Capítulo 1 O exemplo do calçado

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1 Capítulo 1: O Exemplo do Calçado Acreditamos que o sector do calçado é um bom exemplo para ilustrar a transição para uma nova economia a que chamamos metaforicamente de Mongo. 1.1 O triunfo de Magnitogorsk O que aconteceu ao sector do calçado nos últimos 20 anos? Depois do crescimento explosivo do sector, com a entrada de investimento estrangeiro, após a adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), a obsolescência do modelo de negócio baseado nos salários baixos e no volume, a simples venda de minutos, aconteceu. Com a adesão da China à Organização Mundial do Comércio em Dezembro de 2001 e o consequente fim das barreiras alfandegárias, o modelo de negócio genérico em que Portugal era bom e tinha sucesso morreu, tinha começado a definhar irreversivelmente com a queda do Muro de Berlim a 9 de Novembro de 1989, a partir daí foi só uma questão de tempo, para que as forças libertadas tivessem ocasião de fermentar, para actuar e recompor a paisagem competitiva mundial. A figura que se segue retrata a evolução do número de empresas no sector do calçado: Figura 1. Evolução do número de empresas no sector do calçado (fonte APICAPPS) A figura permite identificar três momentos distintos a partir de 1986. Na Figura 2 identificamos esses três momentos como fases. A Fase I ocorre com a entrada na CEE. Sendo Portugal um país de mão-de-obra barata recebe muito investimento directo estrangeiro e, muitos compradores escolhem o país como seu fornecedor. A Fase II ocorre como consequência da adesão da China à OMC, tudo o que é comprador vê a China como a Fábrica do Mundo. Muitas multinacionais, empresas com cerca de um milhar de

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Capítulo 1: O Exemplo do Calçado

Acreditamos que o sector do calçado é um bom exemplo para ilustrar a transição para uma nova

economia a que chamamos metaforicamente de Mongo.

1.1 O triunfo de Magnitogorsk

O que aconteceu ao sector do calçado nos últimos 20 anos?

Depois do crescimento explosivo do sector, com a entrada de investimento estrangeiro, após a

adesão à Comunidade Económica Europeia (CEE), a obsolescência do modelo de negócio baseado

nos salários baixos e no volume, a simples venda de minutos, aconteceu. Com a adesão da China à

Organização Mundial do Comércio em Dezembro de 2001 e o consequente fim das barreiras

alfandegárias, o modelo de negócio genérico em que Portugal era bom e tinha sucesso morreu,

tinha começado a definhar irreversivelmente com a queda do Muro de Berlim a 9 de Novembro de

1989, a partir daí foi só uma questão de tempo, para que as forças libertadas tivessem ocasião de

fermentar, para actuar e recompor a paisagem competitiva mundial.

A figura que se segue retrata a evolução do número de empresas no sector do calçado:

Figura 1. Evolução do número de empresas no sector do calçado (fonte APICAPPS)

A figura permite identificar três momentos distintos a partir de 1986.

Na Figura 2 identificamos esses três momentos como fases.

A Fase I ocorre com a entrada na CEE. Sendo Portugal um país de mão-de-obra barata recebe

muito investimento directo estrangeiro e, muitos compradores escolhem o país como seu

fornecedor.

A Fase II ocorre como consequência da adesão da China à OMC, tudo o que é comprador vê a

China como a Fábrica do Mundo. Muitas multinacionais, empresas com cerca de um milhar de

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trabalhadores, abandonam o país, muitas empresas que trabalhavam para agentes e compradores

ficaram sem mercado e começaram a fechar.

A Fase III ocorre com a reconversão do sector, deixando de ter como modelo de negócio

preponderante a venda de minutos e, passando a vender algo mais: design; rapidez: flexibilidade;

pequenas séries.

Figura 2. As 3 fases do sector do calçado após 1986)

Em boa verdade a transição entre a Fase II e III não ocorre de um dia para o outro, enquanto umas

empresas vão desaparecendo, outras vão aparecendo e outras vão transitando para novos

modelos de negócio.

Ao analisar as próximas figuras convém ter em conta estas três fases.

Entretanto, como os media são lentos a reconhecer as tendências de fundo, em 2009, quando a

Fase II estava a começar a ser suplantada pela Fase III, ainda faziam artigos deste tipo:

Clarks A multinacional inglesa continua a ser o caso mais emblemático de abandono do país. Começou por encerrar a fábrica de Arouca (368 trabalhadores), a que se seguiu a de Castelo. Paiva (600 trabalhadores), onde era o maior empregador Em 2004, a líder mundial na produção de calçado encerrou a última fábrica que tinha em território nacional, a Elefanten (321 trabalhadores), em Vila Nova de Gaia Eccolet Já praticamente saiu de Portugal, com o encerramento produção de calçado Em terras lusas a multinacional dinamarquesa apenas mantém um centro de investigação e desenvolvimento, com 120 trabalhadores Esta multinacional, que chegou em 1984 a Santa Mana da Feira, chegou a empregar mais de 1300 trabalhadores Gabor De origem alemã, a Gabor encerrou em 2004 a fábrica da Trofa. (200 trabalhadores) A unidade de Barcelos, onde emprega cerca de 900 trabalhadores, continua em laboração Ara Shoes Está em Portugal desde 1987 e é responsável por 600 trabalhadores, repartidos pelas

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fábricas de Seia e Vila Nova de Gaia A empresa tem vindo a reduzir o número de trabalhadores (já chegaram a ser 1800), tendo anunciado este ano o despedimento de 30 trabalhadores na unidade de Seia, onde é o maior empregador Há também fábricas portuguesas que não conseguiram resistir Beleza A fábrica de calçado de senhora M. da Costa e Silva, responsável pela marca Beleza, encerrou em Junho do corrente ano, deixando sem trabalho 190 pessoas A empresa de Oliveira de Azeméis, com várias décadas de actividade e exportações para vários países, entrou em processo de insolvência. Arauto A fabricante da marca RAP encerrou em Abril de 2009 a unidade de Ovar, colocando no desemprego 150 trabalhadores. A empresa, que também tem instalações em S João da Madeira, alegou falta de encomendas para encerrar a unidade de Ovar.

Retirado de “Multinacionais do calçado continuam a fugir do país”, Público, 8 de Setembro de 2009

A figura que se segue retrata a evolução do número de trabalhadores no sector do calçado:

Figura 3. Evolução do número de trabalhadores no sector do calçado (fonte APICAPPS)

Entre 1994 e 2010 o sector perdeu praticamente metade do emprego que sustentava.

A figura que se segue retrata a evolução do número de trabalhadores por empresa:

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Figura 4. Evolução do número de trabalhadores por empresa (fonte APICAPPS)

Empresas cada vez mais pequenas.

A figura que se segue retrata a evolução do número de pares produzidos:

Figura 5. Evolução do número de pares produzidos (fonte APICAPPS)

Estas primeiras figuras permitem tirar conclusões rápidas sobre o que aconteceu ao sector ao

passar da Fase I para a Fase II:

Diminuição do número de empresas;

Diminuição do número de trabalhadores;

Empresas mais pequenas, com menos trabalhadores por empresa;

Diminuição das quantidades produzidas

Outros gráficos que ajudam a perceber a evolução do sector são:

A figura que se segue retrata a evolução do número de pares produzidos por empresa:

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Figura 6. Evolução do número de pares produzidos por empresa (fonte APICAPPS)

A figura que se segue retrata a evolução do número de pares produzidos por trabalhador:

Figura 7. Evolução do número de pares produzidos por trabalhador (fonte APICAPPS)

Gostamos de usar metáforas e, usamos uma, para ilustrar e designar o modelo económico que

melhor representa o pensamento económico sobre a concorrência no século XX: Magnitogorsk.

Magnitogorsk é o nome de uma cidade operária que Estaline mandou construir e, em que todas as

casas eram iguais e, em que a única variedade de raiz residia nos candeeiros usados nas divisões

dos equipamentos. Existiam dois modelos, um em cor branca e outro em cor laranja.

No mundo metafórico de Magnitogorsk só há uma forma das empresas competirem entre si, pelo

preço. Em Magnitogorsk a empresa com o preço mais baixo ganha!

Por isso, a empresa com os custos mais baixos ganha!

Por isso, a empresa mais eficiente ganha!

Por isso, a empresa com maior capacidade de produção, aproveitando o efeito de escala, ganha!

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Por isso, a empresa com a maior quota de mercado ganha!

Em Magnitogorsk as empresas de calçado portuguesas não têm qualquer hipótese de competir

com a dimensão e com os custos das empresas de calçado chinesas.

Figura 8. Quadro sobre os custos da mão de obra

Com estes elementos, não é difícil perceber a motivação por detrás dos textos que se seguem.

A 30 de Março de 2005, Sérgio Figueiredo, à altura director do Jornal de Negócios, assinou um

editorial intitulado “Um colossal problema” onde se podia ler:

“Só não é ainda uma catástrofe, porque vai ficar pior: o sector do calçado, ex-libris da nossa indústria tradicional, um caso exemplar de modernização, caminha silenciosamente para a morte. Os últimos anos já estão marcados pelo definhamento. O sector atravessa, portanto, uma crise bastante mais grave do que a média do país. O que torna tudo isto muito mais inquietante é ver que, entretanto, aos outros aconteceu pior. Na União Europeia, um quarto do sector foi varrido do mapa em cinco anos. E na América do Norte, Estados Unidos e Canadá, pura e simplesmente já não se fabrica um par de sapatos. O colapso dos outros é uma angústia apenas e só porque mostra o destino que espera por nós. As nossas empresas de calçado fizeram a reestruturaração necessária, modernizaram-se e reduziram custos. Mas isso já não chega para sobreviver. Do exaustivo trabalho realizado por Daniel Bessa ao sector do calçado nacional não é possível tirar duas conclusões. As empresas que não tiverem a capacidade de sair do território nacional estão condenadas. Deslocalização. Sim, essa evidência que o Presidente da República se limitou a observar na recente viagem à China e que, então, irritou os ignorantes e despertou os inconscientes. Porque, se Jorge Sampaio então indicava as vias da viabilização aos empresários nacionais do têxtil, também poderia fazer o mesmo no calçado. E

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numa série de sectores que produzem bens transaccionáveis – sujeitos, portanto, à tal concorrência desleal dos chineses e indianos. É este o grande, o grandessíssimo problema que está colocado à nossa economia, à nossa sociedade e, naturalmente, ao nosso poder político. A economia portuguesa terá o dinamismo, a agilidade, enfim, as condições que levaram à profunda regeneração da estrutura empresarial da segunda metade da década de 80? Têm os nossos empresários a capacidade de erguer, praticamente do zero, novas empresas, em novos sectores, em condições de competir no mundo e ocupar o espaço entretanto criado pelas empresas e os sectores que se afundam? E tem a nossa população activa, sobretudo aquela que sempre trabalhou no mesmo ofício e na mesma empresa, aptidões, idade e formação para mudarem de emprego e até de profissão? Para o Governo, em geral, mas para o ministro da Economia, em particular, este estudo de Daniel Bessa revela apenas uma parte do violento «tsunami» que a concorrência internacional está e continuará a provocar em milhares de empresas. Direita naïf e esquerda tola insistirão para que o eng. Sócrates e o dr. Pinho obriguem a União Europeia a reerguer fronteiras a tudo o que vem da China, Paquistão, terceiro mundo em geral. Esquecendo que, para uma economia como a nossa, exportar é fundamental – e que, sobretudo, não se exporta com proteccionismo. Ironias do destino. A direita, que viu na globalização económica o derradeiro o triunfo do liberalismo sobre o comunismo, arrepende-se. A esquerda, que andou um século a promover o internacionalismo, pede agora que os povos oprimidos nos deixem em paz.“

Retirado de “Um colossal problema”, Jornal de Negócios, 30 de Março de 2005

A 14 de Fevereiro de 2008 no Diário Económico, no editorial intitulado “Desemprego” e assinado

por André Macedo podia ler-se:

“Acontece que o abandono progressivo das actividades com baixo valor acrescentado (têxteis, calçado) é uma estrada sem regresso possível e sem alternativa. Vai doer, mas só assim o país ficará mais forte e competitivo.”

Retirado de “Desemprego”, Diário Económico, 14 de Fevereiro de 2008

Este pensamento fazia e continua a fazer todo o sentido para quem foi educado no modelo

económico de Magnitogorsk, não havia alternativa. Por isso, falavam da China como a fábrica do

mundo e de Portugal como um país com futuro via turismo e serviços.

1.2 A ascensão de Mongo

Ainda no sector do calçado, olhemos para a evolução de outros indicadores nos últimos 20 anos:

A figura que se segue retrata a evolução da facturação do sector do calçado:

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Figura 9. Evolução da facturação do sector do calçado (fonte APICAPPS)

Este é o primeiro sintoma de que alguma coisa não está certa com o modelo de Magnitogorsk. Na

Fase III, apesar de haver menos empresas, apesar de se produzirem menos pares de sapatos,

apesar de diminuir o número de trabalhadores, apesar das empresas serem mais pequenas, a

facturação aguentou-se e, nos últimos anos até voltou aos níveis de há 20 anos.

"A indústria de calçado teve em 2011 o seu segundo melhor ano de sempre, exportando 1560 milhões de euros, um aumento de 16% face ao ano anterior. Mas há um pormenor a ter em conta. O recorde de exportações foi obtido em 2001, com 1590 milhões de euros, mas nessa altura as multinacionais, como a Ecco, a Rhode e a Clarks, por exemplo, ainda estavam em Portugal.

Retirado de “2011 foi o segundo melhor ano de sempre para sapatos portugueses”, Dinheiro Vivo, 12 de Fevereiro de 2012

“O ano de 2012 deverá ficar na história como o melhor de sempre para o

calçado. A associação do setor prevê um crescimento "de cerca de 20%" relativamente à melhor faturação até agora registada.”

Retirado de “O melhor ano do calçado português”, Jornal de Notícias, 11 de Janeiro de 2013

“Pelo terceiro ano consecutivo, o calçado atingirá um novo máximo histórico

de exportações em 2013. Os dados disponíveis referem-se ao período de janeiro a novembro e mostram um crescimento de 7,94% face ao ano anterior.”

Retirado de “Exportações de calçado superam os 1700 milhões de euros Dinheiro Vivo, 11 de Janeiro de 2014

A figura que se segue retrata a evolução do preço médio de venda de cada par de sapatos,

calculada pelo rácio ente a facturação e o número de pares de sapatos produzidos em cada ano:

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Figura 10. Evolução do preço médio do calçado (euros por par) (fonte APICAPPS)

Outro sintoma de que algo não está a funcionar segundo o modelo de Magnitogorsk, em que a

competição é pelo preço e, ganha quem tem os custos mais baixos. O preço médio sobe há vários

anos seguidos e, no entanto, as exportações continuam a crescer. A APICCAPS estima que cerca de

95% da produção nacional seja para exportação.

Entretanto, o preço médio a que a China exporta os seus pares de sapatos ronda os 3,9 dólares

(valor de 2011). É como se as exportações de cada país, Portugal e China, não pertencessem ao

mesmo mercado, como se fossem dirigidas a diferentes tipos de clientes… como se não fossem

concorrentes.

Outro número curioso, acerca da China, é o preço médio dos pares de sapatos que importa, um

valor que ronda os 30 dólares (valor de 2011).

Para terminar esta descrição, baseada em números, uma última figura, uma que retrata a

evolução da facturação por trabalhador:

Figura 11. Evolução da facturação por trabalhador (fonte APICAPPS)

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Em Magnitogorsk, quando se fala do aumento da produtividade por trabalhador, pensa-se em

aumentar o ritmo de produção por unidade de tempo, partindo-se do princípio que o que se

produz é constante e mantém um preço constante ou até decrescente.

Em Mongo, que é o nome que dou à metáfora que explica o sucesso do calçado português,

quando se fala de produtividade por trabalhador, pensa-se sobretudo em aumentar o valor

unitário de cada unidade produzida, para que os clientes estejam dispostos e atraídos a comprar

algo por um preço cada vez maior.

1.3 A metáfora de Mongo

Quando tinha 12, 13, 14 anos delirava com as histórias de banda desenhada de revistas como o

“Falcão” ou como o “Mundo de Aventuras”.

Um dos meus heróis favoritos era o Flash Gordon. Flash, Dale e o Professor Zarkov eram terrestres

que tinham chegado ao planeta Mongo, um planeta que se estava a aproximar da Terra. Em

Mongo, o malvado imperador Ming, “O Impiedoso”, planeava um ataque para conquistar a Terra.

Flash, ao longo de várias aventuras, consegue unir as diferentes tribos de Mongo contra o poder

de Ming e vencê-lo.

A certa altura, num dos números de uma das revistas, páro, abstraio-me da história e penso

naquilo que estava a ver. Vários quadrados da banda desenhada tinham sido fundidos num maior

que permitia representar uma versão detalhada da cartografia de Mongo com os seus mares,

continentes e povos.

Figura 12 Mapa do planeta Mongo onde se desenrolavam as aventuras de Flash Gordon

No mapa, num mesmo plano, estavam representados os principais povos de Mongo. Era possível

ver Arboria, era possível ver A Cidade do Céu dos Homens-Falcão, era possível ver os Homens-

Leão, os Homens-Lama, … e ao olhar para tudo aquilo fui invadido por um sentimento de

incredulidade, como era possível, num mesmo planeta, numa mesma época, coexistirem povos

com níveis tecnológicos e com costumes tão diferentes? E o que era mais inverosímil para mim,

jovem adolescente, era que essa diferença não ocorria por causa de dificuldades ou pobreza mas

por opção assumida por cada povo, por cada tribo de Mongo. Para mim, naquela segunda metade

da década de setenta do século passado estava bem de ver para onde ia o nosso planeta e não

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tinha nada a ver com Mongo. Para mim, o planeta Terra caminhava para uma globalização

uniformizadora de costumes, com base no padrão ocidental. A roupa e a tecnologia ocidental,

iriam homogeneizar o mundo e não seria possível equacionar um futuro com tanta variedade

como se podia ver naquele quadrado sobre Mongo.

Anos depois, esta imagem de Mongo, repleto de diversidade, veio-me à memória enquanto

assistia um noticiário televisivo e via imagens da gravação de um comunicado de uma facção

separatista islâmica algures numa praia do arquipélago das Filipinas. Eles tinham catanas e velhas

espingardas para combater o exército filipino que tinha armas modernas fornecidas pelos Estados

Unidos da América. Ao olhar para aquela cena disse, para mim mesmo, com estupefacção:

“Isto é Mongo!!! Nós vivemos em Mongo!!!”

Em Novembro de 2007, assisti, em Lisboa, a uma apresentação de Chris Anderson sobre “A Cauda

Longa”. Nela o autor mostrava a explosão de diversidade nos gostos dos norte-americanos, desde

a proliferação de canais e séries de televisão, até ao número de marcas e tipos de cerveja na

prateleira de um supermercado. Por todo o lado: variedade, variedade e ainda mais variedade.

Então, uni as peças do puzzle que a realidade me fornecia mas que ainda não tinha relacionado, e

pensei nas prateleiras dos supermercados… a multidão de variedades de azeite, de arroz, de

vinhos, de chocolates, de pães, …

Novamente, voltei a murmurar, para mim mesmo, com estupefacção:

“Isto é Mongo!!! Nós vivemos em Mongo!!!”

Ou melhor, a nossa economia vai a caminho de se transformar num planeta Mongo. Um planeta,

um mercado, pleno de diversidade que resulta do casamento das oportunidades que a tecnologia

disponibiliza para aumentar a variedade das ofertas, com o estilhaçar das barreiras mentais e

culturais que condicionavam as opções pessoais de cada um.

A democratização da produção, da distribuição, do conhecimento, do gosto, vai criar milhões de

nichos, milhões de tribos, um mundo de diversidade, onde o preço deixa de ser o factor decisivo e

passa a ser mais um factor a ter em consideração.

Fontes

Números retirados de:

Monografia Estatística 2013 -Calçado, Componentes e Artigos de Pele (APICCAPS 2013)

World Footwear Yearbook (APICCAPS 2012)