejiana era nada menos que Fábio Paz,historiador, professor universitário, pesquisador de tudo sobre Canu-dos. Combinaram um encontro na cidade de Serrinha, onde por sinalo ilustre mestre mantinha residência, e dali seguiriam a conhecer inloco onde se deu o trágico desfecho histórico.

O problema era chegar à distante Serrinha. A liseira constante queassolava os indubitáveis heróis, jagunços de primeira viagem, só lhespermitiu um transporte terrestre um pouco abaixo do semi-leito. Des-frutaram de 14 ensolaradas horas pelas nossas empoeiradas estradasnordestinas, com muita fome e sede durante todo o percurso. Acho quefoi aí que criaram o sábio provérbio: “mais comprido do que um diade fome”.

O fato de terem chegado com vida ao seu destino (observe perspicazleitor existir uma sutil diferença entre “chegar com vida” e “chegarvivo”) foi prova inconteste do poder milagroso do beato Santo Antônio.

Numa casa grande, típica dos nossos sertões, simples mas muito bemconservada, o hospitaleiro historiador, com outros conselheiristas deboa cepa, recebeu-os em vasta mesa exatamente na hora do jantar.Aquela mesa, com sua asseada louça, foi como um colírio para seusesfomeados estômagos. Contudo, qual não foi a surpresa, quandouma educada senhora vestida de mucama passou a servi-los um ralocaldo destituído de qualquer sustança alimentar. Estranharam, mas,ao lembrar a quão periclitante situação que atravessava o corpo do-cente federal, entenderam ser aquela “caridade” o possível para seuanfitrião.

Deram de pau nesse caldo até não sobrar o último vestígio de suaexistência. Sem atentar que os demais convivas pouco tocaram nadesvitaminada sopa, apenas um colherada ou outra, não imagina-ram tratar-se apenas da entrada.

Ao sinal do dono da casa, as serviçais, em equipe, rapidamenteretiraram a louça servida e outra, imediatamente, serviu a mesa comas melhores iguarias que a cozinha nordestina já produziu. Eragalinhada, capote no arroz, frango frito, sarrabulho, buchada,escondidinho, carne seca, enfim, tudo do bom e do melhor.

Os experientes comensais, agora munidos com seus apetrechos deguerra, passaram estrategicamente a devorar o lauto banquete. Nos-sos heróis com aqueles semblantes entre arrependidos e decepciona-dos, lotados do famigerado caldo até o pé do pescoço, a tudo olhavame nada faziam.

- Oxênte, vocês não vão jantar? Interpela admirado o dedicado anfi-trião.

- Obrigado, não estamos com fome, merendamos no meio do cami-nho, disse um deles em visível estado de arrependimento.

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NO SOLAR, TODOS SOMOS ESTRELASO UNIVERSO SOLAR (SOLIDARIEDADE E ARTE) TEM O MARACATU COMO ESTRELA PRINCIPAL. MAS O SISTEMA

TODO É COMPOSTO POR ARTISTAS E AMANTES DA ARTE. UM PINGO DE FORTALEZA É O BASTANTE PARA

CLAREAR TUDO, COM AS CANDEIAS DO CANTO E DO BATUQUE. UMA TIETA, SEMELHANTE À MUSA INSPIRADORA

DE JORGE AMADO, IMPRESSIONA PELA INSISTÊNCIA EM FAZER BRILHAR A TODOS NÓS, COMO AS ELIANES, AS

REGINAS, FABRÍCIOS, PATRÍCIOS, DESCARTES, CRISTINAS E ARNÓBIOS, CONTANDO COM A PROTEÇÃO DE SÃO

JORGE SOLAR. SÃO MUITAS AS ESTRELAS E O ESPAÇO NÃO COMPORTARIA TANTOS NOMES.

NA COMUNIDADE SOLAR TODOS NÓS SOMOS ESTRELAS. CRIADA PARA SERVIR DE INSTRUMENTO À PAZ, LÁ CADA

UM DESEMPENHA PAPÉIS VARIADOS E DETALHADOS, A PARTIR DA SOLEIRA DA PORTA. E EU ME SINTO FORTE,COM ASAS DE FÊNIX, QUANDO MEUS PÉS VOAM E TAMBORILAM O CHÃO, AO SABOR DO BATUQUE.

OS CURSOS DO SOLAR SÃO CONFISSÕES DE ABRAÇOS, SOLIDARIEDADE NO OLHAR, DESEJO DE ENSINAR E

APRENDER. SOMAMOS SABERES PARA PENSAR MELHOR. OLHA-SE O CÉU E AS ESTRELAS BRILHAM COMO NÓS,PARECENDO NOS ENVOLVER NUM ENLACE CÓSMICO.

NESSE REDEMOINHO ESTELAR, CADA ENCONTRO É UM ENSAIO PARA O REENCANTAMENTO DO MUNDO. SEM

SAIR DA TRILHA, O SOLAR VAI SE EXPANDINDO EM ONDAS DE ALEGORIAS E CANÇÕES. COM O OLHAR FIXO NO

PASSADO, PRESENTE E FUTURO, VAI DECOMPONDO VELHOS SABERES, CRIANDO NOVOS PARADIGMAS, ORGANI-ZANDO FORMAS, ESTÉTICAS E CONSCIENTEMENTE ROMPENDO OS VELHOS GRILHÕES DO FALSO NEGRUME.

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Foi no tempo emque eu estavac a m i n h a n d opela calçada dolado do sol naavenida da uni-versidade e acheide entrar na casaem frente aondefuncionou a scalado barroso ondeconvivi na déca-da de oitenta commúsicas e amo-res, amigos e ir-mãos de ofício efé e quando abri a porta dei de cara com a flor margarida maischeirosa do jardim que foi no tempo.

Caminhando e cantando e seguindo o caminho da canção entrei nacasa onde encontrei o wanderley e o descartes feito rei e uma cançãoque já era nossa desde os tempos de menino veio se dar como um bodeao sacrifício, agarrada pelos chifres, dando marrada e bufando peloscorredores da casa onde eu estava caminhando e cantando.

E seguindo o caminho da canção sentamos os três na salinha do decomer e do café onde também se fazem colagens de penas e plumas eas mulheres costuram, pintam e bordam, os meninos passam as me-ninas passam as peles se roçam e os ossos se roem. Calango tango nocalango da lacraia peixe na areia da praia subindo no pé de oiti. Oitibrincando oiti cantando vendo estrela brilhante no dedo dela pelaporta do quintal. Tava no mato sem lenço sem documento bonel rabode cavalo umburana ingazeira quixadá e quixabeira goiabeira pé depau. O curumim chegou bebeu chá e café e aí me diga quanto é eonde que é a lua avoa.

Voa no brejo no terreiro da fazenda na umbanda na macumba pai desanto candomblé. Voa no lago na iara na parlenda voa na lua e nalenda me diga como é que é coco coqueiro cocada palmeira botandopalha voavoa no arrebol. Quando ela voa se agarra com a peiticapeixe na imbiricica se atraca na luz do sol. Sol é solar estrela brilha nacantiga sol e lua milho espiga matracas de são luiz. Os três sentadossão anjos celestiais borboletas e pardais quero mel e quero maisquanto mais lenha mais fogo quanto pau de dar em doido quantascantigas se faz.

Sentamos os três na salinha pássaros três com mais três que passaráscaranguejo anda pra trás, a vida seguiu em frente, violão e baioneta,espingarda, espoleta, passeata, flor, retreta, gaveta de guardar selo,cabelo, gente, novelo, na hora que a lua avoa o sol brilha encandeia

nós três can-tando na teiahoje temmaracatu. Osol está nosolhos de quembrilha brilhan-do como o solpor trás das coi-sas que aindavirão.

Riscou no céuuma estrelinhae foi parar naponta do lápis

no estalar da língua ai ai ai lá vem o sol ai ai ai o sol lá vem meuamor é bonitinha é moreninha eu quero bem arrebata esta mazurca ôlelê cici meu bem assim cantava o mestre muriçoca fez zunzum pramim fez zunzum e mel fez zunzum e pronto. Os passarim chegaram nocarnaval fazendo valer o dom de cantar o encantado dizendo nãofome eu não te quero não miséria eu não te quero calma violênciatenha paciência enquanto eu canto a loa a minha resposta para seuarrocho é um acocho feito de carinho e luz na pessoa amada na portada rua onde a luz da lua espelha a luz solar.

Onde há luz de lua e onde há luz solar celebrando o canto versoritmado cordel encantado três fazendo loas três cantando loas três trêspassarim daqui dacolá carnaval solar nação fortaleza estrela brilhan-te vem o az de ouro vem o rei de paus vem nação zumbi rei do congovem vem axé de oxóssi filhos de iemanjá vem dragão do mar naçãobaobab vem kizomba vozes d’áfrica também nação iracema vembatuque vem vem cantando loas vem a voz da moça menina eliahnepingo vem pintado pajé de cocar vem eu de turbante axé saravá nossocanto preto índio nosso canto branco canto nosso nossa alegria é a pazde Oxalá.

ELIAHNE BRASILEIRO • CALÉ ALENCAR • PINGO DE FORTALEZA

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