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CADERNO CRH, Salvador, v. 20, n. 51, p. 515-528, Set./Dez. 2007 515 RESENHA TEMÁTICA É certo que, neste princípio de século, o capitalismo vem consolidando profundas transfor- mações, cujas raízes encontram-se fincadas em meados do século passado. Dentre essas, a da sua base produtiva talvez seja uma das mais qualitati- vas e, pela sua magnitude, o agente motor de ou- tras que, cada vez mais, solapam velhas estruturas e arranjos político-econômicos, denotando uma nova fase histórica do capital. A aplicação da tecnologia informática na produção trouxe mudan- ças que concretizaram, na contemporaneidade, uma aspiração primordial da economia capitalista: trans- formar o globo terrestre em um imenso mercado mundial. No contexto histórico da hegemonia neoliberal, essa aspiração se tornou realidade. Gran- de parte do planeta encontra-se hoje enredado em uma enorme teia informática, urdida pelas mãos * Professor livre-docente em Sociologia da UNESP- Campus de Marilia, pesquisador do CNPq. Av. Hygino Muzzi Filho, 737, Campus Universitário. Cep: 17525- 900. [email protected] ** Professor-Doutor da Universidade Estadual de Londri- na – UEL. ROD. C. G. CID, KM (380), CAMPUS UNI- VERSITÁRIO. Cep: 86051-990 - Londrina, PR - Brasil. [email protected]. CAPITALISMO GLOBAL E O ADVENTO DE EMPRESAS-REDE: contradições do capital na quarta idade da máquina Giovanni Alves * Simone Wolff ** do capital transnacional, que traz, em seu bojo, novas configurações de poder político e econômico. A adoção das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) pelas grandes corporações transnacionais impulsionou a mundialização do capital e contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo flexível. Aplicadas à produção indus- trial e às atividades de gestão, finanças e serviços, as TIC’s são capazes de integrar loci globais de produção e reprodução da sociedade de mercado- rias. Essas transformações ensejaram a implementação de novas estratégias empresariais com vistas à internacionalização da produção. As novas tecnologias proporcionaram a estruturação dessas empresas na forma de redes, o que deu mais poder ao grande capital, não ape- nas na alocação dos fatores de produção e na bus- ca de novos mercados de consumo, mas igualmente na luta contra o trabalho organizado. Nesse senti- do, as inovações tecnológicas aparecem como ar- mas da ofensiva do capital na produção, alterando profundamente os termos da luta de classes e as relações dos grandes grupos capitalistas com a clas- se trabalhadora organizada.

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É certo que, neste princípio de século, ocapitalismo vem consolidando profundas transfor-mações, cujas raízes encontram-se fincadas emmeados do século passado. Dentre essas, a da suabase produtiva talvez seja uma das mais qualitati-vas e, pela sua magnitude, o agente motor de ou-tras que, cada vez mais, solapam velhas estruturase arranjos político-econômicos, denotando umanova fase histórica do capital. A aplicação datecnologia informática na produção trouxe mudan-ças que concretizaram, na contemporaneidade, umaaspiração primordial da economia capitalista: trans-formar o globo terrestre em um imenso mercadomundial.

No contexto histórico da hegemonianeoliberal, essa aspiração se tornou realidade. Gran-de parte do planeta encontra-se hoje enredado emuma enorme teia informática, urdida pelas mãos

* Professor livre-docente em Sociologia da UNESP-Campus de Marilia, pesquisador do CNPq. Av. HyginoMuzzi Filho, 737, Campus Universitário. Cep: 17525-900. [email protected]

** Professor-Doutor da Universidade Estadual de Londri-na – UEL. ROD. C. G. CID, KM (380), CAMPUS UNI-VERSITÁRIO. Cep: 86051-990 - Londrina, PR - [email protected].

CAPITALISMO GLOBAL E O ADVENTO DE EMPRESAS-REDE:contradições do capital na quarta idade da máquina

Giovanni Alves*

Simone Wolff**

do capital transnacional, que traz, em seu bojo, novasconfigurações de poder político e econômico.

A adoção das Tecnologias de Informação eComunicação (TICs) pelas grandes corporaçõestransnacionais impulsionou a mundialização docapital e contribuiu para o desenvolvimento docapitalismo flexível. Aplicadas à produção indus-trial e às atividades de gestão, finanças e serviços,as TIC’s são capazes de integrar loci globais deprodução e reprodução da sociedade de mercado-rias. Essas transformações ensejaram aimplementação de novas estratégias empresariaiscom vistas à internacionalização da produção.

As novas tecnologias proporcionaram aestruturação dessas empresas na forma de redes,o que deu mais poder ao grande capital, não ape-nas na alocação dos fatores de produção e na bus-ca de novos mercados de consumo, mas igualmentena luta contra o trabalho organizado. Nesse senti-do, as inovações tecnológicas aparecem como ar-mas da ofensiva do capital na produção, alterandoprofundamente os termos da luta de classes e asrelações dos grandes grupos capitalistas com a clas-se trabalhadora organizada.

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A preocupação central deste artigo é anali-sar alguns aspectos dos termos e efeitos dessa novaofensiva, particularmente para aqueles trabalhado-res que se encontram no bojo das mutações estru-turais do capitalismo global, a partir da emergên-cia das chamadas empresas-rede.

MUTAÇÕES ESTRUTURAIS DO CAPITALISMOTARDIO

A história do capitalismo é, antes de tudo,a história do esforço da classe capitalista em con-trolar e disciplinar a classe trabalhadora para queela aceite desempenhar um trabalho o mais dili-gente possível, e se conforme com o fato de que osprodutos desse trabalho sejam privadamente apro-priados e gerem riquezas apenas para seus empre-gadores. Com efeito, ao olhar a história por esseprisma, percebemos que, na atualidade, o que as-sistimos é, fundamentalmente, “a crise de um modoparticular de dominação e a luta do capital paracriar outro” (Holloway; Pelaez, 1998, p. 28).

No presente, foi a crise do keynesianismo-fordismo, ou welfare-state, como é mais comumenteconhecida, deflagrada, sobretudo nos anos 1970,que impôs ao capital a necessidade de encontrarnovas formas de exercer o seu domínio sobre aclasse trabalhadora. De acordo com Holloway;Pelaez:

A tecnologia é parte dessa luta [...] O desenvolvi-mento tecnológico, assim como outros aspectosdo desenvolvimento social, é marcado pela ten-tativa sempre contraditória do capital de colocararreios na criatividade humana. A “revoluçãomicroeletrônica” não é um evento externo [...] é,fundamentalmente, uma tentativa para progra-mar, para reduzir processos sociais complexos aregras simples, transformando a sociedade emalgo que pode ser computadorizado. [...] A NovaTecnologia, que parece oferecer uma base firmepara a Nova Ordem, não é menos contraditóriaque a própria Nova Ordem [...] (1998, p.29).

No plano interno das empresas, a aplicaçãode novas tecnologias de base microeletrônica podeser explicada, entre outros fatores, a partir da pro-funda crise na organização fordista do trabalho,

detonada dentro do quadro da crise do wefare-state. Sobretudo nos países economicamente avan-çados, o aumento do poder de consumo dos tra-balhadores e dos subsídios previdenciários,diretivas típicas do welfare-state, levou a um forta-lecimento dos sindicatos, bem como a um acrésci-mo qualitativo de suas reivindicações. Para fugirdo excesso de regulamentação e de benefícios tra-balhistas, bem como da força de trabalho insurreta,instaurados pela aliança entre o fordismo e o bem-estar social, as grandes empresas – originárias dospaíses onde tais políticas foram levadas de formamais clássica e, portanto, mais onerosas ao grandecapital –, saem em busca de novos mercados deconsumo e de trabalho.

É nesse sentido que Clarke afirma que a ra-zão da crise de 1970 não deve ser buscada apenasna “inflexibilidade da produção fordista”, mas tam-bém na:

... inflexibilidade dos arranjos institucionais, mastal como ocorreu em períodos de crise anterio-res, esta inflexibilidade não era uma caracterís-tica da tecnologia de produção, mas sim da re-sistência trabalhista, institucionalizada nas for-mas de relações industriais e de representaçãopolítica que foram desenvolvidas como soluçãoprovisória de conflitos trabalhistas anteriores(Clarke, 1991, p. 148 – grifo próprio).

É assim que, mais incisivamente no decorrerda década de 1980, o welfare-state começa a sofrerum paulatino mas decisivo desmantelamento, assi-nalado pelo surgimento de políticas-econômicasde cunho neoliberal. Em confronto direto com okeynesianismo, o neoliberalismo parte do pressu-posto de que a instituição por excelência capaz dedar conta das crises capitalistas é o mercado. Paratanto, é necessário promover a associação de to-dos os países sob a égide de um mercado mundi-al, o que supõe uma política comercial comum e aliberalização generalizada de tarifas alfandegárias.

Sob o arrimo da liberalização econômica, asgrandes corporações podem agora efetuar, a seubel-prazer, transações de compra e venda com ou-tros países e empresas, gerando, assim, umaliquidez financeira sem precedentes. A partir de talliquidez, configura-se um grau de internacionalização

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econômica fundamentada sob a égide do capitalfinanceiro, o qual expressa um dos aspectos maisfundamentais do capitalismo contemporâneo(Chesnais, 1996, 2005; Harvey, 2005). Com isso,as formas de acumulação e valorização de riquezanão só foram ampliadas como diversificadas, quan-titativa e qualitativamente.

O caráter eminentemente financial dastransnacionais demandou e efetivamente criou

... uma rede de malhas permanentementemutáveis (as ligações de capital e os acordos es-tratégicos entre as várias companhiastransnacionais), unindo uma pluralidade de pó-los principais (as maiores companhiastransnacionais), os quais se enraízam socialmentenas esferas nacionais e regionais mediante afranchising, a subcontratação e o apelo aos capi-tais locais (Bernardo, 2000, p. 43).

Nesse contexto, a marca e, em decorrência,o marketing empresarial tornam-se mais um as-pecto da produção e dos mais prementes, já quesuas estratégias projetam mercadorias, igualmentetransnacionalizadas, nos mais diferentes rincõesda Terra. Sob a lógica fluida e dispersiva das redesinformáticas, portanto, as grandes empresas nadamais são que grandes marcas e alguns laboratóri-os. De resto, são pequenos pontos espalhados peloplaneta, conectados pelas TIC’s. A idéia-chave queorienta esse modelo de empresa é que a produçãode bens é

... apenas um aspecto incidental de suas opera-ções, e que, graças às recentes vitórias naliberalização do comércio e na reforma das leistrabalhistas, seus produtos podem ser feitos paraeles por terceiros, muitos no exterior. [...] O su-cesso dessa fórmula levou as empresas a umacorrida pela ausência de peso: quem possuíssemenos, tivesse o menor número de empregadosna folha de pagamento e produzisse as mais po-derosas imagens, em vez de produtos, ganharia acorrida (Klein, 2002, p.28).

É assim que a aplicação das TIC’s nos pro-cessos de produção marca uma nova fase históricado capital em que, aos poucos, a fábrica,emblemática do capitalismo nascente, cede lugaràs empresas baseadas na lógica de redes. O merca-do dirigido para a produção de massa, que vigo-rou dos primórdios do capitalismo até a referida

crise do keynesianismo-fordismo – no primeirocontexto sendo conquistado por colonização, nosegundo por especialização –, demandou a disci-plina da fábrica, onde os trabalhadores eram man-tidos em confinamento e moldados segundo fun-ções previamente convencionadas pelos padrõesde cada tipo de indústria.

Já o mercado atual, caracterizado por um“capitalismo de sobre-produção” (Harvey, 2005;Deleuze, 1992), é dirigido para o produto, isto é,para a venda especulativa em cima de sua “logo”(Klein, 2002). Como tal, encontra-se sob a égidedos serviços e do jogo da bolsa de valores, o queexige o tipo de controle próprio do ambienteinformatizado das grandes empresas.

No regime de empresa: as novas maneiras detratar o dinheiro, os produtos e os homens, já nãopassam pela antiga forma fábrica. [...] atualmen-te, o capitalismo não é mais dirigido para a pro-dução, relegada com freqüência à periferia doTerceiro Mundo [...] é um capitalismo de sobre-produção. Não compra mais matéria-prima e jánão vende produtos acabados: compra produtosacabados, ou monta peças destacadas. O que elequer vender são serviços, e o que quer comprarsão ações. Já não é um capitalismo dirigido paraa produção, mas para o produto, isto é, para avenda para o mercado. Por isso ele é essencial-mente dispersivo, e a fábrica cedeu lugar à em-presa (Deleuze, 1992, p. 223-224).

Com uma planta extremamente reduzida efragmentada, as empresas, diferentemente das fá-bricas, “funcionam não mais por confinamento,mas por controle contínuo e comunicação instan-tânea” (p. 216). De forma distinta dos registros quemantinham a disciplina na fábrica, a peculiarvolatilidade e a pulverização proporcionadas pe-las novas tecnologias requerem um controle cifra-do, de senhas, capaz de tornar o trabalhador, aomesmo tempo, espargido e rastreável. Por conse-guinte, é um controle insinuante e flexível, quedeixa o indivíduo trabalhador permanentementeenredado, pronto para se adaptar aos humores domercado e à sua cada vez mais ávida sede de ino-vação e especulação. Essa a razão pela qual:

As conquistas de mercado se fazem por tomadade controle e não mais por formação de discipli-na, por fixação de cotações mais do que por re-

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dução de custos, por transformação do produtomais do que por especialização da produção. [...]O serviço de vendas tornou-se o centro ou a ‘alma’da empresa. Informam-nos que as empresas têmuma alma, o que é efetivamente a notícia maisterrificante do mundo. O marketing é agora oinstrumento de controle social, e forma a raçaimpudente de nossos senhores. O controle é decurto prazo e de rotação rápida, mas tambémcontínuo e ilimitado, ao passo que a disciplinaera de longa duração, infinita e descontínua.(Deleuze, 1992, p. 224)

Na grande empresa contemporânea, esse tipode controle é favorecido pelas redes informacionais,as quais promovem uma gestão por “modulação,como uma moldagem auto-deformante que mudas-se continuamente, a cada instante, ou como penei-ra cujas malhas mudassem de um ponto a outro”(p. 221 – grifo do autor). Logo, trata-se de um con-trole que coloca uma verdadeira “coleira eletrônica”naqueles que se encontram sob seu jugo:

A velha toupeira monetária é o animal dos meiosde confinamento, mas a serpente o é das socieda-des de controle. Passamos de um animal a outro,da toupeira à serpente [...] O homem da discipli-na era um produtor descontínuo de energia, maso homem do controle é antes ondulatório, funci-onando em órbita, num feixe contínuo (p. 222-223).

O capitalismo global, portanto (e por en-quanto), é o capitalismo das empresas-rede, cujofoco é determinado pela ênfase no marketing, emdetrimento da fabricação de bens, justamente porpermitir às corporações tornarem-se flexíveis, en-xutas e ubíquas. Com isso, o

próprio processo de produção – administradopelas fábricas, responsáveis por dezenas de mi-lhares de empregados efetivos de tempo integral– começou a parecer menos um caminho para osucesso do que uma pesada responsabilidade(Klein, 2002, p. 28).

Disso decorre o poder e a fragilidade daempresa contemporânea. Se, por um lado, elas setornam mais rentáveis pela redução de sua baseprodutiva e empregatícia, bem como pela rápidapossibilidade de encontrar mercados de trabalhobarato, por outro, seu controle sobre esse processoé dificultado em sua dimensão subjetiva, uma vezque a substituição de uma unidade centralizadora

por “nódulos-marca”, espargidos mundo a fora,limita a identificação dos trabalhadores com osobjetivos da empresa, algo essencial para se mol-dar uma força de trabalho comprometida com osnovos desígnios mercadológicos.

Ademais, esse comprometimento é tantomais necessário na medida em que o trabalho vivose revela como o único fator de produção dotadoda capacidade de produzir a mais nova e estratégi-ca matéria-prima do capitalismo: informações ino-vadoras (Zarafian, 2001). Algo que só pode serconseguido mediante conhecimento engajado dosnegócios da empresa. É com esse propósito que seprocedem a novas políticas de gestão do trabalhoque, tal como as TIC’s, também se apresentam comouma ferramenta fundamental e, via de regra, com-plementar à luta do capital para mobilizar e domi-nar a capacidade criativa própria do trabalho vivo,de acordo com as novas estratégias empresariaisapontadas.

Como veremos a seguir, as novas máquinasde comunicação em rede, as quais inauguraram aquarta idade da máquina, no bojo do paradigmamicroeletrônico, iriam intensificar globalmente opapel da informação dentro das organizações.

ORGANIZAÇÃO E INFORMAÇÃO SOB AQUARTA IDADE DA MÁQUINA

O paradigma microeletrônico promoveumudanças radicais que afetaram toda a economia,envolvendo mudanças técnicas e organizacionais,mudando produtos e processos, criando novas in-dústrias. No que tange à esfera da circulação, asTIC’s igualmente constituíram um novo espaço vir-tual de informação e comunicação – o ciberespaço –inaugurando o que denominamos de Quarta Revo-lução Tecnológica, que constitui o desdobramentoradical da Terceira Revolução Tecnológica, a revolu-ção informática, também conhecida como TerceiraRevolução Industrial, que marca o desenvolvimen-to da grande indústria pós-fordista.

As inovações tecnológicas oriundas daQuarta Revolução Tecnológica incorporaram o

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paradigma microeletrônico ou informacional naarquitetura de redes telemáticas ou de comunica-ção, dando um salto qualitativo na maquinariainformacional que, como vimos, tornaram-se “nó-dulos” de um sistema de máquinas combinadas.A rede intensificou, no circuito da produção decapital, as atividades típicas de informação: edu-cação, pesquisa e desenvolvimento, serviços deconsultoria e informações, comunicações, burocra-cia pública e privada, serviços financeiros, etc.

Desse modo, as máquinas informacionais nãosó conformam o arcabouço técnico-organizacionalno âmbito dos processos de produção dos gran-des grupos em rede, como também as própriasnovas tecnologias, como “mercadorias embarcadas”,que permeiam nosso cotidiano e embasam o todoorgânico da produção do capital. As máquinas,assim, se tornam não apenas instrumentos de pro-dução, mas de reprodução social, uma vez queincorporam (e constituem) redes de virtualizaçãonas instâncias de consumo e de manipulação so-cial, exigindo uma maior capacidade de represen-tação estética.

É a esse salto qualitativo, ou “salto quântico”,1

na evolução do maquinário no capitalismo, que serefere a Quarta Idade da Máquina. ConformeMandel (1982), a relação com a máquina e sua re-presentação altera-se dialeticamente em cada umdos estágios qualitativamente diferentes de desen-volvimento tecnológico. O conceito de Quarta Ida-de da Máquina atualiza a periodização de Mandelsobre o capitalismo tardio, ao considerar a revolu-ção das redes informacionais, ou das TIC’s, comoa última grande revolução tecnológica engendradapelo modo de produção capitalista. É com ela quese constitui o ciberespaço, rede interativa oucontrolativa de produção e reprodução social.

Assim, a periodização das revoluçõestecnológicas engendradas pelo capital, desde a re-volução industrial, originária em fins do século XVIIIe primórdios do século XIX, ficaria deste modo:

Primeira Idade da Máquina: a produção de mo-tores a vapor a partir de 1848.

Segunda Idade da Máquina: a produção de mo-tores elétricos e de combustão a partir dos anos90 do século XIX.

Terceira Idade da Máquina: a produção de moto-res microeletrônicos e nucleares que vai dos anos50 até os anos 70 do século XX.

Quarta Idade da Máquina: a produção de má-quinas microeletrônicas informacionais e suaintegração em rede interativa ou controlativa(ciberespaço) a partir dos anos 80 do século XX.

A cada salto tecnológico, com sua respectivaprodução de máquinas, corresponde uma forma demercadoria predominante, a partir da qual se cons-titui a estrutura sócio-reprodutiva. É possível dizerque a forma-mercadoria da Quarta Idade da Máqui-na é a “mercadoria-informação”, que constitui e in-tegra, na etapa da produção, elementos de gestão,logística, design, planejamento e marketing. Oinsumo-informação é um dos componentes maisestratégicos da nova produção capitalista. É pelainformação que não só se otimizam processos e pro-dutos,2 mas que se organiza a produção.

Enquanto a Primeira, Segunda e TerceiraIdades da Máquina pertenciam à época das revo-luções industriais, a Quarta Idade da Máquinapertence à época da Revolução Informacional, quepromove uma ruptura no desenvolvimento daMáquina – muito embora a Quarta Idade da Má-quina ocorra no interior da Terceira Revolução In-dustrial, o que explicita o caráter radicalmente con-traditório da atual revolução industrial. É isso queleva Jean Lojkine a considerar a “revoluçãoinformacional”, procedente da Quarta Idade daMáquina, de magnitude equivalente ou maior doque aquela operada pela “revolução da máquina-ferramenta”.

1 A expressão “salto quântico” é utilizada por FredericJameson, inspirado por Ernest Mandel, ao tratar dosestágios de revolução tecnológica no interior do própriocapital (Jameson, 1988).

2 Como iremos verificar adiante, as inovações tecnológicase inovações organizacionais compõem um todo orgâni-co complexo de aparatos técnico-organizacionais, volta-dos para a manipulação de informações “capturadas” dosaber-fazer do trabalho vivo.

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Instrumento e máquina-ferramenta se inscre-vem, ambos, nas formas de objetivação, pelo ho-mem, do trabalho manual, do trabalho de mani-pulação da matéria. Ora, os novos meiosinformáticos de trabalho abrem uma nova era nahistória da humanidade: a da objetivação, pelamáquina, de funções abstratas, reflexivas, docérebro – não mais funções cerebrais ligadas àatividade da mão (Lojkine, 1995, p.87).

Na medida em que a revolução das redesinformacionais combina máquinas microeletrônicasflexíveis em redes comunicacionais, ao mesmo tem-po interativas e controlativas (ciberespaço), cons-titui-se o que denominamos de “cooperação com-plexa”, com a interpenetração – não a fusão ousubstituição – das forças produtivas materiais eforças produtivas sociais e humanas, ou do mate-rial e do informacional. Portanto, o que considera-mos “cooperação complexa” é a cooperação desen-volvida pela grande indústria capitalista “afetadade negação”, na medida em que se intensificam aspotencialidades contraditórias tecnológicas naQuarta Idade da Máquina, contradições enreda-das sob as teias de um novo tipo de oligopóliomundial tecido pelas empresas-rede.

OLIGOPÓLIO MUNDIAL E O ADVENTO DASEMPRESAS-REDE

A partir do novo padrão de acumulação cri-ado pelas políticas neoliberais, as grandes compa-nhias, alicerçadas em um só produto e com umarígida hierarquia estabelecida sobre um modelopiramidal e centralizador do processo produtivo –característica da produção fordista – transformam-se em firmas fundamentadas em processo. Ao con-jugar a estrutura vertical e a horizontal, essa dis-posição reconfigura a forma de integração empre-sarial, constituindo um modelo rede de empresa.

O modelo rede é mais adequado para edificaruma estrutura organizacional enxuta e flexível, por-tanto mais condizente com o tipo de mercado estabe-lecido sob a mundialização do capital. Daí a atual ten-dência à terceirização e (ou) à desintegração vertical daprodução, em substituição à integração vertical dedepartamentos dentro de uma mesma empresa.

Em contraposição ao modelo piramidal, omodelo rede é definido como um conjunto de pro-cessos produtivos, referidos uns aos outros pormeio de conexões estabelecidas sob a forma de umaconstelação. Essa constelação toma a forma de redepor atar os múltiplos pontos desses processos atra-vés de vários feixes, que se espalham e permiteminterligar várias unidades produtivas (Gussi; Wolff,2001). Aqui sobressai a idéia de fluxo eprocessamento de informações, em detrimento deprocedimentos estanques e previamente definidos,tal como se dava sob a estrutura hierarquizada,própria da forma de integração fordista.

No modelo rede, as unidades produtivasconformam-se como semi-autônomas, mais aptaspara suprir crescentes variações do mercado. Talarranjo possibilita amenizar eventuais efeitos ne-gativos que uma coligada poderia exercer sobreoutras, permitindo que problemas pontuais sejamdetectados e resolvidos, sem que haja interferênci-as relevantes no processo produtivo em sua totali-dade. Como indica Chesnais (1996, p. 103-104), éatravés dessas redes que “a grande companhiapode estabelecer um controle estrito sobre partedas operações de outra empresa, sem precisarabsorvê-la. Essa a originalidade das empresas emrede” (grifo nosso).

A forma mais bem acabada desse modelo éaquela que incorpora, em seu sistema, não só adiversificação de produtos e serviços, mas tam-bém de seus projetos e planejamentos, bem comodos profissionais especializados nessas funções.Nesse novo modelo de empresa, a principal chavecompetitiva passa a ser inovação, em detrimentode massificação. Os produtos passam a ser diver-sificados, com vistas a atender a um mercado cadavez mais global, heterogêneo e competitivo. Em vistadisso, sobretudo nas grandes corporações, o co-nhecimento científico e a inovação tecnológica con-vertem-se em departamentos fundamentais (P&D),que passam a receber maciços investimentos e re-cursos. A formação de “alianças estratégicas”, istoé, de “acordos de cooperação relativos à tecnologia,constituídos entre os grandes grupos, dentro dosoligopólios” (Chesnais, 1996, p. 165), caracteriza

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bem como a dinâmica das redes tornou-se funda-mental na catalisação de informações estratégicasinter-grupos, permitindo a extensão de seus do-mínios nas mais diversas áreas do conhecimentoaplicado.

No final desse processo, encontram-se asterceirizadas e (ou) subcontratadas, que, além deaplicarem as tecnologias de produção projetadaspor suas matrizes, tratam da comercialização dosnovos produtos e serviços por elas desenvolvidos,tornando-se, dessa forma, também suas fornece-doras. Ao tornarem suas contratadas, ao mesmotempo, suas clientes, as empresas-mãe conseguemaumentar, qualitativa e quantitativamente, seumercado de consumo.

Efetivamente, a descentralização do proces-so produtivo demanda o uso dessas tecnologiascomo forma de melhor gerenciar a integração dasdiversas cadeias produtivas que compõem as gran-des corporações. Tal descentralização permite àsgrandes empresas abarcarem rápida e eficientemen-te novos mercados – tanto de trabalho como deconsumo –, ao mesmo tempo em que as conectaem uma rede capaz de integrá-las em tempo real.De acordo com Bianchetti:

A pretensão atual é eliminar as distâncias e, atra-vés da estratégia tecnológica do on-line, subme-ter o tempo a critérios que não obedeçam maisao deus Chronos, com seus tempos e datas suces-sivas, isto é, cronológicas. O objetivo é a busca damaterialização da expressão here and now.[...]Falando em termos técnicos e sociais, a passa-gem do modelo de produção e regulação fordistapara o da acumulação flexível imprimiu um rit-mo mais acelerado na produção, que passou adepender de outros meios para a sua circulação,fatores potencializados pelas novas tecnologiasde informação e comunicação. Neste novo pa-drão de produção e circulação, a ciência e atecnologia possibilitam uma produçãodeslocalizada, desterritorializada edesespacialidazada. Isto é, a distância já não émais um fator impeditivo [...] façanha só tornadapossível graças ao desenvolvimento das novasTIC’s. (Bianchetti, 2000, p. 40-42).

Em um mercado efêmero, como o da econo-mia mundializada, a troca rápida de informações éessencial, não só para garantir a vanguarda na adap-tação de seus produtos em um contexto marcadopela diversidade cultural e regimental, mas tam-

bém para otimizar as suas diretrizes mercadológicas.De fato, a utilização das redes permite prever, emgrande medida, o grau de aceitação dessas inova-ções no mercado, bem como as oscilações da de-manda efetiva nos diferentes pontos do planeta,possibilitando uma produção enxuta e direcionada.Por conseguinte, o consumo torna-se altamentepersonalizado, viabilizando estoques drasticamentereduzidos e, pois, um planejamento e uma racio-nalização mais eficazes sobre os investimentos es-tratégicos empresariais.

Sob o modelo rede, as grandes corporaçõesexpandem e aprofundam seu domínio através daapropriação e difusão da inovação, bem como dosmeios técnicos necessários para realizar tal práti-ca. Essa difusão é conseguida porque o modelorede, quando operado em aliança com as novasTIC’s, permite, além de uma maior integração dosprocessos, uma interatividade sem precedentesentre os vários elos do processo produtivo, tendoem vista sua lógica conectiva e múltipla. Essa ver-satilidade é a base da flexibilidade, fator indispen-sável ao processo de inovação das empresas deponta, uma vez que atua como um canal perma-nente de aporte de informações relativas à melhoriade seus processos e produtos, em conformidadecom as variações do consumo e com as localida-des de suas terceirizadas e (ou) subcontratadas.

Outra vantagem da conjunção do modelorede com as novas TIC’s é a centralização das deci-sões corporativas, tanto entre suas unidades pro-dutivas autônomas como no interior de cada coli-gada em particular, o que torna possível umgerenciamento mais padronizado das atividades eestratégias empresariais. A utilização das teiastelemáticas é crucial na agregação de informaçõescada vez mais dispersas, viabilizando a concentra-ção das decisões dessas empresas, ao mesmo tem-po em que permite a extensão de seus tentáculosnos mais variados campos produtivos e financei-ros. O controle e acesso das informações sobre asvariações do mercado, bem como a rapidez comque esses dados chegam e são tratados, tornam-sefatores fundamentais para a coordenação ótima dasdiversas atividades econômicas, inclusive finan-

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ceiras, agregadas em torno das grandes corporações.Como vimos, a mundialização financeira

engendrou um tipo de organização eminentemen-te rentista. A lógica das redes permite que essascorporações ampliem sua lucratividade não ape-nas na produção e comercialização própria do seugrupo, mas, sobretudo, na especulação das vanta-gens retiradas dos ativos desvalorizados (bens decapital e força de trabalho) em sua relação geopolíticacom suas subcontratadas (Harvey, 2005).

Essa nova estratégia tecnofinanceira confi-gura aquilo que Dunning (1988) denomina de“multinacionais de novo estilo”, que se apresen-tam como “o sistema nervoso central de um con-junto mais amplo de atividades (...) cuja funçãoprimordial consiste em fazer progredir a estratégiacompetitiva global e a posição da organização queestá no seu âmago (core organization)”. E salienta:

Não é apenas, ou mesmo principalmente, pelaorganização mais eficiente de sua produção in-terna e de suas transações, ou por suas estratégi-as de tecnologias de produtos e de suascomercializações, que essa organização atingeseu objetivo, e sim pela natureza e forma dasrelações que estabelece com outras empresas.(Dunning, 1988, p. 128)

É isso que caracteriza o que Harvey (2005)chama de “acumulação por espoliação”, que pro-vém da capacidade que o capital concentrado ad-quiriu, nas últimas décadas, de crescer alimentan-do-se de um componente rentista. A empresa-redeé expressão dessa forma de apropriação e centrali-zação, pelo grande capital transnacional, ou capi-tal concentrado, de valores produzidos fora dasfronteiras da companhia, por outras empresasmenores, ou mais vulneráveis. O leque de rela-ções de terceirização, que adquire sinergiainformacional pelas TIC’s, contribui para as pulsõessobre a massa bruta de mais-valia das “empresascolaboradoras” (Ohno, 1997).

Nesse novo cenário, os oligopólios de con-glomerados transnacionais surgem como os gran-des agentes econômicos. A transnacionalizaçãodifere de outros movimentos precedentes deintegração capitalista, porquanto a divisão mundi-al do trabalho passou a ser determinada e articula-

da por grandes companhias que não mais se sub-metem aos marcos tributário e legislativo das fron-teiras nacionais: ultrapassa-os. É por isso que al-guns autores preferem se referir a essas empresascomo transnacionais, em substituição à terminolo-gia “multinacional”, mais apropriada ao contexto(inclusive tecnológico) em que suas plantas tinhamde se fixar nos países para poder operar. Confor-me Bernardo (2000, p. 41), “a divisão em países,que nos habituamos a considerar como forma na-tural de abordagem da economia mundial, devehoje ser substituída pela divisão em companhiastransnacionais”.

Com efeito, em uma economia em que oslimites entre lucro e renda estão cada vez mais in-distintos, as TIC’s tornam-se a principal ferramen-ta dessa nova forma de lucratividade. Como ob-serva Antonelli (1988), “as empresas-rede (firmeréseau, impresa rete ou network firm), por meioda telemática, têm a possibilidade de internalizarimportantes externalidades, apoiando-se nas redes(network externalities)”. Ele observa ainda que aintrodução da telemática leva a “uma queda doscustos médios de coordenação (...) a qual (...) temsensíveis efeitos na dimensão das atividades orga-nizadas de forma interna nas companhias (...),permitindo assim que empresas maiores funcio-nem eficazmente” (Antonelli, 1988).

Contudo, essa nova infra-estrutura não po-deria cumprir-se inteiramente como tal sem acontrapartida neoliberal. Com efeito, as políticasde desregulamentação, determinadas peloneoliberalismo foram e são fundamentais para aconformação das redes telemáticas, em consonân-cia com os interesses das transnacionais. A elimi-nação dos obstáculos legislatórios, tarifários eestatutários, provenientes da administração esta-tal do conjunto dos meios urbanos necessários aodesenvolvimento industrial, propiciou às grandescompanhias transnacionais as condições em queseus interesses podem prevalecer sobre os da na-ção. Como atenta Bernardo:

Em termos capitalistas perfeitos, o sistema fi-nanceiro de cada país não seria mais do que umterminal da rede financeira mundial. E para fun-

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cionar plenamente enquanto terminal será ne-cessário que as autoridades do país reduzam asua interferência, de maneira a não perturba-rem os fluxos de informação que o país recebedo exterior e emite para o exterior (Bernardo,2000, p. 45).

Por outro lado, posto que os Estados e capi-tais nacionais, sobretudo dos países periféricos,estão cada vez mais dependentes dos investimen-tos e inovações tecnológicas do grande capitaltransnacional, conforma-se uma economia em queas “relações externas mais significativas não seprocessam já entre países, mas entre companhiastransnacionais” (Bernardo, 2000, p. 44). Assim,seja por cooptação e (ou) por fisiologismo de seusgovernantes, os Estados rendem-se a esse contex-to, para assegurarem o desenvolvimento de suaestrutura produtiva. Algo que só pode ser realiza-do oferecendo-se “força de trabalho qualificada eboas infra-estruturas às companhiastransnacionais” (p. 44).

Já os capitais nacionais, para fugirem do ris-co de obsolescência gerado pela sua desvantagemtecnológica em relação às grandes empresas, sãoanexados ao capital transnacional, como forma degarantir o acesso às suas inovações e redes decomercialização e, desse modo, não ficarem à par-te dos mercados. Em outras palavras:

Para os chefes de empresa de qualquer país, aligação às grandes companhias transnacionaisnão é uma opção ideológica ou política. É umimperativo econômico. O nacionalismo não foiapenas condenado como estratégia política, mas,igualmente como prática econômica (p. 43).

Essa imposição também pode ser sentidasob os parâmetros das TIC’s, uma vez que aoperacionalização dessas redes depende de umadevida padronização, tanto dos softwares utiliza-dos entre empresas de um mesmo grupo e (ou)complexo produtivo, como da sua disposiçãoorganizacional. Para além da parte técnica, essespadrões dependem também de um enquadramentoàs normas, códigos, regulamentos, enfim às parti-cularidades concernentes às atividades específicasde cada setor e, ainda, às distintas legislações epolíticas tributária e comercial de cada país.

Dentro desse quadro, as fusões corporativase a formação de vastos conglomerados setoriaistornam-se a grande tática das organizações de pon-ta, para evitarem gastos e investimentos redundan-tes. É a partir desse “imperativo” que se explicamas privatizações que assolaram o setor de teleco-municações do mundo todo, concomitante ao pro-jeto neoliberal (Wolff, 2004). Como alerta Coutinho:

... paradoxalmente, a EDI3 permite aumentarum tipo de flexibilidade, de natureza estática,introduzindo, todavia, uma certa rigidez dinâ-mica. Para ser realmente eficiente, a linguagemde EDI deve ser específica, o que é o oposto decomunicação universal (Coutinho, 1995, p. 29).

Ao permitirem a formação de uma redeinformacional capaz de interligar os computado-res de distintas empresas em um mesmo padrãode comunicação, as TIC’s proporcionaram umavanço qualitativo e imprescindível para o contro-le da produção no contexto das organizaçõestransnacionais. A empresa-rede utiliza-se do com-plexo de subcontratações industriais não apenaspara amortecer os efeitos das flutuações conjunturaisda economia capitalista instável, fazendo recairsobre suas subcontratadas a crise de mercado, maspara garantir um saber-fazer e rendas “relacionais”derivadas das relações intrafirmas. Trata-se de umvínculo ao mesmo tempo hierarquizado edesonerado, cuja duração é determinada pelo “ci-clo de vida” dos produtos.

As transnacionais tornam-se capazes deimpor a seus fornecedores, parceiros e distribui-dores a transferência de parcelas da lucratividadeque essas empresas menores teriam, se operassemas regras de concorrência. Dessa forma, as novastecnologias em rede concorrem não apenas para ainovação organizacional interfirmas, mas igualmentenas relações intrafirma, cada uma reforçando a efi-cácia da outra. No quadro de uma “acumulaçãopor espoliação”, os compromissos recíprocos en-

3 Eletronics Data Interchange – EDI – é a nomenclaturatécnica utilizada para designar as conexões, ou redes queoperam sob a tecnologia telemática, responsável pela“comunicação de computador a computador de infor-mações geradas por máquinas e que por elas possam serlidas.” (Cf. Coutinho, 1995, p. 27).

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tre empresa montadora e os seus fornecedores es-tão na origem de uma quase-renda.

Como observa Aoki, esses compromissosconstituem uma “renda relacional” na medida emque

... formam benefícios específicos de grupo (group-specific economic relation) atribuíveis às rela-ções de cooperação estabelecidas entre a empre-sa montadora e seus fornecedores. Pode-se desig-nar estes benefícios como dependentes de umaquase-renda relacional, no sentido em que é ge-rada pela incomparável eficiência informacionaldas relações contratuais formadas dentro do gru-po de contratantes (Aoki, 1988, p.67).

Para além dos compromissos recíprocosentre a empresa montadora e seus fornecedores, aconstituição da rede informacional permite que anatureza da “espoliação”, derivada do saber-fazerrelacional dentro da estrutura de integração, sejaigualmente refletida nas relações entre essas últi-mas e seus empregados. No plano organizacionalde cada empresa (ou “nódulo”) particular, as re-des funcionam como um elemento mobilizador da“captura” da subjetividade do trabalho vivo pelocapital (Alves, 2000). Essa mobilização se dá atra-vés das novas formas de gestão empresarial porprocesso inspiradas na chamada administraçãoparticipativa, que visam a obter a “colaboração” eo pleno engajamento dos diferentes níveis de con-tratados (Wolff, 2005).

No âmbito interno das empresas, portanto,o modelo rede supõe duas ordens fundamentaisde mudança, sendo que uma de natureza materiale outra subjetiva, a saber: uma estruturaorganizacional integrada, flexível e enxuta, e umanova cultura produtiva com vistas a estimular otrabalhador a estar aberto a mudanças e afeito acompartilhar informações pertinentes à melhoriada produtividade. Para tanto, privilegia a fluidezda comunicação entre os processos de trabalho,em detrimento do modelo vertical, baseado emhierarquias rígidas, tal como recomenda otaylorismo mais clássico.

É a gestão por processo que contempla umagestão da informação, que prevê uma maiorinteração entre as diversas áreas da empresa. É a

partir dessa interação que os funcionários podemter uma visão sistêmica e maior conhecimento dosnegócios da empresa, o que permite a concepçãode idéias e, certamente, informações mais sintoni-zadas com os interesses da empresa (Fachinelli,2002; Lesca; Almeida, 1994). No que se refere àorganização do trabalho, é a administraçãoparticipativa que tem o papel de conformar os tra-balhadores para essas mudanças (Wolff, 2005).Política de gestão de pessoal que integra a atualreestruturação produtiva, a administraçãoparticipativa faculta o modelo rede, ao motivar edirecionar, sistematicamente, a participação e co-laboração dos trabalhadores nesse sentido, bemcomo por despertar uma visão mercadológica comrelação ao seu trabalho.

Essa é mais uma faceta pela qual a consti-tuição da rede informacional contribui para a efi-cácia corporativa, diante das novas formas de con-corrência e de apropriação e expropriação de valordiante da “acumulação flexível” e da “acumulaçãopor espoliação”.

A TÍTULO DE CONCLUSÃO: o ciberespaço eas “possibilidades tecnológicas contraditóri-as” das máquinas informacionais

O surgimento de objetos técnicos comple-xos que constituem as redes informacionais altera,de forma qualitativamente nova, a relação entrematéria técnica (objeto de trabalho) e formaorganizacional (gestão do trabalho vivo). As novasmáquinas informacionais abrem a possibilidade deinstauração de formas qualitativamente novas derelações entre homem e máquina. A máquinainformacional não é mais máquina em suamaterialidade em si, apesar de continuar sendopor conta da forma social do capital. Como já sali-entamos, a rede informacional como “máquina”implica, em si, a produção de subjetividade, nosentido de colocar, como condição indispensáveldo processo sistêmico, as habilidades subjetivas(e cognitivas) do trabalho vivo (mesmo que sobforma estranhada). Portanto, o desenvolvimento das

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forças produtivas do trabalho social e o surgimentodas novas tecnologias telemáticas e de informaçãoem rede constituíram um novo espaço de sociabi-lidade virtual apropriado pelo capital.

Em síntese, a revolução das redesinformacionais, inserida no novo complexo dereestruturação produtiva, que surge sob a QuartaRevolução Tecnológica, contribui: para a reduçãodos custos de integração da empresa-rede que sur-ge a partir do oligopólio mundial; para garantirnovas formas de rentabilidade derivada das “ren-das relacionais”, isto é, das relações entre empre-sas no curso do complexo de terceirizações esubcontratações industriais; e para uma ofensivado capital na produção, ativando novas formas decontrole do trabalho morto sobre o trabalho vivo,desmontando relações salariais e “flexibilizando”contratos de trabalho.

Sendo assim, com o advento das empresas-rede, observamos, até o momento, mais o acometi-mento de uma teia insidiosa do que propriamentede uma rede ecumênica e inclusiva. Ou seja, asTIC’s estão sendo aplicadas sob uma política eco-nômica que reforça e aprofunda os padrões capita-listas de acumulação em uma escala sem prece-dentes. Isso acontece através da dilatação qualita-tiva do espaço da propriedade capitalista. Em ou-tras palavras: o modelo rede adotado pelas gran-des transnacionais nada mais é que uma forma depromover a privatização da informação que, sob aégide da mundialização do capital, tornou-se o maisnovo e indispensável meio de produção das em-presas (Gussi; Wolff, 2001).

Contudo, estamos tratando de “possibilida-des tecnológicas contraditórias”, como diria Lojkine,que procurou salientar, depois de Marx, que “ascaracterísticas tecnológicas do maquinismo – bemcomo as da automação – não se confundem com oseu modo de utilização capitalista” (Lojkine, 1995).

Foi com o surgimento das redes telemáticase, por conseguinte, da Internet, que a idéia de redeinformacional assumiu um arcabouço concreto, ouseja, ela passou a representar uma rede de traba-lhadores-mediados-por-máquinas-informáticas, nãosó espalhados pelo globo, mas nas diversas fases

da produção, as quais, por seu intermédio, po-dem, inclusive, ser desenvolvidas fora desse es-paço. Surge, assim, o ciberespaço ou a virtualizaçãoem rede técnico-informacional. O novo espaço desociabilidade virtual, o ciberespaço, é um campode integração difusa e flexível dos fluxos de infor-mações e de comunicação entre máquinascomputadorizadas. Um complexo mediador entreos homens, baseado totalmente em dispositivostécnicos, um novo espaço de interação (e de con-trole) sócio-humano, criado pelas novas máquinase seus protocolos de comunicação e que tende aser a extensão virtual do espaço social propria-mente dito.

O ciberespaço pressupõe a idéia de redesinformacionais como metáfora da cooperação soci-al, que assumiu uma significação concreta com odesenvolvimento do capitalismo tardio. As máqui-nas informacionais constituiriam a mediação com-plexa das práticas interativas (e controlativas), oque exige um alto grau de habilidades ético-cognitivas (tomada de decisões e escolhas). Por isso,altera-se, de modo qualitativo, a implicação subje-tiva entre trabalho vivo e trabalho morto (tecnologiae máquina), o que explica a necessidade de umnovo nexo psicofísico na produção do capital.

É assim que, como um espaço de interaçãosócio-humana de base técnica, o ciberespaço cons-titui matéria social que abre possibilidades objeti-vas de produção de subjetividade, estranhada ounão, determinada pelas relações sociais de produ-ção no interior das quais se desenvolve (Alves,2002). Nesse sentido, o ciberespaço se constituitambém como expressão de uma práxis social com-plexa, que se tornou capaz de desenvolver, em si,novas formas de virtualização. Com isso, surge apossibilidade, e apenas a possibilidade, de o tra-balho vivo não ser meramente meio, como ocorriacom a máquina da Grande Indústria, mas, sim,pólo ativo de um processo de subjetivação afetadopela categoria de trabalho imaterial, uma forma detrabalho concreto, inscrita na totalidade viva donovo trabalhador coletivo. O processo desubjetivação só existe no âmbito do trabalhoimaterial como momento desenvolvido da própria

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produção material (Alves, 2006).Com o ciberespaço, a máquina é reposta

apenas como mediação de uma interação sócio-humana. Nessas condições da “cooperação com-plexa”, torna (ou devia se tornar) mais clara a rela-ção de sociabilidade entre homem e homem. En-tretanto, uma contradição extrema perpassa a lógi-ca sócio-objetiva do capitalismo tardio. Nas condi-ções do controle sócio-metabólico do capital, o fe-tiche da “máquina” complexa ou “máquina” deinteligência artificial oculta, mais do que nunca, adimensão estranhada da sociabilidade (Holloway,2003; Wolff, 2004).

Por isso, a maquinaria da Quarta Idade daMáquina, que constitui o ciberespaço, possui mai-or grau de fetichização, na medida em que repre-senta, com maior densidade, as contradições am-pliadas do sistema sócio-metabólico do capital. Elaspossuem, em si, a promessa frustrada (e reprimi-da) da “pós-máquina” como elo de mediação ple-na de uma sociabilidade humana omnilateral.

(Recebido para publicação em setembro de 2007)(Aceito em dezembro de 2007)

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RESUMOS, ABSTRACTS, RÉSUMÉS

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CAPITALISMO GLOBAL E O ADVENTODE EMPRESAS-REDE: contradições do

capital na quarta idade da máquina

Giovanni AlvesSimone Wolff

A adoção das TIC’s pelas empresas decapital concentrado ensejou aimplementação de novas estratégias em-presariais com vistas à internaciona-lizaçãoda produção. Dentre essas, sua estruturaçãona forma de redes, a qual deu mais poder aogrande capital na luta contra o trabalhoorganizado. Nesse sentido, as TIC’sdenotam uma estratégia de ofensiva docapital na produção que alteraprofundamente as relações entre capital etrabalho. A preocupação central deste arti-go é analisar alguns aspectos dos termos eefeitos dessa nova ofensiva, particularmen-te para aqueles trabalhadores que se encon-tram no bojo das mutações estruturais docapitalismo global a partir da emergênciadas chamadas “empresas-rede”.

PALAVRAS-CHAVE: empresas-rede, tecnolo-gias de informação e comunicação,ciberespaço, controle do trabalho.

GLOBAL CAPITALISM AND THECOMING OF COMPANY-NET: contradictionsof the capital in the fourth age of the machine

Giovanni AlvesSimone Wolff

The adoption of TIC’s by concentratedcapital businesses brought theimplementation of new business strategiesaiming to the internationalization of theproduction. Among those, their structuringin the form of networks, which gave morepower to big capital in the fight against theunionized work. In this sense, TIC’s denotea offensive strategy by the capital in theproduction that deeply alters the relationsbetween capital and work. The mainconcern of this paper is to analyze someaspects of the terms and effects of thatnew offensive, particularly for thoseworkers that are in the midst of thestructural mutations of the global capitalismstarting from the appearance of the so-called “net- businesses.”

KEYWORDS: net-businesses, technologies ofinformation and communication,cyberspace, labor control.

LE CAPITALISME GLOBAL ETL’AVÈNEMENT DES ENTREPRISES-

RÉSEAU: les contradictions du capital auquatrième âge de la machine

Giovanni AlvesSimone Wolff

L’adoption des TIC’s par les entreprisesde capital concentré a permis l’implantationde nouvelles stratégies entrepreneuriales envue de l’internationalisation de laproduction. Entre autres, leur structurationsous forme de réseaux qui a donné plus depouvoir au grand capital dans la lutte contrele travail organisé. Dans ce sens, les TIC’sdénotent une stratégie de combat du capitaldans la production qui modifie profondémentles liens entre le capital et le travail. Lapréoccupation centrale de cet article estd’analyser certains aspects des termes et deseffets de cette nouvelle offensive, enparticulier pour les travailleurs qui se trouventau cœur des changements structuraux ducapitalisme global en partant de l’avènementdes dites “entreprises-réseau”.

MOTS-CLÉS: entreprises-réseau, technologies del’information et de la communication,cyberespace, contrôle du travail.