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Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Arte, Inglês e Língua Portuguesa: 8o ano do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2013.il. (EJA – Mundo do Trabalho)

Conteúdo: Caderno do Estudante. ISBN: 978-85-65278-57-7 (Impresso) 978-85-65278-64-5 (Digital)

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Artes – Estudo e ensino 3. Língua Inglesa – Estudo e ensino 4. Língua Portuguesa – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.

CDD: 372

FICHA CATALOGRÁFICA

Sandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de consulta impressa neste material.

Geraldo AlckminGovernador

Luiz Carlos Quadrelli Secretário em Exercício

Antonio Carlos Santa Izabel Chefe de Gabinete

Juan Carlos Dans SanchezCoordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante

Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Geraldo Biasoto Jr.

Diretor Executivo

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Superintendente de Relações Institucionais e Projetos Especiais

Coordenação Executiva do Projeto José Lucas Cordeiro

Coordenação TécnicaImpressos: Selma Venco

Vídeos: Cristiane Ballerini

Equipe Técnica e PedagógicaAna Paula Lavos, Clélia La Laina, Dilma Fabri Marão Pichoneri, Emily Hozokawa Dias, Fernando Manzieri Heder, Jossélia Aparecida F. C. de Fontoura, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Paula Marcia Ciacco da Silva Dias, Silvia Andrade da Silva Telles e Walkiria Rigolon

AutoresArte: Eloise Guazzelli e Gisa Picosque. Ciências: Gustavo Isaac Killner. Geografia: Mait Bertollo. História: Fábio Luis Barbosa dos Santos. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Claudio Bazzoni. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco.

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Presidente da Diretoria Executiva

Hugo Tsugunobu Yoshida Yoshizaki

Vice-presidente da Diretoria Executiva

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Gestão de Comunicação

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Gestão EditorialDenise Blanes

Equipe de Produção Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira

Editorial: Adriana Ayami Takimoto, Airton Dantas de

Araújo, Beatriz Chaves, Camila De Pieri Fernandes,

Carla Fernanda Nascimento, Célia Maria Cassis,

Cláudia Letícia Vendrame Santos, Gisele Gonçalves,

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Lucas Puntel Carrasco, Mainã Greeb Vicente,

Patrícia Maciel Bomfim, Patrícia Pinheiro de Sant’Ana,

Paulo Mendes e Tatiana Pavanelli ValsiDireitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,

Beatriz Blay, Olívia Vieira da Silva Villa de Lima,

Priscila Garofalo, Rita De Luca e Roberto PolacovApoio à produção: Luiz Roberto Vital Pinto,

Maria Regina Xavier de Brito, Valéria Aranha e

Vanessa Leite RiosProjeto gráfico-editorial: R2 Editorial e Michelangelo

Russo (Capa)

CTP, Impressão e Acabamento

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

Coordenação Geral do Projeto

Juan Carlos Dans Sanchez

Equipe Técnica

Cibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.

Concepção do programa e elaboração de conteúdos

Gestão do processo de produção editorial

Caro(a) estudante,

É com grande satisfação que apresentamos os Cadernos do Estudante do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em aten-dimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais necessidades de conhecimento.

Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.

O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um futuro melhor.

Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para tratar de questões relacionadas a esse tema.

Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas. Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.

Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência.

Bons estudos!

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

Sumário

Arte .........................................................................................................................................7Unidade 1

A materialidade nas criações artísticas 9

Unidade 2 O corpo como suporte e matéria da arte 29

Unidade 3 Matéria e materiais inusitados na arte 45

Unidade 4 @rte e tecnologia: outros modos de materialidade 63

Inglês ................................................................................................................................ 75Unit 1

Food 77

Unit 2 The origins of work 91

Unit 3 Work safety 103

Unit 4 Common work issues 113

Língua Portuguesa ........................................................................................127Unidade 1

Sentidos dentro e fora dos textos 129

Unidade 2 Fio de histórias... 153

Unidade 3 Cartas: seus autores e seus leitores 165

Unidade 4 Pesquisando o mundo em dicionários e enciclopédias 187

Unidade 5 O que fazem os poetas com as palavras? 203

Língua Portuguesa

8Caro(a) estudante,

Este Caderno de Língua Portuguesa tem o objetivo de levar você a apro-fundar seus conhecimentos nas práticas de linguagem como leitura, fala, escuta e escrita. Espera-se, desse modo, que você possa ampliar seu envolvi-mento com as palavras e ter mais confiança para se expressar e interpretar os diversos textos, nos mais variados contextos, tendo melhor participação social como cidadão.

A construção de sentidos dentro e fora dos textos e a compreensão de como os autores entrelaçam ideias para ligar um trecho do texto ao trecho seguinte em composições escritas serão trabalhadas na Unidade 1. Nela, você estudará os conceitos de coerência e coesão, descobrindo por que um texto é muito mais que a soma de um conjunto de palavras e frases.

Na Unidade 2, você aprofundará seus estudos sobre o conto, um gênero bastante versátil. Lembrará o que acontece com contos da tradição oral que ganham versão escrita e poderá entrar em contato com os que já “nasceram” escritos. Terá a oportunidade de ler e interpretar um conto e diversos minicontos – criações com o mínimo de palavras, mas que produ-zem enorme impacto no leitor.

Logo depois, na Unidade 3, você vai escrever, ler e analisar alguns gêne-ros de cartas, bem como conhecer características, estilos, valor histórico e outras informações sobre elas, que fazem com que a correspondência, ainda hoje, exerça uma importante função na vida das pessoas. Revisando as car-tas que vai redigir, além de aprimorar a produção escrita, aprenderá tam-bém a aplicar boas estratégias para reclamar e solicitar seus direitos.

Na Unidade 4, você vai ler e comparar diferentes verbetes. Nela, você verá que, quando se quer aprender algo de maneira mais formal e sistematizada, você pode pesquisar em obras de referência, como dicionários e enciclopédias, que reúnem os conhecimentos produzidos pela humanidade.

Por fim, na Unidade 5, você vai ler, divertir-se, emocionar-se e aprender com os poemas – um dos modos humanos de interpretar a vida e seus sen-tidos. Vai ainda lidar com alguns recursos textuais que os poetas utilizam para expressar, em versos, as mais diversas emoções, de modo diferente do que fariam na linguagem cotidiana. Para aprender a construir sentidos nos textos desse gênero, cuidadosamente escritos para provocar reflexão, encan-tamento e emoção, será convidado a reconstruir e explorar, na leitura de poemas antigos e contemporâneos, as estratégias textuais dos poetas.

Bons estudos!

1 SentidoS dentro e fora doS textoS

A primeira coisa importante a dizer sobre um texto é que ele é produto da intenção de alguém que o fala ou escreve.

ABREU, Antônio Suárez. Texto e gramática: uma visão integrada e funcional para a leitura e a escrita. São Paulo: Melhoramentos, 2012, p. 17. (Coleção Como Eu Ensino).

Nesta Unidade, você vai estudar coerência e coesão textuais em atividades de leitura e análise de textos de diferentes gêneros. Verá como os sentidos de um texto se constroem dentro e fora dele – na relação entre autor e leitor –, e como isso é importante tanto para escrever como para ler. Além disso, conhecerá diferentes estraté-gias que os autores utilizam para “costurar” as ideias em seu texto, “amarrando” um termo a outro, substituindo-o e estabelecendo rela-ções entre um trecho e os seguintes.

Para iniciar...

Você sabia que a palavra “texto”, em seu sentido original, tem relação com tecido, pano, estofo? Que significa obra feita de muitas partes reunidas; ou, ainda, entrançado, entrelaçado?

Converse com os colegas e o professor.

• O que significa afirmar que um time de futebol, de basquete ou de outro esporte coletivo é um time coeso? Times coesos são fáceis de ser derrotados? Por quê?

• Ao costurar um tecido, entrelaçam-se os fios até que as partes do pano fiquem bem “ligadas”. Que cuidados, em sua opinião, deve-se ter para entrelaçar/unir as palavras em um texto?

• Um roteiro de uma novela ou de um filme é construído com cortes e vínculos entre cenas e personagens da história. Quando os cor-tes são bem-feitos, é mais fácil compreender a história? Por quê?

• O que você entende por “coerência”? O que, em sua opinião, significa ter uma atitude coerente?

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• É possível que algumas pessoas considerem uma situação coeren-te, enquanto outras a consideram incoerente? Por quê?

• Quando alguém afirma que um texto não tem coerência, o que você acha que essa pessoa quer dizer?

O entrelaçamento do texto

Apesar de você se deparar a todo instante com textos diversos, na escola e fora dela, definir o que é um texto não é tarefa simples. Para dizer o que ele significa, é preciso considerar uma porção de fatores. O primeiro é que texto é um objeto simbólico que sempre precisa ser interpretado. Complicado? O que significa ser “um objeto simbó-lico”? Por que sempre precisa ser interpretado?

Um texto é considerado “um objeto simbólico”, porque é uma representação; ou seja, o sentido (ou os sentidos) não está(ão) só nele, mas também no que é possível desvendar por trás dele, na interpretação. Por exemplo, se você escutasse a frase “Eu adoro tomar sorvete”, qual seria sua interpretação para a palavra “sor-vete”? E na frase “Se fosse possível viver uma próxima vida, toma-ria mais sorvete e menos sopa de lentilha”? Você acha que essa pala-vra é usada com o mesmo sentido?

Dizer “Se fosse possível viver uma próxima vida, tomaria mais sorvete e menos sopa de lentilha” significa mais do que manifestar uma preferência alimentar. Nesse caso, “sorvete” representa os pra-zeres da vida.

Assim, embora expressem as intenções do autor, os sentidos de um texto nunca estão totalmente prontos. No caso específico de textos verbais – orais ou escritos –, o sentido dos trechos que os compõem depende do sentido dos demais com que eles se rela-cionam e do contexto em que se inserem. Contexto é tudo o que acompanha e envolve um fato ou uma situação. Desse modo, em um texto verbal, saber quem é o autor, que posição social ele ocupa, em que situação escreve, para quem, em que época, em que veículo ou instituição publica o texto, com que finalidade o criou – tudo isso – deve fazer parte da leitura.

Além disso, a construção dos sentidos de um texto sempre depende da interpretação do leitor (ou ouvinte), que a faz com base em seus conhecimentos pessoais, adquiridos por meio de experiências e convívio social.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Atividade 1 É coerente ou não?

1. Você vai ler e analisar algumas tirinhas.

a) Você costuma ler tirinhas ou histórias em quadrinhos? Cos-tuma se divertir com a maneira como elas abordam os mais variados temas relacionados à vida humana? Por quê?

b) O que há de particular na maneira como tirinhas e histórias em quadrinhos abordam esses temas?

2. Leia a tirinha de Fernando Gonsales e responda:

a) Você achou a tirinha engraçada? Por quê?

b) Você acha que a centopeia tem razão de ficar chateada por não ter ganhado o papel principal da peça? Por quê?

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Língua Portuguesa – Unidade 1

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c) Em sua opinião, alguém que não conhecesse a figura do saci--pererê acharia a tirinha divertida? O que essa pessoa não compreenderia?

d) A tirinha pode ser interpretada de muitas maneiras? Que in-terpretações poderiam ser feitas?

e) Em sua opinião, essa tirinha foi produzida com que finalidade?

3. Em Diga-me com que carro andas e te direi quem és!, Caco Galhardo (2001) criou a série 36 jeitos de ver um mosquito esmagado na parede, que apresenta 36 leituras diferentes para um mesmo acontecimento: um mosquito esmagado na parede. Conheça algumas dessas leituras.

Fica a dica

Para dar boas gargalhadas, você pode acessar sites ou consultar livros que trazem outras tirinhas. Aí vão algumas sugestões:

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: Com mil demônios!! São Paulo: Devir, 2002.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: Vá pentear macacos! São Paulo: Devir, 2004.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: Em boca fechada não entra mosca. São Paulo: Devir, 2008.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: Minha mulher é uma galinha. São Paulo: Devir, 2008.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: Um tigre, dois tigres, três tigres. São Paulo: Devir, 2009.

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea – site oficial. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/niquel/>. Acesso em: 26 out. 2012.

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

GALHARDO, Caco. Diga-me com que carro andas e te direi quem és! São Paulo: Via Lettera, 2001, p. 27-29.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Considerando que você, como leitor, constrói sentidos para o que lê, responda:

a) Das leituras apresentadas, há alguma que você achou incoerente? Por quê?

b) Qual leitura você faria do acontecimento “um mosquito es-magado na parede”?

c) Como um professor leria esse acontecimento?

d) Como você explica que um mesmo fato possa ter tantas leituras?

e) Em sua opinião, com qual intenção Caco Galhardo criou a série 36 jeitos de ver um mosquito esmagado na parede?

Coerência

Quando se fala em coerência, é possível que a primeira ideia que venha à cabeça seja a de ligação, nexo, lógica ou harmonia entre fatos ou ideias. Para um texto ser coerente, portanto, é preciso que o leitor identifique uma interligação de ideias que se complementam. Por exem-plo, não há lógica na frase “Os salários são baixos, porque a compra de revistas não é frequente”. Mas por quê? Do modo como está escrita, a frase leva a pensar que, se fossem compradas mais revistas, os salários aumentariam, o que é incoerente. As pessoas precisam de dinheiro para comprar revistas, e, se o salário delas é baixo, o mais provável é que irão usá-lo para comprar outras coisas.

Você sabia que a piada é um gênero textual muito popular e cultivado universalmente?Já no século XVII, circulavam pela Europa tratados sobre o ridículo – que, em termos etimológicos, significa “risível”, “jocoso”, “absurdo”, “extravagante”. Em geral, a piada apresenta temas estereotipados e proibidos (politicamente incorretos). Na verdade, é só quando os temas controversos se tornam populares e passam a ser discutidos com frequência que as piadas começam a aparecer.

As piadas são textos comumente curtos, com diálogo e jogos de linguagem. Sua principal característica é a quebra da expectativa do leitor e a reação provocada por esse fato. Por isso, elas exigem conhecimento do tema de que tratam, bem como agudeza por parte do ouvinte ou do leitor, pois a piada perde a graça quando precisa ser explicada. O mesmo acontece com as tirinhas.

Língua Portuguesa – Unidade 1

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É importante perceber que a coerência não depende apenas do que está escrito no texto, mas também dos conhecimentos do leitor que vai interpretá-lo.

Nesse sentido, coerência tem estreita relação com interpretação, embora o que você vá interpretar também dependa das pistas que lhe são dadas, no texto, pelo autor. Na leitura da tirinha de Fernando Gonsales que você estudou na Atividade 1, por exemplo, só entende a expressão facial e o “silêncio” da baratinha no último quadro quem conhece a figura do saci-pererê. Então, para construir um sentido, cada leitor ajusta o texto ao conhecimento de que dispõe.

Atividade 2 Mais coerência...

1. Em dupla, encontrem o trecho no bloco 2 que dá continuidade coerente a cada texto do bloco 1.

Bloco 1

a) “Olha a quantidade de propaganda de vitamina que você vê na televisão. [...]” (Drauzio Varella, médico).

CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 22.

b) “Eu sei que agora pode parecer sonho defender as etnias. Que estamos em um mundo universalizado, não existem nem os países, não há fronteiras, elas são informatizadas. Na Europa, na Ásia, na África... Eu auguro uma mundialização no bom sentido das palavras. [...]” (Dom Pedro Casaldáliga, bispo da Igreja Católica).

CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela, 2001, p. 45.

c) “Isso é uma crítica que eu faço. Acho que a imprensa con-tribui para esse quadro de violência fortemente. [...]” (Caco Barcellos, jornalista).

CAROS Amigos. As grandes entrevistas de Caros Amigos, n. 2. São Paulo: Casa Amarela: 2001, p. 18.

d) “Aquele foi talvez o momento de maior aprendizado que tive na vida. [...]” (Sócrates, ex-jogador de futebol).

CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 45, p. 35, dez. 2000.

e) “Eu estou aqui dentro de uma revista atípica, mas a gente sabe que o jornalismo é uma forma de ficção que tem suas regras próprias, não é? [...]” (Augusto Boal, ex-diretor de teatro).

CAROS Amigos, São Paulo, ano IV, n. 48, p. 32, mar. 2001.

AugurarDesejar.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Bloco 2

( ) “[...] Porque nunca, até agora, a humanidade se sentiu de fato una, com todas as desgraças, tensões e diferenças. Acre-dito que a gente possa cada vez mais se sentir parte da mes-ma humanidade, sabendo também aceitar as diferenças das culturas. Se passarmos por cima das diferenças das culturas, vamos ter uma humanidade sem alma.”

( ) “[...] Claro que você tem de hierarquizar responsabilidades, não sei quem é o maior responsável, chutaria primeiro o empresa-riado, os concentradores de renda. Mas acho que a imprensa vem logo ali atrás. Justiça, eu acho que é devedora: a renda de 97 por cento da população carcerária brasileira é de dois salários-mínimos. Que justiça é essa, não é? Eu quero culpar só a Justiça? Claro que não. Ela é a ponta.”

( ) “[...] Uma mesma notícia, se você põe na primeira página em letras garrafais, ganha uma importância extraordinária; mas, se você põe em letras minúsculas na sétima página, ela vira uma banalidade. Então, o jornalismo fabrica e a gente sabe que o jornalismo no Brasil é possuído por algumas poucas famílias, e essas poucas famílias dizem o que é bom e o que é ruim.”

( ) “[...] Porque essa é a vantagem do esporte, te coloca junto com outras realidades sociais. Antes disso, não, porque no colé-gio particular todo mundo está no mesmo nível, mas, quando fui para o Botafogo com 15 anos, comecei a conviver com aquilo de que só tinha ouvido falar: fome, desemprego, des-nutrição. E muito proximamente, porque sempre estava muito junto das pessoas.”

( ) “[...] Tudo isso é só marketing, mais nada, não há nenhuma evi-dência científica – respeitados os limites da desnutrição, lógico –, nenhum estudo mostrando que você consegue melhorar seu nível de saúde com vitaminas, ou prevenir qualquer doença.”

2. O que você e seu colega observaram nos textos que permitiu a vocês encontrar os trechos correspondentes?

Língua Portuguesa – Unidade 1

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Atividade 3 Conexões perigosas

1. Leia, a seguir, um dos sentidos da palavra “coerência”:

Relação lógica e harmônica entre ideias, atos, situações etc. [...]

© iDicionário Aulete: <www.aulete.com.br>.

Verifique em quais das frases a seguir está faltando coerência. Assi-nale-as.

a) Os salários são baixos, porque a compra de revistas não é frequente.

b) Meu time de futebol jogou muito mal ontem, mas perdeu o jogo.

c) Estabelecer o que é beleza tem proporcionado, no decorrer da história, mais controvérsias do que consenso.

d) A leitura exige um esforço de concentração que os programas de TV não exigem, por isso é mais fácil ler do que assistir à TV.

e) No mundo do consumo, os comerciais de TV por si sós não garantem o sucesso de venda de produtos, pois cada vez mais são utilizados pelos anunciantes.

2. Agora, reescreva as frases que você assinalou, fazendo as alterações que julgar necessárias, para torná-las coerentes.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Atividade 4 Hora da incoerência

1. Leia a Carta à Ana Elvira e responda às questões propostas.

Querida Ana Ervilha

Hoje cedo vi lágrimas nos seus alhos. Que

couve? Algum pepino?

Me conte, andaram falando abobrinhas na tua

segurelha? Ou foi aquela velha escarola da Betty

Rabs que disse que você engordou? Que quiabos!

Você não melancia uma coisa dessas! E, além

disso, veja quem fala: você não vê que ela é meio

acelga? Olhe, tenho um remédio que é batata nes-

ses casos. Diga àquela distinta cenoura que você

é feliz como é e mande-a às favas! Não a deixe

ganhar essa bertalha tão fácil, ela merece uma

surra de chicória! Tomate que você melhore logo!

Quero ver o sorriso voltar às suas alfaces! Se pre-

cisar de alguém para ajudá-la a descascar mais

algum abacaxi, conte cominho.

Sua amiga do coração (de alcachofra),

Horta Alice

PAMPLONA, Rosane. Histórias de dar água na boca. São Paulo: Moderna, 2008, p. 34. (ênfases adicionadas)

a) Você achou a carta engraçada? Por quê?

Língua Portuguesa – Unidade 1

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b) O que pode ser considerado incoerente nela?

c) Algumas das palavras destacadas fazem parte de expressões que você usa no dia a dia? Se sim, quais?

d) Em sua opinião, como o leitor da Carta à Ana Elvira conse-gue perceber o que se pretende dizer nos trechos em que há termos destacados?

e) Com que intenção você acha que essa carta foi escrita? Você ainda diria que ela é incoerente?

2. Que relações é possível estabelecer entre a Carta à Ana Elvira e a obra Verão, de Giuseppe Arcimboldo, na página seguinte?

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Giuseppe Arcimboldo. Verão, 1573. Óleo sobre tela, 76 cm × 64 cm. Museu do Louvre, Paris, França.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

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Quando se refazia do susto, o guerreiro Hasan viu a jovem Fátima, que tanto amava. Ele a seguiu até que ela chegou a um jardim cheio de pequenas flores coloridas.

Coesão

Você já viu que a palavra “texto” tem relação com tecido, com entrelaçamento. Viu também que, sempre que tentamos construir sentidos para o que lemos, ouvimos e vemos, é preciso recorrer aos nossos conhecimentos. Agora, você vai compreender como acontece o encadeamento (a amarração) e a estruturação dos termos que com-põem o texto: a coesão textual.

Coesão relaciona-se com união, com ideias amarradas ou ligadas. Para que esse processo ocorra, é preciso observar duas coisas: a maneira como em um texto um termo liga-se a outro, substituindo-o, retomando-o, ou antecipando-o, e o modo como as ideias progridem no texto.

Observe o exemplo:

Da maneira como está escrita, a frase dá poucas pistas ao leitor. Quem seguiu? Quem chegou a um jardim? Sem que apareçam os ter-mos a que “ele”, “a” e “ela” se referem, não há como saber quem são os envolvidos na situação. Repare agora:

Ele a seguiu até que ela chegou a um jardim cheio de peque-nas flores coloridas.

Agora, com o parágrafo completo, ficou fácil saber a que nomes as palavras destacadas estavam ligadas, ou seja, que palavras substituíam. “Ele” refere-se ao “guerreiro Hasan”; “a” e “ela” evitam a repetição de “a jovem Fátima”. A noção de coesão demonstra que algumas vezes, para interpretar um termo no texto, você precisa pressupor outro.

Atividade 5 Identificando estratégias de coesão I1. Leia o fragmento de texto abaixo e localize os quatro argumentos

que aparecem. Registre-os no quadro da próxima página e diga o que há em comum na apresentação desses argumentos.

VARELLA, Drauzio. Médico de família. Drauzio Varella.com.br.

Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/

wiki-saude/medico-de-familia/>. Acesso em: 26 out. 2012.

(ênfases adicionadas)

[...] esse tipo de médico [médico de família] foi extinto por várias razões. Pri-meiro, porque desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se reuniam em torno do patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo, porque as cidades pacatas nas quais ele se movimentava não existem mais. Terceiro, porque os honorários recebidos por um médico daquele tempo eram suficientes para uma vida confortável, sem precisar de três ou quatro empregos. E, acima de tudo, porque médico de família era privilégio de poucos. [...]

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Argumentos

O que há em comum na apresentação deles

2. Qual dos quatro argumentos apresentados é o mais importante para o autor? Justifique sua resposta.

Língua Portuguesa – Unidade 1

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Estratégias de coesão

Há algumas estratégias de coesão que podem ser utilizadas na hora de escrever um texto e que também são importantes para a interpretação. Em Ainda há tempo?, é possível observar algumas delas e descobrir a lógica por trás de seu uso. Leia o fragmento a seguir, para depois discutir o que o autor fez para tornar esse texto coeso.

São Paulo, nov./dez. 2007

Ainda há tempo?

AINDA há tempo? In: O Estado de S. Paulo. Amazônia. Grandes Reportagens. São Paulo, nov./dez. 2007. (cores e quadros adicionados)

O Estado de S. Paulo – Amazônia. Grandes Reportagens

Exótica e esplendorosa, mas tratada com ambiguidade e distanciamento, a Amazônia pode ser salva, mas antes é preciso conhecê-la

Ainda é possível salvar a Amazônia? Há tempos, essa pergunta desafia as

consciências brasileiras sem que para ela, ao longo dos anos e dos governos, o

Estado tenha formulado uma resposta confiável e definitiva. A Amazônia tem

sido mais conhecida pelas ameaças que pairam sobre ela. As notícias sobre essa

exótica e esplendorosa região estão quase sempre associadas à devastação da

floresta, à contaminação das águas, à extinção da biodiversidade, à degradação

dos seus habitantes nativos. Repete-se sempre a especulação de que o Brasil

não teria competência para geri-la. Essa sequência de notícias ruins tem funda-

mentos reais. O Brasil tem tratado com ambiguidade e distanciamento o maior

tesouro biológico do planeta , que lhe pertence. [...]

O distanciamento que nos separa da Amazônia faz com que a região seja,

ao mesmo tempo, ambígua fonte de orgulho e de aborrecimento, deslumbra-

mento e estranhamento, atração e repulsa. Mas não há como negar a pre-

sença dela em nossa vida. Quando um paulista bebe um copo d’água, garante

a ciência, está bebendo água amazônica. O regime de chuvas do Sul-Sudeste

depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos “rios voadores”.

Para salvar a Amazônia é preciso conhecê-la. Com seu mistério e sua

importância vital, ela é um irresistível objeto de interesse e curiosidade. [...]

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Estratégia 1 – Retomada ou antecipação de termosRepare que as palavras em verde retomam termos, expressões ou frases:• essa pergunta, ela à Ainda é possível salvar a Amazônia?• que à o maior tesouro biológico do planeta• lhe à Brasil• dela à a região• -la, seu, sua, ela à a Amazônia É muito comum que os pronomes esse(s), essa(s), este(s), esta(s), aquele(s), aquela(s), aquilo, que, o(s) qual(ais), a(s) qual(ais), onde, cujo(s), cuja(s), o(s), a(s), -lo(s), -la(s), -no(s), -na(s), lhe(s), meu(s), minha(s), seu(s), sua(s), nosso(s), nossa(s) etc., os advérbios e as expressões adverbiais a seguir, assim, desse modo, acima, abaixo etc. retomem termos já expressos no texto.Também é possível que o item coesivo apareça antes do termo ou frase que substitui. Por exemplo: “O sonho mais lindo que tenho é este: que ninguém passe fome no mundo”. Esse tipo de coesão é chamada coesão por antecipação.

Estratégia 2 – Uso de expressões substitutasRepare que as palavras em laranja substituem termos ou expressões:• exótica e esplendorosa região, o maior tesouro biológico do planeta, a região à AmazôniaObservação: é muito comum que os autores utilizem palavras ou expressões que têm sentido mais abrangente ao substituírem termos que já foram mencionados. Veja algumas possibilidades:

Específico Genérico

Amazônia região

índios povos nativos

planaltos, depressões, montanhas, terrenos alagados e de terra firme, rios de todos os tamanhos, águas de cores variadas, algumas ácidas, outras alcalinas, florestas úmidas, florestas secas, savanas,

pântanos e manguezais

ecossistemas muito diferenciados

O caminho inverso também é possível. Uma palavra ou expressão genérica pode ser substituída por um termo com sentido específico:

Genérico Específico

forças armadas, exército brasileiro soldados

fauna amazônica onça-pintada, jaguatirica, anta, capivara etc.

Estratégia 3 – Termo oculto que pode ser subentendidoRepare na frase: “está bebendo água amazônica”. Quem está bebendo? Nesse caso, a coesão ocorre por conta da relação quem faz a ação/verbo. É possível saber no texto quem realiza a ação, mesmo que esse sujeito não esteja escrito. Pelo contexto da frase, sabe-se que é “um paulista”.

Estratégia 4 – Uso dos conectivosObserve que as palavras em azul fazem progredir o texto, permitindo que o fluxo de ideias continue e que as frases fiquem articuladas.

• “Há tempos” e “quando” são marcadores temporais, que se articulam perfeitamente com a ideia anterior• O “mas” cria um sentido de quebra de expectativa

Observação: nem sempre é necessário usar conectivos para estabelecer coesão ou ligação de ideias. A frase “O regime de chuvas do Sul-Sudeste depende da umidade produzida pela floresta e exportada pelos ‘rios voadores’.” tem conexão com a ideia anterior. Em vez de usar o conectivo “pois”, o autor preferiu usar ponto [.]. O ponto não interrompe o fluxo de ideias. A conexão se mantém, ela só não é explícita. Os sinais de pontuação e os marcadores temporais, entre outros, são também formas de garantir a coesão textual.

Língua Portuguesa – Unidade 1

143

Atividade 6 Identificando estratégias de coesão II

1. Leia o texto a seguir, procurando identificar as estratégias de coesão usadas pelo autor. Em seguida, responda às perguntas propostas.Você sabia que

alguns termos podem ser usados em mais de uma estratégia?

Dependendo do contexto em que a frase é inserida, muda a função que alguns termos desempenham. Na frase “Eles se encontraram e só assim puderam conversar”, o termo “assim” retoma o encontro entre os personagens, funcionando como estratégia de retomada. Já na frase “A menina sentiu que não havia aventura em sua vida. Assim, decidiu viajar mundo afora”, o termo destacado serve para ligar as duas sentenças, estabelecendo entre elas uma conclusão; nesse caso, trata-se da estratégia de uso dos conectivos.

A biodiversidade brasileira é de uma grandeza impressionante. Estimativas de pesquisadores revelam que o País possui entre 15% e 20% de toda a biodiversidade mundial e abriga o maior número de espécies endêmicas (aquelas que não são encontradas em nenhum outro lugar). A variedade da fauna e flora é tão grande que inviabiliza o levantamento preciso do número de espécies existentes. Calcula-se que sejam em número de 2 milhões dos quais apenas 10% do total já foram identificadas. O ecólogo Thomas Lewinsohn, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do maior levantamento sobre biodiversidade feito no Brasil, reconhece que há uma “cratera gigantesca de informação”, atribuída justamente à enorme variedade de espécies.

Essa riqueza confere ao Brasil uma posição entre os dezessete países considerados megadiversos – ou seja, que abrigam 70% das espécies de ani-mais e vegetais catalogadas no mundo. Porém, apesar de tamanha abundância e da certeza de que muitas espécies existentes nem sequer foram inven-tariadas, as atividades humanas vêm ameaçando a manutenção da biodi-versidade. A União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN)[*] estima que, em todo o mundo, de uma a duas espécies de plantas são extintas por dia, enquanto a taxa de extinção dos animais varia de 50 a 250 espécies por dia.

A extinção da faunaSegundo dados de inventários, a

fauna brasileira catalogada abrange 524 espécies de mamíferos, 517 anfí-bios, 1 677 aves, 468 répteis, sendo muitos desses animais endêmicos.

Eles estão distribuídos pelos diver-sos ecossistemas dos biomas brasileiros – Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa – e parte está em perigo de extinção. Fatores como o desmatamento, a caça e o trá-fico de animais silvestres, a poluição ambiental e a invasão por espécies exóticas (espécies que não ocorrem originalmente em um local) alteram drasticamente a paisagem e as relações ecológicas estabelecidas originalmente nos ecossistemas. Nestas condições, a população animal enfrenta dificuldade para obter alimento, reproduzir-se, des-locar-se e conseguir abrigo, e sua sobre-vivência fica comprometida.

Quem sai perdendoEm princípio, todo ser vivo tem

direito à existência, e a extinção de espé-cies contraria esse direito. Pensando sob o ponto de vista dos benefícios que a natureza proporciona aos seres huma-nos, a manutenção dos ecossistemas e de seus processos ecológicos preserva fontes de alimento, de espécies medici-nais, combustível e matéria-prima para a fabricação de produtos; permite man-ter a qualidade da água e do ar, regula o clima, previne a erosão do solo e oferece áreas para lazer, entre outras coisas. A perda da biodiversidade, portanto, dimi-nui a qualidade de vida dos seres huma-nos. [...]

São Paulo, dez. 2008/jan. 2009

Alerta geral

Carta Fundamental

Entenda por que mais de 600 animais da fauna brasileira correm risco de desaparecer do nosso mapa

[*] IUCN é a sigla em inglês para International Union for Conservation of Nature [nota do editor].

NAZÁRIO, Nina. Alerta geral. Carta Fundamental, p. 28-9,

dez. 2008/jan. 2009. (ênfases adicionadas)

144

Língua Portuguesa – Unidade 1

a) Quantas vezes a palavra “biodiversidade” aparece no texto? Por que, em sua opinião, essa palavra aparece tantas vezes?

b) Localize e grife no texto as palavras sinônimas ou que têm aproximadamente o mesmo significado de biodiversidade.

c) No primeiro parágrafo, aparece o pronome “aquelas”. Que termo esse pronome está substituindo?

d) Ainda no primeiro parágrafo, há o pronome “dos quais”. Que termo esse pronome está substituindo?

e) Identifique no texto as expressões que mostram que a grande quantidade de espécies é a causa da lacuna de informações sobre a biodiversidade brasileira.

f) O segundo parágrafo começa da seguinte maneira: “Essa riqueza confere ao Brasil [...]”. De que riqueza se trata?

Língua Portuguesa – Unidade 1

145

g) O quarto parágrafo começa com o pronome “eles”. Que ter-mo esse pronome está substituindo?

h) Que fatores alteram drasticamente a paisagem e as relações ecológicas estabelecidas nos ecossistemas?

i) Que definição de espécies endêmicas o texto apresenta? E de espécies exóticas?

j) A autora usou parênteses para apresentar as definições de “espécies endêmicas” e “espécies exóticas”. Estabeleça a coe- são entre termo e definição, mas escrevendo de outra maneira. Escolha, para cada caso, uma expressão explicativa: “ou seja”, “isto é”, “quer dizer” ou “em outras palavras”.

2. O texto a seguir apresenta, de maneira bem resumida, algumas etapas da evolução das formas de comunicação utilizadas pelo ser humano. Leia os fragmentos e grife os termos e as expressões que retomam, substituem ou antecipam o que está sublinhado.

146

Língua Portuguesa – Unidade 1

[...]

3800 a.C. – Desenhos livres

Enquanto o homem não sabia falar do jeito como fazemos hoje, valia fazer desenhos em cavernas a partir de pigmentos de argila, hematita e carvão vegetal. A motivação das pinturas não era clara, mas certamente elas transmitiam conhecimento.

3200 a.C. – Primeiras letras

Os sumérios criaram alfabetos formados por figuras que representam objetos do cotidiano. Com a siste-matização desse tipo de desenho, os fenícios tam-bém desenvolveram um modelo de escrita. Acabava a Pré-história, e a comunicação começava a evoluir bem mais rápido.

3000 a.C. – Telégrafo de fogo

Surgia o sinal de fumaça, uma maneira de infor-mar à distância. Indígenas americanos foram os pri-meiros a usar os sinais, que seguiam um princípio depois adotado nos telégrafos: um cobertor abafava o fogo e soltava a fumaça em intervalos regulares.

2900 a.C. – Voe depressa!

Começava a ser usada uma das formas de se enviar dados mais resistentes ao tempo: o transporte de mensagens com pombos-correios. Os registros mais antigos datavam do Egito de Ramsés II, mas até 2002 as aves ainda eram usadas pela polícia indiana.

550 a.C. – Cartas a galope

O tataravô do correio atual nasceu com Ciro II, rei da Pérsia, que desenvolveu um sistema de postos de parada para os homens que levavam cartas a cavalo. Essa estrutura permitia que uma correspondência viajasse 2 500 quilômetros com segurança.

1455 – Livros em série

Para a mídia surgir e facilitar o acesso à informação, foi necessário que Johannes Gutenberg melhorasse a impressão, que existia havia 14 séculos na China. Sua sacada foi criar uma forma com letras independentes.

1837 – Contatos imediatos

O americano Samuel Morse (1791-1872) criava o telégrafo. Ele queria um jeito de trocar mensagens que o governo americano não entendesse. Em 1835, ele tinha inventado o Código Morse, que seria funda-mental para a navegação e a aviação.

1876 – Fala que eu escuto

O escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) patenteava nos Estados Unidos seu aparelho de tele-fone. Há quem diga que o italiano Antonio Meucci (1808-1889) teria desenvolvido seu protótipo antes, mas foi Bell que o popularizou.

1893 – Ondas sonoras

Aparecia o rádio, atribuído ao italiano Guglielmo Marconi (1874-1937). No futuro, o croata Nikola Tesla (1856-1943) ganharia o crédito, porque a invenção de Marconi usava 19 patentes suas. Os pri-meiros aparelhos transmitiam Código Morse. A emis-são de voz só começaria em 1918.

1929 – Imagens na sala

O cientista russo Vladimir Zworykin (1889-1982) apresentava o kinoscópio, o precursor da televisão. Vários desenvolvimentos posteriores do aparelho de Zworykin levariam à industrialização e disseminação da TV, acelerada a partir de 1945.

1960 – Balão espacial

Lançado pelos Estados Unidos, o primeiro saté-lite refletia sinais enviados a partir da Terra. Bati-zado de Echo 1, o aparelho consistia em um balão de náilon de 30 metros de diâmetro, visível a olho nu em vários pontos do globo.

1994 – Todo mundo online

O governo americano liberava a circulação da World Wide Web, uma versão civil do sistema de troca de informações entre as redes de computadores militares. Em 1995, a internet já tinha 16 milhões de usuários. Atualmente, são 1,5 bilhão.

Guia do estudante

Da pedra à internet

aventuras na história para viajar no tempo

O desenvolvimento da comunicação começou devagar

Fred Linardi 24/08/2009 6h41

LINARDI, Fred. Da pedra à internet. Aventuras na história para viajar no tempo. Guia do Estudante. Disponível em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/pedra-internet-493922.shtml>. Acesso em: 26 out. 2012. (grifos adicionados)

Língua Portuguesa – Unidade 1

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Atividade 7 Coesão em contos

1. Leia o conto a seguir e responda às questões propostas.

Era uma vez, numa distante cidade do Ocidente, uma jovem chamada Fátima. Ela era filha de um próspero fiandeiro. Um dia seu pai lhe disse: “Venha, filha, partiremos em viagem, pois tenho negócios nas ilhas do Medi-terrâneo. Talvez você encontre um jovem bonito e de boa condição financeira que possa tomar como marido”.

Eles partiram e viajaram de ilha em ilha; o pai realizava seus negócios enquanto Fátima sonhava com o marido que logo seria seu. Um dia, no entanto, a caminho de Creta, desabou uma tempestade, e o barco naufra-gou. Fátima, semiconsciente, foi lançada à costa perto de Alexandria. Seu pai estava morto, e ela, completamente desamparada.

Tinha apenas uma vaga lembrança da sua vida até aquele momento, pois a experiência do naufrágio e o tempo que ficou no mar a levaram à exaustão.

Estava caminhando pelas areias, quando uma família de tecelões a encon-trou. Embora fossem pobres, levaram-na para sua humilde casa e lhe ensinaram seu ofício. Foi assim que construiu para si uma segunda vida e, em um ou dois anos, estava feliz e reconciliada com sua sorte. Mas um dia, quando, por alguma razão, estava na praia, um bando de mercadores de escravos desembarcou e a levou, junto com outros nativos.

Embora Fátima tenha lamentado amargamente seu destino, não desper-tou compaixão nos seus captores, que a levaram para Istambul e a venderam como escrava.

Seu mundo ruiu pela segunda vez. Acontece que, naquele dia, havia poucos compradores no mercado. Um deles era um homem que procurava escra- vos para trabalhar na sua marcenaria, onde construía mastros para embarcações. Ao ver a tristeza da desafortunada Fátima, decidiu comprá-la, pensando que assim, pelo menos, poderia dar a ela uma vida um pouco melhor do que se fosse comprada por outra pessoa.

O homem levou Fátima para sua casa com a intenção de fazer dela uma criada para sua esposa. Ao chegar à sua casa, contudo, soube que tinha per-dido todo o seu dinheiro num carregamento que fora capturado por piratas. Como não podia mais ter empregados, ele, Fátima e sua mulher arcaram sozi-nhos com o árduo trabalho de fabricar mastros.

Fátima, agradecida a seu patrão por tê-la salvado, trabalhava tanto e tão bem que ele lhe concedeu a liberdade, e ela passou a ser sua ajudante de con-fiança. E foi assim que ela ficou razoavelmente feliz na sua terceira profissão.

Um dia seu patrão lhe disse: “Fátima, quero que você acompanhe um car-regamento de mastros até Java como minha representante e se assegure de realizar uma boa venda”.

A fiandeira Fátima e a tenda

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Ela partiu, mas, quando o navio estava na altura da costa da China, um tufão o fez naufragar, e Fátima se viu novamente jogada na praia de uma terra estrangeira. Mais uma vez chorou amargamente, pois sentiu que nada na sua vida estava funcionando de acordo com suas expectativas. Sempre que as coisas pareciam estar indo bem, algo acontecia e destruía todas as suas esperanças.

“Por que será que, sempre que tento fazer algo, isso se transforma em pesar? Por que tantas desgraças têm de acontecer comigo?”, exclamou pela terceira vez. Mas não houve resposta. Então, levantou-se da areia e cami-nhou, afastando-se da praia.

Acontece que, na China, ninguém tinha ouvido falar de Fátima nem conhecia seus problemas. Mas havia a lenda de que um dia chegaria ali uma mulher estrangeira que seria capaz de construir uma tenda para o impera-dor. E, já que não havia, até agora, ninguém na China que construísse tendas, todos aguardavam o cumprimento dessa profecia com grande expectativa.

Para ter certeza de que essa estrangeira, quando chegasse, não passaria despercebida, sucessivos imperadores da China mantiveram o costume de enviar mensageiros uma vez por ano a todas as cidades e povoados, pedindo que qualquer mulher estrangeira fosse conduzida à corte.

Foi numa dessas ocasiões que Fátima chegou cambaleando a uma cidade costeira da China. O povo falou com ela por meio de um intérprete e lhe explicou que teria de ser levada até o imperador.

“Senhora”, disse o imperador quando Fátima foi trazida à sua presença, “sabe fazer uma tenda?”.

“Acho que sim”, disse Fátima.

Ela pediu cordas, mas não havia nenhuma disponível. Então, lem-brando-se dos seus tempos de fiandeira, juntou fibras de linho e fez as cordas. Depois, pediu um tecido grosso e resistente, mas os chineses não tinham nenhum do tipo de que ela precisava. Contando com sua experiên-cia com os tecelões de Alexandria, confeccionou uma certa quantidade de um tecido resistente. Então, percebeu que precisava de estacas, mas não havia nenhuma na China. Assim, Fátima, lembrando-se de como fora trei-nada pelo marceneiro de Istambul, construiu com destreza estacas firmes. Quando estavam prontas, ela puxou de novo pela memória, procurando se lembrar de todas as tendas que tinha visto nas suas viagens. E vejam só! Uma tenda foi erguida.

Quando essa maravilha foi apresentada ao imperador da China, ele ofere-ceu a Fátima a realização de qualquer desejo seu.

Ela escolheu se estabelecer na China, onde se casou com um belo príncipe e permaneceu feliz, rodeada por seus filhos, até o fim dos seus dias.

Foi por meio dessas aventuras que Fátima compreendeu que aquilo que em dado momento lhe pareceu ser uma experiência desagradável acabou se revelando uma parte essencial da sua felicidade definitiva.

FIANDEIRA Fátima e a tenda, A. In: SHAH, Idries. Histórias dos dervixes. Rio de Janeiro: Roça Nova, 2010, p. 69-72. (cores adicionadas)

Língua Portuguesa – Unidade 1

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a) Você gostou do conto? O que, em sua opinião, ele quer ensinar?

b) As palavras que aparecem coloridas são relativas à personagem principal, Fátima. Ao longo do texto, há muitas outras que não foram destacadas. Escolha dois personagens para destacar a cadeia coesiva. Use cores diferentes para cada personagem.

c) Destaque no conto as expressões que indicam tempo e ajudam o leitor a perceber a ordem e a sequência dos fatos da história.

d) Faça a lista dos lugares pelos quais Fátima passou. Todos esses lugares são importantes para o desdobramento da his-tória? Por quê?

2. Agora, você vai recontar o conto que leu. Junte-se a um colega para, em primeiro lugar, contarem oralmente o conto. Depois, sem consultar o texto, o reescrevam no caderno.

3. Ainda em dupla, observem as estratégias de coesão que vocês usa-ram ao reescrever o conto A fiandeira Fátima e a tenda. Reparem se não há muita repetição de palavras, se algumas podem ser cortadas do texto ou substituídas por pronomes, sinônimos ou expressões de sentido mais abrangente. Reescrevam os trechos nos quais acharem necessário aplicar as estratégias de coesão que aprenderam.

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Língua Portuguesa – Unidade 1

Atividade 8 Coesão na produção escrita

Converse com os colegas e o professor sobre a seguinte questão: Observar os recursos coesivos é útil apenas para a leitura de textos ou é importante considerá-los também na hora de escrever?

Registre as conclusões da turma.

Nesta Unidade, você estudou o que são coerência e coesão. Aprendeu que a coerência diz respeito à relação entre as ideias dentro e fora do texto, e que ela também depende da interpreta-ção do leitor ou ouvinte. Viu ainda que a coesão ocorre no texto por meio do entrelaçamento de palavras, frases, parágrafos, im-pedindo que as ideias fiquem soltas ou desconectadas. Ao longo da Unidade, você percebeu que a coesão pode ser feita de várias maneiras: retomando palavras, omitindo-as, substituindo-as por termos sinônimos ou expressões mais abrangentes que corres-pondam aos termos de referência.

Você estudou

Língua Portuguesa – Unidade 1

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Pense sobre

Em se tratando de textos escritos, sempre se aponta a coerência das ideias como uma qualidade indispensável. Você saberia explicar de maneira clara em que consiste essa coerência e como se pode con-segui-la? Em sua opinião, apenas o uso de elementos coesivos é deci-sivo para que o texto fique coerente?

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Língua Portuguesa – Unidade 1

2 fio de hiStóriaS...

Tenho a impressão de que tudo pode mesmo acontecer em matéria de contos, ou melhor, no interior deles.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Estes contos. In: ____. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond.com.br>.

Nesta Unidade, você vai retomar seus estudos sobre contos, pro-duzindo seu próprio conto, oralmente e por escrito, e discutindo as diferenças entre esses dois modos de contar uma história. Será con-vidado a ler e interpretar um conto contemporâneo, que já nasceu como um texto escrito, e perceber suas singularidades. Além disso, vai conhecer um gênero narrativo, produzido a partir dos anos 1960, que tenta, com poucas palavras, atingir o máximo de expressividade e provocar grande impacto em quem o lê: o miniconto. Poderá também experimentar ser um “minicontista”.

Para iniciar...

Converse com os colegas e o professor.

• O que você sabe sobre contos? E sobre minicontos? Já ouviu falar deles? Em sua opinião, como seriam?

• Você se lembra de ter lido recentemente algum conto? Recorda-se do autor dele? Do enredo? Do personagem principal?

• Você conhece algum autor brasileiro que escreva contos?

• Você costuma frequentar bibliotecas ou salas de leitura para ler contos ou outros textos literários?

• Você acha que a leitura de textos literários abre horizontes inte-lectuais e aguça a sensibilidade? Por quê?

• Em sua opinião, os textos literários possibilitam conhecer com mais profundidade o homem e a sociedade? Como? Por quê?

O conto

No Caderno do 7o ano, na disciplina de Língua Portuguesa, você estudou as origens do conto, leu e analisou contos antigos de épo-cas remotas, nascidos na tradição oral. Conheceu também uma das

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possíveis definições desse gênero – um tipo de narrativa ficcional que apresenta uma sucessão de acontecimentos vivenciados por pou-cos personagens e contados por um narrador.

Agora, nesta Unidade, você vai trabalhar com contos que já nas-ceram com formatação escrita e autoria, de modo geral, bem definida. Antes, porém, é importante falar um pouco de contos da tradição oral que ganharam versão escrita.

Contar oralmente, contar por escrito

Contos populares são histórias transmitidas por meio da lingua-gem oral. Muitos dos contos populares contados e recontados aqui, no Brasil, são adaptações de narrativas que vieram da Europa e da África, que, por sua vez, segundo estudiosos, eram narrativas pro-venientes da literatura hindu. Além do conto, “causo” ou conto fol-clórico, a literatura oral – que existe em todos os países e culturas – reúne uma série de manifestações conservadas e transmitidas por meio da palavra falada ou cantada: lendas, mitos, adivinhações, provérbios, parlendas, cantos, orações, frases feitas.

Mas é importante perceber que contar uma história oralmente é dife-rente de contar uma história por escrito. Um contador que tem contato direto com o público pode fazer uso da entonação da voz para imprimir maior ou menor dramaticidade, contando a história em um ritmo que considere adequado, fazendo gestos e expressões faciais que cativem o público. Como manter vivas, no entanto, em um registro escrito, essas marcas de oralidade que os contadores imprimem a seus textos?

Vale lembrar que o contador-escritor, quando escreve um conto, não tem contato direto com o público que vai lê-lo. Mas é claro que ele pode imprimir expressividade ao texto. Pode, por exemplo, repro-duzir as falas dos personagens (lançando mão do discurso direto), usando com cuidado e precisão os verbos de dizer (os verbos que introduzem os diálogos) e os sinais de pontuação.

Outra diferença é que um conto oral pode ser adaptado no momento em que é narrado. Se o contador quiser, ele pode impro-visar frases que julgar adequadas ao contexto, por exemplo. Já um conto escrito não pode sofrer adaptações a cada vez que for lido, para se adequar à época, à cultura e ao povo de cada lugar. Um conto da tradição oral ou qualquer uma das manifestações transmitidas oral-mente, quando ganha registro escrito, passa, de modo inevitável, por um processo de transformação.

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Língua Portuguesa – Unidade 2

Atividade 1 Contar e escrever um conto

Pense em uma história que você conheça. Conte-a oralmente para a turma. Depois, escreva-a em seu caderno, tentando transpor toda a expressividade da fala para o texto escrito.

Ao terminar de escrever o conto, leia-o para a turma. Converse com os colegas e o professor sobre como foi a experiência de trans-formar o texto falado em texto escrito.

O conto escrito

Você viu que, ao longo do tempo, muitas histórias transmitidas oralmente foram registradas por escrito, mas que há contos que já foram criados com uma formatação escrita. Segundo muitos teóricos, o conto como forma literária atingiu seu esplendor no século XIX, quando autores como Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Edgar Allan Poe, Eça de Queirós, Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Arthur Azevedo, Lima Barreto, entre outros, passaram a escrever esse gênero textual.

Desde essa época, o conto tem se mostrado extremamente versá-til, assumindo formas variadas e abertas a experiências e inovações. Os contos de Machado de Assis, por exemplo, considerados clássi-cos da literatura brasileira, são criações com estrutura modelar. Mas as possibilidades de inovar são tantas que, já em 1938, o escritor Mário de Andrade afirmava que os autores chamavam “contos” o que decidiam, por conta própria, ser um conto. Carlos Drummond de Andrade, em exemplo semelhante, escreveu no livro Contos plausíveis (1981): “[...] tudo pode mesmo acontecer em matéria de contos, ou melhor, no interior deles”. Sem dúvida, você vai se surpreender...

Um conto brasileiro contemporâneo

Dalton Trevisan é o autor do conto que será apresentado a seguir. Esse autor, pelo conjunto de sua obra, já ganhou vários prêmios lite-rários. Detesta dar entrevistas e falar sobre os textos que escreve, pois acredita que o conto deve ser sempre melhor do que o contista. Gosta de escrever sobre temas relacionados ao cotidiano urbano contempo-râneo, à violência das cidades, ao erotismo, aos mais diferentes tipos humanos, principalmente urbanos, e afirma que se inspira em notícias policiais, frases que escuta, obras clássicas e até bulas de remédio para escrever. Gosta de escrever contos curtos.

Língua Portuguesa – Unidade 2

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Atividade 2 Um conto de Dalton Trevisan

O título do conto que você vai ler é O ciclista, de Dalton Trevisan, publicado originalmente em 1968.

1. Antes de ler o conto, responda às seguintes questões:

a) Quais são, hoje em dia, os veículos que circulam pelas ruas das cidades?

b) Você acha que todas as cidades poderiam ser chamadas de “labirinto urbano”? Por quê?

c) Na época em que esse conto foi publicado, a bicicleta era o meio de transporte de diversas pessoas nas cidades. A entrega de correspondências e objetos postais, por exemplo, era feita com bicicleta. Atualmente, a situação é a mesma ou mudou?

d) Em sua opinião, o ciclista poderia ser, hoje em dia, considera-do um personagem típico da cidade? Por quê?

Dalton Trevisan nasceu em Curitiba, em 14 de junho de 1925, e, na mesma cidade, entre 1946 e 1948, edi-tou a revista Joaquim. Quando começou a escrever, publicava seus contos em folhe-tos. Passou a ser reco-nhecido com a publi-cação Novelas nada exemplares (1959). É um apaixonado por contos e tem dezenas de livros publicados.

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Língua Portuguesa – Unidade 2

O ciclista

Curvado no guidão lá vai ele numa chispa – e a morte na garupa. Na esquina dá com o sinal vermelho, não se perturba, levanta voo na cara do guarda crucificado. Um trim-trim da campainha, investe os minotau-ros do labirinto urbano. Livra a mão direita, abre o guarda-chuva. Na esquerda, lambe deliciado o sorvete de casquinha, antes que derreta.

É sua lâmpada de Aladino a bicicleta: ao montar no selim, solta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso. Desvia de fininho o poste. Eis o caminhão sem freio, bafo quente na sua nuca. Muito favor perde o boné? A sombra lá no chão? O tênis manchado de sangue?

Atropela gentilmente e, vespa raivosa que morde, fina-se ao partir o ferrão. Monstro inimigo tritura com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre as nuvens, a bicicleta no ombro.

Em cada curva a morte pede carona. Finge não vê-la, essa foi de raspão, pedala com fúria. Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus. Salta no asfalto a poça d’água. Num só corpo, touro e toureiro, malferido golpeia o ar nos cornos do guidão.

Fim do dia, ele guarda num canto o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim. Primeira esquina avança pelo céu trim-trim na contramão.

TREVISAN, Dalton. O ciclista. In: _____. Mistérios de Curitiba. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 47-48.

Glossário

chio chiado

chispa faísca, centelha, lampejo

diáfano transparente, límpido, cristalino

impávido destemido, corajoso

minotauro personagem da mitologia grega que apresenta corpo de homem e cabeça de touro e que vivia aprisionado em um labirinto

selim assento da bicicleta

2. Leia o conto O ciclista e depois responda às questões.

a) Retire duas expressões do texto, uma no primeiro e outra no segundo parágrafo, que possam confirmar que tudo no conto acontece em alta velocidade.

b) Qual é o tempo em que se desenvolve a ação narrada?

c) Que informações sobre o protagonista você pode deduzir, considerando o primeiro parágrafo do conto?

Língua Portuguesa – Unidade 2

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d) “Lâmpada de Aladino” é uma men-ção à história Aladim e a lâmpada maravilhosa, do Livro das mil e uma noites. Quando Aladino (tam-bém chamado de Aladim) esfrega-va a lâmpada, um gênio aparecia para realizar qualquer desejo. Em sua opinião, por que a bicicleta foi comparada, no conto, à lâmpada maravilhosa de Aladim?

e) Repare na frase: “Desvia de fininho o poste”. Por que o autor não escreveu “desvia de fininho do poste”?

f) Na frase: “Monstro inimigo tritura com chio de pneus o seu diáfano esqueleto”, o que pode ser entendido por “monstro inimigo” e por “esqueleto”?

g) Você gostou do conto? Por quê?

© Jo

ão P

irolla

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Língua Portuguesa – Unidade 2

Contos inovadores: os minicontosEmbora o conto seja considerado um texto curto se comparado

a outros gêneros narrativos, como as novelas e os romances, a partir dos anos 1960 surgiu um gênero narrativo com textos ainda mais curtos; na verdade, curtíssimos. São os minicontos, que, por sua con-densação, produzem enorme impacto no leitor.

Os minicontos são narrativas ficcionais concisas que, às vezes, “dispensam” o narrador, não fornecem características dos poucos personagens, nem indicações precisas de tempo e espaço ou de suces-são de acontecimentos vivenciados. Essa característica de deixar implícitos muitos elementos da história faz que os textos desse gênero produzam enorme impacto no leitor, uma vez que contam com ele para reconstruir os sentidos pretendidos pelo autor.

Dalton Trevisan, autor do texto que você leu anteriormente, é considerado um dos precursores dos minicontos no Brasil.

Atividade 3 Minicontos

1. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.

Você sabia que existe uma antologia de minicontos brasileiros?

Em 2004, o escritor Marcelino Freire organizou uma antologia com os cem menores contos brasileiros do século. Marcelino Freire se inspirou no mais famoso miniconto do mundo (que só tem 37 letras), e convidou cem escritores brasileiros para escrever histórias inéditas de até 50 letras (atenção: não são 50 palavras, são 50 letras!).

Conforme o crítico, professor universitário e poeta carioca Italo Moriconi, os minicontos são “pílulas ficcionais, e das melhores” (MORICONI, Italo. Um prefácio em cinquenta palavras. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008).

BONASSI, Fernando. Só. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 30.

a) Quais são, em sua opinião, os sentidos que estão por trás des-se conto?

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b) O título desse miniconto pode ser lido de duas maneiras. “Só” pode significar “sozinho”, “isolado”, “desacompanhado”. Também pode significar “somente”, “unicamente”. Em sua opinião, qual dos sentidos é mais adequado ao conto? Por quê?

c) O narrador-personagem vive um conflito? Se sim, que conflito você acha que poderia ser esse?

d) Em que época a narrativa acontece? Como você chegou a essa resposta?

e) O conto é formado por 11 palavras (incluindo o título). Você acha que o autor, com apenas essas poucas palavras, conse-guiu construir uma história? Por quê?

2. Leia este outro miniconto e responda às questões que seguem.

FURTADO, Jorge. Sem título. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros

do século. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 43.

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a) O conto é construído sem que haja um narrador explícito. Essa afirmação é correta? Por quê?

b) Em sua opinião, de quem são as vozes que aparecem no texto? Justifique sua resposta.

c) É possível interpretar esse miniconto de diferentes maneiras? Se sim, discuta-as com seus colegas e depois escreva em seu caderno as interpretações que vocês fizeram.

d) Imagine que você vai criar um conto com base nesse mini-conto. Escreva em seu caderno como seria essa história. Dê um título a ela.

3. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.

RUFFATO, Luiz. Assim:. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 52.

a) Que impacto as três frases do conto de Luiz Ruffato provoca-ram em você?

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b) O título do conto fornece pistas para construir os sentidos da história. O que você nota de diferente no título desse conto?

c) Há duas frases no conto que podem ser consideradas contras-tantes. Quais são elas?

d) O conectivo “e” que aparece na última frase tem o mesmo sentido do conectivo “e” que aparece na segunda frase? Justi-fique sua resposta.

4. Leia o miniconto a seguir e responda às questões propostas.

TELLES, Lygia Fagundes. Confissão. In: FREIRE, Marcelino

(Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. 3. ed.

Cotia: Ateliê Editorial, 2008, Microbônus I, p. 1.

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Fica a dica

Se tiver interesse e curiosidade, procure em uma biblioteca ou livraria a antologia da qual foram retirados os minicontos que você leu nesta Unidade:

FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.

E que tal fazer um sarau de leitura dos minicontos em sala de aula?

a) Que palavra, no conto, pode ser lida de mais de uma ma-neira? Essa palavra é importante para a interpretação do texto? Por quê?

b) Quais são as possíveis interpretações desse miniconto?

c) Para você, o que significa “confissão”?

d) Em sua opinião, alguém que se confessa para o mar deseja se livrar de alguma culpa ou receber punição? Por quê?

Atividade 4 Escrever um miniconto

Você se lembra do conto que escreveu na Atividade 1? Sua tarefa agora é transformá-lo em um miniconto. Imagine que ele será publicado em uma coletânea. Para ajudar na sua produção, leia as dicas a seguir:

• Se achar necessário, crie um novo título, de preferência formado por uma palavra.

• Você pode usar discurso direto ou indireto.

• Fique bem atento à sua intenção! Com que finalidade você vai escrever o texto?

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Nesta Unidade, você aprendeu que, quando um conto oral ganha um versão escrita, ele sofre transformações, uma vez que o escritor coloca no papel, de modo diferente, a vivacidade da narração oral. Também viu que há contos que são criados direta-mente como textos escritos, e que atingiram seu esplendor como forma literária no século XIX. Além disso, estudou que os contos são muito versáteis e assumem estilos bem inusitados, como os minicontos, que apresentam histórias com o mínimo de palavras.

Pense sobre

Você estudou

• Muito cuidado também no uso dos sinais de pontuação.

• Tente usar o mínimo de letras possível!

Quando terminar, reúna sua produção aos minicontos dos colegas e, junto com eles e seu professor, produzam uma coletânea de minicontos.

Ler textos literários é uma maneira de ampliar a experiência e a visão de mundo. Por meio da leitura de poemas, contos, romances e textos dramáticos, podemos nos conhecer melhor como sujeitos, além de vivenciar fatos históricos e acontecimentos culturais de todos os lugares e épocas; é possível também sentir o que se chama prazer literário.

Considerando essa afirmação, reflita: Qual a importância de ler textos literários? Essa leitura é sempre prazerosa? Por quê?

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3 CartaS: SeuS autoreS e SeuS leitoreS

Verba volant; scrita manent. (As palavras faladas voam; as escritas permanecem.)

Provérbio latino.

O objetivo desta Unidade é que você escreva, leia e analise cartas pessoais, de reclamação e de solicitação. Você vai observar caracterís-ticas, modelos e estilos dessas correspondências, bem como seu valor histórico, literário e utilitário. Assim, poderá perceber que, mesmo com tantos avanços tecnológicos, esses gêneros ainda podem exercer uma função muito importante em sua vida.

Para iniciar...

Antes de se enredar pelo mundo das cartas – de seus autores e lei-tores –, pense no quanto elas estão presentes em sua vida e converse com seus colegas.

• Você costuma receber ou escrever cartas?

• Usa o correio eletrônico? Com quem costuma trocar emails?

• Já recebeu alguma carta de cobrança, de pedido ou de agradeci-mento? Alguma propaganda por correspondência? Escreveu alguma carta oferecendo seus serviços?

• É possível tratar de todos os assuntos em uma carta? E por meio do correio eletrônico?

• Você já teve de reclamar, reivindicar ou fazer exigências para con-seguir algo que lhe era de direito? Você acha que uma carta de reclamação ou de solicitação poderia ajudar nesse momento? Por quê?

• Em sua opinião, uma carta que solicita algo ou apresenta uma recla-mação deve ter uma linguagem mais formal ou informal? Por quê?

• Quem de sua turma recebe mais cartas? Quem escreve mais?

• Quem de sua turma escreve emails?

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Cartas de sua vida, cartas em sua vida...As cartas – que podem também ser chamadas de “correspondên-

cias”, “missivas” ou “epístolas” – estão muito presentes na vida das pessoas. E isso já ocorre há muito tempo... Segundo alguns historiadores (cf. Enciclopédia Mirador Internacional, 1995), desde aproximadamente o século III a.C., as cartas circulam nas sociedades letradas e constituem parte importante de documentos que revelam os mais diferentes aspectos da vida humana.

A variedade de cartas é muito ampla e, consequentemente, suas funções e seus estilos também. Assim, o “tom” da carta vai variar de acordo com o conteúdo dela: poderá ser alegre, triste, amoroso, tenebroso, formal, indignado, solícito... O grau de formalidade da linguagem também dependerá do grau de intimidade que o escritor (remetente) tem com a pessoa a quem a carta se destina (destinatário). Para cada situação, uma carta; para cada carta, um estilo que revela a “alma” do autor e suas intenções.

As chamadas cartas pessoais são aquelas escritas a pessoas mais próximas para dar notícias, “matar saudade”, declarar amor ou ódio. Às vezes, parecem mais uma conversa por escrito, tão espontâneo e familiar é o tom delas. Já as chamadas cartas comerciais, como as cartas de reclamação e de solicitação, são escritas com objetivos defini-dos, em linguagem formal, marcada por convenções. As de reclamação fazem queixas e apresentam denúncias contra empresas, profissionais liberais, poder público etc. As de solicitação formalizam um pedido e tentam convencer alguém a fazer alguma coisa.

Apesar de o correio ainda ser um meio bastante comum para a troca de cartas, cada vez mais as novas tecnologias, como fax e email, têm servido a esse propósito, principalmente por permitirem agilidade na comunicação. E, dependendo do meio em que a carta circula, seu formato e estilo também podem mudar, pois cada meio tem caracte-rísticas próprias.

Ao longo desta Unidade, você verá um pouco mais de perto cada um desses gêneros epistolares.

Atividade 1 Escrever uma carta

Receber cartas, em geral, é delicioso... E escrevê-las? É igualmente prazeroso? Sabia que muitos escritores famosos escreveram cartas de amor que se tornaram célebres? Você já se arriscou a escrever alguma? Não perca essa chance!

Fica a dica

Há livros que reúnem cartas pessoais trocadas entre escritores e artistas. Vale a pena conferi-los!

MORAES, Marcos Antonio de (Org.). Me escreva tão logo possa. São Paulo: Salamandra, 2005.

ORSINI, Elizabeth (Org.). Cartas do coração. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

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Língua Portuguesa – Unidade 3

Agora, você escreverá uma carta pessoal. Ela pode ser endereçada ao marido ou à esposa, ao namorado ou à namorada, a um filho ou a uma filha, a um amigo ou a uma amiga, enfim, a alguém que você julgue especial. Para quem você quer escrever?

Antes de começar, pense em tudo o que quer contar (talvez algo sobre sua vida atual ou sobre seus sentimentos em relação à escola, ao trabalho, a essa pessoa para quem você vai escrever).

Escreva um rascunho em seu caderno. Depois, passe a carta a limpo, em uma folha à parte, e guarde essa primeira versão para futu-ras revisões.

Escreva sem receio! Com as atividades que serão propostas ao longo desta Unidade, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e aprimorar o texto que escreveu.

Cartas pessoais

A carta pessoal, como o próprio nome diz, trata de assuntos pes-soais e não é escrita com a finalidade de ser publicada. Ela é trocada entre pessoas que têm proximidade ou que querem estreitar laços. Se for escrita para um amigo íntimo, o texto provavelmente vai ser leve, descontraído e afetuoso, e as questões gramaticais e prescritivas podem até se tornar secundárias; é possível usar gírias, apelidos e até mesmo palavras “censuráveis” – tudo para tentar colocar no papel o calor da conversa, o jeito íntimo com que você se comunica com o destinatário da carta. Se, no entanto, o destinatário for alguém com quem não se tem tanta intimidade, provavelmente será preciso usar uma linguagem mais comedida, mais formal.

Atividade 2 Leitura de cartas pessoais

Agora, você vai ler uma carta escrita pelo pai do grande pianista bra-sileiro Nelson Freire (1944-), quando o artista tinha apenas cinco anos.

1. Antes de lê-la, responda:

a) Que motivos poderiam levar um pai a escrever uma carta ao filho de cinco anos?

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b) O “tom” de um texto revela seu espírito, sua característica afetiva. Que tom você espera encontrar em uma carta que co-mece com “Meu filhinho...”?

c) Veja em que ano a carta foi escrita. Considerando o ano e a pessoa a quem a carta se dirige, ela pode ser considerada um documento valioso? Por quê?

2. Agora, leia a carta e, depois, responda às questões propostas.

Meu filhinho!

Ao tomar a decisão de transferir-me com toda a nossa família para a capital da República, julguei oportuno registrar no teu álbum de reminiscências alguns fatos que intimamente dizem respeito à tua existência, para que sirvam de orientação para a tua biografia. Isso porque a nossa mudança se faz unicamente por tua causa.

Sem nenhum esforço de memória, ainda me recordo perfeitamente de tudo aquilo que se refere a esses primeiros anos da tua existência, quando vieste a este mundo no dia 18 de outubro de 1944, em Boa Esperança, sul de Minas. Eras um menino lindo, robusto e corado, porém eras doente. Quanto sofremos, tua mãe e eu, por ver-te definhar dia a dia e a choramingar, vitimado amiúde por alergia rebelde que a tudo resistia! Teu alimento, durante o primeiro mês de tua vida, resumiu-se a um pedaço de marmelada diluído em água filtrada. Como não melhoravas, levamos-te a Lavras para consultas médicas. Ao fim de um mês de tratamento intensivo, tua mãe regressou trazendo-te para casa. Quando te vi, filhinho, meu coração doeu como nunca e meus olhos ficaram marejados de lágrimas, porque não vi meu filho, senão uma criança minúscula e raquítica, reduzida praticamente a pele e ossos. Vivias todo remendado de esparadrapos, com o corpinho sempre untado de pomadas, com uma carinha magrinha que metia dó.

A tua tendência artística, apesar de tudo, se manifestou desde cedo, despontando com os primeiros fulgores da tua inteligência. Com poucos meses de idade já te sentias maravilhado e ficavas quietinho, embora cheio de mazelas, ao ouvir música, quando tua irmã Nelma tocava.

Em 8 de dezembro de 48, empreendemos uma viagem interessantíssima. Era a pri-meira vez que saías de casa para uma viagem distante sem ser por motivo de doença. Tuas irmãs Nelma e Norma estavam estudando no Colégio Sion de Campanha. Nos amplos salões do colégio, naturalmente, não faltava aquilo que te fascinaria: o piano. Em dado momento, a irmã superiora reuniu certo grupo de alunas para ouvir-te. Entusias-mada, porque recebeste uma ovação efusiva, ela, em tom verdadeiramente profético, te saudou meigamente, lembrando às alunas ali presentes que procurassem fixar bem na

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Língua Portuguesa – Unidade 3

memória aquele instante precioso, porque mais tarde, quando esse pequenino inocente viesse a empolgar o mundo, seria com prazer e com saudade que se recordariam de que o haviam apreciado e aplaudido, aos quatro anos de idade.

Vimos logo que não se tratava de fato vulgar, pelo menos em nossa família, porque teus irmãos mais velhos nunca demonstraram tais aptidões. Tua mãe e eu começa-mos então a notar qualquer coisa de diferente nas tuas execuções. Resolvemos dar-te um professor mais adiantado e tua mãe religiosamente, como quem cumpre uma promessa, assumiu consigo mesma o compromisso de levar avante a tua instrução, levando-te semanalmente a Varginha, aonde ias a fim de estudar com o maestro Fernandez. Ao fim de doze lições, teu professor aconselhou-nos a rumarmos para o Rio. Ele não havia mais nada a te ensinar.

Em junho de 1950, portanto, uma indecisão embaraçosa se apoderou de mim e de tua mãe, colocando-nos diante de um dilema de difícil solução: devemos dar razão ao nosso coração, permanecer em nossa querida terra, criando-te como fize-mos com os nossos outros filhos, num ambiente de paz e de concórdia, onde se acham localizados os nossos interesses materiais e onde nos prendem os laços mais caros do sentimento familiar, ou, por outro lado, rumaríamos para o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente, meio padrasto em infu-sões afetivas, mas onde as tuas aptidões poderão desenvolver-se ilimitadamente?

Depois de muito meditar, resolvemos seguir esta última vereda, entregando nosso futuro a Deus. Cumprindo a nossa obrigação, deslocamo-nos do interior de Minas para a capital da República com a finalidade primordial de acompanhar teus passos, porque ainda não prescindes de nossa companhia e de nossa assistência. Mas o teu destino, esse, nós o colocamos na mão de Deus!

Afetuosamente, O Papai Boa Esperança, 21 de julho de 1950.

Nelson Freire. Direção: João Moreira Salles. Brasil, 2003. 102 minutos. (carta transcrita)

a) Com que finalidade o pai escreveu ao filho de cinco anos?

b) Na carta, você leu: “Sem nenhum esforço de memória, ainda me recordo perfeitamente de tudo aquilo que se refere a esses primeiros anos da tua existência [...]”. Escreva, em seu cader-no, resumidamente e em ordem cronológica, os fatos relata-dos pelo pai.

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c) A carta escrita pelo pai de Nelson Freire tem um tom afe-tuoso. Comprove esse “tom” com exemplos de palavras ou trechos da carta.

d) Em 1950, a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro. Em certo momento da carta, o pai escreve: “[...] rumaríamos para o Rio, onde o custo da vida é muitíssimo mais dispendioso e o ambiente, meio padrasto em infusões afetivas [...]”.

Considerando esse trecho, o que o pai aponta como proble-mas a serem encontrados no Rio de Janeiro?

e) Em sua opinião, essas preocupações apontadas pelo pai são comuns às pessoas que saem de uma cidade pequena e rumam para uma cidade maior? Por quê?

f) O documentário do cineasta João Moreira Salles sobre Nel-son Freire apresenta o pianista tocando junto a orquestras em São Paulo e no Rio de Janeiro; fazendo concertos na França, Bélgica, Rússia etc. Em todos esses lugares, o pianista foi e continua sendo aclamado.

• Há algum fato significativo na infância do famoso pianista que você considera que tenha sido importante para a for-mação desse artista? Qual? Por quê?

Fica a dica

Assista ao documentário Nelson Freire (direção de João Moreira Salles, 2003) e conheça um pouco mais da vida e da carreira artística de quem é considerado um dos maiores pianistas do mundo. Além disso, terá a oportunidade de ouvir a leitura comovente da carta com a qual trabalhou na Atividade 2.

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• Você acha que a mudança para o Rio de Janeiro teve alguma

influência na carreira de Nelson Freire? Em que sentido?

Atividade 3 Cartas antigas e modernas

1. Leia a seguir duas cartas e, depois, responda às questões propostas.

Carta 1

São Joaquim do Onde, 22 de outubro.

Querido amigo Orlando,

Estás bem?

Não fiques chateado comigo antes que te explique o que aconteceu.

Depois tu me dirás se fiz bem.

Foi exatamente do jeito que vou te contar.

Desde que cheguei à praia de Matinhos, disse

aos nossos amigos: “alguns dias quero des-

cansar. Quero estar livre para ler, desfrutar

e observar a paisagem, mas, na quarta-feira,

passarei o dia com Orlando, em Curitiba”.

Mas estava tão bom, que passou a quarta, veio

a quinta, sem que conseguisse cumprir minha

promessa e te visitar aí em tua terra. Tu sabes

o quanto te gosto, mas tu conheces bem a praia

de Matinhos e a preguiça deliciosa que sinto nesse

lugar que não me deixa mover...

Até breve. E perdoa-me!

Adalberto

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Carta 2

a) Os textos transcritos são de cartas pessoais? Em que você se baseou para a sua resposta?

b) Algum dos dois textos parece ser de uma carta mais antiga? Justifique sua resposta.

c) Circule, nas duas cartas, passagens que comprovem que o re-metente tem um grau de intimidade com o destinatário.

2. Releia a Carta 1.

a) Reescreva-a, em seu caderno, substituindo o pronome “tu” pelo pronome “você”. Com a ajuda do professor, faça outras modificações necessárias.

M r nápol s, 13/5.

Quer do Cau!

O que houve? Você não recebeu m nha carta?

Perdeu meu endereço?

Soube, por outras pessoas – é óbv o –, que você

estará em Guaíra. Quero te encontrar. A gente

pod a dar um e to, não? Tô tr ste pra caramba

com você. Tô achando que mudou de de a a meu

respe to. Espero que você fale de você, porque eu

á não ma s nteresso.

Um be ão,

M. M.

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b) As alterações realizadas dão a impressão de que essa carta adquiriu mais informalidade? Por quê?

Atividade 4 De volta à sua carta pessoal

Retome a primeira versão da carta pessoal que você escreveu. Depois das atividades realizadas, que modificações você pode fazer em sua carta?

Para ajudá-lo na revisão, seguem alguns passos importantes. Se necessário, pode rasurar a carta; ela ainda não é a definitiva.

1. Observe se, em sua carta, aparece a indicação de local e data. Caso não apareça, inclua esses dados na nova versão.

2. Verifique se aparece a saudação inicial (o modo de chamar a pes-soa a quem se destina a carta, por exemplo, “querido amigo”, “amados pais” etc.).

3. Observe se a carta está organizada em parágrafos e se você conse-guiu expressar o que pretendia.

4. Repare se a linguagem da carta está adequada ao destinatário, sendo mais ou menos formal.

5. Veja se há, no final da carta, uma frase de despedida e a assinatura.

6. Passe a limpo o texto em um papel diferente, bonito, de preferên-cia colorido.

7. Prepare o envelope. Na parte da frente dele, escreva o nome do des-tinatário e o endereço completos. Na parte de trás, escreva o nome e o endereço completos do remetente, ou seja, os seus dados.

Coloque a carta no correio e aguarde a resposta...

Cartas que circulam em espaços públicos

Reclamar, reivindicar, formalizar um pedido, fazer um agrade-cimento, oferecer um serviço etc. são atos relacionados à vida em sociedade, à realidade em que vivemos.

Uma maneira de formalizar esses atos é escrevendo cartas, que podem tanto ser enviadas aos seus destinatários específicos como também ser publicadas para um público maior (em um jornal, por exemplo), de modo a dar maior visibilidade ao que se pretende dizer.

Você sabia que existem escrevedores de cartas espalhados por aí?

Atualmente, há um serviço de utilidade pública, o Escreve Cartas, que funciona em dois postos do Poupatempo na cidade de São Paulo: Itaquera, na zona Leste, e Santo Amaro, na zona Sul.

O Escreve Cartas é uma parceria do governo do Estado de São Paulo com os Correios. Funciona no mesmo horário do Poupatempo: de segunda à sexta, das 7h às 19h, e, aos sábados, das 7h às 13h.

Esse serviço é procurado por muita gente.

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Diferentemente das cartas pessoais, as cartas que circulam em espaços públicos têm fórmulas mais ou menos fixas de organização e exigem o uso de uma linguagem mais formal. Para atingir objeti-vos definidos, quem as escreve deve tentar elaborar um texto com o máximo de correção, clareza e concisão – sem dar margem a diferen-tes interpretações.

Às vezes, dependendo da situação, convém consultar manuais de redação técnica, para conhecer modelos de cartas adequados a cada tipo de situação. Localidade e data, nome do destinatário, saudação inicial, corpo da carta e despedida podem variar conforme sua neces-sidade: escrever uma carta de reclamação, de solicitação, um ofício ou um requerimento.

Atividade 5 A arte de reclamar

Você já viveu alguma situação em que se sentiu lesado? Já ficou furioso e com muita vontade de reclamar? Qual foi sua atitude na ocasião? Perdeu a cabeça? Xingou? Ameaçou? O nervosismo deu algum resultado?

Para fazer esta atividade, você não vai precisar perder a cabeça, mas sim usá-la. A situação é a seguinte:

Imagine que você comprou um celular – daqueles bem caros – e, na segunda semana de uso, ele começou a dar problemas. Você vol-tou à loja para trocá-lo, mas o gerente lhe informou que não pode-ria fazer a troca e que você teria de procurar a assistência técnica se quisesse o aparelho consertado. Diante disso, imagine que você tenha procurado se informar sobre seus direitos e resolvido fazer uma recla-mação por escrito.

Sua tarefa, portanto, é escrever essa carta de reclamação.

Para tornar a carta de reclamação mais consistente, imagine e for-neça o máximo de dados sobre esse caso, todos inventados por você (modelo do aparelho, data da compra, nome da empresa, o número da nota fiscal, quando o aparelho começou a dar problemas, data da primeira reclamação, nome do gerente que atendeu você etc.). Quanto mais informações você fornecer, mais fácil e rápido o problema poderá ser solucionado.

Escreva a carta em seu caderno. Ao longo das atividades propos-tas adiante, você vai poder esclarecer eventuais dúvidas e aprimorar a primeira versão da carta que escreveu.

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Língua Portuguesa – Unidade 3

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) trabalha em defesa dos consumidores, orientando-os em suas reclamações, informando-os de seus direitos e fiscalizando as relações de consumo.

O site do Procon traz informações importantes sobre o direi-to do consumidor. Veja a seguir um texto extraído de lá.

A Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) tem por objetivo elaborar e executar a política de proteção e defesa dos consumidores do Estado de São Paulo. Para tanto conta com o apoio de um grupo técnico multidisciplinar que desenvolve ati-vidades nas mais diversas áreas de atuação, tais como:

i. educação para o consumo;

ii. recebimento e processamento de reclamações administra-tivas, individuais e coletivas, contra fornecedores de bens ou serviços;

iii. orientação aos consumidores e fornecedores acerca de seus direitos e obrigações nas relações de consumo;

iv. fiscalização do mercado consumidor para fazer cumprir as determinações da legislação de defesa do consumidor;

v. acompanhamento e propositura de ações judiciais coletivas;

vi. estudos e acompanhamento de legislação nacional e interna-cional, bem como de decisões judiciais referentes aos direitos do consumidor;

vii. pesquisas qualitativas e quantitativas na área de defesa do consumidor;

viii. suporte técnico para a implantação de Procons Municipais Conveniados;

ix. intercâmbio técnico com entidades oficiais, organizações pri-vadas, e outros órgãos envolvidos com a defesa do consumidor, inclusive internacionais;

x. disponibilização de uma Ouvidoria para o recebimento, enca-minhamento de críticas, sugestões ou elogios feitos pelos cida-dãos quanto aos serviços prestados pela Fundação Procon, com o objetivo de melhoria contínua desses serviços.

FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Institucional: objetivos. Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br/categoria.asp?id=206>.

Acesso em: 26 out. 2012.

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Fica a dica

Caso queira se aprofundar no assunto, você pode visitar os seguintes sites de instituições civis que orientam os consumidores sobre seus direitos. Em alguns deles, inclusive, você pode também postar sua reclamação gratuitamente (veja os indicados com *). Assim, se um dia algum serviço que foi prestado a você não lhe agradar, além de enviar cartas de reclamação diretamente para a empresa, você pode mandá-la para um jornal ou, também, publicá-la em um desses sites (ou pesquisar outros). Dessa maneira, estará exercendo sua cidadania.

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). Disponível em: <http://abradecont.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.* ASSOCIAÇÃO Nacional de Assistência ao Consumidor e ao Trabalhador (Anacont). Disponível em: <http://anacontcomvoce.com.br>. Acesso em: 26 out. 2012.* FUNDAÇÃO de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). Disponível em: <http://www.procon.sp.gov.br>; <http://www.procon.sp.gov.br/atendimento.asp>. Acesso em: 26 out. 2012.INSTITUTO Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (Brasilcon). Disponível em: <http://www.brasilcon.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor (Idecon). Disponível em: <http://www.ideconbrasil.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.INSTITUTO Nacional de Defesa do Consumidor do Sistema Financeiro (Andif). Disponível em: <http://www.andif.com.br>. Acesso em: 26 out. 2012. FÓRUM Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC). Disponível em: <http://www.forumdoconsumidor.org.br>. Acesso em: 26 out. 2012.* RECLAMAO.COM. Disponível em: <http://www.reclamao.com>. Acesso em: 26 out. 2012. * RECLAME Aqui. Disponível em: <http://www.reclameaqui.com.br/reclame/>. Acesso em: 26 out. 2012.

Carta de reclamação

Reclamar vem do latim e significa “gritar”, “exclamar” (em sinal de oposição) e “protestar”. A reclamação é um direito, uma maneira de se proteger das mais variadas situações do dia a dia: compras que não deram certo, serviços que foram pagos e não prestados, direitos que não foram respeitados. As pessoas reclamam quando se sen-tem lesadas, quando instituições não cumprem seu dever. O direito de reclamar quando ocorrem situações como essas está previsto no Código de Defesa do Consumidor.

As cartas de reclamação podem variar muito. Mudam de acordo com a intenção de cada reclamante e do quanto este se sentiu lesado em determinada situação. Mas é preciso saber para quem reclamar e, prin-cipalmente, usar a linguagem adequada para fazê-lo. A maneira como você fala ou escreve pode fazer toda a diferença quando se trata de uma reclamação. Perder a cabeça, xingar, ser ofensivo pode ser considerado um abuso de direito e então, de vítima, você passa a ser o acusado.

Maurício Vargas, diretor e fundador do site Reclame Aqui, espe-cializado na orientação sobre direitos do consumidor, diz que o des-controle é o erro mais comum do consumidor na hora de reclamar. Nos momentos de raiva, quem escreve tende a se exceder nos termos que usa. Para ele, é preciso deixar de lado a insatisfação e elaborar um texto claro, objetivo, conciso, para que se chegue a uma solução. Tenha em mente que a carta será endereçada a alguém do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), que vai precisar entender qual é a reclamação antes de encaminhá-la a uma solução. Daí a importân-cia de ser cauteloso e objetivo ao escrever...

176

Língua Portuguesa – Unidade 3

Atividade 6 Bote a boca no trombone...

Conforme informações retiradas do site do Procon, em 2011, a área de produtos (móveis, aparelhos eletrônicos e vestuário) foi a que registrou maior número de reclamações, seguida por assuntos finan-ceiros (bancos, seguradoras) e serviços essenciais (telecomunicações, energia elétrica, saneamento básico).

1. Leia a carta a seguir e, depois, responda às questões propostas.

São Paulo, 5 de abril de 2012.

Lojas Belezas na Cozinha

A/C Departamento de Atendimento ao Consumidor

Prezado senhor,

No dia 30 de janeiro, comprei um armário de cozinha, modelo Metal, formado por quatro peças e gaveteiro (envio cópia da nota fiscal anexada a esta carta). Na compra efetuada, estava incluída a montagem do armário num prazo máximo de dez dias.

No dia 5 de fevereiro, o armário foi entregue em minha casa, mas até hoje (dia 5 de abril) nenhum técnico da loja veio montá-lo. Já conversei por telefone inúmeras vezes com o serviço de atendimento ao cliente da loja. A informação que recebi nesses DOIS MESES DE ESPERA foi sempre a mesma: um novo agendamento para realização do serviço. Mas nenhum técnico apareceu nas datas previstas.

O armário está desmontado há dois meses no meio de minha cozinha. Não há outro espaço em minha casa onde possa acomodá-lo. O mais gra-ve é que, em todas as datas previstas para a visita do técnico, não pude trabalhar. Trabalho na área de serviços domésticos e não posso me dar ao luxo de perder dias de serviço, já que sou diarista.

Acredito ser meu direito ser atendida decentemente, já que paguei o armário à vista. Exijo que o armário seja montado na data mais próxima do dia do recebimento desta carta, de preferência em um sábado, assim não vou perder mais nenhum dia de serviço. Caso isso não aconteça, buscarei as MEDIDAS JUDICIAIS cabíveis e necessárias e lutarei para obter meu dinheiro de volta, com juros e correções.

Sem mais,

Débora Alcântara

Língua Portuguesa – Unidade 3

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a) Considerando o conteúdo da carta, complete o quadro:

b) Localize os verbos e as expressões verbais que aparecem na carta e, em seguida, circule os que estão no tempo passado. Em que parte do texto está a maioria deles? Por que esse tem-po verbal foi usado?

c) Há verbos no tempo futuro? Em que parte do texto eles apa-recem? Por quê?

d) Por que, em sua opinião, algumas palavras foram escritas em letras maiúsculas e em negrito?

Problema

Situação atual

Argumentos

Solução proposta

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Língua Portuguesa – Unidade 3

2. Pensando na carta lida e em outras cartas de reclamação que você já leu ou produziu, responda:

a) Como uma carta de reclamação geralmente se inicia?

b) Que tipo de assunto há na parte central dessas cartas?

c) Como essas cartas em geral são encerradas?

3. Faça, em seu caderno, uma revisão da carta de reclamação a seguir, procurando resolver os seguintes problemas: formato da carta, falta de pontuação e repetição excessiva de certas palavras.

Atividade 7 De volta à sua carta de reclamação

Retome a carta de reclamação que você escreveu e converse sobre ela com um colega. Confiram se nas cartas que produziram aparecem:

• localidade e data;

• nome da loja ou do departamento/setor da loja;

• saudação inicial;

• descrição sucinta dos fatos que levaram ao envio da carta – data da compra, número da nota fiscal. Observe a presença de expres-sões que marcam o tempo (por exemplo, há duas semanas, on-tem etc.) e de palavras que introduzem os motivos da reclamação (porque, já que, pois, então...);

Comprei pela revista que vocês editam, a Revista Sempre Mais, uma máquina fotográfica da marca Fhotomil. A propaganda garantia que no mesmo dia da compra seria enviada a máquina mas até hoje a máquina não chegou. Comprei a máquina para dar de aniversário ao meu filho, mas até hoje a máquina não veio. É um absurdo que isso aconteça. Já liguei várias vezes para o número de telefone de atendimento ao consumidor que aparecia na revista mas não consegui falar com ninguém porque não saía do atendimento automático. Por isso estou escrevendo para vocês que editam essa revista que não cumpriu o que estava combinado porque não enviou a máquina fotográfica como tinha divulgado. Espero que alguém se responsabilize pelo que está acontecendo. É um absurdo, isso é roubo, alguém tem de me devolver o dinheiro que gastei.

Atenciosamente F. J.

Língua Portuguesa – Unidade 3

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• exposição clara do que se pretende;

• despedida;

• assinatura.

Caso um dos itens anteriores não conste na carta que você escreveu, reescreva-a, acrescentando o que falta ao texto.

Atividade 8 A arte de solicitar

1. Reúna-se com dois colegas e façam o que é solicitado:

a) Listem cinco situações em que caberia escrever uma carta de solicitação, isto é, uma carta para pedir algo.

b) Como você costuma convencer alguém a atender uma solicitação?

Exercer a cidadania pressupõe nos posicionarmos diante dos fatos. Por isso é preciso que você se informe, reflita e manifeste seu ponto de vista, concordando, discordando, contestando, deba-tendo. É fundamental saber reivindicar seus direitos, inclusive por meio da escrita. A leitura e a escrita favorecem o exercício da cida-dania, tanto que se constituem um direito de todo cidadão.

Quanto mais conhecemos nossos direitos e deveres, assim como os mecanismos de que dispomos para exercê-los, mais condições teremos de nos posicionarmos com autonomia.

Nesse sentido, a leitura e a escrita devem ser compreendidas como atividades sociais que ampliam nosso conhecimento, sensi-bilidade, imaginação, bem como nosso entendimento do mundo.

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Língua Portuguesa – Unidade 3

c) Em sua opinião, o que é argumentar? Em que circunstâncias a argumentação deve ser utilizada?

2. Leia a seguinte carta e, depois, responda às questões propostas.

Carolina Ferrari

Rua Alcântara Munhoz, 435

05598-108 São Paulo - SP

Supermercado Vitória

Av. João Neto, 45

05598-100 São Paulo - SP

São Paulo, 25 de julho de 2012.

Prezado gerente do Supermercado Vitória,

O motivo desta carta é informá-lo que tenho interesse em exercer a função de operadora de caixa no Supermercado Vitória. Meu currículo en-contra-se anexado para a sua apreciação.

Já trabalhei como operadora de caixa em outros supermercados e te-nho muita experiência nessa função. Também posso desempenhar outros serviços, pois já fiz diversos cursos de capacitação, como o curso de logís-tica e relações humanas. Além disso, tenho noções básicas de informáti-ca. Gosto de lidar com público – sou muito comunicativa – e adoro apren-der coisas novas. Tenho me preparado bastante para assumir de imediato essa função, mas não poderia trabalhar no período noturno, já que estudo.

Na expectativa de poder demonstrar minhas capacidades de trabalho e minha vontade e determinação, subscrevo-me,

atenciosamente,

Carolina Ferrari

Tel.: 3000 5678

[email protected]

Língua Portuguesa – Unidade 3

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a) Localize no texto e grife com caneta colorida as seguintes infor-mações: remetente, destinatário, local e data, saudação inicial, assunto e despedida.

b) Qual é o principal objetivo da carta de Carolina? Você acha que ela escreveu uma boa carta para o que deseja? Por quê?

c) Retire da carta os argumentos que Carolina usou para con-vencer o gerente do supermercado de que estava apta a assu-mir uma vaga de emprego.

d) Os argumentos são mais importantes em uma carta de recla-mação ou em uma carta de solicitação? Por quê?

e) No segundo parágrafo da carta, há algumas palavras destaca-das, com as quais a autora relaciona partes do texto a outras, organizando, assim, a sequência do que está tratando. Subs-titua essas palavras por palavras ou expressões que estão no quadro a seguir e reescreva o parágrafo no caderno, fazendo as alterações necessárias.

no entanto; em razão de; além de; com o objetivo de; por isso; por conseguinte; considerando que; do mesmo modo; também; além disso

Observação: não é necessário usar todas as expressões.

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Língua Portuguesa – Unidade 3

Carta de solicitação

Conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a palavra “solicitar” significa:

Assim, diferentemente das cartas de reclamação, em que usamos

os argumentos para exigir, principalmente, o cumprimento de um

direito, as cartas de solicitação precisam de argumentos para conven-

cer, pois o destinatário não tem a obrigação de atender ao que lhe é

solicitado. Se no discurso de reclamação era fundamental observar a

adequação da linguagem, no discurso de solicitação a linguagem ade-

quada deve vir acompanhada de persuasão e convencimento.

Atividade 9 Qual sua opinião?

No jornal Folha de S.Paulo, de 22 de setembro de 2009, foi publi-

cada a seguinte notícia:

A partir de hoje, as escolas de ensino fundamental públicas e pri-vadas de todo o país passam a ser obrigadas a executar uma vez por semana o Hino Nacional. A lei, de autoria do deputado Lincoln Portela (PR-MG), foi sancionada ontem (21)

pelo vice-presidente no exercício da Presidência, José Alencar.

A lei não prevê data e horário para a execução do hino, ficando a crité-rio dos estabelecimentos de ensino. O projeto também não prevê punição a quem não cumprir a lei [...].

São Paulo, 22 de setembro de 2009

Escolas terão de tocar Hino Nacional uma vez por semana

Folha de s.paulo – eduCação

Simone Iglesias

IGLESIAS, Simone. Escolas terão de tocar Hino Nacional uma vez por semana. Folha de S.Paulo, 22 set. 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/

folha/educacao/ult305u627357.shtml>. Acesso em: 26 out. 2012.

SancionarAprovar, confirmar, ratificar.

Você já conhecia essa lei? Qual sua opinião sobre ela? Converse com seus colegas, argumentando a favor ou contra a lei.

HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 3.0 [CD-ROM]. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Tentar conseguir, ir atrás de; requestar, procurar, buscar. [...]

Pedir (algo) com educação e urbanidade, ou de acordo com fórmulas prees-tabelecidas. [...]

Língua Portuguesa – Unidade 3

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Atividade 10 Escrevendo uma carta de solicitação

1. O diretor da escola consultou os estudantes a respeito do inte-resse de uma turma do 8o ano em grafitar os muros da escola, já que aprenderam a técnica na disciplina de Arte. O resultado dessa consulta foi polêmico: parte dos estudantes foi a favor e outra parte, contra. Qual seria sua opinião se isso ocorresse em sua es-cola? Com base nela, escreva uma carta de solicitação ao diretor da escola. Exponha o motivo por que escreveu a carta e cite seus argumentos para convencer o diretor a atender à sua solicitação.

2. Agora, com um colega, discutam o conteúdo das cartas que vocês escreveram. Confiram se nessas cartas aparecem:

• localidade e data;

• saudação inicial;

• o motivo da carta de solicitação;

• argumentos para convencer o leitor/destinatário a atender à solicitação;

• despedida (se quiser, utilize uma das seguintes fórmulas: “desde já agradeço”, “aguardo sua resposta”, “grato pela atenção dis-pensada”);

• assinatura;

• telefone, email ou endereço.

Caso um dos itens citados anteriormente não conste na carta que você escreveu, reescreva-a, acrescentando o que falta ao texto.

Atividade 11 Problemas da cidade

1. No portal virtual de muitas cidades, há um espaço onde qualquer cidadão pode reclamar ou solicitar serviços. Reúna-se com seus co-legas e, em uma folha à parte, façam uma lista dos problemas mais graves e qual seria a solicitação a ser feita às autoridades muni-cipais, para futuras melhorias. Os problemas listados podem ser de qualquer área: educação, saúde, transporte, saneamento básico, coleta de lixo etc.

2. Terminada a lista, escolha um dos problemas listados e elabore uma carta de solicitação. Veja algumas dicas a seguir que podem ajudá-lo na hora de escrever e revisar sua carta.

Arte8o ano – Unidade 1

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Língua Portuguesa – Unidade 3

Caso escreva para o prefeito, você pode usar “Excelentíssimo senhor prefeito”; caso seu destinatário seja algum secretário municipal, pode usar “Excelentíssimo secretário”.

Você pode escolher uma dessas possibilidades:

“Agradecendo sua atenção, subscrevo-me cor-dialmente”, “Na expectativa de sua resposta, despeço-me atenciosamente”, “Atenciosamente”, “Cordialmente”.

Lembre-se de colocar seu nome completo e outras informações relevantes para o pro-blema para o qual você está solicitando uma solução; por exemplo, se for um problema do bairro em que mora, você pode colocar o seu endereço residencial, se for na escola, o ende-reço de onde você estuda.

Local e data

Saudação inicial

Corpo da carta

Despedida/pedido de deferimento

Assinatura

• Motivo pelo qual escreve a carta: descreva a situa-ção que o levou a escrever a carta.

• Pedido/solicitação: procure apresentar sua solicita-ção com bastante clareza, para que seu destinatário possa avaliar adequadamente o seu pedido.

• Argumentos: escreva os argumentos que darão sus-tentação ao pedido, usando conectivos para introduzir argumentos e explicações (como “pois”, “já que”, “em virtude de” e “devido a”) e, também, marcadores textu-ais para organizar a ordem dos argumentos (como “em primeiro lugar”, “além disso”, “assim” e “portanto”).

DeferirConceder, despachar favoravelmente.

Língua Portuguesa – Unidade 3

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Por que você acredita que os carteiros estão entre os profissionais que gozam de maior credibilidade entre a população brasileira e a dos demais países pesquisados?

Você estudou

Nesta Unidade, você leu, analisou e escreveu diferentes gêne-ros de cartas. Pôde observar que há diversas finalidades e vários formatos para elas, mas há alguns elementos que não podem faltar: remetente (quem escreve a carta), destinatário (aquele para quem a carta foi escrita), local e data (o lugar e o dia em que foi escrita), saudação (o modo de chamar a pessoa a quem a carta é destinada) e despedida. Estudou também que as cartas comerciais, como as de reclamação e de solicitação, têm fórmu-las mais ou menos fixas de organização e exigem o uso de uma linguagem mais formal.

Pense sobre

Conforme pesquisa realizada pela consultoria alemã GFK com quase 19 mil pessoas de 18 países da Europa e da América, incluindo o Brasil, os profissionais com maior credibilidade entre a população em 2010 foram bombeiros, carteiros, professores e médicos.

Fonte: LVBA Comunicação. Confiança da população nos políticos continua em queda. Disponível em: <http://www.lvba.com.br/web/imprensa/?p=2310>. Acesso em: 26 out. 2012.

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Língua Portuguesa – Unidade 3

4 PeSquiSando o mundo em diCionárioS e enCiCloPédiaS

Seria impossível fazer a história do mundo e descrever a natureza e a história da ciência sem os dicionários ou enciclopédias.

VILELA, Mário. Ensino da língua portuguesa: léxico, dicionário, gramática. Coimbra: Almedina, 1995.

Nesta Unidade, você vai ler, analisar e diferenciar verbetes de dicio-nários e de enciclopédias, que são gêneros usados para pesquisar ou conhecer assuntos ou temas que despertem seu interesse. Vai aprender também a fazer um esquema: uma representação gráfica do texto que permite visualizar a articulação das ideias, bem como sua hierarquiza-ção – ou seja, ideia central e ideias secundárias de um texto. Com os esquemas, ficará mais fácil compreender e fixar informações.

Para iniciar...

A palavra latina perquiro, traduzida em português por pes-quisa, significa “buscar com cuidado”, “procurar por toda parte”, “informar-se de”, “inquirir”, “perguntar” (cf. Novissimo diccionario Latino-Portuguez, de F.R. dos Santos Saraiva). Considerando esses sentidos, converse com os colegas e o professor.

• Quando alguém busca informações sobre o meio de transporte mais indicado para ir de um lugar a outro, está pesquisando?

• Na vida cotidiana, que pesquisas as pessoas costumam fazer?

• Você acha que os métodos de pesquisa podem variar? Dê exemplos.

• Você sabe o que é pesquisa de mercado? E pesquisa informal?

• Que tipo de pesquisa é proposta no universo escolar? Como são realizadas essas pesquisas?

• Para realizar pesquisas escolares, você costuma consultar dicioná-rios? E enciclopédias? E em outras situações: costuma consultá-los? Com qual finalidade?

• Você tem alguma enciclopédia em casa? Qual?

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• Na maioria das vezes, você consulta dicionários e enciclopédias impressos ou virtuais? Por quê?

• É fácil encontrar as palavras buscadas no dicionário ou na enci-clopédia? Por quê?

Dicionários e enciclopédias

“Bolsa de alimentos”, “Bolsa Família e cesta básica”, “contos e versos populares do Brasil”, “água”, “trabalho e emprego no Brasil”, “desmatamento e poluição”, “festas populares”, “condições de mora-dia”, entre muitos outros, são temas que os estudantes frequentemente investigam na escola, em pesquisas orientadas por professores de todas as áreas. Nessas pesquisas, os estudantes buscam textos para obter informações, dados e imagens sobre o tema pesquisado. Mas selecionar material interessante e adequado não é tarefa fácil... Também não é tarefa simples estudar o material encontrado, fazer resumos e fichamen-tos e apresentar para um público resultados e conclusões da pesquisa. Como fazer, então? Por onde começar uma pesquisa? Tendo em vista temas de seu interesse, as obras de referência podem ser o passo inicial!

As obras de referência são almanaques, atlas, enciclopédias e dicionários de vários tipos. Nas bibliotecas e salas de leitura, essas obras ficam organizadas à parte e, como você já deve ter reparado, não podem ser emprestadas aos usuários, pois são consideradas obras de consulta permanente e devem ficar sempre disponíveis. São exce-lentes pontos de partida para muitos dos temas a ser pesquisados, já que fornecem definições, informações básicas, uma visão geral do tópico abordado, fatos, estatísticas, imagens e indicações de outras fontes que, posteriormente, podem ser consultadas.

Cada obra de referência tem uma função específica. Caso precise confirmar uma data, um fato, ou ver uma imagem, almanaques podem ser a opção ideal; se precisar encontrar e analisar um mapa, um atlas poderá ser consultado; para verificar definições ou a etimologia de uma palavra, um dicionário seria a melhor escolha; uma enciclopédia ou dicionários temáticos (dicionário de filosofia, de culinária, de histó-ria etc.) serão úteis no caso de desejar encontrar informações básicas ou introdutórias sobre um assunto. Para pesquisas mais aprofundadas, outras fontes confiáveis precisam ser consultadas: sites, reportagens, revistas, artigos de divulgação científica etc.

Para conhecer melhor as obras de referência, você vai trabalhar com duas delas: dicionários e enciclopédias. Vai ler e analisar verbetes dessas obras, para saber mais sobre determinado tema ou aspecto de um tema. Mas o que é um verbete?

EtimologiaCiência que estuda a origem e a evolução das palavras.

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Língua Portuguesa – Unidade 4

Atividade 1 Verbetes em foco

Considerando o que você sabe sobre verbetes de dicionários e enci-clopédias, coloque D para as características que se referem a verbetes de dicionário e E para as que se referem a verbetes de enciclopédia:

( ) Contém informações gerais, que dão visão ampla de vários assuntos.

( ) É conciso, pois seu objetivo é definir a palavra, e não explicá-la como um tema amplo.

( ) As informações são apresentadas em blocos, frequentemente orga-nizados por subtítulos.

( ) Permite a identificação rápida dos vários subtópicos ligados ao tema central.

( ) A expansão em subtópicos permite o detalhamento das informações.

( ) A linguagem é formal e enxuta.

( ) Apresenta a abreviação da classe gramatical da palavra e exem-plos da aplicação dela em frases.

( ) Apresenta fotos, ilustrações, infográficos, mapas, tabelas e gráficos que dialogam com o texto verbal explicativo.

( ) Apresenta sugestões de outros termos ou ligações (“linkagens”) que podem ser consultados.

Discuta as respostas com seu professor. Ou consulte um dicionário e uma enciclopédia para checar suas respostas.

Atividade 2 Dando uma olhada no dicionário

1. Veja como, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a pala-vra “verbete” aparece definida e, em seguida, responda às ques-tões propostas.

Verbete substantivo masculino (1881 cf. CA)

1. nota ou comentário que foi registrado, anotado; apontamento, nota, anotação, registro

2. (1881) pequeno papel em que se escreve um apontamento

3. ficha de arquivo (p. ex., em biblioteca)

4. (a1947) em lexicografia, o conjunto das acepções, exemplos e outras infor-mações pertinentes contido numa entrada de dicionário, enciclopédia, glossário etc.

ETIM verbo + -ete; ver verb(i/o)-

HOM verbete (fl. verbetar)

VERBETE. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 2 844.

EntradaEntrada, cabeça de verbete ou unidade léxica é a palavra, locução, frase ou elemento de composição que abre o verbete, sendo objeto de definição e informação. Vem em negrito e em tipo redondo, se se tratar de língua portuguesa, e em negrito de tipo itálico se se tratar de palavra ou locução de uma língua estrangeira.

DICIONÁRIO Houaiss da Língua Portuguesa. Dos verbetes e outras informações técnicas.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. XVIII.

Língua Portuguesa – Unidade 4

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a) As informações que aparecem no quadro resolveram suas dú-vidas sobre o sentido preciso do termo “verbete”? Por quê?

b) Você saberia dizer a que correspondem os números que estão entre parênteses no quadro? Dê uma hipótese para o uso deles, caso não tenha certeza.

c) Qual dos sentidos apresentados no quadro encaixa-se na frase “Não encontrei o verbete ‘Estereótipo’ nesta enciclopédia”?

d) Destaque no quadro as palavras que aparecem abreviadas. Você sabe o significado delas? Se souber, escreva-os. Se não, tente descobrir o que significam.

e) Aponte algumas semelhanças e diferenças entre verbetes de dicionários e de enciclopédias.

2. As palavras agrupadas a seguir podem ser encontradas no dicio-nário? Por quê?

Grupo 1

negligenciamos / picaresca / esdrúxulos / embrenhasse

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Língua Portuguesa – Unidade 4

Grupo 2

Dicionário: “pai dos sabidos”!

Você é daqueles que, para ler, escrever ou revisar um texto, consul-tam o dicionário toda hora? Ou, ao contrário, raramente consulta um? Você já ouviu alguém se referir ao dicionário como “pai dos burros”? Concorda com essa ideia? Mesmo sendo uma brincadeira, essa afir-mação, para você, soa preconceituosa?

O dicionário é uma fonte riquíssima de informação sobre a língua e o mundo, e consultá-lo deveria ser um hábito de todas as pessoas que querem saber mais sobre as coisas. Mas ler um verbete de dicio-nário não é uma tarefa simples. Para extrair todas as informações que um verbete de dicionário traz, são necessários alguns conhecimentos específicos da língua escrita. Veja o que é preciso:

1. Os verbetes estão organizados em ordem alfabética nos dicioná-rios, considerando suas letras iniciais e as seguintes. Assim, para encontrar o verbete procurado, você precisa conhecer a ordem alfabética, além de saber como a palavra é escrita.

2. Os verbos conjugados e as palavras no plural, no gênero femini-no, no aumentativo ou no diminutivo não aparecem no dicionário. O único modo de encontrar essas palavras é procurá-las em sua for-ma não flexionada. Por exemplo, você não encontraria o verbete balbuciamos, mas balbuciar – a forma infinitiva do verbo.

3. Um verbete concentra diversas informações: nos dicionários, podem aparecer indicações sobre a pronúncia correta da palavra, a data em que ela “entrou” para a língua portuguesa, algumas informa-ções gramaticais, etimológicas, exemplos de uso etc. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, por exemplo, na versão impressa, nas primeiras páginas, você encontra a Chave do dicionário, que traz explicações detalhadas de como entender todas as informações que aparecem no verbete. Assim, também é necessário saber o significado das siglas ou abreviações, para entender bem as informações do ver-bete. A versão impressa e completa do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – e de outros dicionários também – é acompanhada por uma relação das abreviações mais usadas e o que significam.

epatite / gequitibá / sinismo / istafado / ecessão

Língua Portuguesa – Unidade 4

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No caso do verbete Verbete, confira em vermelho algumas in-formações complementares que podem ser obtidas consultando a Chave do dicionário.

Verbete substantivo masculino (1881 (data que entrou no português) cf. (confira ou confronte) CA) (fonte dessa datação: Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Francisco Júlio Caldas Aulete, que morreu em 1878)

1. nota ou comentário que foi registrado, anotado; apontamento, nota, anota-ção, registro

2. (1881) pequeno papel em que se escreve um apontamento

3. ficha de arquivo (p. ex. (por exemplo), em biblioteca)

4. (a (antes de) 1947) em lexicografia, o conjunto das acepções, exemplos e outras informações pertinentes contido numa entrada de dicionário, enci-clopédia, glossário etc.

ETIM (etimologia) verbo + -ete; ver (remissão) verb(i/o)-

HOM (homônimos) verbete (fl. (flexão) verbetar)

VERBETE. In: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 2 844. (inserções adicionadas)

Viu quantas informações um verbete de dicionário apresenta?

Atividade 3 Explorando o dicionário: a origem e a evolução das palavras

Etimologia é a ciência que estuda a origem e a evolução das palavras. Depois de conhecer a história da palavra, é possível com-preendê-la de maneira diferente. Em muitos dicionários (como o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa), entre todas as informa-ções que o verbete apresenta, há o sentido etimológico da palavra. Consulte um dicionário completo (não um minidicionário) e encon-tre no verbete o sentido etimológico das palavras a seguir:

• Enciclopédia:

• Entusiasmo:

• Filosofia:

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Língua Portuguesa – Unidade 4

• Virtude:

Atividade 4 Você é o dicionarista

Solte a imaginação e invente significados para as palavras a seguir. Procure escrever como se fosse um verbete de dicionário. Depois, ouça as definições que seus colegas inventaram e confiram o significado verdadeiro, consultando um dicionário.

• Acrópole:

• Redundante:

• Forjado:

• Sumidade:

Verbetes de enciclopédia e de dicionário temático

Qualquer que seja a enciclopédia moderna, isto é, elaborada ou preparada a partir do século XVIII, terá por função apresentar um conjunto de ideias, conhecimentos, crenças vigentes, aspirações e ten-dências consolidadas historicamente pela humanidade.

A sequência dos verbetes em uma enciclopédia moderna segue, via de regra, a ordem alfabética, assim como nos dicionários. Essa organização permite que ideias e conceitos científicos sejam facil-mente localizados por todos os que consultam essa obra de referência. Assim, não é necessário saber a relação temática entre os termos para encontrá-los; basta considerar a ordem alfabética. Mas, para tornar evidente a teia de conhecimentos, adotou-se o procedimento de indicar ao leitor outros verbetes – os links – que ele também pode consultar

Língua Portuguesa – Unidade 4

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para realizar sua pesquisa. Essa sugestão pode aparecer no fim do texto (“veja também os seguintes verbetes:...”) ou ao longo dele, com pala-vras destacadas, que podem aparecer em letras maiúsculas, negrito ou itálico. Nas enciclopédias digitais, os links em geral aparecem na cor azul e, para acessá-los, basta clicar em cima da palavra destacada.

É interessante você saber que uma enciclopédia, normalmente, não tem um único autor. Quem a elabora é uma equipe de autores especialistas, sob coordenação ou direção de outro grupo de pessoas.

Enciclopédias, bem como dicionários temáticos – os que reúnem verbetes de assuntos específicos como filosofia, medicina, cultura –, são muito úteis como fonte orientadora inicial para pesquisas e ponto de partida para a aprendizagem de um assunto. Respondem a per-guntas de informação imediata: quem, que, qual, como, quando. Mas é importante observar que nem todas as obras de referência têm a mesma qualidade.

Qualidade das obras de referência impressas

Sempre que consultar uma obra de referência, é importante obser-var os seguintes pontos:

• Editora, que deve ser conhecida e respeitada por publicar obras acadêmicas de boa qualidade.

• Colaboradores, que devem ser pessoas conhecidas na área e pro-fissionais capacitados.

• Nível de especialização, que indica o teor da informação e o pú-blico a quem a obra é destinada.

• Páginas preliminares, que devem incluir uma explicação clara do propósito e alcance da obra, como está organizada e formas de aces-so ao conteúdo. Devem incluir também listagem dos colaboradores com a respectiva qualificação e instituições em que trabalham, e ain-da explicações de abreviaturas e siglas empregadas no corpo da obra.

Nas grandes enciclopédias, no início ou ao final de alguns verbetes, também é possível encontrar um sumário que mostra, esquematica-mente, os tópicos constantes no texto e como estão organizados.

Todas essas características servem para que se avalie a credibi-lidade das informações, ou seja, o quanto elas podem ser confiáveis.

Obras de referência virtuais

Em relação à pesquisa em enciclopédias virtuais, realizada na internet, é preciso ficar muito atento quanto às informações que che-gam até nós pela tela do computador. Atualmente, os sites de busca constituem uma poderosa ferramenta para a pesquisa dos mais varia-dos assuntos. Digitando uma palavra-chave e clicando em “pesquisar”,

Você sabia que o termo “wiki” é uma invenção dos tempos da internet?

De origem havaiana, o termo “wiki”, que significa “rápido”, foi utilizado desde o começo dos anos 1990 (cf. Wikipédia) para se referir a todas as coleções de páginas interligadas ou aos softwares que permitem rapidamente o acesso e a produção colaborativa na internet.

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Língua Portuguesa – Unidade 4

um grande número de sites aparece para consulta. Em geral, um dos primeiros dessa lista é o da Wikipédia <http://pt.wikipedia.org>, enci-clopédia livre da qual todos podem participar... É isso mesmo: qualquer pessoa pode acessar um verbete da Wikipédia para ler ou modificar as informações ali contidas.

Nessa enciclopédia, os verbetes podem ser produzidos coletivamente, por internautas dispostos a participar na elaboração do texto; para isso, basta estar conectado à internet e ter uma senha de acesso desse site.

Por esse motivo, a Wikipédia está sempre em processo de amplia-ção, recebendo novos verbetes e atualizações, ainda que muitos verbe-tes sejam textos incompletos e que podem ser melhorados.

Além disso, o fato de o verbete poder ser escrito de forma colabo-rativa (e não necessariamente por um especialista) torna essa fonte de consulta não totalmente confiável, apesar de se esperar que as pessoas que escolhem participar do processo de elaboração de um verbete tenham o compromisso de oferecer a informação mais precisa possí-vel. Se, por acaso, um usuário publicar textos preconceituosos ou com informações falsas, eles são retirados do site e esse usuário pode ser proibido de fazer novas colaborações.

Ainda assim, quando se acessa algum verbete da Wikipédia, pode aparecer a seguinte mensagem, destacada no exemplo a seguir:

PORTFÓLIO. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Portfólio>. Acesso em: 26 out. 2012.

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Em outras palavras, a enciclopédia livre Wikipédia é uma ótima ferramenta para conseguir com rapidez informações iniciais sobre algum tema ou questão, mas outras fontes devem ser consultadas caso se pretenda pesquisar e obter informações mais confiáveis.

Atividade 5 Comparando verbetes

1. Leia os dois verbetes apresentados a seguir e, depois, responda às questões propostas.

Verbete 1

CUNHA, Newton. Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. São Paulo: Perspectiva/Sesc, 2003, p. 392.

Verbete 2

LITERATURA de cordel. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_cordel>. Acesso em: 26 out. 2012.

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Literatura de cordel. Literatura popular, de características folclóricas, em prosa ou em verso, impressa em folhetos vendidos em barracas de feira, de mercados, de praças ou em pontos de afluência pública. A denomina-ção foi dada em Portugal pelo hábito de se exporem os folhetos amarrados por cordões ou cordéis. Sua difusão no Brasil ocorreu majoritariamente no Nordeste, em finais do século XIX, sendo produzida por escritores, poetas e cantadores anônimos ou autônimos. Os temas, nascidos principalmente do ambiente rural, abarcam o religioso e o profano, incluindo-se narrativas históricas, lendas e fábulas tradicionais, assim como acontecimentos insólitos ou eventos cotidianos, trágicos ou humorísticos. Ao longo do tempo, figuras, acontecimentos e cenários urbanos passaram a servir de tema aos poetas do cordel. Assim sendo, tanto se encontram personagens reais da vida polí-tica nacional, como aqueles elevados à categoria de heróis, de santos ou de bandidos-cangaceiros (Antônio Silvino, Lampião, Corisco) e profetas (Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Frei Damião); figuras inteiramente fictícias (a negra de um peito só, os malandros João Grilo e Pedro Malasartes) ou ainda fantásticas (o Pavão Misterioso). A prosa é tratada na forma de conto, predominando na poesia os versos em redondilhas, maior ou menor. [...]

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Língua Portuguesa – Unidade 4

a) Retire do Verbete 1 três informações que você considera im-portantes sobre a literatura de cordel.

b) Retire do Verbete 2 três informações que você considera im-portantes sobre a literatura de cordel.

c) Os Verbetes 1 e 2 apresentam as mesmas informações? Descu-bra, completando o quadro com as informações que aparecem nesses verbetes:

Informações que só aparecem no

Verbete 1

Informações que só aparecem no

Verbete 2

Informações comuns aos

Verbetes 1 e 2

Língua Portuguesa – Unidade 4

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d) O Verbete 1 foi retirado de um dicionário temático. O Verbe-te 2, de uma enciclopédia digital, acessada pela internet. Em sua opinião, por que no Verbete 2 há palavras destacadas em azul?

e) Observe o índice que aparece no Verbete 2. Em quais itens você clicaria para descobrir novas informações para sua pes-quisa? Por quê?

2. Agora, leia mais um verbete e responda às questões:

Verbete 3

Cordel (cor.del) sm.

1. Corda fina; BARBANTE; GUITA; CORDÃO.

2. Meada de fio esticada entre pregos e us. pelos pedreiros para marcar alinha-mento.

3. Bras. F. red. de literatura de cordel.

4. Livreto ou folheto, ou a história nele impressa, produzidos com as técnicas gráficas e narrativas da literatura de cordel.

[Pl.: -déis.]

[F.: Do fr. cordel.]

Cordel detonante

1. Expl. Estopim feito de material altamente inflamável, protegido por capas de materiais diversos (alguns, impermeáveis).

De cordel

1. Liter. Que é da literatura popular, e impresso em folhetos baratos; que é próprio do gênero literário conhecido como literatura de cordel.

© iDicionário Aulete. <www.aulete.com.br>.

a) O Verbete 3 apresenta quantos significados diferentes para a palavra “cordel”? Quais desses significados são desenvolvidos nos Verbetes 1 e 2?

Fica a dica

Você já reparou que, muitas vezes, as pessoas repetem “frases prontas” que nem sabem de onde vieram?

O escritor Humberto Werneck criou O pai dos burros – dicionário de lugares-comuns e frases feitas, com cerca de 4 500 expressões. Que tal conhecê-lo?

WERNECK, Humberto. O pai dos burros. Dicionário de lugares- -comuns e frases feitas. Porto Alegre: Arquipélago Editorial, 2009.

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Língua Portuguesa – Unidade 4

b) No Verbete 3, em sua opinião, o que significam “sm.”; “[Pl.: -déis.]”; e “[F.: Do fr. cordel.]”?

3. Qual dos três verbetes analisados nesta atividade define “cordel” sem explicá-lo de modo amplo? Justifique sua resposta, considerando o que você estudou sobre verbetes de dicionário e de enciclopédia.

Atividade 6 Um dicionário diferente

O livro O pulo do gato: o berço de palavras e expressões popu-lares (2005), de Márcio Cotrim, foi escrito como um dicionário, mas com um traço de humor. Os verbetes têm uma forma peculiar de apresentação: pequenos relatos, acompanhados de um breve comen-tário do autor.

Leia, a seguir, um dos verbetes desse livro:

COTRIM, Márcio. O pulo do gato: o berço de palavras e expressões populares. São Paulo: Geração Editorial, 2005, p. 21.

1. Quais diferenças há entre os verbetes de dicionário que você es-tudou nesta Unidade e o verbete do livro de Márcio Cotrim? Por quais razões você acha que isso acontece?

2. De quais palavras ou expressões populares você gostaria de saber a origem? Em seu caderno, faça uma lista e depois a apresente aos colegas. Vocês podem pesquisar no livro de Márcio Cotrim ou em outras fontes, para saciar a curiosidade. Boa pesquisa!

Gandula – É o jovem que busca e devolve a bola ao campo ou à quadra durante a disputa de uma partida. A palavra tem origem no nome do jogador argentino Bernardo José Gandulla, que chegou ao Rio de Janeiro em 1939 para jogar no Vasco da Gama. Rapaz educado, tinha o raro hábito de bus-car a bola fora do campo e devolvê-la, ainda que a reposição favorecesse o adversário. A nobreza do gesto comoveu a torcida e a imprensa, que passa-ram a homenagear o jogador batizando de gandulas os meninos boleiros. Dá saudade do tempo em que, como a escola, o futebol era risonho e franco...

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Atividade 7 Ler para aprender

Leia agora um trecho mais completo do verbete “literatura de cordel”, do Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. Depois, com atenção, grife as informações que aparecem sobre características e temas comuns da literatura de cordel.

Literatura de cordel. Literatura popular, de características folclóricas, em prosa ou em verso, impressa em folhetos vendidos em barracas de feira, de mer-cados, de praças ou em pontos de afluência pública. A denominação foi dada em Portugal pelo hábito de se exporem os folhetos amarrados por cordões ou cordéis. Sua difusão no Brasil ocorreu majoritariamente no Nordeste, em finais do século XIX, sendo produzida por escritores, poetas e cantadores anônimos ou autônimos. Os temas, nascidos principalmente do ambiente rural, abarcam o religioso e o profano, incluindo-se narrativas históricas, lendas e fábulas tra-dicionais, assim como acontecimentos insólitos ou eventos cotidianos, trágicos ou humorísticos. Ao longo do tempo, figuras, acontecimentos e cenários urbanos passaram a servir de tema aos poetas do cordel. Assim sendo, tanto se encon-tram personagens reais da vida política nacional, como aqueles elevados à cate-goria de heróis, de santos ou de bandidos-cangaceiros (Antônio Silvino, Lampião, Corisco) e profetas (Antônio Conselheiro, Padre Cícero, Frei Damião); figuras inteiramente fictícias (a negra de um peito só, os malandros João Grilo e Pedro Malasartes) ou ainda fantásticas (o Pavão Misterioso). A prosa é tratada na forma de conto, predominando na poesia os versos em redondilhas, maior ou menor. Um exemplo extraordinário e anônimo: “No tempo em que os ventos suis/faziam estragos gerais,/fiz barrocas nos quintais,/semeei cravos azuis./Nasceram esses tafuis/amarelos como cidro./Prometi a Santo Isidro/levá-los quando lá for,/com muito jeito e amor,/em uma taça de vidro”. Os vendedores, ou mesmo os autores, costumam dividir os textos em função do número de páginas, denominando-os: folhetos (até oito); romance (entre doze e vinte e quatro); histórias (acima de vinte e quatro). [...] As origens europeias do cordel remontam ao século XVI e, ao que tudo indica, seus primeiros exemplares foram impressos na Alemanha, as chamadas gazetas, onde mais cedo se difundiu a tipografia. A pesquisadora Marion Ehhardt recolheu cerca de cinquenta títulos da época, vários deles refe-rentes às viagens dos descobrimentos. No século seguinte apareceu na Holanda, com a denominação de pamflet (panfleto). Na França ficou conhecida como lite-ratura de colportage, por se carregarem as brochuras em um tabuleiro amar-rado ao pescoço (porter au col). Em todos os casos, as mesmas características, conservadas no Brasil: formato tipográfico em quarto ou em oitavo, capas com ilustrações xilográficas ou em clichê, vendas avulsas, sintaxe popular e voca-bulário regional. A influência mais direta que recebemos nos veio da Península Ibérica, cujas obras, conhecidas a partir do século XVII, segundo Teófilo Braga, receberam os nomes de “folhas soltas”, “folhas volantes”, literatura de cordel ou ainda literatura de cego, por ter sido um monopólio de impressão dado pelo rei D. João V à Irmandade do Menino Jesus dos Homens Cegos (Portugal), ou ainda pliegos sueltos, em Espanha. A literatura brasileira modernista e regionalista do século XX, sobretudo após a década de 1920, aproveitou-se das formas e dos temas do cordel, podendo-se citar, entre seus admiradores, José Lins do Rego, Jorge Amado, Ariano Suassuna ou João Cabral de Melo Neto. Na região Sul do País, sobretudo em São Paulo, sobreviveu até meados do século XX uma forma de literatura bastante assemelhada. → Pasquim.[*]

[*] “Pasquim” é uma remissão que aparece no final do verbete “Literatura de cordel” [nota do editor].

CUNHA, Newton. Dicionário Sesc. A linguagem da cultura. São Paulo: Perspectiva/Sesc, 2003, p. 392.

200

Língua Portuguesa – Unidade 4

Com base no texto que você acabou de ler e consultando os tre-chos grifados por você, complete o esquema a seguir com as informa-ções que estão faltando:

Características Temas Origens europeias

Literatura popularNascidos em

ambiente rural

Incluem narrativas históricas, lendas e fábulas tradicionais

Acontecimentos insólitos ou eventos cotidianos, trágicos

ou humorísticos

Impressa em folhetos que são vendidos em pontos de

afluência pública

Na Alemanha,

Na França,

Da Península Ibérica,

Na Holanda,

Folclórica

Literatura de cordel

Língua Portuguesa – Unidade 4

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Você estudou

Nesta Unidade, você viu que as obras de referência são ex-celentes fontes iniciais de pesquisa. Observou como dicionários e enciclopédias são organizados e como proceder para entender as informações que aparecem nos verbetes. Também conheceu os motivos que fazem algumas obras de referência impressas e virtuais não serem as únicas fontes de uma pesquisa.

Além disso, leu e analisou verbetes, como também comple-tou um esquema para visualizar a articulação das ideias de um verbete de dicionário temático.

Pense sobre

De modo geral, os verbetes de enciclopédias impressas ou digitais apresentam a diversidade de conhecimento humano acumulado ao longo de séculos em diferentes áreas e campos de estudo. Como você já deve ter percebido, no mundo de hoje, as informações não param de chegar, e em um ritmo cada vez mais rápido.

Considerando essa situação, qual a importância das obras de refe-rência no mundo atual? A expansão das enciclopédias virtuais pode contribuir para que muitas pessoas tenham acesso a informações? Você já pensou em contribuir para uma enciclopédia virtual, como a Wikipédia? Que tipo de informações gostaria de registrar?

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Língua Portuguesa – Unidade 4

5 o que fazem oS PoetaS Com aS PalavraS?

[A poesia] trata-se, pois, dum fenômeno universal, exatamente como a linguagem.

JAKOBSON, Roman. O que fazem os poetas com as palavras. Revista Colóquio/Letras, Fundação Calouste Gulbenkian, n. 12, mar. 1973, p. 5. Disponível em: <http://coloquio.

gulbenkian.pt/bib/sirius.exe/issueContentDisplay?n=12&p=5&o=p>. Acesso em: 26 out. 2012.

Nesta Unidade, você vai mergulhar no “domínio mais cria-dor da linguagem”, que é como Jakobson, autor da epígrafe antes citada, trata a poesia. Vai aprender a ler e interpretar textos poéti-cos cuidadosamente escritos para produzir reflexão, encantamento e emoção – dimensões que constituem o ser humano. Vai estudar também o que são rima, métrica, figuras de linguagem e outros recursos textuais que os poetas utilizam para expressar, em versos, o que a linguagem cotidiana não consegue expressar.

Para iniciar...

Você já leu algum poema atentando para o que há de diferente nesses escritos? Lembra-se de alguma vez ter interpretado um poema ou ter feito uma “leitura poética”?

Busque na memória saberes e vivências literárias e converse com seus colegas e seu professor.

• A poesia cumpre um papel importante em sua vida? Por quê? Você acha que algum povo poderia viver sem poesia?

• Em seu universo de leitura, em que momentos se deparou com um poema? Do que se recorda?

• Você conhece a obra de algum poeta? De quais poemas ou versos desse poeta você jamais esqueceu? Por quê?

• O que, em sua opinião, não poderia faltar num poema?

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Atividade 1 Aula de leitura: como se diz e o que se diz

Você vai ler agora um poema, que é uma obra escrita em ver-sos. Nesta atividade, além de ler o poema será possível senti-lo, estudá-lo, interpretá-lo, pensando em o que e em como está escrito, o que é muito importante para a interpretação de textos literários.

Você sabia que a leitura de um texto começa antes mesmo de lê-lo? Mas, para que isso aconteça, é preciso fazer algumas perguntas e bus-car respostas.

Portanto, antes de ler Aula de leitura, responda às questões a seguir, que vão ajudá-lo a se aproximar do texto. Você vai começar pela “apa-rência” do poema e, depois, aos poucos, mergulhará no conteúdo. As questões propostas funcionarão como uma espécie de guia de leitura.

1. Observe a “aparência” do texto Aula de leitura, ou seja, como ele está disposto na próxima página deste Caderno.

a) O que você reparou na disposição gráfica do texto?

b) Quem é o autor do texto? O que você sabe sobre ele? Com base na leitura da biografia dele, que aparece abaixo, o que você espera encontrar no texto que vai ler?

Ricardo Azevedo, cujo nome completo é Ricardo José Duff Azevedo, é paulistano. Nasceu em 1949, é escritor, ilustrador e pesquisador. Já publicou vários livros, den-tre os quais destacamos, Meu livro de folclore (1997), Dezenove poemas desengonça-dos (1998), A casa do meu avô (1998), Armazém do folclore (2000), No meio da noite escura tem um pé de maravilha (2002), Ninguém sabe o que é um poema (2005), Feito bala perdida e outros poemas (2008), O chute que a bola levou (2011) e O motoqueiro que virou bicho (2012). Tem livros publicados em muitos países. É bacharel em Comu-nicação Visual pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo. Pesquisador na área de cultura popular. Professor convidado em cursos de especialização em Arte-Educação e Literatura. Tem dado palestras e escrito artigos, publicados em livros e revistas, abordando problemas do uso da literatura de ficção na escola.

Referência

RICARDO Azevedo. Biografia. Disponível em: <http://www.ricardoazevedo.com.br/biografia.htm>. Acesso em: 26 out. 2012.

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204

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c) Em que livro Aula de leitura foi publicado? Como você acha que será um poema publicado em um livro com esse título?

d) Esse livro foi publicado originalmente em 1998. Por que, em sua opinião, é importante saber o ano de publicação de uma obra?

e) Ao refletir sobre o título, você pode antecipar ideias do texto que vai ser lido. Em sua opinião, como seria essa “aula de leitura”?

f) Qual é seu interesse pelo tema que, segundo parece, o poema vai abordar? O que você sabe sobre esse tema?

2. Agora, leia o poema e, em seguida, responda às questões propostas.

AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura. In: _____. Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática, 2003, p. 41-42.

Aula de leitura

A leitura é muito mais do que decifrar palavras. Quem quiser parar pra ver pode até se surpreender:

vai ler nas folhas do chão, se é outono ou se é verão;

nas ondas soltas do mar, se é hora de navegar;

e no jeito da pessoa, se trabalha ou é à toa;

na cara do lutador, quando está sentindo dor;

vai ler na casa de alguém o gosto que o dono tem;

e no pelo do cachorro, se é melhor gritar socorro;

e na cinza da fumaça, o tamanho da desgraça;

e no tom que sopra o vento, se corre o barco ou vai lento;

e também na cor da fruta, e no cheiro da comida,

e no ronco do motor, e nos dentes do cavalo,

e na pele da pessoa, e no brilho do sorriso,

vai ler nas nuvens do céu, vai ler na palma da mão,

vai ler até nas estrelas e no som do coração.

Uma arte que dá medo é a de ler um olhar, pois os olhos têm segredos difíceis de decifrar.

Língua Portuguesa – Unidade 5

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a) Releia o poema e perceba que houve um trabalho cuidadoso de seleção e combinação de palavras. Copie alguns versos que, em sua opinião, mostram que o poeta se preocupou com a seleção e a organização das palavras. Justifique sua resposta.

b) O final do poema revela que “ler um olhar” é uma arte difícil e dá medo. Para o poeta, em que o olhar se distingue das ou-tras coisas que foram lidas no poema?

c) Leia a afirmação a seguir:

[...] Um povo pode existir sem escrever (e existem muitos, de fato), mas nenhum pode existir sem ler [...].

Essa afirmação pode ser confirmada pela aula de leitura apre-sentada no poema? Justifique sua resposta.

d) O que mais chamou sua atenção no poema?

BAZZONI, Claudio. Ler e viver o texto literário. In: MURRIE, Zuleika de Felice (Coord.). Língua Portuguesa, Língua Estrangeira, Educação Artística e Educação Física. Livro do Estudante. Ensino Fundamental. 2. ed.

Brasília: MEC/Inep, 2006. Disponível em: <http://encceja.inep.gov.br/materiais-para-estudo>. Acesso em: 26 out. 2012.

206

Língua Portuguesa – Unidade 5

e) A aula de leitura que o poema apresenta é semelhante à que você pensou? O que há de diferente?

f) O que, para você, significa fazer uma leitura do mundo?

g) No poema, o poeta diz que a leitura de uma coisa o remete a outra. Em sua opinião, isso também acontece quando se lê um texto escrito? Por quê?

h) Agora é sua vez! Coloque-se no lugar do poeta e crie alguns versos para expressar o que você lê em cada uma dessas coisas:

Leio na cor da fruta,

Leio na pele da pessoa,

Leio nas estrelas,

Leio no som do coração,

Língua Portuguesa – Unidade 5

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Tema é o assunto, o que é tratado em um texto.

O poema de Ricardo Azevedo pode ter provocado algum estranhamento quanto ao tema que retrata.

É comum associar a ideia de leitura somente a textos escritos. Você costuma ler palavras. Mas, logo no início, o poeta escreve: “A leitura é muito mais / do que decifrar palavras”. Ora, essa maneira de encarar a leitura difere da visão da maioria das pessoas. Mas como entender ou até se surpreender com isso? A resposta vem também no começo do poema: “Quem quiser parar pra ver”. Isso significa que aqueles que prosseguirem na leitura do poema vão conhecer outro sentido de leitura.

E é verdade! Na continuação do texto, o autor escreve que a leitura começa nas “fo-lhas do chão”, continua “nas ondas soltas do mar”, pula para o “jeito da pessoa”, es-barra “na cara do lutador”, para “no pelo do cachorro”, voa para as “nuvens do céu”, está “na palma da mão”; ou seja, está em todo lugar.

Você reparou que, ao longo do poema, as palavras, que geralmente são o que você mais lê, nem foram mencionadas?

Além disso, nessa aula de leitura que o poeta apresenta, sempre uma coisa nos remete a outra: as “folhas do chão” fazem que se leia “se é outono ou se é verão”; a “casa de alguém” faz que se leia “o gosto que o dono tem” e assim por diante.

É interessante esse jeito de ver/ler as coisas. Você vê/lê uma coisa para descobrir outra. Há um sentido que pode ser descoberto por trás de todas as coisas, inclusive por trás das palavras.

O que é poesia?

“Poesia” é uma palavra muito antiga, que vem do grego, poíésis, e pode ser traduzida por “ato de criar ou de fazer”. Esse sentido antigo de poesia foi se transformando com o tempo e hoje há inú-meras definições. O poeta Manuel Bandeira fala sobre isso no livro Seleta em prosa e verso (2007). Depois de assumir a dificuldade de definir o que é poesia, o grande poeta recifense reconhece que nunca conseguiu explicar a emoção que o assaltava ao ouvir ou ler certos versos, certas combinações de palavras. Para ele, a poesia conseguia ligar o subconsciente do poeta ao subconsciente do leitor.

Se você tentasse listar as definições de poesia, veria que há mui-tas. Cada uma revela um aspecto diferente dos textos poéticos. Em todas há algo de incompleto, de vago, de mistério, de subjetivo, pró-prio das coisas inexplicáveis.

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Língua Portuguesa – Unidade 5

Você sabia que a poesia já foi relacionada a uma mulher e também às estrelas?

Nos séculos XV, XVI e XVII, eram comuns livros de emblemas – imagens alegóricas que representavam a esperança, o amor, a avareza, a harmonia etc.

A formosa jovem ao lado, que veste um traje pontilhado por numerosas estrelas, era o emblema da poesia. Observe com atenção e descubra tudo o que na imagem pode ser associado à poesia.

Emblema da Poesia

RIPA, Cesare. Iconologia. Madri: Akal, 1996, p. 219.

A ideia é trabalhar com a matéria-prima da poesia na arte literá-ria – as palavras. O poeta francês Mallarmé, em uma conversa com Degas, afirmou:

Absolutamente não é com ideias, meu caro Degas, que se fazem versos. É com palavras.

VALÉRY, Paul. Poesia e pensamento abstrato. In: BARBOSA, João Alexandre (Org.). Variedades. Tradução: Maiza Martins de Siqueira. São Paulo: Iluminuras, 1991, p. 207-208.

A essa máxima do poeta francês, adiciona-se o que o escritor inglês T. S. Eliot afirmava: ler poesia é a melhor maneira de aprender o que ela é. E é exatamente isso o que você vai fazer.

Versos, rimas...

O autor de um texto literário organiza sua criação de maneira artística. Em Aula de leitura, a organização em versos e estrofes revela uma preocupação do autor com a construção de um texto poético. Mas o que é um verso? E uma estrofe?

Verso é o nome que se dá a cada linha de um poema e que tem o tamanho que o poeta desejar. Um agrupamento de versos chama-se estrofe.

Uni

vers

idad

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Bér

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o, It

ália

Língua Portuguesa – Unidade 5

209

A rima é um dos recursos formais que dá mais ritmo e musica-lidade ao poema. Por convenção, para indicar como são as rimas de um poema, usam-se, em geral, letras minúsculas. Os versos que rimam entre si recebem a mesma letra.

Mas atenção: nem todos os poemas têm rimas. Os versos que não rimam são chamados brancos ou soltos.

Atividade 2 Aula de leitura: uma análise da linguagem poética

Agora, releia o poema Aula de leitura e responda às questões propostas.

1. Aula de leitura tem 15 estrofes. A primeira e a última são diferen-tes das demais. Qual é a diferença? Por que, em sua opinião, só essas duas estrofes são diferentes das outras?

2. Observe a composição das estrofes do poema Aula de leitura.

a) Quantos versos tem a maioria das estrofes?

Em um poema, o arranjo das palavras e a sonoridade delas produzem um ritmo. Quando há palavras no final ou no meio de diferentes versos que terminam com som semelhante ou idêntico, diz-se que esses versos têm rima. Observe a terminação das palavras de algumas estrofes do poema Aula de leitura que formam um esquema de rimas.

AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura. In: _____. Dezenove poemas

desengonçados. São Paulo: Ática, 2003, p. 41-42.

[...]

vai ler nas folhas do chão, se é outono ou se é verão;

nas ondas soltas do mar, se é hora de navegar;

e no jeito da pessoa, se trabalha ou é à toa;

[...]

a

a

b

b

c

c

Veja que “chão” rima com “verão”...

... e “mar” com “navegar”...

... e “pessoa”...

210

Língua Portuguesa – Unidade 5

b) Essa quantidade de versos aparece também em ditados popu-lares, como em:

Água mole em pedra dura

tanto bate até que fura.

Você acha que essa informação pode ajudá-lo na interpretação do poema? Por quê?

3. Repare que, a partir da décima estrofe, o poema muda de ritmo. O que determinou a mudança? Que sensação essa mudança pro-voca? Como pode ser interpretada?

4. Em poemas é comum a repetição, de verso a verso, de fonemas, palavras, frases e até de um verso inteiro. Que palavras são re-petidas no poema de Ricardo Azevedo? Essas palavras cumprem uma função importante no poema? Qual?

5. Verifique, a partir da décima estrofe, se as palavras rimam. O que você observou? Registre a resposta em seu caderno.

Métrica

Você alguma vez já mediu versos?

Tem alguma ideia de como você poderia obter uma medida? Uma régua resolveria? Uma fita métrica? Para saber, leia o texto a seguir...

A métrica é a medida do verso. Não se medem versos como se mede um pedaço de pano ou papel; medem-se versos contando as sílabas poé-ticas. As sílabas poéticas são contadas de maneira diferente das sílabas gramaticais. Uma diferença significativa é poder juntar sílabas que fica-riam separadas na contagem gramatical. Isso, em geral, acontece quando uma sílaba termina em vogal e a seguinte se inicia também com vogal.

Língua Portuguesa – Unidade 5

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Escrever poemas com versos que tenham o mesmo número de síla-bas poéticas não é nada fácil. Vale a pena experimentar! É um desafio conciliar métrica, rima, tema e, ainda, conseguir emocionar o leitor. Poeta não tem vida fácil.

Mas, da mesma maneira que nem todos os poemas têm rimas, nem todos têm métrica regular. Os versos que não têm métrica regu-lar são chamados versos livres.

AZEVEDO, Ricardo. Aula de leitura. In: _____. Dezenove poemas desengonçados. São Paulo: Ática, 2003, p. 41-42.

Repare que todos os versos do poema têm sete sílabas poéticas.

A – lei – tu – ra é – mui – to – mais

1 2 3 4 5 6 7

do – que – de – ci – frar – pa – la – vras.

1 2 3 4 5 6 7

Quem – qui – ser – pa – rar – pra – ver

1 2 3 4 5 6 7

po – de a – té – se – sur – preen – der:

1 2 3 4 5 6 7

vai – ler – nas – fo – lhas – do – chão,

1 2 3 4 5 6 7

se é – ou – to – no ou – se é – ve – rão;

1 2 3 4 5 6 7

A contagem das sílabas

para na última sílaba tônica.

[...]

A última sílaba átona fica fora da contagem.

Algumas vogais se fundem formando uma única sílaba

poética.

Nesse caso, o som das sílabas se funde e isso, na contagem poé-tica, vale como uma sílaba apenas. Outra diferença importante: a contagem das sílabas poéticas para na sílaba tônica (na sílaba mais forte) da última palavra do verso.

Observe como ficaria a métrica das duas primeiras estrofes do poema de Ricardo Azevedo:

212

Língua Portuguesa – Unidade 5

Atividade 3 Contando versos, marcando rimas

1. Observando a sonoridade dos versos, leia o poema a seguir e res-ponda às questões propostas.

a) Do que trata o poema?

b) Marque, ao final de cada verso, as pa-lavras que rimam. Você observa alguma regularidade?

c) Quantas sílabas poéticas há em cada verso? Faça a contagem no próprio poema.

X. Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu.

PESSOA, Fernando. X. Mar português. In: _____. Mensagem. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/

download/texto/pe000004.pdf>. Acesso em: 26 out. 2012.

d) As rimas dão sonoridade ao poema. É um desafio para o poe-ta usar palavras diferentes que repetem o mesmo som, sem se afastar do assunto. Você vê alguma relação de sentido entre as palavras rimadas? Qual?

e) Observe os sinais de pontuação que aparecem no final dos versos pares. Por qual razão o poeta escolheu usar na primei-ra estrofe o sinal de exclamação [!] e, na segunda, o ponto [.]?

f) Na ordem direta, o penúltimo verso ficaria: “Deus deu o pe-rigo e o abismo ao mar”. Por que, em sua opinião, o poeta preferiu escrever as palavras em outra ordem?

Língua Portuguesa – Unidade 5

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2. Leia a biografia de Fernando Pessoa e conheça alguns dos heterônimos mais famosos criados por esse poeta português.

Heterônimo Criação do escritor, mais do que um pseudônimo (nome fictício usado para assinar uma obra). Um heterônimo, além de um nome diferente, é uma personalidade distinta inventada pelo autor; apresenta uma história de vida, visões de mundo, opiniões e senso de humor próprios, traços esses que se refletem no estilo de escrita.

3. Agora, que você já conhece os heterônimos de Fernando Pessoa, leia o poema a seguir, extraído do livro O guardador de rebanhos (1911-1912), de Alberto Caeiro. Depois, res-ponda às questões propostas.

XIV. Não me importo com as rimas

Não me importo com as rimas. Raras vezes Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra. Penso e escrevo como as flores têm cor Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me Porque me falta a simplicidade divina De ser todo só o meu exterior

Olho e comovo-me, Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado, E a minha poesia é natural como o levantar-se vento...

PESSOA, Fernando (Alberto Caeiro). XIV. Não me importo com as rimas. In: _____. O guardador de rebanhos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_

action=&co_obra=15723>. Acesso em: 26 out. 2012.

O poeta Fernando Pessoa nasceu em Lisboa, Portugal, em 1888. É considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa de todos os tempos. Mas o interessante é que Pessoa era um e vários poetas ao mesmo tempo: ele tinha vários heterônimos.

Fernando Pessoa criou mais de 70 per-sonagens-escritores, mas os heterônimos que ficaram célebres foram Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Cada um deles tem uma biografia.

Alberto Caeiro nasceu em Lisboa, Portugal, em 16 de abril de 1889, e morreu em 1915, na mesma cidade, de tuberculose. Órfão de pai e mãe, viveu com uma tia no campo. Só teve ins-trução primária.

Álvaro de Campos nasceu em Tavira (extremo sul de Portugal), em 15 de outubro de 1890. Era engenheiro naval formado na Escócia e encantava-se com máquinas e velocidade.

Já Ricardo Reis nasceu na cidade do Porto, Portugal, em 19 de setembro de 1887. Estudou em colégio de jesuítas, formando-se em Medicina; era monar-quista e, por não concordar com o regime republicano, autoexilou-se no Brasil. Era mitólogo e gostava de estudar latim, grego e outros temas da cultura clássica.

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Língua Portuguesa – Unidade 5

a) Do que trata o poema?

b) No poema, os versos não têm rima, nem a métrica é regular. Como Caeiro justifica, no poema, essa escolha?

c) O livro O guardador de rebanhos é formado por diversos poe-mas. Neles, há diversas comparações entre as sensações humanas e os elementos da natureza. Comparações assim acontecem nesse poema que você acabou de ler? Exemplifique alguma.

Atividade 4 Sentidos denotativos e conotativos

1. Observe as frases a seguir e assinale aquelas nas quais há palavras com sentido diferente do usual.

a) ( ) “Minha vida, nossas vidas formam um só diamante.”

ANDRADE, Carlos Drummond de. Canção amiga. In: _____. Novos poemas. São Paulo:

Companhia das Letras, [publicação futura]. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond.

<http://www.carlosdrummond.com.br>.

b) ( ) Todas as vidas são importantes na Terra.

c) ( ) “De nuvem no espaço, não há um farrapo.”

ASSARÉ, Patativa do. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis: Vozes, 1978, p. 55-56.

d) ( ) O amor é um sentimento muito lindo.

Língua Portuguesa – Unidade 5

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e) ( ) “O amor é um fogo que arde sem se ver.”CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/

DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1872>. Acesso em: 26 out. 2012.

f) ( ) Eu sou um daqueles que para viajar levo um paraquedas.

g) ( ) Quando viajo, sou muito cuidadoso com a arrumação de minha bagagem.

2. Nas frases que você assinalou, que palavras assumem um signi-ficado diferente do usual? Qual é a diferença entre o significado que essas expressões assumem e o significado usual?

3. Tente explicar o sentido das frases a seguir:

a) Ter minhoca na cabeça.

b) Dar uma colher de chá.

c) Conversa mole para boi dormir.

d) Ficar em cima do muro.

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Língua Portuguesa – Unidade 5

Denotação e conotação

No exercício 1 da Atividade 4, nas frases que você assinalou, as expressões não significam apenas o que está no dicionário, a elas é acrescentado outro significado. Quando as palavras podem ser inter-pretadas em seu sentido usual, dicionarizado, dizemos que elas estão em sentido denotativo. Mas, quando há um acréscimo de sentido às palavras, elas passam a ter um sentido figurado.

O sentido figurado ou conotativo não surge apenas com base no con-texto em que a palavra aparece. Depende também do leitor, que usa sua experiência e seu conhecimento de mundo para interpretar o texto. É por isso que, no exercício 2, as frases puderam ser lidas de dois modos: no sentido literal – ou denotativo – e no sentido figurado – ou conotativo.

A frase “Ter minhoca na cabeça”, do exercício 3, se considerada no sentido literal (denotativo), seria assustadora... Ver alguém com uma ou mais minhocas na cabeça é uma cena horrível só de imaginar! No sentido figurado, porém, a frase quer dizer outra coisa... é pensar muito que algo ruim possa ocorrer, ou afligir-se com algum pensa-mento que não sai da cabeça.

Observe que, quando se usa o sentido conotativo, um sentido não substitui o outro; há, na verdade, uma soma de sentidos.

Atividade 5 Descoberta de metáforas

1. Leia os últimos versos da canção Minha namorada, de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra. Depois, responda às questões propostas.

Minha namorada

Vinícius de Moraes e Carlos Lyra[...]

Os seus olhos têm de ser só dos meus olhos

E os seus braços o meu ninho

No silêncio de depois

E você tem que ser a estrela derradeira

Minha amiga e companheira

No infinito de nós dois.

Universal Music Publishing Group/MCK Produções Artísticas

Língua Portuguesa – Unidade 5

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a) A palavra “olhos”, no primeiro verso, está no sentido conota-tivo. Explique por quê.

b) Qual é o sentido da palavra “ninho” no segundo verso?

c) “Estrela derradeira” está no sentido denotativo ou conotativo? Justifique sua resposta.

d) Qual é a diferença entre dizer “E os seus braços o meu ninho” e “os seus braços me aconchegam como um ninho”?

2. Leia os versos a seguir:

Fica a dica

Se você quiser conhecer a história do cancioneiro brasileiro, assista ao documentário Palavra (en)cantada (direção de Helena Solberg, 2009) que propõe um olhar especial para a relação entre poesia e música.

Outra sugestão interessante é o filme Poeta de sete faces (direção de Paulo Thiago, 2002) que é baseado na vida de Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas da língua portuguesa. Mais do que exibir a trajetória de vida desse escritor, a proposta do filme é apresentar a emoção que envolve a arte poética.

Amor é um fogo que arde sem se ver,

[...] é um andar solitário entre a gente;

[...]

[...] Por causa dele [do amor] podem entalhar-me, sou de pedra-sabão. [...]

CAMÕES, Luis Vaz de. Sonetos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1872>. Acesso em: 26 out. 2012.

PRADO, Adélia. O sempre amor. In:_____. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2003.

Nesses versos, as palavras destacadas referem-se ao amor e ao eu

lírico acrescentando a eles novos sentidos. Quando isso acontece,

cria-se uma metáfora. Encontre e sublinhe uma metáfora nos ver-

sos da canção Minha namorada.

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Língua Portuguesa – Unidade 5

3. Agora, antes de estudar mais profundamente a noção de metáfora, tente identificá-la nos fragmentos dos seguintes poemas.

Poema 1

Poema de Natal

[...] Assim será nossa vida: uma tarde sempre a esquecer uma estrela a se apagar na treva um caminho entre dois túmulos – por isso precisamos velar falar baixo, pisar leve, ver a noite dormir em silêncio. [...]

MORAES, Vinícius. Poema de Natal. In:_____. Poesia completa e prosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 394.

Poema 2

IX. Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos. O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. [...]

PESSOA, Fernando (Alberto Caeiro). IX. Guardador de rebanhos. In: _____. O guardador de rebanhos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pe000001.pdf>.

Acesso em: 26 out. 2012.

ANDRADE, Carlos Drummond de. A flor e a náusea. In: _____. A rosa do povo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond. <http://www.carlosdrummond.com.br>.

Poema 3

A flor e a náusea

[...]

Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor.

[...]

Língua Portuguesa – Unidade 5

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Metáfora e comparação

Em uma metáfora, os sentidos são aproximados, formando um ponto de intersecção entre uma coisa e outra. Vida e diamantes, nuvem e farrapo, amor e fogo, pensamento e rebanho, flor e espe-rança têm algo em comum para serem associados/identificados.

Mas para que as metáforas são criadas?

A metáfora apresenta uma nova maneira de ver as coisas do mundo, gerando novos significados. Ela ocorre quando há um acrés-cimo de um sentido a outro; quando se estabelece um ponto de contato entre um termo e outro. Por exemplo, escrever que uma pessoa é um leão na luta significa que a pessoa foi identificada com um leão, que adotou a natureza de um leão. Diferente seria escrever que a pessoa luta como um leão, pois nesse caso teríamos uma comparação entre o modo de luta do animal e do homem. A metáfora é mais que uma com-paração; ela provoca uma identificação entre uma coisa e outra.

Atividade 6 Comparações e metáforas

1. Os textos a seguir são fragmentos de poemas selecionados por Ítalo Moriconi para ser publicados na antologia Os cem melho-res poemas brasileiros do século (2000). Identifique, nos versos a seguir, metáforas e comparações, grifando-as com canetas de cores diferentes. Crie uma legenda para que você possa retomar as informações com rapidez. Para isso, sublinhe as palavras “metáfo-ra” e “comparação” a seguir com a cor escolhida para cada uma:

Metáfora Comparação

KILKERRY, Pedro Militão. Sobre um mar de rosas que arde. In: MORICONI, Ítalo (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000, p. 43.

Poema 1

“Sobre um mar de rosas que arde”

Sobre um mar de rosas que arde Em ondas fulvas, distante, Erram meus olhos, diamante, Como as naus dentro da tarde. [...]

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Língua Portuguesa – Unidade 5

2. Agora, você vai criar, em seu caderno, comparações, usando as palavras que aparecem no quadro a seguir.

camaleão, leão, rosa, lírio, vermelho, branco, engolir, ruminar, sombra, luz, sentimento, rio, estrada, brilhante, subterrâneo, impetuoso

Poema 2

ANJOS, Augusto dos. Versos íntimos. In: _____. Eu e outras poesias. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1772>. Acesso em:

26 out. 2012.

Versos íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável Enterro de tua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – Foi tua companheira inseparável! [...]

Poema 3

BILAC, Olavo. Tercetos. In: ______. Alma inquieta. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=1996>. Acesso em: 26 out. 2012.

TercetosNoite ainda, quando ela me pedia Entre dois beijos que me fosse embora, Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

“Espera ao menos que desponte a aurora! Tua alcova é cheirosa como um ninho... E olha que escuridão há lá por fora! [...]

Poema 4

MELO NETO, João Cabral de. Psicologia da composição. In: _____. O cão sem plumas. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2007.

Psicologia da composição

Saio de meu poema como quem lava as mãos.Algumas conchas tornaram-se, que o sol da atenção cristalizou; alguma palavra que desabrochei, como a um pássaro. [...]

Língua Portuguesa – Unidade 5

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Para estabelecer a comparação, você pode usar os seguintes ter-mos: como, qual, feito, que nem, parece etc. Veja o exemplo:

• Meu pensamento é como um rio subterrâneo.

Depois, transforme as comparações em metáfora. Veja o exemplo:

• Meu pensamento é um rio subterrâneo.

Atividade 7 Leitura de poemas I

1. Antes de ler o poema do poeta gaúcho Mario Quintana (1906-1994), dê uma olhada na “aparência” do texto e responda às questões propostas.

a) Em relação à forma do poema de Mario Quintana, escreva tudo o que você observou.

b) Se você fosse um padre, um pastor ou outro líder religioso, quais seriam os temas dos sermões que você falaria/pregaria aos fiéis?

2. Agora, leia o poema e, depois, responda às questões.

Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões, não falaria em Deus nem no Pecado – muito menos no Anjo Rebelado e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas: nada das suas celestiais promessas ou das suas terríveis maldições... Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos, desses que desde a infância me embalaram e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma ... e um belo poema – ainda que de Deus se aparte – um belo poema sempre leva a Deus!

QUINTANA, Mario. Se eu fosse um padre. In: _____. Nova antologia poética. Rio de Janeiro: Alfaguara, no prelo.

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Língua Portuguesa – Unidade 5

a) Em sua opinião, como é a proposta do eu lírico em relação às rezas que faria?

b) O eu lírico apresenta, no primeiro verso, uma condição (“se eu fosse um padre”) e diz que, diferentemente dos padres, “não falaria em Deus nem no Pecado”. Mas só na última estrofe explicita o motivo por que não faria o que os padres costumam fazer. Qual é esse motivo?

c) O poema exalta a poesia, colocando-a ao lado dos sacramentos que purificam a alma (“um belo poema sempre leva a Deus!”). A poesia é vista como uma oração, como uma forma de se elevar. Você já havia pensado na poesia como algo elevado? Justifique.

d) Repare na ordem das rimas. Há regularidade nelas? O poema de Mario Quintana obedece a algum esquema de rimas?

e) Considerando sua resposta ao exercício anterior, você acha que essa característica combina com um padre que reza versos? Justifique sua resposta.

f) O eu lírico revela que rezaria versos (os mais belos) que desde a infância o embalaram. Você se lembra de alguns versos que considere belos e com os quais poderia “rezar”? Comente-os com a turma.

Você sabia que há diferença entre autor e eu lírico?Da mesma forma que há diferença entre autor e narrador (aquele que escreve não é o mesmo que conta – o narrador é uma criação do autor e pode se distinguir dele por sexo, gostos, valores e natureza), na poesia o autor difere do eu lírico, ou seja, o “eu” que fala na poesia. Há inúmeras canções escritas por um compositor do sexo masculino (o autor) em que o eu lírico (o “eu” que fala no texto) é feminino.

Língua Portuguesa – Unidade 5

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g) Crie, em seu caderno, um poema com o título: “Se eu fosse um poeta”.

Procure organizar os versos quanto a estrofes, rimas e métri-ca. Caso prefira, pode escrever versos brancos e livres, mas procurando observar o ritmo e a musicalidade das palavras.

Atividade 8 Leitura de poemas II

Agora, você vai ler um poema do poeta curitibano Paulo Leminski (1944-1989).

1. Leia o poema, observando sua forma.

Ler pelo não

Ler pelo não, quem dera! Em cada ausência, sentir o cheiro forte do corpo que se foi, a coisa que se espera.Ler pelo não, além da letra, ver, em cada rima vera, a prima pedra, onde a forma perdida procura seus etcéteras.Desler, tresler, contraler, enlear-se nos ritmos da matéria, no fora, ver o dentro e, no dentro, o fora, navegar em direção às Índias e descobrir a América.

LEMINSKI, Paulo. Ler pelo não. In: _____. Distraídos venceremos. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.

2. Agora, responda às questões propostas.

a) Levando em consideração que o tema do poema é leitura, o que significa ler para você?

b) Qual é o sentido de ler presente no poema?

Escreva tudo o que você observou quanto à forma do poema de Paulo Leminski. Há rimas? E quanto à métrica?

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Língua Portuguesa – Unidade 5

c) Copie do poema um verso em que o poeta brinca ao criar novas palavras.

d) Busque no dicionário e escreva os sentidos das palavras “tresler” e “enlear”.

e) “Desler” e “contraler” são palavras criadas pelo poeta. Invente um sentido para essas palavras, considerando a intenção dele.

f) Explique com suas palavras os dois últimos versos do poema. Qual é a relação que se pode estabelecer entre esses versos e a leitura?

Atividade 9 Leitura de poemas III

Você vai ler outro poema, desta vez do poeta mato-grossense Manoel de Barros, cuja biografia faz parte do Caderno do Estudante de Língua Portuguesa do 7o ano.

1. Antes de ler o poema O apanhador de desperdícios, responda às questões a seguir.

a) O título do poema causa surpresa em você? Use a imaginação e escreva o que apanharia e como se comportaria um “apa-nhador de desperdícios”?

Língua Portuguesa – Unidade 5

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b) A forma do poema permite dizer que ele é formado por mui-tas estrofes? Que tem rimas? Que tem versos que possuem a mesma métrica?

2. Agora, leia o poema. Depois, responda às questões propostas.

O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In: _____. Memórias inventadas: as infâncias de Manoel de Barros. São Paulo: Planeta, 2008, p. 47.

a) Quem apanha as sobras, aquilo que foi rejeitado por não pos-

suir mais serventia neste mundo, pode ser chamado “apanhador

de desperdícios”. Quais “desperdícios” são apanhados pelo eu

lírico do poema? Os “desperdícios” que o eu lírico apanha são

diferentes dos que você imaginou antes de ler o texto?

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Língua Portuguesa – Unidade 5

b) O poema de Manoel de Barros provocou sentimentos em você? Justifique sua resposta.

c) Em sua opinião, é possível perceber que o autor do texto tem forte envolvimento com a natureza? Justifique sua resposta.

d) O poeta escreve no segundo verso: “Não gosto das palavras”. A quais palavras o eu lírico se refere? A quais ele dá “mais respeito”? O que você acha desse sentimento do eu lírico em relação às palavras?

e) “O sotaque das águas”, “insetos”, “a velocidade das tartaru-gas” são, na opinião do eu lírico, coisas/seres desimportantes. Ele as contrapõe a quais coisas valorizadas no mundo atual?

f) Releia os versos 14 e 15. Você concorda que a palavra “apa-relhado” está sendo usada como metáfora? Por quê?

g) O primeiro e o último versos do poema são parecidos, mas não iguais. O que há de diferente neles? O que muda em relação ao sentido?

Fica a dica

Para conhecer um pouco sobre sarau de poesia, acesse os sites e blogs:

• Ação Educativa – Agenda cultural da periferia. Disponível em: <http://www.agendadaperiferia.org.br/literatura.html>. Acesso em: 26 out. 2012.

• Cooperifa. Disponível em: <http://cooperifa.blogspot.com/>. Acesso em: 26 out. 2012.

• Sarau do Binho. Disponível em: <http://saraudobinho.blogspot.com/>. Acesso em: 26 out. 2012.

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Você estudou

Nesta Unidade, você viu o que os poetas fazem com as pa-lavras. Estudou que a poesia move pessoas, resiste ao tempo, transmite emoções. Estudou também que os poemas se organi-zam em versos, sendo agrupados em conjuntos chamados estro-fes, e que exploram o sentido conotativo das palavras, apresen-tando-as organizadas de maneira a causar espanto e admiração. Viu, ainda, que rimas e métrica conferem ao poema musicali-dade, o que o torna muito diferente de outros gêneros textuais.

[...] Não é só através da arte que o homem se inventa e inventa o mundo em que vive: a ciência, a filosofia, a religião também participam dessa invenção, sendo que cada uma delas o faz de maneira diferente [...]. Se a filosofia inventasse a vida do mesmo modo que a ciência ou a religião o faz, não haveria por que a filosofia existir. [...]

Pense sobre

O poeta maranhense Ferreira Gullar (1930-) escreveu em um artigo que:

E quanto à poesia: de que maneira ela pode ajudá-lo a inventar ou a reinventar o mundo?

GULLAR, Ferreira. Um novo realismo. Folha de S.Paulo, 27 nov. 2011. Ilustrada, p. E8. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrada/11333-um-novo-realismo.shtml>.

Acesso em: 26 out. 2012.

h) O verso “meu quintal é maior do que o mundo” opõe o local ao global. Um quintal pode ser maior do que o mundo? De que maneira?

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