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38 SETEMBRODE 2007 PESQUISA FAPESP 139 que teria gerado o Universo, e atualmente no interior do Sol e outras estrelas, os neutrinos são lançados ao espaço e atravessam a Terra quase sem interagir com nada – calcula-se que 100 trilhões deles atravessem nossos corpos a cada segundo –,razão por que é difícil detectá-los. Conhecido como Borexino, o experimento mostra que os neutrinos mudam de estado – ou sabor,como dizem os físicos – antes de chegar à Terra.Essa mudança de sabor,que explica por que só parte dos neutrinos é detectada em seu estado original,já fora observada em neutrinos de alta energia.Faltava detectar em partículas de energia mais baixa.Agora as contas fecham. > Sem o mérito devido Em agosto,morreu no Texas, aos 86 anos,o físico norte- americano Ralph Alpher, personagem de um dos mais clamorosos casos de injustiça científica.Em 1948, Alpher escreveu com seu orientador de doutorado,o físico russo George Gamow, o artigo “The origin ofchemical elements”. Considerado o primeiro modelo matemático para a criação do Universo, esse trabalho explicava a distribuição dos elementos químicos no Cosmo a partir de uma explosão primordial:o Big Bang.No mesmo ano,em trabalho com Robert Herman,Alpher prevê que essa explosão teria deixado vestígios:a radiação cósmica de fundo em > Os indianos que calculavam Por volta de 1350,indianos da Escola de Kerala identificaram um dos componentes básicos do cálculo:a série infinita, que se acreditava ter sido descoberta no século XVII pelo físico e matemático inglês Isaac Newton e pelo matemático e filósofo alemão Gottfried Leibniz. Foi também na Escola de Kerala que se calculou o valor do número π (pi) com uma precisão de 9,10 e 17 casas decimais muito antes dos europeus.As descobertas são antigas,a novidade é saber quão antigas.Quem desenterrou a matemática do século XIV foi o indiano George Gheverghese Joseph, da Universidade de Manchester, Inglaterra, ao preparar a terceira edição de seu livro The crest of the peacock, a ser publicada em breve.Joseph acredita que os indianos tenham passado seu conhecimento a missionários jesuítas, que o disseminaram pela Europa.A perícia dos matemáticos de Kerala ajudou na astronomia e permitiu o avanço na exploração dos oceanos. > Partículas com sabor Em um laboratório subterrâneo em Áquila, na Itália,físicos europeus e norte-americanos detectaram em tempo real o fluxo de partículas subatômicas chamadas neutrinos de baixa energia. Produzidos inicialmente no Big Bang,a grande explosão LABORATÓRIO MUNDO CIÊNCIA > LAURABEATRIZ

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que teria gerado o Universo,e atualmente no interior do Sol e outras estrelas,os neutrinos são lançados aoespaço e atravessam a Terraquase sem interagir comnada – calcula-se que 100trilhões deles atravessemnossos corpos a cadasegundo –,razão por que é difícil detectá-los.Conhecido como Borexino,o experimento mostra queos neutrinos mudam deestado – ou sabor,comodizem os físicos – antes de chegar à Terra.Essamudança de sabor,queexplica por que só parte dos neutrinos é detectadaem seu estado original,jáfora observada em neutrinosde alta energia.Faltavadetectar em partículas deenergia mais baixa.Agora as contas fecham.

> Sem o mérito devido

Em agosto,morreu no Texas,aos 86 anos,o físico norte-americano Ralph Alpher,personagem de um dos maisclamorosos casos deinjustiça científica.Em 1948,Alpher escreveu com seuorientador de doutorado,ofísico russo George Gamow,o artigo “The origin ofchemical elements”.Considerado o primeiromodelo matemático para a criação do Universo,esse trabalho explicava a distribuição dos elementosquímicos no Cosmoa partir de uma explosãoprimordial:o Big Bang.Nomesmo ano,em trabalhocom Robert Herman,Alpherprevê que essa explosão teriadeixado vestígios:a radiaçãocósmica de fundo em

> Os indianos que calculavam

Por volta de 1350,indianosda Escola de Keralaidentificaram um doscomponentes básicos do cálculo:a série infinita,que se acreditava ter sidodescoberta no século XVIIpelo físico e matemáticoinglês Isaac Newton e pelomatemático e filósofoalemão Gottfried Leibniz.Foi também na Escola deKerala que se calculou ovalor do número π (pi) comuma precisão de 9,10 e 17casas decimais muito antesdos europeus.As descobertassão antigas,a novidade ésaber quão antigas.Quemdesenterrou a matemáticado século XIV foi o indianoGeorge Gheverghese Joseph,da Universidade deManchester, Inglaterra, aopreparar a terceira edição de seu livro The crest ofthe peacock, a ser publicada em breve.Joseph acreditaque os indianos tenhampassado seu conhecimento a missionários jesuítas,que o disseminaram pelaEuropa.A perícia dosmatemáticos de Keralaajudou na astronomia e permitiu o avanço naexploração dos oceanos.

> Partículas com sabor

Em um laboratóriosubterrâneo em Áquila,na Itália,físicos europeus e norte-americanosdetectaram em tempo real o fluxo de partículassubatômicas chamadasneutrinos de baixa energia.Produzidos inicialmente noBig Bang,a grande explosão

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microondas. Em 1964 oastrofísico Arno Penzias e o astrônomo Robert Wilsondetectaram em antenas decomunicação um ruído quenão conseguiam explicar.Após meses de investigação,Penzias e Wilsondescobriram que o ruído era, na verdade, a radiaçãocósmica de fundo.Descreveram esse resultadoem um artigo de 1965 noqual não se lembram donome de Alpher nem deHerman. Em 1978, Penzias eWilson receberam o Nobelde Física pelo resultado queconfirmava a existência doBig Bang. Alpher e Hermanforam esquecidos pelaAcademia Sueca de Ciências.

> O ozônio e as plantas

Se nada for feito, o uso decombustíveis fósseis e asqueimadas podem elevar a concentração de ozônio na atmosfera a ponto de,até o final do século, reduzir em 30% a produtividade das plantas da Amazônia, doCerrado e da Mata Atlântica.Essa projeção, publicada em julho na Nature porpesquisadores ingleses, inclui

o mundo todo e leva emconsideração os danos que o ozônio causa nas folhas,reduzindo a capacidade de absorver gás carbônico,essencial para as plantascrescerem. A diminuição da capacidade de absorvergás carbônico podeaumentar sua concentraçãona atmosfera e agravar o aquecimento global. Para os autores, é importantelevar em conta o ozônio nos modelos que tentamprever os efeitos dasmudanças climáticas.

Extinto? Talvez os golfinhos baijis não voltem a ser vistos

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> Frango com fritas

As diferenças entre umarefeição de frango com fritasnum McDonald’s chinês ourusso – ou em um KFC naHungria ou na Inglaterra –podem ser grandes. Nogosto, e sobretudo nasconseqüências. De um país para o outro, o mesmoproduto pode ter 40% mais calorias e teores maiselevados de gordura transindustrializada, uma formaespecialmente eficaz de

promover obesidade edoenças cardiovasculares(International Journal of Obesity). Cadeias de fast-food deveriam detalhar o conteúdo nutricional de seus alimentos, torná-losmais saudáveis e reduzir suas porções, alertam os pesquisadores.

> Missão impossível

Munidos de binóculos e detectores de som,pesquisadores em doisbarcos percorreram duranteseis semanas o rio Yang-tse,na China, com a missão de encontrar o baiji, umgolfinho tão diferente deseus parentes mais próximosque foi classificado numafamília separada.Um décimo da populaçãohumana mundial vive aolongo do Yang-tse. Por alitambém trafegam barcos de carga – cujo barulhoinutiliza o sistema de sonarque esses golfinhos, quasecegos, usam para se orientar– e pesqueiros, cujas redes e anzóis causaram a mortede quase metade dos baijisencontrados nas últimasdécadas. Apesar da buscaintensiva, a equipe nãoencontrou nenhum deles e em agosto anunciou suaprovável extinção (BiologyLetters). Ding Wang, doInstituto de Hidrobiologiada Academia Chinesa deCiências, ainda não admite a derrota. Ele continuaráprocurando e tentaráreproduzir em cativeiroqualquer baiji que encontre.“Eu sei que é muito difícil e talvez até mesmo uma missão impossível,mas temos escolha?”

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Sequinhas ouempapadas:gordura emfast-food variaentre países

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dos quais se originaram)tenham estabelecido umcorredor de ligação entre o litoral e o interior,poronde teriam chegado à zonacosteira ou vice-versa”,contaCalippo,que não descarta a hipótese de o sambaqui ter sido construído comintenções simbólicas.

> Em boa companhia

“Você vai assistir ao parto?”Esta é a pergunta que se faz com freqüência aosfuturos pais.Mas talvez não caiba a eles responder.Pesquisadores de SantaCatarina e de Campinas

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ao nascimento dos filhos.A lei brasileira garante àsfuturas mães o direito deescolher um acompanhante– direito que boa parte dos hospitais ainda nãorespeita.Ao mostrar que a companhia traz benefíciose não interfere no trabalhodos profissionais da saúde,os autores esperam ajudar a mudar o regulamento das maternidades.

> Sono contrao diabetes

Dormir bem é fundamentalpara a memória e a saúde docoração.É também essencialpara o bom funcionamentodo sistema imunológico e para evitar doenças auto-imunes como o diabetes tipo 1.A fim de verificar os efeitosda privação de sono sobre o sistema imunológico,uma equipe da UniversidadeFederal de São Paulo(Unifesp) manteve doisgrupos de camundongos –um de roedores saudáveis eoutro de portadores de umaenfermidade semelhante aodiabetes – acordados por umperíodo de um a quatro dias.Em seguida,colheu amostrasde sangue para medir

> Caminhode conchas

Em certo ponto no interiorda Ilha do Cardoso,litoral de São Paulo,os pescadorescaminham sobre conchas.Não davam a isso muitaimportância até que FlávioCalippo,do Museu deArqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo(MAE-USP),apareceu por lá perguntando por montes de conchas.Mas não montesquaisquer. Oculto pelavegetação densa da MataAtlântica,um desses montesé na verdade a camadasuperficial de um sambaqui,o Cambriú Grande,erguidopor comunidades quehabitaram o litoral hámilhares de anos.Nesse caso,8 mil anos atrás,cerca de 3 mil anos antes do que se acreditava serem asocupações mais antigas daregião. Integrante da equipede Cristina Scatamacchia,Calippo descobriu queCambriú Grande guardauma história que vai de 8 mil a 5,5 mil anos atrás.Opróximo passo é contar essahistória.“Podemos levantara hipótese de que,desde os primeiros momentos,ossambaquieiros (ou os grupos

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verificaram que mulheresacompanhadas durante o trabalho de parto poralguém de sua escolha dão à luz mais satisfeitas.Satisfação aqui inclui uma avaliação geral de como ela se sentiu durante o nascimento do bebê,sua percepção de como foi tratada e informada pela equipe médica e de enfermagem,comodescrevem os pesquisadoresna edição de julho daReproductive Health.A equipe avaliou o nível de satisfação das mães namaternidade de Sumaré,interior de São Paulo,que na época do estudo nãopermitia aos pais assistir

Na hora do parto: acompanhante deixa mãe tranqüila

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a quantidade de um tipo delinfócito, célula que destróimicroorganismos invasores.A privação de sonodiminuiu entre 40% e 80% o número de linfócitos nosangue. Mais importante:uma única noite em clarobastou para reduzir aquantidade dessas células de defesa, sobretudo noscamundongos com diabetes(Brazilian Journal of Medicaland Biological Research).Níveis normais de linfócitossão importantes para evitaro diabetes tipo 1, que exige a reposição da insulina,hormônio associado àutilização pelo organismo doaçúcar disponível no sangue.Por mecanismos ainda nãoelucidados, os linfócitosimpedem a destruição das células do pâncreasprodutoras de insulina.

> Alívio para respirar

A asma periodicamente tira o fôlego de cerca de 10 milhões de brasileiros.Muitos deles recorrem ao pronto-socorro em buscade tratamento que lhespermita respirar aliviados.Em Salvador, Bahia, umaexperiência liderada porRosana Franco, do Programapara o Controle da Asma eda Rinite Alérgica (ProAR),mostrou que nesses casos sai mais barato fornecermedicamentos do queatender as emergências.Por 12 meses, 64 portadores de asma receberam remédiosgratuitos – entre eles, oscorticosteróides inaláveis,que não são fornecidos pelosistema público de saúde –,além de informações sobrecomo usá-los. Essas medidas

bastaram, em média, parareduzir em cinco dias o período de internação de cada paciente e pouparcada um deles de 68 visitasimprevistas aos hospitais.Mesmo cedendo remédios,os gastos do governo caíram pela metade. Para as famílias, os custos – diretos e indiretos – diminuíram 90%em relação ao ano anterior à adesão ao programa (BMC Public Health).

> A botânica vai à escola

Luiza Kinoshita decidiu testar uma estratégiadiferente para despertar em alunos do ensinofundamental o interesse pela botânica. Em vez depropor que memorizassem informações, Luiza e suaequipe na UniversidadeEstadual de Campinasestimularam as crianças a pôr a mão na massa:plantaram flores no jardimda escola Padre FranciscoSilva e também canteiros de amendoim. De olhosfechados, tentavam adivinharpelo aroma, pelo toque oupelo sabor que planta haviasido colocada em sua frente.

A experiência de Campinas,relatada no livro A botânicano ensino básico, publicadopela editora RiMa, e as feitasem outras três cidadespaulistas – Santos, São Pauloe São Carlos –, se destinarama tornar os resultados doprojeto Flora Fanerogâmicado Estado de São Pauloacessíveis a estudantes do ensino fundamental econtaram com professores e pesquisadores de diferentesdisciplinas. Ao integrarprofessores de ciências,português, geografia, artes,história e educação física,as atividades botânicasrevelaram potencial para a reconstrução do currículoescolar, que pode se tornarmenos fragmentado em áreas distintas doconhecimento. SegundoLuiza, o livro tem servidocomo modelo para outrasescolas. Os pesquisadores de sua equipe gostaram da experiência e alguns delesjá começaram a participar deum novo projeto pedagógico,agora com outros colégios.

Aluno registra a experiência de plantar amendoim

> Café mais saudável

Em doses moderadas,o café tem uma açãoantioxidante que podeajudar a proteger contra os males de Parkinson e deAlzheimer, catarata, câncer e doenças cardiovasculares.Mas para preservar esse efeito é preciso alterar a forma como o café é torrado no Brasil.A nutricionista FabianaAmaral Araújo, daFaculdade de CiênciasFarmacêuticas daUniversidade de São Paulo,mostrou que tostar os grãosde café a uma temperaturamais baixa – a 180°C, em vez dos 220°C geralmente adotados aqui – preserva a propriedade antioxidante do café. Durante 30 dias,Fabiana deu a ratos delaboratório diferentes doses de um extrato de café menos torrado. Ao fim doexperimento, ela verificouum efeito protetor no cérebro, no coração,no fígado e no plasma,sobretudo nos animais queconsumiram doses maisaltas. A mudança na torra do café nacional seria umaboa notícia para quem gosta de um cafezinho.

Mais suave: torra branda preserva poder antioxidante

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> Hidrogênioque vem do Sol

A produção de energiaelétrica para os mais diversosfins por meio da injeção de hidrogênio emequipamentos chamados de células a combustívelexige uma oferta constantedesse gás inexistente na natureza de formaisolada. Uma alternativa renovável para esse fim foi desenvolvida pelaempresa suíça CleanHydrogen Producers (CHP)e já está licenciada para a espanhola Ibereólica.Trata-se da extração de hidrogênio por meio de um forno aquecido com os raios do Sol. O sistemapossui uma superfície de espelhos de 93 metrosquadrados. Eles concentrama luz solar e produzem calor para a quebra dasmoléculas da água emhidrogênio e oxigênio.A estimativa da empresa é processar, em um poucomais de seis horas de sol,95 litros de água e produzir10,4 quilos de hidrogêniopor dia. Esse gás é levado

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para células a combustívelque possuem uma eficiência energética de 64%, índice maior do que o de células solares.Um sistema semelhante é o Hydrosol, projetocoordenado pelopesquisador AnthanasiosKonstandopoulos, doInstituto de Pesquisa em Engenharia Química,da Grécia, e ganhador doPrêmio Descartes 2006 da Comunidade Européia.Nesse caso, a eficiênciaenergética anunciada é de70%. Ele se baseia tambémem espelhos que captam a energia dos raios do Sol e,nesse caso, aquecem um reator com corpo decerâmica com canais internoscobertos com nanomateriaisque quebram as moléculasdo vapor d’água.

> Uma super- nanobateria

Uma minúscula bateria,que facilmente pode serconfundida com umpedacinho de papel pretodobrado, foi desenvolvidapor um grupo depesquisadores do InstitutoPolitécnico Rensselaer,nos Estados Unidos.O dispositivo é ultrafino,extremamente leve,completamente flexível epoderá, no futuro, ser usadona fabricação de uma sériede microequipamentos quenecessitam de energia parafuncionar, como implantesmédicos em miniatura.Além de ser capaz de operara temperaturas extremas,entre -70°C e 150°C, ele é completamente integrado e pode ser impresso como

um papel. O nanocompósitotambém é peculiar porquefunciona como uma bateriapara armazenar energia e como um supercapacitor,dispositivo que acumulaenergia e a libera de formaquase instantânea – na maioria dos aparelhoseletrônicos esses doiscomponentes são separados.Outra característicainteressante do invento é que

TECNOLOGIA

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Estados Unidos, quedesenvolveram o dispositivoexperimental comfinanciamento da empresaIntel. O equipamento,

parecido com um ventiladorminúsculo e construídosobre a superfície de umchip, consiste de um ânodo– um fio com cargapositiva – e vários cátodoscarregados negativamente.O ânodo foi colocado cerca

de 10 milímetros acima doscátodos. Quando a corrente

elétrica passa pelo dispositivo,os cátodos descarregamelétrons no ânodo. Ao colidircom as moléculas de ar,esses elétrons produzem íons com carga positiva, que são atraídos de volta peloscátodos, criando um ventoiônico que aumenta o fluxode ar na superfície do chip,fazendo com que ele se resfrie mais rapidamente.Os resfriadores tradicionais são limitados pelo fato de que as moléculas de ar maispróximas da superfície ficamimóveis, enquanto as que se encontram mais distantesse movem mais rapidamente.Isso constitui um obstáculoao resfriamento da superfíciequente do chip. O próximopasso na pesquisa éminiaturizar ainda mais os ventiladores iônicos para que eles possam ser usados em chips comerciais.

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ele pode usar sangue, urinaou suor humano como fontede energia. A semelhançacom o papel, no entanto, nãoé coincidência: mais de 90%da matéria-prima usada paraproduzi-lo é de celulose.A cor preta é resultado douso de nanotubos de carbono em sua estrutura.São esses nanotubos que,ao agir como eletrodos,permitem que o dispositivo conduza energia.

> Implantes em miniatura

Dois dispositivos biomédicoscriados por cientistas daUniversidade Purdue, nosEstados Unidos, prometemmelhorar a vida de quem sofre de epilepsia e glaucoma. Um dos sistemas é um transmissorminiaturizado, apenas trêsvezes mais espesso do queum fio de cabelo, capaz dedetectar, previamente, sinaisde uma crise epiléptica.O aparelho, a ser implantadodebaixo do couro cabeludo,grava continuamente sinaisda atividade neural dopaciente graças a eletrodosimplantados em váriospontos do cérebro e ligados a ele por fios. As informaçõessão repassadas a umdispositivo externo. Para

continuamente a pressão do olho e transmite os dadospara um aparelho externo.Ambas as tecnologias devementrar em testes clínicos com seres humanos dentrode, no máximo, dois anos.

> Chipsresfriados

Uma nova tecnologia,chamada de motor de ventoiônico, mostrou em testes ter potencial de aumentar em até 250% a taxa deresfriamento dos chips, deacordo com os pesquisadoresda Universidade Purdue,

o professor de engenhariabiomédica Pedro Irazoqui,a diferença do aparelho paraoutros similares já em testesem outras instituições é queos demais gravam dadosneurais de somente oitodiferentes pontos do cérebro,enquanto o sistema que elecriou capta informação demil locais diferentes. Comisso, fica mais fácil prever umataque epiléptico. O outroaparelho é um nanossensor a ser implantado no olho de pacientes com glaucomapara monitorar a pressãointra-ocular. Assim como odispositivo para controle daepilepsia, este também mede

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composto analisado e,dessa forma, identificar com clareza as substânciascontidas nos produtosanalisados”, diz RodrigoCatharino, vinculado aogrupo coordenado peloprofessor Marcos NogueiraEberlin, que tem comopesquisadores ReginaSparrapan e Renato Haddad,responsável pelo

Microscopia premiada

diferentes, entre elesantiinflamatórios e anticancerígenos.

> Furos precisos com laser

Um equipamento adaptado,composto por uma máquinafresadora integrada a umlaser, resultou em maior

desenvolvimento do novométodo. Em algumasamostras de perfumesfalsificados os pesquisadoresencontraram atécondicionador de cabelo no lugar de óleos essenciais e matérias-primas nobres.A técnica, que está em fase de depósito de patente, foivalidada com medicamentos.Foram analisados nove tipos

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Uma imagem que mostra a superfície das cé-

lulas vermelhas do sangue depois do tratamen-

to com peptídeos (pequenas proteínas) com

características antibióticas – no caso uma no-

va molécula encontrada na pele de um anfíbio

– ficou com o segundo lugar na primeira edi-

ção do Prêmio Internacional de Imagens de Mi-

croscopia de Força Atômica, promovido pelo

Conselho Superior de Pesquisas Científicas e

pela Universidade Autônoma de Madri, Espa-

nha. A imagem é de autoria do pesquisador Lu-

ciano Paulino da Silva, do Laboratório de Es-

pectrometria de Massa da Embrapa Recursos

Genéticos e Biotecnologia, de Brasília, uma das

41 unidades da Empresa Brasileira de Pes-

quisa Agropecuária. O primeiro lugar ficou com

Andreas Fuhrer, do Instituto Federal de Tec-

nologia de Zurique (ETH Zurich), na Suíça. A

brasileira foi a única premiada fora do conti-

nente europeu, entre as mais de 250 inscritas.

“A imagem faz parte de um projeto em que pro-

curamos avaliar os efeitos dos peptídeos so-

bre diversos tipos de membranas celulares”,

diz Luciano. “Alguns são ativos somente con-

tra fungos, bactérias e protozoários, outros

exercem seus efeitos também sobre células

humanas.” A microscopia de força atômica

ressalta características topográficas da super-

fície de materiais, sejam eles biológicos ou não.

Os efeitos do antibiótico nas células verme-

lhas do sangue aparecem nas protuberâncias

de cor vermelho-amarelada.

> Falsificação identificada

Técnica desenvolvidapor pesquisadores daUniversidade Estadualde Campinas (Unicamp)consegue identificar comprecisão, em cerca de umminuto, adulteração emprodutos como perfumes,vinhos, óleos, combustíveise medicamentos. Uma dasvantagens em comparaçãocom os métodosconvencionais é queela dispensa a etapa depreparação de amostras,o que demanda tempo.Em alguns casos essa fasepode demorar de três a quatro horas. Umequipamento, chamadospray sônico de ionização, éutilizado para retirar algumaspartículas das amostras, quesão então analisadas peloespectrômetro de massas do laboratório do Instituto de Química da Unicamp.“É possível saber exatamentea massa molecularcorrespondente a cada

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Efeito deantibiótico emcélulas vermelhasdo sangue

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precisão nos furosmicrométricos feitos embicos injetores para veículosmovidos a diesel, em soldasfinas e em peças utilizadaspelo setor médico eeletrônico.“A principalinovação nesse equipamentoé que substituímos o eixo-árvore tradicional, ondeficam fixadas as ferramentascomo brocas e fresasutilizadas nos processos deusinagem, por umaplataforma onde apoiamos olaser”, diz o físico SperoMorato, sócio da LaserTools,empresa que se originou noCentro de Lasers e Aplicaçõesdo Instituto de Pesquisas

> Figo protegidono transporte

Uma cesta plástica comcompartimentos individuaispara proteger o figo-roxodurante a colheita e otransporte, desenvolvida

feito com óxido de ítrioe alumínio.“A operação no modo pulsado do laserpermite o controle exato dodiâmetro do feixe no pontofocal”, diz Morato. O laser foi integrado ao sistema de modelagem CAD-CAMde uma fresadora comercialespecialmente projetada edesenvolvida pela IndústriasRomi. A empresa tambémcolocou réguas ópticas noequipamento, que aumentama precisão da máquina.

> Linguagem de sucesso

A linguagem de programaçãoLua, criada pelos professoresRoberto Ierusalimschy e Waldemar Celes, daPontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro,em parceria com opesquisador Luiz Henriquede Figueiredo, do InstitutoNacional de Matemática Pura e Aplicada, tem 90% de seus usuários no exterior.O software livre de códigoaberto criado em 1993 estápresente em vários tipos deaplicações industriais nasáreas de robótica, logística,bioinformática, programaçãoweb, processamento de imagem, entre outras.No Brasil, a linguagem dá suporte aos estudos demodelagem ambiental, comoas projeções da evolução dodesmatamento na Amazônia,feitos pelo Instituto Nacionalde Pesquisas Espaciais (Inpe).A Lua foi uma das 12linguagens selecionadas paraparticipar, em junho, daterceira edição da conferênciasobre a história daslinguagens de programação,HOPL III, em San Diego, naCalifórnia, Estados Unidos.

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em parceria entre a Embrapa InstrumentaçãoAgropecuária, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),será fabricada e vendida pelaempresa NSF, de São Carlos,no interior paulista. Paracriar a bandeja que acomoda40 figos, os pesquisadoresrecorreram à ressonânciamagnética para avaliar osdanos internos causadospelo empilhamento na cestaconvencional de bambu.Testes em campo mostraramredução de 20% nas perdascom a nova cesta.

Energéticas e Nucleares(Ipen), em São Paulo,apoiada pelo ProgramaInovação Tecnológica emPequenas Empresas (Pipe).O laser utilizado nesse caso é chamado de estado sólidode neomídio Nd:YAGpulsado, ou seja, emite pulsosque podem ser ajustados.O Nd é um elemento químicoconhecido como terra-rara eo YAG é um cristal sintético

Bandeja reduzdanos ao fruto

Diagnóstico rápidoApós 11 anos foi concluído o

desenvolvimento de um tes-

te para diagnóstico da lep-

tospirose que necessita de

apenas uma gota de sangue

para mostrar em 15 minutos

o resultado. O estudo foi fei-

to no Centro de Pesquisa

Gonçalo Muniz, unidade da

Fundação Oswaldo Cruz

(Fiocruz) na Bahia. A rapi-

dez da resposta em compa-

ração com o tempo de espe-

ra de até duas semanas dos

testes atuais deve-se à iden-

tificação de um componen-

te da bactéria Leptospira in-

terrogans, agente causador

da doença, chamada de pro-

teína lig, que induz a produ-

ção de anticorpos na fase

inicial da infecção. Uma go-

ta de sangue em contato

com uma fita é suficiente

para o diagnóstico. Se o pa-

ciente estiver contaminado

pela bactéria, anticorpos

vão reagir com a proteína e

o visor do aparelho ficará

com a cor rosa.

Cor rosa no visor indica leptospirose

Soldas finasnas fresadoras

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