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Reciclagem e Educação Ambiental são temas de palestra na PFC Atriz Sophia Bisilliat fala sobre o documentário “Entre a Luz e a Sombra” Realizada edição da Feira Cultural na Penitenciária Guarulhos I CANTO LIBERDADE Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo março de 2010 / 11ª edição da Lançado pelo Governo de SP, o Pró-Egresso vai permitir inscrição de egressos e adolescentes que cumprem medida sócio-educativa no mercado de trabalho Adaptação da obra “Auto da Barca do Inferno” é apresentada em Sorocaba Programa Pró-Egresso créditos: SERT

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da Reciclagem e Educação Ambiental são temas de palestra na PFC Realizada 3ª edição da Feira Cultural na Penitenciária Guarulhos I Adaptação da obra “Auto da Barca do Inferno” é apresentada em Sorocaba Atriz Sophia Bisilliat fala sobre o documentário “Entre a Luz e a Sombra” março de 2010 / 11ª edição créditos: SERT Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo

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Reciclagem e Educação Ambiental são temas de palestra na PFC

Atriz Sophia Bisilliat fala sobre o documentário “Entre a Luz e a Sombra”

Realizada 3ª edição da Feira Cultural na Penitenciária Guarulhos I

cantoliberdade

Publicação Funap - Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - distribuição no sistema penitenciário de São Paulo

março de 2010 / 11ª edição

da

lançado pelo Governo de SP, o Pró-egresso vai permitir inscrição de egressos e adolescentes que cumprem

medida sócio-educativa no mercado de trabalho

Adaptação da obra “Auto da Barca do Inferno” é apresentada em Sorocaba

Programa Pró-egresso

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Participe do canto

cantoda l i b e r d a d eeditorial

Olá a todos os leitores do Canto da Liberdade! Estamos de volta com mais uma edição e sua carta será sempre bem-vinda. Participe!“Quando faço ‘minhas artes’, minha maior intenção é diminuir a ‘escuridão’ que existe aqui dentro, neste lugar tão ‘negro’. Quando vejo rostos sorrindo, enxergo luzes nos sorrisos e o som das risadas são músicas que animam um pouco o meu ser.”Joel da Silva Gonçalves - Penitenciária de Sorocaba II

“É tão fácil deixar de sonhar... Porque ir atrás do que acreditamos requer atitude. É tão fácil só criticar... Porque melhorar requer aprendizado. É tão fácil cultivar o medo... Porque enfrentar o desconhecido requer coragem. É tão fácil desistir... Porque ir adiante requer luta. É tão fácil largar... Porque insistir requer perseverança. É tão fácil acusar... Porque ouvir requer compaixão. É tão fácil deixar de acreditar... Porque crer requer fé! É tão fácil morrer... Porque viver requer vida!”Djalma Tadeu Ribeiro Penitenciária de Avaré II

Há um belo e conhecidíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade, “Cortar o Tempo”, que

exalta o idealizador deste acontecimento. De início já explica “quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão”. É verdade. Ao longo dos doze meses, qualquer ser humano pode chegar a este limite e, se titubear, pode até entregar os pontos diante das inúmeras adversidades.Mas, o novo ano sempre chega e com ele o espírito de renovação e o bálsamo da esperança. Assim também com relação ao trabalho desenvolvido pela FUNAP.Mesmo com os diversos obstáculos – que não são poucos – como a questão orçamentária, redução do quadro de funcionários, crescimento da população carcerária e a construção de novas unidades prisionais, a missão desta Fundação instituída há mais de três décadas não pode ser desvirtuada.Por isso, apresentamos em destaque nesta primeira edição de 2010 do “Canto da Liberdade” o Programa Pró-Egresso. Lançado em dezembro de 2009 pelo Estado de São Paulo, encerrou o ano como combustível para novas e positivas perspectivas para um dos maiores

“Não tenho um caminho novo; o que tenho de novo é o jeito de caminhar”.Rosemar Braz Martins – Penitenciária de Serra Azul I

“Sem educação, o criminoso só conhece e respeita uma razão: a violência”. Maria de Fátima de Jesus - Penitenciária Feminina de Sant´Anna

“O doente necessita de remédio, não de alguém que lhe agrave as feridas. Quem está prestes a cair num precipício precisa de alguém que lhe estenda a mão, não de alguém para empurrá-lo definitivamente. O criminoso não deixa de ser um doente social, alguém que precisa ser cuidado”.Lucas Romão da Silva - Penitenciária de Valparaíso

“Somente vivendo aqui nesse lugar a gente pode compreender o ser humano”. Gilson Barbosa Buriti – Penitenciária de Álvaro de Carvalho

Escreva-nos sempre! Fundação “Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” - FUNAP A/C COMUNICAÇÃOR. Dr. Vila Nova, 268 - Vila Buarque - São Paulo / SP / CEP: 01222-020

obstáculos enfrentados pelos egressos: a recolocação no mercado de trabalho. Outros temas são abordados nesta edição e prevalecem os relacionados à cultura. Não à toa. Acreditamos que através do estímulo à leitura, das mais variadas atividades culturais, como as apresentações teatrais na Penitenciária de Sorocaba II e na Penitenciária de Guarulhos, pode-se constatar que é possível a transformação de quem realmente almeja mudanças.Finalizamos com uma história de superação de alguém que já passou pelo Sistema Prisional e conseguiu, por meio da Educação e do Trabalho, total recuperação. É o caso do Prof. Edris Queiroz que hoje contrata reeducandos que cumpriram pena ao seu lado.Como já dizia o filósofo grego Epicuro “o impossível reside nas mãos inertes daqueles que não tentam”.

Continuaremos tentando em 2010!

Boa leitura!

Lúcia Casali de Oliveira - Diretora Executiva

EXPEDIENTEFUNAP - Fundação “ Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel” Presidente: Arthur Allegreti JollyDiretora Executiva: Lúcia Maria Casali de OliveiraChefe de Gabinete: Rosália Maria Andreucci Naves Andrade

Jornalista: Joyce Malet Kassim Vitorino (MTB 50973)Estagiária de Jornalismo: Verônica Gallo PetrelliDiagramação: João Carlos Marcondes da SilvaColaboradores: Regionais São Paulo/Vale; Grande São Paulo/Litoral; Campinas/Sorocaba; Presidente Prudente; Bauru; Ribeirão Preto; Araçatuba.

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extramuroscantoda l i b e r d a d e

DASPRE comemora 1º aniversário com Bazar de Natal

Lançada em 08 de dezembro de 2008 pela FUNAP, a DASPRE - grife de

artesanato confeccionado pelas presas de São Paulo - chega ao 1º aniversário com muitos motivos para comemorar.E a festa de comemoração ocorreu em dezembro de 2009, com coquetel que reuniu servidores, amigos e contou ainda com a presença do Secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, acompanhado pelo Secretário Adjunto, Cláudio Tucci Junior. Mesmo com o temporal que castigou a cidade de São Paulo, a Loja “Do Lado de Lá” registrou um público considerável e as vendas foram positivas. O catálogo de produtos da DASPRE está cada dia mais diversificado e não para de crescer. São mais de 100 itens entre acessórios de decoração, utilidades domésticas e mimos que agradam todos os gostos e idades, como os cachorrinhos que viram travesseiros, sucesso de vendas desde o lançamento, com mais de 1.000 itens vendidos.Todos os produtos da DASPRE são vendidos na loja “Do Lado de Lá”, onde também podem ser encontrados artigos

produzidos por reeducandos de todo o sistema prisional paulista. A DASPRE, no entanto, é a grande atração da Loja que já faturou mais de R$ 100.000,00, um patamar jamais alcançado pela Fundação com artigos artesanais.

Idealizada para proporcionar oportunidade de trabalho e geração de renda às presas do Estado de São Paulo, a DASPRE já assistiu mais de 300 detentas e a reincidência tem sido zero. Atualmente, são quatro oficinas de artesanato: na Penitenciária Feminina da Capital, duas oficinas na Penitenciária Feminina de Sant´Anna e uma na própria sede da FUNAP, onde presas em regime semiaberto, da Penitenciária Feminina do Butantã, trabalham como costureiras e artesãs.Das participantes, 3 já conquistaram a liberdade mas continuam o trabalho com a DASPRE, agora na condição de autônomas contratadas pela FUNAP, tornando-se multiplicadoras do Projeto.Atualmente, cerca de 70 mulheres estão participando das oficinas, onde aprendem não só um ofício para exercerem uma profissão além das grades, mas também regras de convivência e de conduta. Além de terem o reconhecimento de seu trabalho, todas recebem bolsa no valor de ¾ do salário mínimo vigente, mais vales transporte e refeição (para presas em regime semiaberto) além do direito

ao benefício da remição de pena (a cada três dias de trabalho é reduzido um dia no tempo da condenação).Todas receberam a certificação da SUTACO (Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades), que faz com que as reeducandas sejam reconhecidas como profissionais de artesanato quando saírem da penitenciária, podendo reconstruir suas vidas por conta própria.Como resultado deste trabalho sério desenvolvido pela DASPRE, o projeto foi recentemente certificado pelo Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia, premiação que tem por finalidade reconhecer “produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”.A venda destes produtos socialmente corretos é a garantia da expansão do projeto e da oportunidade de um futuro melhor para aquelas que estão aguardando a tão sonhada liberdade. A proposta da FUNAP é levar este projeto às demais unidades femininas ainda em 2010.

Mesmo com a forte chuva que atingiu a cidade de São Paulo, a Loja “Do Lado de Lá” recebeu a visita de muitos convidados

Algumas caixas decorativas de Natal confeccionadas pelas presas

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Programa lançado pelo Governo do Estado de São Paulopara empregar egressos

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Reconquistar a liberdade é, certamente, o principal objetivo de quem está

cumprindo pena ou aguardando pela sentença. Talvez, apenas o medo e a incerteza de como será o recomeço do outro lado das muralhas sejam maiores que este anseio. A liberdade traz consigo o peso da responsabilidade. E a liberdade pós-cárcere exige uma responsabilidade ainda maior.Em recente artigo publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o advogado e professor Miguel Reale Junior destacou que o condenado, ao ingressar no cárcere, passa por um “choque da prisonização” que, segundo ele, significa a perda da individualidade e da própria identidade. Na verdade, este processo é bem complexo e até mesmo paradoxal. Se de um lado representa a ruptura com a sociedade e muitos dos seus vínculos, por outro, representa uma forçada e necessária inclusão. Evidente que preparar o retorno do indivíduo que passou por esta prisonização é parte essencial no processo de reintegração social. Para isto, a FUNAP atua há mais de três décadas nas unidades prisionais paulistas, visando à educação, promoção cultural e profissionalização de milhares de reeducandos. Em contrapartida, a maneira como este reeducando for recepcionado pela sociedade será também determinante nos índices de reincidência criminal.Pensando neste tenso e intenso retorno, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou, em 2009, a campanha “Começar de Novo” que visa sensibilizar a população para a necessidade de recolocação, no mercado de trabalho e na sociedade, dos presos libertados após o cumprimento de penas.

Em São Paulo, o governo estadual lançou em 07 de dezembro de 2009 o programa de inserção de egressos do sistema penitenciário no mercado de trabalho: o Pró-Egresso e o Pró-Egresso Jovem, este voltado para adolescentes que cumprem medida sócio-educativa.

PRÓ-EGRESSO

O Pró-Egresso é uma parceria entre as secretarias estaduais do Emprego e Relações do Trabalho (SERT), da Administração Penitenciária (SAP) e da Justiça e da Defesa da Cidadania (SJDC). De acordo com o programa, os órgãos estaduais poderão agora exigir que 5% do número total de vagas das empresas vencedoras das licitações de obras e serviços seja destinado aos ex-detentos. Em cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes, o Sindicato

das Empresas de Asseio e Conservação no Estado de São Paulo (SEAC) já anunciou a abertura de 1.000 vagas para estes egressos. À ocasião, o governador José Serra afirmou que o programa parte de uma premissa fundamental que é a crença na possibilidade de recuperação das pessoas. Revelou ainda acreditar na possibilidade de recuperação de cada indivíduo que esteja cumprindo sua pena. “Esse é um bem que a gente faz para as pessoas e um bem para a sociedade, porque nós vamos diminuir a taxa de reincidência ao crime”, completou. O principal objetivo do Pró-Egresso é estimular a inclusão na sociedade e no mercado de trabalho de egressos das penitenciárias paulistas e da Fundação Casa, por meio de programas da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho, como o Emprega São Paulo (intermediação de mão-de-obra) e o

entenda o que é o Pró-egresso

Momento da assinatura do Decreto Nº55.126/09 que institui o Programa de Inserção de Egressos doSistema Penitenciário no Mercado de Trabalho - PRÓ-EGRESSO e dá providências correlatas

créditos: SAP

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créd

itos:

SAP

créditos: SAP

ou aberto; que foram beneficiados pela suspensão condicional da pena; que foram condenados a penas alternativas;- Anistiados, agraciados, indultados, perdoados judicialmente: aqueles cuja punibilidade foi declarada extinta;- Adolescentes que estejam cumprindo ou já cumpriram medida sócio-educativa na Fundação Casa.

COMO VAI FUNCIONAR

Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (SERT)

O papel da SERT no Pró-Egresso será captar vagas no mercado de trabalho paulista para inseri-las no Emprega São Paulo e fazer, nos Postos de Atendimento ao Trabalhador (PATs), a inscrição dos egressos. Esses cadastros também poderão ser feitos em unidades da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania. Os cadastros conterão histórico das aptidões e qualificações profissionais e pessoais dos egressos, além de informações sobre cursos e atividades que tenham desenvolvido. A SERT vai oferecer também aos egressos, em 2010, vagas em cursos gratuitos do Programa Estadual de Qualificação Profissional (PEQ).

Secretaria da Administração Penitenciária (SAP)

A SAP vai identificar, por meio dos atendimentos realizados nas unidades da Coordenadoria de Reintegração Social e Cidadania, os usuários que estão dentro do perfil estabelecido pelo Pró-Egresso e inscrevê-los no Emprega São Paulo ou encaminhá-los para PATs.A Secretaria também acompanhará o desempenho dos beneficiários do programa junto às empresas e vai disponibilizar espaços adequados para o desenvolvimento de cursos do PEQ e demais programas para recolocação dos ex-detentos.

Vagas destinadas aos egressos em contratos públicos

Os órgãos estaduais poderão exigir que a

empresa vencedora de licitações contrate um número mínimo de egressos para realizarem os trabalhos. Na obra ou serviço que necessitar de um contingente

mínimo de 20 trabalhadores, a exigência é que a empresa destine até 5% das vagas. Quando forem necessários entre seis e 20 trabalhadores, a contratada deverá destinar pelo menos uma vaga a um egresso. Para até cinco trabalhadores será facultativa a contratação de pessoas nessa situação.Os órgãos da administração pública que aderirem ao Pró-Egresso deverão encaminhar, além dos documentos exigidos na fase de habilitação, carta de compromisso afirmando sua disposição em contratar os beneficiários do Pró-Egresso.Os beneficiários do Pró-Egresso também poderão ser inseridos em outros programas da SERT: Programa Emergencial de Auxílio Desemprego - Frente de Trabalho (PEAD); Aprendiz Paulista; Jovem Cidadão; Time do Emprego; Programa de Apoio à Pessoa com Deficiência (PADEF); Banco do Povo Paulista (BPP); Programa Estadual de Desburocratização (PED); Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (SUTACO); e Comissão Estadual de Emprego.O cantar da liberdade, com esta iniciativa pioneira do Estado de São Paulo, poderá ser diferente. O Pró-Egresso propõe transformar obstáculos em novas e promissoras oportunidades.

cantoda l i b e r d a d e

Programa Estadual de Qualificação Profissional (PEQ).O secretário desta Pasta, Guilherme Afif Domingos, afirmou que facilitará a qualificação profissional e a reinserção dos egressos no mercado de trabalho. “Vamos trabalhar e demonstrar à sociedade e aos empresários em geral que o preconceito contra essas pessoas é injusto, pois o grau de recuperação é de 85 a 90% quando lhes é dada oportunidade”, ressaltou.Já o secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, falou sobre a preocupante evolução do número de presidiários do sistema penitenciário paulista e reforçou o papel da SAP e da FUNAP em projetos que têm por finalidade a reintegração social. Um exemplo inédito e bem sucedido

mencionado pelo secretário foi o Projeto Carpe Diem, no CDP de Sorocaba, que visa, na prática, separar o preso primário dos que são acusados de crimes mais graves.

BENEFICIADOS

- Egressos do sistema penitenciário: ex-detentos que saíram do sistema carcerário há no máximo um ano ou estejam em liberdade condicional;- Liberados definitivos lato sensu: cumpriram a pena e estão em liberdade há mais de um ano;- Em situação especial de cumprimento de pena: casos como os de detentos que cumprem pena em regime semiaberto

Secretário da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, ressaltou a relevância do Programa no processo de ressocialização

Governador José Serra falou sobre iniciativas bem sucedidas na contratação de presos e egressos por algumas Prefeituras

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créditos: SAP

intramuroscantoda l i b e r d a d e

Feira Cultural na Penitenciária de Guarulhos Itraz dicas de prevenção contra tabagismo e DSTs

A diretoria de educação da Penitenciária de Guarulhos I realizou em novembro

de 2009 a 3ª Feira Cultural e Ciências, que acontece anualmente e é organizada por funcionários e reeducandos. Nesta edição, o tema escolhido para o evento foi “Saúde, Tabagismo e DST”. Artesanato, poesias, contos, música, ciências da natureza, biologia e saúde foram algumas das modalidades abordadas nas apresentações.A feira foi realizada com a cooperação da Prefeitura de Guarulhos; Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Guarulhos (Coop Reciclável) e o Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente (IBIMM), que cedeu aos alunos da unidade prisional materiais para exposição e também os auxiliou na preparação das aulas.Com a capela lotada, reeducandos e convidados assistiram a uma peça teatral que tratava do vício do tabagismo. Os atores (todos reeducandos) não se intimidaram com a plateia e mostraram todo seu talento, com performances e atuações

dignas de profissionais das artes cênicas. Após a apresentação, todos receberam os parabéns do público.

Várias salas foram preparadas para as exposições, todas relacionadas ao tema da feira. Em uma delas, os visitantes tiveram acesso a frascos contendo embriões humanos, todos mortos devido a suas mães terem feito

uso de tabaco durante a gravidez. Outro projeto bem interessante foi apresentado pelo reeducando Marcelo da Conceição. Consistia num dispositivo que, por meio da cabeça de uma caveira, mostrava a quantidade de fumaça que permanece no pulmão humano após o fumo. O aparelho, confeccionado pelos próprios presos, demonstrou como o algodão - que representou o órgão pulmonar - fica amarelo após a ingestão da nicotina.Na sala cultural havia apresentações musicais interpretadas pelos reeducandos. Ao lado, um espaço chamava a atenção dos visitantes: era a Sala de Terapias Alternativas, onde foram aplicadas técnicas de auriculoterapia, acupuntura, reiki etc.O diretor da unidade, Antônio Samuel de Oliveira Filho, ressaltou a importância dessas iniciativas: “Esse evento faz tanto a população carcerária quanto as pessoas que vêm colaborar terem uma nova consciência sobre o sistema prisional. Assim, a sociedade recebe o egresso com outro olhar”, relata o diretor.

de aula, objetivando contemplar os conteúdos planejados com as turmas de Alfabetização e Ensino Fundamental. Estes trabalhos foram coordenados pelas alunas do Projeto de Olho no Futuro, que tem por objetivo proporcionar formação para sentenciadas com vocação para ensinar as demais colegas, além de representar uma nova possibilidade de trabalho quando em liberdade.A participação e o interesse demonstrados pelas alunas foi o ponto alto da atividade, principalmente quando lhes foram apresentadas peças artesanais produzidas a partir de embalagens plásticas. Atividades como as desenvolvidas na Penitenciária Feminina da Capital demonstram que é possível conciliar temas atuais à grade curricular, levando conhecimento e despertando a curiosidade das alunas. Teoria e prática unidas em prol do meio ambiente!

Nos dias 5 e 6 de novembro de 2009, o Sistema Penitenciário

Paulista deu mais um grande passo no aprimoramento da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Trata-se da realização da palestra e de atividades desenvolvidas em torno do tema: RECICLAGEM e EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ministrada pela voluntária da ONG “SOS Mata Atlântica”, Clélia Martins Rossi.A proposta foi elaborada em conjunto com a Diretoria de Educação da Penitenciária Feminina da Capital, a Organização Não Governamental e a Supervisão Regional da FUNAP. “A atividade foi muito produtiva e a palestra proporcionou às alunas, funcionários administrativos e agentes penitenciários a conscientização dessa problemática tão evidente em nossa realidade e por que não dizer no mundo todo”, afirmou o

supervisor da Regional Capital e Vale do Paraíba, José Roberto Costa. Num segundo momento da atividade,

foram formados subgrupos para incitar reflexões, discussões e a elaboração de cartazes que serão trabalhados posteriormente em salas

Reciclagem e Educação Ambiental inovam na tarefa de educar para a vida

A peça apresentada sobre os malefícios do tabagismo passou informação com muito talento e bom humor

Reeducandas atentas para elaboração de cartazes com mensagens sobre preservação ambiental

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cantoda l i b e r d a d e

Uma pessoa que realmente deu a volta por cima e, além de aproveitar as

ocasiões, soube oferecer oportunidades aos demais colegas privados de liberdade. Essa é uma das características marcantes de Edris Queiroz, professor, coordenador e um dos idealizadores do IBIMM (Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente), que é uma ONG sem fins lucrativos com visibilidade nacional e internacional, de interesse multidisciplinar.Edris cometeu delitos quando ainda era jovem. Depois de abandonar a vida do crime e começar a estudar para mudar seu caminho, uma denúncia anônima colocou-o atrás das grades por cinco anos. Mas nem por causa disso ele desanimou. “Graças aos estudos e à unidade prisional que possuía uma escola, vi minhas chances novamente aparecerem. Assim, descobri que eu tinha uma força interior muito grande e não ia deixar aquele lugar acabar com minha vida”, declara Edris.Então, o atual professor (que hoje possui

mestrado na área de Valores Humanos) começou a perceber que várias pessoas não tinham oportunidades ao saírem da penitenciária. “Muitos reeducandos voltavam para a cadeia, reincidiam no crime. Conversando com eles em sala de aula (eu era monitor de educação), muitos comentavam que não encontraram nenhum apoio da sociedade e o preconceito era muito grande. Pensei que podia fazer alguma coisa a respeito”, conta Edris. Foi quando surgiu a ideia de criar o IBIMM.Hoje, o instituto conta com três egressos e três reeducandos no rol de funcionários, e Edris pretende aumentar para dez o número de vagas para os sentenciados.Um dos trabalhadores presos, Lúcio César do Amaral, do regime semiaberto, reconhece a relevância do IBIMM em sua vida profissional. “A grande importância deste instituto neste momento tão importante da minha vida é o apoio, o incentivo e o emprego. Dificuldades todos vão enfrentar,

mas com apoio será muito mais fácil superar os obstáculos”. Lúcio foi colega de Edris na Penit. de Guarulhos I e hoje já tem uma vaga garantida no instituto, cuja sede é em Mairiporã. Para o reeducando Lúcio, a educação é fundamental na ressocialização do indivíduo.Perguntado sobre suas realizações no instituto de biologia, Edris comenta que todos no IBIMM trabalham sério; cada um tem seu papel e não existe preconceito. São jovens, universitários, professores, reeducandos e egressos trabalhando todos unidos e de forma harmoniosa. E ele ainda deixa uma mensagem para aqueles que estão em busca da liberdade sem estigmas: “Pensamos que todo mundo olha para nós e vê que está escrito em nosso rosto que somos ex-presidiários, mas não é bem assim. Existe preconceito, mas o maior preconceito é nosso mesmo, está dentro da gente. Quando assumimos que erramos, podemos dar a volta por cima e sermos vitoriosos”, conclui.

Superação para além das muralhas

culturaO monitor orientador da FUNAP, Giuliano Verga, acompanhou de perto todo o processo de preparação e montagem da peça. E gostou do resultado. “O espetáculo superou todas as expectativas, considerando que o lapso de tempo entre a concepção do projeto e a apresentação da peça foi menor que três meses”, revelou Verga.O fato que une os artistas é que, mesmo durante o cumprimento de suas penas, o talento e amor pela arte não se esvaeceram.A plateia teve momentos de reflexão, surpresas e boas risadas. Até um truque com fogo foi realizado durante a apresentação, com as devidas precauções de segurança. O desfecho não poderia ter sido mais surpreendente e a mensagem final causou um certo desconforto aos atentos ouvidos: “em breve estaremos tendo uma conversinha sobre as coisas que andam fazendo!”. Fecharam-se as cortinas.

A já tradicional apresentação de final de ano na Penitenciária de Sorocaba

II, mais uma vez, surpreendeu a todos os convidados. Não apenas pela reconhecida qualidade artística dos participantes, tampouco pela estrutura técnica, mas pela criativa adaptação realizada na obra “Auto da Barca do Inferno”, consagrado texto do poeta e dramaturgo português, Gil Vicente.Toda essa liberdade artística ficou por conta do monitor de projetos Joel da Silva Gonçalves, que por meio do Projeto Teatro “Magia do Riso” mantém vivos talentos que não podem ser enterrados. A FUNAP colaborou com a aquisição de figurinos, montagem do cenário e maquiagem. Parceiros locais contribuíram com equipamentos de som e iluminação, e a Universidade de Sorocaba (Uniso) ficou responsável pelo registro da apresentação.Joel confidencia que tamanha ousadia só foi

possível graças ao brilhantismo da equipe. De fato, reunir personagens tão singulares como o diabo e seu “fiel” companheiro, o

Banqueiro Dantas, o anjo e sua imutável expressão, o judeu, o louco e a dupla caricata do promotor e do juiz, não poderia resultar em tarefa fácil.

Adaptação da obra de Gil Vicente é apresentada na Penitenciária de Sorocaba II

oportunidade

Joel Gonçalves agradece o apoio de todos os colaboradores envolvidos na realização do evento cultural

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cantoda l i b e r d a d eentrevista

Por e pela Arte

CL - O que você achou do resultado fi nal do documentário? SB - Foi um trabalho de muita dedicação por parte da produtora Luciana Burlamaqui. As pessoas que entendem de cinema acham que foi muito bem editado, apesar de ser um pouco longo. Eu acho que mostrou, dos quatro personagens retratados, um encantamento e um desencantamento por parte de cada um, em relação ao sistema e em relação a um monte de outras coisas. Do meu trabalho foi mostrado apenas uma faceta, um breve período, a ponta de um iceberg.CL - Quando o sistema prisional despertou o seu interesse?SB - Eu tinha vinte anos e era atriz. Como à época ensaiava em Santana, passava por metrô na frente do Carandiru e falava comigo mesma: “meu Deus, eu quero conhecer aí dentro; quero de alguma maneira conhecer e fazer alguma coisa”. E foi aí que brotou a ideia. Na verdade, me identifi co muito com o Dr. Dráuzio Varella, com a questão da curiosidade. O trabalho começou só com o teatro, com uma equipe da própria FUNAP, e depois eu passei a trabalhar de forma mais autônoma. Tudo se iniciou em Taubaté, depois a gente veio para São Paulo e começou a atuar no Carandiru. A gente ia todos os dias para a unidade, fi cávamos das 9h às 19h, saíamos de lá à noite... E eu sempre fui muito apaixonada por aquilo. Lá comecei a ver os talentos, fi z até um desfi le dos travestis... CL - Foi aí que descobriu o trabalho

da dupla 509-E?SB - Certa vez pensei em fazer um Festival de Música. Então, fi z cartazes divulgando o evento, dizendo que quem tivesse qualquer tipo de música deveria se inscrever. Apareceu um monte de gente, acho que mais de duzentas duplas. Foi uma loucura! Tinha de tudo: sertanejo, forró, axé, rap, rock, samba... Foi aí que eu conheci a dupla e falei: “vocês são bons”. Foi o que mais me chamou a atenção naquele dia. Aí, os dois do 509-E (que na época não eram 509-E ainda) me procuraram para ver a possibilidade de levar um show do Racionais lá dentro. Infelizmente, não consegui ajudá-los. Mas, conheci o dono de uma gravadora e na hora eu pensei: “esta é a chance deles, é a hora!”. O dono da gravadora foi até o presídio e aí começou toda a história. De fato, aquilo tudo estourou! Foi uma loucura! CL - O Poder Judiciário colaborou bastante...SB - Muito! O trabalho cresceu demais e muito rápido. Infelizmente, teve uma entrevista que não deveria ter acontecido e aí nunca mais eles puderam sair. Mas aquela foi uma oportunidade de se mostrar um outro lado bem interessante da cadeia que poucos conheciam.CL - Qual a importância da arte num ambiente como uma unidade prisional? SB - Eu acho que a arte é mais um trabalho, mais uma ocupação, mais uma maneira de se expressar. Porque muita gente, mesmo fora das prisões, não se encaixa nos padrões e fi ca mesmo à margem. Quando eu comecei com o teatro, eu sabia que eles não iriam ser atores. Talvez, mas não era este o propósito. Era uma maneira de dirigir uma atenção exclusiva a eles. O maior problema, não só do sistema, mas também da periferia, é que eles não são vistos. São oprimidos, escondidos debaixo do tapete. Acho que este é o maior problema. E o fato de ter um grupo ou pessoas que vão até os presos e se preocupam com eles é uma coisa importantíssima. E a gente percebia que, quanto mais a gente ia, mais

Amor e dedicação à arte. Expressões corporais, teatro, música, shows,

festivais e desfi les. Na lembrança de muitos reeducandos do extinto Carandiru, talvez sejam esses os fragmentos de memória: uma pessoa que dedicou os melhores anos de sua vida do lado de lá da Casa de Detenção. Sempre por e pela arte. Conheça Sophia Bisilliat, personagem retratada em “Entre a Luz e a Sombra”, documentário considerado “um dos cinco melhores do ano” pelo renomado diretor Fernando Meirelles.

“Lá era possível ver a complexidade do ser humano. A arte desabrocha pessoas que todo mundo tem dentro de si”

SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA

eles tinham a necessidade de que a gente fosse. E aquilo ia desabrochando dentro deles, ia descortinando. Pessoas que eram muito rudes e que, por dentro, eram fl ores, mas também eram capazes de fazer absurdos, de matar não só um, mas vários. Lá era possível ver a complexidade do ser humano. A arte desabrocha pessoas que todo mundo tem dentro de si.CL - E você continua com trabalho voluntário no sistema?SB - Não. Eu parei quando o Carandiru acabou. Sinto que cumpri uma etapa e que foi bacana. Uma etapa que valeu e pronto, acabou.CL - E os trabalhos voluntários em comunidades, nas favelas?SB - Sim. Sempre me preocupei muito com as pessoas simples. Tanto os presos como as pessoas que vivem em favelas e em manicômios são indivíduos que me intrigam muito.CL - E o que é, para você, viver “entre a luz e a sombra”?SB - Eu acho que eu sempre consegui permear muito bem entre um lado e o outro. Sempre tive muita facilidade de ser a mesma pessoa em uma favela, em um morro, em uma quebrada e ser a mesma em uma festa super badalada.