Cap 5 - Princípios Básicos de Mecânica das Rochas - 2009
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Princípios Básicos de Mecânica das Rochas
Capítulo 5
Anna Laura L. S. Nunes
2009 .
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 78
Capítulo 5 Propriedades de Resistência e Deformabilidade de Descontinuidades 5.1 Características Geológico - Estruturais de Descontinuidades Descontinuidades : microfissuras fissuras juntas planos de acamamento fraturas falhas
As descontinuidades afetam as propriedades de resistência, deformabilidade e
permeabilidade do maciço rochoso.
Características das Descontinuidades: orientação, espaçamento, persistência,
rugosidade, resistência da parede, abertura, permeabilidade, número de famílias,
tamanho de bloco (Figura 4.1)
Figura 4.1 . Características das descontinuidades.
PreenchimentoFamília de
descontinuidades
Rugosidade
SONDAGEM OU TRENA
Persistência
Tamanho de Bloco
Percolação
Resistênciadas
Paredes
Família de descontinuidades
Abertura Mergulho Direção
N
Espaçamento
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 79
5.1.1 Orientação da Descontinuidade - Atitude da descontinuidade no espaço, medida pela direção do mergulho (dip
direction), direção ou azimute (strike) e ângulo de mergulho (dip), conforme
esquematizado na Figura 4.2.
- Direção (strike): Linha de intersecção de um plano inclinado obliquamente com o
plano de referência horizontal; Forma ângulos retos com o plano de mergulho e
com a direção do mergulho.
- Mergulho (dip): Máxima inclinação do plano estrutural da descontinuidade em relação
à horizontal.
- Direção de Mergulho (dip direction): direção da horizontal traçada pela linha
de mergulho medida no sentido horário a partir do Norte.
Figura 4.2. Esquema de orientação da descontinuidade.
N
Direção
domergulho
Mergulho
Dip
Direção
Strike
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 80
5.1.2 Espaçamento da descontinuidade Corresponde à distância de separação entre descontinuidades adjacentes (Figura 4.3).
É medida em afloramentos, testemunhos (Fitas graduadas) e furos de sondagem
(Câmeras televisivas e fotográficas, Periscópios).
A Tabela 4.1 apresenta a classificação de espaçamento das descontinuidades
conforme proposto pela ISRM (1981).
Figura 4.3. espaçamento de descontinuidades medido pelo método Scanline de Brady
& Brown (1993).
Tabela 4.1. Classificação de espaçamentos entre descontinuidades (ISRM, 1981)
Descrição da Descontinuidade Espaçamento (mm)
Extremamente pouco espaçada Muito pouco espaçada
Pouco espaçada Moderadamente espaçada
Espaçada Muito espaçada
Extremamente espaçada
< 20 20 - 60 60 - 200 200 - 600 600 - 2000 2000 - 6000
> 6000
D
X
X
Ponto de Terminação
Descontinuidades
L
Trena
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 81
5.1.3 Persistência da Descontinuidade
Corresponde à extensão em área (ou dimensão) da descontinuidade. É estimada
pelo comprimento dos traços das juntas nas faces dos maciços rochosos (Figura
4.4)
Figura 4.4. Persistência de descontinuidades (ISRM, 1981)
- Categorias típicas: Persistente; Sub-persistente; Não persistente (Tabela 4.2)
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 82
Tabela 4.2. Classificação da descontinuidade em relação à persistência (ISRM, 1981).
Grau da Persistência Comprimento da descontinuidade
(m)
Muito baixa Baixa Média Alta
Muito alta
< 1 1 - 3
3 - 10 10 - 20 > 20
5.1.4 Rugosidade da Descontinuidade
- Caracterizada por: ondulação em grande escala; dilatação no deslocamento
desnivelamento em pequena escala; trituração no desloc.
- Medição por bússolas e clinômetros de bolso (métodos pouco sofisticados),
conforme ilustrado na Figura 4.5.
Figura 4.5. Escala de medida da rugosidade de descontinuidades.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 83
- Classificação da rugosidade através de perfis típicos (ISRM, 1981): Degrau,
ondulada; planar (Figuras 4.6 e 4.7).
Figura 4.6. Classificação da rugosidade da descontinuidade (ISRM, 1981)
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 84
Figura 4.7. Classificação da rugosidade da descontinuidade (ABGE, 1984).
5.1.5 Abertura da Descontinuidade
- Distância perpendicular de separação entre as paredes de uma descontinuidade
aberta cujo interior apresenta água ou ar (Figura 4.7).
Recortada
Ondulada
Plana
Rugosa
Rugosa
Rugosa
Lisa
Lisa
Lisa
Polida
Polida
Polida
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 85
Largura : Descontinuidade com preenchimento sólido
Abertura : Descontinuidade sem preenchimento
Figura 4.7. Representação esquemática de abertura e largura da descontinuidade.
A Tabela 4.3 apresenta a classificação de abertura da descontinuidade.
Tabela 4.3. Classificação de abertura da descontinuidade (ISRM, 1981)
Abertura Descrição Grupo
< 0,1 mm 0,1 - 0,25 mm 0,25 - 0,5 mm
Muito estreita Estreita
Parcialmente estreita
Feições fechadas
0,5 - 2,5 mm 2,5 - 10 mm
> 10 mm
Aberta Moderadamente aberta
Larga
Feições entreabertas
1 - 10 cm
10 - 100 cm > 1 m
Muito larga Extremamente larga
Cavernosa
Feições abertas
Descontinuidadefechada
Descontinuidadeaberta
Descontinuidadepreenchida
Abertura Largura
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 86
5.1.6 Material de Preenchimento da Descontinuidade
- Material que ocupa a distância entre as paredes da descontinuidade (largura)
- Tipo de material afeta a : Resistência ao cisalhamento
Deformabilidade
Permeabilidade
- Fatores condicionantes mais importantes do comportamento da descontinuidade:
Mineralogia
Distribuição granulométrica
Razão de pré-adensamento do material de preenchimento
Teor de umidade e permeabilidade
Deslizamento cisalhante prévio
Rugosidade
Largura da parede da descontinuidade
Estado de fraturamento
esmigalhamento
5.1.7 Número de Famílias e Tamanho de Bloco
A classificação de maciços rochosos pode ser realizada através das características dos
blocos, conforme Tabela 4.4 (ISRM, 1981) e esquema da Figura 4.8.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 87
Tabela 4.4. Classificação do maciço rochoso em função do tipo das características dos blocos (ISRM, 1981)
Maciço Rochoso Características dos Blocos
Maciço Poucas juntas ou grande espaçamento
Em blocos Blocos aproximadamente equidimensionais
Tabular Uma dimensão bastante menor que as outras
Colunar Uma dimensão bastante maior que as outras
Irregular Grandes variações de tamanho e formato
Britado Extremamente fraturado
Figura 4.8. Características dos blocos em maciços fraturados.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 88
5.2 Amostragem de Descontinuidades Técnicas para amostragem das descontinuidades para ensaios de laboratório:
1- Perfuração de grande diâmetro orientada longitudinalmente ou perpendicularmente à descontinuidade (Figura 4.9.a); 2 - Extração de blocos com a descontinuidade não perturbada (Figura 4.9.b); Obs: recomenda-se a instalação de chumbadores
(a) Perfuração de grande diâmetro perpendicular ao plano da junta
(b) Extração de bloco com junta não perturbada Figura 4.9. Amostragem de descontinuidades.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 89
Técnicas especiais: desenvolvimento e/ou moldagem de juntas artificiais
- Criação da junta por ensaio de tração ou compressão triaxial (Figura 4.10);
- Moldagem das superfícies da descontinuidade natural através de borracha ou silicone.
Figura 4.10. Criação da descontinuidade por meio de ensaio de compressão triaxial de rocha intacta.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 90
5.3 Ensaios de Resistência de Descontinuidades 5.3.1 Ensaio de Cisalhamento Direto
- amostra cimentada nas partes inferior e superior da caixa cisalhante
- superfície da descontinuidade coincide com o plano de cisalhamento do
equipamento (Figura 4.10)
Figura 4.10. Equipamentos para ensaios de cisalhamento direto: (a) bancada e (b)
portátil.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 91
5.3.2. Ensaio de Compressão Triaxial - amostra de rocha contendo a descontinuidade inclinada de ϕ em relação ao
eixo longitudinal (Figura 4.11 e Figura 4.12). - 0o < ϕ < 70o ocorrência de deslizamento pela junta
critério de resistência da descontinuidade
Figura 4.11. Ensaio triaxial de amostra com descontinuidade.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 92
Figura 4.12. Representação esquemática da mostra com descontinuidade no ensaio de
compressão triaxial.
5.3.3 Ensaio Triaxial de Mútiplos Estágios
- Aumento da pressão confinante inicial σ3,0 para um valor σ3,1 no momento em
que se inicia o deslizamento pela junta (ponto A) representa o primeiro
estágio; aumento de σ3,1 para σ3,2 configura o segundo estágio (ponto B) e
assim sucessivamente (Figuras 4.13 e 4.14).
Figura 4.13. Reprrsentação do ensaio triaxial de múltiplos estágios para
descontinuidade.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 93
Figura 4.14. Curvas Tensão VS deformação axial e Envoltórias de resistência do ensaio
triaxial de múltiplos estágios.
5.3.4 Ensaio de rampa (Tilt test)
Determinação do ângulo de atrito residual da superfície da descontinuidade (Figura
4.15).
Figura 4.15. Ensaio de rampa executado em descontinuidade de gnaisse alterado.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 94
5.4 Critérios de Resistência de Descontinuidades
5.4.1 Critério de Mohr-Coulomb
Empregado para condições de descontinuidades planas (Figura 4.16)
Figura 4.16. Critério de Mohr Coulomb para juntas lisas e planas.
Para pico : τ = cj + σ tan φj
cj = intercepto coesivo (=coesão do material de cimentante ou de
preenchimento da junta) ;
φϕ = ângulo de atrito.
Para estado residual : τ = σ tan φj res
cj res = 0 coesão totalmente destruída
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 95
5.4.2 Critério de Patton (1966)
- presença de rugosidades regulares (inclinação i em relação à direção da
tensão cisalhante) nas superfícies da descontinuidade (Figura 4.17).
- ângulo de atrito efetivo da superfície de deslizamento é a soma do ângulo de
atrito intrínseco da junta (φμ) e do ângulo da rugosidade (i) :
φef = φb + i
φb�= 21o a 44o (30o , Goodman, 1989)
φb = baixos para material de preenchimento argiloso (6o)
i = 0o (parede lisa) a mais de 40o (função da tensão normal reduzida)
(φb+ i)
τ
σn
resj
jrans tan)itan(
cφφ
σ−+
=
Figura 4.17. Critério de Patton para descontinuidades rugosas.
τ = σ tan (φj + i) , para σ < σtrans
τ = cj + σ tan φres , para σ > σtrans
resj
j
tan)itan(c
φ−+φ=τ
σtrans
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 96
5.4.3. Critério de Barton (1974)
τ = σ tan [ φj + JRC log10 ( JCS ) ] σ JCS : Joint Compressive Strength, coeficiente de resistência à compressão da junta
(determinado através da Figura 4.18)
JCS ~ σc para superfície de rocha não alterada
JCS ~ α σc para superfície de rocha alterada
JRC : Joint Roughness Coefficient - Coeficiente de rugosidade da junta
(perfis típicos ilustrados na Figura 4.19)
φj : ângulo de atrito da junta
Limites de utilização:
φj + JRC log10 ( JCS ) ≤ 70o σ
0,01 < σ < 0,3 σc
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 97
JCS Determinado com ensaio de Martelo Schmidt
Figura 4.18. Determinação de JCS através do ensaio com martelo Schmitd.
Princípios Básicos de Mecânica das Rochas ALLSNunes, 2009 98
0 5 cm 10
JRC = 0 - 2
JRC = 2 - 4
JRC = 4 - 6
JRC = 6 - 8
JRC = 8 - 10
JRC = 10 - 12
JRC = 12 - 14
JRC = 14 - 16
JRC = 16 - 18
JRC = 18 - 20
Rugosidade da superfície JRC
Figura 4.19. Determinação por exame visual do coeficiente de rugosidade de junta. JRC.