Capitulo 1 - A Engenharia de Fundações

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Capítulo I: A Engenharia de Fundações 1- Conhecimentos necessários para o projeto e execução de fundações Geotecnia Geologia de engenharia: em regiões extensas e desconhecidas o engenheiro de fundações pode identificar problemas que deverão ser resolvidos por um geólogo Mecânica das rochas: para estruturas que transmitem esforções para maciços rochosos é importante a participação de um geólogo.

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Para turma de engenharia capitulo do professor Alexandre godoy.

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  • Captulo I: A Engenharia de Fundaes

    1- Conhecimentos necessrios para o projeto e execuo de fundaes Geotecnia Geologia de engenharia: em regies extensas e

    desconhecidas o engenheiro de fundaes pode identificar

    problemas que devero ser resolvidos por um gelogo

    Mecnica das rochas: para estruturas que transmitem

    esfores para macios rochosos importante a participao

    de um gelogo.

  • Mecnica dos solos: o engenheiro de fundaes deve

    possuir slidos conhecimentos dos seguintes tpicos:

    Origem e formao dos solos,

    Caracterizao e classificao dos solos (parmetros

    fsicos, granulometria, limites de Atterberg etc.),

    Investigaes geotcnicas,

    Percolao nos solos e controle da gua subterrnea,

    Resistncia ao cisalhamento, capacidade de carga e

    empuxos,

    Compressibilidade e adensamento e

    Distribuio de presses e clculo de deformaes e

    recalques.

  • Clculo estrutural: o engenheiro de fundaes deve

    conhec-lo sob dois aspectos.

    Para que possa dimensionar estruturalmente os

    elementos da fundao e as obras que, em geral, so

    necessrias a execuo das fundaes propriamente

    ditas (por exemplo, um escoramento)

    Para que possa, como j foi dito, avaliar o

    comportamento da estrutura diante dos inevitveis

    deslocamentos das fundaes.

  • Vivncia e experincia

    Entenda-se por vivncia o fato de o profissional projetar ou

    executar inmeras fundaes, de diversos tipos e em condies

    diversas, passando de um caso para outro baseado, apenas, na

    sua prpria observao do comportamento dos casos

    passados, sem dados quantitativos.

    A experincia seria a vivncia completada com dados

    quantitativos referentes ao desempenho da obra.

  • Conhecimento do subsolo

    Outro aspecto que deve ser assinalado diz respeito ao conhecimento

    do solo, que fica restrito, quase sempre, ao que fornecem s

    sondagens a percusso de simples reconhecimento.

    Assim, pode-se dizer com segurana que, em nosso Pas, a tcnica

    das fundaes no tem recebido o tratamento cientifico

    adequado. Essa afirmao pode ser comprovada se se considerar

    quo pequeno o nmero de conceitos gerais, estabelecidos em

    base cientfica, utilizados na tcnica das fundaes.

  • O projeto de fundaes, ou mais precisamente seu

    dimensionamento, est calado na utilizao de correlaes que

    so estabelecidas para determinadas regies e extrapoladas

    para outras condies, as vezes, de maneira inescrupulosa.

    Tem-se que reconhecer que essas correlaes so, pelo menos no

    presente, "um mal necessrio". necessrio que seus autores

    sejam bastante explcitos e precisos na caracterizao das

    condies em que foram estabelecidas e que, por outro lado, aqueles

    que vo utiliz-las o faam com critrio, comparando aquelas

    condies com as que tm diante de si.

  • Importante ateno especial para dois pontos:

    Uma vez que os problemas de Geotecnia apresentam um maior

    grau de incerteza que os de Clculo Estrutural, nem sempre

    fcil conciliar as respectivas precises (h casos em que o

    Engenheiro Estrutural impe ao Engenheiro de Fundaes um

    requisito de recalque zero, o que impossvel, pois toda

    fundao, ainda que sobre rocha)

  • Devem-se evitar as generalizaes, pois, em Fundaes, na

    grande maioria dos casos, cada obra apresenta suas

    peculiaridades, que devem ser consideradas adequadamente

    (menciona-se, como exemplo, o que aconteceu em duas obras no

    Rio de Janeiro, em terrenos vizinhos, ambas em estacas metlicas,

    em que na primeira encontrou-se um nmero razovel de

    mataces que obrigaram a sucessivas mudanas de posio das

    estacas, enquanto na segunda nenhum mataco foi

    encontrado).

  • CONCEITOS NA ABORDAGEM DE UM PROBLEMA DE FUNDAES

    Verifica-se que, na Engenharia de Fundaes ou, de forma mais

    ampla, na Geotecnia, o profissional vai lidar com um material

    natural sobre o qual pouco pode atuar, isto , tem que aceit-lo

    tal como ele se apresenta, com suas propriedades e

    comportamento especficos.

    Importante desde o inicio da concepo do projeto de uma

    obra, considerar as condies do solo do local. Podem ocorrer

    ganhos significativos na economia da obra.

  • H, assim, problemas que so inerentes a Engenharia

    Geotcnica e que levaram autores e pesquisadores a

    desenvolverem conceitos gerais que merecem uma maior

    divulgao entre os profissionais da especialidade.

    Entre eles, destacam-se os Conceitos de Previses, Risco

    Calculado e Mtodo Observacional.

  • Previses (Lambe, 1973)

    E fcil compreender a importncia das previses na prtica da

    Engenharia Civil. Qualquer tomada de deciso baseada numa

    previso. Assim, o engenheiro deve:

    Identificar previses que so criticas para a segurana,

    funcionalidade e economia do projeto;

    Estimar a confiabilidade de cada uma de suas previses;

    Utilizar as previses no projeto e na construo;

    Determinar as consequncias das previses;

    Selecionar e executar aes baseadas nas previses mais

    confiveis.

  • A seguir apresentado o esquema do processo de previso em

    Engenharia Geotcnica.

  • A ttulo de exemplo, o processo ser aplicado a um problema de

    fundaes:

    o Determinar a situao de campo - a etapa em que o

    engenheiro colhe os dados de campo: topografia, prospeco

    do subsolo, ensaios de campo e de laboratrio, condies de

    vizinhos etc.

    o Simplificar - Em geral, a heterogeneidade e variao dos

    dados colhidos so de tal ordem que se obrigado a eliminar

    dados, tornar mdias, considerar as condies mais

    desfavorveis, a fim de elaborar um modelo. Nesta etapa,

    pode-se utilizar, com bastante proveito, conhecimentos de

  • Teoria das Probabilidades e Estatstica (ver, p. ex., Smith,

    1986).

    o Determinar mecanismos - Nesta etapa, o engenheiro deve

    determinar que mecanismo ou mecanismos estaro

    envolvidos no caso. Numa construo em encosta, por

    exemplo, ele pode concluir que o mecanismo de um

    deslizamento mais importante que o mecanismo de ruptura

    de uma sapata isolada, embora os dois mecanismos devam ser

    analisados.

    o Selecionar mtodo e parmetros - Fixado o mecanismo,

    cabe estabelecer o mtodo de anlise desse mecanismo e

    os parmetros do solo que sero utilizados.

  • o Manipular mtodo e parmetros para chegar a previso,

    atualmente, esta etapa muito facilitada com a utilizao

    de computadores e programas (comerciais ou preparados

    para casos especficos). Para cada mtodo escolhido, deve-

    se fazer uma anlise paramtrica. No final, ter-se- uma

    quantidade aprecivel de resultados, cuja anlise e

    interpretao conduziro a etapa final do processo.

    o Representar a previso - A representao ou o "retrato" da

    previso d ao engenheiro uma perspectiva e um

    entendimento do processo em estudo. Por exemplo, curvas

    carga-recalque-tempo constituem a melhor representao de

    comportamento de uma obra cujo processamento de recalques

    est sendo estudado.

  • Classificaes das previses (Lambe, 1973)

  • Risco calculado (Casagrande, 1965)

    Para Casagrande, a expresso "risco calculado" envolve dois

    diferentes aspectos:

    O uso de um conhecimento imperfeito, orientado pelo bom

    senso e pela experincia, para estimar as variaes provveis

    de todas as quantidades que entram na soluo de um problema;

    A deciso com base em uma margem de segurana

    adequada, ou grau de risco, levando em conta fatores

    econmicos e a magnitude das perdas que resultariam de um

    colapso.

  • O autor exemplifica com o seguinte caso fictcio: um aterro a ser

    construdo sobre argila mole.

    A partir das investigaes, o projetista conclui que a resistncia ao

    cisalhamento in situ pode variar entre 20 e 30 kPa.

    O limite superior foi obtido de ensaios convencionais de

    laboratrio em amostras indeformadas e de ensaios in situ de

    palheta (vane tests).

    O limite inferior baseado na experincia e no bom senso do

    projetista, considerando os possveis efeitos combinados de:

    (1) transmisso lateral de poropresses, em consequncia da

    estratificao da camada argilosa, a qual reduziria a resistncia ao

    cisalhamento mdia ao longo de uma superfcie de deslizamento

    potencial;

  • (2) a reduo da resistncia em longo prazo, quando a argila e

    submetida a uma deformao cisalhante no drenada.

    Depois de estabelecer o intervalo de variao para a resistncia ao

    cisalhamento, o projetista escolhe um valor caracterstico (ou

    valor de projeto) que ser utilizado em suas anlises de

    estabilidade.

    Se se tratar de importante barragem, cuja ruptura causaria uma

    catstrofe, ele poder decidir adotar o valor bastante conservativo de

    6 kPa.

    Com isso, ele estaria protegendo-se contra a ampla margem de

    incerteza, adotando uma ampla margem de segurana.

    Para conseguir uma maior economia sem comprometer a segurana, o

    projetista poderia optar por instalar um certo nmero de

  • piezmetros na camada de argila e elaborar um projeto inicial com

    uma margem de segurana bem menor.

    Nesse caso, utilizaria a obra como ensaio em verdadeira

    grandeza e, com base nas observaes piezomtricas, poderia

    modificar o projeto se isso se mostrasse necessrio (Mtodo

    Observacional, Peck, 1969).

    Se a obra fosse um aterro rodovirio para o qual uma ruptura

    parcial pouco representasse em termos econmicos, o projetista

    poderia permitir um major risco de ruptura. Consequentemente,

    poderia utilizar uma resistncia ao cisalhamento de 12 kPa.

  • Classificao dos riscos - Os riscos podem ser classificados em: Riscos de Engenharia:

    Riscos desconhecidos;

    Riscos calculados.

    Riscos humanos:

    A maioria dos riscos humanos, tanto desconhecidos como calculados,

    podem ser agrupados em:

    Organizao insatisfatria, incluindo diviso de responsabilidade

    entre projeto e superviso de construo;

    Uso insatisfatrio do conhecimento disponvel e do bom senso;

    Corrupo.

  • Frequentemente, no ha uma ntida demarcao entre esses trs

    grupos de riscos humanos.

    Em particular, a diviso de responsabilidade , quase sempre, a

    causa do uso insuficiente do conhecimento disponvel e do

    bom senso, o que pode facilitar a corrupo.

  • Classificao de perdas potenciais - As perdas potenciais em obras

    de terra e fundaes podem ser classificadas em:

    Perdas catastrficas de vidas e propriedades;

    Pesadas perdas de vidas e propriedades;

    Srias perdas financeiras; provavelmente sem perda de vidas;

    Perdas financeiras tolerveis; sem perda de vidas.

  • Riscos de Engenharia

    Riscos desconhecidos So aqueles que so desconhecidos ate

    que se revelam em um acidente, atravs do qual podem, ento, ser

    observados e investigados.

    Na opinio de Casagrande, os conhecimentos atuais de Geotecnia

    permitem que se tenha, pelo menos, uma estimativa qualitativa da

    resposta de todos os solos e rochas quando submetidos s atividades

    convencionais das obras de Engenharia.

    Em outras palavras: muito pouco provvel encontrarem-se

    riscos desconhecidos.

  • Riscos calculados - Correspondem aos fenmenos para os quais a

    Geotecnia ainda no apresentou uma anlise quantitativa

    satisfatria. Casagrande enumera os seguintes:

    Deslizamentos por liquefao em solos granulares;

    Deslizamentos por liquefao em argilas extremamente sensveis;

    Caractersticas tenso-deformao-resistncia em materiais

    granulares grossos, incluindo enrocamentos, sob elevadas

    presses confinantes;

    Caractersticas tenso-deformao-resistncia, a longo prazo,

    de argilas no drenadas;

  • Caractersticas de estabilidade de argilas rijas e argilas siltosas

    muito plsticas;

    Controle de fissuras transversais e longitudinais no ncleo de

    barragens de enrocamento de grande altura;

    Efeitos de terremotos em barragens de terra ou enrocamento

    de grande altura.

  • Mtodo Observacional (Peck, 1969, 1984)

    1. Explorao (investigao) suficiente para estabelecer, pelo

    menos, a natureza, a distribuio e as propriedades, em geral,

    dos depsitos, sem necessidade de detalhes.

    2. Avaliao das condies mais provveis e dos desvios, em

    reao a essas condies, mais desfavorveis que se possa

    imaginar. Nesta avaliao, a Geologia desempenha importante papel.

    3. Estabelecimento do projeto com base em uma hiptese de

    trabalho de comportamento antecipado sob as condies mais

    provveis.

    4. Seleo de parmetros a serem observados durante a

    construo, e clculo de seus valores antecipados com base na

    hiptese de trabalho.

  • 5. Clculo dos valores dos mesmos parmetros sob as condies

    mais desfavorveis compatveis com os dados disponveis

    referentes ao terreno.

    6. Seleo antecipada de um plano de ao ou de modificao

    de projeto para cada desvio significativo previsvel entre os

    valores observados e os determinados com base na hiptese de

    trabalho.

    7. Medio de parmetros a serem observados e avaliao das

    condies reais.

    8. Modificao de projeto para adequao as condies reais.