CaPa Vales Do silÍCio - tecsus.com.br · educacional do Massachusetts Institute of Technology...

8
32 VALES DO SILÍCIO VERDES E AMARELOS OS POLOS SÃO COMO UM CELEIRO DE IDEIAS QUE PODEM TRAZER A MÉDIO PRAZO MAIS COMPETITIVIDADE E INOVAÇÃO PARA A NAÇÃO, GERANDO BONS EMPREGOS E GRANDES EMPRESAS Por Bianca Bellucci REVISTA LOCAWEB CAPA

Transcript of CaPa Vales Do silÍCio - tecsus.com.br · educacional do Massachusetts Institute of Technology...

32

Vales Do silÍCio

VerDes e aMarelos

os Polos sÃo CoMo UM Celeiro De iDeias QUe PoDeM TraZer a MÉDio

PraZo Mais CoMPeTiTiViDaDe e iNoVaÇÃo Para a NaÇÃo, GeraNDo

boNs eMPreGos e GraNDes eMPresas Por bianca bellucci

REVISTA LOCAWEB

CaPa

LW58.materiacapa.indd 32 5/5/16 10:33 AM

33REVISTA LOCAWEB

Vales Do silÍCio

LW58.materiacapa.indd 33 5/5/16 10:33 AM

34

Carlos Lima, do Ciatec

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

N ascido e criado em Belo Horizonte (MG), Matt Montenegro se desenvolveu dentro da atmosfera tecnológica da cidade. Isso porque a região metropolitana do município é

conhecida por abrigar empresas com ideias inovadoras – como a Tracksale, que entrega relatórios em tempo real sobre a satisfação de clientes. Seu boom foi em 2005, quando o Google comprou a Akwan (uma empresa de buscas brasileira) e se instalou ali.

Hoje, a região ao redor da capital mineira é chamada San Pedro Valley, um polo tecnológico de fato. (Trata-se de um paralelo com o Vale do Silício, da Califórina. A área norte-americana é conhecida por abrigar famosas empresas de tecnologia.) A alcunha de São Pedro surgiu em 2011, com uma brincadeira dos próprios frequentadores do bairro. Eram muitos empreendedores digitiais povoando as pequenas ruas. Com isso, mesmo por acaso depois de um esbarrão, não era raro alguns deles acabar em um café, para trocar ideias.

Matt teve seu primeiro contato com esse ambiente em 2009, quando se tornou designer da Via6, uma falecida rede social brasileira. Ele fi cou lá por um ano, mas logo percebeu que sua alma de empreendedor gritava mais alto. Desde criança, o mineiro tinha ideias diferentes. Na escola, já vendia Pizza Hut requentada e balas – algo que quase quebrou a cantina do colégio. Agora, era hora de apostar em algo maior.

Primeiro veio a Superlatido, uma loja de camisetas. Não deu certo. Depois, Mi Casa Su Casa, um copycat do Airbnb para alugar espaços. Também não foi para a frente. Mudando para a área da educação, fundou o marketplace de aulas virtuais Beved. Esta, sim, vingou e está há quatro anos no mercado. Em julho de 2015, também aproveitou sua experiência no setor para criar a BarbaRuiva.com, uma startup focada em educação para varejo e mercado corporativo.

Matt é só mais um entre os 34 milhões de empreendedores brasileiros – boa parte deles atuando no mundo digital ou espalhados pelos polos e parques tecnológicos do País. Os centros de inovação nacionais podem não ser tão famosos como o Vale do Silício, mas são tão importantes quanto. Por exemplo, foi no parque tecnológico Tecnopuc, em Porto Alegre (RS), que surgiu a Cliever, uma das empresas mais conceituadas em impressoras 3D do Brasil.

Nesta reportagem, você entende o que de fato são os polos tecnológicos, qual a diferença entre eles e os parques, como está o cenário brasileiro e de que forma você também pode tornar-se um Matt Montenegro.

UM PoUCo De HisTÓria

“Não se tem ao certo quando surgiu o primeiro polo tecnológico, mas, para alguns pesquisadores norte-americanos, o Projeto Manhattan é o precursor”, conta Fernando Arbache, consultor educacional do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Em 1945, em plena Segunda Guerra Mundial, o projeto tinha o intuito de desenvolver as primeiras armas nucleares do mundo. Após o fi m da guerra, foi transformado no America Innovates Act, uma iniciativa que visa construir polos tecnológicos nos Estados Unidos. “É formado por 17 laboratórios com 113 prêmios Nobel e mais de 20 mil cientistas associados”, comenta Fernando.

Porém, sem dúvida, a maior referência quando se fala em polo tecnológico é o Vale do Silício. Lá, as empresas se espalham por São Francisco e pelas cidades ao redor, como Cupertino (casa da Apple) e Mountain View (sede do Google). O espaço começou a se desenvolver na década de 1950 como área tecnológica da Marinha dos EUA. Hoje, o centro abriga empresas famosas, como Facebook, Microsoft e Cisco.

No Brasil, o parque tecnológico localizado em Campinas (SP) foi um dos primeiros baseados no

a reGiÃo ao reDor Da CaPiTal MiNeira É CHaMaDa saN PeDro ValleY, UM Polo TeCNolÓGiCo De FaTo. a alCUNHa sUrGiU eM 2011, CoM UMa briNCaDeira Dos FreQUeNTaDores Do bairro sÃo PeDro

Matt Montenegro, empreendedor digital

REVISTA LOCAWEB

CaPa

LW58.materiacapa.indd 34 5/5/16 10:33 AM

35

Acima, prédio do Ciatec: parque tecnológico em Campinas, São Paulo, foi um dos primeiros do Brasil

Fotos: Gilson Olivera - Divulgação - PUCRSFoto: Divulgação

[ Resumidamente, um parque tecnológico é algo centralizado, como

um prédio no qual várias empresas se reúnem para incubar suas ideias, sendo que não precisam necessariamente interagir umas com as outras. Já o polo tecnológico é algo mais abrangente. Geralmente, é uma região ou uma área territorial em que se concentram companhias, indústrias, pesquisadores e laboratórios que conversam e compartilham experiências.

“É muito importante ressaltar que, para existir um polo, é necessário que haja um objetivo comum entre as empresas além do intercâmbio de ideias”, comenta Fernando Arbache, consultor educacional do Massachusetts Institute of Technology (MIT). “Além disso, um polo também precisa de intervenção governamental, pois necessita de ações que promovam uma vantagem nesse processo colaborativo.”

Os polos e parques são organizações independentes e que não dependem um do outro para existir. Assim, é possível encontrar polos sem que haja um parque em sua estrutura, e vice-versa.

Polo oU ParQUe?

Fotos: Gilson Olivera - Divulgação - PUCRS

Acima e abaixo, Tecnopuc, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul: inovação nasce nos corredores e nas alamedas do local

REVISTA LOCAWEB

Vales Do silÍCio

LW58.materiacapa.indd 35 5/5/16 10:33 AM

36

País. Fundado em 1991, funciona como incubadora para empresas de base tecnológica. “Entre uma das companhias que se graduaram em nosso ambiente está a Movile”, diz Carlos Lima, presidente do Ciatec. Focada em aplicativos, já criou programas para celulares e tablets de marcas como Superplayer, iFood e Apontador. Atualmente, o parque está com 30 empresas incubadas.

Há tanto polos como parques tecnológicos nas cinco regiões brasileiras (veja quadro na página 39). E, vale lembrar, embora as denominações sejam parecidas, os propósitos são diferentes. Independentemente do modelo, o desenvolvimento não para. “Todos os núcleos brasileiros são excelentes, com profi ssionais altamente qualifi cados e uma dinâmica muito positiva, com vontade de crescer e lidar internacionalmente”, afi rma Simon Daniel Locher, responsável pela atração de investimentos da Suíça no Brasil e quem faz o meio de campo entre startups de ambas as nações.

CeNÁrio NaCioNal“Existem duas formas de um polo tecnológico

nascer no Brasil. A primeira delas é por meio de uma ação do governo, seja municipal, estadual ou federal", explica Rafael Prikladnicki, diretor do Tecnopuc,

localizado em Porto Alegre (RS). Nesse caso, o governo pega um espaço e monta um projeto para que várias empresas que possuem um mesmo intuito atuem juntas. "Existem ainda as ações privadas, que nascem de uma iniciativa fechada, mas que reúnem outras companhias para fazer parte. Esse segundo modelo pode também ter vínculo com universidades.”

Outra particularidade dos centros brasileiros é que eles podem ter ou não uma instituição que cuide de sua organização. Por exemplo, o San Pedro Valley não conta com uma diretoria para coordená-lo. Já o Tecnopuc tem uma equipe de oito pessoas que é responsável por sua infraestrutura, seus projetos e sua comunicação. “Para mim, a descentralização é boa, porque coloca todos em um mesmo patamar. Não existe benefícios exclusivos. Pelo contrário. É uma hierarquia mais horizontal e todos podem ser considerados quando falamos sobre o polo tecnológico. Já as desvantagens é que acaba sendo menos organizado, mas assim é uma cidade ou um organismo vivo”, diz Matt.

Em relação ao cenário, de acordo com Fernando, o Brasil não recebe tanto incentivo do governo como ocorre em outros países. “Apesar da necessidade premente de mais auxílio e políticas governamentais, os brasileiros continuam evoluindo, mesmo com a falta

Rafael Prikladnicki, do Tecnopuc

Tecnopuc, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, é mais um representante dos Vales do Silício brasileiros

Foto: Gilson Olivera - Divulgação - PUCRS

Foto: Bruno Tode

REVISTA LOCAWEB

CaPa

LW58.materiacapa.indd 36 5/5/16 10:33 AM

37

Fernando Abrache, do MIT

sistemáticos, obedientes e cooperativos. Os norte-americanos são reconhecidos pelo voluntarismo, pela liderança e pelo preparo científi co. Ambos se destacam no universo tecnológico por suas características. Já os brasileiros ganham terreno por sua criatividade e persistência. “As pessoas que vencem são as que acreditam. Acreditar em seu negócio em um País onde a importância da inovação é relegada a um segundo plano é algo muito complexo, portanto, o resultado encontrado é sempre fantástico”, afi rma Fernando.

Esse típico jeitinho brasileiro é o que dá gás na hora de fazer parte de um polo ou parque tecnológico. Existem duas formas de conquistar seu lugar nesses centros. Se for em um espaço como o San Pedro Valley, onde não há uma diretoria e os próprios empreendedores constroem o local, você sozinho vai ter de correr atrás e fazer sua ideia dar certo.

TeCHYDroJá se você procurar ajuda de um parque

que tenha uma incubadora, a história torna-se um pouco mais fácil. Diogo Branquinho Ramos candidatou-se a um programa do PqTec, em São José dos Campos (SP), para transformar sua empresa criada na faculdade em realidade. A TecSUS é uma companhia tecnológica voltada para soluções sustentáveis e um dos produtos mais interessantes que saíram de lá foi o TecHydro.

O TecHydro é um dispositivo de internet das coisas conectado a hidrômetros que coleta informações e envia-as para um aplicativo. Nele,

[ Os diversos polos tecnológicos brasileiros atraíram a atenção de um dos países mais desenvolvidos do mundo. A Suíça, que

mantém o "Vale do Silício" europeu (formado por Zurique, Zug, Basileia, Lausanne e Genebra), atualmente tem uma equipe em seu consulado no Brasil que visa fomentar o intercâmbio de projetos tecnológicos entre as duas nações.

“A maior diferença entre as iniciativas suíças e brasileiras é o espaço. Enquanto na Suíça tudo é menos distante, no Brasil é um pouco mais disperso. Isso pode ter uma infl uência na velocidade de se fazer negócios. Lá, temos um mercado interno relativamente pequeno e, por isso, o empresário já empreende com uma ideia global. Aqui, nossa função muitas vezes é cutucar os empreendedores, que deveriam olhar para fora”, diz Simon Daniel Locher, responsável pela atração de investimentos da Suíça no Brasil.

Para fomentar o intercâmbio de ideias, a Suíça promove eventos no Brasil e convida startups para participar. O país também apoia a ida de empresas brasileiras aos vales, além de existirem programas como Kickstarter, Seedstars World e Fintech Fusion que realizam atividades em solo nacional para divulgar a mensagem da Suíça como polo de inovação global.

“Nosso objetivo é fomentar essa troca”, garante Simon. Para os interessados em empreender no país europeu, há até uma cartilha ofi cial que ensina os primeiros passos para chegar lá. O documento pode ser encontrado e baixado no endereço http://lwgo.to/18n.

CoNeXÃo brasil-sUÍÇa

de recursos”, ressalta o consultor do MIT que já visitou centros no Canadá, nos Estados Unidos e na Suécia. “Os polos são como um celeiro de ideias que podem trazer a médio prazo mais competitividade e inovação para a nação, gerando bons empregos e grandes empresas. Analisando os três países que visitei, todos possuem instituições de ponta sendo geridas pelos polos. O governo brasileiro deveria prestar mais atenção nisso.”

Um dos polos que cada vez mais cresce e ganha destaque é o Porto Digital, em Recife (PE). Com ajuda do governo de Pernambuco desde sua fundação, em 2000, o espaço é reconhecido internacionalmente. Em 2014, o jornal britânico The Guardian destacou a iniciativa, promovendo o polo como uma das dez iniciativas que estão mudando a cultura no mundo. Embora não tenha sido o único fator decisivo, a presença desse centro tecnológico foi levada em consideração quando a Locaweb resolveu abrir uma fi lial de sua unidade corporativa, a Locaweb Corp.

Com números expressivos, o Porto Digital abriga 250 empreendimentos, gerou 6.500 empregos diretos e teve um crescimento de 31% a.a. nos últimos três anos. Os dados robustos foram os indicadores que levaram a Locaweb a apostar no polo de tecnologias da informação e comunicação (TIC) .

ParTiCUlariDaDesCada nação tem características particulares

e isso molda a forma que lidam com empreendedorismo e tecnologia. Os japoneses são

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

REVISTA LOCAWEB

Vales Do silÍCio

LW58.materiacapa.indd 37 5/5/16 10:33 AM

38

PorTo DiGiTal abriGa 250 eMPreeNDiMeNTos e JÁ GeroU 6.500 eMPreGos DireTos

Fotos: Diogo Branquinho Ramos

você consegue conferir em tempo real como está o consumo de água em sua casa. Dá até para saber, por exemplo, o quanto alguém está gastando na hora do banho. “O conjunto dessa solução é algo inédito no mundo. Existem empresas que usam a telemetria para fi ns administrativos, mas algo que mostre em um aplicativo seu consumo sem ter, obrigatoriamente, a necessidade de esperar 30 dias pela conta, é completamente novo.”

Fotos: Diogo Branquinho Ramos

TecHydro: dispositivo de internet das coisas conectado a hidrômetros coleta informações e as envia para um aplicativo

Diogo Branquinho Ramos, da TecsuslW

REVISTA LOCAWEB

CaPa

LW58.materiacapa.indd 38 5/5/16 10:33 AM

39

[ Entre parques e polos tecnológicos, o Brasil possui 94 iniciativas. Os dados divulgados durante o seminário “Investe SP e Parques Tecnológicos – Inovação acelerando o desenvolvimento”, realizado em outubro de 2015, apontam que a maior

concentração desses ambientes está nas regiões Sul e Sudeste. Os 5 apresentados nesta reportagem são os mais expressivos por conta de diversos fatores, objetivos e subjetivos. O número de empresas que os formam, as ideias que se tornaram realidade e o tamanho geográfico são alguns deles. Abaixo, você confere o raio-x desses Vales do Silício brasileiros.

Vales brasileiros

Nome: Porto DigitalLocalização: Recife, PernambucoFundação: 2000Extensão: 1,4 milhão m²Total de empresas: 250

Nome: San Pedro ValleyLocalização: Belo Horizonte, Minas GeraisFundação: 2011Extensão: 9,4 milhões km²Total de empresas: 200

Nome: CiatecLocalização: Campinas, São PauloFundação: 1991 Extensão: 2 mil m²Total de empresas: 30 Nome: Tecnopuc

Localização: Porto Alegre, Rio Grande do SulFundação: 2003Extensão: 80 mil m²Total de empresas: 126

Nome: Parque Tecnológico São José dos Campos (PqTec)Localização: São José dos Campos, São PauloFundação: 2009Extensão: 188 mil m²Total de empresas: 60

lW

revista locaweb

vales do silício

LW58.materiacapa.indd 39 5/5/16 10:33 AM