Cap 3 Paisagens Da Serra - Autor: Prous Andre
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CAP 3: Paisagens da Serra
A Serra do Espinhao constitui uma grande cordilheira, cuja pronunciada
morfologia resultado de espessas camadas de quartzito que recobrem o embasamentoaltamente metamorfizado em funo de processos tectnicos (PFLUG et al., 1980).
Importante divisor de trs grandes e importantes bacias hidrogrficas - So
Francisco, Jequitinhonha e Doce - a Serra do Espinhao constitui um conjunto de terras
altas, em que a denominao de serra esconde (..) uma realidade fisiogrfica que seria
melhor definida pelo termo planalto (SAADI, 1995:1).
Segundo Saadi (1995), em uma escala regional, a Serra do Espinhao pode ser
subdividida em dois compartimentos de planaltos, separados por uma depresso situadaa norte de Diamantina. O Planalto Meridional enquadraria toda a regio localizada entre
as nascentes do rio Cip na Serra do Cip - rea considerada limite meridional ou incio
da Serra do Espinhao1 - at a depresso que o separa do Planalto Setentrional. O
Planalto Setentrional, por sua vez, inicia-se a norte da depresso que o separa do
primeiro planalto mencionado e estende-se at a Bahia (SAADI, 1995).
Nestes, mais de sculos de histrias ilustram as relaes de percepo e
apropriao do meio dito natural como local de experincias humanas.
Porm a ocupao da Serra do Espinhao no teve incio nos idos sculos
XVII/XVIII, ela remonta transio do Pleistoceno para o Holoceno, sendo as mais
antigas datadas de 12 000 anos BP- conseguida a partir da datao de um carvo
retirado de uma estrutura de combusto do Grande Abrigo de Santana do Riacho, na
Serra do Cip - (PROUS; JUNQUEIRA; MALTA; CHAUSSON, 1991), correspondendo,
portanto, a um perodo de ocupao pr-histrica.
Para se falar das paisagens culturais pr-histricas da regio Diamantina - regio
pela qual este trabalho se interessa - importante entender os diferentes aspectos que as
compem - o meio natural e os componentes culturais, antes de olhar para estes de
maneira relacionada.
preciso compreender os aspectos naturais que modelaram a paisagem para que
posteriormente sejam compreendidas as apropriaes culturais destes aspectos, que
1 Alguns autores, consideram que a Serra do Espinhao tem seu incio na Regio do QuadrilteroFerrfero (PFLUG; HOPE & BRICHTA, 1980), contudo adota-se aqui a Serra do Cip, maisespecificamente as nascentes do o Rio Cip como sendo seu limite mais meridional de acordo com Saadi(1995) e Dossin et al. (1990).
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configuraram a construo cultural da paisagem de parte do Planalto Meridional da
Serra do Espinhao.
3.1 - A paisagem natural do Planalto Meridional da Serra do Espinhao
O Planalto Meridional da Serra do Espinhao resultado de uma srie de
eventos geotectnicos iniciados no pr-cambriano. Segundo Almeida, Abreu & Pflug
(1994) e Saadi (1995), a seguinte seqncia de eventos pode ser descrita:
- 1752 Ma (final do Paleoproterozico) = incio do processo derifteamento, dando surgimento a uma bacia, na qual foram acumulados
sedimentos predominantemente arenticos do Supergrupo Espinhao;
- 1250 Ma (Mesoproterozico) = fechamento da bacia por esforoscompressivos com transporte de leste para oeste;
- 1000 Ma seguintes = perodo de relativa calma tectnica quepossibilitou a sedimentao do Grupo Macabas;
- 900 Ma (Neoproterozico) = evento distensivo, promovido porum novo movimento divergente das placas tectnicas, responsvel por um
intenso magmatismo basltico, e subsidncia do crton So Francisco, formando
uma bacia que acolheu os sedimentos peltico-carbonticos do Grupo Bambu;
- ao final do Neoproterozico h um novo movimento das placastectnicas, desta vez convergentes, resultando em empurres de leste para oeste,
sobrepondo o Supergrupo Espinhao aos Grupos Macabas e Bambu.
Em funo dos diferentes momentos de evoluo da Serra do Espinhao, a
geologia da Serra bastante diversa. De acordo com DOSSINet al (1990),so presentes
os terrenos granito-gnissicos que constituem o embasamento arqueano, no centro da
cordilheira e especialmente na borda leste. Na poro central da serra (regio deGouveia) aparecem rochas sedimentares em associao com rochas do embasamento
cristalino, com presena de pacotes milonticos. Coberturas proterozicas so
sobrepostas a estes domnios, e so representadas por metassedimentos terrgenos,
predominantemente compostos por rochas vulcnicas, sejam elas bsicas e/ou cidas.
Estas coberturas podem ser divididas em duas grandes unidades: clastro-qumica,
composta por filitos, quartzitos, e formaes ferrferas; quatzitos dominantes que
suportam a orografia da Serra do Espinhao.
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A espessa camada de quartzito apresenta-se rgida em toda sua extenso,
contudo apresenta-se altamente fraturada e cisalhada, em que os processos de
esculturao fluvial so responsveis pelas formaes de cristas, escarpas e vales
encaixados, seguindo direes estruturais (SAADI, 1995) (Prancha 2).
As formaes quartzticas que compem o Supergrupo Espinhao, e que
representam aquelas que capeiam e sustentam a Serra, so tambm variadas, em funo
dos diferentes ambientes deposicionais dos sedimentos que as formaram, influenciados,
por sua vez, pelos distintos processos de evoluo que a Serra sofreu.
Segundo a classificao de Kppen, o clima da Serra do Espinhao
caracteristicamente mesotrmico brando, tipo Cwb (ou intertropical). Devido s
altitudes elevadas, as temperaturas nos meses de vero so agradveis (22-28C) e o
inverno apresenta-se pouco rigoroso (10-15C) (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES,
1997).
Embora classificada com uma vegetao predominantemente composta por
campo rupestre, condicionado pelas caractersticas litolgicas, pedolgicas e climticas,
a vegetao da Serra do Espinhao , contudo, composta por uma grande diversidade de
aspectos fitofisionmicos (Prancha 3).
Segundo Medina (2004) na regio so encontrados quatro tipos vegetacionais: os
campos rupestres - surgem em reas planas, acima de 1000m de altitude, com solos
arenosos ou cascalhados, rasos, cidos, pobres em nutrientes e matria orgnica,
entremeados por bolses mais midos, formando brejos, que podem ser permanentes,
nos quais aparecem turfeiras, ou periodicamente inundados. Nestes h ainda flora
ripcola associada aos afloramentos rochosos; campo cerrado - aparecem entre as cotas
altimtricas de 800 a 1000m. H dominncia de formas herbcea arbustivas, podendo
passar a campo sujo e rupestre; as matas de galeria estariam associadas s linhas de
drenagem; os capes de mata estariam associados aos topos de morro e s encostas.De acordo com Moretti (2005), os aspectos encontrados em predominncia na
Cadeia do Espinhao so os campos cerrados, campos rupestres e matas de galeria.
Apesar de haver um consenso a respeito da diversidade de formaes vegetais
que compem a Serra do Espinhao, no h um consenso sobre as caractersticas,
nomeao ou sobre o que determina tais formaes (PEREIRA, 1994). Faz-se assim
necessria uma definio dos aspectos vegetacionais que sero considerados, neste
trabalho, como componentes da Serra do Espinhao.A vegetao do tipo campo rupestre segundo Ribeiro e Walter (1998),
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um tipo fitofisionmico predominantemente herbceo-arbustivo,com presena eventual de arvoretas pouco desenvolvidas de at doismetros de altura. (...) ocorre em solos litlicos ou nas frestas deafloramentos. (..) A composio florstica pode variar em poucosmetros de distncia, e a densidade das espcies depende do substrato.Nos afloramentos rochosos, por exemplo, os indivduos lenhososconcentram-se nas fendas das rochas, onde a densidade pode ser muitovarivel (p. 133).
Seria, portanto, este tipo de vegetao o predominante na serra, associado aos
afloramentos rochosos, amontoados de blocos desabados e solos rasos com alta
porcentagem de cascalhos.
Freqentes so outras vegetaes que se enquadram na classificao de tipos
fitofisionmicos do Cerrado posposta por Ribeiro & Walter (1998).
Entre as formaes florestais descritas por estes autores possvel encontrar no
Planalto Meridional da Serra do Espinhao as matas de galeria e ciliares - associadas a
cursos dgua em terrenos bem ou mal drenados, a mata seca - associada aos
afloramentos calcrios - e o cerrado. O cerrado, conhecido tambm como floresta
xeromorfa, caracteriza-se por conter espcies que ocorrem no cerrado stricto sensu e em
reas de mata. Apresenta dossel predominantemente contnuo. O extrato arbreo varia
de 8 a 15m, favorecendo a entrada de luminosidade que propicia a formao de estratos
arbustivos e herbceos.
Dentre as formaes savnicas encontra-se o cerrado stricto sensu. Este
caracteriza-se pela presena de rvores baixas, tortuosas, retorcidas, de troncos fendidos
ou sulcados com cascas grossas, e folhas rgidas e coriceas. Pode apresentar variaes
quanto predominncia dos extratos vegetais, sendo que a cobertura arbrea varia de
70% a 5%.
Aparecem ainda o campo sujo e campo limpo, compondo as formaes
campestres conjuntamente com o campo rupestre.
O campo sujo exclusivamente herbceo e arbustivo com espcies apresentadas
de maneira esparsa. O campo limpo caracteriza-se por ser quase que exclusivamente
herbceo, contendo escassos arbustos e ausncia quase completa de rvores. Pode ser
encontrado em diversas posies topogrficas, condies de umidade e profundidade,
sendo, contudo, mais freqentes nas encostas, chapadas e prximo a nascentes. Podem
ser chamados tambm de campo de vrzea quando encontrados em reas planas e
extensas, contguas aos rios e inundadas periodicamente.
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Prancha 2: Aspectos da esculturao do relevo do Planalto Meridional da Serra doEspinhao.
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Prancha 3: Aspectos da vegetao do Planalto Meridional da Serra do Espinhao.
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3.2 - Os aspectos naturais da paisagem da Regio de Diamantina
O clima da regio de Diamantina, assim como em todo o Planalto Meridional da
Serra do Espinhao, caracteriza-se como sendo mesotrmico brando, de acordo com a
classificao de Kppen (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997).
Em termos geolgicos, tomando por base somente a folha Diamantina em escala
1: 100 0002 produzida pelo Projeto Espinhao3, possvel encontrar na regio uma
grande diversidade (Figura 3).
Segundo Fogaa (1997),
Os quatro grandes conjuntos litolgicos que se distribuem pela rea dafolha incluem o Complexo de Gouveia e o Supergrupo Rio Parana,ambos do Arqueano, o Supergrupo Espinhao (ocupandoaproximadamente 80% da folha) e o Grupo Macabas,respectivamente do Proterozico Mdio e Superior. O quadrolitolgico completado por um grupo especial de rochas, osmetadiabsios e metagabros, os quais sob a forma de diques, soleirasou stocks, podem ser visualizados cortando as trs primeiras unidadesmencionadas (p. 1597).
O Complexo de Gouveia constitui-se de afloramentos de granitos e migmatitos.
Na rea de Gouveia estas rochas encontram-se expostas em grande extenso, em uma
depresso que corresponde escavao de gnaisses e xistos, justapostos aos quartzitospor dinmicas tectnicas (SAADI, 1995). Esta rea conhecida como Anticlinrio de
Gouveia, encontra-se perturbada por sistemas de falhamentos de empurro, que
propiciou o desenvolvimento de zonas milonitizadas (FOGAA apud. PEDROSA-
SOARES, 1997).
Fora da depresso de Gouveia esta formao encontrada em diversas
exposies menores.
O Supergrupo Rio Parana um conjunto vulcano-sedimentar, e representadopelo Grupo Costa Sena, que por sua vez subdivide-se na Formao Baro de Guaicu e
na Formao Bandeirinha.
A Formao Baro do Guaicu formada por espessos pacotes de xistos com
cianita e horizontes de rochas metavulcnicas. A Formao Bandeirinha constiuda
2 Tomar-se- como base para uma caracterizao da regio, somente a folha Diamantina em escala 1:100000, j que nesta que se encontra cartografada a maior parte do municpio, e parte dos municpios
vizinhos que este trabalho abarca.3 Projeto de Mapeamento Geolgico do Espinhao, organizado pela COMIG.
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por xistos quartzosos, quartzitos micceos e mais raramente lentes de
metaconclomerado (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997).
O Supergrupo Espinhao
constitui uma unidade geotectnica especialmente atraente do ponto devista geolgico. Na folha Diamantina, numa rea de 2500 km2, soencontradas exposies notveis de todas as unidades que compemeste supergrupo, permitindo a definio de um seqenciamentoestratigrfico completo para o intervalo do Proterozico Mdio(FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997:1607).
Este supergrupo acha-se dividido em oito formaes (Figura1, p. 28): Formao
Sopa-Brumadinho, So Joo da Chapada e Galho do Miguel, todas componentes do
Grupo Guinda; formao Santa Rita, Crrego dos Borges, Crrego da Bandeira,
Crrego Pereira e Rio Pardo Grande, componentes do Grupo Conselheiro Mata.
A Formao So Joo da Chapada normalmente recobre as rochas xistosas. A
seqncia inferior caracterizada por um pacote de at 40 m de quartzitos micceos e
ferruginosos de granulometria grosseira, mais raramente podendo ser fina. Associadas
aos quartzitos ocorrem lentes de metabrechas e metaconglomerado. A esta Formao
tambm esto associados horizontes de rochas originalmente magmticas, conhecidas
como filitos hematticos (PINHO E ABREU, 1997; FOGAA apud. PEDROSA-SOARES,
1997).
A seqncia superior desta formao possui em sua parte basal constituio de
quartzitos mdios a grosseiros, juntamente com estruturas sedimentares de origem
fluvial. A parte mediana desta seqncia caracteriza-se por uma reduo da
granulometria dos quartzitos, sendo freqentes intercalaes com quartzitos micceos e
filitos quartzosos. No topo da formao o material torna a se apresentar com
granulometria mais grosseira (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997).
A Formao Sopa-Brumadinho abrange exposies de metapelitos, quartzitosvariados, metaconglomerados, alm de xistos verdes e filitos hematticos, podendo ser
dividida em trs membros: Datas, Campo Sampaio e Caldeires (no distinguveis no
mapeamento em escala 1:100 000, mas visveis em escala 1:25 000).
O membro Datas constitui a base da Formao Sopa-Brumadinho caracterizada
pela associao de filitos e quartzitos micceos finos. No membro Caldeires
predominam os quartzitos e os metaconglomerados. Os quartzitos aparecem com
granulometria mdia a grosseira e bastante ferruginosos. O membro Campo Sampaiocaracteriza-se pela predominncia de filitos e metassiltitos, alm de quartzitos finos.
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Ainda fazem parte deste membro metabrechas (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES,
1997).
Figura 3: Quadro estratigrfico da Serra do Espinhao - Folha DiamantinaFonte: FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997:1606
A formao Galho do Miguel
A unidade mais expressiva da Folha Diamantina, com extenso emrea que ultrapassa os 1000 km2, ou 1/3 da rea mapeada. Constitui
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sem dvida, a paisagem mais impressionante da Serra do Espinhao,com uma sucesso (...) de hog backs e elevaes que ultrapassam svezes os 1500m de altitude (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES,1997:1617-18). (FOTO 1)
Foto 1: Afloramento da Formao Galho do Miguel - Serra do Pasmar
Apresenta notvel homogeneidade litolgica, caracterizada por uma montona
seqncia de quartzitos de gro-fino a mdio, localmente com delgados nveis de filito.
Os quartzitos aparecem bastante homogneos e com os quartzos correspondendo a 99%
de sua composio petrogrfica (PINHO & ABREU, 1997).
A Formao Santa Rita constituda de metassedimentos, em que so alternados
filitos, metassiltitos e quartzitos finos. Tambm aparecem nesta formao diques de
Arenito (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997).
A Formao Crrego dos Borges possui pacote de quartzitos laminados,
micceos, branco-acinzentados. Aparecem ainda, mesmo que raramente, quartzitos com
feldspato. Assim como os afloramentos da formao Galho do Miguel, os afloramentosdesta formao destacam-se na paisagem por apresentar uma sucesso de hog-backs
descontnuos e grosseiramente alinhados (FOGAA apud. PEDROSA-SOARES, 1997)
A Formao Crrego da Bandeira caracterizada pela alternncia de
filitos/metassiltitos e quartzitos finos, alm da presena de metabrechas recobertas por
filitos hematticos.
A Formao Crrego Pereira composta por quartzitos ricos em feldspatos,
quartzitos puros e quartzticos micceos.
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A Formao Rio Pardo Grande compe um pacote em que se alternam camadas
moderadas de metassiltitos, metargilitos e filitos. Aparecem ainda camadas de quartzitos
finos e lentes de calcrio (que em alguns lugares possuem espessuras significativas).
As rochas metabsicas aparecem em quase toda a folha Diamantina ,sobretudo,
associadas s formaes do Grupo Guinda. Constituem-se basicamente de metagabros e
matadiabsios.
O Grupo Macabas aparece ao longo do trecho do Rio Jequitinhonha, entre
Mendanha e Maria Nunes. representado por quartzitos puros e impuros, mdios a
grosseiros e mal selecionados, s vezes arcosianos, com intercalaes de
microconglomerados - Formao Duas Barras -, sobrepostas a metapelitos com
intercalaes de quartzito e diamictito - Formao Serra do Catuni (FOGAA apud.
PEDROSA-SOARES, 1997).
Em funo da abundante variao litolgica, combinada compartimentao
topogrfica, a vegetao da regio de Diamantina apresenta-se tambm variada. Apesar
de sua vegetao ser caracterizada como predominantemente de campo rupestre, fato
que a regio se configura como um grande mosaico de aspectos fitofisionmicos do
Cerrado, cujas variaes aparecem em forma de encraves.
Considerando o auto grau de antropismo que atuou sobremaneira sobre os
aspectos vegetacionais da Serra do Espinhao como um todo, possvel encontrar ainda
hoje, reas de cerrado - freqentemente associadas s intruses de rochas metabsicas -
reas de cerrado stricto sensu - por vezes tambm associados a diques metabsicos, s
rochas do Grupo Conselheiro Mata e aos granito-gnaisses, xistos e milonitos do
Complexo de Gouveia. Possvel ainda ver, de acordo com a classificao proposta por
Ribeiro e Walter (1998), as formaes campestres associadas aos afloramentos e reas
de vrzea.
Identificar os diversos aspectos que compem a paisagem natural do PlanaltoMeridional da Serra do Espinhao no se resume na listagem de diferentes aspectos por
si s, mas sim de tentar identificar diferentes aspectos naturais que favoreceriam
diferentes recursos para as ocupaes humanas.
No caso das ocupaes pr-histricas, a identificao de importantes sistemas de
drenagens, variadas litologias e formaes vegetacionais pode em muito dizer sobre as
possibilidades de recursos alimentares e de obteno de matria-prima eleitos para
construo de ferramentas, tintas, tecidos, cestarias...
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3.3 - Os aspectos culturais da paisagem do Planalto Meridional da Serra do
Espinhao
A Serra do Espinhao possui inmeros testemunhos da ocupao humana.
Embora bastante valorizada pelos incrveis testemunhos da ocupao histrica
sobretudo colonial -, as paisagens que aqui querem ser entendidas so aquelas que
remontam a tempos bastante idos. Aqui tentaremos olhar para uma paisagem percebida
e construda na pr-histria.
Embora as pesquisas arqueolgicas realizadas de forma sistemtica se restrinjam
a alguns pontos e em funo disto h muitas reas desconhecidas do ponto de vista
arqueolgico - h um grande nmero de vestgios encontrados que denotam a presena
de ocupao humana na pr-histria (JUNQUEIRA E MALTA, 1987; SEDA, 1998;
GUIMARES, 2004;.)
Em funo do aspecto fortemente cisalhado e fraturado da Serra do Espinhao,
decorrente da combinao entre litologia e processos formadores da Serra, esta
apresenta um grande nmero de reas abrigadas disponveis, muitas das quais foram
utilizadas como local para realizao de atividades humanas. Os stios em abrigo so os
mais recorrentes na regio, em funo da facilidade de encontr-los combinada com a
dificuldade de se encontrar stios a cu-aberto.
Na regio da Serra do Cip vrios stios arqueolgicos em abrigo foram
encontrados pela equipe do Setor de Arqueologia da UFMG na dcada de 80, dando
continuidade aos trabalhos iniciados pela Misso Arqueolgica Franco-Brasileira na
dcada de 70. Os trabalhos de prospeco a foram restritos a reas no muito grandes,
localizadas sobretudo nas bordas e sops da serra (PROUS, 2005). Apesar de um nmero
significativo de informaes disponveis nos stios nenhuma publicao e anlise
sistemtica foi feita4
, com exceo para o Grande Abrigo de Santana do Riacho, stio deextrema importncia para a arqueologia no s de Minas Gerais como para a Amrica
do Sul, que acabou por concentrar os esforos.
O Grande Abrigo de Santana do Riacho contm um nmero de informaes
surpreendente para a ocupao da serra, que de acordo com as datas obtidas de
4 Alenice Baeta est realizando projeto de Doutoramento junto ao MAE/USP em que os stios de pinturarupestre da Serra do Cip,assim como outro do Brasil central sero analisados.
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estruturas de combusto encontradas em nvel arqueolgico, tem incio na transio do
Pleistoceno/Holoceno (PROUS, JUNQUEIRA; MALTA; CHAUSSON, 1991).
Dentre os vestgios encontrados em Santana do Riacho, destacam-se a coleo
de aproximadamente 40 esqueletos sepultados, cujas morfologias e dataes so
compatveis com os esqueletos anteriormente encontrados no Carste de Lagoa Santa, e
que correspondem ocupao humana mais antiga da Amrica do Sul, denominada de
Populao de Lagoa Santa (PROUS, 1992/1993).
Alm dos sepultamentos, foram encontrados nas escavaes vestgios da cultura
material, com importantes informaes sobre hbitos alimentares, aspectos simblicos,
organizao do espao do stio e sobre a maneira de realizar ferramentas de pedra
(JUNQUEIRA E PROUS, 1992/93). No Grande Abrigo de Santana do Riacho so
absolutamente notveis os painis de pintura rupestre, nos quais conseguiu-se identificar
aproximadamente 3000 figuras. Foi em funo de grafismos com temticas e estilos
recorrentes representando zoomorfos de maneiras variadas que se definiu a Tradio
Planalto5 (Prancha 4, p 53).
A Tradio Planalto caracteriza-se por figuras predominantemente zoomorfas,
monocrmicas, sobretudo em vermelho e amarelo, podendo ser tambm pretas e
brancas, mas mais raramente. Os animais mais abundantemente grafados so os
cervdeos, os peixes, as aves, os tatus e outros quadrpedes, que por vezes, apresentam-
se associados (PROUS, 1992). Em menor freqncia so encontrados lagartos
atribuveis a esta tradio. Os antropomorfos aparecem de maneira bastante
esquemtica, comumente associados aos zoomorfos, quando estes aparecem com um
trao atravessando seu dorso (representao de caa?)(Prancha 4).
Alm de figuras atribuveis Tradio Planalto, podem ser encontrados em
Santana do Riacho grafismos atribuveis a outras tradies definidas em diferentes
regies do Brasil, como a Tradio Agreste e figuras do Complexo Montalvnia (estastradies sero caracterizadas no captulo seguinte).
Uma das maiores dificuldades na anlise da arte parietal encontra-se na restrita
possibilidade de relacion-la aos vestgios de sub-superfcie. Isto se d em funo da
5 freqente a organizao dos vestgios materiais (cermicas, ferramentas lticas, grafismos rupestres)em agrupamentos, em funo de semelhanas tecnolgicas, temticas, estilsticas, temporais e espaciaisem tradies arqueolgicas. Estas tradies sugeririam filiaes culturais, contudo preciso que estetermo seja discutido e adequado s questes arqueolgicas atuais. Pretende-se no terceiro captulocontribuir para esta discusso, entretanto por questes prticas e didticas o termo tradio continuarsendo empregado.
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dificuldade de datar, de forma absoluta, as pinturas e gravuras. Para se conseguir datar
uma pintura, atravs de mtodos hoje conhecidos, necessrio encontrar disponveis
carbonos restantes das misturas orgnicas utilizadas como tinta. O que infelizmente no
muito comum e fcil, considerando o tempo de exposio das pinturas.
Contudo, no Grande Abrigo de Santana do Riacho conseguiram-se datas limites
para algumas figuras, que seriam caractersticas da Tradio Planalto. As datas no
foram conseguidas a partir da datao das prprias pinturas, mas a partir de nveis
arqueolgicos datados sobre os quais caram blocos pintados, ou blocos que foram
pintados e foram posteriormente recobertos por sedimentos de nveis arqueolgicos
posteriores. Vrias so os casos em que a datao de pinturas desta maneira foi possvel,
indicando uma data antiga para a execuo dos grafismos, ao mesmo tempo que datas
recentes, do ponto de vista arqueolgico, indicam uma manuteno da atividade por um
longo perodo6(PROUS & BAETA, 1992/93).
O conjunto de vestgios do Grande Abrigo de Santana do Riacho , portanto,
singular e de extrema importncia para a compreenso da ocupao pr-histrica
regional. Sendo ainda mais til quando possibilitado o dilogo com outras regies do
pas e de Minas Gerais. Nesta ltima o dilogo com outras regies prximas (centro e
norte mineiros) imprescindvel para que se posta discutir a extenso ou abrangncia
dos repertrios culturais que favoream a discusso sobre territrios, organizao
espacial, mudanas e permanncias visveis na cultura material7.
Outros locais do Planalto Meridional da Serra do Espinhao tm sido alvo de
levantamentos arqueolgicos, sobretudo atravs de projetos envolvendo a chamada
Arqueologia de Contrato, que visam avaliar e conter os impactos causados por
empreendimentos.
Recentemente, foi realizado o plano de manejo para o Parque Estadual do Pico
do Itamb, em que foram identificados alguns stios pr-histricos no entorno da rea doparque. Porm estes no foram ainda objeto de estudos sistemticos (BAETA, 2004a)
6 As datas mnimas conseguidas para as pinturas variam de 8000BP at os ltimos dois milnios (PROUS& BAETA, 1992/3)7 Neste sentido est sendo elaborada junto ao programa de ps graduao em Arqueologia do MAE/USPa tese de doutoramento de Andrei Isnardis, pesquisador colaborador do Setor de Arqueologia da UFMG.Foi tambm enviado para a FAPEMIG (edital 01/2007) para avaliao um projeto intitulado Territrios eAfinidades Culturais na Pr-Histria do centro e norte mineiros, que prev uma abrangente discussoentre os vestgios lticos e rupestres do centro e norte de Minas Gerais.
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O mesmo pode-se dizer para a rea do Parque Estadual do Rio Preto ( BAETA,
2004b), em que vrios stios pr-histricos foram identificados e caracterizados
brevemente.
Prancha 4: Grande Abrigo de Santana do Riacho
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3.4 - Os aspectos culturais da paisagem de Diamantina e municpios vizinhos
3.4.a - Breve histrico das pesquisas na regio
Na dcada de setenta do sculo passado o Setor de Arqueologia da UFMGrealizou algumas prospeces oportunsticas em Diamantina e municpios vizinhos
como Gouveia, Serro e Datas. Alguns abrigos com pinturas rupestres foram localizados,
mas como as pesquisas estavam concentradas no Grande Abrigo de Santana do Riacho e
na regio de Lagoa Santa, nenhum estudo sistemtico foi feito nos stios.
Igualmente se deram as investidas do IAB na dcada de 80, que resultaram no
registro de alguns stios, sem o desenvolvimento de pesquisas.
Somente em 2003 a regio foi alvo de pesquisas sistemticas com o projeto deiniciao cientfica do Centro Universitrio Newton Paiva, financiado pela
FUNADESP, intitulado Diamantina Rupestre: Percepes e construes da paisagem
em uma abordagem histrica, geogrfica e arqueolgica do antigo Distrito
Diamantino8, cujo objetivo era fazer uma anlise das diferentes percepes que o antigo
Distrito Diamantino recebeu ao longo de diferentes perodos, considerando o perodo
pr-histrico como um destes.
Em funo do grande nmero de stios identificados pelo projeto Diamantina
Rupestre em uma rea restrita na qual este realizou prospeces, aps o trmino deste
em 2004, o Setor de Arqueologia da UFMG, com financiamento da Misso
Arqueolgica Franco-Brasileira e da FAPEMIG, deu continuidade s pesquisas na
regio.
Em 2004 foram realizadas tambm prospeces na rea do Parque Estadual do
Biribiri, e na rea de entorno, e nestas foi encontrado um nmero de cinco stios em
abrigo com pinturas rupestres (BAETA, 2004c). Como estas prospeces se referiam ao
levantamento arqueolgico para o plano de manejo, os stios no tiveram seus vestgios
sistematicamente estudados.
8 Este projeto contava com a coordenao do arquelogo, e ento professor do Centro UniversitrioNewton Paiva, Andrei Isnardis, e com a participao dos historiadores James Goodwin Jnior e JosNewton Meneses, e do gegrafo Marcelino Santos Morais. Todos tambm professores da instituio napoca. O projeto contava ainda com quatro alunos bolsistas, sendo dois do curso de Geografia e dois docurso de Histria: Vanessa Linke, Daniela Lage, Cludio Lima, Poliana Valente.
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3.4.b - Os stios e seus vestgios - uma breve caracterizao da ocupao pr-
histrica da regio de Diamantina
Os trabalhos realizados pelo projeto Diamantina Rupestre foram responsveis
pela identificao de doze stios em abrigo com vestgios de pintura rupestre. Aps oincio dos trabalhos realizados pelo Setor de Arqueologia da UFMG o nmero de stios
em abrigo com pintura elevou para 54, localizados nos municpios de Diamantina,
Gouveia, Datas e Serro.
Em alguns destes stios foram realizadas coletas de superfcie, sondagens e
escavaes nas reas internas dos stios e sondagens e coletas de superfcie na rea
externa (entrada), a fim de estender o conhecimento quanto ocupao regional para
alm dos vestgios de pintura.O stio mais intensamente escavado, Lapa do Caboclo, revelou estruturas
importantes para o entendimento da ocupao da regio, alm de acrescer na histria da
regio pelo menos 10 000 anos.
Nas escavaes do stio foram identificados 3 nveis arqueolgicos, em um
restrito pacote sedimentar de aproximadamente 30cm (Figura 4). Os nveis
arqueolgicos correspondem s camadas estratigrficas naturais denominadas camadas
0, 1 e 2 9.
Figura 4: Perfil estratigrfico esquemtico da Lapa do Caboclo
9 As dataes foram obtidas por contagem de C14 (datao radiocarbnica) de carves obtidas deestruturas de combusto e de material vegetal de estrutura de sepultamento, no laboratrio Beta Analytics,amostras n 199504, 199502 e 199503, respectivamente.
Camada 0 sedimento arenoso, rico em matriaorgnica, cor marrom, com presena de materialltico lascado.
Camada 1: de textura arenosa, de cor marromacinzentado. Presena de material ltico, estruturasvegetais e de combusto e sepultamentos datadas em690 BP e 1290 BP.
Camada 2; de textura arenosa, de cor bege. Presenade material ltico e estruturas de combusto datadas
em 1540 BP e 10270BP.
Camada 3; rocha em desagregao. Sem materialarqueolgico.
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Quanto aos vestgios de sub-superfcie da Lapa do Caboclo, estes representam a
maior coleo em contexto obtida para a regio.
Para o nvel mais antigo da ocupao do abrigo os vestgios encontrados
resumem-se a uma boa amostra de material ltico, que parece corresponder a etapas
finais de produo dos artefatos (ISNARDIS & LINKE, 2005), alm de raspadores e uma
ponta de flecha feita em cristal de quartzo e resduos de lascamento compatveis com a
fabricao desta (Prancha 5).
Os nveis mais recentes, para os quais tm-se datas entre 690 e 1240 BP, so
aqueles mais ricos em termos de vestgios, que podem dizer mais sobre as apropriaes
dos recursos naturais.
Nestes nveis foram encontradas estruturas, das mais belas, de sepultamentos
secundrios. Trata-se de estojos de cascas de rvore, que receberam os ossos tratados
- alguns possuem marcas de possvel descarnamento, outros receberam penas, alm de
terem sido tingidos de pigmento ralo vermelho (parece que os ossos foram mergulhados
em tinta vermelha) (Prancha 5, pgina 57).
Ainda nos nveis arqueolgicos recentes, foram encontrados depsitos
vegetais. Estes foram enterrados de forma desestruturada contendo, misturados, palhas,
coquinhos, algumas sementes, incluindo de jatob - em uma das estruturas foi
identificada uma flor de sempre-viva! Estas estruturas pareciam estar cobertas por
cinzas e continham tambm material queimado, sobretudo coquinhos.
Muitas lascas de refugo de elaborao de artefatos lticos - compatveis tambm
com as etapas finais da confeco destes - foram encontradas. Foram tambm
encontrados pequenos instrumentos.
Outros seis stios foram sondados no tendo, contudo, diversidade e riqueza de
material como a Lapa do Caboclo. A Lapa do Boi, apesar de uma coleo significativa
de material ltico, no forneceu nenhum vestgio que no fosse de pedra -provavelmente em funo da umidade do solo do abrigo decorrente da variao do
lenol fretico, que prejudicou a conservao de materiais outros. Os stios Caminho da
Serra I, Lapa da Turma, Lapa Pintada de Datas e Lapa de Moiss muito pouco
ofereceram. O stio denominado Lapa do Peixe Gordo apresentou algumas fogueiras
pequenas, das quais foram coletadas amostras de carvo para serem datadas. Em funo
da restrita rea abrigada com sedimento, pouco material foi encontrado em contexto
estratigrfico.
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Prancha 5: Vestgios encontrados na Lapa do Caboclo e outros stios da regio de Diamantina.
Desenho: Adriano Ca valho
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Apesar destes stios no apresentarem muita informao em sub-superfcie, vem
deles a coleo de instrumentos e lascas lticas coletadas em superfcie (em torno de 300
peas). Por serem a maior coleo de instrumentos obtidos estas peas esto sendo
sistematicamente analisadas por pesquisadores do Setor de Arqueologia da UFMG.
Incluindo nestas anlises o estudo de micro-vestigios10 de uso das peas.
Inconteste a notvel presena e importncia dos vestgios de pintura rupestre da
regio, que no se restringem somente Lapa do Caboclo. Estes vestgios sero
apresentados no captulo que se segue, uma vez que so estes as intervenes que sero
consideradas como guias para uma construo pretrita da paisagem.
10 Estas anlises, chamadas de traceologia, esto sendo realizadas por Mrcio Alonso, e iro compor asdiscusses que esto sendo elaboradas no projeto de mestrado deste, realizada junto ao programa de ps-graduao em antropologia da FAFICH.