Cap-12 Fraturas Luxacoes

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Manual do Atendimento Pré-Hospitalar – SIATE /CBPR CAPÍTULO 12 FRATURAS E LUXAÇÕES 1. Fraturas Fratura é a lesão óssea de origem traumáti- ca, produzida por trauma direto ou indireto. O con- junto de fragmentos ósseos produzidos pela fratura e os tecidos lesados em torno da lesão é denomina- do foco de fratura. O osso é o único tecido do nosso organismo que cicatriza com o mesmo tecido anteri- or à lesão. O processo de cicatrização óssea deno- mina-se consolidação. O risco de surgir uma fratura óssea nas mu- lheres é maior devido a osteoporose, são fraturas resultantes de quedas de baixo impacto, portanto não resultantes de acidentes graves. A massa ós- sea, principalmente das mulheres, começa a dimi- nuir depois da menopausa por influência dos hormônios. Os homens também podem sofrer de osteoporose, depois dos 65 anos de idade, mas a relação com os hormônios não é tão evidente. A qualidade de vida das pessoas idosas, que sofrem fraturas, geralmente, piora muito, pois, a cicatrizarão é mais lenta e a recu- peração muscular é mais difícil. Uma das fraturas mais grave no idoso é a do fêmur e para sua imobilização não está in- dicado a utilização aparelho de tração de fê- mur, assim como em fraturas expostas. 1.1. Classificação 1.1.1. Quanto ao traço de fratura Incompleta: ocorre a lesão óssea, mas não rompe a continuidade óssea; tipo de ocor- rência comum em crianças. Completa: os fragmentos ósseos perdem a continuidade, ficando desviados ou não. O - 167 - Fig 12.1 – Exemplo de fratura. Fig 12.2 – Tipos de fratura

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CAPÍTULO 12

FRATURAS E LUXAÇÕES

1. Fraturas

Fratura é a lesão óssea de origem traumáti-ca, produzida por trauma direto ou indireto. O con-junto de fragmentos ósseos produzidos pela fratura e os tecidos lesados em torno da lesão é denomina-do foco de fratura. O osso é o único tecido do nosso organismo que cicatriza com o mesmo tecido anteri-or à lesão. O processo de cicatrização óssea deno-mina-se consolidação.

O risco de surgir uma fratura óssea nas mu-lheres é maior devido a osteoporose, são fraturas resultantes de quedas de baixo impacto, portanto não resultantes de acidentes graves. A massa ós-sea, principalmente das mulheres, começa a dimi-nuir depois da menopausa por influência dos hormônios.

Os homens também podem sofrer de osteoporose, depois dos 65 anos de idade, mas a relação com os hormônios não é tão evidente. A qualidade de vida das pessoas idosas, que sofrem fraturas, geralmente, piora muito, pois, a cicatrizarão é mais lenta e a recu-peração muscular é mais difícil.

Uma das fraturas mais grave no idoso é a do fêmur e para sua imobilização não está in-dicado a utilização aparelho de tração de fê-mur, assim como em fraturas expostas.

1.1. Classificação

1.1.1. Quanto ao traço de fratura

Incompleta: ocorre a lesão óssea, mas não rompe a continuidade óssea; tipo de ocor-rência comum em crianças.

Completa: os fragmentos ósseos perdem a continuidade, ficando desviados ou não. O

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Fig 12.1 – Exemplo de fratura.

Fig 12.2 – Tipos de fratura

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Fraturas e Luxações

manuseio destas fraturas deve ser cuidadoso e técnico, para evitar lesão nos tecidos vizi-nhos

1.1.2. Quanto à exposição do foco de fratura

Fechada: o foco de fratura está protegido por partes moles e com pele íntegra.

Aberta ou exposta: o foco de fratura está em contato com o meio externo, com o osso exteriorizado ou não. A pele, nestes ca-sos, está sempre lesada. O grau de lesão des-sas partes moles permite classificar as fraturas expostas. A lesão da pele pode ocorrer pelo trauma, pelos fragmentos ósseos e pelo manu-seio intempestivo da vítima, tornando uma fra-tura fechada em aberta.

Devido à comunicação do foco de fratu-ra com o meio externo, as fraturas expostas são sempre contaminadas, variando apenas o grau de contaminação, podendo causar osteo-mielite (infecção óssea), que retarda ou impe-de a consolidação óssea; em casos extremos, causa a perda do membro lesado. Em casos mais graves, a infecção dissemina-se pelo or-ganismo (septicemia) e, em pacientes debilita-dos, leva a óbito. A fratura exposta é uma situ-ação de urgência se não for acompanhada de choque.

1.1.3. Quanto à presença de lesões associadas

1.1.3.1. simples:

A fratura é uma lesão única, sem evidência de lesão associada.

1.1.3.2 complicada

Está acompanhada de lesões associadas. O trauma causador de fratura exposta é de alta energia e velocidade, podendo ocorrer lesões associadas locais, como as muscu-lares, tendinosas, nervosas, vasculares, bem como lesões sistêmicas associadas (trauma abdominal, torácico e craniano).

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Fig 12.3 – Fratura exposta

Fig 12.4 – Fratura fechada

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1.2. Sintomas e Sinais

1.2.1. Dor

Devido ao trauma localizado, sempre haverá dor no local da fratura, que varia mui-to de um paciente para outro, sendo aliviada por manobras de tração, alinhamento e imo-bilização.

1.2.2. Aumento de volume

Devido ao trauma, ocorre uma lesão dos tecidos vizinhos à fratura, produzindo san-gramento local, detectado como um aumento de volume, produzindo, com o passar do tempo, edema localizado. Em algumas fraturas, de fêmur e pélvis, por exemplo, o sangra-mento pode causar choque hipovolêmico.

1.2.3. Deformidade

O segmento fraturado apresenta angulações, rotações e encurtamentos evidentes à simples observação da vítima, comparando-se o membro lesado com o não afetado.

1.2.4. Impotência funcional

A fratura impede ou dificulta os movimentos, devido à dor e à alteração músculo-esquelética, no que diz respeito à anatomia.

1.2.5. Crepitação óssea

Sensação audível e palpável causada pelo atrito entre os fragmentos ósseos. Não deve ser reproduzida intencionalmente, porque provoca dor e aumenta a lesão entre os tecidos vizinhos à fratura.

1.3. Atendimento

1.3.1. Não movimente vítima com fraturas antes de imobilizá-Ia adequadamen-te.

Se há risco real de incêndio, desabamento ou explosão, arraste-a por meio do mai-or eixo do corpo. Se há necessidade de posicionar a vítima para instituir RCP, proceda de modo a manter em alinhamento os segmentos fraturados.

1.3.2. Nas fraturas expostas

Controle o sangramento e proteja o ferimento, ocluindo-o com curativos estéreis e bandagens.

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Fraturas e Luxações

1.3.3. Em fratura dos ossos longos

Execute manobras de alinhamento e tração antes de imobiliza-los. Examine a sen-sibilidade e os pulsos periféricos antes e depois de tracionar e alinhar.

Reveja seu procedimento se esses parâ-metros mostrarem sinais de piora.

Mantenha a tração e o alinhamento até que á tala de imobilização esteja posicionada e fixa.

Imobilize deformidades situadas próximas a articulações que não se corrijam com tração sua-ve na posição em que se encontram.

1.3.4. Quando imobilizar uma fratura

Inclua na tala a articulação proximal e dis-tal à lesão.

1.3.5. As talas

Devem ser ajustadas e não apertadas, de maneira a não interromper a circulação local.

Forre toda a tala. Nos pontos de deformi-dade e nas saliências ósseas, coloque estofa-mento extra.

1.3.6. Transporte da vítima

De modo confortável e seguro; o principal objetivo do resgate é não agravar as le-sões preexistentes.

O atendimento correto evita o agrava-mento das lesões, reduz a dor e o sangramen-to.

2. Luxações

Deslocamento de superfícies articula-res, modificando as relações naturais de uma articulação.

Nas articulações existe uma congruên-cia articular entre as superfícies ósseas em contato. Estas são recobertas por cartilagem

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Fig 12.5 – Forração de talas

Fig 12.7 – luxação.

Fig 12.6 – Imobilização distal e proximal

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articular e mantidas por uma cápsula articular reforçada por ligamentos. Os traumas indi-retos, normalmente produzidos por quedas com apoio nas extremidades, fazem com que essas superfícies articulares saiam de sua posição, produzindo perda da congruência arti-cular da função da articulação correspondente. As luxações ocorrem mais comumente em articulações móveis (ombro, quadril, dedos da mão).

2.1. Sinais e sintomas

2.1.1. Dor

Geralmente intensa devido à compressão de estruturas locais; pode levar ao cho-que neurogênico.

2.1.2. Deformidade

Sinal evidente à simples inspeção da vítima; deve ser comparada com o lado opos-to.

2.1.3. Impotência funcional

Devido à perda da congruência articular, existe perda completa da função articular, e qualquer tentativa de mobilidade é extremamente dolorosa.

2.1.4. Palidez

Localizada, causada pela compressão do osso luxado sob a pele.

2.1.5. Edema

Tardio varia com o grau de deformidade e a articulação luxada.

2.1.6. Encurtamento ou alongamento

Podem ocorrer devido à deformidade da articulação luxada.

2.2. Cuidados de emergência

A manipulação das luxações cabe exclusivamente ao médico. Manobras inadequa-das e intempestivas podem agravar a lesão já existente e produzir dano adicional aos te-cidos vizinhos, inclusive fraturas.

No atendimento pré-hospitalar, a imobilização deve ser na posição de deformidade, buscando oferecer o máximo de conforto à vítima. Ficar atento a sinais e sintomas de choque, informando se ocorrerem.

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Fraturas e Luxações

2.2.1. Luxação Acrômio Clavicular

Causada por queda sobre ombro, sendo freqüentes principalmente em jovens des-portistas. O acrômio se desloca para baixo e a clavícula para cima, principalmente pela ação dos músculos do trapézio e esternocledomastóideo.

2.2.2. Luxação de cotovelo

Ocorre por trauma indireto causado por queda com apoio sobre a mão. A vítima tem dor intensa, com deformidade visível no nível da articulação do cotovelo e impotência funcional. Sempre examinar o vásculo nervoso para detectar qualquer lesão dessas estru-turas.

2.2.3. Luxação do punho

Rara e normalmente associada ou confundida com fraturas do radiodistal; tanto a fratura como a luxação são causadas por trauma com apoio sobre a mão. Imobilizar na posição de deformidade e sempre examinar a sensibilidade e motricidade da mão.

2.2.4. Luxação dos dedos dos pés e das mãos

Causada na maioria das vezes durante a prática esportiva, manifesta-se por dor, deformi-dade, encurtamento e impotência para fletir o de-do. O segmento deve ser protegido, apoiado e imobilizado em posição de deformidade.

2.2.5. Luxação do quadril

Ocorre em traumas de alta energia e velo-cidade em pacientes que sofreram quedas ou acidentes de trânsito, muitos casos associados a fraturas. A vítima tem dor intensa, impo-tência funcional e grande deformidade de todo o membro inferior lesado. A deformidade caracteriza-se por rotação e encurtamento de todo o segmento.

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Fig 12.8 – Início da imobilização de cotovelo Fig 12.9 – Final da imobilização de cotovelo

Fig 12.10 – Verificando pulso

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Deve ser cuidadosamente rolada sobre uma tábua longa. Se necessário erguê-Ia apenas o necessário para deslizar a tábua sob ela. Use almofadas e cobertores para acol-choar e apoiar o membro lesado na posição de deformidade. Fixe a vítima à tábua com cintos e bandagens. Não esqueça de examinar o vásculo nervoso do segmento lesado. Esteja atento a sinais de choque neurogênico e, às vezes, a choque hipovolêmico.

2.2.6. Luxação de joelho

Causada por trauma indireto. A vítima apresenta grande deformidade, com dor inten-sa e impotência funcional do segmento. Exa-minar o vásculo nervoso, pois existe grande incidência de lesão arterial associada à luxa-ção de joelho. Imobilizar a articulação na posi-ção de deformidade, usando tala que se es-tenda do quadril ao tornozelo e acolchoando o joelho de forma a proteger a angulação local.

A imobilização de joelho é semelhante a de cotovelo.

2.2.7. Luxação de tornozelo

Causada por trauma indireto, apresenta deformidade característica, às vezes asso-ciada a grande aumento de volume, também com dor intensa, impotência funcional, geral-mente associada à fratura. Imobilizar na posição de deformidade.

3. Imobilização de Membro Inferior com Aparelho de Tração Portátil- Vítimas com Fratura de Fêmur

3.1. Procedimento deve ser realizado por dois Socorristas

Um examina o membro, ficando responsável pela tração e alinhamento manuais da fratura; o outro se responsabiliza pelo preparo adequado do aparelho de tração.

3.2. Passo 1

O socorrista 1 prepara-se para realizar a tração e o alinhamento; o socorrista 2 usa o membro inferior não-traumatizado como referência para estabelecer o comprimento da tração.

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Fig 12.11 – Imobilização de tornozelo e verifi-cação de sensibilidade,pulso e enchimento ca-pilar

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Fraturas e Luxações

3.3. Passo 2

Alinhamento e tração do membro pelo socorrista 1. Preparo da tração com fixação dos fechos de comprimento, abertura de todas as faixas e liberação da faixa de tração, pelo socorrista 2.

3.4. Passo 3

O posicionamento do socorrista 2 fixando inicialmente a cinta próxima a raíz da co-xa.

3.5. Passo 4

Fixação da tornozeleira com a cinta de velcro que substituirá a tração na instalação da tala.

3.6. Passo 5

O socorrista 1 somente soltará a tração após o socorrista 2 instalar e fixar a tração pela catraca do equipamento.

3.7. Passo 6

Fixar as demais fitas da coxa ao tornozelo.

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Fig 12.13 – Passo 2,3 e 4

Fig 12.12 – Passo 1

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3.8. Passo 7

Terminar a instalação da tração com avaliação do pulso, sensibilidade e motricida-de distal.

4. Fixação da Vitima com Tração de Fêmur na Tábua de Remoção

Quando a vítima foi imobilizada com equipamento de tração portátil de fêmur e ne-cessita ser colocada em tábua dorsal, o procedimento de rolamento deve ser feito pelo lado sem lesão.

4.1. Passo 1

Os três socorrista posicionados em linha, fazem o rolamento de 90º para posiciona-mento da tábua.

4.2. Passo 2

Um socorrista ficará responsável exclusivamente do apoio da tração de fêmur, acompanhando o giro dos demais.

4.3. Passo 3

Centralizar a vítima na tábua.

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Fig 12.14 – Passo 5,6 e 7.

Fig 12.15 – Passo 1 e 2

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Fraturas e Luxações

4.4. Passo 4

Fixar o suporte elevado da tração com faixa ou bandagem, para que no transporte, não haja movimentação.

4.5. Passo 5

Não apoiar os cintos de fixação por cima do membro afetado.

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Fig 12.16 – Passo 3 e 4

Fig 12.17 – Passo 5