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Penitenciária II de Bauru recebe Biblioteca “Ler é Preciso” Dr. Dráuzio Varella fala da prática da Medicina nas prisões FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA CANTO LIBERDADE Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo dezembro de 2009 edição 10 da Gestores Públicos no processo de Reintegração Social de Presos e Egressos Editora PAULUS distribui mais de 1.000 kit´s nas Penitenciárias do Estado

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da FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA Penitenciária II de Bauru recebe Biblioteca “Ler é Preciso” Dr. Dráuzio Varella fala da prática da Medicina nas prisões dezembro de 2009 edição 10 Editora PAULUS distribui mais de 1.000 kit´s nas Penitenciárias do Estado Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo

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Penitenciária II de Bauru recebe Biblioteca “Ler é Preciso”

Dr. Dráuzio Varella fala da prática da Medicina nas prisões

FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA

cantoliberdade

Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo

dezembro de 2009 edição 10

da

Gestores Públicos no processo de reintegração

Social de Presos e egressos

Editora PAULUS distribui mais de 1.000 kit´s nas Penitenciárias do Estado

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Participe do canto

cantoda l i b e r d a d eeditorial

Olá a todos os leitores do Canto da Liberdade! Estamos de volta com mais uma edição. A sua carta sempre será bem-vinda, pois o Canto da Liberdade é o seu canal de comunicação! Participe!“Agradeço essa Fundação por despertar a esperança de uma vida melhor em cada ser humano que se encontra nas unidades prisionais; principalmente em mim!”

Fábio Fernando Pereira MacharethCentro de Ressocialização de Atibaia

“Pensei em ser cantor, poeta ou escritor,queria ser famoso, chamado de Doutor.Em meio ao caminho, ‘um trago’ carregou,como folhas ao vento, os meus pensamentos.Hoje não sou cantor nem me chamam de Doutor.Escrevo meus poemas de uma cela onde estou,pois estou liberto, foi Jesus quem me libertou”.

Luiz Eduardo de SouzaPenitenciária de Lucélia

Contrariando um pouco a rotina dos editoriais do Canto da Liberdade, nos quais, a cada edição, eu procuro dar

aos leitores e leitoras um panorama das matérias abordadas no informativo, nesta edição quero destacar um trabalho quase invisível, porém de absoluta relevância, que vem sendo organizado pela FUNAP. Trata-se da revisão e aprimoramento de nosso Programa Político Pedagógico, assunto da primeira notícia deste Canto.A FUNAP é responsável pelo maior programa de educação no sistema prisional do Brasil. Atendemos hoje cerca de 15 mil alunos e alunas, distribuídos em mais de 100 unidades prisionais. Temos uma proposta de educação diferenciada quando se compara com o modelo de educação oferecido em outros estados: o fato é que pensamos numa educação que não seja mera reprodução da educação escolar tradicional, mas que, inserida no contexto prisional, permita aos nossos alunos e alunas dar novos significados em suas vidas e repensar seu modo de participação cidadã. Assim, a educação busca um propósito libertador e solidário, devendo contribuir para a melhoria do quadro social. Essa opção, no entanto, não está isenta de críticas e aqueles que o fazem incorrem, geralmente, em preconceitos quanto às possibilidades transformadoras da educação. Para superar essas

“Dentre tantos acontecimentos ruins que temos vivido dentro do sistema, mesmo dentro de um saldo negativo de convivência diária, é um enorme prazer ter a certeza de que a credibilidade em muitos de nós ainda não foi totalmente perdida. Obrigada, Canto da Liberdade!”

Julia Roberta FaquimPenitenciária Feminina de Sant´Anna

“Já que nossos dias são incertos nesse lugare não saberemos se o amanhã chegará,o que nos resta fazer a não ser reaprender a sonhar?Muitas vezes neste caminho as pedras irão nos machucarmas jamais desistiremos pois vale à pena sonhar!”

Valterlândia Adriana LisboaPenitenciária Feminina de Campinas

Escreva-nos sempre! Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” – FUNAP A/C COMUNICAÇÃOR. Dr. Vila Nova, 268 - Vila Buarque - São Paulo / SP / CEP: 01222-020

críticas, a FUNAP vem buscando parcerias em universidades – casos da UFSCar e UNESP, por exemplo – e Fóruns Temáticos, promovendo o intercâmbio de idéias e possibilidades como estratégias para a consolidação deste ideal de educação. E os resultados destes esforços se comprovam tanto pelas aprovações de nossos alunos e alunas nos exames de certificação (CESU, ENCCEJA, ENEM), quanto pelo destaque nacional e internacional que a FUNAP tem obtido, tal como nos casos de nossa participação no FISC - Fórum Internacional da Sociedade Civil e CONFINTEA - Conferência Internacional de Educação de Adultos. Investir em educação é sempre um desafio de longo prazo, mas como disse o sociólogo Bernardo Toro, “tem de ser sonho para não ser pequeno, tem de ser possível para não ser frustrante”. Temos certeza de que nosso sonho é possível.

A vida é um desafio constante e vale a pena aceitá-lo, aproveitando o presente como um presente que da vida recebemos!

Boa leitura!

Lúcia Maria Casali de Oliveira - Diretora Executiva

EXPEDIENTEFUNAP - Fundação “ Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” Presidente: Arthur Allegreti JollyDiretora Executiva: Lúcia Maria Casali de OliveiraChefe de Gabinete: Rosália Maria Andreucci Naves Andrade

Jornalista: Joyce Malet Kassim Vitorino (MTB 50973)Estagiária de Jornalismo: Verônica Gallo PetrelliDiagramação: João Carlos Marcondes da SilvaColaboradores: Regionais São Paulo/Vale; Grande São Paulo/Litoral; Campinas/Sorocaba; Presidente Prudente/Bauru; Ribeirão Preto; Araçatuba.

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extramuroscantoda l i b e r d a d e

Em pauta: Projeto Político Pedagógico

A Educação é uma das bases de atuação da FUNAP. Desde sua criação, em 1977, a

Fundação tem por premissa levar este que é um dos direitos da pessoa que cumpre pena privativa de liberdade. Para aprimorar este Programa e socializar o processo de elaboração do Projeto Político Pedagógico, a Diretoria de Formação, Capacitação e Valorização Humana (DIFHOR) organizou o Encontro Estadual de Formação de Educadores.Realizado no período de 07 a 09 de outubro, no Hotel Fonte Santa Tereza, em Valinhos, o Encontro teve por objetivo definir aspectos centrais sobre as concepções do programa de educação que orientarão o Projeto Pedagógico, bem como definir a estrutura de funcionamento da alfabetização.O encontro foi dividido em duas etapas: de Formação, que propiciou aos participantes momentos de reflexão e discussão sobre as concepções de educação; e Deliberação, na qual decisões coletivas foram tomadas envolvendo todos os agentes do programa de

Educação sobre os rumos do programa e as bases sobre as quais se estrutura.Com mesas de debate e discussão, educadores, monitores e agentes penitenciários buscaram

entendimento mais aprofundado sobre as concepções de Educação e suas implicações pedagógicas numa rotina diferenciada, como

a que ocorre dentro das unidades prisionais.No segundo dia, os participantes dividiram-se em grupos para que temas específicos fossem tratados. Os grupos promoveram um debate denso e muitas propostas foram levantadas, as quais foram encaminhadas à plenária para devidas deliberações.A redação do Projeto Pedagógico está em fase de finalização, sob a responsabilidade da Comissão formada pelos gerentes Maria da Conceição Santin Capello (Regional São Paulo e Vale), Sílvio Luis do Prado (Regional Ribeirão Preto), José Antônio Gonçalves Leme (Regional Grande SP e Litoral) e do supervisor Juraci Antônio de Oliveira.O segundo encontro está previsto para acontecer em Dezembro e terá por foco os currículos do Ensino Fundamental e Médio. À ocasião, será apresentada a redação parcial do Projeto para que, depois de aprofundadas e delineadas as questões finais, seja submetida à aprovação da Diretoria Executiva da FUNAP até o final deste ano.

Essa foi a 1ª participação da FUNAP em Congressos promovidos pela AMA e reflete a importância desse engajamento. Eventos como esse possibilitam contatos mais estreitos e diretos com os municípios, sensibilizando os governantes para a missão da FUNAP. “O público recebe muito bem nossos trabalhos e se surpreende com a qualidade dos produtos, de modo geral”, afirma Lúcia A. Silva, gerente de comercialização.Os contatos estabelecidos devem resultar em bons negócios, havendo demandas por parte dos municípios, já que todos compreendem o facilitador das compras com dispensa de licitação, como acontece com quem compra da FUNAP. Os produtos da DASPRE fizeram grande sucesso, principalmente junto ao público feminino. “Todos elogiaram a qualidade e criatividade do artesanato produzido pelas detentas”, relata Lúcia.

O 3º Congresso dos Municípios da AMA - Associação dos Municípios

da Araraquarense – foi realizado entre os dias 29 e 31 de outubro, no Ipê Park Hotel, em São José do Rio Preto. O Congresso teve como tema “Políticas Públicas para os Municípios” e contou com a participação de deputados, prefeitos, primeiras-damas e diversos vereadores. A Associação dos Municípios da Araraquarense conta com 128 cidades e todas elas enviaram seus representantes durante os 3 dias de evento. O objetivo principal do Congresso foi promover o debate de políticas públicas entre todos os municípios participantes. Na abertura oficial, o vice-governador do Estado, Alberto Goldman, ministrou a primeira palestra do congresso, que teve também a participação de técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE), abordando temas ligados aos setores

contábeis das prefeituras.Após cada dia de debate, técnicos do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (Cepam) sistematizaram os dados para a redação da Carta de Rio Preto, divulgada no último dia do evento, contendo as principais conclusões do encontro. O Congresso contou ainda com um atrativo especial. Foi reservado um espaço no Hotel para realização de uma feira onde mais de 20 instituições, empresas públicas e privadas puderam expor, em estandes, seus serviços e produtos direcionados aos municípios. Neste espaço, a FUNAP apresentou seus trabalhos desenvolvidos nas unidades prisionais do Estado. Com móveis administrativos e escolares, cadeiras, colchões antichamas e toda linha de artesanato da DASPRE, o estande era um dos mais movimentados do Congresso.

FUNAP marca presença no Congresso dos Municípios da AMA

Encontro estadual para discussão do Projeto Político Pedagógico

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Ser parte ativa no processo de ressocialização

Reflexões e trocas de experiências marcam1º Encontro do Poder Público e Reintegração Social

cantoda l i b e r d a d e

Muitas pessoas já ouviram falar do Programa de Alocação de Mão-

de-Obra. São empresários que desejam instalar suas oficinas nas unidades prisionais ou querem contratar detentos que, em regime semiaberto, possam sair para trabalhar. A proposta deste Programa é proporcionar trabalho remunerado para as pessoas em cumprimento de pena, contribuindo para sua formação, qualificação profissional e geração de renda, preparando-as para a vida em liberdade e, ao mesmo tempo, sensibilizando os empresários na contribuição para a redução dos índices de criminalidade e de reincidência. A contratação de trabalhadores presos por empresas e também por parte do setor público é regulamentada pela Resolução da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) 509/2006 que estabelece normas para a contratação de empresas que oferecem serviço aos sentenciados, abrangendo também outras providências. A FUNAP presta orientação técnica para o empresário-contratante por ocasião da elaboração do contrato, no processo de seleção e acompanhamento dos presos trabalhadores, supervisionando, inclusive, a utilização do equipamento de proteção individual (EPI). Os benefícios do trabalho são muitos como a geração de renda, a redução de pena, o tempo ocioso que acaba sendo preenchido e o principal: a oportunidade de aprender uma profissão e, quando em liberdade, poder exercê-la com dignidade. Por isso, a busca incessante por postos de trabalho para os presos, tanto em empresas públicas e privadas.

Além do programa de alocação de mão-de-obra, a FUNAP conta com outros meios de promover trabalho e capacitação para os presos. Atualmente, são 21 oficinas próprias que produzem móveis administrativos e escolares, reforma do mobiliário escolar, cadeiras de escritório, confecção e a mais recente fábrica inaugurada na Penitenciária de Assis, onde mais de 20 reeducandos trabalham na confecção de laminado

de espuma antichamas. Nas oficinas são oferecidos postos de aprendiz, meio-oficial e oficial, onde todos são capacitados profissionalmente e aprendem a fabricar produtos que, posteriormente, são comercializados para órgãos federais, estaduais e municipais, além de pessoas físicas e jurídicas. O Departamento Comercial é responsável por oferecer os produtos da FUNAP aos diversos órgãos públicos, escolas e empresas. O Metrô de São Paulo, por exemplo, é um dos maiores clientes da linha de móveis administrativos; os uniformes dos

reeducandos são vendidos à Secretaria da Administração Penitenciária e os colchões antichamas foram oferecidos às Santas Casas da Misericórdia e Hospitais de vários municípios. A parceria com diversos órgãos públicos por meio deste Programa reflete uma nova concepção da participação pública no processo de reinserção social. Prova desta interação foi a realização do 1º Encontro do Poder Público, promovido pela Prefeitura de Campinas.

Realizado entre os dias 28 e 29 de setembro, no Salão Vermelho do Paço Municipal de Campinas, este encontro teve o objetivo de apresentar a experiência da Prefeitura, por meio das secretarias municipais de Serviços Públicos e de Trabalho e Renda, na alocação de mão-de-obra de presos em regime semiaberto para trabalhos de manutenção da cidade, bem como discutir o papel do poder público na reinserção social dos sentenciados. “Nossos projetos existem porque nós ainda acreditamos no ser humano. A sociedade não tem que aceitar o crime, mas precisa aceitar o egresso recuperado”, afirmou a diretora executiva da FUNAP, Dra. Lúcia Casali.Ainda de acordo com a diretora, Campinas é pioneira dentro deste programa de alocação de mão-de-obra. “O município é um grande exemplo para outras cidades porque tem o maior convênio de contratação de reeducandos. Isso é bom para a Prefeitura porque a Administração

Presos do CPP Ataliba Nogueira e da Penit. I de Hortolândia recebem cursos promovidos pela Prefeitura de Campinas

O PAPEL DO PODER PÚBLICONA REINSERÇÃO SOCIAL

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Mas, quando o posto de trabalho é oferecido pelo Estado, por meio das Prefeituras ou outros órgãos públicos, algo diferente acontece. Além dos trabalhadores, beneficiários diretos, suas famílias e toda a sociedade sentem, de perto, que o Estado, que somos todos nós, fez a diferença”.Em Campinas, o programa é utilizado atualmente em ações da Secretaria Municipal de Saúde, de Administração, de Transportes e de Serviços Públicos, por meio do Departamento de Parques e Jardins das macrorregiões e suas Administrações Regionais. O Encontro serviu ainda para lançar o Programa Municipal de Reintegração Social de Presos e Egressos Prisionais de Campinas, uma parceria entre a Prefeitura, a FUNAP, Coordenadoria de Reintegração Social da SAP e outros apoiadores locais. O Programa significa um avanço em relação à alocação de mão-de-obra, pois permitirá que todos os trabalhadores presos do convênio participem, durante a jornada de trabalho, de ações de qualificação profissional e desenvolvimento sociocultural.“Dos 500 trabalhadores, 100 estarão diariamente em sistema de rodízio, participando de atividades de formação e desenvolvimento humano e social, sem prejuízo de ganhos financeiros, uma vez que tais atividades serão inseridas na jornada de trabalho”, destaca o gerente da FUNAP Campinas/Sorocaba, Felipe Athayde Lins de Melo.Trata-se de um importante passo na construção de políticas de atendimento à população prisional, uma vez que o programa passa a contar, em nível municipal, com recursos específicos para a reintegração desta população. “Este tipo de política pública é prevista na Política Nacional de Assistência Social, dentro das medidas de média

e alta complexidade. No entanto, é preciso vontade política e coragem para implantar medidas que não são bem vistas no contexto geral do jogo político”, destaca o gerente.A preocupação com a reinserção dos reeducandos e egressos, principalmente da mulher, foi destaque nos debates vespertinos do encontro. Técnicos ligados ao sistema penitenciário e a órgãos públicos ressaltaram a importância dos convênios, em particular das Prefeituras, para a utilização dos sentenciados em atividades da municipalidade. Na oportunidade, representantes dos municípios de Mirandópolis, Sorocaba, Iperó e Itirapina apresentaram as experiências com reeducandos e egressos. Em Campinas, a exemplo do que ocorre na maioria das cidades, são desenvolvidas atividades de manutenção como limpeza de praças, canteiros de avenidas e trechos de córregos, entre outras atividades.

A assinatura de convênio firmado entre a Prefeitura de Campinas e FUNAP foi realizada no segundo dia do encontro para encerramento das atividades. O vice-prefeito de Campinas, Demétrio Vilagra, e a chefe de gabinete da FUNAP, Dra. Rosália Andreucci Naves Andrade, assinaram o termo que eleva para 500 o número de trabalhadores presos atuando diretamente para o setor público. “Jamais assinei um convênio com a grandeza deste e fico honrada em ver uma Prefeitura preocupada com a qualificação desta população específica”, afirmou Dra. Rosália.Podem não ser medidas simpáticas à sociedade, porém, são medidas necessárias. “Tem que haver uma rede grande e forte de colaboradores”, finalizou o vice-prefeito.

cantoda l i b e r d a d e

usa melhor o dinheiro público, é bom para o contribuinte e significa, ainda, geração de renda para cerca de 500 pessoas que estão cumprindo pena”.Já o secretário de Serviços Públicos, Flávio de Senço, ressaltou os importantes resultados com o

convênio entre a Prefeitura e a FUNAP. “Atividades como o combate à dengue, em 2006 e 2007, e a manutenção, capinação e limpeza das grandes avenidas da cidade são bons exemplos de como tem funcionado o trabalho com esse tipo de mão de obra”, afirmou. À ocasião, revelou a pretensão da Prefeitura em ampliar o programa que, atualmente, integra 500 sentenciados. “Para 2010, o prefeito Hélio de Oliveira Santos pretende elevar o número de presos trabalhando para 700. Neste evento, onde podemos trocar experiências, com certeza vamos aprimorar os projetos”, completou.A gerente de comercialização da FUNAP, Maria Solange Rosalem Senese, destaca um lado mais subjetivo da participação de órgãos públicos neste processo de ressocialização. “Quando o setor privado oferece postos de trabalho para presos, grandes oportunidades podem surgir para este trabalhador que concilia a liberdade e emancipação que o trabalho oferece.

Todos com a mão na massa para a reforma do Palácio da Mogiana, em Campinas

é possível e não custa caro aos cofres públicos

AMPLIAÇÃO DO CONVÊNIO

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intramuroscantoda l i b e r d a d e

Instituto EcoFuturo e FUNAP inauguramBiblioteca “Ler é Preciso” na Penitenciária II de Bauru

O projeto Biblioteca Comunitária “Ler é Preciso” foi idealizado pelo

Instituto EcoFuturo com o objetivo de contribuir com a formação intelectual e com o desenvolvimento pessoal do detento, sempre tendo em mente que a leitura proporciona uma perspectiva de ampliação de horizontes intelectuais, sociais e profissionais. Iniciado em 2001, o projeto foi concretizado graças à parceria com a FUNAP e a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) que, à época, indicou a Penitenciária “Dr. Eduardo de Oliveira Vianna” de Bauru. A inauguração da Biblioteca Comunitária “Ler é Preciso” foi realizada no dia 11 de setembro, em espaço preparado para receber o rico acervo de cerca de 4 mil exemplares. O novo espaço, que vai beneficiar reeducandos e funcionários da unidade, conta com obras novas e diversificadas, todas elas devidamente

catalogadas em computador. O reeducando Samuel Bueno do Prado é monitor da FUNAP e será o responsável pela organização e manutenção da Sala

de Leitura. Ele diz que, além do trabalho técnico, tem por tarefa diária disseminar o hábito da leitura entre os demais

reeducandos e funcionários da unidade. Mesmo sentimento foi expresso pelo reeducando Márcio Kenji Nakayama, que falou em nome de todos os monitores da FUNAP. “Nossas expectativas também estão na realização de cursos como o de Auxiliar de Bibliotecário, como o realizado no mês de maio, o qual foi de grande valia e significância para cada um de nós monitores que obtivemos a oportunidade de participar, conhecer, praticar e, principalmente, adquirir importante aptidão na área profissional”, finalizou. Os horizontes da iniciativa educacional já se estendem para fora das grades e alambrados da penitenciária. “A educação pode me ajudar no futuro. É uma nova chance para uma nova vida!”, afirma animado o reeducando Antônio Carlos Urso. Como bem afirmou o pensador Voltaire: “A leitura engrandece a alma”. Esta parceria entre EcoFuturo, FUNAP e unidade representa muito bem esta afirmação.

busca, por meio da arte, mostrar o seu talento. Também se torna uma maneira de ocupar o tempo, a mente e o corpo, saindo um pouco da rotina da cadeia”, afirma. O reeducando e participante do concurso Samuel Lopes de Siqueira também exalta os pontos positivos do projeto: “Isso nos mostra que nunca é tarde para recomeçar. Somos capazes de alertar e, com certeza, incentivar as pessoas a estarem ocupando as suas mentes com algo bom”.Mais do que conscientizar e promover ressocialização, a iniciativa faz com que muitos dons artísticos que estão timidamente escondidos por detrás dos muros da penitenciária sejam revelados. Como afirma o participante Fábio dos Santos: “É preciso ter projetos constantes nas unidades, para despertar os talentos que podem estar perdidos”. O resgate da aura artística, atrelado a mensagens de prevenção e conscientização, pode propiciar um futuro melhor e mais colorido para os reeducandos de Irapuru.

Socialização, educação e conscientização. Foram esses alguns dos principais objetivos

do Concurso “Prevenir é o melhor remédio”, realizado no Centro de Reintegração e Educação da Penitenciária de Irapuru, dos dias 31 de agosto a 04 de setembro, em parceria com a Pastoral Carcerária. Nesse projeto, os reeducandos da unidade tiveram a missão de elaborar cartazes explicativos e preventivos acerca da Gripe Influenza A (H1N1). Aqueles que se sobressaíram com cartazes diferentes e criativos ganharam prêmios ao final do concurso, como bombons e doce de leite.Os cartazes ficaram expostos na unidade dos dias 10 a 11 de setembro e, neste período, houve votação em urna para os funcionários da unidade decidirem qual trabalho passou de maneira mais eficaz a mensagem de prevenção. Após a eleição, seguindo os critérios de criatividade, objetividade, organização e clareza nas informações, os três primeiros

colocados receberam a premiação. Para o reeducando Júnior Cesar da Silva Albino, que ficou em segundo lugar no concurso, iniciativas

como essa são importantes para aqueles que se encontram privados de liberdade. “Esses projetos despertam o interesse de quem

Concurso “Prevenir é o melhor remédio” revela verdadeiros dotes artísticos na Penitenciária de Irapuru

Monitores e participantes da formação promovida peloEcoFuturo, na Penitenciária II de Bauru

Cartazes premiados pelo Concurso “Prevenir é o melhor remédio”

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cantoda l i b e r d a d e

Estar em uma penitenciária requer dos sentenciados uma capacidade ímpar de

superar obstáculos e de vencer dificuldades. E, com certeza, é isso que o reeducando Carlos César Pereira tem buscado ao longo de sua permanência na Penitenciária I de Serra Azul. Ele tem uma particularidade que o torna diferente dos demais detentos: é cego (perdeu a visão em 2005, na cadeia pública de Franca, depois de um tombo que lhe comprometeu a vista).Contudo, isso não foi motivo para Carlos desistir de seu sonho de estudar. Mesmo diante de sua deficiência, em conversa com funcionário do setor educacional da unidade, ele demonstrou muito interesse em assistir às aulas como ouvinte. Diante de sua vontade para aprender, a Diretora de Trabalho e Educação da Penitenciária, Eliana Locher, fez contato com a Associação de Cegos de Ribeirão Preto. Assim, o professor Valdir Souza, cego há 25 anos, se prontificou a ensinar voluntariamente o método Braille ao reeducando para fins de

leitura e matemática. As aulas estão ocorrendo desde fevereiro deste ano. Desde o início do aprendizado, Carlos só tem recebido elogios. O professor afirma que o

reeducando tem muita determinação e vontade de aprender, obtendo desempenho acima da média. A diretora Eliana também falou

muito bem do comportamento de Carlos. “O entusiasmo do sentenciado foi contagiante. Nas primeiras horas ele já era capaz de identificar o alfabeto e treinava a sensibilidade do tato, surpreendendo até mesmo o professor. Esse, com certeza, será um importante instrumento para a sua reinserção social”, afirma.Já Carlos declara sua empolgação, alegando que se preocupa muito com seu futuro profissional e que essa é uma oportunidade muito importante para sua independência. “Eu, decididamente, voltei a enxergar!”, conta o reeducando, animado. A unidade prisional de Serra Azul pretende tornar permanente a ação de ensinar Braille a sentenciados que possuam deficiência visual e não conheçam a técnica. É a idealização do Projeto “Leitura na ponta dos dedos”, o qual está sendo avaliado para vigorar em breve. Deste modo, os sentenciados sentem a clara manifestação de respeito ao ser humano, bem como a importância da educação e do exercício da cidadania para aqueles que não veem com os olhos, e sim com a alma.

“Voltando a enxergar” na PI de Serra Azul

culturaliterário promovido pelos organizadores do projeto com colaboração da escola da unidade prisional. Foram premiadas as 3 melhores produções, divididas pelas categorias de Ensino Fundamental e Médio. As alunas de Alfabetização optaram por outras manifestações artísticas, como peça teatral e um coral. A vencedora na categoria Fundamental, Elisangela Candido Nascimento, redigiu uma poesia cujo tema foi a solidão. Com a poesia “Humano Imperfeito”, Catia Cristiny levou o troféu entre as participantes do Ensino Médio. A editora PAULUS forneceu 1.000 kits à unidade e mais 300 kits a todas as outras onde há trabalhos com educação e salas de leitura. O projeto possibilita a expansão do universo cultural do indivíduo preso e, mais que isso, representa um novo ciclo de conhecimentos adquiridos com o hábito da leitura capaz de formar cidadãos atuantes em sua realidade. O livro traz liberdade para a alma daquele que se entrega às asas da imaginação.

Uma tarde quente de primavera acolheu os visitantes responsáveis por alegrar

o Pavilhão 3 da Penitenciária Feminina de Sant´Anna. O Projeto “Leitura para Cidadania - Modalidade Livro Vivo” é fruto de uma parceria firmada entre Editora PAULUS, FUNAP e unidade prisional. Em 5 de novembro, representantes do Projeto proporcionaram momentos de descontração em um evento cultural regado à música, teatro e livros. Muitos livros.Com o propósito de incentivar a leitura e contribuir para a promoção social por meio da oferta de livros de qualidade, a Editora PAULUS já está na 4ª edição do Projeto, atingindo 29 regiões em 19 Estados. Agora, presente também na Penitenciária Feminina de Sant´Anna. Iniciado em 2006, o projeto atinge milhares de crianças e adolescentes oriundos de escolas públicas por meio da distribuição gratuita de livros paradidáticos e da Literatura Brasileira.

Com esta atuação inédita no Sistema Prisional Paulista, a parceria tem por objetivo oferecer mais conhecimento à população carcerária e formação aos responsáveis pelo trabalho educacional dentro das unidades.A Oficina de Formação de Professores capacita os educadores que se tornam multiplicadores do projeto, além de atuarem como incentivadores de leitura. O educador André Luiz de Souza Rastini, da FUNAP, e o estagiário Rommel dos Santos Andrade Werneck foram certificados pela participação na oficina “A leitura como fator essencial para a cidadania”, ministrada por Kátia Karam Gonzalez, em maio deste ano.Coordenadora do Projeto, Elisandra Oliveira falou da importância da participação de cada uma das reeducandas no êxito do Livro Vivo. “A leitura e o conhecimento são o passaporte para uma vida melhor”.Em seguida, houve o momento de maior expectativa para as participantes do concurso

Novos ares de conhecimento são espalhados pelas Unidades Prisionais de São Paulo

oportunidade

Vivenciar o exercício da cidadania eaprender a ver o mundo por meio do tato

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cantoda l i b e r d a d eentrevista

Medicina por trás das Muralhas

CL - Médico respeitado, autor reconhecido e premiado... O que o motiva a vir todas as semanas a um dos lugares mais desprezados pela sociedade? DV - Eu comecei a freqüentar a Casa de Detenção em maio 1989. Fiquei por lá até outubro de 2002, quando foi implodida. Aí vim para cá quando ainda era cadeia masculina e fiquei por três anos. Depois, fui atender no CDP do Ipiranga, mas por pouco tempo. E aí parei. Fiquei meio ano sem ir a cadeia nenhuma e comecei a ficar muito triste, infeliz mesmo. Aí, quando aqui virou feminino e teve também uma mudança na Secretaria, aqueles que me conheciam há mais tempo falaram: “Puxa, Dráuzio, você não quer ajudar a gente?” E eu falei: “Olha, me arranja uma cadeia, veja qual está precisando mais e eu vou...”. Vim para Sant´Anna em outubro de 2006. Eu digo que quando você faz um trabalho desse tipo, todo mundo acha que você tem uma motivação ou de ordem religiosa, muitas vezes política, ou simplesmente para se sentir útil. Mas eu nunca pensei em nada disso. Eu tenho uma atração pelo ambiente de cadeia e foi isso que me levou à Detenção. Se eu dei alguma coisa de bom para a cadeia, a cadeia me trouxe muito, muito mais, sempre mais. CL - Como o quê?DV - Me deu uma noção mais completa da vida. Hoje, tenho uma visão da realidade nacional que eu não teria tido se não tivesse essa experiência desses anos todos na cadeia. Porque a relação do médico na cadeia é completamente diferente da relação dos funcionários. Eu passei pelas coisas que eles passam, mas eles tem um universo no

qual eu não penetro e eles, por sua vez, não conseguem penetrar no meu. Aqui é onde as pessoas contam a vida, falam coisas que não tem coragem de falar para ninguém. E isso me preenche muito. Se não fosse isso, minha vida o que seria? Sair da minha casa, do meu conforto, ir para um dos melhores hospitais de São Paulo, depois voltar para a minha clínica... E minha vida ia ser isso, como a da maioria. Então, para mim, o que faz diferença mesmo é esse ambiente.CL - Ao longo desses anos, o que mais o comoveu?DV - Olha, é difícil saber... São tantos momentos fortes que você vive dentro da cadeia... Às vezes, o que mais me impressiona não é nem o acontecimento, mas um olhar, o jeito que a pessoa me olha e transmite uma imagem, um sentimento mais forte que a realidade brutal. Não é a violência o que mais me choca, mas sim o sofrimento humano. Quem não está aqui dentro não faz idéia de como é isso. CL - E em relação à saúde dentro do Sistema Prisional?DV - Olha, eu acho que equacionar o problema da saúde nos presídios é muito complicado, porque a vocação do presídio é outra. Um hospital funciona para quê? Para dar atendimento médico às pessoas. Já o presídio tem outra vocação, que é prender, cuidar das pessoas presas, da segurança, impedir que elas fujam e manter a ordem. Então, juntar essas duas coisas é complicado... E o problema não é só aqui, é no mundo inteiro. Ninguém sabe direito como organizar a saúde nos presídios. É complicado, é complexo. Porque você precisa da escolta para levar a pessoa ao hospital, e nem sempre tem escolta. Já não é o diretor do presídio que é o responsável por isto e sim a PM. Acredito que o ideal seria o caminho das parcerias, com a Santa Casa ou Faculdades de Medicina. Essas instituições de fora poderiam organizar este atendimento de um serviço médico paralelo. Este é um caminho novo que pode funcionar. CL - O senhor se completa como médico aqui?DV - Muito, muito. Eu faço medicina moderna, não é? Trabalho em um hospital que é um dos melhores de São Paulo,

Médico respeitado e autor do premiado “Estação Carandiru”. Voluntário

há quase 20 anos no sistema prisional, Dr. Dráuzio Varella faz da pequena sala abafada onde atende as detentas da Penitenciária Feminina de Sant´Anna uma extensão de sua paixão pela Medicina. Com relatos e olhares comoventes, afirma que se realiza completamente como profissional por meio da prática de uma Medicina à moda antiga. Conheça um pouco deste profissional apaixonado pela medicina realizada por trás das grades.

“Praticar Medicina à moda antiga na cadeia me preenche muito. O que faz a diferença mesmo é esse ambiente”

SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA

faço Cancerologia, freqüento congressos internacionais... Mas aí fora, eu sinto que não faço diferença. Eu posso fazer diferença para aquela pessoa que estou atendendo, obviamente. Mas eu não faço diferença, porque se eu não atender, outro atende. Aqui não. Além disso, a medicina que se faz lá fora é uma medicina com laboratórios, com facilidades tecnológicas. Na cadeia, você tem que fazer a medicina à moda antiga. Você pede os exames e não tem idéia de quando vão chegar e se vão chegar. Você erra muito por fazer desse jeito, mas aí você tem que ver aquele erro outra vez e aprender na seqüência, vendo e revendo, aí se encontra o caminho. Você acaba corrigindo erros que cometeu na análise anterior, alguma coisa que não foi percebida da outra vez...CL - Tem planos de lançar outros livros?DV - Escrevi o Estação Carandiru em 1999 e depois nunca mais escrevi sobre cadeia. Agora tenho idéia de fazer um livro sobre a cadeia vista do lado dos funcionários. O Estação Carandiru foi contado com a visão do médico de dentro da cadeia. Seria a cadeia contada do lado dos funcionários, histórias deles. Eu tenho vontade de fazer isso. Não quero fazer denúncias, apenas continuar contando histórias desta realidade.