CAP 20 - JAPÃO_DO NASCIMENTO DA POTÊNCIA À CRISE II

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JAPÃO: DO NASCIMENTO DA POTÊNCIA À CRISE II Distribuição das indústrias As primeiras indústrias foram implantadas no Japão a partir de 1880, quando teve início o processo de industrialização. Inicialmente, predominaram as fábricas de produtos têxteis, como a seda e o algodão. Contudo, por conta das necessidades militares, o Estado e a iniciativa privada passaram a investir, desde o começo do século XX, em indústrias de base, como siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e mecânicas. Data de 1901 a construção das primeiras metalúrgicas pelo governo em Iawata, nas proximidades das minas de carvão da Ilha de Kyushu. As indústrias de bens de consumo, porém, nunca deixaram de se expandir. Com os avanços tecnológicos, fibras sintéticas passaram a ser produzidas no país (raiom, náilon etc.) e novos setores foram se desenvolvendo, como o eletroeletrônico e o automobilístico, entre outros. Apesar de todo esse progresso industrial, o Japão é muito dependente de matérias-primas e fontes de energia importadas. O país possui poucas jazidas de minérios, e as reservas de combustíveis fósseis há muito são insuficientes para atender às necessidades de sua indústria. Mesmo o potencial hidráulico, relativamente grande Por causa do relevo montanhoso, logo se mostrou insuficiente diante do crescente aumento do consumo de energia, o que demandou maiores importações de combustíveis fosseis. A fim de dispor de saldos comerciais para compensar as despesas com importações e as limitações do mercado interno, o país passou a exportar volumes cada vez maiores de produtos industrializados. Percebe-se, assim, que a economia industrial japonesa já nasceu voltada para o mercado externo. Gradativamente, o Japão foi-se convertendo num grande importador de produtos primários e num grande exportador de artigos industrializados. Em 2001, 93% da pauta de exportação japonesa era composta de bens industrializados, dos quais 26% eram produtos de alta tecnologia. Essa forte dependência em relação ao exterior e o fato de o país ser insular e montanhoso definem a localização das indústrias. O parque industrial japonês situa-se próximo aos grandes portos, nas estreitas planícies litorâneas, onde, historicamente,a população também se concentrou em função da possibilidade de praticar a agricultura do arroz, a mais importante do país. Com a industrialização, parcelas cada vez mais significativas da população foram se concentrando em torno dessas cidades portuárias. Assim, as maiores aglomerações urbano-industriais encontram-se nas planícies da franja litorânea do Pacífico. No sudeste da Ilha de Honshu se localiza a segunda aglomeração urbano-industrial do mundo. Encontra-se particularmente no eixo Tóquio-Osaka o trecho mais importante da megalópole japonesa. Extre- mamente diversificado, esse cinturão industrial concentra cerca de 85% da produção do país, e as regiões de Tóquio e Osaka, sozinhas, são

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JAPÃO: DO NASCIMENTO DA POTÊNCIA À CRISE IIDistribuição das indústrias

As primeiras indústrias foram implantadas no Japão a partir de 1880, quando teve início o processo de industrialização. Inicialmente, predominaram as fábricas de produtos têxteis, como a seda e o algodão. Contudo, por conta das necessidades militares, o Estado e a iniciativa privada passaram a investir, desde o começo do século XX, em indústrias de base, como siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e mecânicas. Data de 1901 a construção das primeiras metalúrgicas pelo governo em Iawata, nas proximidades das minas de carvão da Ilha de Kyushu. As indústrias de bens de consumo, porém, nunca deixaram de se expandir. Com os avanços tecnológicos, fibras sintéticas passaram a ser produzidas no país (raiom, náilon etc.) e novos setores foram se desenvolvendo, como o eletroeletrônico e o automobilístico, entre outros.

Apesar de todo esse progresso industrial, o Japão é muito dependente de matérias-primas e fontes de energia importadas. O país possui poucas jazidas de minérios, e as reservas de combustíveis fósseis há muito são insuficientes para atender às necessidades de sua indústria. Mesmo o potencial hidráulico, relativamente grande Por causa do relevo montanhoso, logo se mostrou insuficiente diante do crescente aumento do consumo de energia, o que demandou maiores importações de combustíveis fosseis.

A fim de dispor de saldos comerciais para compensar as despesas com importações e as limitações do mercado interno, o país passou a exportar volumes cada vez maiores de produtos industrializados. Percebe-se, assim, que a economia industrial japonesa já nasceu voltada para o mercado externo. Gradativamente, o Japão foi-se convertendo num grande importador de produtos primários e num grande exportador de artigos industrializados. Em 2001, 93% da pauta de exportação japonesa era composta de bens industrializados, dos quais 26% eram produtos de alta tecnologia. Essa forte dependência em relação ao exterior e o fato de o país ser insular e montanhoso definem a localização das indústrias.

O parque industrial japonês situa-se próximo aos grandes portos, nas estreitas planícies litorâneas, onde, historicamente,a população também se concentrou em função da possibilidade de praticar a agricultura do arroz, a mais importante do país. Com a industrialização, parcelas cada vez mais significativas da população foram se concentrando em torno dessas cidades portuárias. Assim, as maiores aglomerações urbano-industriais encontram-se nas planícies da franja litorânea do Pacífico.

No sudeste da Ilha de Honshu se localiza a segunda aglomeração urbano-industrial do mundo. Encontra-se particularmente no eixo Tóquio-Osaka o trecho mais importante da megalópole japonesa. Extremamente diversificado, esse cinturão industrial concentra cerca de 85% da produção do país, e as regiões de Tóquio e Osaka, sozinhas, são responsáveis por cerca da metade desse total. Nessas duas cidades estão 84% das sedes administrativas das 88 maiores corporações japonesas constantes da lista Global 500 da revista Fortune, edição 2003 (69,3% em Tóquio e 14,7% em Osaka). As sedes administrativas das grandes corporações, assim como suas respectivas fábricas, são muito mais concentradas espacialmente no Japão (principalmente na região da capital, Tóquio) do que nos Estados Unidos e na Alemanha.

A maior parte da megalópole localiza-se na Ilha de Honshu, estendendo-se, porém, pelo norte da Ilha de Shikoku e chegando até o norte da Ilha de Kyushu. Forma-se, desse modo, um corredor de 1 000 km que reúne as principais cidades do país e, as áreas de maiores densidades demográficas.

O Japão é o maior fabricante mundial de vários produtos industrializados, sediando algumas das maiores corporações multinacionais do planeta, como Toyota, Mitsubishi, Honda, Hitachi, Sony, Matsushita, entre outras.

O Japão é, com os Estados Unidos e a União Européia, o líder em novas tecnologias na atual revolução informacional. Há no país diversos centros de pesquisas e inúmeras indústrias de alta tecnologia, concentrados, sobretudo em seus dois principais tecnopólos - Tsukuba e Kansai.

A Cidade da Ciência de Tsukuba, localizada 60 km a nordeste de Tóquio e 40 km a noroeste do aeroporto internacional de Narita, é o principal tecnopólo japonês e um dos mais importantes do mundo. Sua implantação, a cargo do governo, começou na década de 1960; ao longo dos anos 1970 e 1980, ali se instalaram diversos centros de pesquisas governamentais. Hoje existem 46 institutos de educação e pesquisa em funcionamento, entre eles a Agência Nacional Espacial do Japão (Nasda), o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industrial Avançada (AIST), o Instituto Nacional de Estudos Ambientais e a Universidade de Tsukuba. Desde meados dos anos 1980, como resultado da consolidação desse tecnopólo, muitas empresas privadas também ali se instalaram. Atualmente a Cidade da Ciência de Tsukuba, com uma população de cerca de 200 mil pessoas, conta com aproximadamente 300 instituições, entre centros de pesquisas públicos e privados e filiais das corporações japonesas instaladas no parque industrial que se desenvolveu em torno deles. Nesse complexo de alta tecnologia trabalham cerca de 13 mil cientistas.

O tecnopólo Kansai abrange os municípios de Kyoto, Osaka e Nara, a segunda região mais industrializada do Japão. Sua implantação começou no início dos anos 1980, mas, diferentemente de Tsukuba, que é um empreendimento eminentemente estatal, predominam em Kansai as empresas privadas, como a Toyota, a Fujitsu, a NEC e a Mitsubishi, entre outras.

Um dos mais importantes setores de alta tecnologia em que o Japão é líder mundial, e que pressupõe o domínio

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da microeletrônica e da mecânica, é a robótica. O país é líder no desenvolvimento e na aplicação da robótica ao processo produtivo, embora, como resultado da crise que atingiu sua economia na década de 1990, venha perdendo terreno desde 1998, como mostra o gráfico a seguir. A utilização de robôs no processo produtivo, sobretudo na indústria automobilística, o setor mais robotizado da economia japonesa (veja o gráfico da página a seguir), foi um dos principais fatores que colaboraram para o grande aumento da produtividade e, conseqüente -mente, da competitividade de seu parque industrial. No Japão há mais de 200 empresas produzindo e vendendo robôs industriais, tanto para o mercado interno como para o mundo, e a Fanuc é a maior delas. Com sede em Yamanashi, nas proximidades do monte Fuji, essa empresa tem filiais em outras cidades do Japão, como em Tsukuba, e em outros países: Estados Unidos, Alemanha, Coréia do Sul, China etc.

O grande sucesso econômico do Japão foi uma eficiente combinação de livre mercado com planejamento estatal. O todo-poderoso Ministério da Indústria e do Comércio Internacional (MITD, criado em 1951, teve papel importante na elaboração de diretrizes macroeconômicas de longo prazo. Em 2001, após passar por um processo de reorganização, teve seu nome mudado para Ministério da Economia/ Comércio e Indústria (METI). Funcionando em sintonia com os grandes grupos econômicos, o Estado japonês, após a Segunda Guerra Mundial, deu sustentação e apoio à aguerrida luta para a conquista de mercados no exterior.

No início dos anos 1990, entretanto, a economia japonesa perdeu o fôlego. A crise japonesa é, de certa forma, conseqüência do sucesso dos anos anteriores. O grande acúmulo de riquezas no país levou os agentes econômicos a uma crescente especulação com ações, provocando uma enorme alta na Bolsa de Valores de Tóquio. Ao mesmo tempo, os bancos japoneses, que chegaram a ocupar oito das dez primeiras posições entre os maiores do mundo em 1990 (em 2002 não havia mais nenhum entre os dez primeiros), fizeram grandes empréstimos sem critério, principalmente para o ramo imobiliário, o que gerou grande especulação nesse setor. Os preços dos imóveis no Japão, que já estavam entre os mais altos do mundo, subiram exageradamente, atingindo valores estratosféricos.

Essa bolha especulativa - financeira e imobiliária - estourou no início dos anos 1990. Os preços das ações e dos imóveis despencaram, fazendo a crise se propagar pela economia real, ao provocar o fechamento de empresas e o aumento do desemprego. Os bancos, não tendo como receber dos devedores, deixaram de fazer novos empréstimos. Muitas empresas (industriais e comerciais) e instituições financeiras (bancos, corretoras de valores etc., foram à falência, levando o país à estagnação econômica

Agravando esse quadro, a população, receosa com a crise, passou a poupar mais, reduzindo os níveis de consumo. Esse fato, além de aumentar a historicamente alta taxa de poupança interna, tem dificultado a retomada do crescimento econômico.

Você precisa saber1. Onde estão localizadas as maiores concentrações industriais do Japão?2. Qual é e onde se localiza o principal tecnopólo japonês? Explique seu desenvolvimento fazendo uma

comparação com o Vale do Silício, localizado na Califórnia, Estados Unidos. 3. Como se explica a crise econômica japonesa a partir do início dos anos 1990?