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CAPÍTULO 1 DESIGN DA INFORMAÇÃO

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CAPÍTULO 1

DESIGN DA INFORMAÇÃO

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1.1 História da Representação Visual de DadosMichael Friendly defende em seu trabalho A brief history of data visualization que a

representação gráfica de dados quantitativos não é uma prática moderna. Os primeiros registros visuais são anteriores ao século 17: diagramas, tabelas de posição de estrelas e outros corpos celestes, além de mapas utilizados na navegação e exploração. A idéia de coordenadas – latitude e longitude - já era utilizada por inspetores no antigo Egito, 200 a.C. Uma das primeiras representações gráficas de informação é de um anônimo que retrata a mudança de posições, espaço e tempo, do sol, da lua e de outros planetas em relação às estações do ano. O eixo vertical representa a inclinação das órbitas planetárias, o eixo horizontal mostra o tempo. Nota-se o uso de uma grade, sugerindo uma noção de coordenadas em algo semelhante a papel milimetrado (figura 1) (FRIENDLY, 2006, p. 11). Segundo Edward Tufte, esta é uma renomada ilustração do décimo século e aparentemente faz parte de um texto elaborado por uma escola em um mosteiro. Esse é o mais antigo exemplo conhecido sobre a tentativa de mostrar graficamente mudança de valores. De acordo com Gray Funkhouser (in TUFTE, 2001, p.28), o conteúdo astronômico é confuso e existem dificuldades na conciliação entre o gráfico e o texto que acompanha os movimentos reais dos planetas, tanto que, pode-se notar uma rasura e correção feita em uma curva próxima ao centro do gráfico.

Cláudio Ptolomeu desenvolveu um mapa com a projeção esférica da Terra (figura 2), baseada em latitude e longitude, que serviu como padrões de referência em Alexandria até o século 14. Em 1350 o bispo francês Nicole Oresme faz uso de um gráfico de barras para demonstrar “uma variável que depende de outro valor” (figura 3). Já no século 16, com o refinamento de técnicas e instrumentos de observação e medição precisa de grandezas físicas, geográficas e de posição celestial pode-se desenvolver representações como o mapa mundi de Gerardus Mercator (figura 4) (FRIENDLY, 2006, p.4).

Durante o século 17, os problemas de representação visual mais importantes eram os relacionados com medições físicas - do tempo, da distância e do espaço - para a astronomia, topografia, desenvolvimento de mapas, navegação e expansão territorial. Além disso, houve grande crescimento teórico e o uso da aplicação prática da geometria analítica e sistemas de coordenadas, probabilidade, estatísticas demográficas, entre outros. Um exemplo notável mostra um gráfico de 1644 desenvolvido por Michael van Florent Langren, um astrônomo da Corte de Espanhola (figura 5). Naquela época a falta de um meio confiável para determinar a longitude no mar dificultava a navegação e exploração. Este gráfico de linha mostra todas as 12 estimativas conhecidas até então da diferença de longitude entre Toledo e Roma, e os nomes correspondentes dos astrônomos (Mercator, Tycho Brahe Ptolomeu, entre outros), que forneceram cada marcação. Van Langren poderia ter apresentado as informações em várias tabelas ou ordenar por autor, por data ou pela distância, no entanto essa maneira se mostrou mais eficiente. Na verdade, a distância correta é a indicada pela flecha, segundo Tufte é a

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Figura 2 - Reprodução do mapa mundi de Ptlolomeu feita por Johan Scotus em 1505

Figura 4 - Reprodução do mapa mundi de Ptlolomeu feita por Johan Scotus em 1505

Figura 3 – Gráfico de Barras, Nicole Oresme, 1350

Figura 1 - Uma das primeiras repre-sentações gráficas de informação

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de 16º30’. Esse gráfico também é um marco como o exemplar mais antigo conhecido do princípio de “efeito de ordenação para exibição de dados” (in FRIENDLY, 2006, p.5).

Um dos primeiros mapas cartográficos de dados foi o de Edmond Halley, datado de 1686 (figura 6) mostrando os ventos alísios e as monções em um mapa mundi. Halley escreveu: “... o fim de cada linha que aponta para uma parte do horizonte, mostra de onde o vento continuamente vem, e aonde existem monções os arcos de linhas se alternam para frente e para trás, mostrando que eles são mais espessos [densos] que em outros lugares” (TUFTE, 2001, p.23, tradução nossa). Os elementos para desenvolver métodos gráficos de representação visual estavam prontos ao fim desse século1.

Figura 5 –Michael van Langren, 1644

Figura 6 - Edmond Halley, 1686

Segundo Friendly, no século 18 a idéia de representação gráfica da informação estava estabelecida, como demonstram os exemplos de Van Langren e Halley. Sendo assim, cartógrafos começaram a mostrar mais que posições geográficas em seus mapas e isso criou um novo modo de representar os dados. À medida que o volume de dados aumenta - em áreas como geologia, economia, demografia e saúde - avança-se na tentativa de mapear informações e faz-se uso de recursos como a cor, contorno e figuras geométricas, além disso, usa-se inovações tecnológicas como a impressão em três cores para abrir novos caminhos. Um exemplo é o de Edmund Halley, que em 1701 desenvolve um mapa que utiliza as linhas para mostrar valores iguais em um grid de coordenadas (figura 7). Também foram introduzidos mais tarde mapas topográficos como o de Marcellin du Carla-Boniface (figura 8). No entanto, essas novas formas gráficas apareciam em publicações de circulação limitada e não atraíam muita atenção2.

Destaca-se William Playfair (1759-1823) que é considerado o inventor da maioria das formas gráficas utilizadas até hoje: dos gráficos lineares, de barra, de círculo, de pizza e de linha. A figura 9 mostra uma combinação das diferentes formas, a utilização de área para

1 Ibid, p.62 Ibid, p.8

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Figura 8 - Marcellin du Carla-Boniface, 1782

Figura 7 – Edmund Halley, 1701

Figura 9 – William Playfair, 1801

Figura 10 – William Playfair, 1821

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Figura 11 - William Smith, 1815

descrever a quantidade, e o círculo representa a área de cada país. A linha vertical esquerda representa a população em milhões e, a linha à direita a receita (impostos) coletada em milhões de libras esterlinas. As linhas pontilhadas traçadas entre a população e renda ligam informações pertencentes ao mesmo país. A ascensão dessas linhas da direita para a esquerda ou da esquerda para a direita, mostra se a população do país está sobrecarregada com impostos ou não (TUFTE, 2001, p.44). Outro destaque de Playfair é o gráfico que questiona se o preço do trigo aumentou em relação aos salários (figura 10) estão representados: preços, salários, e os reinados britânicos em um período de 250 anos. Em uma carta, Playfair escreveu:

Vocês têm diante de vocês, meus Senhores, um gráfico dos preços do trigo durante 250 anos, feito a partir de dados oficiais, na mesma tabela tracei uma linha que representa, tanto quanto posso, o salário de um bom mecânico, tanto quanto de ferreiros, pedreiros e carpinteiros, para comparar a proporção entre esses e os preços do trigo em cada período diferente.... O principal fato merecedor de reflexão é que, nunca, em qualquer período anterior o trigo foi tão barato, em relação ao trabalho braçal, como é no momento presente (TUFTE, 2001, p.34, tradução nossa).

Dados representados visualmente permaneceram raros por mais 30 anos, talvez por não existir complexidade suficiente nos dados colhidos até então que precisassem de novos métodos de representação. Além disso, não havia publicações disponíveis facilmente. No entanto isso mudou na primeira metade do século 19 quando todas as formas de representação modernas já existiam. Na cartografia, mapas simples foram transformados em atlas complexos baseados em grande variedade de dados. O primeiro mapa geológico da Inglaterra e do País de Gales desenvolveu um padrão para a cartografia geológica, também é conhecido como o “mapa que mudou o mundo” - para os geólogos, pelo menos -, foi desenhado em 1801 com versão final de 1815 (figura 11). Outro exemplo (figura 12) é o atlas físico com a distribuição de plantas, animais, clima, entre outros; inclui tabelas e gráficos ilustrados e é um dos mais extensivos e detalhados atlas temáticos da época (FRIENDLY, 2006, p.7).

Na mesma época, entre 1830 e 1850, a utilização de gráficos começou a ser reconhecida em

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3 Ibid, p.94 Mapa da França iletrada e da França letrada (tradução nossa)5 Rascunho da localização geográfica de plantas (tradução nossa)

alguns círculos oficiais de desenvolvimento econômico e de planejamento. Cartogramas e mapas estatísticos também foram desenvolvidos para fazer levantamentos de diferentes áreas das cidades. Por volta de 1820, o Barão Charles Dupin fez uso do sombreado para mostrar a distribuição e o grau de analfabetismo na França (figura 13), sob o título Carte de la France obscure et la France éclairée que atraiu grande atenção. Essa provavelmente foi a primeira aplicação de gráficos para representação de dados na esfera social. Tableau Graphique de Charles Joseph Minard (figura 14) mostra o transporte de mercadorias comerciais Canal Central francês (Chalon-Dijon) através de um gráfico de barras. No entanto, Minard introduziu inovações: as barras foram divididas proporcionalmente à área real. A largura de cada barra mostra a distância ao longo do percurso. A altura das barras mostra o custo do transporte. As diferentes cores indicam a variedade dos produtos transportados e as setas mostram a direção do transporte3.

Figura 12 - Umrisse der Pflanzengeographie5

de Heinrich Berghaus, 1838

Figura 12 - Carte de la Franceobscure et la France éclairée4 Barão Charles Dupin, 1820

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Figura 14 – Charles Minard, Tableau Graphique

Na metade do século 19, todas as ferramentas para o crescimento de gráficos de dados estavam estabelecidas - as ciências estatísticas, sociais e entre outros, além disso, passou-se a aceitar a representação visual gráfica como maneira eficiente de transmitir informação. Escritórios de análise estatística se estabeleceram por toda Europa, por conta do reconhecimento da importância da informação numérica para o planejamento social, industrialização, comércio e transporte. Houve extenso uso de diferentes recursos como 3D (figura 15), justaposição (figura 18), mapas amórficos (figura 17), coordenadas paralelas (figura 16) e grades hexagonais (figura 17), para criar gráficos multifuncionais6.

Segundo Michael Friendly, durante esse período estereogramas7 são construídos como o desenvolvido por Luigi Perozzo, baseado em dados do Censo Sueco (figura 15).

Um dos primeiros a usar um mapa para traçar padrões de uma doença é John Snow, que cruzou o local das mortes por cólera em Londres em setembro de 1854 (figura 18). As mortes foram marcadas por pontos e, 11 reservatórios de água da área foram localizados com cruzes. Examinando a dispersão dos pontos na superfície do mapa, Snow observou que a cólera ocorreu quase exclusivamente entre os que viviam perto (e beberam) a água fornecida pelo reservatório da Broad Street. Então, esse reservatório foi desativado, terminando com epidemia no bairro que alcançou 500 mortes. O reservatório está situado no centro do mapa, a direita do “D” na Broad Street. É claro que a ligação entre o reservatório e a doença poderia ter sido revelada através de cálculo e análise, sem gráficos, com alguma sorte e muito trabalho. Mas, aqui, pelo menos, a análise gráfica se mostra muito mais eficientemente que o cálculo (TUFTE, 2001, p.24).

Já Charles Minard, um engenheiro civil francês, ilustrou graficamente a desastrosa campanha de Napoleão contra a Rússia em 1812 (figura 16). Seis variáveis são pontuadas: o tamanho do

6 Ibid, p.67 Segundo o dicionário Aurélio Estereografia é a arte de representar os sólidos em um plano (1987, p.580).

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exército, a sua localização sobre uma superfície bidimensional, a direção da movimentação do exército, e temperatura em diferentes datas durante a retirada de Moscou. A largura do trajeto é proporcional ao número de soldados sobreviventes na campanha de guerra. Em laranja o caminho de ida e em preto a volta. Segundo Tufte, esse pode ser o melhor gráfico estatístico já desenhado8.

Além disso, com a disseminação das estatísticas oficiais para a população, houve incentivo para organizar os chamados Atlas Estatísticos. Também havia preocupação em regulamentar a apresentação gráfica, então foram feitos Congressos Internacionais de Estatísticas (FRIENDLY, 2006, p.13).

Figura 15 - Estereograma tridi-mensional, Luigi Perozzo, Itália

Figura 16 - Charles Minard, 1812

8 Ibid, p.40

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Figura 17 – Exemplo de mapa amórfico, L’abaque du bateau Le Triomphe de Lallemand4, de Marie-Nöelle Maisonneuve

Figura 18 – John Snow, 1854

4 Gráfico do barco Le Triomphe de Lallemand (tradução nossa)

No período entre 1900 e 1950 aconteceram poucas inovações gráficas e o entusiasmo vivido no século passado foi suplantado pelo crescimento da quantificação e modelos formais. Imagens se tornaram apenas imagens, incapazes de demonstrar fatos quantitativos. No entanto foi nesse período que gráficos estatísticos se tornaram populares e acessíveis, aliás, métodos gráficos provaram ser cruciais para explicar novas descobertas e teorias, nos campos da astronomia, física, biologia e outras ciências (FRIENDLY, 2006, p.21). Para Marcos Balster Fiore Correia, uma importante experiência realizada em 1924 por Otto Neurath, que organizou o Museu Social de Gráficos Estatísticos em Viena, Áustria, e introduz o Isotype (figura 19). Tal sistema baseado em símbolos pictóricos foi idealizado como um meio de transmitir informações de maneira unívoca para todas as pessoas independentemente da cultura e do nível de instrução. Foi muito influente para artistas da época apesar de ser um projeto pretensioso (CORREIA, 2009, p.198).

Em 1933 Henry Beck atualiza o mapa do metrô de Londres, que até então representava o itinerário como um mapa, seguindo o relevo natural da linha de metrô pela cidade (figura

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20). O mapa de 1933 foi estudado e desenhado para usar somente linhas verticais, horizontais e com inclinação de 45º para representar os percursos (figura 21), demonstrando o poder de síntese e organização possíveis. As únicas referências que restam para o usuário são o rio Tâmisa que corta Londres e as estações, “O mapa organiza Londres, ao invés de Londres organizar o mapa” (TUFTE, 1990, p. 43).

A visualização de dados começa a se revitalizar por volta de 1960. Nos Estados Unidos, John W. Tukey reconhece a importância da análise gráfica dos dados e lançam novos padrões e inovações, como histogramas de análise de contas que possuem novas propostas de comparação visual. Na França, Jacques Bertin publica a Semiologia Gráfica, organizando visão e percepção

Figura 19 – Isotype (International System of Typogra-phic Picture Education)

Figura 20 – mapa do metrô de Londres até 1932, desenvolvido por George Dow

Figura 21 – Henry Beck, 1933

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dos elementos gráficos. Além disso, a inovação tecnológica trazida pelos computadores começa a mostrar seu potencial. Entre o período de 1950 a 1975, importantes colaborações entre tecnologia - desenvolvimento de softwares de pesquisa, evolução da análise de dados e tecnologia - para mostrar e inserir dados. Nota-se novos paradigmas, linguagens e softwares para a visualização e implementação de dados estatísticos. Por outro lado, novas técnicas e métodos de visualização começaram a surgir: diferentes representações de dados variados, o desenvolvimento de várias técnicas de reduções dimensionais, animações, entre outros. (FRIENDLY, 2006, p.23).

No fim do século 20 a visualização de dados amadureceu com o refinamento do que foi desenvolvido anteriormente. Foram criados sistemas computacionais altamente interativos. Novos paradigmas de manipulação direta de dados visuais – linkar, apagar, selecionar, focar, entre outros – e a invenção de técnicas gráficas e os métodos de visualização multidimensional também marcaram essa época. Em 1982, o jornal americano USA Today inaugura uma era de impressão colorida nos jornais que se espalha pelo mundo (figura 22). Logo, os infográficos se tornam parte do dia-a-dia da imprensa. Em 1993 se estabelece nos EUA a Xplane, empresa especializada em visualização de dados aplicados ao comércio e administração de empresas. Em 1996, é criado um software de dados cartográficos, com ferramentas que permitem vários tipos de mapeamento simultâneos. Em 1999 Leland Wilkinson escreve A Gramática dos Gráficos, uma espécie de dicionário sistemático e de fácil compreensão com regras gramaticais para dados e gráficos. Nesse mesmo ano alguns dos melhores artistas gráficos dos EUA são reunidos por Richard Saul Wurman no livro Understandig US, um compêndio visual de dados socioeconômicos do país10.

Figura 22 – Página da previsão do tempo do jornal norte-americano USA Today, desenvolvido por George Rorick

10 Ibid, p. 24

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1.2 Design da InformaçãoSegundo o site da Sociedade Brasileira de Design da Informação (SBDI), o Design da Informação:

É uma área do design gráfico que objetiva equacionar os aspectos sintáticos, semânticos e pragmáticos que envolvem os sistemas de informação através da contextualização, planejamento, produção e interface gráfica da informação junto ao seu público alvo. Seu principio básico é o de otimizar o processo de aquisição da informação efetivado nos sistemas de comunicação analógicos e digitais11.

De acordo com artigo Infographics: Being and Doing de Venkatesh Rajamanickam, um gráfico informacional ou simplesmente infográfico constrói representações visuais da informação, estabelecendo relações, ajudando o consumidor a compreender a informação. Atualmente infográficos são recursos amplamente utilizados nos meios de informação, pois o uso dos mesmos pode explicar como montar uma mesa e até mostrar como gêmeas siamesas são cirurgicamente separadas. “Designers, educadores, jornalistas e comunicadores em geral abraçaram infográficos para ajudar o público a entender suas intenções de uma maneira mais rápida e esperta” (RAJAMANICKAM, 2005, p.2, tradução nossa).

O Conselho de Design da Informação (Design Council on Information Design) faz a seguinte abordagem:

Grande parte do design gráfico se preocupa com a informação - como é apresentada, navegadas, compreendidas e utilizadas. Às vezes as informações são bastante técnicas, tais como instruções de medicação; outras informações podem ser bastante densas, como horários de ônibus. O Design da Informação é a disciplina que dispõe e exibe informações, seja simples ou técnica, de modo que seja fácil entendimento e utilização12 (tradução nossa).

A Sociedade de Comunicação Técnica (Society for Technical Communication’s – STC) descreve a disciplina como “a tradução de dados complexos, desorganizados, ou não-estruturados em informação valorosa e significativa”. Lipton (in CORREIA, 2009, p.186) complementa e define como “o estudo e prática de trazer clareza e compreensibilidade a produtos visuais voltados a orientar, ensinar, explicar, ou informar”. Marcos Balster Fiore Correia, em sua dissertação A Comunicação de Dados Estatísticos por Intermédio de Infográficos: Uma Abordagem Ergonômica, afirma:

Tendo em vista, o design da informação se baseia na assunção de que princípios do design aplicados à informação a tornam mais acessível, mais funcional, mais cativante, mais pregnante e de assimilação mais prazerosa. Assim, a apresentação da informação quando concebida de

11 http://www.sbdi.org.br/12 http://www.designcouncil.org.uk/about-design/Types-of-design/Graphic-design/Information-design/

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forma planejada, equacionando uma série de restrições de projeto – tais como o público-alvo, as mídias, as possíveis interferências contextuais e as capacidades físicas e psíquicas humanas – tende a atingir de forma mais eficiente seus objetivos, sejam eles informar, ensinar, orientar ou explicar (CORREIA, 2009, p.187).

Marcos Correia ainda conclui que após considerar todas as questões pertinentes ao design da informação, é possível afirmar que essa vertente do design tem como finalidade auxiliar o acesso a um conjunto de dados ou a alguma informação, na extração de informações de um conjunto de dados, no entendimento da informação, e, na assimilação da informação, ou seja, sua transformação em conhecimento13.

1.3 Infográficos 1.3.1 Definição

Segundo Alberto Cairo em seu livro Infografia 2.0 o termo infográfico começou a se popularizar no meio jornalístico no final dos anos 1980. A palavra é um acrônimo das palavras “informação” e “gráfico” assim como o original em inglês infographics. E complementa que “um infográfico é uma representação diagramática de dados”.

Para Moraes (in CORREIA, 2009, p.193) “a infografia corresponde ao registro gráfico da informação, pela combinação das linguagens verbal e iconográfica, com certo predomínio desta última”. O dicionário Houaiss traz a seguinte descrição:

Apresentação de informações com preponderância de elementos gráficos-visuais (fotografia, desenho diagrama estatístico etc.) inte-grados em textos sintéticos e dados numéricos, geralmente utilizada em jornalismo como complemento ou síntese ilustrativa de uma notícia (DICIONÁRIO HOUAISS, 2001, p.1615).

Correia faz uma discussão acerca do termo infográfico, já que ele apresenta uma dualidade em seu significado, pois, além de denotar a representação gráfico-visual da informação, ele pode ser entendido como a aplicação da informática para a criação de representações visuais – fotografias digitais, ilustrações digitais feitas através de um software. No entanto, a definição adotada para esta monografia será o termo como representação gráfico-visual da informação técnico-científica. Detalhando-se a definição, tem-se que o infográfico é uma representação porque corresponde sempre a uma construção abstrata que está no lugar de fatos e objetos reais para que estes possam ser racionalizados. Ele é gráfico porque se materializa através de gravações sobre superfícies planas e é visual porque é captado sensorialmente pela visão. Sendo gráfico e visual ele engloba signos gráficos verbais (a palavra escrita), signos gráficos pictóricos (imagens materiais) e signos gráficos esquemáticos (diagramas7). A informação técnico-

13 Ibid, p.18814 Representação gráfica, por meio de figuras geométricas (pontos, linhas, áreas, etc.), de fatos, fenômenos, gran-dezas, ou das relações entre eles (HOUAISS, 2001, p.1030)

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científica se refere aos conteúdos voltados para mostrar, esclarecer e explicar quantidades, objetos, fenômenos, eventos, situações e processos (CORREIA, 2009, p.193).

1.3.2 Função

Segundo Correia, os infográficos são extensamente empregados na contemporaneidade, meios de comunicação buscam aperfeiçoamento para atender e otimizar o desempenho dos usuários que buscam informação. Para tal fim os infográficos precisam: proporcionar ao usuário a aquisição da informação de que precisa ou deseja; proporcionar ao usuário uma aquisição da informação mais rápida; economizar espaço na página e; estimular o usuário a adquirir a informação.

Em busca dessas metas, os infográficos têm como diretriz fundamental o emprego dos princípios e técnicas do design da informação para apresentar a informação com simplicidade, clareza, concisão, precisão, objetividade e dinamismo. Para Moraes:

A infografia, enquanto modalidade de jornalismo visual, corresponde à transmissão de informações jornalísticas, através da utilização de elementos não-textuais, que informam de maneira rápida e direta, conferindo à leitura de jornais diários maior velocidade e objetividade, adjetivos indispensáveis para um meio de informação no atual contexto histórico (in CORREIA, 2009, p.206).

1.3.3 Características

“O papel do design nos infográficos é não interferir na informação, é preparar as condições para que ela fale por si mesma”15.

Segundo Richard Saul Wurman, as formas de se organizar as informações são finitas e estão em cinco grupos de possibilidades: categoria, agrupamento de bens diversos, genéricos, geralmente de importância similar; tempo, agrupamento por localização ou referencial temporal, seja em ordem cronológica ou periódica; localização, agrupamento por localização, referencial geográfico ou geométrico; alfabeto, agrupamento por ordem alfabética e; seqüência, agrupamento relativo à atribuição de peso ou valor de alguma informação, possui caráter hierárquico do maior ao menor ou vice-versa (WURMAN, 1991, p.43).

Rajamanickam afirma que para comunicar visualmente é preciso entender o que é representação que, literalmente, significa apresentar de novo. É necessária certa abstração do usuário para entender a informação, que varia de acordo com a necessidade. Quanto mais concretas, realistas e simples as representações, mais fáceis são de entender. Para o autor os melhores resultados são obtidos eliminando detalhes e exagerando as características marcantes. “As representações que conseguem se comunicar com êxito são facilmente visíveis, simples, imediatas, coerentes e genéricas” (tradução nossa) (RAJAMANICKAM, 200, p.5).

15 Ibid, p.210

30Design da Informação

Figura 23 - Diagrama de Rajamanickan

ESPACIAL

Informação que descreve posições relativas e as relações espaciais em um local físico ou conceitual

DIAGRAMAS

Ícone: mostra a realidade visual simplificada

Seqüência: Mostra sucessão de acontecimentos, ações e relações causais

Processo: mostra interações passo-a-passo entre espaço e tempo

Linha do tempo: mostra evolução cronológica

Exposição: mostra detalhes ou pontos de vista, normalmente não está disponível para o ser humano os olhos, como cortes, vistas, etc axonométrica

MAPAS

Localizador: mostra a localização de algo em relação a outra coisa.

Dados: mostram informações quantitati-vas em relação à sua localização geográfica

Esquemas: Mostra uma representação abstrata da geografia, processo ou seqüência

GRÁFICOS

Fluxo: mostra a mudança de magnitude ao longo do tempo

Barra: mostra a compara-ção proporcional da magnitude

Pizza: mostra a distri-buição de partes de um todo

Organização: mostra as partes em uma estrutura e suas inter relações

Informação que descreve posições sequenciais e relações de causa em uma linha do tempo física ou conceitual

CRONOLÓGICA

Informação que descreve escalas, proporções, mudanças e organização de quantidade em tempo, espaço ou ambos

QUANTITATIVA

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TIPO DE INFORMAÇÃO

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-------COMUNICAÇÃO

DISPOSITIVO DE INFOGRÁFICO

INFOGRÁFICOS

ESTÁTICO

A informação é apresen-tada em sua totalidade de maneira instantânea

Gráficos de jornais, folderes com mapas, manuais, diagramas expositivos

EM MOVIMENTO

Informação é apresentada progressivamente em uma sequência linear

Superposições de animação ou gráfico em vídeos

INTERATIVO

Informação é apresentada seletivamente com base na escolha dos usuários

Normalmente utilizados em mídias da web, em que as informações são narrativas, instrutivas, simuladoras ou exploratórias

São três os maiores desafios para desenvolver um infográfico satisfatório: entender o tipo de informação que se tenta comunicar, ela pode ser espacial, cronológica, quantitativa ou uma combinação das três; desenvolver uma representação adequada e coerente com a informação que se deseja transmitir e; escolher um meio adequado – estático (papel ou tela do computador), movimento (animação ou vídeo), ou interativo (rede da web ou outros aparelhos eletrônicos baseados em dispositivos que permitem interação).

O diagrama a seguir, retirado do artigo de Rajamanickan, de maneira sucinta, mostra um panorama geral de concepção de um infográfico:

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1.4 InfografiaEdward Tufte no livro Envisioning Information aponta como princípios e técnicas

de representação gráfica da informação: Micro/Macro leituras; distribuição em camadas e separação; pequenos múltiplos; cor e informação; e narrativas de espaço e tempo.

1.4.1 Micro/Macro Leituras

A representação gráfica deve permitir que os usuários obtenham informações tanto da visão geral dos dados apresentados quanto de suas inter-relações mais específicas. Para que isso ocorra é preciso que a representação gráfica não perca os detalhes. O desejado é justamente o contrário. Conforme afirma Edward Tufte a “simplicidade de leitura deriva de informação detalhada e complexa, devidamente arrumada, a estratégia de design mais não convencional é revelada, para esclarecer, adicione detalhe” (TUFTE, 1990, p.37).

Segundo Correia, a partir da hierarquização eficiente do conjunto de dados apresentados, as representações gráficas que seguem o princípio de micro/macro leituras dão ao usuário a liberdade de observar o todo (leitura macro) e, deste todo, selecionar os detalhes que lhe interessam para fazer leituras pormenorizadas (leitura micro). Edward Tufte complementa: “Panoramas, vistas e perspectiva oferecem aos telespectadores a liberdade de escolha que deriva de uma visão geral, a capacidade de comparar e classificar através de detalhes.” e “Tais projetos podem relatar imensos detalhes, organizar algo complexo através de múltiplos e (muitas vezes) camadas hierárquicas de leitura contextual”. Um exemplo que segue esse princípio é o da figura 24 que representa a distribuição populacional no Japão e como ela se distribui ao longo do território nacional (macro leitura) e ao mesmo tempo pode-se visualizar a concentração populacional em locais específicos (micro leitura)16.

Figura 24 - Mapa Estatístico: O Resultado do Censo da População de Tóquio em 1980

16 Ibid, p.38

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1.4.2 Distribuição em Camadas de Separação

É uma forma de separar visualmente os vários aspectos de um conjunto de dados e separar a informação propriamente dita da estrutura gráfica utilizada para comunicá-la. Ela consiste, basicamente, na utilização de diferentes cores, tons, texturas e tamanhos para criar contrastes entre os sinais gráficos que transportam a informação e os que não a transportam. Tufte complementa que “entre os dispositivos mais potentes para reduzir o ruído e enriquecer o conteúdo da representação é a técnica de estratificação e separação”. Um exemplo desse princípio é o da figura 25, que é um desenho técnico com vistas explodidas de um maquinário que apresentam as peças em preto e as legendas em vermelho (TUFTE, 1990, p.53).

Marcos Correia atenta para o fato de que os sinais gráficos presentes num mesmo campo visual inevitavelmente geram padrões e texturas, sejam eles, desejados ou não. Esse efeito é conhecido como “1 + 1 = 3 ou mais” (figura 26) e na maior parte dos casos esse efeito é indesejado, já que gera ruído na informação (CORREIA, 2009, p. 216) .

Figura 25 - Página do manual de instruções da IBM Series III Copier I Duplicator, desenho de Gary E. Graham

Figura 26 - “Um mais um é igual a três ou mais”, de Josef Albers

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1.4.3 Pequenos Múltiplos

A técnica consiste na múltipla replicação, dentro do campo visual, da representação gráfica da informação. Em cada réplica a estrutura utilizada para transportar o conteúdo se mantém constante, mas a informação propriamente dita muda de uma para outra. Com todas as réplicas dentro de seu campo de visão, o espectador é capaz de compará-las visualmente em busca de diferenças. Como a estrutura é mantida constante, as diferenças percebidas se referem a mudanças na informação. “A grande vantagem dos pequenos múltiplos é justamente favorecer as comparações e tornar visíveis as variações na informação” (CORREIA 2009, p.217).

A figura 27 apresenta um infográfico que se utiliza desse princípio, a mesma estrutura é repetida várias vezes, de maneira idêntica. O que muda é a informação mostrada em cada uma das réplicas, para que se tornem visíveis suas variações (TUFTE, 1990, p. 68).

Figura 27 - Regras e Regulamentos para o Governo de funcionários do Departamento Operacional da Companhia Ferroviária Hudson & Manhattan, Nova Iorque, 1923

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1.4.4 Cor e Informação

Uma das mais eficientes técnicas de representação gráfica é vincular cores à informação já que, segundo Edward Tufte “os olhos humanos são requintadamente sensíveis às variações de cores” e “os usos fundamentais da cor no design de informação: para classificar (cor como substantivo), para medir (cor como quantidade), para representar ou imitar a realidade (a cor como representação), e para animar ou enfeitar (cor como beleza)” (TUFTE, 1990, p.81). Ainda destaca os dois princípios a se buscar para minimizar os danos causados pelo uso da cor. O primeiro é não aplicar cores fortes e plenamente saturadas a grandes áreas, reservando para aplicações pontuais, já que cores fortes sobre fundos neutros destacam a informação e ajudam a harmonizar a representação gráfica. O segundo principio é o de atribuir valores para as cores, algumas cores têm significados típicos, como o vermelho para sinais de atenção. Um exemplo de aplicação de cores é em mapas topográficos (figura 28) que se utiliza de gradações cromáticas para diferenciar classes de itens e ao mesmo tempo expor seus valores quantitativos. Faz-se uso de significados inerente da cor, como o azul para água e obtém um resultado agradável e estimulante17.

Figura 28 - Mapa Geral Batimétrico dos Oceanos, Organização Internacional Hidrográfica, Cabadá, 1984.

1.4.5 Narrativas de Tempo e Espaço

Segundo Marcos Correia um dos maiores desafios para a representação gráfica é transportar para uma mídia plana e estática, como o papel, um mundo tridimensional e pleno de movimento. A percepção da profundidade e do movimento é essencial para a interação das pessoas com o ambiente. Tufte cita calendários como exemplos de narrativa, utilizados há centenas de anos, e organizam e planificam informações extensas, complexas e continuadas de tempo (CORREIA, 2009, p.222) .

Com os recursos tecnológicos que incitam a ilusão de movimento, como em dispositivos multimídia, os desafios de organizar narrativas de espaço tempo extravasam o meio bidimensional e não se exige grande poder de abstração do usuário.

17 Ibid, p.90

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É possível citar figuras dispostas em seqüência que apresentam o passo a passo de um pro-cedimento e representações gráficas estruturadas em forma de linhas de tempo que apresentam modificações nos itens representados. A figura 29 mostra o ciclo de vida do besouro japonês (TUFTE, 1990, p. 109).

Figura 29 - Tempos, 1987

E, para complementar e destacar o texto de Tufte, Rajamanickam descreve nove estratégias para projetar um infográfico em seu artigo Infographics Seminar Handout: Being and Doing (RAJAMANIKAM, 2005, p. 6):

Organizar: É a primeira e provavelmente a fase mais difícil na criação de qualquer infográfico. As informações devem ser organizadas de maneira acessível e com quantidade de detalhes suficiente para garantir que o expectador entenda. Paul Mijksenaar afirma que o designer lida com informação, sendo assim deve saber como dispor a informação para transmitir a mensagem (MIJKSENAAR, 1997, p. 43) .

Tornar Visível: É a qualidade essencial para um infográfico. Todos os detalhes devem estar representados, e serem perceptíveis.

Estabelecer o Contexto: Escolher a forma que a informação será apresentada e explicar o que será mostrado é uma etapa indispensável na visão do autor.

Simplificar: Representações simples e diretas são mais fáceis de interpretar. Mijksenaar complementa e diz que o usuário precisa de referências reais para compreender e navegar facilmente no gráfico18.

Adicionar Redundância: Redundância é a repetição de informações. Adicionar redundância, portanto, é somar elementos que representam a mesma informação de maneiras diferentes. Um dos efeitos da adição de redundância para um fluxo de informações é a facilidade de compreensão que isso gera.

Mostrar a Causa e o Efeito: O autor se vale de uma expressão idiomática - comum em mais de um país, entre eles o Brasil - para deixar claro que, além de indicar o caminho, o gráfico tem que deixar clara a conseqüência de seguir esse caminho.

18 Ibid, p.50

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Comparação e Contraste: Cores, volumes e formas contrastantes, auxiliam no entendimento por comparação, que ajuda a compreensão imediata do que é mostrado.

Criar Múltiplas Dimensões: Informações adjacentes devem ser adicionadas para contextualizar o gráfico. Entre essas o autor cita: data e localização. São dados, relevantes ao assunto, que devem aparecer no conjunto.

Integrar: É importante contar uma história coerente. Significa integrar figuras com texto, e não usar referências e exemplos. Todas as informações devem estar próximas, dentro do campo visual e não mostradas em várias páginas.

1.5 INFOGRAFIA DIGITAL

Mônica Moura, no artigo Design Digital: universo da cultura e da hipermídia, que faz parte do livro Faces do Design, reflete: “Atravessamos um momento de transição [...], essa transição mudou o modo de perceber, de sentir e de produzir, na qual os processos cognitivos e perceptivos também foram alterados.” A seguir afirma que a tecnologia enriquece a relação entre homem e meio, já que abre caminho para novas maneiras para produzir, refletir e observar o meio. A mídia digital envolve conceitos de expressão e linguagens bidimensionais, tridimensionais e em movimento com a associação de som, imagens estáticas e em movimento, animação, modelação de objetos, vídeo, foto, texto e hipertexto, navegação, cenários e ambientes imersivos e virtuais, unidos em um único suporte onde se estabelece a hipermídia8. Envolve, também, aspectos da interatividade, navegação, intertextualidade através de um eixo de ligação com vários acessos e várias possibilidades de narrativas diversas e independentes. Nessa conjectura “é perfeitamente compreensível a (re)valorização de um campo que existe a partir da relação entre tecnologia, a informação e a produção de uma linguagem em uma atitude projetual: o campo do design” (MOURA, 2003, p.117 e 122).

Um projeto gráfico de um produto digital envolve mais elementos que seu equivalente em mídia impressa (RADFAHRER, 2003, p.23). As interfaces digitais são constituídas por elementos textuais, gráficos, sonoros (como janelas, ícones, menus, teclas etc.), estáticos e dinâmicos, relacionados entre si e com o seu conteúdo informacional. Estas interfaces são compreendidas como instrumentos metafóricos de realidades com a qual o usuário está familiarizado. Porém, estes elementos não “representam” uma realidade e sim “constituem” uma realidade própria, na medida em que este usuário vivencia um espaço de ação (BONSIEPE, 1997, p. 41).

A usabilidade, que é a capacidade que um sistema interativo oferece ao seu usuário, em um determinado contexto de operação, para a realização de tarefas, de maneira eficaz, eficiente e

19 Segundo Mônica Moura hipermídia envolve “os processos onde se estabelecem inter-relações entre várias mídias a partir e através de pensamento associativo. Não há dominação de características de um ou de outro meio e sim o estabelecimento de uma outra e nova linguagem, através das diversas referências utilizadas e inter-rela-cionadas, com destaque ao processo da interface e de interação entre homem/usuário, máquina e sistema”.

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agradável, também traz sua contribuição a medida em que seus princípios tratam da facilitação, agradabilidade e eficiência de navegação (ISO 9241 apud CYBIS, 2003).

Mônica Moura reúne em três fases a estruturação dos elementos do Design da Informação para a mídia digital, descritos a seguir (MOURA, 2003, p. 253):

Inventário das informações, ou seja, o levantamento de todos os elementos que serão incluídos no projeto de hipermídia. Com o detalhamento da aglutinação da informação e suas rotas de acesso, define-se um mapa estrutural do sistema que mostre os percursos que o usuário terá para percorrer o sistema, de acordo com suas necessidades e objetivos (figura 30).

Figura 30 - Exemplo de possível mapa de estrutura e acesso do site do estúdio 2ADVANCED

Organização das informações, ou seja, o agrupamento as informações por critérios de relação entre elas. Pode-se usar um diagrama ou um fluxograma para comunicar a estrutura do sistema digital, como um mapa, fornecendo a orientação para o desenvolvimento do projeto. Esse diagrama “representa o relacionamento entre os links, as seções e as interfaces, criando um sentido de espaço e sugerindo o sistema de navegação”20, pois técnica e conceitualmente o mapa, indica as diversas possibilidades de conexão entre hiperdocumentos de um mesmo sistema. Ele deve promover a indicação das mais variadas formas de acesso ao conteúdo da hipermídia, visando à navegação contínua em que o usuário não precisa retornar a nenhum local sem que seja de sua vontade. Serve ainda para apontar o agrupamento entre elementos e seções, colaborando no planejamento de sua implementação. Segundo Radfahrer:

Uma das melhores maneiras de se organizar os elementos de uma interface digital é usar grades de alinhamentos (também chamadas de grids ou malhas). Com a função de ordenar a informação, a malha padroniza a interface e ajuda o usuário a achar o que procura, dividindo os espaços dando maior consistência ao layout. No contexto do projeto de interfaces de hipermídias, utiliza-se o termo wireframe (...) Tal divisão visa o estabelecimento da comunicação e identidade entre os elementos da interface e entre as associações de diferentes seções de um mesmo sistema (in PASSOS, MOURA, 2003, p.24).

20 Ibid, p.254