Canto IV e V
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LusíadasAnálise Canto IV
Vasco da Gama prossegue a narrativa da História de Portugal. Conta agora a história da 2ª Dinastia, desde a revolução de 1385-85, até ao momento, do reinado de D. Manuel, em que a armada de Vasco da Gama parte para a Índia. Após a narrativa da revolução que incide na figura de Nuno Alvares Pereira e na Batalha de Aljubarrota, seguem-se os acontecimentos dos reinados de D. João I a D. João II. É assim que surge a narração dos preparativos da viagem á Índia, desejo que D. João II não conseguiu concretizar antes de morrer e que iria ser realizado por D. Manuel, a quem os rios Indo e Ganges apareceram em sonhos, profetizando futuras glórias no Oriente. Este canto termina com a partida da Armanda, cujos navegantes são surpreendidos pelas palavras profeticamente pessimistas de um velho que estava na praia, entre a multidão. É o episódio do Velho do Restelo.
Batalha de Aljubarrota
Estrofes 28 e 29 (Introdução) – inicio da batalha sinalizada pela Trombeta Castelhana e reacção personificada da natureza e das pessoas em geral.
Estrofe 30 – no início do combate desde logo de destaca a presença de Nuno Alvares Cabral. Estrofe 31 – Descrição da movimentação e do ruído próprio do combate. Estrofe 32 e 33 – Traição dos dois irmãos de Nuno Alvares Pereira que combateram pelo exército de
Castelo e referência a outros traidores da história antiga. Estrofes 34 até 42 – Descrição da Batalha propriamente dita, com especial saliência, para as actuações
decisivas de Nuno Alvares Pereira e D. João I. Estrofes 43 até 45 (conclusão) – o desânimo e a fuga dos Castelhanos perante a vitória dos
portugueses.
Despedidas em Belém
Trata-se de um momento lírico da narrativa que faz sobressair os sentimentos dos que ficavam e que, antecipadamente, choravam a perda dos que partiam; sobressaem também os sentimentos dos navegadores que tiveram nos seus amados e a saudade que eles próprios já começavam a sentir.
Alcançar a glória tem um preço, é toda uma nação que é envolvida no drama e será, depois, toda uma nação que alcançará a glória. (confrontar este episódio com o poema “Mar Português” da “Mensagem” de Fernando Pessoa)
O Velho do Restelo
Este episódio introduz uma perspectiva posta á do espírito épico, uma vez que o “Velho” aplica de vaidade aquilo que os outros chamam “Fama e Glória”, “esforço e valentia”. Ele é o porta-voz do bom senso e da prudência ou daqueles que nesse tempo defendiam a expansão para o norte de África. Outros designam-no como voz da condenação da ousadia humana, do impulso do Homem para transcender tudo o que o limita.
Análise Canto V
Vasco da Gama prossegue a sua narrativa ao Rei de Melinde, contando agora a viagem de armada, de Lisboa a Melinde. É a narrativa da grande aventura marítima, em que os marinheiros observavam maravilhados ou inquietos o Cruzeiro do Sul, o Fogo-de-santelmo ou a Tromba Marítima e enfrentaram perigos e obstáculos enormes como a hostilidade dos nativos, no episódio de Fernão Veloso, a fúria de um monstro, no episódio do Gigante Adamastor, a doença e a morte provocadas pelo encoberto.
O canto termina com a censura do poeta aos seus contemporâneos que desprezam a Poesia.
O Gigante Adamastor
Estrofes 37 e 38 (Introdução) – Preparação do clima propício a aparição do Adamastor. Estrofes 39 e 40 – Caracterização do Gigante Adamastor, quer física, quer psicológica. Estrofes 41 até 48 – Discurso do Adamastor. Enuncia através de profecias (advinhas) e ameaças, os
castigos destinados á “gente ousada” latina. Estrofes 49 – Vasco da Gama interpela o monstro, o que provocará uma alteração radical do seu
discurso, levando-o a confessar os aspectos da sua vida sentimental. Estrofes 50 até 59 – O Gigante narra a sua vida, o seu passado amoroso e infeliz e revela o castigo que
os Deuses lhe destinaram: Para sempre transformado naquele promontório. Estrofe 60 – Desaparecimento do Gigante e pedido de Vasco da Gama a Deus para que evite a
concretização das profecias do Adamastor.
Representatividade do Gigante Adamastor
1. A representação do “terrífico”: logo na descrição do ambiente estão presentes elementos associados ao medo, como a escuridão, o ruído intenso, o tamanho e a postura ameaçadora, a sujidade repelente, a cor cadavérica e o tom de voz;
2. A exaltação do herói: por serem ditas por um ser tão terrível, as palavras do Adamastor sobre a ousadia dos navegadores têm feito um efeito claramente exaltante para desvendar o desconhecido, o que nenhum ser se tinha atrevido a tentar – é uma forma de destacar que o grande feito da viagem foi a conquista do conhecimento;
3. A afirmação do herói: a coragem do herói afirma-se pelo enfrentar do medo, por ousar conhecer e decifrar o desconhecido – a pergunta de Vasco da Gama sobre a identidade do monstro (“quem és tu?”) é um momento simbólico da afirmação da grandeza do Homem Português;
4. O desejo do mito: no final, o Gigante retira-se com um “medonho choro”, depois de ter contado a sua história – tinha sido vencido no amor e na guerra, iludido e aprisionado, ao tornar-se conhecido, desaparece o seu carácter ameaçador;
5. Simbologia do episódio: o Gigante Adamastor representa o maior de todos os obstáculos, na realização de qualquer viagem: o medo do desconhecido. Perante o desconhecido, os navegadores enfrentaram o terror, desvendaram os seus mistérios e o desconhecido deixou de o ser – o episódio simboliza a vitória sobre o medo que os perigos ignorados da natureza e da vida provocaram nos seres humanos (confrontar este episódio com o poema “Mostrengo” da “Mensagem” de Fernando Pessoa)
Reflexão do Poeta
O Poeta neste poema mostra que o canto e o louvor das obras incitam a realização de novos feitos. A falta de cultura dos heróis nacionais é responsável pela indiferença que mostram na divulgação dos seus feitos (indirectamente, Camões manifesta o seu desalento por não ter apoio daqueles a quem louva).