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ANALICE DE AVILA CAPINZAL-SC: UM ESTUDO GEOGRÁFICO COMO CONTRIBUIÇÃO AO (RE)CONHECIMENTO DO LUGAR E DA SUA REGIÃO 2007

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ANALICE DE AVILA

CAPINZAL-SC: UM ESTUDO GEOGRÁFICO COMO CONTRIBUIÇÃO AO (RE)CONHECIMENTO DO

LUGAR E DA SUA REGIÃO

2007

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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Geociências Programa de Pós-graduação em Geografia

Analice de Avila

CAPINZAL-SC: Um Estudo Geográfico como Contribuição ao (re)conhecimento do Lugar e da sua

Região

Orientador Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado

Dissertação de Mestrado

Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano

Florianópolis-SC, 03 de Abril de 2007

Catalogação na fonte por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071

A958c Avila, Analice de Capinzal - SC : um estudo geográfico como contribuição ao (re)conhecimento do lugar e da sua região / Analice de Avila; orientador Ewerton Vieira Machado. – Florianópolis, 2007. 109f. Dissertação – (Mestrado) Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2007. Inclui bibliografia

1. Capinzal (SC) – Geografia. 2. Geografia urbana. 3. Geografia

Regional. 4. Geografia – Santa Catarina, Meio Oeste. I. Machado, Ewerton Vieira. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Geografia. III. Título. CDU: 91

CAPINZAL-SC: Um Estudo Geográfico como Contribuição ao (re)conhecimento do Lugar e da sua Região

Analice de Avila

Coordenador: Prof. Dr. Carlos José Espíndola

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, área de concentração Desenvolvimento Regional e Urbano, do Centro de Filosofia e Ciências Humana da Universidade Federal de Santa Catarina, em cumprimento aos requisitos necessários à obtenção do grau acadêmico de Mestre em Geografia.

Presidente: ____________________________________

Prof. Dr. Ewerton Vieira Machado (Orientador – UFSC)

Membro: ____________________________________

Profª. Dra. Margareth de Castro Afeche Pimenta (UFSC)

Membro: ____________________________________

Prof. Dr. Rógis Juarez Bernardy (UNOCHAPECÓ)

Florianópolis-SC, 03 de Abril de 2007.

AGRADECIMENTOS

Para a realização desta pesquisa, contei com ajuda e apoio de muitas pessoas e

instituições. Cabe agora expressar e registrar os meus agradecimentos. Entre tantos,

registro e agradeço:

• Primeiramente a minha família, que mesmo distante fisicamente, contribuíram com

pensamentos positivos e apoio emocional. Que durante minha pesquisa de campo

e entrevistas me acompanharam incansavelmente.

• Ao meu companheiro Luciano, in memorian, que sempre me deu apoio em todos

os sentidos até o momento em que estivemos juntos aqui neste plano. A sua

expectativa era tão ou maior do que a minha na conclusão desta pesquisa para

obtenção do título de mestre. Que mesmo não estando mais fisicamente presente,

a certeza do apoio de dimensão espiritual.

• Ao professor Ewerton Vieira Machado, orientador desta Dissertação, pela sua

paciência e tolerância, soube sempre respeitar meus limites e meu ritmo de

trabalho. Foi muito valorosa a sua orientação, me conduzindo sempre pelo caminho

da pesquisa, partilhando seu conhecimento e sua amizade. Foram especialmente

proveitosas todas as discussões individuais e em grupo, juntamente com outros de

seus orientandos (Rafella, Francinete), certamente cresci muito como pessoa e

como profissional.

• Aos funcionários dos órgãos públicos, privados e autarquias pelo fornecimento de

dados/documentos: IBGE; CIDASC, unidade Capinzal; SIMAE; CELESC, unidade

Capinzal; Prefeitura Municipal de Capinzal; Perdigão Agroindustrial, unidade

Capinzal, em especial a Ivanir Bonato pelas valiosas informações e fornecimento

de dados sobre aquela empresa; entre outros.

• Aos entre tantos entrevistados e colaboradores para esta pesquisa, dentre eles

Vitor Almeida, Jandir Coronetti, João Silveira de Avila e outros, que a partir de seus

conhecimentos sobre Capinzal, em nossas conversas formais e informais

contribuíram muitíssimo no produto final deste trabalho.

• A todos os colegas e professores deste curso de pós-graduação, por partilharem

de idéias e discussões acadêmicas, além de vivências e descontrações fora do

âmbito acadêmico. Por extensão a amiga Simone C. Moretti pela sua contribuição

na construção de mapas cartográficos, a qual tornou-se também uma grande

amiga.

• A coordenação e a funcionária Marli da Costa, do Programa de Pós-Graduação em

Geografia da UFSC, pelos apoios e encaminhamentos necessários durante a

minha formação naquele programa.

• Enfim, dentre tantos agradecimentos, alguém especial, à DEUS, sempre presente

espiritualmente. Sem esta força maior, jamais eu conseguiria chegar até aqui.

RESUMO

Esta dissertação tem por finalidade analisar aspectos das relações entre elementos do espaço e da sociedade a partir de contextos da produção urbano-regional do Município de Capinzal-SC. Visa, ainda, estabelecer conexões sócio-econômicas entre o Lugar, a sua Região e, conseqüentemente, as dinâmicas do Mundo, dentro das exigências contemporâneas da produção capitalista. Na produção espacial do objeto aqui estudado, entende-se que o mesmo é um reflexo e condicionante da ação efetiva da sociedade, visto que, já no início do século XX, aquele lugar vinha se encaminhando às condições da contemporaneidade. Na região da pesquisa, num primeiro momento, o enfoque das análises baseou-se em elementos da formação sócio-espacial e seus desdobramentos que tentam explicar na formação nacional, a trajetória da produção urbano-regional de Capinzal. A presença de imigrantes ítalo-gaúchos naquele período, e que passaram a dinamizar o lugar, constituíram entre os principais agentes promotores de mudanças e organizadores do espaço com o aporte do Estado. Este, viabilizou e legalizou formas de ocupação efetiva do território. Da mesma maneira, “grandes corporações” representadas pela Brasil Railway Company, construtora da Viação Férrea Federal São Paulo-Rio Grande e suas concessionárias, por meio de suas intervenções, promoveram a ocupação efetiva e inserções de atividades sócio-econômicas naquele município e sua região. Num segundo momento da pesquisa, o sistema agroindustrial, representado pelo Grupo Perdigão teve seus tentáculos introduzidos a partir de 1980 e mantém, até os dias atuais, uma relação de “domínio” sócio-econômico local e regional. Dessa empresa, sua principal atividade é a produção de frangos, que envolve tanto o campo quanto a cidade. O campo, por intermédio de seus (re)produtores mantém um “sistema de integração” com aquele grupo na produção da matéria-prima. A cidade, pelo fornecimento de infra-estrutura para a produção industrial, através do poder público municipal, e a mão-de-obra oferecida pelos habitantes locais no processo de industrialização de mercadorias, as quais são comercializadas e consumidas em diversos lugares planetários, revelando, assim, a conexão entre o lugar e o mundo. Essas corporações, entretanto, têm o intuito de produzirem e acumularem lucros, e a sociedade, em geral, busca maneiras de (re)produzir suas vidas. Portanto, ficou evidenciado, neste estudo, que o espaço geográfico é verdadeiramente um lócus estratégico no processo de (re)produção da vida, onde suas dinâmicas se revelam pelos ritmos de transformações e de organização de territórios usados, que se refletem na expansão da cidade e as interconexões entre o Urbano e o Rural do município de Capinzal e região. Palavras-chave: Capinzal, Geografia, Geografia urbana, Geografia regional, Meio-oeste catarinense, Santa Catarina.

ABSTRACT

This work has as a purposal to analyze aspects of the relations between elements of the space and the society from contexts of the urban-regional production of the City of Capinzal-SC. It aims at, still, to establish partner-economic connections between the local, its region and consequently, the dynamic of the World, inside of the requirements contemporaries of the capitalist production. In the space production of the object studied here, you understand that it is a consequence of the action of the society, since the beginning of century XX, that place has been heading to the conditions of the modern times. On the region of the research, at a first moment, the approach of the analyses was based on elements of the partner-space formation and its unfoldings that try to explain in the national formation, the trajectory of the urban-regional production of Capinzal. The presence of immigrant ítalo-gauchos in that period, who had started to modify the place, had constituted among the main promotional agents of changes and organizers of the space in the State. It made possible and legalized the forms of effective occupation of the territory. In the same way, “great corporations” represented by Brazil Railway Company, constructor of the Federal Railway - São Paulo – Rio Grande and its concessionaires, by means of its interventions, had promoted the effective occupation and insertions of partner-economic activities in that city and its region. Later on the research, the agro-industrial system, represented by the Group Perdigão had its branches introduced since 1980 until the current days, a relation of “local and regional partner-economic domain”. From this company, its main activity is the production of chickens, that involves the country in such a way as much as the city. The country through of its reproductors keeps a “system of integration” with that group in the production of the raw material. The city, through the infrastructure supply for the industrial production, through the municipal public power, and the man power offered for the local inhabitants in the process of industrialization of merchandises, which is commercialized and consumed in several planetary places, disclosing, thus, the connection between the place and the world. These corporations, however, have intention to produce and to accumulate profits, and the society, in general, searchs ways of reproducing its lives. Therefore, it was showed, in this study, that the geographic space is truly one lócus strategical in the process of reproducing life, where its dynamic are revealed by the rhythms of transformations and organization of used territories, that are reflected in the expansion of the city and the interconnections between Urban and Agricultural of the city of Capinzal and the region. Word-key: Capinzal, Geography, urban Geography, regional Geography, catarinense Half-west, Santa Catarina.

LISTA DE FIGURAS

01 – Localização do Município de Capinzal................................................................. 22

02 – Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do

complexo urbano no início da década de 1980 .................................................. 125

03 – Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do

complexo urbano em 2001 ................................................................................. 126

04 – Aspectos da evolução da ocupação e usos urbanos na cidade de

Capinzal ............................................................................................................. 131

05 - Demonstração do Evento Expovale de Capinzal realizado no ano de

2005 ................................................................................................................... 149

06 – Divulgação da Feira de Eventos e Negócios de Capinzal, 2006 ....................... 150

07 – Capinzal e a sua hinterlândia municipal ............................................................ 152

LISTA DE QUADROS

01 – Estações Ferroviárias, em território catarinense, da Estrada de Ferro

Federal São Paulo-Rio Grande, que desencadearam em futuras

cidades/municípios .................................................................................................36

02 – Animais existentes nos estabelecimentos em Capinzal nos anos de

1950, 1960, 1970 e 1980 .......................................................................................42

03 - Principais tipos de produção agrícola em Capinzal entre os anos

de 1950 e 1980 ......................................................................................................42

04 - População residente no município de Capinzal-SC entre 1920 e 2000 .................45

05 - Valor Adicionado por Setor de Atividade Econômica nos Anos de 1999,

2000, 2001 e 2002 de Capinzal e de Municípios Vizinhos ....................................65

06 - Impostos arrecadados em 2001 e 2002 por Capinzal e Município Vizinhos .........66

07 - Número de aviários e de integrados que possuem vínculo na produção de

frango com a Perdigão, unidade Capinzal, por Municípios dos Estados de

Santa Catarina e do Rio Grande do Sul .................................................................95

08 - Estimativa das perdas de produtos agrícolas causadas pela estiagem

na safra 2005/2006 no município de Capinzal-SC ...............................................102

09 - Estrutura fundiária de Capinzal em 1995 ...........................................................104

10 - Condição do produtor rural em Capinzal em 2002-2003 .....................................105

11 - Produção pecuária no Município de Capinzal em 2003 .....................................105

12 - Produção de laranja, pêssego e uva no Município de Capinzal em 2003 ..........106

13 - Produção das principais culturas agrícola no Município de Capinzal em

2003 ....................................................................................................................106

14 - Estabelecimentos de Atividades Sócio-econômicas no Distrito Sede de

Capinzal, Distrito de Ouro e no Interior do Município no período de

1930-1950 ...........................................................................................................134

15 - Média de preços de lotes urbanos em Capinzal em 2006 ...................................146

LISTA DE FOTOS

01 – Madeireira Movida a Vapor na Década de 1940 ..................................................46

02 – Antiga Estação Ferroviária de Capinzal ...............................................................50

03 – Caixa d´água ........................................................................................................51

04 – Miniatura da Antiga Estação Ferroviária de Capinzal ..........................................52

05 – Reconstrução da Ponte Pênsil sobre o Rio do Peixe que liga Capinzal

e Ouro - inaugurada em 1945 ..............................................................................63

06 – Alojamento de frangos há 3 dias antes do abate ...............................................108

07 – Vista parcial de aviário no interior do município de Capinzal .............................108

08 – Aves com 45 dias de idade .................................................................................109

09 e 10 – Carregamento das aves em gaiolas pela equipe responsável....................110

11 – Carregamento das aves no caminhão para serem transportadas até a

unidade industrial de abate ..................................................................................110

12 – Vista parcial da localidade Lindemberg, algumas moradias e rua

principal pavimentada ..........................................................................................116

13 – Vista parcial da Igreja e do Ginásio de Esportes da localidade de

Lindemberg .........................................................................................................116

14 e 15 – Vista parcial do Distrito de Alto Alegre, algumas moradias e rua

pavimentada ...............................................................................................117

16 – Vista parcial da Prefeitura Municipal de Capinzal ...............................................119

17 – Vista parcial da antiga edificação denominada Alexandre Thomazoni de

uso comercial no pavimento térreo e residencial no pavimento superior ...........121

18 – Vista parcial do antigo Hotel Imperial, atualmente com atividades comerciais

no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores ...........................121

19 – Vista parcial da Rua Ernesto Hachmann ............................................................123

20 – Terminais intra-urbano e inter-regional .............................................................123

21 – Vista parcial da rua XV de Novembro ...............................................................124

22 – Vista aérea parcial da cidade de Capinzal no início dos anos de 1980 ..............125

23 – Vista aérea parcial da cidade de Capinzal em 2001............................................126

24 – Vista parcial da rua João Evangelista Parizotto no loteamento de mesmo

nome .................................................................................................................127

25 – Vista parcial das cidades de Ouro e de Capinzal .............................................129

26 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1930 ................136

27 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1940 ................136

28 – Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950 .................................137

29 - Vista parcial da cidade Capinzal na década de 1950 .......................................137

30 – Casa comercial na década de 1930 .................................................................138

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural

ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina

ACARPESC - Serviço de Extensão Pesqueira

AMMOC - Associação dos Municípios do Meio Oeste Catarinense

CELESC - Centrais Elétricas de Santa Catarina

ELETROSUL - Centrais Elétricas do Sul do Brasil

EMPASC - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina

EMPRESUL - Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A.

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural e Santa Catarina S.A

ETA - Escritório Técnico de Agricultura

FAESC - Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina

FARESC - Federação das Associações Rurais do Estado de Santa Catarina

FUNASA - Fundação Nacional da Saúde

IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina.

SDRs - Secretarias de Desenvolvimento Regional

SDR – Secretaria de Desenvolvimento Regional

SIMAE – Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto

UBA - União Brasileira de Avicultura

VFFSPRG – Viação Ferroviária Federal São Paulo Rio Grande

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14 1. O MEIO OESTE CATARINENSE E O MUNICÍPIO DE CAPINZAL ......................... 20

1.1 A Região e o Lugar: entre o rio e a ferrovia ..................................................20

1.2 Caracterização e formação sócio-espacial ...................................................26

1.3 Capinzal: a produção do Lugar a partir da presença de

Ílalo-gaúchos .................................................................................................37

1.4 Memórias do lugar: algumas (re)significações como marco da

formação sócio-espacial ................................................................................47

2. AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS NA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DE CAPINZAL E REGIÃO ............................................................................................ 55

2.1 Participação Estatal como promotora de mudanças locais e regionais.........55

2.1.1 O Estado: (Re)visitando bases conceituais ....................................55

2.1.2 Dinâmica Estatal e a implantação de infra-estruturas ......................58

2.1.2.1 Acessos/Rodovias ..................................................................... 66

2.1.2.2 Atuação de órgãos e/ou empresas ............................................68

2.1.2.2.1 A CELESC ............................................................................69

2.1.2.2.2 A ACARESC/EPAGRI ......................................................... 72

2.1.2.2.3 O SIMAE .............................................................................. 74

2.1.2.2.4 Inserções recentes da Secretaria do Desenvolvimento

Regional .......................................................................................... ... 76

2.2 O papel do complexo agro-industrial ............................................... .......... 78

2.2.1 Trajetórias do segmento avícola: notações .................................... 78

2.2.2 Dimensões do setor agro-industrial no Meio Oeste

catarinense: segmento avícola/frango ........................................... 85

2.2.3 O Complexo Agro-industrial Avícola em Capinzal ......................... 90

3. CAPINZAL: DINÂMICA TERRITORIAL E AS RELAÇÕES LOCAIS E REGIONAIS ................................................................................................................. 96

3.1 O espaço rural: antecedentes na/da gênese do lugar.................................. 96

3.2 Aspectos da produção do espaço rural capinzalense ................................. 97

3.2.1 A estrutura agrária e as principais atividades agropecuárias........103

3.2. 2 A relação entre o produtor rural/avicultor e a agroindústria .........107

3.3 Aspectos da produção do espaço urbano capinzalense ............................111

3.3.1 A cidade e o urbano: notas............................................................111

3.3.2 O espaço urbano de Capinzal ..................................................... 118

3.3.3 A expansão urbana: arranjos & desarranjos .............................. 129

3.3.4 Usos e especulação da terra urbana e suas conseqüências....... 145

3.4 Outras articulações nas relações urbano-regionais .................................. 147

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................156

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 160 Lista de Entrevistados................................................................................................. 172

ANEXOS ..................................................................................................................... 174

Anexo 01 - Roteiro das Entrevistas realizadas para Dissertação com

Moradores, Empreendedores de Atividades Sócio-econômicas e Produtores Rurais do

Município de Capinzal-SC.

Anexo 02 - Demonstrativo de Lotes de Aves.

14

INTRODUÇÃO

"Vivemos numa época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar-se a si mesmo." Albert Schweitzer

Este estudo tem em sua gênese intenções acadêmico-profissionais como

desdobramento e complemento das atividades de formação, com as quais busca-se

uma compreensão de estruturas urbano-regionais, levando em conta, principalmente,

os movimentos da sociedade no espaço.

Assim, o movimento sócio-espacial reflete nas conjunturas escalares local,

regional e global, dando a idéia de um todo, pois as relações entre si são

interdependentes, e a busca do saber é um reflexo do conhecimento concreto – mas

não absoluto – de partes que, unidas apresentam um movimento de totalidade.

O Mundo, como um todo, é o resultado de um conjunto de inúmeras

possibilidades, sejam elas concretas, por meio de ações efetivas da sociedade, ou

abstratas, a partir do processo cognitivo, das idéias, da compreensão do que ele

representa e vem, constantemente, se (re)produzindo por intermédio dos lugares pela

própria ação social. Assim, tudo que em seu conjunto existe, nada está dissociado, e as

relações se dão em forma de “rede”, estrutura conectada por diversos pontos no

espaço geográfico.

Portanto, compreender o mundo nas dimensões de sua totalidade, a partir de

contextos urbano-regionais, cujo recorte espacial neste estudo é o município de

Capinzal, no Meio-oeste catarinense, nos dá a idéia de como as relações sociais se

manifestam no lugar e estão articuladas à multiterritorialidade. Assim, a idéia de

conjunto parte de uma análise forma-conteúdo e seus respectivos sistemas de ações e

temporalidades, permitindo verificar os (des)arranjos espaciais.

Compreender a dinâmica sócio-espacial de lugares como Capinzal é,

proporcionalmente, tão relevante quanto estudar as metrópoles, pois nesses também

vivem pessoas, porém cada lugar com suas particularidades, embora tudo seja uma

forma de ver o território. Este, por ser uma categoria geográfica complexa, é onde se

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caracterizam elementos comuns entre si. É, também, “fundamentalmente um espaço

definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (SOUZA, 1995, p.78), de uso.

Uma grande indústria, por exemplo, pode exercer, num determinado espaço, o domínio

econômico, de produção e, também, de decisões políticas, caracterizando assim um

território onde predomina a sua atividade, bem como as suas idéias e ações,

notadamente, voltadas ao sistema econômico de produção e comercialização de

mercadorias. É o caso do Grupo Perdigão que, por sua atuação no município de

Capinzal, vem se articulando com outros setores econômicos e com a sociedade em

geral.

De acordo com Souza (1995, p. 81), os territórios existem e são (des)construídos

em diversas escalas, da “mais acanhada”, como por exemplo uma rua, uma praça, um

bairro, às de dimensões internacionais como a atuação de grandes corporações em

mercados consumidores, a exemplo da Perdigão que comercializa seus produtos junto

a países europeus, asiáticos e americanos. Esses territórios são (des)construídos

dentro de escalas temporais variadas, séculos, décadas, anos, meses ou dias. Podem

ter um caráter permanente, mas também existências periódicas, cíclicas. Isso vai

depender da dinâmica social apreendida naquele espaço.

Assim, a partir do objeto deste estudo, o município de Capinzal, permitiu-se

analisar a produção do espaço urbano-regional e a suas transformações ocorridas do

século XX aos dias atuais.

Três fatores foram considerados como principais nas abordagens daquele lugar.

São eles: a gênese do município para a compreensão do desenvolvimento local e

regional, estabelecendo relações com a colonização do meio-oeste catarinense; os

diferentes aspectos de “economias locais”, bem como pequenos comércios

(alimentícios, imobiliários, de vestuários e calçados, entre outros), a agricultura e a

agropecuária; e, por fim, o processo de expansão urbana acentuado, principalmente, a

partir da década de 1980, influenciado, em boa parte, pelo poder irradiador da

industrialização naquele município, especificamente, relacionada ao papel indutor da

agroindústria alimentar, pelo Grupo Perdigão, que induz um tipo de dinamismo a

Capinzal e à região.

16

Portanto, tornou-se relevante a realização deste estudo, por Capinzal apresentar

em sua trajetória de produção do espaço importância sócio-econômica para o

desenvolvimento do estado catarinense, assim como em âmbito nacional, sob aspectos

relacionados às atividades madeireiras, das agropecuárias à agroindústria,

respectivamente.

Nesse contexto, autores como Brancher (1994), discutem em seus estudos que a

presença da Viação Ferroviária Federal São Paulo-Rio Grande (V.F.F.S.P.R.G.) foi o

principal fator responsável no processo da colonização de Capinzal, assim como de

quase toda a região do Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, locais impulsionados

pela presença de empresas colonizadoras. Aquela ferrovia foi suporte para o

incremento de atividades sócio-econômicas ao longo do tempo, bem como a madeira, a

agricultura, a agropecuária e o transporte de pessoas, participando em várias etapas do

processo produtivo.

Dessa forma, além da atividade agropecuária, a agroindustrial também fez parte

da dinâmica sócio-espacial de Capinzal. Desde o final da década de 1930, o município

de Capinzal já estava inserido em circuitos da agroindústria alimentar, com a presença

das Indústrias Reunidas Ouro S/A. Porém, é a partir da década de 1980, com a

presença do Grupo Perdigão, que essa situação tendencialmente se refletiu na

urbanização e industrialização daquela região, possibilitando a transformação mais

acentuada do espaço local. Desse modo, estabeleceram-se conexões sócio-

econômicas locais e regionais e, conseqüentemente, com o mundo em geral.

Para o desenvolvimento deste estudo alguns aspectos foram levantados, dentre

eles destacam-se as economias de aglomerações que foram surgindo em Capinzal e

região, mostrando-se inseridas numa dinâmica que vem promovendo

transformações sócio-espaciais naquele município; a contribuição a estudos

geográficos como possibilidade de aporte a futuras pesquisas; e a contribuição à

população local, sobretudo na formação de educandos, como possibilidade de

(re)conhecimento do lugar em que vivem.

Os aspectos acima esboçados indicam que os estudos geográficos são

possibilidades de compreender a relação entre o homem e o espaço, por intermédio de

suas “marcas” deixadas na paisagem. Desse modo, são as particularidades e as

17

singularidades dos lugares que dão indicativos para entender o Mundo. Sendo o lugar

Capinzal uma dessas possibilidades.

Portanto, a pergunta central, como ponto de partida para se compreender a

produção do espaço de Capinzal, é abordada da seguinte forma: como e em que

momento aspectos da produção do espaço urbano-regional do município de Capinzal

vêm se articulando entre o Lugar, a sua Região e, conseqüentemente, o Mundo?

Esse questionamento foi sendo respondido, neste estudo, a partir da

investigação e análise dos dados, desde a gênese da colonização do município de

Capinzal e suas relações com a colonização do oeste catarinense; análise do papel do

Estado e a sua contribuição como agente indutor e articulador de mudanças sócio-

espaciais locais regionais; avaliação e análise dos aspectos da articulação entre

processos das (re)produções e transformações sócio-espaciais que vêm ocorrendo

naquele município, mais especificamente a partir da década de 1980, com a presença

da agroindústria alimentar, o Grupo Perdigão; e, finalmente, identificação de aspectos

de potencialidades do município e suas articulações com tendências de

desenvolvimento apregoado para Santa Catarina e Brasil.

O estudo está estruturado em três partes. A primeira, apresenta a área

pesquisada num recorte espacial, sua caracterização por intermédio da identificação da

localização e de aspectos ambientais, econômicos e populacionais e, ainda, discorre

sobre aspectos do processo da ocupação por migrantes, principalmente, ítalo-gaúchos,

(re)contextualizado com o meio-oeste e, por extensão, com o estado catarinense. Outro

aspecto, também analisado nesta primeira parte, é a implantação da viação férrea

V.F.F.S.P.R.G. com suas respectivas estações ferroviárias que atuaram como um vetor

à ocupação e ao surgimento das primeiras vilas, embriões de futuras cidades.

Nesse processo de ocupação, ocorrido por meio de companhias colonizadoras,

enfatiza-se, de certa forma, como as empresas fizeram, na prática, o papel do Estado

no processo colonizatório do meio-oeste e oeste de Santa Catarina.

Este capítulo perpassa pela compreensão da produção do espaço de Capinzal a

partir da presença de ítalo-gaúchos, e estratégias da inserção de diferentes atividades

sócio-econômicas, desde a pequena produção agrícola familiar, a atividade da extração

e transformação da madeira, a agropecuária, a indústria entre outras, que foram

18

ocorrendo ao longo do século XX. Buscou-se também, rapidamente, estabelecer

discussões sobre a memória do lugar e suas (re)significações, isto é, a partir de alguns

elementos que tiveram determinadas presenças no passado e que, na atualidade,

apresentam outras funções e significações, como a ferrovia e a estação ferroviária, de

hábitos trazidos por migrantes gaúchos, enfim, de vários aspectos que caracterizam

uma “memória do lugar”.

Para esta etapa do estudo, foram levantados dados e informações documentais

em diversas áreas das ciências humanas como história, geografia, sociologia, entre

outras. Buscou-se, nessas áreas do conhecimento, elementos para identificar a origem

e a conseqüência da colonização de Capinzal e região. A busca e a manipulação

dessas informações ocorreram por meio de manuseios de livros, jornais, revistas

científicas e coletas em instituições como o IBGE, extraindo-se dados relevantes para

este estudo. Entrevistas orais semi-estruturadas e semi-abertas (Anexo 01) também

foram realizadas, para a identificação de aspectos sócio-econômicos e culturais de

Capinzal, bem como documentos de base cartográfica e iconográfica, para ilustração e

identificação da temática proposta.

Na segunda etapa do estudo, as discussões partem do papel e da atuação do

sistema estatal, sua participação e interação na vida sócio-econômica do município

e/ou da região. O Estado promove transformações e organização do espaço urbano-

regional a partir de órgãos e empresas governamentais assim como, indiretamente, por

intermédio de instituições privadas. Outro agente importante e participante como

organizador do espaço urbano-regional de Capinzal, na contemporaneidade, é o

sistema agroindustrial. Para esse contexto da atividade agroindustrial, a partir do

segmento avícola, fez-se um paralelo da atuação no Brasil e em Santa Catarina, mais

especificamente no meio-oeste e, por conseguinte, Capinzal.

Como aporte para fundamentar e analisar esses agentes, foram levantados

documentos como estudos de caso e de base teórica e empírica, procurando-se discutir

conceitos, com a aquisição de dados pontuais estatísticos e concretos. Utilizou-se,

também, de documentos e relatórios de instituições públicas e privadas como da UBA

(União Brasileira de Avicultura), da Perdigão Agroindustrial S/A, da Prefeitura Municipal

de Capinzal, da CELESC, da EPAGRI, da ACARESC, do SIMAE, entre outros. Assim,

19

considerando a idéia de como os agentes sócio-espaciais vêm atuando a partir das

estratégias de sua dinâmica na sociedade, buscou-se estabelecer uma relação de

poder para o reconhecimento das ações entre dominante e dominado.

Na terceira parte, as discussões discorreram sobre a produção do espaço rural e

urbano de Capinzal e suas articulações regionais, em contextos contemporâneos.

Assim, foi levado em consideração o espaço agrário brasileiro, por conseguinte e

especificamente de Capinzal, bem como a estrutura agrária e as principais atividades

agropecuárias que vêm se configurando, tais quais a relação entre o produtor rural e a

agroindústria Perdigão, a (re)produção e expansão do espaço urbano, a especulação

nos usos da terra urbana e as suas influências no território a partir das dinâmicas

sociais.

Para o desenvolvimento deste terceiro capítulo, serviram de base ao aporte

teórico-conceitual livros, artigos e revistas de produções científicas. Utilizou-se também

de entrevistas semi-estruturadas e semifechadas, realizadas com antigos moradores,

produtores rurais, empreendedores de atividades sócio-econômicas, promotores

imobiliários (Anexo 01); entrevistas abertas com representantes do sindicato dos

trabalhadores rurais, ex-vereadores, agrônomo da Epagri, entre outros, que serviram de

apoio à construção deste texto. Ainda, foram utilizados dados e documentos obtidos

junto à Prefeitura Municipal de Capinzal, além da legislação municipal e do plano físico

territorial urbano.

Durante a elaboração do texto preocupou-se em estabelecer discussões acerca

de relações entre o local, o regional e o global, dentro das possibilidades já

mencionadas pelos recortes tanto teóricos quanto empíricos. Sendo uma forma de ver o

mundo por intermédio de Capinzal.

Por fim, na última parte, apresentam-se considerações sintetizadas, a partir do

que foi discutido neste estudo, dando um fecho, por ora, ao caminho percorrido durante

o curso de pós-graduação e o que seus desdobramentos oferecem como contribuição

socializada ao (re)conhecimento do Lugar, que também é, proporcionalmente, uma

maneira de auto-reconhecimento desta pesquisadora.

20

1. O MEIO-OESTE CATARINENSE E O MUNICÍPIO DE CAPINZAL

1.1 A REGIÃO E O LUGAR: ENTRE O RIO E A FERROVIA

O espaço geográfico é o resultado da produção social em todas as suas

dimensões. Não pode ser entendido apenas como uma localização ou as relações

sociais da posse de propriedade. Em conjunto, é uma localização física, um bem imóvel

e, ao mesmo tempo, uma “liberdade existencial” e uma “expressão mental”.

(GOTTDIENER 1997, p. 28).

As ações humanas, a partir de determinados objetivos e necessidades criadas,

resultam no espaço, onde este é dinâmico e constantemente (re)produzido. Pois, o

espaço representa, simultaneamente, o local onde ocorrem eventos e engajamentos da

sociedade nesses eventos. Desse modo, a “essência do espaço é social”, porém ele é

formado por coisas, objetos geográficos naturais e artificiais e, pela sociedade.

(SANTOS, 1985, p.1).

Os eventos são, portanto, tipos de movimentos naturais produzidos pela própria

natureza, como o curso de um rio, a chuva, o vento, entre outros. São, também,

movimentos sociais, resultantes da ação humana, da interação entre os homens e dos

seus efeitos sobre a natureza (SANTOS, 2004), como a construção de uma ponte, de

uma rua, a prática e o cultivo agrícola, entre outros. O engajamento da sociedade

nesses eventos é, no entanto, a maneira de garantir a sua sobrevivência, além de criar

outras necessidades para o seu bem estar.

Desse modo, para compreender o espaço geográfico na sua totalidade,

idealizando o que é o Mundo, é necessário compreendê-lo por meio de seus

fragmentos, isto é, a partir das diversas e diferentes escalas de lugares, como um

bairro, uma cidade, representados pela vida cotidiana, que permitem uma visão, em

conjunto, do todo. De acordo com Machado (2000, p. 21), “o lugar é, para o espaço

geográfico, o ponto de conexão e articulação com o mundo”. Assim, os lugares são,

pois, condições e suportes de relações globais que sem eles não se realizariam

(SANTOS, 2005). São, ainda, as concretizações de eventos, isto é, a ação contínua e

21

indissociável resultantes da interação e integração entre a sociedade e a natureza.

Conforme Corrêa (2005, p. 5), o “lugar pode ser visto como a expressão geográfica da

singularidade, o resultado da ação combinada de processos universais, particulares e

singulares, de determinações contingenciais. Não é único, mas é singular”.

É nessa perspectiva de compreender a singularidade do lugar, por meio de

(des)arranjos da dinâmica sócio-espacial, que este estudo baseia-se no município de

Capinzal-SC, que localizado na porção sul do meio-oeste Catarinense1, na chamada

“zona fisiográfica” do baixo vale do Rio do Peixe, à margem esquerda deste e nas

encostas da margem direita do rio Uruguai (Fig. 01).

Apresenta, entre suas peculiaridades e especificidades, uma trajetória da

produção do espaço própria daquele lugar, porém articulado a outros lugares, também

singulares. Está integrado à microrregião da AMMOC (Associação dos Municípios do

meio-oeste catarinense), tendo Joaçaba como a “capital regional”, que abrange 13

municípios2, totalizando uma área de 3.598,6 km², o correspondente a

aproximadamente 3,77% do território catarinense.

Inicialmente, aquela região foi colonizada por descendentes de italianos e

alemães oriundos do Estado Rio Grande do Sul e, posteriormente, por austríacos e

japoneses, entre outros.

Nessas condições, se farão, ao longo do texto e/ou quando pertinente,

inferências para além de suas fronteiras político-administrativas, com a perspectiva de

compreender como, em Capinzal, o espaço geográfico vem (re)produzindo-se e

articulando-se com outros lugares, na contemporaneidade. Isso, a partir das chamadas

“conexões geográficas” que, conforme Souza (1992), ocorrem entre pontos e escalas

diferenciadas e lugares não contíguos do espaço, conectados por intermédio das

relações estabelecidas pelas urbanizações e sistemas produtivos, os mais distintos e

variados na escala planetária.

1 O uso dessa tipologia se deve a dois aspectos principais que criam uma identidade do lugar: a) pelas características da formação social; b) pelo uso comum dessa tipologia entre a população local, a mídia, pesquisadores das áreas da história, geografia, entre outras, o Governo do Estado de Santa Catarina que caracteriza essa divisão regional, órgãos como a Fatma, associações de municípios como a AMMOC, entre outros. 2 Capinzal, Erval Velho, Ouro, Lacerdópolis, Erval d´Oeste, Joaçaba, Luzerna, Ibicaré, Treze Tilhas, Água Doce, Catanduvas, Vargem Bonita e Tangará.

22

23

Assim, os limites territoriais atuais da unidade político-administrativa daquele

município ocorrem da seguinte forma: ao norte, limita-se com os municípios de Ouro e

Lacerdópolis; ao sul, com o Estado do Rio Grande do Sul; ao leste, com os municípios

de Campos Novos e Zortéa e; ao oeste, com os municípios de Piratuba e Ipira (Fig. 01).

Porém, deve-se levar em conta que aquele território tem como elemento

marcante e de maior influência, a sociedade, que, por meio da sua dinâmica, tem

promovido mudanças nas formas geográficas, criando suas particularidades, o que faz

do lugar singular, entretanto sintonizado com outros lugares, também singulares. Nesse

sentido, concorda-se com Santos (1985) ao dizer que são nos lugares que se

concretizam ações sociais e esses expressam uma idéia de mundo. Como a idéia de

mundo é uma abstração, é nas singularidades e nas especificidades dos lugares que

ela se concretiza.

Outro aspecto também levado em consideração com o objetivo de caracterizar a

área de estudo, entre aqueles aspectos físicos, é a rede de drenagem. Desse modo,

Capinzal dispõe de um sistema fluvial distribuído da seguinte forma: o distrito sede,

além do rio do Peixe, é banhado pelo rio Capinzal. Este é formado por dois afluentes

principais, o rio São Roque e o rio da Pedreira. A junção de ambos afluentes origina o

rio Capinzal, que lança suas águas à margem esquerda do rio do Peixe, passando pelo

centro da cidade sede do município. Assim, a rede de drenagem do território municipal

é formada por outros rios menores, entre os quais se destacam os lajeados da Divisa, o

Leãozinho e o Santa Cruz. O rio Uruguai, um dos coletores da vertente do Interior, na

Bacia do Prata, também, constitui a rede de drenagem do município, que estabelece

limites entre os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, sendo o receptor do

rio do Peixe.

Dentre outras peculiaridades que caracterizam o município de Capinzal, é

pertinente considerar a origem de sua denominação, como possibilidade para

compreender o processo e a conseqüência da ocupação. O nome Capinzal nada mais

é do que uma derivação da palavra capim, devido à existência de grande quantidade

desse tipo vegetal na várzea onde hoje se localiza a sede do município. O nome foi

sendo adaptado até se consolidar oficialmente. Entretanto, a semente do capim -

denominado popularmente como capim paulista, também conhecido por capim gordura

24

ou melado (Melinis minutiflora) - vinda do Estado de São Paulo, foi plantada por

Antônio Lopes de Abreu, fazendeiro que possuía boa parte daquelas terras que hoje

constituem a base física municipal (BRANCHER, 1994; ALMEIDA, 2004).

Na segunda metade do século XIX, as terras capinzalenses integravam uma

grande fazenda de criação de gado, originariamente denominada Campo Bonito3 e,

posteriormente, fazenda São Pedro (também denominada fazenda Santo Antônio ou

dos Lopes)4. Essa fazenda correspondia a uma área de 26.598,4ha e era constituída

por mata, principalmente pela árvore Araucária angustifólia, além de outras madeiras

nobres, como a imbuia (Ocotea porosa), o sassafrás (Ocotea odorifera), a canela

(Octea acutifolia), o cedro (Cedrela fissilis), a peroba (Aspidosperma pavifolium), o

angico (Parapiptadenia regida), a cabriúva (Myrocarpus frondosus), entre outros, assim

como de pastagens nativas e da erva-mate (Ilex paraguariensis) (ALMEIDA, 2004 p.

28), que formam a floresta de araucárias no Sul do Brasil, no Planalto Meridional.

A zona das araucárias, entretanto, principia no primeiro planalto, imediatamente

a oeste da Serra do Mar e estende-se pelos chamados segundo e terceiro planaltos no

Estado do Paraná. Ocorrem entre as e/ou nas altitudes médias de 600 a 800m, e em

alguns poucos lugares ultrapassam 1.000m de altitude. O limite inferior dessas matas

situa-se entre 500 e 600m nos estados do Sul brasileiro (AMBIENTEBRASIL, 2006). A

floresta de araucárias era praticamente intacta pela devastação e ocupação humana

em toda a região do Vale do Rio do Peixe, inclusive em Capinzal, até o início do século

XIX.

3 Campo Bonito era uma Sesmaria que foi inicialmente requerida por Jesuíno de Mattos na primeira metade do século XIX, que, segundo Almeida (2004), dispunha de grandes afetos junto às autoridades imperiais brasileiras, porém não há registros de sua procedência e, nem de realização de qualquer tipo de ocupação e uso naquelas terras. Posteriormente, as terras de Campo Bonito foram repassadas por Jesuíno de Mattos ao Barão de Antonina (João da Silva Machado), um empresário e político paranaense. Da mesma forma, não foi ocupada (ALMEIDA, 2004). 4 Em 1854, o Barão de Antonina vendeu a Sesmaria ao Coronel Manoel Ferreira da Silva Farrapo e a Manoel Lopes de Abreu, ambos fazendeiros e residentes no recém criado distrito de Campos Novos. Porém, não se sabe a origem desses dois personagens antes de se instalarem em Campos Novos. No mesmo ano (1854), Manoel F. da Silva Farrapo vendeu sua parte da terra a Manoel Lopes de Abreu. Este iniciou, então, a ocupação das terras de Campo Bonito, juntamente com a sua família, seus empregados e escravos, vindo a falecer alguns anos depois. Um dos herdeiros, Antônio Lopes de Abreu (filho de Manoel Lopes de Abreu), recebeu como herança a maior parte da fazenda e passou a administrá-la com a denominação de fazenda Santo Antônio ou dos Lopes (ALMEIDA, 2004).

25

A denominação de Capinzal, portanto, está relacionada com a introdução do

capim paulista como alimento, este aumentava a possibilidade de maior peso dos

animais, visto que as pastagens nativas não eram consideradas ideais a animais para o

abate. Desse modo, depois de adquirirem o peso considerado ideal para serem

abatidos, eram transportados pelos tropeiros5 para as feiras de Sorocaba e Itapetininga,

em São Paulo, onde eram comercializados (ALMEIDA, 2004). Esse tipo de comércio,

entretanto, levou a uma formação de “redes” com o espaço extra-regional, característica

mantida e ampliada até a atualidade, inclusive na produção de matéria-prima,

principalmente de alimentos.

Pelo fato de o capim paulista ter sido semeado na várzea do rio, o nome

Capinzal se referiu, inicialmente, somente ao rio. Posteriormente, os trabalhadores da

ferrovia VFFSPRG - Viação Ferroviária Federal São Paulo Rio Grande (inaugurada em

20 de outubro 1910) e os primeiros colonos vindos do Estado do Rio Grande do Sul,

passaram a chamar o lugar de “Villa de Rio Capinzal” (BRANCHER, 1994; ALMEIDA,

2004). Villa de Rio Capinzal pertencia ao município de Campos Novos, porém, em

1914, ela passou a 5º Distrito do município de Campos Novos, recebendo o nome de

Rio Capinzal. Em 1948, foi criado o atual município denominado Capinzal.

A criação do município ocorreu em 30 de dezembro de 1948 e a sua instalação

oficial deu-se somente a 17 de fevereiro de 1949, segundo a Lei nº 247, de 30 de

dezembro de 1948 do Estado de Santa Catarina. A mesma lei foi aplicada para a

criação de mais seis municípios catarinenses, dentre os quais denominam-se

Ituporanga, desmembrado dos municípios de Bom Retiro e Rio do Sul; Massaranduba,

desmembrado dos municípios de Blumenau, Itajaí e Joinvile; Piratuba, desmembrado

de Campos Novos e de Concórdia; Taió, desmembrado de Rio do Sul; Tangará,

desmembrado de Videira e; Turvo, desmembrado de Araranguá (IBGE, 1959, p. 70).

5 Termo designado aos homens que transportavam principalmente tropas de gado do Rio Grande do Sul para os mercados consumidores do sudeste.

26

1.2 CARACTERIZAÇÃO E FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL

Encontrar estratégias para (re)produzir a vida é uma característica desenvolvida

pelo ser humano desde o princípio de sua existência. Ao longo de sua evolução, o

homem vem cada vez mais (re)produzindo e socializando o espaço, para garantir suas

necessidades vitais (como alimento, saúde, habitação, convivência social, etc.) e,

paralelamente, criando outras necessidades (como lazer, bem estar social). Isso,

movido pela curiosidade, vontade de aprender e, até mesmo pela conquista do poder,

do domínio sobre o outro e/ou sobre a natureza, em lugares diversos e distintos.

Desse modo, de acordo com as idéias de Milton Santos, a produção espacial é

um fato social e, a cada momento, a sociedade transforma-se em espaço, a partir das

relações sociais estabelecidas no seu modo de produção, do trabalho empreendido

para (re)produzir a vida.

Nessa perspectiva, compreender a sistemática da colonização6 do meio-oeste de

Santa Catarina, como resgate da posse de um território, foi a possibilidade de construir

uma idéia da produção do espaço e entender como Capinzal, enquanto lugar, se insere

nesse contexto sócio-espacial.

Como ponto de partida para essa compreensão, têm-se nas relações que a

ocupação e exploração do território brasileiro tiveram, inicialmente, por meio de

influências de colonos portugueses e, posteriormente, espanhóis, alemães, italianos,

entre outros, resultando em tentáculos da expansão capitalista européia, sobre novas

realidades.

A colonização do território catarinense na trajetória das condições pré-

capitalistas ocorreu a partir de 1645, quando o litoral começava a ser ocupado por

vicentistas (descendentes de europeus na Província de São Paulo) que desceram a

costa brasileira em direção ao Sul e ocuparam, naquele mesmo ano, locais que deram

origem a São Francisco do Sul. Em seguida, em 1651, foi fundado o município de

Desterro, embora a tentativa de sua colonização tenha fracassado devido a morte do

fundador Dias Velho, pela tripulação de um navio corsário estrangeiro, obrigando mais 6 Colonização significa povoar áreas desocupadas e iniciar um processo de ocupação e uso do solo (WERLANG, 2002). Colonizar, “ocupar um novo chão, explorar seus bens, submeter os seus recursos naturais”. (BOSI, 1996).

27

tarde os povoadores a retornarem à Província de São Paulo. Em 1676, foi fundada a

vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna, que entrou também no processo de

colonização vicentista, tendo por fundador Domingos de Brito Peixoto.

Nessa primeira fase da colonização em Santa Catarina, nota-se que a ocupação

se fez pela necessidade, no período colonial do Brasil, de ocupar e desenvolver terras

que ainda não haviam sido efetivamente incorporadas ao território brasileiro.

Caracterizava-se por uma migração interna e como possibilidade de estabelecer maior

integração sócio-econômica entre o sul e o sudeste e, conseqüentemente, todo o seu

território.

Porém, em virtude da disputa entre Portugal e Espanha pelo domínio do Estuário

do Prata (na Argentina), acreditava-se haver naquele lugar grande quantidade de

minérios de valor. O governo português promoveu a vinda de casais açorianos e

madeirenses entre os anos de 1748 e 1756 para se estabelecerem em Desterro, na

Ilha de Santa Catarina e em Laguna. Esse período se caracterizou formalmente como

uma ou a segunda fase da colonização catarinense.

No planalto catarinense, por volta de 1725, começaram a ser explorados

caminhos que possibilitavam a passagem do gado oriundo dos campos de Viamão (Rio

Grande do Sul) em direção ao chamado centro do país (notadamente São Paulo).

Surgiu, então, em 1771, o núcleo populacional de Lages e, posteriormente, São

Joaquim, Curitibanos, Rio Negro e Mafra. Essas localidades, ligadas ao ciclo do gado,

entre Rio Grande do Sul e São Paulo, tiveram em suas origens traços de uma migração

interna brasileira por descendentes de europeus.

A partir do século XIX, o processo de ocupação do território catarinense se

intensificou, sobretudo pela vinda de alemães que, em 1829, fundaram o primeiro

núcleo de povoamento alemão na localidade de São Pedro de Alcântara, próximo ao

litoral (na grande Florianópolis). Posteriormente, a ocupação alemã se destacou e

expandiu nos vales nos rios de Cubatão, Cachoeira, Joinville, Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim.

Ainda, no século XIX, com a vinda de italianos, em 1836, fundou-se a colônia de

Nova Itália, atual município de São João Batista, no Vale do rio Tijucas. A partir de

1875, foram fundadas colônias em Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra, Nova Trento, entre

28

outras. Posteriormente, ocorreu, também, a ocupação italiana nos vales dos rios Itajaí-

Açu, Tubarão, Urussanga, Mãe Luzia e Aranranguá.

Por volta da segunda metade do século XIX, em 1871, o primeiro grupo de

poloneses chegou a Brusque. A partir de 1889, novas levas de imigrantes poloneses e

russos se instalaram nos vales dos rios Urussanga, Tubarão, Mãe Luzia, Araranguá,

Itajaí, Itapocu e São Bento do Sul.

Nota-se que até o final do século XIX a ocupação do território catarinense foi aos

poucos se interiorizando, até então comumente no litoral, porém com forte influência da

migração européia, principalmente pelos países Portugal, Itália, Alemanha e,

posteriormente eslavos.

Por fim, no século XX, a ocupação chegou, de fato, no Meio-oeste e Oeste

catarinense, respectivamente. A partir de 1910, foram sendo ocupadas as áreas

marginais dos vales dos rios do Peixe e do Uruguai e, paulatinamente, o médio e o

extremo-oeste, por descendentes, principalmente, de alemães e italianos vindos do Rio

Grande do Sul. De acordo com Singer (1977), este movimento colonizador no estado

catarinense sofreu outros desdobramentos. Assim, a partir de Joinville e Blumenau,

correntes de povoamento se lançam para o Oeste, até os limites das bacias da vertente Atlântica. A bacia do Uruguai, por sua vez vai sendo povoada por correntes provenientes dos núcleos de colonização alemã e italiana do Rio Grande do Sul. Para se ter uma idéia da intensidade deste processo colonizador, basta observar que em 1920 todo o Vale do Rio do Peixe estava subdividido em apenas dois Municípios e o Vale do Rio Chapecó constituía um Município só. Hoje no Vale do Rio do Peixe há 13 Municípios e no Vale do Chapecó 17. Trinta Municípios em 1958, onde em 1920 havia apenas três. (SINGER, 1977, p. 82-83).

Neste contexto, a ocupação do meio-oeste catarinense e dos vales dos rios do

Peixe e Uruguai, após a Primeira Guerra Mundial, também teve ingressos de eslavos,

principalmente de poloneses.

Destarte, tanto o Vale do Rio do Peixe, no meio-oeste quanto o Oeste, tiveram

suas colonizações tardias, influenciadas, principalmente, por descendentes de italianos

e alemães vindos do Estado do Rio Grande do Sul.

29

Conforme remonta Brancher (1994), o processo de colonização na região do

Vale do Rio do Peixe se inicia a partir de 1910, com o término da construção da ferrovia

São Paulo–Rio Grande, que atraiu significativa quantidade de levas imigratórias às

extensões de terras ainda não ocupadas e nem cultivadas e/ou exploradas pela

sociedade capitalista.

Entretanto, a ocupação daquelas regiões, segundo alguns autores, se divide em

três fases, cada uma com características distintas. Poli (1995, p. 73), diz que até

meados do século XIX a ocupação predominante era de índios Kaingang,

posteriormente, “a população que sucedeu à indígena e miscigenou-se com esta foi a

dos luso-brasileiros, mais conhecidos como caboclos” e, por fim a fase de colonização.

Esta, caracterizada pela ocupação de descendentes ítalo-germânicos (oriundos,

principalmente, do Estado do Rio Grande do Sul), os quais tiveram maiores influências

e efetivação no processo de ocupação daquela região, sob a ótica capitalista.

Desse modo, a colonização do meio-oeste foi impulsionada, em partes, pela

política de integração inter-regional brasileira entre o Sudeste, que se mostrava ser

mais dinâmico, e o Sul, que ainda preservava uma certa resistência de características

mais tradicionalistas. Assim, a formação sócio-econômica no Vale do Rio do Peixe

estava articulada à grande via de circulação representada pela ferrovia, refletindo

diretamente sobre o centro paulista que começava a escapar de sua quase exclusiva

economia exportadora de bens primários e se urbanizava rapidamente a partir da

industrialização (LAGO, 1978).

Neste contexto, o final do século XIX e o início do século XX, foram marcados

por grandes transformações sócio-econômico-políticas no Brasil, sobretudo, no Centro-

Sul, em virtude das transformações ocorridas no sistema capitalista mundial. Isto, de

acordo com Cavallazzi (2003), deu-se até o final do século XIX, quando a hegemonia

capitalista britânica possibilitava o aprimoramento na produção manufatureira, através

de uma política de livre comércio que almejava solidificar uma Divisão Internacional do

Trabalho, no qual o resto do mundo proveria os mercados britânicos de alimentos e

matérias-primas mais baratos. Assim é que o investimento estrangeiro, nessa fase,

abrangia as obras de infra-estrutura, tais como ferrovias, companhias de navegação e

de seguro, bancos financeiros, entre outras.

30

A partir das duas últimas décadas do século XIX e, definitivamente, a partir do

início do século XX, houve uma radical transformação em escala global, onde se

verificou a consolidação da ascensão dos Estados Unidos e da Alemanha, em

detrimento da Inglaterra, no cenário capitalista mundial. Essa nova fase planetária da

economia capitalista, a partir de 1900, teve entre suas causas a crise crônica da

agricultura européia, por volta de 1870. Isso, em virtude do excesso de produtos

agrícolas vindos dos países agro-exportadores (CAVALLAZZI, 2003), inclusive do

Brasil, assim como de toda a América Latina, países também vistos como mercados

potenciais a serem dominados.

O papel do Brasil nesse contexto econômico internacional, era de um mero

fornecedor de matérias-primas, até o final do século XIX, e também um interessante

mercado, como receptor de investimentos, a partir do início do século XX

(CAVALLAZZI, 2003).

Praticamente até o final do século XIX, a posição do Brasil, diante da Divisão

Internacional do Trabalho, como país agro-exportador, foi de participante incipiente na

dinâmica da economia mundial (CAVALLAZZI, 2003). A condição periférica, não gerava

influência suficiente para que as transformações de sua conjuntura causassem reflexos

nos países que compunham o centro dinâmico do sistema e suas estruturas internas

caracterizadas, majoritariamente, por grandes áreas isoladas, a exemplo do meio oeste

e oeste catarinense assim como algumas áreas do Norte do país. Essa condição

periférica não permitia, assim, influências recebidas do exterior, exceção feita às áreas

diretamente envolvidas com a produção primária exportadora como as do café no Vale

do Paraíba, entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro; seringais na floresta

amazônica; açúcar em Campos, no Rio de Janeiro.

Até o inicio do século XX, o Brasil não proporcionava ainda, ou efetivamente,

condições estimulantes para investimento de capitais estrangeiros. Naquele período, os

investimentos externos, predominantemente ingleses, preocupavam-se com o

estabelecimento de infra-estrutura, de modo a facilitar as atividades exportadoras.

Assim, os setores privilegiados foram os de transportes (ferrovias, navegação, portos)

e, ainda, os de seguros e os bancários, principalmente (CAVALLAZZI, 2003).

31

Sobre os investimentos em infra-estrutura, principalmente externos no setor de

transporte, o Brasil viu-se obrigado a também investir no setor, para não perder

mercado internacional. Isso se deu, em grande parte, pela consolidação de um projeto

do governo imperial inicialmente e, posteriormente, republicano de conectar regiões

brasileiras que ainda não haviam sido ocupadas e nem exploradas economicamente

com as demais que já se mostravam com tendências dinâmicas.

O “grande projeto”, assim chamado, estava alicerçado na implantação de uma

ferrovia que ligasse São Paulo ao Rio Grande do Sul, como possibilidade de conectar

zonas produtoras, principalmente o Rio Grande do Sul com zonas consumidoras e/ou

exportadoras, situadas no eixo Rio-São Paulo. A Ferrovia São Paulo-Rio Grande

possibilitaria conectar não somente o centro-sul, como também as demais regiões

brasileiras em ferrovias longitudinais. Essas ferrovias permitiriam a ligação do interior ao

litoral brasileiro, possibilitando também maior integração entre a população rural e a

urbana, no processo de circulação e comercialização de mercadorias em âmbito

nacional e internacional.

Desse modo, o traçado da estrada de ferro (São Paulo-Rio Grande) projetado

pelo engenheiro brasileiro João Teixeira Soares, em 1887, foi de 1.403km de

extensão, entre Itararé (SP) e Santa Maria (RS), ligando as províncias de São Paulo,

Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul pelo interior, possibilitando ainda a

conexão dessa ligação da então capital federal Rio de Janeiro às regiões fronteiriças

do Brasil com a Argentina, Uruguai e Paraguai (THOMÉ, 1983). Naquela época, o

único acesso viável entre essas províncias e/ou entre uma região e outra se limitava

pelo litoral, o qual se tornava longo e dificultoso. Daí a possibilidade de se encurtar o

caminho e proporcionar ocupação de locais ainda não explorados economicamente. A

partir de Thomé (1983, p. 52), vê-se que o traçado da ferrovia atravessaria territórios

quase distintos, desde áreas

no Paraná, praticamente toda região estava ocupada por fazendas de criação e de cultura, com muitas pessoas detendo títulos de posses e sesmarias, enquanto que do Rio Iguaçu rumo Sul, as terras eram devolutas, com pouquíssimas posses até Passo Fundo, pois no Rio Grande do Sul voltava-se a encontrar fazendas. O terreno possibilitava que a ferrovia fosse do tipo “colonizadora”, havendo terras suficientes para nelas se promover a instalação de núcleos coloniais, nos moldes das normas vigentes.

32

Nota-se, então, que no Sul brasileiro o território catarinense era o único em que

ainda havia áreas a serem colonizadas e exploradas. A implantação do sistema

ferroviário possibilitou, assim, a ocupação e o desenvolvimento do Sul do Brasil, região

esta que despontava com grandes potenciais econômicos e começava a ser vista com

“outros olhares”, na possibilidade de inseri-la na dinâmica econômica do Sudeste.

A ocupação que se iniciou por volta de 1908, quando também se iniciou a

construção da ferrovia, em território catarinense, foi tarefa de uma companhia

francesa que, segundo Pimenta (1984), cedeu seus direitos à Brasil Railway Company,

do Grupo Farquhar. O Grupo Farquhar era conhecido pelo conglomerado de empresas

que atuava e controlava os sistemas de transporte ferroviário da Amazônia e do

centro-sul brasileiro (CAVALLAZZI, 2003). A atuação da empresa Brazil Railway

Company no centro-sul começou através do novo traçado para a construção da

ferrovia favorecendo melhores condições técnicas para desenvolver o trabalho. Aquela

empresa contratou, então, os serviços técnicos do engenheiro norte-americano Achiles

Stenghel, o qual fez o novo traçado e liderou a construção dos 372km da ferrovia, no

Vale do Rio do Peixe. Stenghel contratou aproximadamente 8.000 trabalhadores, os

quais foram distribuídos ao longo do traçado e concluíram aquele trecho em 1910

(THOMÉ, 1983).

Como forma de pagamento à empresa construtora, o governo da República

Brasileira cedeu 15km de terras de cada lado do leito da estrada, independente de já

existir qualquer tipo de ocupação, legalizada ou não. Assim, a Brazil Railway Company,

por intermédio de suas empresas subsidiárias, a Southern Brazil Lumber e a

Development & Colonization Co., passou a atuar rapidamente.

A Southern Brazil Lumber foi responsável pelo desmatamento e serragem da

madeira, na maioria araucária, sendo que parte se destinou aos assentamentos dos

trilhos da ferrovia; outra parte para exportação; o restante, à construção de casas para

os novos habitantes, dentre eles os primeiros colonos e os trabalhadores da ferrovia.

A outra subsidiária, a Development & Colonization Co., com sede em Portugal e

Estados Unidos, e autorizada a funcionar no Brasil pelo Decreto nº 9442, de 1912, foi

responsável pelo processo de colonização. Ambas subsidiárias, tinham por objetivo

expulsarem camponeses posseiros e pequenos proprietários, originários de vários

33

lugares de Santa Catarina e do Paraná, em geral caboclos, que lá estavam instalados

sem documentos legais de posse e uso das terras (PIMENTA, 1984; THOMÉ, 1983).

Esses camponeses e/ou posseiros, segundo Machado (2004), praticavam uma

agricultura de subsistência. Eles estavam distribuídos em diferentes regiões do Estado,

assim como em terras próximas à costa do Rio do Peixe, distantes dos dispositivos do

Estado (o qual mostrava-se ausente), que poderiam levar à regulamentação de suas

posses, mas na maior parte das vezes não sentiam necessidade de assim proceder.

Caso quisessem regularizar suas terras, teriam que dispor de documentos que não

possuíam e gastar muito dinheiro que, a época, lhes era escasso, para medições de

terreno, taxas e emolumentos.

Desse modo, por existirem na região grandes áreas sem demarcação e sem

proprietários legalizados das terras, a Brazil Railway Company se tornara proprietária

delas, oficialmente legalizada e autoriza pelo Estado a proceder com a efetiva

colonização do Vale do Rio do Peixe, expulsando os camponeses da região. A

empresa estrangeira (Brazil Railway Company) para garantir retorno do investimento

tinha grandes interesses em colonizar as áreas de terras havidas por cessão gratuita do

governo federal, pois sua reversão para os domínios da União seria inevitável após o

ano de 19407, caso não fossem devidamente utilizadas, conforme contrato estabelecido

de concessão de terras entre o governo e a empresa (CAVALLAZZI, 2003).

Naquele período, foi grande o conflito entre camponeses posseiros e/ou intrusos

e a empresa construtora, por intermédio de sua subsidiária. Porém, as terras dos

fazendeiros que se encontravam entre as havidas por concessão em virtude da

construção da ferrovia foram invariavelmente respeitadas, quando da demarcação, por

se tornarem os latifundiários aliados à empresa estrangeira. Já as terras dos posseiros

foram imediatamente demarcadas, e eles foram expulsos concordando ou não com tal

decisão.

Quando necessário, a empresa acionava a tutela jurisdicional (que sempre

arbitrava a seu favor) e os posseiros se viam obrigados a desistirem de suas terras e

meios de sobrevivência. Entretanto, a luta entre a empresa construtora da ferrovia e os

posseiros não era nada ponderável, pois a resistência dos camponeses que se viam

7 Esse, era o prazo limite que a empresa obtinha para colonizar efetivamente a região.

34

sem terras e estrutura de trabalho, em muitos casos lhes custava a vida, sem contar a

humilhação que sofriam pela perda do direito a permanecer no lugar.

São exemplos como esses que sugerem como as oligarquias manipulam uma

significativa parcela de massa populacional não favorecida pelo poder público de uma

dada região, pondo em prática os seus objetivos independentemente dos meios para a

obtenção dos resultados. Esse agravante demonstra que o poder sobre um território,

não necessariamente é responsabilidade do Estado mas, também, das oligarquias

distribuídas em diferentes lugares do território como vem ocorrendo no Brasil, em

particular no meio-oeste catarinense cujos objetivos são reproduzir e acumular capital e,

ainda, manipular os menos favorecidos, (des)informados e excluídos do poder de

decisão.

A atuação de empresas privadas, em particular, a Brazil Railway Company no

meio-oeste catarinense fez o papel do Estado, quando do processo de demarcação,

legalização e colonização de terras a serem exploradas, assim como, o procedimento

para tal. Desse modo, o Estado se eximia de responsabilidades e as repassava, nesse

caso, ao poder privado. Este, normalmente não age a favor da sociedade como um

todo e sim a uma pequena minoria.

Nesse período, além do processo colonizatório conflituoso, o Vale do Rio do

Peixe fazia parte da devida área “Contestada”, que era disputada por Paraná e Santa

Catarina, desde a segunda metade do século XIX até 1916, onde a questão dos limites

entre os dois estados estava associada aos interesses de ricos proprietários de terras

desses lugares e à questão da cobrança de impostos (SERPA, 1999, p.12).

Nos fins de 1912, além dos conflitos entre os sertanejos humildes que viviam nas

terras às margens do Rio do Peixe em busca de trabalho, que se viram na iminência de

serem expulsos pela empresa Lumber das terras que ocupavam e sobre as quais

construíram seus ranchos, travavam-se também os confrontos de limites da área

contestada (CABRAL, 1979). Possibilitando, então, o desencadeamento da guerra que

se estendeu de 1912 até 1916, não apenas por questões de limites territoriais como

também e, principalmente, por questões sociais, vinculadas ao desespero de sertanejos

que se viram sem suas terras e, os funcionários da estrada de ferro, desempregados e

35

sem estrutura nenhuma (MACHADO, 2004). Isso, pelo fato da nova política de

colonização das áreas concedidas pelo governo à empresa construtora da ferrovia. Dessa forma, para colonizar a área concedida à empresa, foram vários os

responsáveis designados pela venda de terras pertencentes à companhia ao longo da

ferrovia. Segundo Pimenta (1984), o primeiro núcleo populacional efetivo a se

estabelecer no Vale do Rio do Peixe, por meio da empresa colonizadora, foi a colônia

“Bom Retiro”, em 1916, situando-se em torno da estação do mesmo nome nas

proximidades da atual Cidade de Joaçaba. Eram descendentes de alemães vindos do

Rio Grande do Sul. Joaçaba foi, também, ocupada posteriormente por ítalo-gaúchos. A

sua formação, em 1916, deu-se em função de acordos no final do conflito do

Contestado, que definiram os domínios das áreas de terras do denominado “território

contestado”, no qual intensificou-se o processo de colonização em direção ao oeste

catarinense.

A partir de 1917, desencadeou-se não somente em direção a Joaçaba, mas para

todo o Vale do Rio do Peixe e no Alto Uruguai, uma ocupação gradativa do sul para o

norte. Ou seja, através das diversas empresas colonizadoras que foram surgindo

ligadas à Brazil Railway Company, descendentes de alemães oriundos de Novo

Hamburgo, Montenegro, São Leopoldo, Santa Cruz do Sul, Estrela e Lajeado e, de

italianos vindos de Farroupilha, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Cachoeira

do Sul e regiões adjacentes, encontraram meios para se expandirem e passaram a se

instalar e (re)produzirem suas vidas nas novas terras (THOMÉ, 1983, p. 184). De

acordo com Thomé (1983), a ocupação foi aos poucos atingindo os limites com o

Estado do Paraná e com a Argentina, seguindo as direções Sul-Norte e Leste-Oeste,

respectivamente.

Neste contexto em que envolvia a construção da ferrovia, os problemas de

limites territoriais e a ocupação efetiva do Meio-oeste e Oeste catarinense, nas

proximidades das estações férreas construídas foram surgindo, paulatinamente,

pequenos núcleos de povoamento que deram origem às primeiras cidades ao longo do

Vale do Rio do Peixe, dentre elas se destacam: Matos Costa, Caçador, Rio das Antas,

Videira, Pinheiro Preto, Tangará, Ibicaré, Joaçaba, Herval d’Oeste, Lacerdópolis,

Capinzal, Ouro, Piratuba e Ipira (BRANCHER, 1994).

36

Algumas dessas cidades, como Joaçaba e Herval d’Oeste, Capinzal e Ouro são

exemplos de “cidades geminadas” que, no decorrer das suas histórias, se

desmembraram, isto é, tornaram-se municípios administrativamente independentes,

porém mantêm um processo de inter-dependência, com vínculos muito fortes nos

aspectos econômicos e culturais, que por vezes se confundem.

Assim, ao longo do Vale do Rio do Peixe foram implantadas 13 (treze) estações

ferroviárias (embriões de futuras cidades), distantes umas das outras cerca de 25 (vinte

e cinco) quilômetros (MARTORANO, 1982) (Quadro 01). A primeira estação foi

inaugurada em abril de 1908, que deu origem ao atual Município de Matos Costa

(cabeceira do rio do Peixe) e, a última foi inaugurada em 1910, em terras do atual

Município de Piratuba (que faz divisa com o Estado do Rio Grande do Sul pelo rio

Uruguai).

Quadro 01 - Estações Ferroviárias, em território catarinense, da Estrada de Ferro Federal São Paulo-Rio Grande, que desencadearam em futuras

cidades/municípios. Nome da Estação

original Data da inauguração da

estação Emancipação

Municipal Nome atual do

Município São João 30 de abril de 1908 23 de abril de 1962 Matos Costa Osmar de Medeiros (posteriormente denominada Calmon)

03 de abril de 1909

09 de janeiro de 1992

Calmon

Taquaral Liso (posteriormente denominada Presidente Penna

03 de abril de 1909

Pertence ao Município

de Caçador

Taquaral Liso é uma vila do atual município

de Caçador

Rio Caçador 01 de maio de 1910 1934 Caçador Rio das Antas 01 de maio de 1910 21 de novembro de

1958 Rio das Antas

Rio das Pedras 01 de maio de 1910 1944 Videira Pinheiro Preto 01 de maio de 1910 04 de abril de 1962 Pinheiro Preto Rio Bonito 01 de setembro de 1910 30 de dezembro de

1958 Tangará

Barra São Bento 01 de setembro de 1910 30 de março de 1962 Ibicaré Herval 01 de setembro de 1910 30 de dezembro 1953 Herval do Oeste Rio Capinzal

20 de outubro 1910

30 de dezembro de 1948 (a instalação oficial foi em 17 de janeiro de 1949)

Capinzal

Rio do Peixe 29 de outubro de 1910 30 de dezembro de1948

Piratuba

Rio Uruguai 29 de outubro de 1910 Localidade de Uruguai (Distrito de Piratuba)

Piratuba

Fonte: A partir de Thomé, (1983); Martorano (1982), entre outros autores, os dados foram compilados e organizados pela autora.

37

Entretanto, à medida que o Vale do Rio do Peixe foi sendo colonizado, as formas

e as funções geográficas daquele território foram se modificando e, alguns lugares

progredindo mais do que outros. Novas estações férreas foram construídas com o

passar dos anos, de acordo com as necessidades e o aumento de produção para

exportação. Esse novo traçado apresentava em média 11km de distância entre uma

estação e outra (THOMÉ, 1983). Em Capinzal foram construídas mais duas as quais,

atualmente, estão completamente abandonas e pertencem a propriedades de

particulares.

De acordo com Brancher (1994), a localização da primeira estação em Capinzal

só ocorreu em razão de haver no local fonte de água potável suficiente para atender ao

consumo necessário na cozinha/refeitório e demais necessidades do sistema

ferroviário, assim como o sítio local estar em planície nas proximidades do rio que

favorecia nesta situação.

A construção da VFFSPRG foi um dos elementos preponderantes no processo

de colonização e formação sócio-espacial de Capinzal, bem como para a região do

Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, impulsionada por empresas construtoras e

colonizadoras. Aquela ferrovia foi, portanto, suporte para o incremento de atividades

econômicas ao longo do tempo, bem como a madeira, a agricultura, a agropecuária,

entre outros. Foi, também, um fator que muito influenciou aquela sociedade na busca

de novas formas de organização e produção de suas vidas.

1.3 CAPINZAL: A PRODUÇÃO DO LUGAR A PARTIR DA PRESENÇA DE ÍTALO-GAÚCHOS

Alguns estudos que tratam da dinâmica populacional ao longo do Vale do Rio do

Peixe apontam os índios Caiguangues (ou Kaingang), principalmente, e os Xokleng os

primeiros habitantes a interagirem com aquele território. Eles viviam da caça e da pesca

nos afluentes dos rios Iguaçu, Uruguai, Canoas, Negro, assim como no Vale do Rio do

Peixe (BRANCHER, 1994; MARTORANO, 1983; et alii).

Em Capinzal, o período que antecedeu a implantação da Estação Ferroviária da

Linha Federal São Paulo–Rio Grande, as terras se mantiveram quase que inexploradas

38

e, apenas, serviam de passagem por caminhos e veredas aos homens do sertão,

índios, tropeiros8 e os remanescentes das revoluções Farroupilha (1835-1845) e

Federalista (1891-1894) (BRANCHER, 1994, p.37). A Revolução Farroupilha ou Guerra

dos Farrapos, segundo Piazza e Hübener (2003), eclodiu na Província de Rio Grande

de São Pedro, estendendo-se até a Província de Santa Catarina. Foi uma revolução

popular relacionada com o desejo de maior autonomia política para as Províncias,

contra uma política reacionária dos Governos Provinciais, que se punham naquele

período com o desejo de oferecer mais atenção aos interesses unânimes, por parte do

Governo central (imperial), voltados principalmente para atividades de pecuária.

A Revolução Federalista cuja eclosão ocorreu igualmente no Rio Grande do Sul,

estendendo-se aos Estados de Santa Catarina e do Paraná foi, também, um movimento

político em oposição ao autoritarismo do Governo do Presidente Floriano Peixoto. Os

revolucionários federalistas pretendiam obrigar o Governo Federal a cumprir

determinações da Constituição e exigir a destituição do Governo estadual (PIAZZA;

HÜBENER, 2003). Mas, apesar desses conflitos, somente ao final do século XIX e

início do século XX, ocorreram as primeiras explorações de cunho capitalista das terras

capinzalenses, vinculadas principalmente à criação de gado.

Já na primeira década do século XX, Capinzal se caracterizava pelo início da

colonização ítalo-gaúcha. Em 1908, os primeiros colonos a se instalarem efetivamente

foram as famílias de José Blasi, João Vachi, José Zoccoli, Antonio Freitas, Carmine

Zoccoli, José Maria, Adelino Ferreira, Frederico Alves, Francisco Miguel, Leandro

Padilha, Vergílio Urbano de Moraes, Manoel Bitencourt, Bernardino Macedo, Paulo

Lenzi, Paulo Zoccoli e Carmelo Zoccoli (IBGE, 1959).

A maioria dessas famílias descendentes de italianos viviam em antigas colônias

no Rio Grande do Sul e migraram para Capinzal (inicialmente Rio Capinzal), assim

como outras famílias migraram para outras regiões do território catarinense, sobretudo,

ao longo do Vale do Rio do Peixe, como Vila do Rio das Pedras (posteriormente

Perdizes e atual Videira), Barra Fria (atual Lacerdópolis), Bom Retiro (posteriormente

Cruzeiro e atual Joaçaba). 8 Condutores de tropas. Eram os indivíduos, isto é, os intermediários, que compravam e vendiam o gado dos fazendeiros, uma vez que normalmente os donos das fazendas não comercializavam seus rebanhos diretamente com os consumidores (PELUSO JR, 1949).

39

Dessa forma, o Vale do Rio do Peixe no Meio-oeste catarinense

[...] começou a ser ocupado por um contingente de gaúchos que vinham em busca de terras férteis e ricas em madeira. A população ítalo-gaúcha que se estabeleceu em Capinzal, veio em sua maioria de Viadutos, Guarama, Erechim, Erebango, Passo Fundo, Lageado, Sananduva, Nova Prata, Veranópolis, Bentos Gonçalves, Vacaria, Lagoa Vermelha e de outros lugares. (BRANCHER, 1994, p. 76).

O deslocamento de migrantes do Rio Grande do Sul, segundo Lago (1978), não

ocorreu apenas pela atração às novas terras mas, também, como possibilidade de

extração e comercialização de produtos naturais, nos quais os migrantes encontravam

perspectivas mais favoráveis para mercados externos. Nessas condições, a economia

que se desenvolvia nas antigas colônias gaúchas, encontrava frágeis suportes quanto à

comercialização dos produtos que, em geral, eram primários e sofriam ampla

concorrência entre os pequenos produtores rurais, além das limitações pelo

esgotamento do solo que dificultava em se obter bons resultados das colheitas.

Assim, o processo de colonização inicial de Capinzal foi ocorrendo

continuamente até o final da década de 1920. Posteriormente, a imigração passou a

ser mais esporádica e também oriunda de outros lugares como por exemplo de Piratuba

e Ipira, localidades catarinenses que tiveram suas origens a partir de migrantes

também oriundos, principalmente, do Estado do Rio Grande do Sul.

A região de Capinzal, anterior à Estrada de Ferro ao processo de colonização,

era coberta por vegetação pertencente ao grupo da mata subtropical alta e mista

caracterizada pela marcante presença da Araucária angustifólia. Entre os anos de 1910

e 1930 a população que se concentrava na várzea do rio do Peixe, foi formando uma

pequena vila e, viviam em função de pequenos negócios e trocas de produtos

agrícolas, tais como: milho, feijão, alfafa e, da pecuária, principalmente bovinos e

suínos. A produção agropecuária, portanto, era apenas para o mercado local e de

subsistência.

A araucária foi, segundo vários autores e principalmente Brancher (1994), um

dos principais atrativos de madeireiros, oriundos notadamente do Rio Grande do Sul,

em busca de fixar empresas na região para a exploração daquele recurso, a qual se

tornou a base sócio-econômica de Capinzal, entre as décadas de 1930 a 1950,

40

juntamente com a extração e industrialização da erva-mate (Ilex paraguariensis),

também abundante na região. A erva mate é, portanto, uma “cultura permanente” e

sempre se fez presente nas atividades sócio-econômicas de Capinzal. É uma planta

muito difundida entre os pinheirais, nas matas de imbuia e em terras úmidas e planas;

originária da região subtropical da América do Sul, presente no sul do Brasil e no Mato

Grosso do Sul, no norte da Argentina, no Paraguai e no Uruguai.

No período de 1930 a 1949 estabeleceram-se processos de exploração da

araucária, e instalaram-se em Capinzal 16 empresas madeireiras, entre as quais duas

destacavam-se tanto na transformação quanto na comercialização da madeira e, ainda

hoje mantêm algumas atividades na região. A empresa Emílio D’Agnoluzzo Ltda, atual

Madeluzzo Madeiras, cuja procedência familiar remonta a Bento Gonçalves-RS, se

destacava regionalmente operando, no início de suas atividades, no fabrico de carroças

(carros de tração animal) e, posteriormente, no beneficiamento da madeira em portas,

forros, rodapés etc, para a construção civil (BRANCHER 1994; ALMEIDA, 2004). Por

volta de 1994, aquela indústria passou a desenvolver suas atividades em quase 100%

na produção de paletes9. Praticamente toda a produção é absorvida pela Agroindústria

Perdigão (DAGNOLUZZO, 2006).

A empresa Pagnocelli Hachmann & Cia. Ltda. (atual Hachmann Ltda.) já exercia

atividades nesse ramo no Rio Grande do Sul (no Município de Estrela) e,

posteriormente, a partir de 1917, em Piratuba (SC). Em Capinzal, se instalou em 1930,

de onde exportava a madeira beneficiada em tábuas e aberturas para a Alemanha,

Holanda e Porto Rico, seus principais consumidores. O transporte das tábuas era feito

por caminhões até um depósito em Itajaí e/ou via estrada de ferro até São Francisco do

Sul, São Paulo e Rio de Janeiro (BRANCHER 1994). Aquela indústria também se

dedicava ao fabrico de pasta mecânica e de papel, porém com a matéria-prima a partir

do Pinus Elliottii e Taeda (espécies exóticas de pinheiros no Brasil, originárias do

Canadá e dos Estados Unidos da América). O uso dessa matéria-prima se deu ao

esgotamento da araucária, a partir dos anos de 1950, em função da sua excessiva

exploração por madeireiras.

9 Um tipo de madeira beneficiada em forma de ripas largas.

41

Atualmente, a principal atividade da empresa Hachmann Ltda é a fábrica de

beneficiamento da madeira em tacos, que serve de assoalhos para construção civil,

caixas etc. (HACHMANN, 2005). Aquela empresa continua sendo uma das maiores no

ramo madeireiro na região de Capinzal, com produtos voltados para exportação. Outras

empresas madeireiras surgiram posteriormente, porém, com menor destaque e com

potencial econômico restrito à região de Capinzal, cuja matéria-prima, em sua maioria,

é o pinus (Elliottis e Taeda) e o eucalipto (Eucalyptus), respectivamente.

O eucalipto é também uma planta exótica no Brasil cuja origem e australiana, no

continente da Oceania. No Brasil, esse vegetal se intensificou a partir do início do

século XX, sendo utilizado durante algum tempo nas ferrovias como dormentes e lenha

para as marias-fumaças, mais tarde como postes para eletrificação das linhas e

iluminação pública. Este último uso foi bastante comum até recentemente em Capinzal.

Atualmente, o eucalipto é muito utilizado como lenha nos fornos de cerâmicas, para a

produção de telhas, tijolos etc.

Com a inserção de empresas madeireiras e algumas ainda remanescentes, em

Capinzal, esse fato se configurou num processo de alta e posteriormente de baixa

atividade econômica no ramo e, conseqüentemente, sofreu adaptações locais na

dinâmica do modo de produção, de acordo com o mercado consumidor e a

concorrência com outros produtos. Pois, a partir da década de 1950, a madeira nativa

começou a se esgotar na região e, com isso, a industrialização desse bem natural no

município e região praticamente desapareceu, resultando então no fechamento e/ou

transferências de muitas fábricas para outras regiões, ainda, com reserva florestal

nativa.

Com a decadência da atividade madeireira por falta da matéria-prima, esta

causou impacto tanto nas atividades urbanas, quanto rurais desestabilizando,

principalmente, trabalhadores ligados à extração e comercialização daquele produto

quando beneficiado (BRANCHER, 1994). Difundiu-se, então, com maior significância,

naquele período da decadência madeireira, as atividades agropecuárias. A partir do

final dos anos de 1940 e, principalmente, dos anos de 1950 em diante, a agropecuária

42

desponta como um significativo potencial econômico10. A pecuária entretanto, destaca-

se, principalmente, na criação de aves, de suínos e de bovinos (Quadro 2); na

agricultura, as culturas temporárias ganham destaque na produção de milho, do trigo,

do feijão, do arroz e da soja (Quadro 3) e, algumas culturas permanentes como uva,

laranja, pêssego, bergamota, (BRANCHER, 1994; IBGE, 1959), tiveram significativas

expressões econômicas entre os anos de 1950 a 1980, mostrando-se atividades em

desenvolvimento no Município de Capinzal.

Quadro 2 – Animais existentes nos estabelecimentos em Capinzal nos anos de 1950, 1960, 1970 e 1980

Tipo de animais (total)

Ano 1949

Nº Estab

Ano 1960

Nº Estab.

Ano 1970

Nº Estab.

Ano 1980

Nº Estab.

Bovinos 11.481 971 13.730 1.414 6.603 421 8.242 405Eqüinos 675 171 2.192 1237 442 228 323 161Asininos 13 8 3 3 24 22 * * Muares 125 22 357 272 59 40 * * Suínos 33.706 1.008 54.604 1424 7.749 421 12.293 391Aves 46.831 999 91.377 1.411 101.432 432 366.411 416

Caprinos 148 42 170 53 125 25 58 6Ovinos 1.220 128 2.138 327 631 84 705 44

Fonte: IBGE - Censos Agrícolas, 1950, 1960, 1970 e 1983. * Dados não computados pelo IBGE no ano de 1980. Obs.: Dados mais recentes sobre os tipos de animais existentes em Capinzal serão abordados adiante, no Capítulo 3.

Quadro 3 - Principais tipos de produção agrícola em Capinzal entre os anos de 1950 a 1980

Ano Milho* Trigo* Feijão* Arroz* Soja* 1950 8.881 1.372 338 211 ** 1960 14.466 1.565 408 423 78 1970 3.720 432 103 138 105 1980 5.066 12 108 173 7.536

Fonte: IBGE - Censos Agrícolas, 1950, 1960, 1970 e 1983. *Produção expressa em tonelada. ** Dados não computados pelo IBGE no ano de 1950. Obs.: Dados mais recentes sobre os principais tipos de produção agrícola em Capinzal serão abordados adiante, no Capítulo 3.

10 Devido, principalmente, à decadência da atividade madeireira, por falta de matéria-prima. Daí a necessidade de se criar outras formas de produzir a vida.

43

Desse modo, paralelo a essas atividades agropecuárias que vinham se

desenvolvendo, houve incentivos por parte do governo municipal, bem como o amparo

ao pequeno produtor rural no fornecimento de assistência e orientação técnica por meio

de agrônomos, veterinários e agentes sociais, assim como infra-estruturas (construção

de estradas e escolas) municipais que possibilitassem a inserção de novas atividades

econômicas (BRANCHER, 1994), amparadas pelas mínimas condições possíveis para

o seu desenvolvimento. Visando, dessa forma, à qualidade na produção e aos

rendimentos acima de tudo tributários, pois com a expansão e diversificação de

atividades, automaticamente, aumentaria a tributação municipal.

Com o incremento da suinocultura a partir de fins da década de 1940, a

economia municipal, naquele momento voltava-se, também, para a produção da banha

de porco. Em 1955, dados demonstram que essa produção atingiu 619.268Kg,

resultando no valor de Cr$ 18.161.930,00. Outros produtos derivados, também, da

carne suína, como o salame, a mortadela e semelhantes, tiveram uma produção

significativa. A produção desses derivados suínos, naquele ano de 1955, foi de

145.378Kg, resultando no valor de Cr$ 5.887.210,00 (IBGE, 1959). Parte da produção

era comercializada e o transporte era feito via Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande

para o mercado consumidor, principalmente, do sudeste.

Outros produtos agrícolas como abóbora, alfafa, amendoim, batata doce etc.

também foram economias complementares na vida sócio-econômica local no período

compreendido entre 1950 e 1980, embora voltados mais para subsistência.

Nesse contexto da dinâmica sócio-econômica de Capinzal, desenvolvia-se numa

escala regional, notadamente, no Vale do Rio do Peixe, a partir dos anos de 1930, a

atividade frigorífica, um processo nacional de industrialização. Uma nova situação, de

um ramo industrial em desenvolvimento que precisava ampliar seu mercado em função

da revolução de 1932, quando ocorreu a extinção de barreiras à circulação de

mercadorias entre os Estados da União (PIMENTA, 1984). Isso marcou a integração

econômica do espaço nacional. Naquela época surgiram os frigoríficos Perdigão (1934)

em Videira, Reunidas Ouro S/A (1937) em Capinzal, e Pagnocelli (1942) em Herval

D’Oeste. Mas o processo de industrialização teve continuidade na atividade frigorífica

no país, a partir da Segunda Guerra Mundial, com a criação de empresas como a Sadia

44

(1944) em Concórdia, a Seara (1949) em Seara, e a expansão desta atividade, em

direção ao Oeste catarinense (PIMENTA, 1984; ESPÍNDOLA, 1999).

Desde 1937, o Município de Capinzal já estava se inserindo nesse circuito

econômico não apenas no setor agropecuário mas, também, sediava uma indústria

frigorífica, as Indústrias Reunidas Ouro S/A, a qual foi responsável pelo incentivo à

suinocultura após o declínio do “ciclo madeireiro” (BRANCHER, 1994). Porém, aquela

empresa não teve poder irradiador significativo sobre a economia local como um todo,

pelo fato da indústria frigorífica apresentar uma tendência à concentração e

centralização econômicas que se realizavam, principalmente a partir da década de

1970, no Vale do Rio do Peixe.

Houve, então, a partir daquele momento, um incremento acentuado na escala da

produção e, conseqüentemente da acumulação, com destino ao mercado nacional e

mundial. Concomitantemente, houve um processo de acumulação de capitais,

resultando na reunião de empresas existentes. Isto é, frigoríficos menores foram

adquiridos pelas empresas maiores (PIMENTA, 1984; ALBA, 2002).

No caso, o grupo Perdigão com sede no Município de Videira, adquiriu as ações

das Indústrias Reunidas Ouro S/A de Capinzal e implantou, em 1980, o complexo

agroindustrial alimentar naquele município com grande repercussão na economia local,

tanto rural quanto urbana. Ampliando, todavia, a sua escala de produção no Meio Oeste

e Oeste catarinense e comercialização com países, principalmente europeus.

Nesse viés da produção do espaço, Capinzal já representava a partir da

presença ítalo-gaúcha uma dinamicidade populacional, que veio se (re)adaptando e se

(re)organizando de acordo com as necessidades que a própria população vem criando,

cada vez mais influenciada pelo sistema de mercado. De pequena vila, passou,

gradativamente a se estruturar e adquirir aspectos de Cidade e, conseqüentemente,

município, inserindo-se às redes de negócios que engendram relações sócio-

econômicas.

Quanto à dinâmica populacional, até 1920, não há registros que identifiquem

números exatos ou próximos da população existente, mas foi um período de pequena

mobilidade humana não somente em direção às áreas do atual município de Capinzal,

45

como também em todo o Vale do Rio do Peixe, período em que o processo migratório

populacional se encontrava incipiente até 1930.

Por outro lado, a partir de 1920 (Quadro 04), aquele lugar demonstra

crescimento populacional um pouco mais significativo. De acordo com Brancher (1994),

em 1925, a sede do então Distrito de Capinzal apresentava de 80 a 100 casas, todas

em madeira e sob influências de estilos rurais italiano. A maior parte da população

estava concentrada na sede e um pequeno contingente no interior do distrito.

Entretanto, a dinâmica sócio-econômica, tanto no contexto urbano quanto rural, de

1930 em diante é marcada inicialmente pela presença de pequenas atividades

agropecuárias (milho, feirão, alfafa e suínos, bovinos etc.) de subsistência; passando

pela exploração da madeira nativa (Foto 01) e extração da erva-mate, concomitante a

atividade agropecuária e, atualmente, a atividade agroindustrial, foi dando novas formas

e funções no espaço urbano-regional de Capinzal.

Quadro 04 - População residente no município de Capinzal-SC entre 1920 e 2000 Ano População Total População Urbana População Rural 1920 3.082 - - 1930 - - - 1940 5.535 824 5.711 1950 13.935 1.868 12.067 1960 16.645 3.023 11.994 1970 7.772 3.545 4.227 1980 10.891 4.785 5.636 1991 13.694 9.358 4.336 1996 15.569 10.412 5.157 2000 19.955 15.460 4.495

Fonte: IBGE - Censos Demográficos, (1924, 1951, 1955, 1968, 1973, 1982, 1991, 1996, 2002). Dados preparados pela autora.

46

Foto 01 - Madeireira Movida a Vapor na Década de 1940

Nesse contexto, a partir dos primeiros colonos em 1908, a população residente

no Município de Capinzal teve um crescimento significativo, se comparada a quase

inexistência de habitantes anterior a essa data. Porém, não há registros que

comprovem o número exato populacional até o ano de 1920. O IBGE realizou o censo

demográfico, em 1920, porém não forneceu dados nas divisões urbana e rural, assim

como, em 1930, não realizou a contagem populacional no Estado de Santa Catarina.

Dificultando sobremaneira a possibilidade de computar a população naqueles períodos.

No período entre 1940 e 1960, além de um aumento considerável, a população

de Capinzal localizava-se, em sua maioria, em área rural e/ou vivia de atividades

agropecuárias. Entre 1960 e 1970, entretanto, houve uma queda no número da

população residente devido à emancipação do Distrito de Ouro, em 1963, que subtraiu

aproximadamente mais de 53% da população de Capinzal. Percebe-se, também, que a

partir desse período ocorre um processo de urbanização um pouco mais concentrada,

pois houve uma maior diversidade das atividades industriais. Dentre elas destacam-se a

de produção alimentar, com a industrialização de carnes de aves, suínos e bovinos; de

transformação da madeira em aglomerados, tacos, janelas, portas etc.; de minerais não

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal. Editada por Analice de Avila.

Serraria movida a

vapor, em pleno

funcionamento, no

Distrito de Rio

Capinzal. Denominada

Santo Antonio, de

propriedade de José

Thomazzoni & Irmãos. Na vista, ao fundo,

parte da Mata de

Araucárias,

abundante na época.

47

metálicos que envolvem a produção de cerâmicas, como cimento, telhas, areia, brita

etc.;de mobiliária na fabricação de móveis em geral, mesas, cadeiras e estantes; entre

outras, que favorece a ocupação de pessoal no setor industrial.

Entre os anos de 1970 e 1980, nota-se uma tendência de um certo equilíbrio

entre a população urbana e a rural e um maior crescimento industrial do município,

principalmente, da atividade agroindustrial. No censo de 1991, a população urbana em

Capinzal era de 68%. Lembrando, também, que em dezembro de 1995, o Distrito de

Zortéia emancipou-se e teve parte de seu território constituído por desmembramentos

capinzalenses e por outra parte do próprio município de Campos Novos. Em 1996,

Capinzal mantinha um total de 67% da população em área urbana e, em 2000, esse

número aumentou para 77%. Dados mais recentes, segundo estimativa do IBGE

(2005), mostram que a população local é de 22.515 habitantes.

Essa dinâmica populacional de Capinzal não é um caso isolado, pois algumas

dessas características são comuns em cidades localizadas no Vale do Rio do Peixe,

que se formaram a partir da construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande e tiveram o

processo de ocupação vinculado às empresas colonizadoras, concessionárias da

construtora ferroviária Brazil Railway Company. Consubstanciado a essa dinâmica populacional, o processo de urbanização que

vem se pronunciando ao longo do tempo representa características peculiares que

marcam, desde o início da ocupação de Capinzal, uma trajetória da ação humana que

além de gravada na memória de seus habitantes, também, se mantém registrada em

documentos como fotografias provando, em parte, a sua dinâmica sócio-espacial.

1.4 MEMÓRIAS DO LUGAR: ALGUMAS (RE)SIGNIFICAÇÕES COMO MARCO DA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL

Memória de um lugar, significa lembranças, registros, reminiscências de um

tempo passado. São, também, remanescentes de algo que mudou, ou que não possui

mais a forma e função de outrora. A memória pode estar registrada em museus,

bibliotecas, livros, fotografias, edifícios, enfim, em diversas formas de armazenamento

de dados. Porém, não podemos nos restringir somente a isso, pois a idéia de memória

48

é, em conjunto, além das formas e dos objetos, uma gama de possibilidades que nos

remete ao passado, que pode ser percebida no presente e até projetar um futuro de

dada formação sócio-espacial .

A memória humana, seja ela individual ou coletiva, é uma possibilidade de

reconstituir a identidade de um dado lugar, de uma cidade. São pois, as memórias

humanas que possibilitam entender como o passado influenciou no acontecer presente

e influencia no por vir, resultado este da (re)produção da vida. Para Abreu (1998, p. 8-

9),

o presente se desenrolou e o futuro se construiu a partir de uma sólida base material e espiritual herdada de outros tempos. Em outras palavras, o passado acompanhou pari passu o processo de desenvolvimento da sociedade; ele sempre fez parte do presente e da idéia de futuro.

Dessa forma, o passado faz parte do cotidiano de diversas sociedades

contemporâneas, sejam elas européias, africanas, americanas ou quaisquer outras.

Enfim, cada sociedade tem o seu passado específico e/ou singular, que carrega na

memória todo o processo de produção da vida. O passado é, pois, o “espelho” das

relações sócio-espaciais que se reflete no hoje e, conseqüentemente, no amanhã.

Independentemente das transformações sócio-espaciais ocorridas em um dado lugar, a

exemplo de Capinzal, as memórias podem estar nele presentes e, de certa maneira,

(re)produzidas.

Nessa perspectiva, dizer que o passado já foi é uma contradição, pois muito do

que vemos e vivenciamos a partir das relações sócio-espaciais, no presente, é reflexo

de algo ou de alguma coisa que o passado determinou e influenciou, mas que se

manifesta por meio de um processo contínuo de ações, de vivências. Desse modo,

O passado é uma das dimensões mais importantes da singularidade. Materializado na paisagem, preservado em ”instituições de memória”, ou ainda vivo na cultura e no cotidiano dos lugares, não é de se estranhar, então, que seja ele que vem dando o suporte mais sólido a essa procura de diferença. A busca da identidade dos lugares, tão alardeada nos dias de hoje, tem sido fundamentalmente uma busca de raízes, uma busca de passado. (ABREU, 1998, p. 7).

49

O tempo é uma variável fundamental para a compreensão do momento atual,

consubstanciado ao espaço e sociedade, isto é, às relações sócio-espaciais que vêm

se (re)produzindo constantemente.

Assim, a categoria lugar é, para a geografia, uma dimensão do espaço produzido

a partir das interações sócio-espaciais. Nesse sentido, o caráter simbólico dos lugares

nas idéias de Costa (2003, p. 33), “revela-se ao ser humano como algo que precede a

linguagem e a razão discursiva, apresentando assim determinados aspectos do real,

enfatizando as relações entre o simbólico e o lugar.“ Entretanto, estas relações são

mediatizadas pelos símbolos, que podem ser uma realidade material (formas, objetos,

documentos) e que se unem a uma idéia, um valor, um sentimento (COSTA, 2003),

revelando um significado.

Conforme a sociedade vai se (re)organizando e se (re)adaptando ao espaço ela

deixa suas marcas na paisagem por meio de suas ações, implicando sua

materialização. O conceito paisagem geográfica deve ser entendido não como espaço

geográfico e, sim como um lugar composto por associações distintas de formas físicas

e culturais, ou seja, não apenas o espaço físico, mas a própria sociedade interagindo

com ele, em constante movimento. Nessas condições,

A paisagem geográfica, vista como um conjunto de formas naturais e culturais associadas em uma dada área, é analisada morfologicamente, vendo-se a integração das formas entre si e o caráter orgânico ou quase orgânico delas. O tempo é uma variável fundamental. A paisagem cultural ou geográfica resulta da ação, ao longo do tempo, da cultura sobre a paisagem natural. (CORRÊA; ROSENDAHL, 1998, p. 8-9).

Entretanto, o espaço social e concreto se manifesta na paisagem por intermédio

da materialização de eventos sociais, possibilitando, assim, uma forma de ver o

território que, de acordo com Santos (1998, p. 24), é formado por “sistemas de objetos e

por sistemas de ações numa união indissolúvel e dialética”.

Nesse viés de compreensão e discussão da memória e de suas (re)significações

que a geografia cultural permite explorar, tomou-se o lugar Capinzal como exemplo

empírico na tentativa de expressar um entendimento e explorar essa temática, não

como fundamental neste estudo, mas como uma possibilidade de complementá-lo, para

50

entender como aquele lugar vem sendo (re)produzido a partir das relações sócio-

espaciais, nas quais a memória se mantém presente.

São vários os símbolos que revelam a memória do lugar Capinzal, dentre eles a

estação ferroviária, atualmente desativada, que teve grande significado sócio-

econômico e, no momento é uma casa comercial de materiais de construção (Foto 02).

A ferrovia, no trecho Capinzal/Piratuba/Marcelino Ramos, vez ou outra atua como

trajeto de passeio turístico. Já a caixa d´água (Foto 03), outrora importante reservatório

de água para abastecer as locomotivas durante o seu funcionamento na ferrovia São

Paulo-Rio Grande encontra-se em desuso e, de certo modo, abandonada. Ela foi

construída em 1910 toda em estrutura de ferro, com material importado da Inglaterra e

é sustentada por barras, numa altura de 8 metros. Tem forma cilíndrica e possui

capacidade para 40 mil litros de água (BRANCHER, 1994, p. 48-49). Está situada nas

proximidades da Estação Ferroviária, onde ainda hoje se encontra formando

monumento histórico. Nas condições relatadas, tanto a estação ferroviária quanto a

própria ferrovia e a caixa d´água têm um significado, muito embora não mais com as

mesmas utilidades de outrora, e nem tão bem preservados na paisagem.

Foto 02 – Antiga Estação Ferroviária de Capinzal

51

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida

Foto 03 - Caixa d´água Assim, alguns habitantes de Capinzal que vem (re)produzindo suas vidas

naquele lugar guardam nas suas lembranças marcas do tempo passado e tentam de

uma forma ou outra registrar fatos que simbolizam essas vivências; outros reconstituem

o passado por meio da construção de miniaturas, como a antiga estação ferroviária

(Foto 04), a primeira ponte pênsil, um moinho de trigo etc. Enfim, essas são formas de

(re)constituir o passado e revivê-lo no presente, dando um significado e reconhecimento

das diversas maneiras de (re)produzir a vida a partir do trabalho apreendido por uma

sociedade.

A Igreja Matriz São Paulo Apóstolo também revela uma expressão social, pois,

como em quase toda história da humanidade, o símbolo da religiosidade se mantém

entre os principais ícones da sociabilidade. De acordo com as informações e

lembranças do Sr. Névio Lanhi, agricultor aposentado e antigo morador de Capinzal, foi

seu pai - juntamente com os filhos - que doou boa parte do barro e dos tijolos para a

construção da referida Igreja, iniciada em 1931. Na ocasião, a família tinha uma

pequena olaria, de trabalho familiar, e se dispôs a colaborar para a construção daquele

monumento (LANHI, 2006). Lanhi lembra, ainda, que o material para a construção da

Igreja era transportado por carro de tração animal, pois era a maneira mais viável na

época, haja vista a escassez de recursos.

52

Autor: Jackson Betin – 02/10/2006

Foto 04 – Miniatura da Antiga Estação Ferroviária de Capinzal11

Nessas condições, a construção da Igreja contou com o esforço e a colaboração

de muitos capinzalenses. E a tradição que vem se cultivando todos os anos é a festa do

padroeiro de mesmo nome, que ocorre sempre no mês de janeiro. A festividade

religiosa atrai pessoas da cidade e do interior do município, bem como dos municípios

de Ouro, Zortéa, com diversas atrações como jogos, bailes e/ou matinês, rifas,

churrascos etc. Essa é uma maneira de unir a religiosidade ao lazer. O encontro social

abrange diversos segmentos da sociedade local.

Também são expressões de memória, algumas tradições que ainda se mantém

pela cultura trazida pelos ítalo-gaúchos como o chimarrão, conhecido por mate amargo,

uma bebida que faz parte da cultura indígena guarani no bacia do Prata, e foi se

disseminando em quase toda a região sul brasileira. Portanto, essa cultura é praticada

pela maioria das famílias em Capinzal, assim como em todo o meio-oeste e oeste

catarinense.

O chimarrão é sorvido quente por uma bomba de metal e servido numa vasilha,

chamado cuia, de metal, louça ou porongo. Este, originário de um tipo vegetal, tem a

preferência de boa parte dos usuários, pois dizem ser mais saboroso. De acordo com

Almeida (2005) e com antigos moradores, era hábito nas fazendas de Rio Capinzal 11 (Re)constituída por Antônio Pasqual Sartori, antigo morador do Município de Capinzal.

Miniatura da antiga estação ferroviária de Capinzal.

Miniatura do trem que circulava na Estrada de Ferro São

53

levantar cedo e providenciar em primeiro lugar o preparo do chimarrão, que era tomado

com a família e/ou amigos convidados para a rodada.

Somente depois de sorver o chimarrão, tomava-se o café da manhã e iniciava-se

a jornada de trabalho. Ainda na atualidade, a maior parte das famílias, quando recebem

visitas, servem, em primeiro lugar, o chimarrão aos visitantes. Assim, aquela bebida se

tornou hábito cultural, que dificilmente perde tal prática, pelo fato de normalmente fazer

parte do convívio familiar, passando de pais para filhos.

Inicialmente, a fabricação da erva-mate para o chimarrão era processada em

casa, na propriedade familiar, de forma artesanal. Eram colhidos os ramos verdes e,

posteriormente, eles passavam pelo processo de torrefação para, em seguida, serem

socados no pilão - recipiente feito do tronco de árvore com uma abertura no meio,

agregado de uma outra peça chamada “mão-de-pilão”, também feita a partir de um

galho de árvore. Obviamente, essa forma de fabricar a erva-mate, de forma geral, não é

mais ou é pouco utilizada atualmente, sendo comprado o produto já processado .

Outras tradições que também se mantêm são os bailes e festas, que

normalmente são animados por músicas regionais da tradição gauchesca. Esses tipos

de eventos são comuns no interior do município, assim como em boa parte do oeste e

meio-oeste catarinense, e são geralmente promovidos pelas igrejas e escolas locais

com o objetivo de levantar proventos. As festas comunitárias, geralmente, ocorrem nos

meses em que se comemora o dia do padroeiro(a) das igrejas católicas locais,

acompanhadas das tradicionais missas. Há também as festas de rodeios, do chamado

CTG – Centro de Tradições Gaúchas, que em Capinzal denomina-se Estância da

Querência, localizado em Lindenberg, localidade do interior do município.

Essas festividades são formas de absorver tradicionalistas e simpatizantes de

vários lugares de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Paraná. Elas têm duração

de 2 dias (sábado e domingo), com programação que inclui churrascadas, touradas,

torneios de laço, baile e matinê, entre outras atividades.

Outra tradição cultuada é a festa italiana, denominada Noite Italiana, que

comemora a colonização daquele município por ítalo-gaúchos. É acompanhada por

comidas típicas e vinhos, há apresentação de danças folclóricas e ocorre anualmente

no mês de julho.

54

Esses exemplos citados revelam que a memória da sociedade registrada tanto

em documentos quanto na paisagem, nas formas espaciais e na própria cultura local,

por meio de alguns hábitos e tradições vem se cultivando e expressando uma

peculiaridade que difere de qualquer outro lugar, mesmo que outros lugares também

tenham hábitos, culturas e até mesmo a formação sócio-espacial parecidos, mas nunca

iguais no seu conjunto.

Desse modo, como a memória individual e coletiva pode contribuir para a

recuperação do lugar, da cidade, é a partir dela e de seus registros que se pode

enveredar pelas lembranças das pessoas e atingir momentos que já passaram e formas

espaciais que já desapareceram (ABREU, 1998, p. 11). Mas há de se ter cuidado, pois

ela é subjetiva.

Entretanto, a memória coletiva “é um conjunto de lembranças construídas

socialmente e referenciadas a um conjunto que transcende o indivíduo”. (ABREU, 1998,

p. 12). E, nesse conjunto de lembranças, a veracidade e as minúcias dos fatos

corroboram com mais amplitude e profundidade, pois aí está envolvida uma gama maior

de informações que muitas vezes um indivíduo, por si só, não possui, mas no coletivo

sim. É o que ocorre como as memórias intangíveis, como as tradições populares, as

festividades que fazem do lugar único e especial, e aos quais agregam-se valores

sócio-culturais próprios daquele lugar.

Capinzal certamente se insere nesse circuito de memórias tangíveis e

intangíveis, (re)produzidas a partir da dinâmica sócio-espacial, agregando valores

peculiares, próprios daquela sociedade, mas, herdados, em partes, de outras

sociedades.

55

2. AGENTES PÚBLICOS E PRIVADOS NA FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DE CAPINZAL E REGIÃO

2.1 PARTICIPAÇÃO ESTATAL COMO PROMOTORA DE MUDANÇAS LOCAIS E REGIONAIS

2.1.1 O Estado: (Re)visitando bases conceituais

Na perspectiva de compreender a produção sócio-espacial a partir dos diversos

elementos que o espaço geográfico constitui, a presença do Estado é, também,

importante na organização da sociedade em contextos atuais, além das grandes

corporações e da própria sociedade.

Nesse sentido, vale pontual que o Estado se manifesta por diversas instituições

que, juntas, constituem sua realidade e interagem como partes do que pode ser

chamado de sistema estatal (HARVEY, 2005). O sistema estatal representado de forma

geral pelas esferas municipal, estadual e federal, sendo a primeira esfera subordinada

pela segunda e a terceira e a segunda, subordinada pela terceira, por intermédio de

seus instrumentos de dominação sobre a sociedade em geral - a legislação e a

normatização, o poder de tributação, a regulação do uso de bens naturais, a

segregação espacial, entre outros – é um agente extremamente intervencionista e

organizador do território.

Com relação a essa questão, importa, ainda, considerar que dentro das três

esferas do sistema estatal, cada uma se constitui a partir da existência de vários órgãos

que a si competem e também interagem, quase sempre subordinados a cada esfera

que constituem e ao poder estatal maior, a instância federal. Entretanto, de acordo com

Harvey (2005), o Estado sempre esteve presente como agente central para o

funcionamento da sociedade capitalista; apenas suas formas e modos de

funcionamento mudam conforme esse sistema vem amadurecendo.

Para Marx e Engels, a origem do Estado se consolida a partir da contradição

entre alguns interesses particulares e os da comunidade em geral. “No entanto, como o

56

Estado tem que assumir uma existência “independente”, para garantir o interesse

comum, torna-se o lugar de um poder “alienígena”, o qual pode dominar os indivíduos e

os grupos” (HARVEY, 2005, p. 80) sociais. E, assim como o trabalhador, mediante o

trabalho, cria capital como instrumento para a sua própria dominação, os seres

humanos em geral também o fazem, na forma do Estado. Isso pressupõe que o capital

e o Estado surgiram a partir de um mesmo ideal. E, dentre as diversas formas de

dominação do Estado, em particular, a lei, o poder de tributação e o poder de coação,

podem ser transformados, pela luta política, em meios para a dominação de classe

(HARVEY, 2005).

Essas compreensões acerca do entendimento do que é o Estado ou o que ele

representa na organização sócio-espacial, sugerem questionamentos, pois ele nada

mais é que um poder dominante de classe instituído pela própria sociedade. Os

questionamentos a esse respeito podem ser colocados da seguinte forma: se o Estado

surgiu de uma necessidade de organizar o território, quem o representa? Quem detém

o poder, formula e aplica as leis? E para que existem essas leis? Essas dúvidas podem

ter respostas a partir do momento que tenhamos claro que, se na sociedade há

diferenças de classes e, essa está dividida por subclasses; que numa divisão geral se

classificam entre o dominante e o dominado, então há quem subordina e quem é

subordinado.

Portanto, no atual sistema capitalista de produção, para o qual será direcionada

a discussão, essas duas classes são bem evidentes. Numa conceituação geral, uma é

representada pelos que dominam o capital e são os produtores e articuladores de

idéias, geralmente, a seu próprio favor; e a outra é representada pelos que produzem o

capital, por intermédio da força do trabalho e, por ela são remunerados. Nessa lógica,

se o Estado é um poder dominante instituído, logo, de acordo com Marx e Engels,

quem o representa é a “classe economicamente dirigente”, ou seja, os detentores de

grande capital. E a mesma classe economicamente dirigente também é a “classe

politicamente dirigente” (HARVEY, 2005, p. 80). Assim, as leis são por eles, os

dirigentes do poder político e econômico, constituídas e aplicadas, segundo seus

interesses, beneficiando-os. O Estado torna-se, então, o poder dominante de uma

minoria e, as leis são estabelecidas de forma a privilegiar os detentores do grande

57

capital, das grandes corporações, mas não para interesses comuns de uma

coletividade.

No decorrer da história, o poder do Estado vem se constituindo sob diversas

formas, de acordo com cada sistema de produção. Porém, o espaço social precede o

espaço político e do poder. Em adição a essa lógica capitalista contemporânea, Lipietz

(1988, p. 151) diz que são as relações de produção que determinam a existência do

Estado e o uso da força e do poder, pois a ligação entre o espaço social e o poder

político diz respeito à sobredeterminação do primeiro pelo segundo.

Todavia, o Estado contemporâneo se solidifica cada vez mais como um agente

indutor e articulador das mudanças sócio-espaciais. Ele influencia e articula as relações

de produção determinadas pela própria sociedade como um todo. Para Bobbio (1995),

o Estado caracteriza-se por relações de subordinação entre governantes e governados,

isto é, entre os detentores do poder e destinatários. Desse modo, a partir da divisão do

trabalho, o Estado tornou-se da(s) classe(s) dominante(s) o instrumento para dividir,

controlar e domar as classes dominadas (LIPIETZ, 1988), sobretudo, o sistema político

e econômico.

O Estado contemporâneo por meio de seus representantes das esferas

municipal, estadual e da união é um agente capaz de organizar a sociedade por

intermédio de um ordenamento legal. Isto é, as leis criadas voltadas aos interesses

públicos por meio do instrumento jurídico, permitem estabelecer regras e/ou normas

que levam a sociedade a se organizar. Assim, ainda concordando com Lipietz (1988), o

espaço é um dos campos de ação das forças políticas, e o Estado é, também, uma

entidade geográfica que organiza o espaço de modo a exercer seu poder sobre os

homens.

Nessa perspectiva o espaço, por ser “considerado um mosaico de elementos de

diferentes eras, sintetiza de um lado, a evolução da sociedade e explica de outro lado,

situações que se apresentam na atualidade.” (SANTOS, 1985, p. 22).

Assim, os elementos e/ou atores essenciais que constituem e possibilitam a

organização do espaço efetivando relações e/ou interações uns com os outros, são

considerados os homens que produzem o trabalho e a técnica, buscando meios de

(re)produzir a vida. As instituições, que também fazem parte desse contexto, apoiadas

58

nos órgãos privados e governamentais das instâncias municipal, estadual e federal, na

criação de normas, legislação, supõem certa organização do espaço e sua relação com

a sociedade. Assim como as firmas que geram mercadorias, capital, trabalho,

estabelecendo hierarquia no modo de produção. As infra-estruturas, como pontes,

casas, túneis, rodovias que são formas criadas pela sociedade para determinadas

funcionalidades. E, a base ecológica, como terreno, rio, montanha, a que serve de

suporte aos demais elementos para a organização espacial.

Estes elementos interagem e expressam a idéia do todo, consubstanciados a

idéia de movimento social mais a natureza. Entretanto, esses elementos podem ser

considerados subsídios, que numa escala local permitem a compreensão da produção

e organização sócio-espacial de um dado lugar, no caso, Capinzal e sua região. Assim,

a sociedade, as instituições, as firmas, as infra-estruturas e o meio ecológico estão

presentes em todos os lugares. Apresentam-se de forma singular e, permeiam por

relações indissociáveis entre si, possibilitando integrar-se a outros lugares. A

singularidade é e depende da formação social de cada lugar. Porém, esse conjunto de

elementos está atrelado ao poder estatal, inerente ao poder do grande capital, que

juntos determinam a organização e o uso do território, do domínio do homem, através

do poder a ele instituído.

2.1.2 Dinâmica Estatal e a implantação de infra-estruturas

Por meio das diversas instâncias que constituem o Estado e de suas relações

com a sociedade como um todo, entende-se que é necessária a compreensão da sua

atuação nas particularidades e especificidades, ou seja, como se processa a sua

atuação de forma concreta e objetiva. Nesse caso, a partir da compreensão da

produção do espaço urbano-regional de Capinzal por meio da articulação entre esses

elementos que produzem e consomem o espaço (os homens, as firmas, as instituições,

as infra-estruturas e a base ecológica), interagindo-se simultaneamente, oferecem-se

subsídios que, a partir de uma análise local, concreta, particular, contribuem para o

entendimento da temática de projeção global, porém abstrata.

59

Nesse sentido, vale pontuar que tanto a cidade quanto o campo, são territórios

econômicos, políticos e culturais “que se efetivam através de relações

consubstanciadas via interdependência entre eles” (SILVA, 1998, p. 7). Essas relações

expressam a singularidade dos lugares, porém, conectados uns aos outros, que dão a

noção de totalidade, de mundo.

Com relação a essa questão, importa considerar que em Santa Catarina, por

exemplo, a atuação estatal tem uma certa peculiaridade, especialmente quando diz

respeito a sua presença nos processos de colonização do Meio-oeste e Oeste

catarinense. Pois a atividade colonizadora era um negócio entre particulares, onde o

grande capital fazia valer suas regras e era um dos principais organizadores do espaço,

mas com o total apoio estatal, com base na legislação vigente.

Os colonos, por sua vez, eram atraídos pelos colonizadores pelas promessas e

perspectivas de progresso e de boas condições de vida onde se instalavam e fixavam

suas residências. A Brasil Railway Company, construtora da VFFSPRG, por intermédio

de suas subsidiárias, dentre elas a Development & Colonization Co., que tinha o poder

estatal a seu favor, oferecia os projetos prontos, abria estradas, promovia a construção

de igrejas e de escolas, atraía a atividade hoteleira, comércio e indústrias, estimulando

sempre um clima de solidariedade (PILATI, 1991).

O Estado, portanto, legislava, procurando sempre manter o controle tributário,

mas praticamente ausente no processo diário das instalações infra-estruturais, pois

Florianópolis e o governo estadual, para os novos núcleos populacionais que se

formavam, eram longínquos, “como um pai que não assumia a paternidade, vivendo

para outra família e outra realidade” (PILATI, 1991, p. 34).

Desse modo, no período republicano, o Estado brasileiro fixou várias leis e

reformas, referentes ao processo de colonização no Brasil. Em Santa Catarina, a

colonização era regulada pela Lei nº 571, de agosto de 1903, sob a jurisdição da

Diretoria de Viação, Terras e Obras Públicas, que em 1920, passou a atuar como

Diretoria de Terras, Colonização e Agricultura. A este órgão, estavam subordinadas em

todo o Estado catarinense, nove agências de terras, sendo que Campos Novos

pertencia à 4ª agência, com sede em Lages. Conseqüentemente, o Médio e o Baixo

60

Vale do Rio do Peixe, assim como Capinzal, estavam subordinados a esta agência

(BRANCHER, 1994, p. 60-61).

O processo de ocupação legal das terras em Capinzal teve início a partir de

1914. No período correspondente entre 1914 e 1929 foram registrados 506.340m² de

terras, sendo que desse total, 274.518m², isto é, 54,3% das terras foram

concessionárias a Cia. Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (BRANCHER, 1994, p.

66). As demais, ao que tudo indica, foram ocupadas por posseiros a partir da

construção da Estrada de Ferro, os quais acabaram tendo suas terras legalizadas

através da Lei nº 571/1903 (BRANCHER, 1994).

Entretanto, a predominância na comercialização dos lotes eram de dimensões

entre 500m² e 1500m², cerca de 55.8% das unidades negociadas. Nos anos de 1924 a

1926, houve um aumento na extensão das áreas de terras comercializadas. Esse

momento foi considerado o auge, em função da maior quantidade de unidades

vendidas e com maior área (BRANCHER, 1994). Isso se deve principalmente a maior

procura dos migrantes em fixar moradia e atividades sócio-econômicas no local. As

pequenas e médias propriedades eram constituídas de lotes urbanos e de áreas

destinadas à agricultura (produção de milho, amendoim, alfafa, feijão etc.).

Nesse processo de ocupação e uso do solo em Capinzal, houve, também,

conflitos durante o período da Guerra do Contestado, onde posseiros caboclos foram

expulsos de suas terras por latifundiários, que se apropriaram das mesmas

(BRANCHER, 1994). Esse é mais um exemplo da ausência da atuação do Estado,

voltado ao bem comunitário, principalmente nas regiões do Meio-oeste e Oeste

catarinense, para minimizar conflitos e resolver questões fundiárias, além de questões

sociais, durante os primeiros anos de colonização.

Várias questões foram surgindo durante a colonização de Capinzal, dentre elas,

o Município de Campos Novos se sentia isolado por falta de comunicação através de

estradas de rodagem ou carroçável com a Estação Ferroviária do Distrito de Rio

Capinzal, que na época pertencia a Campos Novos, dificultando sobremaneira o

escoamento de produção.

A distância entre o Distrito sede de Campos Novos e o Distrito de Rio Capinzal

era de aproximadamente 68km. Os caminhos eram estreitos, sinuosos, e muito sujeitos

61

a obstáculos das matas e campos desabitados. Em 1916, portanto, o Superintendente

Municipal de Campos Novos, enviou ao Conselho Municipal um relatório constatando a

necessidade imediata da construção de uma estrada de rodagem ou carroçável que

ligasse a sede municipal à ferrovia, principalmente à estação ferroviária. Pois, o

percurso, tanto para Campos Novos quanto para o interior do Distrito de Rio Capinzal,

era feito por meio de trilhas, picadas ou veredas por onde os animais andavam

(BRANCHER, 1994, p. 56), dificultando sobremaneira o transporte de mercadorias e o

acesso às mesmas.

Ao longo do tempo, conforme a população crescia, novas necessidades iam

surgindo. Em 1917, através da resolução nº 1002 de dezembro de 1917 foi nomeado o

primeiro Juiz distrital em Rio Capinzal, o Sr. Carmine Zoccoli, um dos primeiros colonos

e proprietário de uma casa comercial. Em 1919, aquele distrito foi contemplado com o

primeiro professor público concursado, devido a demanda que naquele momento

dispunha (ALMEIDA, 2004; BRANCHER, 1994). Assim, além de instruções públicas,

havia a necessidade de serem implantados outros serviços, como de saúde,

saneamento, entre outros, que aos poucos foram sendo criados.

Desse modo, o Estado vem criando condições infra-estruturais com a atuação,

em conjunto, das grandes corporações, que também influenciam na tomada de

decisões, de planejamentos, pois se cria toda uma estrutura para o seu funcionamento

nas proximidades onde uma indústria está instalada.

No caso de Capinzal, o Grupo Perdigão, o qual exerce grande poder na tomada

de decisões quanto na criação de novos loteamentos, principalmente em áreas

próximas e de influências da agroindústria, que dão suporte a moradia de funcionários

e, conseqüentemente, a novos empreendimentos de atividades sócio-econômicas no

ramo alimentício (mercados, restaurantes, lanchonetes), saúde (farmácias), imobiliários

(comercialização terrenos e imóveis), que suprem, parcialmente, a demanda local.

Resultando na expansão da área urbana.

Com relação a essa questão, importa, ainda, considerar que o Estado, em favor

da agroindústria, também atua em áreas rurais, neste caso representado pela instância

municipal, que se responsabiliza pela abertura e manutenção de estradas e rodovias

que possibilitem o transporte de aves do produtor rural à agroindústria, ou seja, do

62

interior do município a área industrial. Obviamente, não só com esse objetivo, mas

servindo também para a mobilidade de populações locais, em geral. Desse modo, o

Estado não atua sozinho, está atrelado ao sistema industrial capitalista, principalmente

à agroindústria Perdigão. Sendo subserviente ao poder econômico.

Nessas condições, a atuação de órgãos governamentais, tanto da instância

municipal quanto estadual e federal, até os anos de 1950, era quase ausente no

processo da construção sócio-espacial do Meio-oeste e Oeste catarinense, inclusive em

Capinzal. Porém, instituições privadas tiveram uma relativa participação nesse

processo.

No processo de produção sócio-espacial na contemporaneidade, elementos

infra-estruturais são extremamente importantes para a organização da sociedade no

espaço, principalmente quando dizem respeito à mobilidade, seja para fins econômicos,

políticos, culturais ou outras formas quaisquer que possibilitem a dinâmica social. Nesse

contexto, pelo fato do rio do Peixe ser um elemento limitante para a dinâmica

populacional de Capinzal, se fez necessário construir ponte(s) que possibilitasse(m) a

sua travessia.

Desse modo, a criação da primeira Ponte Pênsil, inaugurada em 1934,

possibilitou entre a localidade de Palmas12 e o Distrito de Rio Capinzal, uma maior

mobilidade sócio-espacial. Entretanto, o segundo crescia consideravelmente, tanto em

aspectos populacionais quanto econômicos por meio de produções agropecuárias e

algumas indústrias, dentre elas madeireiras, ervateiras, agroindústrias etc., além de

comércios, que começavam a se destacar na região.

O frigorífico Indústrias Reunidas Ouro é um exemplo dessa mobilidade sócio-

econômica. A construção da ponte, portanto, partiu da iniciativa entre as lideranças do

Distrito de Rio Capinzal, que sobre a mesma foi edificada uma pequena casa destinada

à cobrança de pedágio para a amortização dos custos de sua construção. Entretanto,

em junho de 1939, a ponte que possibilitava com grande valia a passagem e mobilidade

da população local, além de circulação de produtos e mercadorias do interior para a vila

distrital e, particularmente, para a estação ferroviária, foi destruída com a enchente que

assolara todo o Vale do Rio do Peixe.

12 Posteriormente, Distrito de Dois Irmãos e atualmente cidade de Ouro.

63

Porém, como não era viável naquele momento ficar sem comunicação entre um

distrito e outro, devido a conjuntura sócio-econômica que se apresentava, a população

local tomou novamente a iniciativa da reconstrução da ponte, mais uma vez com total

ausência de iniciativa e apoio dos poderes públicos instituídos: Estado e Município.

Dessa forma, as pessoas propuseram-se a financiar o saldo necessário para a

realização da obra por intermédio de uma comissão constituída por alguns moradores e

lideranças locais.

Depois de concluído o trabalho, em fevereiro de 1945, verificou-se que o gasto

total foi de Cr$ 200.000,00. O governo estadual, portanto, para não dizer que estava

ausente, liberou Cr$ 90.000,00 e, o restante foi assumido pelos habitantes locais, ou

seja, por comerciantes, industriais, agricultores, pecuaristas e pela população em geral,

por intermédio do programa do pedágio adotado na época para levantar fundos

financeiros e cobrir os gastos (BRANCHER, 1994; ALMEIDA, 2004) (Foto 05).

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida Foto 05 – Reconstrução da Ponte Pênsil sobre o Rio do Peixe que liga Capinzal e

Ouro - inaugurada em 1945

Em 1956, quando Capinzal já era Município independente economicamente de

Campos Novos, tinha uma população de 13.935 habitantes (IBGE, 1959) e obtinha uma

considerável produção agropecuária e industrial, inclusive de exportação, sendo que,

em 1955, a sua produção industrial atingiu um valor estimado de Cr$ 60.458.775,00. A

64

população pecuária, dentre eles, suínos, bovinos, aves etc., foi avaliada, em 1956, em

Cr$ 292.162.500,00 e, em 1957, a produção agrícola de milho, feijão, trigo, arroz, etc.,

foi num valor de Cr$ 95.222.722,00 (IBGE, 1959, p. 72).

No ano anterior, pelas necessidades que se apresentavam devido ao

crescimento populacional, foi inaugurada outra ponte, esta em concreto armado, que

possibilitaria o acesso de pedestres e veículos motorizados, como automóveis,

caminhões etc., a todo o estado de Santa Catarina e a outras regiões da Federação

brasileira via rodoviária. Pois a ferrovia já não supria todas as necessidades de

transporte de mercadorias. A ponte Irineu Bornhausen, assim denominada, foi

financiada totalmente pelo governo estadual, através da Secretaria de Viação e Obras

Públicas e o Departamento de Estradas de Rodagem (ALMEIDA, 2004).

A distância naquele momento entre a capital do estado e o seu interior, parecia

não ser tão grande, como era 10 ou 20 anos antes, devido ao fato de já existirem

algumas rodovias de acesso que permitiam a articulação entre esses lugares. As

lideranças estatais começavam a se aproximar e voltar os olhares para o interior do

território, em particular ao meio-oeste e oeste catarinense, pois a região despontava

com um potencial econômico, principalmente no setor agropecuário. Característica que

vem se (re)produzindo até os dias atuais consubstanciada principalmente a atividade

agroindustrial.

Nessa perspectiva de potencial econômico, isso vem manifestando atualmente

um ritmo de crescimento significativo. Vale ressaltar que Capinzal, em particular, faz

parte desse processo. Comparado a alguns municípios vizinhos como Ouro, Zortéa,

Lacerdópolis, Piratuba, Joaçaba e Campos Novos13, tem demonstrado nos principais

setores das atividades econômicas, agropecuária, industrial e de serviços (Quadro 05)

uma superação do valor total adicionado14, entre os anos de 1999 e 2002. Porém,

quando analisado setorialmente, nota-se que as atividades agropecuárias a sua

produção é inferior as dos municípios de Campos Novos e Ouro, respectivamente,

13 A escolha desses municípios se deve pelo fato dos mesmos fazer parte dos limites territoriais com Capinzal, exceção feita a Joaçaba que é considerada a “capital regional” do Meio-oeste catarinense. Ainda, por serem municípios que representam certas relações sócio-econômicas, na conjuntura de formação sócio-espacial. 14 É o cálculo que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo. É dado pela diferença entre as receitas de vendas e as de compras de insumos intermediários.

65

devido ao fato de os mesmos serem grandes produtores de grãos e pecuária,

principalmente Campos Novos, que supera os demais na cultura da soja, milho, feijão

etc., devido em parte, as condições do relevo e solo propício a essa atividade.

No setor de serviços, Capinzal também fica aquém de Campos Novos, e,

principalmente, de Joaçaba, pois desde o princípio não teve poder irradiador suficiente

com tendência a esse tipo de atividade, ao contrário dos outros dois que deram origem

a inúmeros outros municípios, e foram se consolidando como influências regionais.

Mas, no setor industrial, Capinzal supera todos os demais municípios acima citados,

por absorver boa parte da produção agroindustrial no segmento de aves daqueles e de

outros municípios (Quadro 05).

Quadro 05 - Valor Adicionado por Setor de Atividade Econômica nos Anos de 1999, 2000, 2001 e 2002 de Capinzal e de Municípios Vizinhos

Ano de 1999 (R$ 1.000,00)Municípios Setor

Agropecuário Setor

Industrial Setor

Serviços Total

Capinzal 25.813 213.032 55.221 294.066 Joaçaba 21.799 99.936 92.069 213.804

Campos Novos 88.246 40.341 65.159 193.746 Ouro 33.842 2.635 13.934 50.411

Lacerdópolis 15.321 951 4.913 21.185 Piratuba 7.422 1.715 9.829 18.966 Zortéa 6.882 737 4.042 11.661

Ano de 2000 (R$ 1.000,00) Municípios Setor

Agropecuário Setor

Industrial Setor

Serviços Total

Capinzal 33.585 245.176 61.504 340.265 Joaçaba 25.241 127.859 109.094 262.194

Campos Novos 102.158 50.574 76.276 229.007 Piratuba 8.625 98.539 16.647 123.811

Ouro 40.126 3.144 15.085 58.355 Lacerdópolis 18.829 1.271 5.594 25.695

Zortéa 9.292 939 4.652 14.883 Ano de 2001 (R$ 1.000,00)

Municípios Setor Agropecuário

Setor Industrial

Setor Serviços

Total

Capinzal 39.178 344.473 76.747 460.398 Joaçaba 28.285 146.609 116.594 291.487

Campos Novos 118.305 62.194 83.226 263.726 Piratuba 13.852 84.181 18.477 116.510

Ouro 44.616 4.048 16.543 65.208 Lacerdópolis 22.282 1.627 6.122 30.030

Zortéa 9.613 1.051 4.909 15.573

66

Ano de 2002 (R$ 1.000,00) Municípios Setor

Agropecuário Setor

Industrial Setor

Serviços Total

Capinzal 56.332 354.318 84.409 495.059 Joaçaba 38.528 199.567 142.050 380.144

Campos Novos 136.230 63.510 102.962 302.701 Piratuba 16.530 66.266 17.494 100.290

Ouro 60.879 4.928 18.961 84.768 Lacerdópolis 27.878 1.848 6.906 36.632

Zortéa 11.537 1.429 5.365 18.331

Fonte: ICEPA. Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002. Disponível em: http://cepa.epagri.sc.gov.br/. Acesso em: 03 jul. de 2006.

Em termos de arrecadação de impostos, Joaçaba supera todos os demais

municípios (Quadro 06). Capinzal aparece em terceiro lugar, isso pelo fato de tanto

Joaçaba quanto Campos Novos terem maior arrecadação de Impostos sobre a

Propriedade Predial e Territorial – IPTU e de Imposto Sobre Serviços – ISS.

Quadro 06 - Impostos Arrecadados em 2001 e 2002 por Capinzal e Municípios Vizinhos

Município Ano 2001 (1000 reais) Ano 2002 (1000 reais) Joaçaba 43.621 26.101 Campos Novos 3.214 5.413 Capinzal 2.652 3.378 Piratuba 1.673 681 Ouro 181 235 Lacerdópolis 122 126 Zortéa 89 79

Fonte: IBGE. Cidades@. Produto Interno Bruto 2001, 2002. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 03 jul. de 2006.

2.1.2.1 Acessos/Rodovias O elevado custo financeiro para a implantação e conservação das ferrovias no

território brasileiro levou os governos estadual e federal, por volta da década de 1940, a

optarem pelos investimentos no setor rodoviário, que é de implantação mais rápida e

menos onerosa. As rodovias começaram a serem implantadas e melhoradas a partir da

década de 1940 e rapidamente se expandiram em direção às diversas regiões do

estado catarinense (SANTA CATARINA, 1991, p. 66).

67

Na década de 1950, o desenvolvimento industrial, em especial a implantação da

indústria automobilística na região Sudeste brasileira, favoreceu ainda mais a expansão

da rede rodoviária e, principalmente, nas duas décadas consecutivas.

As rodovias de Santa Catarina, que concentram praticamente todo o transporte

de passageiros no estado, estão distribuídas, como nos demais estados, em rodovias

federais, estaduais e municipais. As BRs longitudinais que cortam o estado catarinense,

dentre elas a BR-101 - que acompanha o litoral, na Vertente do Atlântico, rodovia

federal que possui uma extensão de 4.551,4km indo no sentido Norte-Sul por boa parte

do litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, ligando a várias

outras rodovias estaduais e municipais a cidades litorâneas - e a BR-116 - que

atravessa o Planalto catarinense, passando pelo Município de Canoinhas e pelos

Campos de Lages - têm trajetos serranos em sua maior parte e ligam grandes centros

urbanos a capitais brasileiras como Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro etc.

Em Santa Catarina, praticamente toda sua extensão pertence à Vertente do

Interior e em conformidade, em grande parte, com a Estrada de Ferro que liga Porto

Alegre a Brasília e passa pelo Planalto Catarinense, nos Municípios de Lages e Mafra;

a BR-153, atravessa o meio-oeste catarinense, passando por Porto União e Concórdia.

Esta BR é a principal ligação rodoviária do centro-oeste brasileiro com as demais

regiões do Brasil. No território catarinense há, também, a BR-282 transversal, que liga o

litoral ao oeste, e a BR-470, que também liga o litoral com o interior do estado no

sentido oeste, até Campos Novos. Entretanto, essas BRs estão interligadas umas as

outras por meio de uma rede de rodovias estaduais e municipais, possibilitando a

dinâmica sócio-econômica de todo o território catarinense, inclusive Capinzal, que aos

poucos foram substituindo as ferrovias.

Portanto, o sistema viário nos primeiros anos da colonização de Capinzal, era

incipiente, sendo a VFFSPRG a primeira forma de locomoção que não fosse por lombo

de animais, carroçável ou a pé. Porém, no momento em que, no Vale do Rio do Peixe a

população crescia e as atividades econômicas se desenvolviam, era necessário que

surgissem novas rodovias para conectar com outras já existentes no estado e essas se

ligassem com rodovias longitudinais, formando, assim, uma rede rodoviária.

68

Com a implantação do sistema rodoviário, a partir da construção da BR-282 que

conecta Florianópolis a São Miguel do Oeste, permitiu-se uma “integração” do Oeste

Catarinense com as demais regiões do estado e com outros lugares brasileiros.

Capinzal está conectado à BR-282 pela SC-303, interligando-se também e, ao mesmo

tempo, por essa SC às cidades como Joaçaba, Videira, Caçador no sentido nor-

nordeste e a Piratuba no sentido oeste. A construção de estradas reprodutoras, isto é,

de ramais que interligam todo o município, beneficiou consideravelmente as empresas

e os produtores rurais locais, facilitando o intercâmbio econômico, a locomoção e a

comunicação (BRANCHER, 1994, p. 132), principalmente o setor agroindustrial.

E assim foram surgindo as rodovias municipais, estaduais e federais interligando

e/ou conectando o município com outros municípios, estados e até mesmo com seu

interior com interesses sumariamente sócio-econômicos. Uma das ligações rodoviárias

concluídas recentemente com recapeamento asfáltico, no início do século XXI, entre a

SC-303 e a BR-470 foi a SC-458, trecho que liga Campos Novos, Zortéia e Capinzal,

facilitando o transporte rodoviário em direção à região serrana e ao litoral catarinense.

2.1.2.2 Atuação de órgãos e/ou empresas

Dentre as instituições públicas/privadas e autarquias que fazem parte do

processo da produção do espaço urbano e regional de Capinzal, faremos referência

apenas a algumas. Pontuamos a CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina -, a

ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina -, a EPAGRI-

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina - e o SIMAE -

Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto -, dentre aquelas relevantes para a

compreensão desse processo. A escolha dessas instituições ocorreu pela inviabilidade

de mencionar todas neste momento, devido à complexidade que cada uma representa,

além dessas instituições apresentarem mais subsídios para a nossa análise.

69

2.1.2.2.1 A CELESC

Um fator importante no conjunto infra-estrutural do Município de Capinzal foi a

chegada da energia elétrica. Durante os primeiros anos de colonização o tipo de

iluminação utilizada nas residências era a partir das queimas do combustível querosene

nos chamados lampiões; as velas produzidas artesanalmente a partir da matéria-prima

do sebo de ovinos e bovinos e; com o aparecimento dos primeiros estabelecimentos

comerciais passou-se a utilizar também as velas de espermacete15 (ALMEIDA, 2004;

2005).

A partir do início dos anos de 1930, uma nova perspectiva começa a surgir a

esse respeito e, Ana ocasião, a primeira usina hidráulica de propriedade particular, de

José Zortéa, foi construída. Ela se destinava a movimentar principalmente as primeiras

e ainda incipientes unidades industriais de transformação como ervateiras, moinhos

coloniais, ferrarias, olarias, serrarias, marcenarias, além de fornecer energia elétrica a

algumas poucas residências na sede distrital de Rio Capinzal.

Posteriormente, foram construídas outras usinas, uma de propriedade das

Indústrias Reunidas Ouro S/A, para seu próprio uso industrial e, outra, já na década de

1950, cujo nome era Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz que, posteriormente,

foi encampada pela CELESC, localizada no Município de Campos Novos, a qual atingia

maior número de localidades e alguns municípios vizinhos. Porém, a demanda de

consumo de energia elétrica aumentava cada vez mais, principalmente em decorrência

da industrialização que se pronunciava na região (ALMEIDA, 2004).

Após a Segunda Guerra Mundial, com a dimensão de processos de

desenvolvimento industrial no Brasil, houve repercussão em Santa Catarina, as

companhias regionais de energia elétrica como a Força e Luz Videira S.A. e a Empresa

Sul Brasileira de Eletricidade S.A. – EMPRESUL, responsáveis pelo fornecimento de

energia elétrica no Vale do Itajaí, em Joinville e nos arredores, respectivamente, não

conseguiam suprir a demanda.

15 Cera extraída do cérebro dos cachalotes (uma espécie de baleia) para uso na fabricação de velas e para fins medicinais ou cosméticos.

70

A necessidade de suprir a falta e a possibilidade de aproveitar o excedente de

carvão mineral produzido no sul do Estado de Santa Catarina, na década de 1950,

levaram os governos estadual e federal a implantar a Sociedade Termoelétrica de

Capivari - SOTELCA, atual Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, em Tubarão. Com a

implantação dessa usina, expandiram-se duas empresas na produção, transmissão e

distribuição de eletricidade: a Centrais Elétricas de Santa Catarina – CELESC - e a

Centrais Elétricas do Sul do Brasil – ELETROSUL. A CELESC, criada em dezembro de

1955 pelo decreto estadual nº 22/1955, incumbiu-se de duas tarefas principais, tais

quais a absorção das empresas regionais de eletricidade, incorporando várias

pequenas usinas e a implantação de duas linhas de transmissão, sendo a primeira, da

Usina Jorge Lacerda passando por Lages até o Oeste, e a segunda, para Florianópolis.

A ELETROSUL passou a se encarregar da ampliação da Usina Jorge Lacerda a partir

de 1973, ampliando sua capacidade de geração de energia (SANTA CATARINA, 1991,

p. 68).

Portanto, até a metade do século XX, as necessidades energéticas do Estado de

Santa Catarina eram supridas por pequenos e médios sistemas elétricos

regionalizados. Essas, eram geralmente mantidas pela iniciativa privada (CELESC,

2006), como por exemplo, a Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz, situada no

Município de Campos Novos, no meio-oeste catarinense, que atuava regionalmente.

Alguns municípios da vertente do Atlântico, porém, já nas primeiras décadas do

século XX, por exemplo Blumenau, já dispunham de um rudimentar sistema de

iluminação pública. Nesse município, especificamente, a Usina Hidroelétrica Salto

Weissbach, datada de 1916, representou uma evolução dos pequenos geradores

mantidos pelos empreendedores imigrantes. Essa usina foi, também, muito significativa

para a expressão industrial no Médio Vale do Itajaí (CELESC, 2006). Em Joinville, a

Usina Hidroelétrica Piraí entrou em funcionamento em 1908 e, em 1913, foi a vez da

São Lourenço, em Mafra. Em São José, foi construída a Usina Hidroelétrica Maroim,

para suprir a demanda da Capital e região, a qual vinha se desenvolvendo

consideravelmente e necessitava de infra-estrutura.

Tais exemplos, no entanto, revelam que a produção da energia elétrica em Santa

Catarina teve sua gênese a partir de iniciativas privadas que atuavam regionalmente.

71

Este modelo, porém, começou a mostrar certa incapacidade de responder ao

incremento da demanda, pois foi pressionada pelo surto desenvolvimentista que tomou

conta do país no governo de Juscelino Kubitschek. E o governo catarinense,

preocupado em oferecer condições infra-estruturais aos investimentos, decide, então,

pela criação da estatal (CELESC, 2006), a CELESC. O início das operações da

CELESC viabilizou a entrada de Santa Catarina no Sistema Elétrico Interligado Sul-

Sudeste. Essa medida garantiu o fornecimento de eletricidade adequado ao parque

industrial catarinense (CELESC, 2006).

A CELESC realizou suas atividades, a princípio, mais como um órgão de

planejamento do sistema elétrico estadual. Posteriormente, assumiu o papel de holding

até começar a incorporar, gradativamente, o patrimônio das velhas empresas regionais

(CELESC, 2006). Assim, o primeiro grupo de empresas tornadas suas subsidiárias foi

formado pela Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A. – EMPRESUL, com base em

Joinville; pela Empresa Força e Luz Santa Catarina S.A., com atuação no Vale do Itajaí

e sede em Blumenau; pela Força e Luz Videira S.A.; pela Companhia Serrana de

Eletricidade, de Lages; pela Companhia Oeste de Eletricidade, com base em Concórdia

e; pela Companhia Pery de Eletricidade, de Curitibanos. A consolidação técnica da

CELESC e o delineamento definitivo do sistema elétrico estadual ocorreram a partir do

ano de 1965, com a construção da Linha de Transmissão Tubarão – Lages – Joaçaba –

São Miguel d’Oeste que, gradativamente, atingiu praticamente todo o estado e tornou-

se a estatal catarinense mais importante (CELESC, 2006).

É neste contexto, então, que no final dos anos 1960, a região serrana e o Vale

do Rio do Peixe, já se industrializando, precisavam de infra-estrutura mínima para suprir

as necessidades emergenciais que se apresentavam. Foi assim, que a CELESC

passou a ampliar sua área de atuação naquelas regiões. Em Capinzal e região, como

Ouro, Campos Novos, Joaçaba etc., aquela empresa passou a atuar a partir de 1967,

quando incorporou a Companhia Hidroelétrica de Rio Santa Cruz e, gradativamente,

além de atuar no perímetro urbano daqueles municípios, passou, também, a atuar na

área rural. No final da década de 1970 e início da década de 1980, quase todas as

localidades do interior do Município de Capinzal já dispunham de energia elétrica.

72

(ALMEIDA, 2005; BRANCHER, 1994), dando uma outra perspectiva de vida para as

populações locais.

Dados demonstram que em abril de 2005, havia, em Capinzal, um total de 7.899

ligações de energia elétrica, dentre as quais, 5.679 eram destinadas às residências,

530 eram de estabelecimentos comerciais, 165 de consumo industrial, 1.393 situadas

na área rural, 100 eram de órgãos públicos e 31 das ligações estavam distribuídas

entre outros tipos de consumidores16.

2.1.2.2.2 A ACARESC/EPAGRI

Outra importante instituição também presente na vida sócio-espacial, não só em

Capinzal como em todo o Estado de Santa Catarina, principalmente vinculada ao

espaço rural, foi a antiga ACARESC. Segundo Silva (1996), em fevereiro de 1956 criou-

se em Santa Catarina o Serviço de Extensão Rural, sob a designação do Escritório

Técnico de Agricultura - ETA.

Inspirado em projeto e experiência bem sucedida em Minas Gerais, a Associação

de Crédito e Assistência Rural – ACAR - e com a busca de conhecer o funcionamento

da extensão rural, um grupo de líderes rurais catarinenses, através dos dirigentes da

Federação das Associações Rurais do Estado de Santa Catarina - FARESC, precursora

da atual Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina - FAESC,

solicitaram ao Ministério da Agricultura e ao Escritório de Agricultura a implantação de

um serviço similar para dar assistência aos agricultores e suas famílias. Um convênio

foi firmado entre o Governador do Estado, através da Secretaria da Agricultura, a

FARESC e o ETA, para pôr em prática o projeto.

Em novembro de 1956, após um treinamento prévio da primeira turma de

extensionistas, profissionais habilitados a dar assistência técnica aos agricultores e

suas famílias, foi instalado o escritório piloto de extensão rural do ETA no município de

São José. Logo em seguida, foram instaladas mais 8 unidades em Santa Catarina,

dentre elas, 04 no Vale do Itajaí, nos municípios de Rio do Sul, Ibirama, Indaial e

16 Dados fornecidos por Amarildo P. Fachin, gerente da Celesc, unidade Capinzal, correspondente ao mês de abril de 2005.

73

Ituporanga e, mais 04 no Vale do Rio do Peixe, nos municípios de Joaçaba, Herval

D'Oeste, Videira e Capinzal. Como o convênio criado teria a vigência de apenas quatro

anos, o governo estadual viabilizou a sua transformação em uma associação civil, sem

fins lucrativos, de direito jurídico privado, denominada Associação de Crédito e

Assistência Rural de Santa Catarina - ACARESC em 21 de junho de 1957, nos modelos

da ACAR/MG (SILVA,1996).

No início da década de 1990, na segunda metade do ano de 1991, surge a

EPAGRI, que substitui a ACARESC. A EPAGRI, portanto, surgida no bojo de uma

reforma administrativa promovida pelo governo estadual no serviço público agrícola, foi

constituída como uma sociedade de economia mista, com personalidade jurídica de

direito privado, sob a forma de sociedade por ações, nos termos do art. 99 da Lei

Estadual nº 8.245, de 18.04.1991, vinculada à Secretaria de Estado da Agricultura

e Desenvolvimento Rural, integrante da Administração Indireta do Estado de Santa

Catarina (EPAGRI, 2006). Sua constituição surgiu da fusão da EMPASC - Empresa de

Pesquisa Agropecuária de Santa Catarina -, da ACARPESC - Serviço de Extensão

Pesqueira - e do antigo IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina. Essa junção

deu origem, na segunda metade de 1991, à EPAGRI. O processo de fusão repassou a

atividade de extensão rural para as prefeituras municipais, deixando ao Estado os

custos com pessoal, o que foi modificado em 1995, com a volta das atividades de

extensão rural pela EPAGRI, cuja razão social era Empresa de Pesquisa Agropecuária

e Extensão Rural de Santa Catarina (SILVA, 1996; EPAGRI, 2006).

Em junho de 2005, a EPAGRI incorporou o Instituto de Planejamento e

Economia Agrícola de Santa Catarina - CEPA/SC – e, na mesma data, a Assembléia de

Acionistas aprovou sua transformação em empresa pública (EPAGRI, 2006).

No contexto da atuação de serviços de Extensão Rural, essa atividade foi

implantada em Capinzal em 1957 (RECH, 2004). A atuação desse tipo de serviço,

inicialmente da ACARESC e, posteriormente, da EPAGRI em Capinzal, tem

apresentado um trabalho de orientação técnica aos produtores agropecuários e seus

familiares objetivando orientá-los na atividade agrícola, avaliando o processo da

produção na busca de alternativas junto aos governos das instâncias municipal,

estadual e federal, ao sindicato dos trabalhadores rurais, entre outras instituições, na

74

tentativa de encontrar soluções convincentes, principalmente técnicas, para que o

produtor rural permaneça no campo. Porém, mesmo com esse tipo de serviço prestado

a produtores rurais, principalmente aos de economia familiar, não tem sido evitado o

constante êxodo rural, especialmente dos jovens.

Vale pontuar, nesse sentido, que os agricultores de economia familiar

entrevistados17 para esta pesquisa têm se mostrado insatisfeitos com as atuais

conjunturas da política agrícola brasileira, pois, segundo alegam, o incentivo que

recebem para a produção não garante a sobrevivência e a permanência de seus

familiares no campo. Boa parte dos entrevistados prefere estarem vinculados ao

sistema agroindustrial de integração e se sentirem seguros de certa maneira quanto ao

retorno financeiro, do que trabalhar a terra durante um ano inteiro sem nenhuma

garantia de retorno. É raro encontrar uma família com filhos jovens/adultos, que pelo

menos um de seus membros não tenha buscado alternativas de trabalho fora do meio

rural.

2.1.2.2.3 O SIMAE

Inicialmente, a população urbana de Capinzal e Ouro não possuía um sistema

público de abastecimento de água. As pessoas se abasteciam de poços escavados e

tubulares e fontes d´agua. Esses eram os meios disponíveis na época para suprir as

necessidades básicas e vitais, embora rudimentares.

Conforme a população urbana aumentava, as necessidades sociais sofriam

mudanças. Era necessário implantar um sistema de abastecimento de água que

oferecesse solução a um problema, pois a demanda local exigia um sistema eficiente

que atingisse um maior número de habitantes locais.

Numa tentativa de amenizar e solucionar a enigmática, foi elaborado um projeto

em 1959, que atingia apenas 2500 pessoas aproximadamente, visto que a população

urbana era de 3.023 pessoas em 1960 (IBGE, 1968). Portanto, menos de 83% dos

habitantes poderiam ser contemplados se o projeto fosse executado, mas não resolvia

completamente a questão. Porém, inicialmente, não foi posto em prática. Ficou

17 A esse respeito, discussão no capítulo 3 deste trabalho.

75

paralisado durante 12 anos, isto é, somente em 1971 foi executado, passando a

abastecer cerca de 3000 pessoas, aproximadamente 60% da população das duas

cidades, Capinzal e Ouro (SIMAE, 2006), ou seja, atingia uma pequena parte da

população. Não era qualquer um que tinha acesso a esse tipo de serviço. Portanto,

existiam naquele momento, nos dois municípios, 3 poços perfurados de 78m, 120m e

90m de profundidade, produzindo 2800 l/h, 2000 l/h e 800 l/h, respectivamente. O poço

de 78m era de propriedade particular e abastecia 4 residências. O outro, de 120m, era

utilizado no Educandário das Irmãs Franciscanas, atual Colégio Estadual Mater

Dolorum, na época, também de propriedade particular. O terceiro poço, de 90m de

profundidade, abastecia 3 residências particulares. E o restante da população se

abastecia de águas provenientes de poços rasos, fontes e córregos d’água (SIMAE,

2006).

Como o problema de abastecimento de água de Capinzal e Ouro deveria ser

solucionado, as prefeituras de ambos os municípios, por meio de seus representantes,

criaram as Leis nº 654 e nº 179 de fevereiro de 1972, respectivamente, instituindo o

SIMAE – Serviço Intermunicipal de Água e Esgoto, que é uma autarquia, responsável

pelo tratamento e abastecimento de água e coleta de esgotos nos dois municípios. Os

serviços da autarquia entraram em operação em abril de 1974 e foram administrados

pela FUNASA - Fundação Nacional da Saúde até 1999, empresa que também dava

suporte técnico. Atualmente aquela autarquia está vinculada às prefeituras municipais

de Capinzal e Ouro, porém com autonomia administrativa e financeira (DALAVECHIA,

2004).

O projeto inicial da Estação de Tratamento de Água era para uma

produção/tratamento com a capacidade de 25 l/s de água. No entanto, começou suas

atividades com um volume menor devido à baixa demanda. Nesse contexto, a estação

de tratamento de água foi construída no período de 1972 a 1974, juntamente com um

reservatório de acumulação com capacidade para 400m³ de água. Posteriormente, foi

construído um segundo reservatório com a mesma capacidade ao lado do já existente.

Inicialmente a distribuição da água tratada era feita somente na parte central da cidade.

Posteriormente, com a expansão urbana e levando-se em conta o relevo da região, fez-

se necessária a construção de diversos sistemas de recalque de água compostos de

76

casa de bomba e reservatório em diversos bairros e loteamentos dos municípios de

Capinzal e Ouro (SIMAE, 2006).

Nas condições atuais, a capacidade de tratamento da água é de 90 l/s, sendo

que a operação é de aproximadamente 75 l/s, devido à demanda local (SIMAE, 2006),

tendo como principal manancial o rio do Peixe. Aquela autarquia opera também com

sistema de poços artesianos, em localidades isoladas do interior com maior

concentração de população, como Alto Alegre, Lindemberg, entre outras. Cerca de 95%

da população da área urbana dos dois municípios é atendida com água captada do rio

do Peixe e 5% é atendida através de poço artesiano, sendo que, para se atingir todas

as residências, construiram-se 12 sistemas de recalque, compostos de casas de

bombas, adutoras e reservatórios.

2.1.2.2.4 Inserções recentes da Secretaria do Desenvolvimento Regional

Até recentemente, a unidade administrativa do Estado de Santa Catarina

encontrava-se, de certo modo, distante de regiões como o meio-oeste e o oeste

catarinense. Mantinha-se em Florianópolis praticamente toda a centralidade da

administração pública estadual. Somente a partir da gestão 2003/2006, uma nova

realidade apresentou-se à população catarinense. Criaram-se e implantaram-se, em

2003, as SDRs - Secretarias de Desenvolvimento Regional, com o objetivo de

descentralizar e desconcentrar a execução das atividades da administração pública

estadual. A Lei Complementar nº 243/2003, estabelece uma nova Estrutura

Administrativa do Poder Executivo do Estado de Santa Catarina criando, inicialmente,

29 secretarias regionais18. Atualmente, são 30 SDRs, visto que em 2005 criou-se a de

Dionísio Cerqueira, no oeste do estado, por meio da Lei Complementar nº 284/2005

(SANTA CATARINA, 2005).

18 As Secretarias Regionais do Estado de Santa Catarina inicialmente eram: Araranguá, Blumenau, Brusque, Caçador, Campo Novos, Canoinhas, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Curitibanos, Ibirama, Itajaí, Ituporanga, Jaraguá do Sul, Joaçaba, Joinville, Lages, Laguna, Mafra, Maravilha, Palmito, Rio do Sul, São Joaquim, São José, São Lourenço D´Oeste, São Miguel D´Oeste, Tubarão, Videira e Xanxerê.

77

Assim, as Secretarias de Estado do Desenvolvimento Regional estão instaladas

nas chamadas “cidades pólo” com atuação nas unidades territoriais designadas. Da

SDR de Joaçaba, fazem parte os municípios de Capinzal, Ouro, Joaçaba (sede da

unidade administrativa regional), Lacerdópolis, Erval Velho, Herval d´Oeste, Luzerna,

Ibicaré, Treze Tílias, Catanduvas, Água Doce e Vargem Bonita.

De acordo com a Lei Complementar nº 243/2003, cada SDR é responsável pela

regionalização do planejamento e da execução orçamentária; pela articulação que

resulte no engajamento, integração e participação das comunidades, com vistas ao

atendimento das demandas pertinentes as suas áreas de atuação como da saúde, da

infra-estrutura, da educação, ciência e tecnologia, entre outras; e pelo

acompanhamento das audiências do Orçamento Estadual Regionalizado previsto na Lei

Complementar nº 157/1997 e a mobilização das comunidades para participação nas

audiências (SANTA CATARINA, 2003).

Fazem parte dos Conselhos de Desenvolvimento Regional membros natos como

o Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, todos os Prefeitos da região de

abrangência, todos os Presidentes de Câmara de Vereadores da região de abrangência

e representantes dos segmentos sócio-culturais, sócio-políticos, sócio-ambientais e

sócio-econômicos mais expressivos de cada região, assegurando, assim, a

representatividade empresarial e a trabalhistas (SANTA CATARINA, 2003).

Assim sendo, dentre as atuações do governo estadual, a partir da SDR de

Joaçaba, em Capinzal, foi a retomada e a finalização da rodovia SC-458, trecho que

liga Capinzal-Zortéa-Campos Novos, conforme já dito. A pavimentação do trecho de 31

Km era esperada há aproximadamente 3 décadas (CAPINZAL, 2007). Com início em

2003, a obra foi concluída e inaugurada em 2004, possibilitando o acesso entre os 3

municípios vizinhos, além do acesso à unidade industrial da Perdigão em Capinzal -

uma das mais beneficiadas com a conclusão e pavimentação da rodovia -, agilizando

assim o transporte dos produtos industrializados aos portos para exportação, visto que

anteriormente o trajeto era feito por Joaçaba com, aproximadamente, 30 km a mais.

Outros exemplos recentes da atuação do governo do estado a partir da SDR de

Joaçaba, em Capinzal, são a construção do Ginásio de Esportes da Escola de

Educação Básica São Cristóvão, localizada no bairro São Cristóvão, a Passarela da

78

Ponte Irineu Bornhausen, que liga os municípios de Capinzal e Ouro, proporcionando

maior segurança aos pedestres e a conclusão de um novo setor de nutrição no Hospital

Nossa Senhora das Dores, dentre outros.

Embora esse sistema do poder executivo descentralizado seja, também, uma

estratégia político-partidária para o governo catarinense se fortificar e garantir a

reeleição em 2006, ele lançou seus tentáculos por todas as regiões catarinenses por

intermédio da implantação das SDRs. Entretanto, com essa descentralização, a

população, em geral, pode estar mais próxima dos dispositivos do governo e, ao

mesmo tempo, exigir benfeitorias e qualidade na administração pública estadual. Isso

se, realmente, for trabalhado em parceria com os municípios e outros órgãos públicos e

privados de cada regional.

2.2 O PAPEL DO COMPLEXO AGRO-INDUSTRIAL 2.2.1 Trajetórias do segmento avícola: notações

A dinâmica social de determinado lugar decorre, muitas vezes, em função do

capital, isto é, da dinamicidade e dos interesses de grandes corporações industriais em

fazer do lugar um ponto estratégico para a (re)produção de bens de consumo que

atinjam os mais diversos segmentos e/ou um específico da sociedade, cujo objetivo

final seja a acumulação de lucro e capital.

A industrialização, nos diversos segmentos produtivos, favorece não somente

uma maior mobilidade social como também o surgimento de cidades, de vida urbana

e/ou expansão de áreas urbanas e até mesmo a segregação sócio-espacial inerentes

às suas atividades no contexto da lógica capitalista contemporânea. A expressão

industrialização é um processo amplo e extremamente vinculado às diretrizes da

dinâmica social. De acordo com Sposito (2005, p. 43), “caracteriza-se pelo predomínio

da atividade industrial sobre as outras atividades econômicas” , como de comércio,

serviços e agrícolas de um dado lugar. Os setores industriais como o automobilístico, o

químico, o eletrodoméstico e, logicamente, o alimentar, entre outros, alguns articulados

79

entre si, complementam a lógica da produção e do consumo de produtos duráveis e

não-duráveis.

Dentre esses setores, mais especificamente o complexo agroindustrial alimentar,

a abrangência de sua atuação se dá de forma horizontal e, principalmente, vertical,

assim como os demais setores, com o domínio de um espaço amplo e, muitas vezes,

sem fronteiras.

Nessa perspectiva, Espíndola (1999, p.16) argumenta que a “presença

significativa do ramo alimentar na estrutura industrial brasileira decorre da constituição

de grandes agroindústrias processadoras voltadas ao atendimento do mercado interno

e externo.” Ainda segundo aquele autor, o ramo agroindustrial alimentar está

representado no Brasil por cinco fases inerentes a cada momento histórico, sob a lógica

capitalista num contexto internacional de produção de bens e consumo.

A primeira fase, no entanto, decorre anterior ao século XIX, caracterizada pela

instalação de engenhos de açúcar. A segunda fase, entre o século XIX e a década de

1930, é representada por moinhos de trigo, indústrias de óleos vegetais, frigoríficos

[numa escala local, pode-se citar o município de Capinzal no meio-oeste catarinense

que, a partir de 1930, já sediava o frigorífico Indústria Reunidas Ouro S/A] e usinas de

açúcar. A terceira fase, iniciada entre as décadas de 1940 e 1970, foi quando se

estabeleceram alguns frigoríficos no Brasil central, com a agroindústria de suínos e

aves no sul e a entrada de grandes agroindústrias multinacionais. A quarta fase, entre

1970 e 1990, consagra a expansão das agroindústrias do sul brasileiro, via

modernização tecnológica, diversificação produtiva (inserção nos segmentos bovinos e

soja) e a centralização do capital. A quinta e última fase, sobreposta à anterior, continua

até os dias atuais.

Este último período, portanto, indica os novos processos de reestruturação

agroindustrial devido à mudança nos hábitos alimentares e à emergência de um

conjunto de tecnologias (microeletrônica, biotecnologia etc.) (ESPÍNDOLA, 1999) que,

com a velocidade, a partir, principalmente da década de 1990, atingiu praticamente

todos os segmentos da sociedade, articulando e estabelecendo maiores relações

urbano-regionais em cidades como Capinzal. Esses períodos, além da tendência de

que o Brasil, num contexto global, vem se pronunciando como um dos maiores

80

produtores de alimentos mundiais tanto in natura quanto processados, também tiveram

em comum a dinamicidade social, embora cada momento com sua particularidade.

As constantes mudanças ocorridas nos padrões de consumo nacional e

internacional, entretanto, vêm possibilitando um ritmo acelerado de avanços

tecnológicos no desenvolvimento de produtos por parte das empresas do setor

agroindustrial, particularmente o de frango, para o qual direcionamos nossa análise

nesta pesquisa. Isto ocorre não somente por meio de inclusões e/ou lançamentos de

novos produtos, mas também por retiradas de produtos do mercado para reformulação

de suas características principais como cor, sabor, textura ou até mesmo por formato,

embalagem etc. (MARTINELLI; SOUZA, 2005), para se tornarem mais atrativos.

Os hábitos alimentares, portanto, se caracterizam também, atualmente, pela

procura de produtos processados e semi-processados que, com a sua praticidade,

como produtos enlatados, frios, congelados, entre outros, atingem determinados nichos

do mercado consumidor. Porém, devido a forte concorrência interna e externa, o setor

agroindustrial viu-se obrigado a diversificar e melhorar sua produção para garantir a sua

sobrevivência suprindo, dessa forma, vários nichos do mercado.

Na conjuntura do sistema capitalista de produção de bens e consumo, o

mercado é o elo entre as etapas produtivas, mesmo que estas detenham relações

trabalhistas diferenciadas. Nesse contexto, a agricultura moderna, de modo geral é,

dentre as múltiplas facetas do capitalismo,

desempregadora de mão-de–obra, não podendo este problema ser resolvido pela agroindústria. Isto porque à medida que a grande indústria se desenvolve, a criação de riquezas depende cada vez menos de tempo de trabalho e da qualidade de trabalho utilizado, e cada vez mais da potência mecânica que são colocados em movimento durante o período de trabalho. (SOUZA; PEREIRA; VILAROUCA, 1998, p. 108),

que certamente no Brasil isso não é diferente. A mão-de-obra que há vinte, trinta anos

era indispensável, atualmente, por intermédio da emergência tecnológica e

mecanicismo cada vez mais eficiente, supre em boa parte essas necessidades.

Com isso, o atual estágio de crescimento econômico é caracterizado pelos

avanços das inovações tecnológicas e pela globalização e monetarização da economia,

estendendo e acelerando, embora desigualmente, os processos de reestruturação

81

produtiva que redefinem a efetividade do Estado (SOUZA; PEREIRA; VILAROUCA,

1998).

Nesse sentido, expressam relações de produção mais ampla, nas quais as

relações de trabalho são politicamente importantes, mesmo sendo uma relação de

dominante/dominado. É o que ocorre entre as grandes corporações capitalistas que

determinam a forma de atuação; o Estado, por sua vez, faz valer esta atuação por meio

de legalização e normatização; os subordinados, que são os que prestam os seus

serviços e mão-de-obra em troca de um salário, absorvem as imposições colocadas

pelas corporações e pelo Estado. Daí, a representatividade dos lugares, onde se

concretizam essas determinações e, em conjunto, ao mesmo tempo produzem e

consumem espaço.

Entretanto, as relações de trabalho e suas possibilidades de mudanças na

dinâmica das atuais relações sócio-espaciais, tomando como base o setor

agroindustrial alimentar, atingem tanto a cidade quanto e diretamente o campo,

principalmente os pequenos produtores rurais de trabalho familiar.

Nessas condições, em específico a agroindústria de carnes, em particular o

segmento de aves/frango, que é o caso da atuação do Grupo Perdigão em suas

diversas unidades de produção, inclusive em Capinzal, mantém relações de trabalho

com produtores rurais, na grande maioria de trabalho familiar; mão-de-obra assalariada;

empresas terceirizadas (de transporte, de ração etc.), entre outros. Os produtores

rurais, em particular, são prestadores de serviços no chamado “sistema de integração”

ou de “parceria”, que não possuem vínculo empregatício, ficando a empresa

descompromissada com encargos sociais.

O sistema de produção agropecuária “integrada”, segundo a União Brasileira de

Avicultura – UBA (2001) teve o seu início de implantação no Brasil na década de 1960,

no Estado de Santa Catarina, no segmento da avicultura. Posteriormente, foi se

estendendo para a suinocultura, assim como para os demais estados do sul brasileiro.

A princípio o sistema de integração funcionou por acordos informais entre o

produtor/criador e a agroindústria. Na medida em que os processos foram se tornando

mais complexos, desenvolveram-se mecanismos mais formais, inclusive contratos entre

a empresa integradora e o integrado (UBA, 2001).

82

Atualmente, o sistema de integração, de uma forma geral, funciona com as

empresas integradoras disponibilizando de recursos na forma de insumos como

reprodutores, pintinhos para abate, rações, vacinas, assistência técnica, entre outros.

Em contrapartida, o produtor integrado se responsabiliza com instalações, infra-

estrutura, mão-de-obra, e alguns custos, dentre eles energia elétrica, água, gás etc.,

consumidos no processo produtivo.

Esse sistema, porém, funciona sob inspeções técnicas designadas pela

agroindústria. Ao entregar os frangos para o abate, o produtor integrado é remunerado

em determinado valor, levando-se em consideração a conversão alimentar e a

mortalidade ocorrida dos frangos que é de sua responsabilidade, exceto problemas

ocasionados ou falha(s) técnica(s) por parte da agroindústria.

O sistema de integração, no entanto, é uma das características do complexo

agroindustrial no Brasil, sobretudo no segmento de aves, que vem promovendo novas

perspectivas econômicas para os produtores rurais, principalmente aos minifundiários,

que vêm desempenhando um papel importantíssimo na economia local, onde essa

atividade se (re)produz. Os pequenos produtores rurais vêem perspectivas que de outra

maneira possivelmente não teriam nas atuais conjunturas da agricultura brasileira, pois

a produção de culturas temporárias e permanentes como de milho, feijão, trigo, arroz,

fruticultura, entre outras, de modo geral, não lhes trazem vantagens e ganhos

suficientes para manter suas famílias no meio rural, devido ao elevado preço dos

insumos, sementes, e a própria manutenção das lavouras, além de fenômenos naturais

como estiagens, enchentes, ou seja, as mudanças climáticas e até mesmo o

empobrecimento do solo, tendo que constantemente recuperá-lo. Como se não

bastassem esses elementos, não há capital de giro suficiente o que obriga-o a financiar

suas lavouras que, no final de cada colheita, se tudo ocorrer bem, deixa boa parte da

sua produção nos bancos para cobrir os seus financiamentos.

Isso torna inviável a manutenção do pequeno produtor rural no campo e a

agroindústria, de certa forma, traz uma outra perspectiva de ganho quase que

permanente e certo a cada lote de frangos, que varia de 40 a 50 dias, com intervalo de

83

10 a 20 dias para um novo alojamento19. Porém, o produtor/criador se submete a seguir

as suas ordens e regras, a mercê do capital que domina a economia de mercado.

Nesse contexto de relação de trabalho, há ainda outras exigências por parte da

agroindústria para garantir resultados de qualidade na criação das aves para corte.

Dentre as exigências consideradas mais importantes, se destacam: a) os cuidados

permanentes com a limpeza e a desinfecção durante o período em que a instalação

estiver vazia; b) os cuidados com o aquecimento adequado dos pintos; c) cuidados com

a preservação da qualidade das rações estocadas; d) uso de cama de aviário de boa

qualidade como por exemplo a serragem, a partir da casca de arroz e de café, sabugo

de milho triturado etc., que são materiais utilizados para forrar o piso dos aviários, sem

que haja a presença de objetos estranhos que possam comprometer a qualidade do

lote; e) a proibição da entrada de pessoas vindas de outras propriedades na instalação

para evitar transmissão de doenças e/ou comprometimento do lote; f) registro preciso

de todos os campos exigidos pela Ficha de Acompanhamento do Lote; g) medicação

dos lotes somente seguindo rigorosamente a orientação dos técnicos responsáveis; h)

limpeza periódica dos silos e dos bebedouros; i) manutenção preventiva das

instalações; j) arborização ao redor das instalações; l) uso dos princípios de qualidade

total em toda a propriedade; m) controle adequado de roedores sem o uso de produtos

tóxicos; n) uso adequado da composteira (se houver); o) corte de ração antes de se

enviar as aves para o abatedouro dentro dos períodos estipulados pela empresa

(AVICULTURA INDUSTRIAL, 2006), que varia de 07 a 10 horas. Essas exigências são,

no entanto, para garantir lotes de qualidade, pois na falta de alguns desses cuidados

pode-se comprometer a saúde e a qualidade dos frangos, além da perda de peso.

Segundo Espíndola (1999; 2002), com a modernização e a (re)organização de

certos setores agroindustriais, a abertura de novos campos de exportações de

manufaturados e o desenvolvimento tecnológico industrial favoreceram a expansão na

produção de frangos no Brasil. Em 10 anos, de um total de 217 mil toneladas

produzidas em 1970 foi para 1.250 mil toneladas em 1980. Esses dados, no entanto,

nos últimos 15 anos tiveram um aumento substancial. De acordo com o relatório anual

19 Dados preparados a partir de entrevistas feitas com produtores rurais de Capinzal e funcionários da Perdigão, unidade Capinzal, em maio e agosto de 2005 e fevereiro de 2006.

84

da UBA (2005/2006), o Brasil produziu em 2005 aproximadamente 9,3 milhões de

toneladas de carne de frango, o segundo maior produtor mundial, perdendo apenas

para os Estados Unidos que continuam no ranking mundial de produção, com 16

milhões de toneladas no ano de 2005.

O Brasil exportou naquele mesmo ano 2,8 milhões de toneladas de frango e

atingiu uma receita cambial correspondente a US$ 3,5 bilhões, isto é, 35% maior em

valor do que o ano de 2004, e 15% maior em volume, o que manteve o país como o

maior exportador mundial de carne de frango (UBA, 2005/2006). Os estados da Região

Sul, portanto, nesse período respondem por cerca de 64% da produção nacional

(MARTINELLI; SOUZA, 2005) e são os maiores exportadores de carne e de produtos

de frango industrializados do país.

Santa Catarina, em primeiro lugar, exportou em 2005 cerca de 792.822.179

toneladas, com a participação nacional de 27,86% do produto de carne de frango

exportado; em segundo lugar o Paraná, com a exportação de 791.126.002 toneladas,

com a participação de 27,8% e, em terceiro lugar o Rio Grande do Sul com 676.675.879

toneladas e a participação de 23,8% de carne de frango exportado (UBA, 2005/2006).

Os outros estados, em ordem crescente, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso

do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal, são responsáveis pelos demais 20,9% da

exportação do Brasil daquele produto. Contudo, esta configuração geográfica vem

mudando substancialmente com constantes investimentos das agroindústrias no centro

oeste brasileiro, caracterizando uma expansão do domínio agroindustrial naquela

direção.

A exportação de carne de frango tem como principais mercados consumidores a

União Européia, o Oriente Médio, a América do Sul, a África, a Ásia e Rússia. Nesse

contexto, a Sadia, a Perdigão e a Seara são as principais agroindústrias exportadoras

do Brasil. As maiores empresas nacionais, como Sadia e Perdigão respectivamente,

possuem mercados que se estendem geograficamente do sul ao nordeste do país,

atuando por meio de seus centros de distribuição e revendas, diferentemente das

pequenas e médias empresas que atuam em mercados regionalizados (MARTINELLI;

SOUZA, 2005).

85

Desse modo, particularmente, o Grupo Perdigão com suas unidades industriais

distribuídas em vários estados brasileiros como em Santa Catarina (municípios de

Videira, Santo Veloso, Lages e Capinzal); Rio Grande do Sul (municípios de Serafina

Corrêa e Marau); Goiás (municípios de Rio Verde, Mineiros, Jataí, Cachoeira Alta e

Brasília no Distrito Federal); Paraná (município de Carambeí) e no Mato Grosso (em

Nova Mutum) vêm ampliando substancialmente sua área de atuação e,

conseqüentemente, influenciando nas relações de trabalho e na própria dinâmica sócio-

espacial desses lugares. A Perdigão possui também vários centros de distribuição

localizados em Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Campinas (SP), Recife (PE),

Marau (RS), Fortaleza (CE), Salvador (BA), Santos (SP), Manaus (AM), entre outros

(PERDIGÃO, 2005), que caracteriza sua atuação em quase todo o território nacional,

como uma potência econômica.

Porém, as corporações como as agroindústrias em geral, possibilitam

transformações sócio-espaciais locais que se articulam na dinâmica econômica de

escala nacional, visto que o Brasil por ser um país agro-exportador tanto de produtos in

natura quanto de produtos industrializados é um reflexo do que vem se (re)produzindo

nos diferentes lugares que o compõe.

2.2.2 Dimensões do setor agro-industrial no meio-oeste catarinense: segmento avícola/frango

Dentre os descendentes de italianos oriundos do Estado do Rio Grande do Sul

em direção ao meio-oeste e oeste catarinense, como as famílias de Attílio Fontana

(fundador do Grupo Sadia) e de Saul Brandalise (um dos fundadores do Grupo

Perdigão, juntamente com a família Ponzoni), seguindo os passos de comerciantes

gaúchos e paulistas, muitos dedicaram-se à atividade de intermediários, entre a

pequena produção mercantil e os mercados das cidades do centro-sul brasileiro

(ESPÍNDOLA, 1999).

Na década de 1930, as famílias Ponzoni e Brandalise estabeleceram um

pequeno comércio de secos e molhados, atividade comercial corriqueira na região

naquela época, com o nome de Ponzoni, Brandalise & Cia. - embrião do futuro Grupo

86

Perdigão -, na Vila das Perdizes atual município de Videira. Em 1939, a empresa iniciou

suas atividades industriais com um abatedouro de suínos, alcançando, em 1942, a

média de 100 animais abatidos diariamente (PERDIGÃO, 2006). Esse processo

difundido no meio-oeste e oeste catarinense seguiu os exemplos já ocorridos no norte

do Estado de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul (ESPÍNDOLA, 1999).

Destarte, os investimentos da empresa Ponzoni, Brandalise & Cia. começaram a

atingir também outros ramos e setores econômicos como o curtume no processamento

de peles suínas e o ramo madeireiro, atividade comum na região, principalmente na

extração e no processamento de araucária. Porém, a empresa se consolida na

atividade comercial e de processamento de suínos, direcionando seus investimentos

para a agropecuária, no segmento alimentício, com a construção da Granja Santa

Gema, em 1954, voltada à produção de animais suínos de “alta linhagem”, no então

município de Videira (este, criado em 01 de março de 1944) (PERDIGÃO, 2006).

Ainda nos anos de 1950 a empresa Perdigão S.A. Comércio e Indústria S.A.

iniciou suas atividades, também no abate de aves, em 1955, de forma artesanal, nas

dependências do frigorífico de suínos, chegando a uma produção média diária de 500

aves abatidas no ano de 1962. A produção era comercializada quase que em sua

totalidade em São Paulo (PERDIGÃO, 2006). Porém, o novo produto favorecia um

sistema de criação integrada com pequenos produtores rurais, devido ao aumento da

produção e à sua crescente demanda de consumo. Em 1966, esse sistema foi colocado

em prova com a engorda de lotes experimentais de 1,2 mil pintinhos, sendo apenas o

primeiro passo de um sistema que difundiu não somente com a empresa Perdigão

como com outros grupos agroindústrias, a Sadia, a Seara etc.

Desse modo, pelo avanço da biotecnologia e de aparatos infra-estruturais, o

início da automação do processamento de aves da Perdigão ocorre em 1968, com a

capacidade de abate que atingia aproximadamente 1,5 mil aves diariamente

(PERDIGÃO, 2006), somente em Videira. No início da década de 1970 a Perdigão

também passou a se dedicar à produção de ração animal, produto usado por ela

própria e por produtores integrados à criação de aves e de suínos para suprir parte da

alimentação na criação e engorda dos animais. Cria-se também, em Videira, o primeiro

abatedouro exclusivo de aves.

87

Entre os anos de 1975 e 1976 a Perdigão começou a exportar carne de frango,

sendo uma das pioneiras no Brasil, tendo na Arábia Saudita o primeiro mercado

consumidor externo. Passou a dedicar-se também à industrialização de soja e

derivados, ao esmagamento do grão, ao refino de óleo e à produção de farelo, matéria-

prima usada na produção da ração (PERDIGÃO, 2006). Até 1976, a Perdigão, com

uma diversificada linha de produção agroindustrial, restringia suas atividades industriais

somente a Videira.

Porém, no final da década de 1970, a Perdigão já era considerado um dos

maiores processadores de carne de frango do estado catarinense. A partir desse

mesmo período, passa a incorporar outras empresas menores em Santa Catarina,

agregando produção, capital e lucro. Nesse contexto, como já se sabe, a partir da

década de 1970, ocorreram grandes crises da suinocultura na Região Sul do Brasil e,

conseqüentemente, houve um processo de acumulação de capitais e as indústrias de

pequeno porte não tendo condições de competir tanto no mercado interno quanto

externo acabaram, em sua maioria, sendo incorporadas pelas grandes organizações

empresariais, como por exemplo a União Velosense de Frigorífico-Unifrico S.A., uma

empresa de abate e industrialização de suínos, em Salto Veloso (SC) que foi comprada

pela Perdigão em 1977.

Em 1979, a Perdigão incorpora a empresa Rações Pagnocelli S.A., localizada

em Catanduvas (SC). Naquele mesmo ano, com o objetivo de conquistar mais mercado

consumidor interno e, principalmente externo, aquela agroindústria passou a investir em

melhoramento genético de frango e criou a marca Chester20.

A década de 1980 iniciou também, com a incorporação de outras empresas

como a Agropecuária Confiança Ltda; o Comércio e Indústria Saulle Pagnocelli, ambas

situadas em Herval Velho (SC); a Indústria Reunidas Ouro S.A., como já se sabe,

20 A palavra Chester é uma derivação da palavra inglesa “chest” que significa “peito”, cuja característica da marca é aves com maior concentração de “carnes nobres”. Entretanto, a marca Chester é o resultado de uma pesquisa em laboratório de melhoramento genético que foi produzida a partir de uma ave tipo “Roater-Americano”, com o objetivo de desenvolver uma ave especial com 70% de suas carnes concentradas no peito e nas coxas, caracterizada como carnes nobres. A pesquisa durou aproximadamente um período de 15 anos, a qual trabalhou no aprimoramento do “Gallus-Gallus” . O pacote genético foi comprado pela empresa Perdigão de um grupo de pesquisadores especialistas em genética de aves dos Estados Unidos (PERDIGÃO, 2006; PERDIGÃO(a), 2006; BRANCHER, 1994).

88

localizada em Capinzal (SC), composta por um abatedouro de aves e uma unidade de

industrialização de suínos e granjas (PERDIGÃO, 2006). No decorrer da década de

1980 o Grupo Perdigão passou a atuar para além das fronteiras do estado catarinense,

adquirindo e criando outras unidades industriais no Rio Grande do Sul e em São Paulo.

Assim como, a partir da década de 1990, com novas e diversificadas linhas de

produção, ampliou suas unidades industriais e passou a comercializar com países

europeus e asiáticos, entre outros.

Nesse contexto, a tendência do ramo alimentar, entre as empresas

agroindustriais, a Perdigão, a Sadia, a Seara, entre outras, em 1949 já representava

33,8% da participação no valor total produzido pela indústria de transformação

catarinense, enquanto as agroindústrias gaúchas representavam 65,7%. Em 1970,

Santa Catarina representava 14,2% no ramo alimentar do Sul do Brasil e o Rio Grande

do Sul 54,4%. Em 1980, Santa Catarina representava 21,35% e o Rio Grande do Sul

38,30%. Portanto, a indústria alimentar catarinense apresentou ganhos de proporção na

Região Sul (ESPÍNDOLA, 1999, p. 27), cada vez mais se especializando,

principalmente a partir da década de 1980 com a expansão e incorporação da

produção.

O Oeste Catarinense é caracterizado, na economia nacional, o maior pólo de

frigorificação de carnes suínas e avícolas, por suas diversas unidades industriais.

Dentre as agroindústrias atuais destacam-se a Sadia, a Chapecó, a Seara e a

Perdigão, entre outras.

No entanto, recentemente, um problema influenciou parte da produção e

consumo de carne de aves, desestabilizando sócio-economicamente muitos países,

sobretudo, lugares que dependem do capital girado pela produção e comercialização

desse produto: o vírus da gripe aviária. O vírus Influenza Aviária21, assim chamado, não

21 A gripe das aves, popularmente conhecida, foi identificada pela primeira vez na Itália, há cerca de 100 anos. Acreditava-se que a gripe só infectava aves, até que os primeiros casos humanos foram detectados em Hong Kong em 1997. Recentemente, foi detectada em vários países da Ásia, a infecção da gripe em patos e galinhas, mas registraram-se também alguns casos de infecção de gripe das aves em seres humanos. Atualmente alguns países europeus e africanos também registram caso da infecção de aves em seres humanos. A gripe das aves é transmitida pelo contacto com as aves domésticas, aves infectadas ou com as excreções fecais destas aves, sendo ineficiente a transmissibilidade entre humanos. Os sintomas nos seres humanos infectados pelo vírus da gripe das aves são muito semelhantes os dos seres humanos infectados pela gripe humana. Todavia, com freqüência, a gripe das

89

será detalhadamente discutido neste trabalho por não ser o foco desta pesquisa, mas

merece um estudo a parte devido à sua complexidade. Dessa forma, para a

compreensão no contexto generalizado, a Influenza Aviária é uma doença causada pelo

vírus Influenza,

semelhante ao vírus que afeta os humanos e provoca a gripe. Só que os vírus aviários possuem características muito diferentes dos vírus que atingem os humanos. Os vírus aviários apresentam 16 subtipos, dos quais alguns são altamente patogênicos. O H5 e o H7 são os dois que caracterizam a gripe do frango. Nas aves, geralmente, a doença é devastadora, provocando lesões sérias nos sistemas respiratório, digestivo, nervoso e reprodutivo. Nos humanos, nos casos relatados até agora, a doença se manifesta como uma infecção pulmonar aguda. Mas em pelo caso dois casos, o vírus foi encontrado também no cérebro das vítimas. (BRENTANO, 2005).

Com essa problemática da Influenza Aviária, a estimativa é de que 2.500

empregos diretos e indiretos do setor agroindustrial de aves de Santa Catarina e do Rio

Grande do Sul tenham “desaparecido” por conta da doença das aves. Sabe-se que é

sabido o vírus H5N1, causador da gripe das aves não tem incidência no território

brasileiro, porém alguns dos principais importadores de carne de frango brasileiro, a

Europa e a Ásia, suspenderam temporariamente a comercialização desse produto com

o Brasil, temendo a possibilidade de contaminação também no Brasil (DIÁRIO

CATARINENSE, Jun/2006).

Esse problema atinge diretamente o grande capital e aqueles que dele

dependem, que são os fornecedores da matéria prima, os criadores das aves -

produtores rurais, em geral, que temem perder ou diminuir a produção -; os

funcionários das agroindústrias que receiam perder seu vínculo empregatício; outros

setores econômicos, como de transportes, serviços etc. que, de alguma forma, mantêm

laços econômicos com o setor agroindustrial de carnes, especificamente de aves e

podem, também, perder espaço.

aves por H5N1 no homem, manifesta-se por febre alta, pneumonia, insuficiência respiratória e, falência de diversos órgãos e conduz, até mesmo, à morte. (BRENTANO, 2005).

90

2.2.3 O Complexo Agro-industrial Avícola em Capinzal

A dinâmica sócio-espacial de Capinzal é reflexo da inserção de novos agentes

e/ou (re)direcionamento da economia local baseada na grande indústria de

processamento de carnes, especificamente o segmento de frango, representado pelo

Grupo Perdigão. A chegada do complexo agroindustrial em Capinzal, em 1980,

sobretudo do Grupo Perdigão desencadeou uma (re)organização do espaço, isto é, as

relações espaciais passaram a assumir novas realidades, consubstanciadas às

funcionalidades que também sofreram mudanças.

Portanto, quando a sociedade sofre mudanças de modo geral, sejam

econômicas, políticas ou culturais, de acordo com as idéias de Santos (1985), as

formas ou objetos geográficos, isto é, os objetos móveis e imóveis representados pelas

relações sócio-espaciais, que são os resultados da ação humana sobre o espaço,

assumem novas funções, um novo direcionamento e uma nova perspectiva de produzir

a vida no lugar. Isso, a partir de um processo contínuo, resultante da dinâmica social,

ou seja, a maneira de como a sociedade se organiza no espaço.

Desse modo, Corrêa (1986, p. 60) diz que a organização espacial é o “resultado

do trabalho humano acumulado ao longo do tempo”. No capitalismo a organização

espacial é realizada pela ação do Estado capitalista. Isto é, o capital e seu Estado são

os principais agentes organizadores do espaço (CORRÊA, 1986, p. 61) e ambos agem

em parceria. As grandes corporações capitalistas, como a Perdigão, são exemplos de

agentes promotores de mudanças e organizadores do espaço, que agem direta e/ou

indiretamente na vida social urbana e regional de lugares onde estão instaladas. Os

reflexos das mudanças em pequenas cidades são, na grande maioria, mais evidentes,

visto que a atuação desses grupos atinge a sociedade local, que vive em função e/ou

sob influência do grande capital, das corporações capitalistas.

Nessa perspectiva, a influência do grande capital em Capinzal, com a

implantação da agroindústria alimentar - o Grupo Perdigão -, a partir da década de

1980, manifesta não somente naquele município, mas também em municípios

circunvizinhos tais quais Ouro, Lacerdópolis e Zortéia, um outro dinamismo no

crescimento econômico, tornando-se um reflexo da urbanização e da industrialização

91

daquela região, representada pela transformação mais acentuada do espaço local.

Estabelecendo-se, desse modo, relações sócio-econômicas local e regional e,

conseqüentemente com o mundo.

Essas relações são a forma como se processa o território usado, o qual Santos

(1994, p.16) chama de “espaço humano, espaço habitado”, resultado da nova

construção do espaço e do novo funcionamento do território, que são as idéias de

“horizontalidades” e “verticalidades”. Essas são relações sociais estruturadas na

“combinação-tipo” dos modos de produção e aqueles articulados entre si (LIPIETZ,

1988, p.151).

As horizontalidades são os domínios da contigüidade, de lugares vizinhos

reunidos por uma conformidade territorial (SANTOS, 1994). Podem ser entre

comunidades locais; cidade e campo; municípios vizinhos; ramos de atividades

econômicas; relações de trabalho etc.

Esses aspectos de horizontalidades podem ser percebidos no objeto deste

estudo por meio das relações entre a cidade sede e sua hinterlândia, assim como entre

os municípios circunvizinhos Ouro e Zortéa, com os quais mantêm significativas

relações nos aspectos econômicos, culturais, históricos. Econômicos, porque boa parte

das indústrias, comércios e serviços estão localizados em Capinzal e atraem

populações vizinhas para o trabalho, o consumo e o lazer. Culturais e históricos, pelo

fato de fazerem parte do mesmo contexto de ocupação e de sua trajetória. Portanto, as

relações sócio-espaciais de Capinzal entre a cidade e o campo; os diferentes ramos de

atividades sócio-econômicas como agricultura, agropecuária, comércio alimentício,

imobiliário etc; comunidades locais e municípios circunvizinhos, caracterizam uma

cooperação e articulações mais limitadas, ou seja, o lócus, porém não menos

importantes, pois a partir de uma escala local e regional estabelecem-se relações que

podem ser verticais com outra(s) dimensão(es) escalar(es).

Nas verticalidades no entanto, a organização do território se apresenta com outro

sentido. Segundo Santos (1994), são formadas por pontos “descontínuos”, ligados por

todas as formas e processos sociais. São, por exemplo, desde a instância local até a

mundial, uma questão hierárquica de poder e dominação. Nesse caso o que tem mais

relevância é a política externa, o poder e as normas (SANTOS, 1994), que são criadas

92

intencionalmente como possibilidade de organizar territórios. São exemplos disso, os

que exploram e dominam e os explorados e dominados (LIPIETZ, 1988). As

verticalidades, por outro lado, são as conexões de lugares em rede, com diferentes

funcionalizações, ou seja, cada lugar com suas especificidades, mas ligados por algum

objetivo comum, o mercado.

As verticalidades se manifestam neste estudo por intermédio de relações e

integrações mais amplas, tanto geográfica quanto econômica e politicamente do lugar

com outros lugares, do lugar com outras regiões e do lugar com o mundo, por meio, por

exemplo e principalmente, do complexo agroindustrial Perdigão, veículo de integração

mais amplo, principalmente nas questões de produção e comercialização de

mercadorias.

A agroindústria mantém no local grande parcela de domínio econômico, de

produção, de serviço e de mercado. Mesmo que a produção de mercadorias em grande

parte seja em locus, a comercialização delas ultrapassa as fronteiras municipal,

estadual, nacional e continental. Além disso, a categoria verticalidade permite uma

compreensão nas articulações entre as diferentes classes socais e entre os que

dominam e os que obedecem no processo da produção do espaço urbano e regional de

Capinzal.

A verticalidade é mais um elemento (re)estruturador do espaço, sempre

vinculado às dinâmicas do capitalismo internacional. Nesse caso, torna-se conveniente

destacar o que Souza (1995, p. 78) diz, que o território “é fundamentalmente um espaço

definido e delimitado por e a partir de relações de poder”, ou seja, o poder econômico e

o de produção de mercadorias que, no caso, a agroindústria detém sendo reflexo,

também, de poder de decisão de como, quanto, onde, o que e para quem produzir,

além de estabelecer e definir relações, de certa forma, de domínio de produção com

produtores rurais, fornecedores de matéria-prima.

Assim, a partir da compreensão das diferenças entre horizontalidades e

verticalidades e suas possibilidades de interpretar como categorias que vêm se

articulando dinâmicas do lugar em Capinzal, Santos (2004, p. 284) nos diz que,

Enquanto as horizontalidades são, sobretudo, a fábrica da produção propriamente dita e o lócus de uma cooperação mais limitada, as verticalidades

93

dão, sobretudo, conta dos outros momentos da produção (circulação, distribuição, consumo), sendo o veículo de uma cooperação mais ampla, tanto econômica e politicamente, como geograficamente.

O território é o resultado desses desdobramentos e o papel do Estado é ser

agente organizador do espaço. As diferentes funções das instituições e dos centros de

poder político no desdobramento do espaço sócio-econômico são, segundo Lipietz

(1988), de assegurar as condições econômicas, políticas e ideológicas da reprodução

do capital de cada um dos modos de produção, bem como intervir para acelerar, inibir

ou até mesmo reverter os processos de articulação dos modos de produção co-

presentes na formação social. Esses elementos estão, também, presentes em Capinzal.

Assim, a atuação da agroindústria alimentar em Capinzal, principalmente a partir

dos anos de 1980 vem se pronunciando cada vez mais como uma potência econômica

local, horizontal e vertical. A sua atuação sócio-econômica, inicialmente, se configura

com uma pequena produção, se comparado atualmente. No início de suas atividades, a

empresa empregava uma média de 370 funcionários e, na ocasião, abatia

aproximadamente 7 mil frangos por dia, possuindo três integrados avícolas, com

6.870m² de aviários construídos. No início nos anos de 1990, o número de funcionários

aumentou consideravelmente, a empresa já abatia cerca de 260 mil frangos

diariamente e possuía 1.063 integrados cujos aviários ocupavam uma área de

1.142.926m². A produção mensal girava em torno de 9.300 toneladas, das quais 47%

eram exportadas para diversos países do Oriente Médio e da Europa, entre outros.

Naquele período, a empresa empregava 2.610 funcionários, habitantes de Capinzal e

de municípios como Ouro e Lacerdópolis (BRANCHER, 1994, p. 134-135).

A principal matéria-prima da Perdigão na unidade de Capinzal vem sendo

frangos para o abate. Do total de frangos abatidos no início dos anos de 1990, 7%

destes eram fornecidos pelos integrados situados em Capinzal e os demais vinham de

outros municípios (BRANCHER, 1994), tais quais Piratuba, Ipira, Ouro, Lacerdópolis,

Campos Novos, entre outros, além do Estado do Rio Grande do Sul, dos municípios de

Machadinho, Cacique Doble etc.

Atualmente, a unidade de Capinzal da Perdigão abate aproximadamente 430 mil

aves diariamente, possui em torno de 1550 integrados e 2383 aviários cadastrados,

94

com 2.265.600m² de área construída, localizados em Capinzal, Ouro, Zortéa,

Lacerdópolis, Ipira, Piratuba, Campos Novos, Joaçaba, Água Doce, entre outros, além

dos municípios gaúchos de Machadinho, Pain Filho, Cacique Doble, Maximiliano de

Almeida etc. (Quadro 07) (BONATO, 2005), ampliando e intensificando

consideravelmente a sua área de atuação. Ela emprega aproximadamente 5.600

funcionários, oriundos também de Ipira, Piratuba, Lacerdópolis, Ouro, Zortéa, Herval

D’Oeste e, principalmente, de Capinzal, Santa Catarina. Grande parte dos funcionários

também se desloca dos municípios gaúchos de São José do Ouro, Barracão,

Machadinho, Maximiliano de Almeida, Pain Filho, Sananduva e Viaduto, para compor

os recursos humanos da empresa22 (BONATO, 2005).

Em 2006, portanto, por conta da queda nas exportações de frango e,

conseqüentemente, pela diminuição na produção em decorrência da gripe aviária, a

Perdigão, unidade de Capinzal, deu férias coletivas no mês de maio a 1200

funcionários, assim como as agroindústrias Aurora e Seara também o fizeram além de

demitir alguns de seus funcionários (AVICULTURA INDUSTRIAL, 2006). Em Capinzal,

portanto, não houve redução no quadro de funcionários, apenas férias coletivas para o

terceiro turno de abate23, tendo em vista que a indústria trabalha com três turnos diários

naquele setor.

Contudo, a atuação das grandes corporações, como o Grupo Perdigão,

independente do lugar que se estabeleça, cria, de certa forma, vínculo com a população

local de modo geral, como em Capinzal, mas isso não garante sua permanência efetiva.

O seu maior interesse, óbvia e exclusivamente, é produzir e comercializar mercadoria,

com expectativas de ganhos, o lucro. Ser um organizador e articulador do território ou

um desarticulador e desestruturador que é indiferente na concepção capitalista, visto

que, enquanto o lugar for um ponto estratégico e de possibilidades, sua permanência

está garantida.

Nesse contexto, como o lugar não é uma garantia de permanência da

produção industrial, a linha Chester, do Grupo Perdigão, que até recentemente, em

2006, era produzida na unidade Capinzal, foi transferida para a unidade de Mineiros,

22 O transporte dos funcionários é de responsabilidade da empresa Perdigão, que é terceirizado. 23 Informação fornecida pela empresa Perdigão (05 jul. 2006).

95

em Goiás, devido à viabilização de custos com a matéria-prima e à logística de

distribuição. Sendo assim, os principais tipos de frangos abatidos na unidade Capinzal

são, atualmente, o Frangão (macho especial), a Fêmea especial e o Frango Misto.

Quadro 07 - Número de aviários e de integrados que possuem vínculo na produção de frango com a Perdigão, unidade Capinzal, por municípios dos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

Municípios de Santa Catarina Nº de Aviários Nº de Integrados Água Doce 109 77 Campos Novos 28 16 Capinzal 390 211 Catanduvas 75 45 Luzerna 110 72 Erval Velho 45 27 Herval D´Óeste 97 66 Ibicaré 57 40 Ipira 145 88 Irani 17 15 Jaborá 109 75 Zortéa 22 11 Ibiran 13 7 Joaçaba 226 154 Lacerdópolis 112 69 Ouro 367 232 Piratuba 68 45 Presidente Castelo Branco 12 9 Treze Tílias 50 35 Vargem Bonita 110 72 Agrolândia 3 2 Braço do Trombudo 4 2 Laurentino 2 1 Mirim Doce 12 9 Pouso Redondo 7 6 Rio do Campo 11 11 Salete 35 27 Taió 83 68 Trombudo Central 2 1 Sub Total 2.321 1.493Municípios do Rio Grande do Sul Nº de Aviários Nº de Integrados Cacique Doble 7 6 Machadinho 39 29 Maximiliano de Almeida 4 4 Paim Filho 15 13 São João da Urtiga 4 4 São José do Ouro 3 3 Sub Total 72 59 Total 2.393 1.552 Fonte: Dados fornecidos pelo funcionário da Perdigão Agroindustrial, unidade Capinzal, Ivanir Bonato (08 set. de 2005).

96

3. CAPINZAL: A DINÂMICA TERRITORIAL E AS RELAÇÕES LOCAIS E REGIONAIS

3.1 O ESPAÇO RURAL: ANTECEDENTES NA/DA GÊNESE DO LUGAR

A prática da agricultura e o trabalho na terra é, certamente, a atividade

econômica mais antiga da sociedade e vem se desenvolvendo desde os povos

coletores até os dias atuais, sempre com novas técnicas e meios de produção.

A vida agrícola é composta não somente do trabalho da terra, mas também da

exploração de vegetais espontâneos, isto é, do extrativismo vegetal (FERREIRA, 2002).

Esse conjunto de atividades somado à prática da pecuária resulta no espaço rural, onde

muitos homens, por meio do trabalho, vêm praticando a sua sobrevivência.

Neste contexto, de acordo com Ferreira (2002), até as décadas de 1930-1940, a

atividade econômica hegemônica era a agricultura. Portanto, a partir de 1950, o

desenvolvimento do sistema urbano-industrial e a concretização da Divisão Social do

Trabalho colocaram a cidade e a indústria como precursores de uma nova realidade

econômica.

Assim, a agricultura, de hegemônica passou a ser coadjuvante num sistema

econômico constituído por muitos elementos ou partes. Nesse contexto, a agricultura é

uma delas, sendo um campo de estudo pelo qual a geografia também se interessa em

estudar, por intermédio das relações sócio-espaciais, tanto nos aspectos econômicos

quanto sociais, enfim, inúmeras formas de interesses para entender o mundo agrário.

Assim, o “mundo agrário”, numa análise geográfica, é uma tentativa de explicar

paisagens e modos de vidas rurais por meio dos sistemas agrícolas e de sua evolução.

Esses sistemas caracterizam o habitat, tendo como condicionantes fatores físicos e

trabalho humano.

No contexto agrário brasileiro, a estrutura fundiária no período colonial surgiu sob

o signo de grandes propriedades rurais, o latifúndio. Isto é, dos títulos de domínio, da

natureza da posse e da forma de administração, grandes extensões de terras

concentradas e exploradas por poucos proprietários. Passado alguns séculos, esse tipo

97

de estrutura não sofreu significativas mudanças em determinados lugares,

principalmente no Nordeste e no Centro-oeste brasileiros, pois a concentração fundiária

agravou-se, devido à intensificação do êxodo rural, a partir, principalmente, da década

de 1970, por meio da expulsão em massa dos parceiros, colonos e assalariados de

suas terras e/ou do meio rural onde produziam suas vidas, por falta de uma política

agrícola que fosse ao encontro das necessidades para mantê-los no campo.

O resultado disso é a aglomeração de pessoas em centros urbanos, em busca

de emprego, principalmente nas indústrias que começavam a se fortalecer cada vez

mais. Essa realidade vem se refletindo também em cidades como Capinzal, que

absorve boa parte da população vinda do campo para produzir o trabalho e deste o seu

sustento, em particular, na indústria.

3.2 ASPECTOS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO RURAL CAPINZALENSE

A atividade rural em Capinzal desde a vinda dos primeiros colonizadores, no

início do século XX, pode ser contada a partir de relatos de antigos moradores que dão

idéia de como a prática e o uso do solo rural vêm sendo utilizados de forma a

produzirem seu sustento. São olhares e vivências de pessoas como os Srs. Névio

Lanhi, Omar S. de Araújo, Osmar S. de Avila, entre outros, que procurou-se “costurar” e

reconstituir, em partes, a (re)produção e suas transformações do espaço rural de

Capinzal.

Nesse contexto, ascendentes de Lanhi (2006)24 vindos do Rio Grande do Sul,

em 1912, foram uma das primeiras famílias a fixar moradia e a praticar atividade voltada

à agricultura, com o objetivo de desbravar um novo lugar, com novas expectativas e

perspectivas de produzir o sustento familiar em Capinzal. Aquela família se estabeleceu

onde hoje é a Vila Sete de Julho, e alguns descendentes, assim como ele, ainda

residem naquele lugar. Muitos deles com outras atividades econômicas, como

comerciários, bancários e, na própria atividade agropecuária.

24 Lanhi tem 74 anos de idade, aposentado como agricultor. Nasceu e vive até os dias atuais em Capinzal, na atual Vila Sete de Julho, localidade considerada, atualmente, parte do perímetro urbano daquele município. Diz o Sr. Névio: “minha mãe veio de Bento Gonçalves e meu pai com 6 anos de idade, veio de Antonio Prado, Rio Grande do Sul (....) vieram com a família.”

98

Inicialmente, a atividade desenvolvida por sua família foi cultivar um parreiral e

produzir vinhos, juntamente com o cultivo principalmente de milho, além da mandioca,

dentre outras culturas - atividades comuns entre os primeiros colonos (LANHI, 2006).

A família, com o intuito de aumentar a produtividade, tão logo se estabeleceu, adquiriu

um terreno de “uma colônia de terras”, correspondente a 10 alqueires que, “na época,

era tudo sertão, mata, pinheiral” (LANHI, 2006). De acordo com Lanhi (2006) e com os

demais entrevistados aqueles foram tempos muito difíceis, mas tudo o que se plantava,

se produzia. Em qualquer pedaço de chão era possível produzir o sustento familiar. Isso

se deve ao fato de a terra até aquele momento não ter sofrido com a erosão pelo

desmatamento, nem com o uso de fertilizantes, agrotóxicos, entre outros produtos

nocivos.

Passado algum tempo, a família Lanhi adquiriu mais 04 colônias, correspondente

a 40 alqueires de terras, agregando a que já possuía, e posteriormente agregaram mais

uma colônia, 10 alqueires, constituindo um total de 60 alqueires de terras férteis e

praticamente toda coberta por mata, principalmente araucária. Intensificou assim, a

atividade agrícola no cultivo do milho, feijão, mandioca, amendoim, alfafa, além de

criação de bovinos, suínos, aves caipiras, entre outros. A produção era tanto para o

consumo próprio familiar, a qual era numerosa, quanto para comercialização local no

caso do excedente.

Dentre as questões por nós levantadas, uma delas foi considerada relevante

para a compreensão das alterações sócio-espaciais em Capinzal. Perguntou-se sobre a

sua opinião em relação às principais mudanças observadas por ele e sua família25 ao

longo dos anos em Capinzal. Em resposta objetiva, ele diz:

As mudanças são muito grandes daquela época pra hoje. Porque naquela época só existia serviço na agricultura e hoje tem outras opções. Tem empresas/indústrias e isso mudou muito, até mesmo o sistema de vida mudou muito. Naquela época era tudo mais simples e hoje é bem mais modernizado. (LANHI, 2006).

Essas suas explanações expressam uma certa satisfação de ver que houve

muitas mudanças significativas e se tornou bem mais fácil produzir a vida, pois 25 A entrevista ocorreu juntamente com sua esposa e alguns filhos, os quais participaram de forma conjunta na argumentação das respostas.

99

atualmente há mais opções tanto de trabalho quanto de lazer. As oportunidades de

trabalho foram aparecendo e se diversificando conforme novas inserções de atividades

econômicas, principalmente industriais, se pronunciavam, e a população residente

também aumentava gradativamente de número, criando outras necessidades de

maneira a garantir sobrevivência.

Em seguida, perguntou-se se hoje é melhor viver na agricultura do que

anteriormente. Ele responde pensativo:

[...] antes era melhor. Hoje, se vive mais fácil, só que é mais difícil na agricultura, porque os insumos agrícolas são muito caros e quase não dá para utilizar, pois a colheita não compensa para pagar os insumos. Hoje é mais difícil, eu acho! Naquela época não era necessário adubo, a terra era boa, forte, dava tudo o que se plantava e, hoje a terra já está mais usada, mais fraca e precisa de adubo. Só que é um negócio muito caro e se torna bem mais difícil para viver. (LANHI, 2006).

Essas situações apresentadas por Lanhi (2006), são quase que unânimes por

todos os entrevistados para esta pesquisa, que vivem e/ou viveram da atividade

agrícola naquela região. Quando na sua fala ele diz que a terra era boa e mais forte,

isso é pelo fato de que naquela região de Capinzal, assim como o meio-oeste

catarinense até o início da ocupação efetiva a terra ainda tinha uso incipiente. Era

coberta quase que totalmente por vegetação nativa, sem uso de produtos químicos,

entre outros aspectos que favorecessem a degradação do solo. Neste contexto, outros

entrevistados como Omar Araújo26, cuja família, pais e irmãos, originária de Monte

Negro, Rio Grande Sul, que veio estabelecer residência em Capinzal em 1939, na atual

localidade de Barro Branco27, com o objetivo de também desbravar novas terras, férteis

e produtivas, compartilha da mesma idéia de Lanhi.

A família Araújo, portanto teve, inicialmente, nas suas principais atividades

agrícolas desenvolvidas, a cultura do milho, do feijão e da cana-de-açúcar. Em seguida

agregou-se, também, a produção do açúcar mascavo e da farinha da mandioca, cuja

comercialização dos produtos manufaturados era feita na sua maioria em Piratuba, via 26 Tem 79 anos de idade. É aposentado como agricultor. Reside na atual localidade de Barro Branco, ao sudoeste do município de Capinzal (divisa com o Estado do Rio Grande do Sul), desde sua vinda com familiares para estabelecer residência naquele município. 27 Naquela localidade, as terras eram, inicialmente, de propriedade do Lopes, dos quais a família procedeu a compra de parte delas.

100

estrada de ferro. Produção exclusivamente familiar. Nas palavras de Araújo (2006), “na

época era essa atividade que tinha para fazer, pois valia mais a pena”, dava mais

retorno financeiro e garantia o sustento familiar. Ainda, no seu relato, diz que naquela

localidade de Barro Branco e entorno como de Barro Preto, de Nova Beleza era tudo

mata, o solo muito fértil, qualquer coisa se reproduzia na agricultura.

Com o passar dos anos os filhos foram crescendo e se tornando independentes

e, alguns deles, procuraram outras atividades econômicas e/ou até mesmo foram

produzir suas vidas em outros lugares. Atualmente, Araújo (2006), juntamente com sua

esposa, pratica apenas a cultura do milho e cria alguns animais como suínos, bovinos e

aves caipiras, mas apenas para o sustento familiar. Diz não valer mais a pena o cultivo

agrícola para a comercialização, nem mesmo a produção do açúcar mascavo e da

farinha da mandioca. Por se tornar uma prática de custo elevado, é melhor não realizar,

diz Araújo (2006).

Ainda, dentre as suas colocações, além da prática agrícola ter custo elevado,

Araújo (2006) se reporta também à questão climática e à fragilidade do solo. Diz ele, “o

clima mudou muito e, por isso, não se produz quase nada”. Isso é, devido às freqüentes

e longas temporadas de secas, a cultura agrícola tem prejuízos significativos,

repercutindo no dia-a-dia da vida de agricultores como ele. Outro agravante também

exposto por Araújo (2006) é a questão do uso de adubos e produtos químicos, sem os

quais não é possível obter resultado positivo de colheita, devido ao brusco

enfraquecimento do solo28.

Outra entrevista também complementar à construção desta pesquisa deu-se com

o Sr. Osmar Avila29, cuja família, pais e irmãos é originária de Monte Negro, Estado do

Rio Grande do Sul. A família Avila se estabeleceu, inicialmente, em 1928, no atual

município de Piratuba, mudando-se para Capinzal em 1952. A família a se estabeleceu

no município de Piratuba motivada pelo fato de parentes já estarem fixados na região e,

28 O enfraquecimento do solo vem ocorrendo principalmente pelo fato do excessivo uso de produtos químicos e a falta de um período de descanso entre uma safra e outra. Essa, é uma prática comum em quase todas as áreas agrícolas de Capinzal, assim como no Oeste Catarinense. 29 Tem 60 anos de idade. Veio aos 6 anos residir juntamente com familiares na atual localidade Barro Branco, Município de Capinzal, onde reside até hoje. A entrevista foi realizada juntamente com a sua família, cujas respostas foram construídas em conjunto.

101

principalmente porque, em Monte Negro, “na agricultura não se produzia mais nada”,

afirma Avila (2006).

Dessa forma, via-se, então, na região oeste de Santa Catarina, uma nova

perspectiva de continuarem as atividades agrícolas, porém, num “novo lugar” de terras

férteis e produtivas. Outros motivos contribuíram para que a família passasse a residir

em Capinzal, entre eles a possibilidade de comprar um terreno e de exercer a atividade

que dominavam, a agricultura. Inicialmente, a principal atividade foi o cultivo da

mandioca concomitante à produção da farinha. Era uma atividade que “dava mais lucro

e havia a possibilidade de vender a produção ao comércio em Piratuba e até mesmo

para outros Estados”, inclusive para o Rio Grande do Sul. Posteriormente, há

aproximadamente 35 anos, a família passou à produção de grãos como milho, soja,

feijão e a atividade pecuária, principalmente na produção de suínos. Mais

recentemente, há 6 anos, além da atividade de grãos e de suínos, passou também a

produzir frangos, cuja comercialização vem sendo com a empresa Perdigão por

intermédio do sistema de integração, que é a principal atividade atualmente.

Na sua fala, Avila (2006) diz que “na lavoura não dá lucro mais, devido o alto

custo da produção e os longos períodos de seca” que vem assolando aquela região.

Esse fenômeno da seca vem desestimulando de forma generalizada os produtores

rurais, os quais não vêem mais perspectivas no meio rural.

Em outras palavras, Avila (2005) argumenta que dentre vários aspectos

[...] trabalhar na agricultura com plantio não garante renda fixa, arriscando perder toda a produção ou parte dela com secas ou com o excesso de chuva. Falta, ainda, incentivo por parte do governo com financiamentos compatíveis para a produção, falta de acompanhamento técnico permanente, além do custo muito elevado dos insumos agrícolas como sementes, adubos, produtos químicos. [....]. Enfim, na agricultura hoje o investimento é muito alto e em 3 ou 4 anos os maquinários utilizados no processo produtivo se tornam ineficazes. Sem contar que a safra que é apenas uma vez por anos, e assim a entrada de dinheiro também ocorre uma vez no ano. (AVILA, 2005).

Sobre as estiagens em Santa Catarina, esse fenômeno vem ocorrendo

freqüentemente e causando prejuízos na agricultura, uma das variáveis que influencia

em parte o êxodo rural. Desse modo, a exemplo da estiagem que recentemente vem

repercutindo na agricultura catarinense, a qual a partir de novembro de 2005, alguns

102

municípios do Planalto, meio-oeste, oeste e o Vale do Itajaí catarinense, começaram a

decretar situação de emergência em virtude da falta de chuva.

A estiagem nas regiões do meio-oeste e oeste catarinense causou prejuízo de

aproximadamente R$ 371,8 milhões no setor agropecuário (ACAYABA, 2006). Segundo

informações fornecidas à imprensa pela Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento

Rural, a produção de milho foi a que mais registrou perdas na safra 2005/2006, com um

total de 1,007 milhão de toneladas, o equivalente a R$ 251,8 milhões. Isso representa

cerca de 25% total da produção. (ACAYABA, 2006; DIÁRIO CATARINENSE, 2006).

Entre novembro de 2005 e janeiro de 2006, período da safra do milho, a estiagem se

prolongou por mais tempo comprometendo principalmente todas as lavouras de milho

no meio-oeste e oeste. Mesmo com a interrupção da estiagem, que salvou a safra da

soja no final de março de 2006 (DIÁRIO CATARINENSE, 2006), em abril grande parte

dos produtores rurais naquelas regiões foram atormentados pela volta da estiagem,

agora repercutindo também na pastagem do gado leiteiro. Certamente a falta de chuva

impossibilitou o crescimento do pasto e fez com que os agricultores alimentassem o

gado com milho moído. Essas forragens, assim como é chamado o milho moído,

deveriam ser utilizadas nos meses de julho e agosto, quando o frio é mais intenso e a

pastagem é escassa (ACAYABA, 2006).

São, dentre outras questões, as estiagens que vêm freqüentemente dizimando

lavouras inteiras de culturas agrícolas e desestimulando agricultores, principalmente os

jovens do meio-oeste catarinense e de Capinzal, a permanecerem na atividade rural.

Em Capinzal, as perdas da produção de culturas como milho, feijão e soja

(Quadro 08) representam 60, 50 e 20 %, respectivamente, em virtude da estiagem,

fenômeno responsável pela diminuição da produção de leite e perda de peso de

bovinos de corte, que tiveram uma produção de 35 e 25 % menor do que deveria ser.

Quadro 08 - Estimativa das perdas de produtos agrícolas causadas pela estiagem na

safra 2005/2006 no município de Capinzal-SC Cultura/Criação Área plantada Produção esperada Produção a obter Perdas (%) Milho 2.800 há 15.120 toneladas 6.048 toneladas 60 Feijão 140 há 259,2 toneladas 129,6 toneladas 50 Soja 3.200 há 8.640 toneladas 6.912 toneladas 20 Leite - - 136.500 litros 35 Bovino para corte - - 71.000 Kg 25 Fonte: EPAGRI, 01/2006.

103

3.2.1 A estrutura agrária e as principais atividades agropecuárias De acordo com o censo demográfico do IBGE de 2000, a região oeste de Santa

Catarina contava com uma população total de 1,1 milhão de habitantes residentes,

sendo que desse total, 414.150 eram residentes no meio rural, o equivalente a

aproximadamente 37% do total da população da região, assim como também quase

37% em relação à população rural do estado catarinense. Neste contexto, a micro-

região de Joaçaba, onde Capinzal está inserido30, contava com um total de 304.043

habitantes e, desses, 79.730 eram do meio rural, aproximadamente 26% da população

total. No município de Capinzal, o total da população residente em 2000 era de 19.955,

dos quais 4.495 residiam no meio rural, isto é, menos de 1% da população residente no

campo em relação à micro-região de Joaçaba (IBGE, 2002).

A população rural residente de Capinzal diminuiu significativamente se

comparado os dados de 1991 para 2000, pois de 13.694 habitantes em 1991, 4.336

eram rurais, o equivalente a quase 32%. Em 2000, habitavam o meio rural menos de

22% da população residente naquele município (IBGE, 1991; 2002). Desse modo, nota-

se que a população rural, em termos percentuais, é menor em relação a micro-região

de Joaçaba e do oeste catarinense. O abandono do campo ocorre, principalmente pelos

jovens, que vão a busca de trabalho fora do meio rural, principalmente na indústria.

Em termos de estrutura fundiária, as propriedades que fazem parte do meio rural

em Capinzal tinham, em 1995, um total de 515 estabelecimentos rurais (Quadro 09).

Deste total, quase 50% eram propriedades menores que 10ha, e mais de 71% menores

que 20ha. Entretanto, o total de propriedades menores que 50ha equivalem a quase

90% dos estabelecimentos rurais, isso quer dizer que os outros 10% estavam

distribuídos entre as propriedades de 50 a 500 ou mais hectares, um número

relativamente pequeno. Sendo que apenas 04 proprietários eram donos de

propriedades de 500 ou mais hectares.

Neste contexto da estrutura agrária de Capinzal, a condição do produtor rural,

isso é, o enquadramento dos estabelecimentos rurais, segundo as condições de posse

da terra de acordo com as principais categorias, tais como: terras próprias, que são os

30 De acordo com as definições do IBGE.

104

estabelecimentos de propriedade do produtor; terras arrendadas, são aquelas áreas do

estabelecimento de propriedades de terceiros, mas que são exploradas pelo produtor

rural, mediante pagamento de uma quantia fixa previamente combinada, em dinheiro ou

sua equivalência em produtos; terras em parceria, são as áreas do estabelecimento de

propriedade de terceiros, e que são exploradas pelo produtor mediante pagamento de

uma parte da produção (meia, terça, quarta etc) previamente estabelecida entre as

partes; e as terras ocupadas são aquelas áreas do estabelecimento também

pertencentes a terceiros, podendo ser públicas ou privadas, pelas quais o produtor

nada paga por seu uso de ocupação, posse ou cessão (SANTA CATARINA, 2005).

Quadro 09 - Estrutura fundiária de Capinzal em 1995

Tamanho das propriedades No de estabelecimentos % de estabelecimentosMenos de 10 ha 254 49,33 10 a menos de 20 ha 113 21,95 20 a menos de 50 ha 94 18,25 50 a menos de 100 ha 33 6,5 100 a menos de 500 ha 17 3,3 500 há ou mais 4 0,77 Total 515 100

Fonte: SANTA CATARINA, 2003. Dados preparados por esta autora. Dessa forma, dados de 1995-1996 em relação a 2002-2003 apontam que houve

um acréscimo de 184 estabelecimentos rurais. Portanto, a condição do produtor rural

em Capinzal em 2002-2003 (Quadro 10), nas principais categorias acima referenciadas,

está classificada de forma que aproximadamente 92% são proprietários, porém do total

de 643 proprietários, 52 não possuem título de posse de suas terras (SANTA

CATARINA, 2005), mas juntos, classificados como proprietários, somam uma

porcentagem de quase 87% do total da área rural com estabelecimentos; na condição

de arrendatário, não chega a 1%, o equivalente a pouco mais de 1% do total da área de

estabelecimentos rurais; e os demais, entre parceiros e ocupantes também

representam uma pequena minoria, que não atinge 0,5%.

Essas condições do produtor rural sugerem que a maioria são proprietários rurais

visto que por se tratar de custos elevados para produção e pelas condições climáticas

que por vezes não colaboram, não vale a pena cultivar a terra nas referidas condições,

principalmente de arrendatários e parceiros, pois há o risco de não obtenção de

105

resultados positivos da produção que, além de ter prejuízos tem que pagar o

arrendamento e/ou parceria, dependendo da forma e pagamento estabelecidos em

contrato.

Quadro 10 - Condição do Produtor Rural em Capinzal em 2002-2003

Condição do Produtor Número de Estabelecimentos Área (ha)

Proprietário 643 24.091,9 Arrendatário 46 3.329,5 Parceiro 3 178,3 Ocupante 7 159,0 Total 699 27.758,7

Fonte: SANTA CATARINA, 2005 Dados preparados por esta autora.

Quanto às atividades desenvolvidas no campo pelos produtores rurais, as

principais que vêm se desenvolvendo são, entre elas, a pecuária de aves, bovinos,

suínos e produção de leite (Quadro 11). Sendo que a produção de bovinos, suínos e

aves sempre foram as atividades de maior significância nesse segmento (vide Quadro

2). Quanto à produção de leite, há alguns produtores, a exemplo de Zenaro (2006), que

mantêm vínculo de comercialização com empresas como a Copérdia, de Concórdia,

cuja produção e entrega diária é de 150 litros. Outros laticínios, a Tirol, de Treze Tílias,

a Elegê que faz parte do grupo Avipal e tem um posto de recebimento e resfriamento

em Capinzal, também atuam naquela região.

Quadro 11 - Produção pecuária no Município de Capinzal em 2003 Tipo Quantidade

Bovinos 17.600 cabeças (efetivos) Suínos 29.900 cabeças (efetivos) Aves (galinha, galo, frango(a), pinto) 2.680.400 cabeças (efetivos) Eqüinos 330 cabeças (efetivos) Ovinos 700 cabeças (efetivos) Caprinos 152 cabeças (efetivos) Vacas ordenhadas 2.400 cabeças (efetivos) Leite de vaca 4.824 mil litros/dia (média) Mel de abelha 7.300 Kg Ovos de galinha 7.639 mil dúzias

Fonte: IBGE - Produção da Pecuária Municipal, 2003. Dados preparados por esta autora.

106

Na agricultura de produção permanente, atualmente, as principais são a cultura

da laranja, pêssego e uva, cujo valor produzido em 2003 foi de R$ 136.000,00, com

aproximadamente 396 toneladas (IBGE, 2003) (Quadro 12). E, na produção agrícola

temporária, as culturas que vêm se destacando são do milho, da soja e do trigo,

respectivamente, seguidas por produtos, como feijão, aveia e arroz (Quadro 13). A

produção temporária apresentou em 2003, aproximadamente 40.000 toneladas dentre

esses produtos acima especificados, com um valor total de produção de R$

14.164.000,00.

Quadro 12 - Produção de laranja, pêssego e uva no Município de Capinzal em 2003

Tipo

Quantidade produzida em

toneladas

Área plantada

(ha)

Área colhida

(ha)

Rendimento médio (kg/ha)

Valor da produção (R$)

Laranja 216 18 18 12.000 4.000 Pêssego 120 15 15 8.000 84.000 Uva 60 5 5 12.000 48.000

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2003. Dados preparados por esta autora. Quadro 13 - Produção das principais culturas agrícola no Município de Capinzal em 2003

Tipo Quantidade produzida (tonelada)

Área plantada

(ha)

Área colhida

(ha)

Rendimento médio (Kg/ha)

Valor da produção (1.000 - R$)

Arroz 270 90 90 3.000 119 Aveia 840 700 500 1.200 168 Feijão 435 300 300 1.450 471 Milho 24.000 4.000 4.000 6.000 6.192 Soja 10.710 3.500 3.500 3.060 6.062 Trigo 3.840 1.600 1.600 2.400 1.152

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal, 2003. Dados preparados por esta autora. Apesar de Capinzal apresentar uma produção significativa no setor agropecuário,

o destaque das atividades é na produção de aves/frangos para corte, cuja atividade

está extremamente vinculada à agroindústria Perdigão, com 211 produtores integrados

ao sistema e 390 aviários instalados no interior daquele município. Essa tendência vem

cada vez mais se fortalecendo pelo “sistema de integração” produtor rural e

agroindústria.

107

3.2. 2 A relação entre o produtor rural/avicultor e a agro-indústria

Muitas famílias agricultoras, atualmente, dependem das empresas e indústrias

para garantirem seus sustentos. A principal relação entre os produtores rurais e a

agroindústria Perdigão em Capinzal, no momento, é por meio do sistema de integração

na engorda de frangos para o abate. Uma parcela significativa dos produtores rurais

também comercializa parte da produção de milho e soja com aquela indústria, no caso

do cultivo desses produtos.

Nas condições do sistema de integração, há produtores rurais que estão certos

de que a melhor alternativa para o agricultor atualmente é a atividade avícola. Nas

palavras de Araújo (2005) ele diz que “a salvação do agricultor é a avicultura”, pois é a

atividade que ainda dá mais retorno financeiro. Dessa forma, é possível em um lote de

frangos, cujo alojamento seja entre 12.000 e 14.000 mil pintos em uma área de 1200m²

(Fotos 06 e 07), que é o tamanho padrão atualmente daquela empresa, se tudo ocorrer

bem durante a criação dos mesmos, obter-se um lucro entre 50 e 70%. Isso é, se o

valor bruto, por exemplo, der em torno de R$ 6.000,00, o que facilmente ocorre, o

produtor poderá receber o valor líquido de até R$ 4.200,00. As despesas periódicas são

basicamente com energia elétrica, gás, maravalha e lenha que são por conta do

produtor e, mais a conversão alimentar e outras despesas de carregamento e

transporte das aves etc., que já são descontadas pela empresa (BASEI, 2006; AVILA,

2006; ARAUJO, 2005).

No anexo 02, é possível ter uma idéia dos indicadores técnicos, como metas a

serem alcançadas pelo integrado, resultado do lote, área do aviário, aves alojadas,

aves abatidas, ração consumida, entre outros, além de dados sobre a remuneração ao

produtor. Nesse caso, a remuneração mínima é de R$ 1.050,00, ou seja, mesmo que o

produtor não alcance a meta proposta pela empresa ou ocorra algum problema, como

grande quantidade de mortalidade ou peso reduzido das aves, ele não deixa de

receber. Obviamente se o problema se repetir, o produtor pode ser excluído do sistema

de integração, caso seja provada a falta de cuidados. Assim, nos dizeres de Scapini

(2006), “o ganho é seguro, dando lote bom ou ruim, faça chuva ou faça sol, ou caia

pedra, a gente recebe” ao contrário da lavoura, que depende das condições climáticas

108

e de preços bons na hora da comercialização dos produtos. Há “segurança no sistema

de parceria, o ganho é garantido, mesmo que ocorra seca, o retorno financeiro é

garantido”, diz outro produtor. Pois “se fechar a Perdigão passaremos fome.”

(TEIXEIRA, 2006).

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 06 – Alojamento de frangos há 3 dias antes do abate

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 07 – Vista parcial de aviário no interior do município de Capinzal

Nesse contexto, parte dos produtores rurais que estão no sistema de integração

associa também essa atividade a um outro fator que se torna viável muitas vezes, que é

109

o aproveitamento do adubo produzido nos aviários e serve para abastecer as lavouras.

De acordo com Araújo (2005), “a principal vantagem de ser integrado é a questão

financeira, que vale a pena pelo retorno mais rápido e certo, em segundo lugar é o

aproveitamento do adubo para lavouras de milho” que ele e sua família produzem e

comercializam. Em alguns casos, quando o avicultor não utiliza o adubo em sua

propriedade, ele vende para outros produtores rurais ou compradores intermediários,

não somente em Capinzal como também em municípios vizinhos e até mesmo no Rio

Grande do Sul.

Durante o acompanhamento da retirada de aves de um aviário, observou-se que

o trabalho de carregamento delas mesmas ocorre por intermédio de equipes

especializadas de empresas terceirizadas pela Perdigão (Fotos 08, 09, 10 e 11), como

a Linger, situada em Joaçaba e que atua em Capinzal. As equipes de carregamento

são normalmente de 12 pessoas31. Quanto ao pagamento desse tipo de trabalho, parte

é de responsabilidade do produtor, cujo pagamento vem descontado no final de cada

lote, na nota fiscal e, outra parte é de responsabilidade da agroindústria. Assim como,

no processo de transporte da ração e das aves, existem também empresas que

prestam esses tipos de serviços.

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 08 – Aves com 45 dias de idade

31 Esse procedimento é preferido por boa parte dos avicultores, pelo fato de não haver necessidade de se preocupar em arrumar mão-de-obra toda vez que sai um lote de frangos, que muitas vezes é difícil conseguir.

110

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006 - Foto 09

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006 - Foto 10

Fotos 09 e 10 – Carregamento das aves em gaiolas pela equipe responsável

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 11 – Carregamento das aves no caminhão para serem transportadas até a unidade industrial de abate

111

Esse sistema de integração entre o produtor rural e a agroindústria cria uma

certa dependência entre ambos, que juntos atingem seus objetivos. A agroindústria tem

a garantia da matéria-prima mediante suas normas e exigências na sua produção. Caso

não esteja contente com o resultado, cancela-se o contrato com o produtor. O produtor

rural aceita as normas e as exigências impostas, sentindo-se seguro do retorno

financeiro, porém totalmente dependente, pois seu vínculo por meio do sistema de

integração está única e exclusivamente relacionado àquela indústria, não tendo a

liberdade de estabelecer suas exigências, nem mesmo comercializar o produto com

outras indústrias.

3.3 ASPECTOS DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO CAPINZALENSE 3.3.1 A cidade e o urbano: notas

O Brasil é um país de cidades novas em relação aos países europeus. A maior

parte dos núcleos urbanos brasileiros surgiu no século XX. Há cidades, entretanto, que

são do começo da colonização, algumas delas têm mais de 400 anos, como Olinda,

Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, dentre outras. Em Santa Catarina, as primeiras

cidades que surgiram foram São Francisco do Sul, Florianópolis, Laguna e Lages,

durante os séculos XVII e XVIII, em função dos primeiros núcleos colonizatórios.

Outras, foram fundadas durante o século passado, dentre elas Capinzal, Joaçaba,

Videira e Campos Novos, estas localizadas no interior do estado, particularmente no

Vale do Rio do Peixe, no meio-oeste.

Nesse contexto, analisar a cidade na sua organização e como lugar de atuação

humana é, sobretudo, entender qual(is) função(es) ela exerce como forma

organizacional da sociedade no espaço. É preciso observar as relações sociais

manifestadas e articuladas à vida urbana e regional. A cidade é a manifestação social

concreta, existindo como um ponto estratégico da (re)produção da vida materializada,

na qual os movimentos da sociedade se apresentam de maneira visível na paisagem.

112

A idéia de cidade32 não é recente. Surgiu com civilizações antigas, como a grega

e a romana e evoluiu até chegar aos dias atuais. Porém, o seu significado nesse

trabalho, assim como o de urbano, é de interpretações contemporâneas e, representa

um conjunto de formas justapostas entre si. O urbano representa a articulação das

partes que compõe a cidade, pela sociedade. Desse modo, Capinzal é a base para a

compreensão do que a cidade e o urbano e suas interligações representam para a

sociedade como agentes promotoras de mudanças das formas espaciais.

Diversos estudiosos como historiadores, sociólogos, antropólogos, urbanistas,

economistas, arquitetos, geógrafos, assim como políticos, planejadores e, até mesmo,

os que possuem alguma fração do capital financeiro, industrial, comercial, imobiliário

e/ou fundiário e os próprios citadinos se interessam em entender e conhecer o processo

e a dinâmica da cidade, devido aos muitos significados que ela tem. Porém, cada um

tem percepção e interpretação diferentes dessa representação, segundo os seus

interesses. Para os geógrafos, essa percepção está vinculada às relações sócio-

espaciais. A cidade representa, simultaneamente, uma região e um lugar, pois resulta

por sua produção contínua, uma totalidade do espaço geográfico, pois é nela que o

urbano se manifesta pelas inúmeras atividades desempenhadas pela sociedade

(SANTOS, 1996).

O interesse pelo estudo da cidade pode se manifestar pela sua complexidade,

pois ela representa, sobretudo, uma ação concreta e efetiva da sociedade que nela

vive, pelo sistema de habitação, de transportes, do urbanismo e seu processo, de infra-

estruturas como redes de energia elétrica, água, esgoto, drenagem pluvial e

arruamento.

32 Para os gregos, segundo Harouel (1990), a cidade era antes de tudo uma comunidade de cidadãos, uma associação de caráter religioso, político e moral. A idéia de cidade surgiu numa sociedade rural com habitações dispersas e, com associações políticas que se formaram independente de qualquer idéia urbana. Para os romanos, fundar uma cidade era um ato sagrado, marcado pela observação de um ritual, principalmente religioso. Tanto para os gregos quanto para os romanos a noção de cidade expressava um caráter de religiosidade, além de político. No “curso natural da gênese e evolução das cidades, o papel desempenhado pela religião foi essencial” (ROSENDAHL, 1999, p. 17), mas não determinante, pois o caráter político e econômico também favoreceram ao seu surgimento, mesmo que atrelado à religião. É necessário salientar de que a gênese das primeiras cidades está, também, vinculada à apropriação de um excedente de produção agrícola, propiciando quase que simultaneamente o aparecimento do Estado. O Estado, juntamente com a religião, foram elementos de controle efetivo político, militar, ideológico e institucional, assegurando e justificando a dominação e poder de um determinado território e, da sociedade nele vinculado.

113

A cidade é o fruto da imaginação e do trabalho de muitas pessoas. É uma obra

coletiva que desafia a própria natureza. Construída, totalmente artificial e representada

pelas edificações, avenidas, áreas verdes, praças públicas, entre outros monumentos,

os quais dão formas a ela. Essas, entretanto, não são estáticas. Estão em constantes

transformações conforme as ações e as necessidades criadas pelas pessoas. Isto é,

constantemente novas construções de edifícios, de novas ruas pavimentadas ou

calçadas, praças com formas e funções atribuídas etc, são feitas. As formas espaciais,

portanto, vão sendo adaptadas de acordo com as funções designadas por nós.

Certamente, quanto maior e mais complexa for a cidade, maiores são os

impactos sociais, culturais e ambientais. Enfim, devido às adversidades

permanentemente inseridas em cada parte que a compõe. Conseqüentemente, os

conflitos ideológicos, éticos e a luta pela sobrevivência são constantes, mas

independente de quaisquer fatores citados, a sociedade como um todo, produz e

consome espaço. Exemplos disso são as grandes cidades como São Paulo e Rio de

Janeiro, que trazem ao longo das suas trajetórias e transformações sócio-espaciais,

maiores dinamismo e concentração econômica e de poder. Elas servem como um “ímã”

às populações de outras regiões, como o norte e o nordeste brasileiro, na busca utópica

por empregos e/ou melhoramento das condições de vida.

Já nas grandes cidades, muitas pessoas não conseguem manter-se e

aglomeram-se em favelas com infra-estrutura inadequada, ocasionando a segregação

social e impactos ambientais. O Estado, nas instâncias municipal, estadual e federal se

abstém, freqüentemente, de formular uma política sócio-ambiental que favoreça

condições básicas de sobrevivência.

Essas constatações, são apenas alguns exemplos entre tantos outros de que o

homem, ao longo de sua existência, vem se apropriando da natureza de forma

inconseqüente. A própria segregação social demonstra claramente quem detém o

poder e quem é desfavorecido por esse poder. Nas cidades, a possibilidade de

observar essas complexidades é maior, em função da grande aglomeração de pessoas.

Alguns desses exemplos são comuns em cidades como Capinzal, que mantêm,

desde o seu surgimento, concentração econômica e de poder com os agentes, como

madeireiros, latifundiários, agropecuaristas e, mais recentemente, a agroindústria. Este

114

último agente detém, atualmente, significativo poder econômico, não só em Capinzal,

mas também em cidades vizinhas, como Ouro, Zortéa e Lacerdópolis, agindo na

produção de empregos e subordinação da mão-de-obra; e na captação de matéria-

prima sob subordinação de produtores rurais a seu serviço por meio do sistema de

integração, dentre outros aspectos.

Concomitante a isso, desenvolve-se a segregação espacial, isto é, áreas

destinadas a moradias de funcionários da indústria Perdigão, áreas reservadas às

atividades daquela empresa, áreas ocupadas por pessoas de menor poder aquisitivo,

áreas destinadas ao lazer (esportes, eventos sociais), áreas reservadas à expansão

urbana em detrimento ao êxodo rural por diversos fatores, entre outros. Obviamente, o

Estado vem sempre marcando presença, por intermédio de prestação de serviços, infra-

estrutura, cobrança de impostos, regulação de terras, mas de forma diferenciada,

agindo como mediador na produção do espaço urbano-regional de Capinzal,

favorecendo, principalmente, os detentores da economia local, como a agroindústria.

A cidade, embora representada também pela segregação sócio-espacial, é o

resultado de uma obra coletiva. Mesmo com interesses particulares dos indivíduos, ela

representa, na contemporaneidade, um conjunto de diferentes usos da terra, que define

áreas como a central, industrial, de atividade comercial, de serviço e gestão, de lazer,

residencial em diferentes níveis sociais, o qual, o urbano se manifesta nela como

espaço fragmentado (CORRÊA, 1989), também perceptível em Capinzal pois,

independentemente da escala espacial, esses fragmentos são evidentes, porque a

sociedade no seu conjunto é extremamente capitalista e, a partir dessa lógica, ela

busca (re)produzir suas vidas.

O espaço urbano na cidade é fragmentado, mas cada uma das partes se

relaciona e se articula com as demais, sendo

[...] reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas [...]. Estas relações manifestam-se empiricamente através de fluxos de veículos e de pessoas associados às operações de carga e descarga de mercadorias, aos deslocamentos quotidianos entre as áreas residenciais e os diversos locais de trabalho, aos deslocamentos menos freqüentes para compras no centro da cidade ou nas lojas do bairro, às visitas aos parentes e amigos, e às idas ao cinema, culto religioso, praias e parques. (CORREA, 1989, p. 7 e 9).

115

Nessa mesma perspectiva, Santos (1996) sugere que ao contrário da cidade que

é o particular, o concreto e o interno; o urbano é o abstrato, o geral e o externo. Pois no

espaço urbano inclui todas as atividades que se realizam na cidade como a do

emprego, da divisão do trabalho e do seu inverso, das classes sociais, entre outros. Isto

é, a própria sociedade em movimentos, se articulando entre si e com o meio em que

vive em diferentes localizações da cidade, produzindo e consumindo espaço.

Lefebvre (1991), em suas idéias, argumenta que durante séculos, a Terra foi o

grande laboratório do homem, grandes e importantes descobertas ocorreram; porém só

há pouco tempo é que a cidade assumiu esse papel. Dessa forma, além de atrair e

concentrar grande número de pessoas é o lugar onde a lógica da acumulação

capitalista é regulada e resulta num desenvolvimento desigual e de injustiças sociais,

que são distribuídas tanto espacial quanto demograficamente (GOTTDIENER, 1997).

Nesse contexto, a cidade representa o ponto de maior expressões espaciais,

reflexos da organização e influência de uma grande concentração cumulativa de

funções, bem como: industriais, comerciais, serviços, técnico-financeiros e políticos-

culturais (ROSSINI, 1986), servindo como espelho de sua região e estabelecendo fortes

relações com o campo, dentre as quais se destacam a atração urbana sobre a

população regional; as migrações pendulares provenientes de núcleos localizados em

periferias rurais e urbanas e municípios vizinhos; a comercialização pela cidade dos

produtos rurais; a distribuição de bens e serviços; o consumo pela população rural de

bens e serviços urbanos como de supermercados, sistemas financeiros como

movimentação de conta bancária, empréstimos, financiamentos, etc., de sistemas de

tratamento de saúde; entre outros.

Esses fatores ocorrem com freqüência em cidades como Capinzal, que produz

uma integração urbano-regional de cumplicidade, que por vezes se confunde o que e

quem é urbano e o que e quem é rural, ou seja, até que ponto o indivíduo que vive no

espaço rural e trabalha, estuda ou mantém atividades na área urbana, é do campo, ou

até mesmo quem vive na cidade e trabalha no campo. Por isso, as funções urbanas e

rurais pré-estabelecidas pelos indivíduos que habitam nesses lugares não são

estanques e dissociadas, elas estão extremamente articuladas entre si.

116

Assim, o urbano-regional se articula por meio da produção do espaço, onde a

sociedade se organiza e estabelece normas que possibilitam certa ordem na forma de

produzir a vida. Na abordagem geográfica, de acordo com Corrêa(a) (1989) as relações

entre cidade e região se caracterizam entre uma cidade e sua hinterlândia constituída

por centros urbanos menores e áreas rurais interagindo entre si. Em Capinzal existem

algumas localidades que manifestam certas características urbanas, porém, não há

uma contigüidade territorial, como é o caso de localidades como Lindemberg (Fotos 12

e 13), o Distrito de Alto Alegre (Fotos 14 e 15), Barro Preto que, normalmente estão

vinculadas às atividades industriais como de cerâmicas, serrarias etc.

Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006

Foto 12 – Vista parcial da localidade Lindemberg, algumas moradias e rua principal pavimentada

Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006

Foto 13 – Vista parcial da Igreja e do Ginásio de Esportes da localidade de Lindemberg

117

Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006 - Foto 14

Autora: Analice de Avila – Fevereiro de 2006 - Foto 15

Fotos 14 e 15 – Vista parcial do Distrito de Alto Alegre, algumas moradias e rua pavimentada

O conceito de região além das relações entre uma cidade e sua hinterlândia ou

uma área central articuladas às áreas periféricas, pode não ser muito claro e

certamente nem definitivo quando as escalas de análises se ampliam e se diferenciam

umas das outras. Desse modo, entende-se enquanto categoria geográfica que o termo

região está vinculado aos temas da política, da cultura, das atividades econômicas e,

que todos esses temas têm em comum a sociedade, ou seja, as relações entremeadas

entre diversos fatores que vão caracterizar uma região. “A região é uma realidade

concreta, ela existe como um quadro de referência para a população que aí vive.”

118

(GOMES, 1995, p. 57). Ou seja, as regiões são, de acordo com Santos (2004), o

suporte e a condição de relações globais da sociedade que nelas se realizam.

Nesse contexto, pode-se definir uma região como uma área de influência de

atividades de uma certa indústria, e nela as articulações das relações sociais de

trabalho, de prestação de serviços com outras empresas etc. Ou até mesmo uma

cidade como Capinzal, que mantém com municípios vizinhos, principalmente Ouro,

Zortéia, certas relações comuns quanto às suas atividades econômicas, hábitos

culturais, religiosos e, principalmente, como área de influência de um ramo de atividade

que a partir da agroindústria Perdigão atrai pessoas desses lugares para realizar o

trabalho, ou ainda consumir produtos e serviços de comércios locais que, por vezes,

não são oferecidos por aqueles municípios vizinhos.

Desse modo, o urbano, a cidade e a região, têm como agente organizador do

espaço, principalmente o Estado, mas não somente, no caso de Capinzal também

aparece a Agroindústria Perdigão, que define como, onde e de que forma usar o

espaço para realizar sua produção econômica, além, é claro, a própria sociedade em

geral que é induzida a ocupar e a permanecer num determinado lugar de acordo com a

imposição da lógica capitalista, que é ostentada por grandes corporações33, estas

amparadas pelo poder estatal. No caso de Capinzal ambos, Estado e agroindústria

contribuem também para a compreensão de que modo as inter-relações desses

fenômenos se manifestam na paisagem.

3.3.2 O espaço urbano de Capinzal

O espaço urbano de Capinzal vem freqüentemente se (re)produzindo por

intermédio da interação entre as diversas partes da cidade, estas unindo-se em um

conjunto articulado à área central. Portanto, na área central localizam-se as mais

diversas formas da expressão urbana daquele município, ou seja, um processo de

centralização que concentra as principais atividades comerciais, como lojas de

eletroeletrônicos, de vestuários, calçados, agropecuárias, alimentícias, farmácias, entre

outras. Assim como, o setor de serviços, representado pelos bancos e instituições

33 A exemplo do Grupo Perdigão.

119

financeiras, Banco do Brasil, Banco do Estado de Santa Catarina, Caixa Econômica

Federal, Bradesco e SICOOB/SC – Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil, estes

localizados na principal rua da cidade, a VX de Novembro, com exceção à CEF que

está situada a rua Carmelo Zócolli, ainda, clínicas e laboratórios médicos,

odontológicos, escritórios de contabilidade, de advocacia etc. Concentra também o

centro administrativo municipal (Foto 16) e jurídico, os terminais intra-urbano, inter-

regional e inter-municipal, que possibilitam a mobilidade da população. Enfim, uma

gama de comércios, serviços e gestão pública e privada, que supre boa parte para

demanda urbano-regional, e está concentrada num espaço que é um reflexo da

sociedade, independente dos tipos de classes sociais. Isso é, a cidade por ser um

ambiente extremamente artificial, é o reflexo do trabalho e da ação humana.

Autora: Analice de Avila – 21/07/2004

Foto 16 – Vista parcial da Prefeitura Municipal de Capinzal

A centralização, como um processo social que ocorre no espaço ao longo do

tempo (CORRÊA, 1989), dá a idéia de movimento e de concentração de atividades

sócio-econômicas, consubstanciadas a convergência da dinâmica social à área central

de uma dada cidade. Desse modo, a área central urbana de Capinzal atrai, pelo

processo de centralização, pessoas de diversos lugares tanto da cidade e sua

hinterlândia quanto do espaço rural, assim como da vizinha cidade de Ouro. Sendo um

ponto de encontro para as diversas atividades nela desempenhadas para a realização

do trabalho, das movimentações financeiras, da aquisição e comercialização de

120

produtos, tratamento de saúde, enfim, diversas outras funções que cidades como

Capinzal e Ouro absorvem pela dinâmica social.

O espaço urbano de Capinzal e Ouro vem se reproduzindo a partir de reflexos e

condicionantes tanto das ações da dinâmica da sociedade, que se realizam no

presente, quanto daquelas que se realizaram no passado e deixaram suas marcas

impressas nas formas espaciais do presente. Essas formas espaciais estão

representadas, em parte, pelas antigas edificações34, algumas de uso misto comercial e

residencial, a exemplo da casa de dois pavimentos denominada Alexandre Thomazoni,

construída em 1931, em alvenaria (Foto 17), que tinha função e uso como casa

comercial no primeiro pavimento e residencial no segundo pavimento35.

Atualmente, essa mesma edificação exerce funções semelhantes, porém com

outras perspectivas e atividade comercial diversificada e contemporânea. Antes era um

comércio misto de secos e molhados de um único proprietário e, de acordo com a

dinamicidade da sociedade, essas atividades foram sendo substituídas ou inseridas por

outras.

Há, naquelas instalações, uma farmácia, uma loja de caça e pesca e uma loja de

produtos de beleza. Outro exemplo é a edificação, também construída em alvenaria no

ano de 1940, que tinha como função inicialmente comercial e, posteriormente,

prestação de serviços no ramo hoteleiro, denominado Hotel Imperial (ALMEIDA, 2005).

Porém, aquela edificação foi destruída por um incêndio na década de 1950 e, no local,

outra foi construída (ALMEIDA, 2005). Atualmente, comporta três estabelecimentos

comerciais, lojas de confecções e calçados no primeiro pavimento e residencial no

segundo pavimento (Foto 18). Esses são apenas alguns exemplos de como as formas

e as funções urbanas se diversificam e sofrem mudanças. As formas em muitos casos

permanecem sobrepostas umas as outras, que para Santos (1985) são primariamente o

resultado de um fator social. São criadas e usadas na execução de funções que lhe foi

designada e, freqüentemente, sofre novas determinações quando parte da sociedade

procura impor novas funções, resultando nas chamadas “rugosidades”.

34 A primeira casa construída em alvenaria no distrito de Rio Capinzal foi iniciada em 1928 e concluída em 1930, de propriedade de José Zortéa, um dos primeiros moradores da Vila de Rio Capinzal. A edificação era destinada ao comércio no primeiro pavimento e à residência do proprietário com seus familiares no segundo pavimento (ALMEIDA, 2005). 35 A casa era de propriedade de Alexandre Thomazoni, assim como a atividade comercial.

121

Isto é, uma mistura de formas novas e velhas se articulando e dando uma nova

forma no seu conjunto, consubstanciais a novas funções que, ao longo do tempo, vão

sendo criadas e absorvidas pela própria sociedade (SANTOS, 1985). O passado e o

presente se mantêm materializados no espaço produzido pelo homem. Nesse

contexto, forma e função estão relacionadas entre si e ambas vão sendo readaptadas

conforme as exigências e características da sociedade de um dado lugar, das

diferentes e diversas localizações, que nunca serão iguais umas as outras.

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 17 – Vista parcial da antiga edificação denominada Alexandre Thomazoni de uso comercial no pavimento térreo e residencial no pavimento superior

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 18 – Vista parcial do antigo Hotel Imperial, atualmente com atividades comerciais no pavimento térreo e residencial nos pavimentos superiores

Dentre os aspectos sobre formas e funções do espaço urbano de Capinzal,

fazem parte também as vias de circulação. Visto que toda cidade, obviamente, é

Antigo Hotel Imperial

122

constituída por ruas que ligam as suas diversas localizações e sua hinterlândia.

Caracterizando assim novas formas espaciais em detrimento de novas funções

pronunciadas pela sociedade local. Assim, procurou-se pontuar algumas vias de

circulação urbana como as principais, as quais se localizam na área central e que dão

acesso a várias outras localizações. São consideradas aqui as ruas XV de Novembro,

Ernesto Hachmann e Presidente Nereu Ramos, que são vias estratégicas e, além de

concentrarem a maior parte das atividades urbanas, dão acesso à entrada e saída de

pessoas, automóveis, mercadorias etc. da cidade.

A rua Presidente Nereu Ramos é uma rua de ligação, que por meio da ponte

Irineu Bornhausen, liga a cidade de Capinzal com a de Ouro e a outros municípios ao

nordeste, além de permitir a entrada e saída do/para o interior do município ao sul e a

leste e com os municípios de Zortéa, Campos Novos, Piratuba e o Estado do Rio

Grande do Sul. Aquela rua, pode ser classificada como uma das principais vias de

ligação da cidade com outros lugares, inclusive com acesso a chamada Cidade Alta36,

onde se localiza a empresa Perdigão e alguns loteamentos como o Parizotto, o Lar

Imóveis, o Universitário.

A rua Ernesto Hachmann (Foto 19) também é uma via de circulação e articulação

extremamente importante, pois é uma rua transversal da Avenida Presidente Nereu

Ramos e da rua XV de Novembro, que possibilita acesso aos terminais intra-urbano e

inter-regional (Foto 20) à antiga estação ferroviária, à ponte pênsil, entre outros,

fazendo ligação também com várias outras vias de circulação. Permite ainda conectar a

cidade com o interior oeste daquele município.

A rua XV de Novembro (Foto 21), localizada no núcleo urbano da cidade, é onde

se concentra a maior diversificação das atividades comerciais e de serviços e também é

uma via estratégica que faz ligação com a rua Ernesto Hachmann e com a rua

Presidente Nereu Ramos permitindo, inclusive, a entrada e saída para várias direções

da cidade. Certamente, outras vias de circulação também são importantes no processo

36 Esse nome, em função do relevo se caracterizar como uma parte elevada, no planalto, em relação a área central da cidade, a qual se localiza nas imediações do Rio do Peixe. A denominação Acesso a Cidade Alta foi aprovada e sancionada pela Lei nº 1593/1991, da Prefeitura Municipal de Capinzal (CAPINZAL, 1991).

123

da produção urbana de Capinzal, articulando-se umas as outras, dando a idéia de rede,

isto é, de articulação às diversas localizações da cidade e do seu interior.

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 19 – Vista parcial da Rua Ernesto Hachmann

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 20 – Terminais intra-urbano e inter-regional

Legenda: Acesso aos terminais urbano e rodoviário, à antiga estação ferroviária, à ponte pênsil, etc. Terminais urbano e rodoviário. Avenida Presidente Nereu Ramos. Acesso à Ponte Governador Irineu Bornhausem. Rua XV de Novembro.

Escritório da empresa de Telefonia Brasil Telecom

Terminal Urbano

Terminal Rodoviário

124

Autora: Analice de Avila – Julho de 2006

Foto 21 – Vista parcial da rua XV de Novembro

As primeiras pavimentações das ruas da área central da cidade de Capinzal e

algumas ruas do Distrito de Ouro, com pedras paralelepípedos, ocorreram somente a

partir da emancipação de Capinzal entre os anos de 1954 e 1959. Na época, o

município já contava com máquinas modernas para aquele momento, principalmente,

caminhões, tratores, patrolas etc. As primeiras ruas a serem pavimentadas/calçadas

foram as ruas XV de Novembro, Carmelo Zocoli e a Ernesto Hachmann, em Capinzal, e

as ruas Felipe Schimidt e da Praia, no Distrito de Ouro. Na gestão pública municipal de

1983-1988, todas as ruas da área central receberam recapeamento asfáltico

(ALMEIDA, 2004, p. 88-89).

A área central da cidade de Capinzal, portanto, está estruturada de maneira que,

de acordo com o processo de apropriação daquele espaço e as condições do relevo,

convergem em uma certa aproximação entre as suas diversas localizações (Fotos 22 e

23 e Fig. 02 e 03).

O espaço urbano da cidade é composto também pelos bairros e os loteamentos

residenciais, dentre eles o loteamento São Luiz, Santa Terezinha Jacob Dorini, o bairro

São Cristóvão e nele os loteamentos Vila 7 de Julho, Colina, João Evangelista

Parizotto, Lar Imóveis, Universitário, entre outros que, além de uma contigüidade da

Legenda: Rua Ernesto Hachmann. Agência do Banco Bradesco. Agência do Banco Besc. Agência do Banco do Brasil.

125

área urbana, apresenta suas funções articuladas e vinculadas à área central, sendo que

alguns desses lugares apresentam-se interligados entre si, em detrimento dos aspectos

sócio-econômicos que vêm se reproduzindo naquele município.

Ferrovia SPRG

Rua E rnesto Hachmann

Rua

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Rua

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Ferrovia SPRG

Rio

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pin

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Legenda:1- Cinema: “Cine Odete”2- Agência bancária Bradesco3- Terminal Rodoviário4- Antiga Estação Ferroviária5- Hospital São José6- Prefeitura Municipal7- Fórum8- Igreja Matriz São Paulo Apóstolo

Pont

e Iri

neu

Born

haus

en

9- Casa Paroquial10- Hospital Nossa Senhora das Dores11- Colégio Estadual Mater Dolorum 12- SIMAE13- Ginásio de Esportes Dileto Bertaioll i14- Agência bancária CEF15- Agência do Banco do Brasil16- Agência do Banco Besc

Foto 22- Vista aérea parcial da cidade de Capinzal no início dos anos de 1980

Fonte: Equiplan Serviços Gráficos Ltda, Concórdia-SC

Fig. 02 - Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do complexo urbano no início da década de 1980

126

Rua Ernesto Hachmann

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Rua

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Ferrovia SP RG Ferrovia SPRG

Acesso Cidade Alta

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1 - Igreja Universal do Reino de Deus2 - Agência bancária Bradesco3 - Terminal Urbano4 - Terminal Rodoviário5 - Brasil Telecom6 - INSS e Posto de Saúde Municipal7 - Centro Educacional Prefeito Celso Farina8 - Antiga Estação Ferroviária9 - Câmara Municipal de Vereadores10- Epagri11- Biblioteca Púb.Mun. Romildo Casagrande12- Hospital São José

Legenda:13 - Prefeitura Municipal14 - Fórum15 - Agência bancária CEF16 - Igreja Matriz São Paulo Apóstolo17 - Colég io Estadual Mater Dolorum18 - Hospital Nossa Senhora dasDores19 - Casa Paroquial20 - Agência do Banco do Bras il21 - Agência do Banco Besc22 - SIMAE23 - Escola de Educação Básica Belizário Pena24 - Ginásio de Esportes Dileto Bertaiolli

Ponte

Irineu Bo

rnhause

n

Ponte Pênsi l

Fig. 03 - Esboço da rede viária da cidade de Capinzal e algumas edificações do complexo urbano em 2001

Foto 23 - Vista aérea parcial da cidade de Capinzal em 2001

Cidade de Ouro

Fonte: Acervo da Prefeitura Municipal de Capinzal - Julho de 2001

127

Um dos aspectos que pode ser levado em consideração nesse processo é o

serviço de transporte coletivo intra-urbano. Ele é realizado pela própria Prefeitura

Municipal, com funcionários e carros públicos. O itinerário é normalmente feito com

saída do terminal urbano, localizado na rua Ernesto Hachmann, no centro da cidade.

Passa pela rua XV de Novembro e segue em direção ao acesso Cidade Alta. Seque até

a Vila 7 de Julho, pela rua Leonardo Santos e retorna indo a direção do loteamento

Parizotto, passando pela rua João Evangelista Parizotto (Foto 24). Retorna indo a

direção da unidade industrial da Perdigão e Unoesc, nas proximidades dos loteamentos

Lar Imóveis e Universitário, retornando ao centro passando pelas ruas Presidente

Nereu Ramos e Ernesto Hachmann com destino ao terminal urbano. Em alguns

horários o itinerário ocorre também o inverso.

Autora: Analice de Avila – 20/07/2004. Foto 24 – Vista parcial da rua João Evangelista Parizotto no loteamento de

mesmo nome

O transporte coletivo está sob a responsabilidade do município há

aproximadamente 3 anos, devido a desentendimentos entre administração pública

municipal e empresas de ônibus, cujos interesses das empresas privadas eram alto

custo tarifário, entre outras questões de ordem política que não serão aqui abordados.

Nesse contexto, desde que a responsabilidade pelo transporte coletivo passou para a

prefeitura municipal o custo tarifário era de R$ 0,50 até recentemente. Atualmente, a

tarifa unitária custa R$ 0,60 e a Prefeitura dispõe de 4 ônibus para o transporte coletivo

urbano de passageiros.

128

A média diária de passageiros é de aproximadamente 1750. Assim, o sistema de

transporte coletivo urbano articula as diversas localizações da cidade, bem como: no

transporte de trabalhadores que residem num determinado loteamento ou bairro e

trabalham no centro da cidade ou, ainda, moram nas proximidades do centro e

trabalham em outros lugares; no transporte de estudantes e de outros cidadãos para

fins de passeios, compra de mercadorias; enfim, o vai e vem de pessoas que buscam

formas de (re)produzirem suas vidas.

Nessa perspectiva, analisar a produção do espaço urbano de Capinzal por si só

se torna um pouco vaga ou incompleta a análise. Partindo do princípio de que Capinzal

e Ouro, ambos tem características de cidade gêmeas, isto é, surgiram de um mesmo

contexto de formação sócio-espacial, a partir do processo colonizatório no início do

século XX, é conveniente falar de como essas duas cidades, vêm se articulando e se

complementando no processo da produção do espaço urbano.

Capinzal por se destacar sócio-economicamente frente aos municípios

circunvizinhos, Zortéa, Lacerdópolis, Piratuba e Ouro, absorve parte dos recursos

humanos daquelas cidades nos setores de comércios, serviços, indústrias,

principalmente na agroindústria. Porém, Ouro, que tem cerca de 7.419 habitantes,

destes 4.165 são populações urbanas (IBGE, 2002), possui um setor de comércio e

serviços e de indústria vinculado sócio-economicamente à Capinzal, devido a sua

proximidade e origem como “cidades geminadas” (Foto 25). Capinzal, por sua vez,

absorve grande parte dos recursos humanos da cidade de Ouro, principalmente na

agroindústria, além do comércio local e de clínicas médicas, hospitais, supermercados.

Enfim, não somente no consumo de mercadorias como também na questão de

emprego e uso de serviços não existentes ou de poucas opções no município de Ouro,

a exemplo de unidades hospitalares e clínicas médicas, que Ouro não dispõe desse

tipo de serviço37. Assim sendo, certos tipos de comércios e serviços também são

absorvidos pela população de Capinzal, ou seja, constante troca de atividades sócio-

econômicas vem sendo realizada desde suas origens.

37 Em muitos casos as populações locais de ambos os municípios procuram serviços médicos hospitalares em Joaçaba, Chapecó e/ou em outras cidades com maior e diversificados recursos desse tipo de serviço.

129

O processo das relações urbanas entre Capinzal e Ouro tem uma característica

histórica que não pode ser desconsiderada. Há uma cumplicidade que por vezes se

confunde às diferenças entre uma cidade e outra no cotidiano das populações locais.

Fonte: Prefeitura Municipal de Capinzal. Site: www.capinzal.sc.gov.br/arquivos/idx.conheçacapinzal.htm. Acesso em: 20/11/2004.

Foto 25 – Vista parcial das cidades de Ouro e de Capinzal

3.3.3 A expansão urbana: arranjos & desarranjos

Sobre o processo da expansão urbana de Capinzal tomou-se como base para

essa análise entrevistas e relatos obtidos com moradores locais e funcionários públicos

municipal; estudos realizados por autores como Brancher (1994) e Almeida (2004,

2005(a)), que possibilitam a compreensão desse processo; documentos junto à

prefeitura municipal, bem como leis e decretos; observação em campo; entre outros.

Visto, também, falar da produção do espaço urbano da cidade de Capinzal, torna-se

conveniente associar em momentos, conforme já dito, relações com a da vizinha cidade

de Ouro, ambas caracterizadas como cidades gêmeas. Além disso, se farão inferências

as relações urbanas e regionais, as quais se caracterizam como um processo articulado

da produção do espaço.

Para entender esse processo convém discorrer em interpretações vinculadas aos

primeiros anos de ocupação daquelas áreas com perspectivas voltadas a compreensão

da expansão da área urbana. Assim sendo, a construção da VFFSPGR, no Vale do Rio

do Peixe, foi um dos fatores que culminou o surgimento dos primeiros núcleos urbanos

Cidade de Ouro

Rio do Peixe

Ponte Gov. Irineu Bornhausen

Cidade de Capinzal

Ponte Pênsil

130

naquela região. As companhias colonizadoras responsáveis em colonizar as terras ao

longo da ferrovia passaram a realizar o desmembramento das mesmas e comercializá-

las, algumas como lotes rurais e outras como lotes urbanos. Tanto o Distrito de Rio

Capinzal, na época assim denominado, como o Distrito de Palmas, atual Município de

Ouro38, também foram alvos da política colonizatória.

Com o início do processo de ocupação legal das terras de Capinzal e Ouro a

partir de 1914, as transações foram feitas por meio de documentos legais com contrato

de compra e venda de terras urbanas e rurais. Inicialmente, por intermédio do

tabelionato do município de Campos Novos e, posteriormente, em 1915, já no

tabelionato do Distrito de Rio Capinzal.

A partir do levantamento de dados documentais de Brancher (1994, p. 66 e 68),

aquela autora constatou que no período de 1914 a 1929 foram registrados em Capinzal

506.340m² de terras, sendo que desse total, 274.518m², isto é, 54,3% foi

concessionária a Cia. Estrada de Ferro. Os outros 45,7% de diversos proprietários

particulares. Alguns desses desmembramentos se destinavam a lotes urbanos que, no

caso, houve a predominância na venda deles com dimensões entre 500m² e 1500m²,

cujo período áureo da comercialização ocorreu entre os anos de 1924 e 1926

(ALMEIDA, 2004; BRANCHER, 1994), em conseqüência do contingente migratório

neste período, oriundo principalmente do Rio Grande do Sul.

Neste contexto, a partir de 1914, com o processo da formação de uma pequena

vila e, conseqüentemente, a criação do Distrito no mesmo ano, surgiu o primeiro núcleo

de concentração humana e de funções urbanas nas proximidades da estação

ferroviária, alongando-se na parte plana do Vale do Rio do Peixe e do seu tributário, o

Rio Capinzal (Fig. 04). De acordo com Almeida (2004), as primeiras moradias

construídas foram nas imediações das atuais ruas XV de Novembro e Ernesto

Hachmann, estas foram também as primeiras ruas construídas pela população e

autoridades distritais, as quais foram construídas à base de ferramentas rudimentares –

picaretas, enxadas, pá, carrinhos de mão, carroças com tração animal e arado.

38 Este, até 1917 estava subordinado ao estado paranaense, por estar na faixa de terras disputadas entre Paraná e Santa Catarina , resultando em uma das causas da Guerra do Contestado, que mais tarde foi assegurada ao Estado de Santa Catarina.

131

Figu

ra 0

4

132

Em 1925, a sede do Distrito de Rio Capinzal apresentava-se como uma vila, com

80 a 100 moradias, aproximadamente, todas em madeira e estilo italiano, cuja

população concentrava-se na sede, muito pouca no interior do distrito, dando sinais de

um processo de formação urbana, com atividades de pequenos negócios comerciais e

trocas de produtos agrícolas feijão, alfafa, milho etc. (BRANCHER, 1994). Já, em 1948,

de acordo com Brancher (1994, p. 111-112), o número de casas de moradia no espaço

urbano do ainda Distrito de Rio Capinzal cresceu para 278 construções39, assim como

algumas de atividades sócio-econômicas, também, representavam um total de 51

estabelecimentos dentre eles armazéns, escritórios, fábricas e outros40. Naquele

mesmo ano, o perímetro urbano do Distrito de Ouro constituía 119 casas de moradia e

22 estabelecimentos de escritórios, fábricas, armazéns.41 (BRANCHER, 1994).

Nesse contexto, entre os anos de 1930 e 1950, com a inserção das novas e

diversificadas atividades econômicas, como: a extração e o processamento da

araucária, a extração da erva-mate e a atividade agropecuária, direcionadas não

somente para o mercado local, mas regional e para exportação, contribuíram a

evolução e a inserção de novas funções urbanas. Em 1940, portanto, o Distrito de Rio

Capinzal possuía a população total de 5.711 habitantes. Na área urbana, residiam

menos de 15%, isto é, 824 habitantes. Passados 10 anos, em 1950, a população total

aumentou consideravelmente, chegando a 13.935 habitantes em todo o território

municipal42. Os habitantes urbanos eram de 1.868 no total (IBGE, 1951 e 1955), isso é,

menos de 14%, possivelmente pelas atividades primárias agrícolas serem, ainda, uma

característica marcante naquela região e sobressaírem os demais ramos de atividades

econômicas.

De acordo com a Lei municipal nº 101, de 29 de setembro de 1952, foi criado o

Distrito de Dois Irmãos, atual Município de Ouro, anexado ao Município de Capinzal

39 Toda a área distrital de Rio Capinzal era servida de 470 casas edificadas, sendo que desse total 397 eram de moradia e 73 destinadas aos estabelecimentos como fábricas, armazéns e outros (BRANCHER, 1994, p. 111). 40 Dentre aquelas edificações, 35 eram construções em alvenaria, as demais em madeira, principalmente da araucária. 41 Dentre aquelas edificações, 6 eram construções em alvenaria, as demais em madeira. 42 Emancipado de Campos Novos desde 1948, mas incorporando a localidade de Dois Irmãos, atual Município de Ouro. Em 1950 foi criado o Distrito Sede de Capinzal.

133

(IBGE, 2006). Portanto, as atividades e as funções urbanas também foram sofrendo

alterações como parte de um processo que incluía questões político-administrativas e

paralelamente a constante dinâmica sócio-espacial, ampliando conseqüentemente o

número e a diversificação de estabelecimentos comerciais, de serviços e industriais

(Quadro 14), cujas atividades sócio-econômicas, consubstanciadas às atividades rurais

que criavam condições para essa nova realidade urbana que se configurava. Com o

aumento populacional, o consumo de produtos manufaturados, industrializados e

serviços urbanos tendencialmente aumentaram, inclusive serviços médicos para

prevenção e tratamento de saúde.

Quanto aos serviços de saúde, a primeira casa para esse fim construída no

Distrito de Rio Capinzal foi, segundo Almeida (2004), em 1922, onde os pacientes

recebiam visitas e diagnósticos médicos de Vicente Gramazio, um imigrante italiano

radicado naquele distrito, que afirmava ser farmacêutico formado na Itália43. Aquele

mesmo profissional estabelecera também uma farmácia, dispondo de diversos tipos de

medicamentos. Nesse contexto, na década de 1930, foi instalado o Hospital São José,

edificação em madeira, características das edificações da época, devido a abundância

de tal matéria-prima e conseqüentemente menor custo em relação às construções em

alvenaria. Posteriormente, aquele hospital foi reconstruído em alvenaria, sendo

inaugurado em 1940, o qual vem prestando serviços com atendimento de emergências,

internações etc. Ainda, no final da década de 1930, outro centro de tratamento de

saúde foi fundando, também construído todo em madeira, o qual deu origem ao atual

Hospital Nossa Senhora das Dores. As suas atuais instalações foram inauguradas em

1947.

Dentre os diversos tipos de prestações de serviços, o de alfaiataria era uma das

atividades que na época se valorizava pelo fato da pouca existência de comércios de

vestuários já confeccionados, principalmente vestes masculinas. Ao longo do tempo,

esse processo se inverteu, há atualmente inúmeras lojas de confecções e calçados, e

parte delas comercializa tanto para o gênero feminino como para masculino e infantil,

suprindo a demanda local e até mesmo de municípios circunvizinhos, Ouro e Zortéa.

43 A formação profissional desse cidadão não aparece muita clara em documentos pesquisados.

134

Quadro 14 - Estabelecimentos de Atividades Sócio-econômicas no Distrito Sede de Capinzal, Distrito de Ouro e no Interior do Município no período de 1930-1950.

Tipo de Estabelecimento Quantidade Total

Distrito Sede de Capinzal

Distrito Sede de Ouro

Interior do Município de Capinzal

Alfaiataria 2 1 x 1 Açougue 2 1 x 1 Barbearias 3 2 x 1 Bares 2 2 x x Carpintarias 3 2 x 1 Curtumes 3 3 x x Casas Comerciais 17 5 3 9 Escritórios e Representações

3 3 x x

Fábricas (carrocerias, carroças, cervejaria, agroindústria, vassouras, telhas e tijolos, etc.)

10

6

1

3

Farmácias 1 1 x x Ferrarias 6 2 x 4 Fotógrafo 1 1 x x Funilaria 1 1 x x Hotéis 2 2 x x Médicos/hospitais 3 2 x 1 Marcenarias 2 2 x x Moinhos 6 1 x 5 Mercadores Diversos 3 2 x 1

Panificadora 1 1 x x Selarias 4 3 x 1 Sapatarias 2 2 x x Torrefação de Café 2 2 x x Dados preparados e organizados por esta autora a partir de Brancher (1994).

Outro tipo de estabelecimento de serviços prestados era os de barbearias, ainda

hoje essa atividade permanece. Os serviços de carpintaria e marcenaria aparentemente

parecem não serem atividades muito procuradas pela população local, isso porque

parte das famílias elas mesmas construíam suas moradias e fabricavam sua própria

mobília. Esse tipo de atividade ia sendo transferido de pai para filho.

As ferrarias tinham inúmeras utilidades devido aos constantes usos de

ferramentas rústicas (machados, enxadas, foices, marretas, arados etc), mas modernas

para a época, que contribuíam na manutenção da estrada de ferro, para abertura e

conservação de ruas, construções de moradias, atividades agrícolas, enfim, inúmeras

outras utilidades.

As atividades industriais também possibilitavam no período compreendido entre

1930 e 1950 (Quadro 14) uma diversificação de produção, visto que era comum a

135

fabricação de carroças de tração animal para o trabalho agrícola, de carrocerias de

caminhões, de cerâmicas como de tijolos e telhas, suprindo em partes a demanda local.

A fabricação de vassouras, principalmente vassouras de palha feitas a partir de um tipo

vegetal, produto usado diariamente por donas de casa e estabelecimentos comerciais.

Capinzal passou a sediar também a partir de 1930, uma fábrica de cervejas e de

gasosas, que atualmente não possui mais atividades. Quanto aos estabelecimentos

comerciais (Quadro 14), parte deles localizados nos distritos sede de Capinzal e Ouro,

outros em localidades do interior como Barra do Pinheiro, Alto Alegre, Barro Preto, os

quais supriam parte da demanda desses locais. Os produtos comercializados eram

diversificados, bem como de utensílios domésticos, produtos alimentícios, de vestuários

(parte em tecidos para confecções de roupas), entre outros.

Outros estabelecimentos de atividades econômicas eram os de moagens

(moinhos coloniais), os quais na maioria localizados no interior do distrito de Capinzal,

como Barra do Pinheiro, Lindemberg. Os moinhos coloniais eram locais onde se

produzia principalmente a farinha de trigo e de milho para a demanda local, assim como

o processamento do descasque do arroz. Esse tipo de serviço prestado era uma

atividade ainda comum até o final da década de 1970 e início da década de 1980,

principalmente utilizado por famílias que viviam da agricultura e produziam seus

próprios alimentos, necessitando em alguns casos o processamento dos mesmos, em

particular a produção da farinha do milho e o beneficiamento do arroz.

Neste contexto, o desenvolvimento das atividades econômicas no espaço rural

de Capinzal criava condições para a expansão e inserção de novas atividades e

funções urbanas que vão suprir em parte a demanda.

De acordo com análise de documentos oficiais sobre Capinzal, tais como

decretos e leis municipais, imagens fotográficas, censos demográficos do IBGE e

conversas informais com moradores locais, essas leituras possibilitaram-nos a

interpretações de que até 1960, a área urbana não sofreu significativas expansões. A

população, porém, da sede distrital se concentrava em sua maior parte na várzea do

vale. Alguns indicadores demonstram que a partir da década de 1930 (Fotos 26, 27, 28,

29 e 30) começou a ocupação em direção às áreas um pouco mais elevadas do relevo

em relação ao rio, onde hoje se localizam a Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, com início

136

de sua construção na década de 1930 e a inauguração em 1950 (ALMEIDA, 2004); o

atual Colégio Mater Dolorum, edificado nos anos de 1940; o Hospital Nossa Senhora

das Dores, edificação atual iniciado em 1950; entre outros.

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal. Editado por Analice de Avila.

Foto 26 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1930

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal. Editado por Analice de Avila.

Foto 27 – Vista parcial da vila do Distrito de Rio Capinzal na década de 1940

137

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal. Editado por Analice de Avila

Foto 28 – Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida. Editado por Analice de Avila.

Foto 29 - Vista parcial da cidade de Capinzal na década de 1950

Legenda: 01 – Igreja Matriz São Paulo Apóstolo 02 – Ginásio Mater Dolorum 03 – Hospital Nossa Senhora das Dores 04 – Casa Paroquial 05 – Cine Farroupilha

Legenda: 01 - Igreja Matriz São Paulo Apóstolo. 02 - Residência denominada “mansão” por moradores locais de propriedade de Cosemino Epifhani (antigo morador). 03 – Hospital Nossa Senhora das Dores. 04 – Colégio Mater Dolorum. 05 – Ateneu Clube . 06 – Cine Farroupilha

138

Fonte: Acervo particular de Vitor Almeida, residente em Capinzal. Editada por Analice de Avila.

Foto 30 – Casa comercial na década de 1930

A partir de 1961 e até 1980, o processo de loteamento para fins urbanos, por

vias legais, era ainda incipiente (Fig. 04). O primeiro documento expedido e aprovado

pela administração pública municipal do qual se teve acesso para esta pesquisa com

referência a loteamentos, foi o Decreto nº 033/1962, que autoriza os loteamentos Santo

Antônio, São Luiz e Santa Terezinha e incorpora-os ao quadro urbano da cidade

(CAPINZAL, 1962). Outros loteamentos foram surgindo, como o Sezinando, o Nossa

Senhora de Lourdes, o Bela Vista, o São Cristóvão e o Por do Sol, por meio dos

Decretos nº 021/1967, 007/1978, 008/1978, 031/79 e 020/1980, respectivamente

(CAPINZAL, 1967, 1978, 1978, 1979, 1980). Conforme a administração pública

municipal autorizava os referidos loteamentos, o decreto correspondente aprovava

também a incorporação de tais áreas ao perímetro urbano.

Num período menor, de 1981 até 1990 (Fig. 04), o número de loteamentos

urbanos da cidade de Capinzal cresceu significativamente em relação aos períodos

anteriores. Dentre os documentos acessados, foram aprovados, por exemplo o Santa

Maria, o São Cristóvão II, o Jardim Cidade Alta, o Casagrande, o São João, o

Fernanda, o Poggere etc., segundo os decretos nº 011/1982, 091/1983, 003/1984,

019/1984, 059/1985, 004/1987 e 104/1990, respectivamente (CAPINZAL, 1982, 1983,

1984, 1984, 1985, 1987, 1990).

139

Nesse contexto de expansão da ocupação urbana de Capinzal, são muitas as

variáveis que vêm influenciando esse processo, dentre as quais destacam-se

condicionantes naturais como o relevo, que faz parte do Planalto Dissecado Rio

Iguaçu/Rio Uruguai e do Planalto dos Campos Gerais em Santa Catarina. A área

central urbana, portanto, é constituída por planície de inundação e morros, uma das

características do Planalto Dissecado.

As inundações provocadas pelas enchentes em conseqüência do tipo do relevo

foram, em específico, outra condicionante natural que também influenciou, em partes, a

expansão urbana de Capinzal. Dentre as enchentes com conseqüente inundação,

destacou-se a de julho de 198344, pelo fato de atingir maior número de população

residente e provocar o seu deslocamento para outras áreas da cidade, resultando em

(re)arranjos sócio-espaciais. A inundação de 1983 não afetou apenas a população

local, mas também a de todo o Vale do Rio do Peixe.

Desse modo, como a área central da cidade de Capinzal em que a ocupação e

as atividades econômicas de comércio e serviços estão concentradas, principalmente

na várzea do rio do Peixe, inúmeras edificações residenciais e algumas poucas

destinadas às atividades comerciais e de serviços se localizavam na chamada Beira Rio

(Fig. 04), nas proximidades da antiga estação ferroviária. Em função da enchente de

julho de 1983, toda a planície de inundação foi atingida e aproximadamente 87

residências (ALMEIDA, 2005 (b)) localizadas na parte mais baixa da planície foram

completamente destruídas. Em decorrência àquela inundação, as famílias que

perderam suas moradias, próprias ou alugadas, foram relocadas45 para o bairro São

44 Ocorreram outras inundações como a do ano de 1911 que, de acordo com Almeida (2004), no mês de setembro ocorreu uma das primeiras e das mais violentas enchentes que atingiu não somente a Vila de Rio Capinzal, mas todo o estado catarinense, levando a um grande somatório de prejuízos e até casos de mortes em locais atingidos pelas inundações. Aquela enchente, porém, atingiu cidades localizadas nas bacias hidrográficas do rio do Peixe, do rio Uruguai, do rio Itajaí, do rio Iguaçu, entre outras. Em junho de 1939, mais precisamente no dia 21 (vinte e um), a população de Capinzal do Distrito de Rio Capinzal sofre novamente com outra enchente, assim como todo o vale do Rio do Peixe, principalmente aquelas localidades próximas ao rio. Na ocasião, aquele rio e seus afluentes transbordaram de forma assustadora, criando inúmeros problemas aos habitantes do distrito, bem como prejuízos ao comércio, à pequena indústria e a todos os moradores ribeirinhos que tinham suas casas edificadas na planície (ALMEIDA, 2005(a)). 45 As famílias atingidas após a enchente de julho de 1983 estavam alojadas em casas de parentes e amigos (CORONETTI, 2005) até que fossem resolvidas suas situações de moradia e residência pela administração pública municipal.

140

Cristóvão, onde foi criado o loteamento Vila 7 de Julho46 para essa finalidade. O

processo de relocamento das famílias que perderam suas moradias, de acordo com

Almeida (2005(b)), aquelas que tinham terreno com edificação ou não e com escritura

pública legalizada, a administração pública municipal da época adquiriu um terreno no

bairro São Cristóvão, denominado Vila 7 de Julho, em função da enchente, e fez uma

permuta com cada proprietário no valor equivalente.

A prefeitura indenizou pelos lotes e moradias localizados na área de risco quem

não aceitou a permuta (CORONETTI, 2005). Aqueles moradores que não eram

proprietários, residiam de aluguel, mas tinham condições de comprar e pagar um lote

parceladamente também foram relocados e proporcionadas condições para que seu

terreno fosse pago. As famílias que não tinham condições de pagar as prestações de

um terreno, segundo Almeida (2005(b)), foram alojadas da mesma forma.

Posteriormente, todas as famílias se tornaram proprietárias dos terrenos a elas

designados, dos quais a “prefeitura repassou a escritura pública individual para que

elas pudessem morar naquelas propriedades, na Vila 7 de Julho.” (CORONETTI, 2005).

Nessas condições, não era mais possível que aquelas famílias permanecessem no

local de inundação, já que a área é considerada inadequada para residências, pois é

caracterizada como de risco.

Aquela área, portanto, posteriormente foi considerada pela legislação municipal

imprópria para parcelamento e uso do solo para fins de edificações residenciais,

comercias ou industriais. De acordo com o artigo 5º, do parágrafo V, da Lei municipal nº

1291/1987, não é permitido o parcelamento do solo em “terrenos alagadiços ou sujeitos

à inundação antes de tomadas as providências para assegurar o escoamento das

águas” (CAPINZAL, 1987(a)). Assim como o artigo 12 da Lei municipal nº 1552/91, que

alterou o artigo 12 da Lei nº 1.291/87 entrou em vigor com a seguinte redação: “Ao

longo das águas correntes e dormentes das faixas de domínio público das rodovias,

ferrovias e dutos, será obrigatória a reserva de faixa nom aedificant, correspondente a

50 (cinqüenta por cento) de largura dos mesmos, mas, nunca inferior a 05 (cinco metros

lineares) da sua margem. Porém, “Todas as construções já edificadas e as em

46 O nome é em decorrência da enchente, que teve o nível mais alto das águas no dia 07 de julho de 1983.

141

andamento não podem ser prejudicadas pelo presente artigo.” Assim como, para “as

construções que se fizerem necessárias até as margens do rio será obrigatoriamente

construído um muro de ciclope de acordo com as exigências da municipalidade,

tornando sem efeito a reserva técnica constante do artigo.” (CAPINZAL, 1991).

O local tem, atualmente, a finalidade de uso público e foi transformado em área

de lazer com quadras de esportes, local para festividades, ciclovias etc. (Fig. 04).

O terreno destino ao loteamento Vila 7 de Julho era rural e foi adquirido47 e

desmembrado pela prefeitura municipal em lotes urbanos com infra-estrutura como

energia elétrica, água, arruamento, anexando-se ao perímetro urbano. De acordo com

Coronetti (2005) “alguns que ganharam o terreno na Vila 7 de Julho ou que fizeram a

permuta já venderam e foram embora, mas a maioria ainda permanece no local”.

Atualmente, a Vila 7 de Julho, como é denominada toda a região próxima ao

loteamento inicial, tem características eminentemente urbanas, em que as atividades

sócio-econômicas são diversificadas, principalmente relacionadas às atividades

comerciais e de serviços como de vestuários e calçados, panificadoras, mercados,

mercearias, bares, lanchonetes, oficinas mecânicas, salão de beleza, entre outras

atividades que suprem boa parte da demanda local.

Alguns dos empreendedores dessas atividades econômicas foram entrevistados

para esta pesquisa. Dentre os questionamentos levantados, frisou-se a questão do

motivo pelo qual estabeleceram suas atividades no local. Os entrevistados

responderam unanimemente que foi pelo fato de a demanda local e por falta,

inicialmente, daquele tipo de comércio e serviço. Pode-se observar, também, que boa

parte da comercialização de produtos e dos serviços prestados são consumidos por

funcionários da empresa Perdigão e/ou moradores locais. Segundo um dos

entrevistados48, proprietário de uma loja de confecções de vestuários e calçados,

aproximadamente 80% da venda dos produtos de seu estabelecimento são para

funcionários daquela empresa (CERUTTI, 2006). Isso ocorre também com outros tipos

47 O terreno adquirido era de propriedade da família Lanhi e a outra parte era da família Bressan. (CORONETTI, 2005). 48 Comerciante há 13 anos na Vila 7 Sete de Julho. Entrevista realizada em 02 fev. de 2006.

142

de atividades sócio-econômicas, bem como, mercados, mercearias, salões de beleza,

visto que parte dos consumidores trabalha na empresa Perdigão49.

Outro exemplo de expansão da área urbana foi a criação do loteamento Colina

em 1992, por meio do decreto nº 004/1992 (CAPINZAL, 1992), também no bairro São

Cristóvão (Fig. 04). O terreno era de propriedade da Prefeitura Municipal de Capinzal,

que foi desmembrado e loteado com o objetivo principal de vender os lotes aos

funcionários públicos municipais que não possuíssem outro imóvel.

Nessas condições, de acordo com Coronetti (2005), foi feito um levantamento e

aqueles que não tinham lote e nem casa tiveram prioridade nesse procedimento.

Alguns terrenos excedentes foram vendidos às famílias mais carentes e, ainda, aos

proprietários de pequenas empresas para incentivar a atividade sócio-econômica.

Dentre as empresas beneficiadas, pode-se citar as de atividades de estofaria,

transportes, ferro velho, indústria e comércio de máquinas, entre outras. Atualmente,

algumas dessas empresas não têm mais atividade no local e/ou até mesmo não

existem mais.

Ainda, sob contextos de expansão urbana de Capinzal, articulada às atividades

sócio-econômicas, percebe-se também que há uma tendência desse fenômeno de

expansão em direção às proximidades das instalações da agroindústria Perdigão.

Alguns loteamentos têm sido criados em função de novas exigências sócio-econômicas

e especulação imobiliária, assim como do surgimento da extensão do Campus

Universitário Unoesc de Joaçaba em Capinzal50. Dentre os loteamentos, destacam-se

o João Evangelista Parizotto (conhecido como Parizotto), o Lar Imóveis e o

Universitário, todos aprovados pelos decretos nº 073/1992, nº 011/1998 e nº 024/2000,

respectivamente (CAPINZAL, 1992, 1998, 2000).

De acordo com Coronetti (2005), o loteamento Parizotto foi aprovado há

aproximadamente 16 anos quando teve início a comercialização de lotes. “Surgiu em

conseqüência do desenvolvimento do município, com a presença da empresa Perdigão”

(CORONETTI, 2005). Na época em que foi loteado, muitas famílias oriundas do interior

49 Informações obtidas por intermédio de conversas informais com moradores e empreendedores de atividades sócio-econômicas. 50 Os cursos superiores oferecidos pela Unoesc em Capinzal são de Administração, Pedagogia, Pedagogia Empresarial, Tecnologia em Gestão de Agronegócio e Tecnologia em Informática, cursados tanto por alunos residentes em Capinzal como em Ouro, Zortéa etc.

143

de Capinzal, assim como de outros municípios vizinhos tais quais Campos Novos,

Machadinho (RS), Piratuba e Ipira começaram a se concentrar naquela área,

principalmente pela proximidade do trabalho, naquela empresa. “Daí o desenvolvimento

de Capinzal, a partir dos novos loteamentos” (CORONETTI, 2005), em função da

agroindústria.

O loteamento Parizotto, portanto, foi um dos que mais cresceu em termos de

fixar residências e, conseqüentemente, pequenos comércios locais. Atualmente, parte

da população que lá vive é composta de funcionários da empresa Perdigão. “Em

conseqüência disso, lógico, veio o comércio, outras pequenas indústrias, outras

prestadoras de serviços (....), a universidade também está trazendo um novo

loteamento, e já começou a valorização dos lotes”, diz Coronetti (2005).

Assim sendo, as atividades sócio-econômicas que vêm se desenvolvendo

nesses novos loteamentos se distribuem entre lojas de materiais de construção,

mercados, bares, lanchonetes, confecções de vestuários e calçados, oficinas

mecânicas, restaurantes e sala de costura, entre outras atividades. Essas atividades,

assim como aquelas desenvolvidas na Vila 7 de Julho, suprem boa parte da demanda

local. Os loteamentos nas proximidades da Perdigão e da Unoesc (extensão Capinzal)

vêm demonstrando uma maior dinamicidade tanto em crescimento populacional quanto

de atividades de comércio e serviços, devido à concentração de trabalhadores na

agroindústria e ao fato de algumas deles estudarem na universidade. Dentre as

atividades desenvolvidas, a partir de entrevistas realizadas no local com proprietários

de um comércio de materiais de construção e uma prestadora de serviços de confecção

de vestuários, cama e mesa, constatou-se que ambos compartilham da idéia de que

manter atividades sócio-econômicas no loteamento Parizotto é vantajoso pelo fato de a

demanda local gerar maior possibilidade de comercialização e, o mesmo, vir crescendo

substancialmente. “O loteamento é novo e de futuro, com possibilidade de mais

clientela”, além do aluguel ser mais em conta do que no centro da cidade, afirma Avila

(2005). E, ainda, de acordo com Bof (2006), proprietário de uma loja de materiais de

construção, “há muitas vantagens nesse tipo de atividade, pois tem demanda, sempre

estão construindo ou reformando casas. A procura por materiais de construção é

bastante na região” (BOF, 2006). Desse modo, ambos os entrevistados afirmam que a

144

comercialização e prestação de serviços são principalmente para funcionários da

Perdigão que residem naquelas proximidades e clientes que residem em outras partes

da cidade e loteamentos e, até mesmo, no interior do município.

Ainda, nessa perspectiva da expansão urbana de Capinzal, há um projeto

elaborado pela administração pública municipal, por meio do Conselho Municipal da

Indústria, Comércio e Turismo de Capinzal – INCOTUR, para a implantação do Distrito

Industrial em um terreno já adquirido para essa finalidade, com a extensão de

67.000m², localizado às margens da rodovia SC-458, km 05, trecho Capinzal/Zortéa

(CAPINZAL, 2006), a aproximadamente 2Km da unidade industrial da Perdigão e a

8Km da cidade de Zortéa.

Sobre a lei para o parcelamento do solo urbano, que abrange também a criação

de novos loteamentos, foi criada em 1987 sob o nº 1291/1987. Dessa forma, entre os

requisitos urbanísticos para loteamentos, são consideradas as áreas destinadas ao

sistema de circulação e com espaços livres para uso público, isto é, são consideradas

áreas públicas pelo menos 35% da gleba a ser loteada, nas seguintes proporções: 8%

para as áreas comunitárias, destinadas à implantação de equipamentos urbanos e

comunitários; 7% para as áreas verdes e espaços livres de uso públicos e; 20 % para

áreas destinadas ao sistema de circulação. Outro requisito, nenhum lote poderá ter

área inferior a 360m², e frete para a via de circulação de largura inferior a 12m. Também

não é permitido o parcelamento do solo em terrenos com declividade igual ou superior a

30%, (CAPINZAL, 1987(a)), por se tratar, nessas condições, dá área de risco de

deslizamentos. Nesses termos, os novos loteamentos que vêm surgindo devem passar

pela aprovação do projeto na prefeitura, dentro das normas exigidas, para

posteriormente dar início ao parcelamento e loteamento.

Nesse contexto da produção do espaço urbano de Capinzal que envolve

diversas atividades sócio-econômicas inerentes à dinâmica da sociedade, vem se

desenvolvendo, também, as atividades do setor metal-mecânico. Dentre essas

atividades destacam-se as empresas Gratt Indústria e Comércio Ltda., que há

aproximadamente 16 anos atua no loteamente Santa teresinha (GRATT, 2006), e,

posteriormente, a Fast Indústria e Comércio Ltda, situada na Vila 7 de Julho. Esse setor

industrial e comercial em Capinzal tem como principal produto industrializado e

145

comercializado o decanter centrífugo, tecnologia que permite separar uma fase sólida

de uma ou duas fases líquidas, amplamente utilizada em Estações de Tratamento de

Esgoto, Estações de Tratamento de Despejos Industrias e Frigoríficos e Estações de

Tratamento de Água. Esse tipo de produto fabricado é pioneiro no Brasil, tecnologia

trazida pela Gratt Indústria e Comércio Ltda. Com isso, a comercialização e

manutenção desse tipo de produto vêm sendo desenvolvidas em boa parte do território

nacional, entre eles o Sul, o Sudeste, o Nordeste, com perspectivas de ampliar para o

mercado internacional (GRATT, 2006). Essa é, portanto, uma tendência de uma nova

atividade sócio-econômica que desponta em Capinzal, um reflexo da produção sócio-

espacial.

3.3.4 Usos e especulação da terra urbana e suas conseqüências

A terra urbana tem, em princípio, um duplo papel, “o de suporte físico e o de

expressar diferencialmente requisitos locacionais específicos às atividades” (CORRÊA,

1989, p. 13) nela desempenhadas, inerentes a especulação fundiária. Assim, a

especulação fundiária geradora do aumento do preço da terra é um ícone entre os

agentes produtores do espaço urbano, como: os proprietários dos meios de produção,

que estão diretamente envolvidos com as atividades produtivas; os proprietários

fundiários, que têm interesses na urbanização, isto é, transformar terras rurais em

urbanas, pois as valoriza mais; os promotores imobiliários, que agem como mediadores

entre os proprietários imobiliários e consumidores/compradores; além, é claro, do

Estado que, via de regra é normatizador/legislador e fornecedor de infra-estrutura mas,

muitas vezes, é também proprietário fundiário que, por razões óbvias, têm interesses na

urbanização e na expansão da área urbana. Esses interesses bem como os impostos e

a tributação trazem para o município maior receita tributária.

Nesse contexto, a terra urbana, de maneira geral, de acordo com a sua

localização e condições físicas, dentre outras condicionantes, tem valorização

diferenciada, isso também ocorre em Capinzal (Quadro 15) e onde a comercialização

quase sempre vem sendo mediada por promotores imobiliários, em alguns casos pelo

146

proprietário fundiário, a exemplo do loteamento João Lanhi, no qual o proprietário fez o

desmembramento e vem comercializando os terrenos.

Quadro 15 - Média de preços de lotes urbanos em Capinzal em 2006. Localização Metragem (média) em m² Valor (médio) em reais

Loteamento São Luiz 360 a 420 10.000 a 15.000 Vila 7 de Julho 360 a 420 15.000 a 20.000 Prox. do Colégio Mater Dolorum 1.500 a 1.600 25.000 a 30.000 Centro – Rua XV de Novembro 420 300.000 a 600.000 Centro – Rua Presidente Nereu Ramos

900 400.000

Loteamento Santa Terezinha (nas imediações da sub estação da CELESC)

360 a 420

20.000 a 25.000

Loteamento Santa Terezinha (nas proximidades da SC 303 e da Delegacia de Polícia)

360 a 420

40.000 a 50.000

Loteamentos Parizotto, Lar Imóveis e Universitário

360 a 420 20.000 a 40.000

Loteamento Colina 360 a 420 15.000 Bairro São Cristóvão (nas proximidades da Escola de Educação Básica São Cristóvão)

360 a 420

20.000

Loteamento São Roque 360 a 420 5.000 a 8.000 Loteamento João Lanhi 450 a 530 8.000 a 9.000 Fonte: Informações fornecidas por empreendedores imobiliários, dentre eles o corretor Alvair Faccin da empresa Empreendimentos Imobiliários Compras e Vendas de Terras, e Haroldo J. Lanhi. Dados obtidos nos dias 24 e 25 de julho de 2006.

Para exemplificar, os lotes localizados na área central da cidade, nas

imediações das ruas XV de Novembro e Presidente Nereu Ramos (Quadro 15), são os

mais valorizados, principalmente pelas suas proximidades aos serviços e funções

urbanas e por serem terrenos planos. Já alguns terrenos localizados nas imediações do

Colégio Mater Dolorum, próximos à área central, com dimensões maiores em relação

aos do centro da cidade, apresentam preço, em média, 15 vezes menor.

Isso ocorre, em partes, pela declividade dos terrenos, entre outros agravantes,

sendo necessárias terraplanagem e/ou pilares de sustentação para edificações. Nessa

perspectiva, tanto aqueles quanto esses terrenos são alvos de promotores imobiliários.

As condições físicas também afetam a valorização de terrenos localizados no

loteamento São Luiz, praticamente toda aquela área é íngreme, não dispondo ainda,

em algumas localizações, de ruas pavimentadas, dificultando seu acesso.

147

Ainda, na perspectiva do valor da terra urbana de Capinzal, os loteamentos João

Lanhi e São Roque, que são desmembramentos recentes em relação aos demais e

incorporados à área urbana, ainda não dispõem de escritura pública individual dos

lotes, além disso, até o momento, as ruas não foram pavimentadas (LANHI, 2006(a);

FACCIN, 2006), o que justifica o menor valor em relação aos demais. A comercialização

dos terrenos daqueles loteamentos é, em sua maioria, para funcionários da empresa

Perdigão. Dos terrenos do loteamento João Lanhi, em particular, sobretudo os

localizados nas proximidades da Vila 7 de Julho, segundo Lanhi (2006(a)),

aproximadamente 80% dos compradores são funcionários daquela empresa.

Outros exemplos de que a valorização da terra urbana está vinculada à

localização e às condições físicas são os loteamentos Parizotto, Lar Imóveis e

Universitário, nas imediações da Perdigão e da Unoesc. Estes, vêm tendencialmente

valorizando, isto é, há dois ou três anos era possível adquirir lotes naquela região por

valores entre R$ 10.000,00 e R$ 15.000,00. Devido à especulação imobiliária e à

proximidade, principalmente com a grande indústria, essa realidade vem se

modificando, pelo fato, também, de maior dinamicidade sócio-econômica local de

comércios e serviços urbanos que vêm sendo implantados, além de boas condições

físicas dos loteamentos como um todo, localizados no planalto da cidade.

Esses exemplos do preço da terra urbana de Capinzal sugerem uma certa

tendência. Muitas vezes num mesmo loteamento, determinadas localizações são mais

valorizadas do que outras. Isso ocorre pela facilidade do acesso, pela proximidade com

algumas instituições e serviços públicos urbanos, pela disponibilidade de maiores

recursos infra-estruturais, como arruamento pavimentado, entre outros aspectos, como

é o caso do loteamento Santa Terezinha, onde os lotes que se localizam nas

imediações da SC 303 e da Delegacia de Polícia são mais valorizados do que aqueles

que estão mais ao interior do loteamento e na encosta.

3.4 OUTRAS ARTICULAÇÕES NAS RELAÇÕES URBANO-REGIONAIS

A predominância da população urbana em relação à população rural que vem

ocorrendo em Capinzal nas últimas décadas, principalmente, a partir dos anos de 1990,

148

embora com essa tendência desde a década anterior (Quadro 04), demonstra reflexos

do dinamismo sócio-espacial relacionados ao comportamento de desenvolvimento

local/regional. Esse comportamento vem se manifestando a partir do momento em que

as atividades sócio-econômicas - no caso o sistema agroindustrial - começaram a

ocupar mais espaço, refletindo, assim, nos processos de mudanças e nos modos de

vida urbano e rural.

Porém, independente de quem vive no espaço rural ou urbano, isso não significa

que a sociedade rural não consuma o espaço urbano e não faça parte de seu processo.

Muito pelo contrário, pois é ativa e participa indiscutivelmente dessa relação

urbana/regional que, cada vez mais, está articulada por meio de aspectos sociais,

políticos, culturais e econômicos.

Entre tantos outros exemplos dessa articulação, estão os eventos da feira do

gado com leilões e exposições, rodeios, atividades esportivas, shows etc. Esses

eventos, como a Expovale (Fig. 05) e a Feira de Eventos e Negócios (Fig. 06) acorrem

intercalados de dois em dois anos e mobilizam boa parte da população capinzalense

tanto na organização quanto na comercialização e diversão proporcionadas por meio da

administração pública municipal, de empresários, de produtores rurais e da sociedade

como um todo. Interagindo também com municípios vizinhos, como Ouro e Zortéa.

Ainda, esse tipo de evento projeta, de certa forma, o lugar para dimensões

escalares maiores tanto a nível local/regional como estadual e, até mesmo com

perspectiva nacional, apesar deste ainda ser incipiente. Assim sendo, eventos como

esses une pelas relações urbano-regionais os quatro aspectos acima referidos, o social,

o político, o econômico e o cultural, simultaneamente. Consubstanciados, ainda, a uma

perspectiva de cidade de agronegócio.

149

Fonte: Expovale Capinzal. In: www.capinzal.sc.gov.br. Acesso em 20/08/2006.

Fig. 05 - Demonstração do Evento Expovale de Capinzal realizado no ano de 2005.

150

A Associação Amigos de Capinzal, presidida pelo vice-prefeito, Leonir Boaretto, reuniu-se na sexta-feira (04) para discutir a organização da Feira de Eventos e Negócios 2006, que realiza-se bianualmente, intercalada à Expovale. A feira foi confirmada para os dias 12 a 15 de outubro, no Parque de Exposições Domingos Pellizzaro, em Engenho Novo.

A programação será aberta no feriado de 12 de outubro, com o jantar de entrega da premiação do Troféu Destaque Econômico 2006, cuja seleção dos empresários e produtores rurais agraciados caberá ao Conselho Municipal de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Turismo (Incotur), com base em dados relativos ao ano 2005 do retorno da arrecadação de impostos do Município.

No dia 13, ocorrerá o II Leilão da Raça Simental transmitido ao vivo para todo o Brasil pelo Canal do Boi. No dia 14 será a vez da XVII Feira do Gado Geral e no dia 15, as provas válidas pelo Sul Brasileiro e pelo catarinense Riffel de Motocross.

A programação agropecuária está sendo coordenada pelo Sindicato Rural e as provas de motocross pelo Moto Clube. A Associação Amigos de Capinzal ainda estuda a organização de outras atrações na área esportiva, bem como a reedição da tenda eletrônica realizada durante a Expovale.

Dia 13 de outubro de 2006 (sexta-feira) – 20:00h

45 lotes de reprodutores e matrizes de alto padrão genético. Ao vivo para todo o Brasil pelo Canal do Boi durante a Feira de Eventos e Negócios 2006, no Parque de Exposições Domingos Pellizzaro, SC- 303, km 12, Engenhno Novo, emCapinzal.

Fonte: Feira de Eventos e Negócios. In: www.capinzal.sc.gov.br/noticiasonline/molduras/expo2006.htm. Acesso em: 20/08/2006.

Fig. 06 - Divulgação da Feira de Eventos e Negócios de Capinzal, 2006.

151

Nesse contexto, não há como discutir o urbano e o rural sem fazer relações,

mesmo porque essas relações estão também calcadas por intermédio da agroindústria,

já que ela depende, grosso modo, de ambos para a sua sobrevivência. De um lado, são

os produtores rurais que fornecem a matéria-prima (no caso, a criação do frango), e

muitos deles praticam paralelamente a cultura do milho, da soja, do feijão etc. Boa parte

dessa produção, principalmente de milho, é adquirida pela agroindústria para ser

transformada em ração/alimento, outra parte é comercializada com as cooperativas, a

Copérdia de Concórdia e a Coper Campos de Campos Novos, ambas com unidade em

Capinzal, a Coper Rio de Joaçaba e a Agro Ouro do município de Ouro.

De outro lado, está a população urbana, que se divide entre o fornecimento da

mão–de–obra para o processo industrial e de transformação e o sistema de comércio e

serviços, que comercializa e presta serviços à sociedade como um todo. Nesse

processo, as relações sócio-econômicas entre o campo e a cidade estabelecem

cumplicidades, refletindo em Capinzal a particularidade do lugar. Porém, essas relações

remetem à idéia que culmina com a “vitória da cidade sobre o campo” a partir da grande

indústria (CORRÊA, 1989, p.41), pelo fato de a cidade comportar maior concentração e

circulação de pessoas, poder de decisão e ser o lugar que comporta sistematicamente

a agroindústria, no caso Capinzal.

Dessa forma, analisar Capinzal significa compreender a dinâmica social

independentemente do recorte espacial apreendido. Pois pensar as relações entre a

cidade e o campo é ter uma idéia do todo, de como o espaço vem sendo apropriado por

meio das relações urbano-regionais.

Nessa perspectiva, algumas atividades sócio-econômicas e formas de

(re)produzir a vida em contextos atuais no interior do município, tomou-se como

exemplo algumas localidades51 (Fig. 07) a partir das quais far-se-á uma interpretação

das relações urbano-regionais daquele município.

51 A escolha por apenas algumas localidades dá-se porque a partir delas mesmas é possível ter uma idéia de como vem se processando o comportamento da dinâmica sócio-espacial no interior do município de Capinzal.

152

Figura 07 - Capinzal e a sua hinterlândia municipal

SC303

LACERDÓPOLIS

153

Assim sendo, no Distrito de Alto Alegre (Fig. 07), dentre as atividades sócio-

econômicas e serviços à comunidade que vêm se desenvolvendo são destaque um

abatedouro de bovinos; duas indústrias de cerâmicas; um mini-mercado; uma fábrica de

cadeiras; um posto de saúde, que atende a população local de segunda a sexta-feira;

um posto telefônico; uma agência de correio; uma escola de ensino fundamental;

produção de leite, cuja comercialização é com a empresa de laticínios Tirol, de Treze

Tílias (SC). Boa parte das atividades está, também, vinculada ao sistema agroindustrial

da Perdigão, onde a maioria da população local trabalha na unidade industrial52 ou na

granja de recria situada naquele distrito ou, até mesmo mantém algum vínculo com

aquela empresa através do sistema de integração.

Alguma “semelhança” ocorre na localidade de Lindemberg (Fig. 07), que dispõe

de dois mini-mercados; dois bares; um ginásio de esportes; uma escola de ensino

fundamental; uma indústria de cerâmicas; um posto de saúde, que atende à população

de segunda a sexta-feira, com disponibilidade de médico dois dias por semana e

dentista uma vez semanal; uma usina elétrica de propriedade particular da indústria de

cerâmicas; e um CTG – Centro de Tradições Gaúchas, entre outros. Naquela localidade

de Lindemberg, de acordo com conversas informais com moradores locais, alguns

trabalhadores são funcionários da empresa Perdigão, cerca de 40%, outros são

funcionários de uma empresa terceirizada, Linger, que presta serviços de carregamento

de frangos a partir de acordo firmado entre a Perdigão e os produtores de frangos,

alguns, ainda, trabalham na indústria local de cerâmicas, e outros são avicultores.

Essas são as maneiras de aquela população encontrar os modos de produzirem suas

vidas.

52 Os funcionários da unidade industrial da empresa Perdigão que residem nas localidades do interior do município ou até mesmo na cidade, em loteamentos distantes e municípios como Ipira, Piratuba, Lacerdópolis, Ouro, Zortéa, Herval D´Oeste em Santa Catarina e, de São José do Ouro, Barracão, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva e Viaduto, no Rio Grande do Sul são transportados por empresas de transporte coletivo terceirizadas por aquela agroindústria (BONATO, 2005).

154

Outra localidade foi a de Vidal Ramos, na qual a população local dispõe de um

posto telefônico53 com atendimento ao público duas vezes semanais; duas indústrias de

cerâmicas em funcionamento; uma ervateira; dois bares; uma biblioteca municipal; uma

granja de recria de propriedade da empresa Perdigão. Naquela localidade os

trabalhadores se dividem entre as atividades na granja denominada Ouro, na ervateira,

nas indústrias de cerâmicas e principalmente na unidade industrial da Perdigão.

Barro Preto (Fig. 07) é um outro exemplo de localidade que reflete claramente

suas relações com o setor industrial, porém com um diferencial, boa parte das terras e

das atividades que lá se desenvolvem estão vinculadas à família Hachmann -

proprietária de uma madeireira de serragem e de beneficiamento, além da produção de

pasta mecânica e florestamento de pinus, referida anteriormente. Outras atividades,

são as de sistema de integração com a empresa Perdigão, por meio das granjas

matrizes, além de granjas de frangos de corte, de propriedade da, também, família

Hachmann, que é empregadora de mão-de-obra da maior parte da população local,

tanto no segmento madeireiro quanto na avicultura.

O vínculo, pelo sistema de integração da localidade de Barro Preto com a

Perdigão ocorre também com alguns produtores rurais, porém em menor escala. Ainda,

aquela localidade dispõe de uma indústria de cerâmicas, dois mini-mercados, um posto

de saúde, um posto telefônico, uma unidade escolar de ensino fundamental e uma

creche, atendendo, em partes, a demanda local e também das vizinhas localidades de

Barro Branco e Nova Beleza.

Na localidade de Barro Branco (Fig. 07), situada ao sul do município de Capinzal,

na divisa com o Estado do Rio Grande do Sul, as atividades vinculadas à empresa

Perdigão são praticamente maciças, pois boa parte das famílias são produtoras rurais

de economia familiar e integradas ao sistema agroindustrial. A localidade dispõe

também de uma indústria madeireira, porém sem vínculo empregatício, com base

apenas no trabalho familiar.

Esses são apenas alguns exemplos, em Capinzal, que mantém ativamente a

dinamicidade sócio-espacial além do uso de determinados recursos urbanos como de

53 A localidade de Vidal Ramos foi a primeira a receber a instalação de telefonia no município de Capinzal.

155

comércio e serviços, movimentações financeiras, a migração pendular, que é uma

característica comum de quem reside num bairro e trabalha em outro, ou que todos os

dias se desloca do interior do município ou de outros municípios para produzir seu

trabalho na unidade industrial.

Esses tipos de uso do território nas suas diferentes localizações tendencialmente

representam o domínio do espaço geográfico pela sociedade que nele habita por

intermédio de suas interações e articulações, na busca pela sobrevivência. Porém,

quase sempre subverniente ao poder econômico industrial.

156

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Somos frutos da paisagem em que vivemos; ela dita nosso comportamento e até nossos pensamentos, na medida em que reagimos a ela.” Laurence Durrel

Para embasar o estudo sobre aspectos da produção do espaço geográfico de

Capinzal a partir das relações e trajetórias urbano-regionais procurou-se, neste

trabalho, antecedentes da formação sócio-espacial para entender como na atualidade,

as articulações local-regional vêm se (re)produzindo a partir de aspectos dinâmicos da

sociedade.

Analisaram-se dados de sua ocupação efetiva, a partir das primeiras décadas do

século XX, por processos colonizatórios, articulados às conjunturas de escala nacional

e regional, passando-se pelas intervenções estatal e de empresas privadas, até chegar

aos dias atuais, para assim conhecer as relações espaciais, consubstanciadas nas

atividades sócio-econômico-culturais.

Este estudo, portanto, dá uma idéia de como a dinâmica sócio-espacial vem se

articulando no município e de como ela mesma é um reflexo de conjunturas das

relações de escalas regional e nacional. Num primeiro momento, nota-se que sob

contextos político-administrativos a ocupação efetiva de Capinzal, assim como de todo

o oeste e meio-oeste catarinense tiveram influências (in)diretas do governo federal, isto

é, de facilitador da ocupação e o uso de espaços que até então não haviam sido

explorados e encontravam-se, de certo modo, ociosos nas configurações e trajetórias

capitalistas de produção naquele período.

Na ótica estatal e capitalista havia a necessidade de ocupar e explorar aqueles

espaços, mas para isso precisava-se conectar aquelas áreas, em vias de expansão

produtiva, com outras áreas que já se encontravam no circuito econômico do Brasil,

principalmente com o sudeste, que se mostrava mais dinâmico sócio-economicamente

em relação às demais regiões do país.

Foi, então, a partir da construção da chamada “grande” via de circulação

ferroviária, a Viação Férrea Federal São Paulo Rio Grande, com investimentos de

157

capitais estrangeiros, sob responsabilidade da empresa concessionária Brasil Railway

Company, no início do século XX, que os contextos de usos & abusos territoriais

começaram a ser demarcados.

Aquela ferrovia passou, desse modo, a fazer parte do cenário nacional e

interligar as diversas partes do país, possibilitando a produção e circulação de

mercadorias. Sem dúvidas, a ferrovia foi um importante vetor para a inserção de novas

atividades econômicas e/ou expansão de colônias gaúchas alemãs e italianas, que se

estenderam por boa parte do meio-oeste e oeste catarinense.

Nesse contexto, Capinzal não fugiu a regra, sendo colonizado, principalmente,

por descendentes de italianos por empresas subsidiárias da Brasil Railway Company.

No final da primeira década do século XX, Capinzal passou a fazer parte de uma nova

realidade nacional, pois nascia lá como em vários outros lugares do território

catarinense, inclusive, no Vale do Rio do Peixe, a possibilidade do surgimento de novas

cidades e, conseqüentemente, geração de novos municípios.

Com a inserção de atividades sócio-econômicas por meio da agricultura de

pequena produção familiar, da atividade madeireira, da agropecuária e, por fim, da

agroindústria, Capinzal passa, lentamente, a contribuir no cenário nacional como

integrante na produção de mercadorias.

De mero ponto estratégico de passagem e circulação de produtos para

comercialização, dentre eles o gado já no início do século XX, do Rio Grande do Sul

para São Paulo, por tropeiros e viajantes, a partir de então passa a registrar em suas

“páginas diárias” a (re)produção da vida local, chegando a significante difusor de

tecnologias pela produção de frangos, no Brasil da atualidade. Realidade que é um

reflexo da economia nacional, principalmente a partir da década de 1980, quando, por

intermédio da atividade agroindustrial ela se projeta, de certo modo no cenário regional,

estadual, nacional e atravessa fronteiras nacionais e continentais, inserindo-se no

contexto do capitalismo industrial de produção pela atividade avícola, o frango.

Essa realidade é uma tendência em Capinzal como uma cidade de

agronegócios, que vem se desenvolvendo desde a década de 1930, com o início da

inserção da atividade agroindustrial pelas Indústrias Reunidas Ouro S/A, voltada ao

processamento de carnes suínas e aves.

158

Porém, essa atividade ganha maior dinamismo a partir da década de 1980,

quando o Grupo Perdigão adquire aquela indústria e assume a produção e

industrialização de frangos, um segmento da economia que abarca tanto o campo, por

meio do sistema de integração com produtores rurais, que são responsáveis pelo

fornecimento da matéria-prima, quanto a cidade que oferece a mão-de-obra, a infra-

estrutura necessária por intermédio da sociedade e o poder público municipal para o

processo industrial e a relação com outros segmentos econômicos, como comércios e

serviços, outras indústrias, e o setor imobiliário, entre outros. Forma-se, então, uma

rede, onde o trabalho e a produção econômica se relacionam e articulam entre si,

criando assim uma interdependência sócio-econômica. Além disso, a atividade

agronegócio é uma tendência também, atualmente, mostrada em exposições e feiras

de produtos agropecuários que ocorrem, anualmente, com perspectivas regionais,

dinamizando ainda mais a partir das relações sócio-espaciais, a proximidade entre

localidades do campo e da cidade e entre municípios circunvizinhos, como Ouro e

Zortéa.

Desse contexto de relações sócio-espaciais pode-se articular às idéias de Santos

(2004, p. 286) que diz, de um modo geral, que “as cidades são o ponto de intersecção

entre verticalidades e horizontalidades”, por meio de arranjos territoriais. É, ainda, nas

cidades que as forças centrípetas e centrífugas “atravessam o território, como

tendências ao mesmo tempo contrastantes e confluentes, agindo em diversos níveis e

escalas”.

Desse modo, as forças centrípetas são resultados do processo econômico e

social. Elas agem no campo, na cidade, respectivamente, como fatores de

homogeneização e de aglomeração, assim como agem, também, entre cidade e

campo, como fatores de coesão (SANTOS, 2004). Ambas as maneiras simbolizam as

relações sócio-econômicas.

As forças centrífugas, portanto, “podem ser consideradas como um fator de

desagregação, quando retiram da região os elementos do seu próprio comando, a ser

buscado fora e longe dali.” (SANTOS, 2004, p. 286-287).

Em ambas as forças, mesmo nas peculiaridades de Capinzal, elas são vistas

pela dinâmica que aquele lugar revela. As forças centrípetas conduzem a um processo

159

de horizontalização na perspectiva local e regional, isto é, a partir de relações intra-

urbano, urbano-regionais, entre cidades vizinhas, com base nos aspectos sócio-

econômico-culturais que estão a articulados entre si na busca da (re)produção da vida

pela sociedade dos que lá vivem.

Já as forças centrífugas conduzem a um processo de verticalização entre o lugar

e o mundo, intermediado por escalas regionais, supra-regionais, nacionais e inter-

continentais que, no caso de Capinzal, são representadas pela agroindústria do Grupo

Perdigão, traduzindo modos como o capitalismo industrial está inerente às conjunturas

globais, que buscam ampliar fronteiras e competir no mercado mundial. Capinzal se

comporta, portanto, como um dos pontos estratégicos daquela corporação no processo

e na atuação industrial, onde ocorre a produção in locus e dali os produtos se destinam

ao mercado consumidor de diversos e diferentes lugares do planeta.

Fatores como esses influenciam, dentre outros aspectos, a expansão da área

urbana naquele município, interferindo nas transformações mais acentuadas do espaço

local e regional. Além da dinâmica sócio-econômica interna, esta recebe, também,

influências externas, visto que a produção do espaço não se dá apenas no lugar, mas,

resulta de contextos em escalas mais abrangentes. Assim, é o que cada vez mais

indicam relação campo-cidade ao estabelecerem vínculos entre si, tanto pela produção

do trabalho como pelo consumo de bens e serviços e de mercadorias, presentes nos

níveis das atividades que compõem os circuitos da economia capinzalense.

Entretanto, ficou evidenciado neste estudo que, no espaço geográfico de

Capinzal, o elemento estratégico para o processo da (re)produção da sociedade

decorre de contextos estruturantes de como as transformações e a organização dos

territórios se viabilizam.

Esta pesquisa que ora se finaliza, além do grande desafio e da satisfação de

socializar idéias, cumpre com a proposta que se delineou junto ao seu objeto de estudo

durante o trabalho acadêmico. Numa perspectiva de oferecer contribuições a outros

pesquisadores interessados na temática e na continuidade desse trabalho, assim como

à comunidade capinzalense em geral, como informação e conhecimento do meio em

que vivem. Acredita-se que conhecer a própria região é criar uma identidade com o

lugar.

160

BIBLIOGRAFIA

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CAPINZAL, Prefeitura Municipal de. Decreto nº 033, de 09 de novembro de 1962. Ficam

plenamente aprovados os loteamentos Santo Antônio, São Luiz e Santa Terezinha e

incorporados ao quadro urbano da cidade. Legislação Municipal. Capinzal, 1962.

_______. Decreto nº 021, de 26 de dezembro de 1967. Fica plenamente aprovado o

loteamento Vila Sezinando o qual se acha incorporada ao perímetro urbano da cidade.

Legislação Municipal. Capinzal, 1967.

_______. Decreto nº 007, de 16 de junho de 1978. Fica plenamente aprovado o loteamento

Nossa Senhora de Lourdes e incorporado ao perímetro urbano da cidade. Legislação

Municipal. Capinzal, 1978.

_______. Decreto nº 008, 18 de junho de 1978. Fica plenamente aprovado o loteamento

Bela Vista, que passará a ser considerada pertencente ao perímetro urbano toda a área

que compõe o referido loteamento. Legislação Municipal. Capinzal, 1978.

162

_______. Decreto nº 031, de 12 de setembro de 1979. Fica plenamente aprovado o

loteamento São Cristóvão e incorporado ao perímetro urbano da cidade. Legislação

Municipal. Capinzal, 1979.

_______. Decreto nº 020, de 25 de junho de 1980. Fica plenamente aprovado o loteamento

Por do Sol e incorporado ao perímetro urbano da cidade. Legislação Municipal. Capinzal,

1980.

_______. Decreto nº 011, de março de 1982. Fica aprovado o loteamento Santa Maria.

Legislação Municipal. Capinzal, 1982.

_______. Decreto nº 091, de 28 de novembro de 1983. Fica aprovado o loteamento São

Cristóvão II. Legislação Municipal. Capinzal, 1983.

_______. Decreto nº 003, de 13 de fevereiro de 1984. Fica aprovado Jardim Cidade Alta,

Bairro São Cristóvão. Legislação Municipal. Capinzal, 1984.

_______. Decreto nº 019, 21 de março de 1984. Fica aprovado o loteamento Casagrande.

Legislação Municipal. Capinzal, 1984.

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João. Legislação Municipal. Capinzal, 1985.

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163

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172

Lista de Entrevistados:

ALMEIDA, Vitor. Advogado/Ex-vereador. Entrevista concedida em: 20 mai. 2005. Capinzal,

2005(b).

ARAÚJO, Orlando S. de. Agricultor/Avicultor. Entrevista concedida em: 23 mai. 2005.

Capinzal, 2005.

ARAÚJO, Omar S. de. Agricultor/aposentado. Entrevista concedida em: 04 fev. 2006.

Capinzal, 2006.

AVILA, Enir M. de. Prestadora de Serviços. Entrevista concedida em: 25 mai. 2005.

Capinzal, 2005.

AVILA, Osmar S. de. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 20 mai. 2005. Capinzal,

2005.

_______. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 05 fev. 2006. Capinzal, 2006.

BASEI, Nair. Agricultora/Presidente do Sindicato dos trabalhadores Rurais de Capinzal.

Entrevista concedida em: 31 jan. 2006. Capinzal, 2006.

BOF, Glacir A. Comerciante. Entrevista concedida em: 26 jul. 2006. Capinzal, 2006.

BONATO, Ivanir. Funcionário da Perdigão, unidade Capinzal. Dados e informações

fornecidas em: 08 set. 2005. Capinzal, 2005.

CERUTTI, Ermínio. Comerciante. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.

CORONETTI, Jandir A. Ex-vereador. Entrevista concedida em: 23 mai. 2005. Capinzal,

2005.

173

DAGNOLUZZO, Emilson L. Empresário. Entrevista concedida em: 31 jan. 2006. Capinzal,

2006.

DALAVECHIA, José L. Coordenador/Simae. Entrevista concedida em: 21 jul. 2004.

Capinzal, 2004.

FACCIN, Alvair. Promotor imobiliário. Entrevista concedida em: 24 jul. 2006. Capinzal,

2006.

GRATT, Bernhard J. Empresário. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.

HACHMANN, Helmuth. Empresário. Entrevista concedida em: 15 ago. 2005. Capinzal,

2005.

LANHI, Névio. Agricultor/Aposentado. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal,

2006.

LANHI, Haroldo J. Agricultor. Entrevista concedida em: 25 jul. 2006. Capinzal, 2006(a).

RECH, Vilmar. Engenheiro Agrônomo/Epagri unidade Capinzal. Entrevista concedida em:

21 jul. 2004. Capinzal, 2004.

SCAPINI, Sandra E. M. Agricultora. Entrevista concedida em: 02 fev. 2006. Capinzal, 2006.

TEIXEIRA, Getúlio O. Agricultor/avicultor. Entrevista concedida em: 03 fev. 2006. Capinzal,

2006.

ZANARO, Osvaldo. Agricultor. Entrevista concedida em: 25 jul. 2006. Capinzal, 2006.

174

ANEXOS

175

Anexo 01

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO/DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO Roteiro das Entrevistas realizadas para Dissertação com Moradores, Empreendedores de Atividades Sócio-econômicas e Produtores Rurais do Município de Capinzal-SC Responsável: Analice de Avila Data da realização da entrevista: _________________ A - Identificação: Nome: _______________________________________________________________________

Idade:_________________Naturalidade: _______________________________

Profissão atual:_______________________ Profissão anterior: __________________ Grau de escolaridade: _________________________________________

Bairro/localidade que reside: _____________________________ Tempo: ________________

Há quanto tempo reside no Município de Capinzal?___________________________________

Antes de residir no Município de Capinzal, quais outros lugares

residiu?_____________________________________________________________________.

Obs. pertinentes: _____________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

B - Antigos Moradores e/ou Descendentes de Migrantes Colonizadores: 1 – Motivo(s) de estabelecer residência no Município de Capinzal: ______________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

______________________________Veio com a família? ( ) Sim ( ) Não

2 – Qual(is) tipos de atividade(s) econômica(s) que sua família passou a exercer quando veio

residir no Município de Capinzal?__________________________________________________

____________________________________________________________________________

Por quê? ____________________________________________________________________

176

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

3 - Você e/ou sua família continua exercendo o mesmo tipo de atividade econômica?

( ) Sim ( ) Não. Por quê? _____________________________________________________

____________________________________________________________________________

4 – Na sua opinião, quais as principais mudanças que ocorreram no Município ao longo do

tempo, que você julga significativas? ______________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

5 - Na sua opinião, também, viver no Município de Capinzal hoje está melhor que antes?

( ) Sim ( ) Não Por quê? _______________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Obs pertinentes: _____________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

C - Empreendedores de Atividades Sócio-econômicas (Indústria, Comércio e Serviços): 6 – Ramo/tipo da atividade: ______________________________________________________

7 – Local da atividade: _________________________________________________________

8 – Tempo que possui estabelecimento comercial e/ou industrial no local? ________________

9 – Possui filial(is) de seu estabelecimento empresarial? ( ) Sim ( ) Não. Quantas?

__________________________Onde?_____________________________________________

O que motivou possuir filial(is) de seu negócio? ______________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

10 – O que o motivou implantar esta atividade (econômica) na localidade?_________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

11 – A empresa possui algum vínculo comercial com outras empresas? ( ) Sim ( ) Não

Qual(is) empresas? ____________________________________________________________

Como? ______________________________________________________________________

177

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

12 - Para você quais são as vantagens dessa atividade econômica?_____________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

Obs. Pertinente:______________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

D - Produtores Rurais: 13 – Que tipo(s) de atividade(s) agrícola(s) desenvolve? _______________________________

A(s) atividades desenvolvida(a) é(são) de subsistência ou comercializa a

produção?______________________ Como? _______________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

14 – Quantidade de membros da família atualmente: _______________ Todos trabalham no

meio rural? ( ) Sim ( ) Não.

15 – Possui algum vínculo com a Agroindústria Perdigão? ( ) Sim ( )Não. Que tipo

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

16 – O que o motivou a ser um integrado do sistema agroindustrial? _____________________

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17 – Como foi o processo de implantação do(s) aviário(s)? Houve apoio da agroindústria e/ou

bancos financeiros/empréstimos etc? ______________________________________________

De que forma? ________________________________________________________________

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18 – Quantos aviários possui?_____________________ Como é(são) os equipamento(s) de

seu(s) aviário(s)? ______________________________________________________________

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178

19 – Todos os membros da família trabalham no(s) aviário(s)? ( ) Sim ( ) Não.

20 – Quantas horas diárias você acha que são necessárias para trabalhar no aviário?

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21 – Qual(is) é(são) a(s) despesa(s) e o lucro com um aviário por lote de frangos? __________

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22 – Você acha que tem vantagens de ser um integrado da Perdigão? ( ) Sim ( ) Não. Por

quê? ________________________________________________________________________

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23 – Hoje, é possível manter uma família na agricultura sem que algum membro busque

alternativas de trabalho em outras atividades não agrícolas? ( ) Sim ( ) Não. Quais?

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Por quê? ____________________________________________________________________

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24 – Atualmente quais suas expectativas nas atividades ligadas à agricultura? _____________

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Obs. pertinentes: _____________________________________________________________

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Capinzal-SC, _____ de _______________ de 2006.

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Analice de Avila

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