Capítulo 3 - [Confissão] · Eu simplesmente cumpri meu dever como ... Tsukimori fechou seu livro...

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1 Light Novel Project Capítulo 3 - [Confissão] Dois dias depois, quando a Youko Tsukimori voltou à escola, até mesmo os estudantes de outras classes vieram em peso à nossa sala para verem-na. Exprimiram suas condolências um após o outro, mostrando nada mais que expressões de pena. A voz de Kamogawa podia ser ouvida do círculo que se formou no centro da sala. A escola sem você é como uma noite sem lua! Por favor, Tsukimori, anime-se e ilumine meus passos no escuro, como você ternamente fazia! Ah, como eu adoraria vê-lo tropeçar no escuro e ficar preso na sarjeta. Um grupo de rapazes, entre eles Kamogawa, estava tentando se exibir, falando descontroladamente com ela. Tirar vantagem da fraqueza de uma garota podia ser uma estratégia comum, mas eu não conseguia aguentar assistir a tais condutas patéticas e desonrosas. Você é bem poético, não é, Kamogawa-kun? Obrigada por se preocupar comigo. Entretanto, Tsukimori lidava com eles com a maior polidez, sem mostrar o menor desprezo; não, até mesmo sorrindo. E mais uma vez eu compreendi o porquê dela ser tão popular. A maioria das pessoas não seria capaz de se comportar como ela. Pelo menos eu não. Afinal de contas, eu já estava irritado só de assistir. Assim que a onda de visitantes partiu, Tsukimori levantou-se, e por alguma razão, veio em minha direção com um sorriso no rosto. É um pouco incomum você se aproximar de mim espontaneamente. Mas você veio ao funeral do meu pai, não foi? Eu gostaria de agradecer. Ela sentou-se na cadeira vazia da Usami e sorriu alegremente para mim. Então, obrigada por vir, Nonomiya-kun.

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Capítulo 3 - [Confissão]

Dois dias depois, quando a Youko Tsukimori voltou à escola, até mesmo os estudantes de

outras classes vieram em peso à nossa sala para verem-na.

Exprimiram suas condolências um após o outro, mostrando nada mais que expressões

de pena.

A voz de Kamogawa podia ser ouvida do círculo que se formou no centro da sala.

— A escola sem você é como uma noite sem lua! Por favor, Tsukimori, anime-se e

ilumine meus passos no escuro, como você ternamente fazia!

Ah, como eu adoraria vê-lo tropeçar no escuro e ficar preso na sarjeta.

Um grupo de rapazes, entre eles Kamogawa, estava tentando se exibir, falando

descontroladamente com ela. Tirar vantagem da fraqueza de uma garota podia ser uma

estratégia comum, mas eu não conseguia aguentar assistir a tais condutas patéticas e

desonrosas.

— Você é bem poético, não é, Kamogawa-kun? Obrigada por se preocupar comigo.

Entretanto, Tsukimori lidava com eles com a maior polidez, sem mostrar o menor

desprezo; não, até mesmo sorrindo. E mais uma vez eu compreendi o porquê dela ser tão

popular.

A maioria das pessoas não seria capaz de se comportar como ela. Pelo menos eu não.

Afinal de contas, eu já estava irritado só de assistir.

Assim que a onda de visitantes partiu, Tsukimori levantou-se, e por alguma razão, veio

em minha direção com um sorriso no rosto.

— É um pouco incomum você se aproximar de mim espontaneamente.

— Mas você veio ao funeral do meu pai, não foi? Eu gostaria de agradecer. — Ela

sentou-se na cadeira vazia da Usami e sorriu alegremente para mim. — Então, obrigada por

vir, Nonomiya-kun.

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— Não, não foi nada que merecesse seu apreço. Eu simplesmente cumpri meu dever

como representante de classe.

— Foi sim. Fiquei meio que aliviada por vê-lo tão descontraído como de costume.

— Ah, sinto muito por ser um cara tão frio. Porém, eu estava preocupado com você do

meu próprio jeito, sabe? Pena que você não percebeu — disse encolhendo os ombros

desconfortavelmente, enquanto Tsukimori ria alegre.

— Eu não penso em você desse jeito!

— As coisas se acalmaram em casa?

— Ainda há um monte de coisas a se resolver, mas num primeiro momento, sim.

— Entendo. Acho que você passou por dias bem complicados. Bem, a escola também

não deve ser tão fácil para alguém popular como você.

Tsukimori balançou sua cabeça, fazendo seu macio cabelo flutuar.

— Eu sou muito grata por todos estarem tão preocupados comigo.

— É legal quando os outros se preocupam com você, sem dúvidas, mas existem limites

a serem respeitados, não acha? Esses fanáticos não te incomodam? Especialmente o

Kamogawa. Ou o Kamogawa.

— Na verdade, eu meio que gosto desse lado fofo dos garotos.

Tentei descobrir os seus verdadeiros pensamentos agitando-a, mas o sorriso de

Tsukimori permaneceu imutável como muralha de ferro.

— Sua maturidade é notável.

— Estou feliz que me veja de tal forma, Nonomiya-kun.

Ela aceitou até mesmo minhas palavras defletivas com um tom feliz.

— Nonomiya-kun... — Tsukimori disse meu nome de repente. — Você se lembra da

sua promessa?

— Promessa?

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Eu não me lembro de ter feito promessa alguma a ela.

— Se eu estivesse com problemas...

— Ah, sim.

Enquanto ela me lembrava, recordei-me de uma conversa que tive com ela certa

manhã.

— Certo, aquela promessa.

— Bem, eu de fato prometi. Peça qualquer coisa que você quiser, contanto que eu

possa ajudá-la.

Colhi o que eu próprio plantei, mas, no fundo, bem no fundo, não esperava que ela

tivesse um pedido incômodo.

— É algo que eu não gostaria de falar na sala de aula — explicou Tsukimori com uma

voz tão baixa que ninguém além de mim poderia ouvi-la.

E no instante seguinte, fiquei completamente tenso.

— Eu estarei esperando por você na biblioteca depois da escola — sussurrou ela e saiu

da sala elegantemente com seu cabelo tremulando atrás dela.

A palma da minha mão estava encharcada de suor. Aparentemente, eu estava mais

tenso do que imaginava.

Sua atitude suspeita me lembrou imediatamente da receita de assassinato.

Senti a curiosidade surgindo em mim e, finalmente, desejei chegar ao fundo disso. Mas

ao mesmo tempo fiquei alarmado, pois ninguém, naturalmente incluindo a própria Tsukimori,

deveria saber que a receita de assassinato estava em minhas mãos. Minha tensão era a prova

de que a cautela excedia a curiosidade, suponho.

E se a Tsukimori souber que eu estou com a sua receita de assassinato…? Pensei com

meus botões, imaginando um cenário infeliz.

O funeral do pai dela havia sido conduzido sem nenhum incidente; ela tinha se tornado

uma personagem parecida com uma heroína de alguma peça dramática e era a fofoca do dia.

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Em primeiro lugar, poderia um plano bolado por ela falhar? Tive essa impressão vendo como

ela possuía tudo.

As únicas coisas que estavam em seu caminho eram a receita de assassinato e eu, uma

vez que sabia o que estava escrito nela.

Assim que ela se livrasse desses dois elementos inseguros, ela haveria cometido o

crime perfeito e obtido seu “mundo ideal”.

…Talvez ela estivesse planejando me matar na hora certa.

Engoli seco e meus batimentos cardíacos aceleraram.

E então… eu ri.

Eu não queria morrer. E também tinha de admitir que essa ideia era um tanto absurda,

mas... eu estava intrigado. Intrigado em como ela iria me derrubar.

Onde mais eu encontraria outro estímulo como este em minha vida? Além disso, a

oponente era a Youko Tsukimori, não podia desejar por ninguém melhor.

Eu estava convicto: esse era o melhor momento que eu havia tido até agora em

dezessete anos da minha vida.

Respirei fundo e caminhei para a biblioteca.

A sala estava cheia do cheiro de papel seco como folhas caídas, não era um cheiro

desagradável para mim. Em outros tempos, eu começaria a passear tranquilamente pela

biblioteca, mas não hoje.

Apesar de me mover tranquilamente, meus olhos procuram incessantemente pela

Tsukimori.

And before long, I found her.

E não demorou muito para encontrá-la.

Ela estava sentada numa mesa de estudos, lendo um livro de capa elegante.

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As aulas já haviam acabado, a biblioteca já era silenciosa de qualquer jeito, mas o

silencio ao redor da Tsukimori era muito mais forte, como se eu tivesse entrado em um mundo

diferente.

Encantado por sua pura aparência que tornava difícil aproximar-se dela, eu apenas

permaneci parado prendendo minha respiração por um tempo.

Seus longos cílios abriam e fechavam suavemente quando ela piscava, e de tempos em

tempos levava sua mão até a borda da página e harmoniosamente a virava para a próxima.

Sua silhueta parecia o vidro mais finamente trabalhado, que definitivamente não era criação

de um homem, mas sim um milagre concedido por Deus. Eu seria um homem rico se pudesse

capturar essa cena e emoldurá-la, pensei.

Eu confirmei que não havia mais ninguém lá além de Tsukimori e eu.

— Mais uma vez, estou certo de que os últimos dias têm sido difíceis para você...— Eu

me apoiei numa prateleira de livros enquanto me dirigia a ela. — ...Perder seu pai em um

acidente e tudo mais.

Tsukimori fechou seu livro com um estalo e lentamente virou-se para mim.

— Sim, especialmente para minha mãe. Eu nunca a vi tão abatida.

Ela deu um fraco e cansado sorriso.

— Como você está?

— Desculpe, mas ainda não me recuperei o suficiente para falar sobre isso.

Tsukimori sacudiu sua cabeça com uma expressão perturbada. Foi uma resposta bem

evasiva.

— Não, isso foi pergunta rude da minha parte. Perdoe-me.

Eu arqueei minha cabeça.

— A propósito, qual é o seu pedido? — Eu trouxe à tona o tópico principal depois de

respirar um pouco. — Você me chamou até a biblioteca especialmente para isso, então eu

deveria pensar que é algo delicado?

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— Você me disse para lhe pedir ajuda se eu estivesse com problemas.

— Sim, e você respondeu que iria me consultar diretamente.

— Exatamente. É por isso que quero utilizar sua oferta, Nonomiya-kun. Por favor, me

empreste uma mão.

Então ela falou como se cantarolasse uma melodia:

— Eu quero que você saia comigo.

Suas palavras completamente inesperadas deixaram minha mente em branco.

Para ter certeza eu preferi perguntar:

— Pra onde?

Mas Tsukimori apenas respondeu perplexamente:

— Seu sem graça.

E balançou seu queixo perfeito para a esquerda e para a direita.

— Creio que não sou ninguém para te criticar, sendo que acabei de fazer uma

pergunta insensível, mas você está ciente de que perdeu seu pai há apenas alguns dias?

Diferente de Tsukimori, eu tinha que fingir frieza; estava observando todos os

movimentos dela com a maior atenção, visando ler suas intenções enquanto meu cérebro

funcionava a pleno vapor.

— Quer dizer que eu sou imprudente?

— Se estivermos falando em extremos, sim.

— Então você está me entendendo errado! Acho que preciso de alguém para me

apoiar exatamente porque meu pai morreu. Não é romântico se você chamar isso de “o apoio

do meu coração”? Não sou tão forte quanto todo mundo pensa, sabia?

De fato, esse era um bom motivo, mas ainda havia muitos pontos que não se

encaixavam.

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— Então, por que tem que ser eu? Não consigo entender porque uma garota popular

como você iria escolher alguém como eu.

— Não sabia que você era tão deselegante, Nonomiya-kun. Parece que você realmente

não compreende o coração de uma mulher se pergunta o porquê dela se declarar — riu

Tsukimori.

Achei sua atitude um pouco irritante.

— Mas você também não parece entender o coração de um homem. Ao menos eu não

sou tão simples a ponto de não ter dúvidas quando uma beldade me pede para sair com ela de

repente. Sempre há armadilhas em ofertas atraentes, não é mesmo? — desdenhei dela como

pagamento.

— É mesmo? Eu estava certa de que os garotos nunca se sentem mal por receberem

uma confissão de uma garota.

A certeza em seu tom me deixou mudo por um momento.

— De fato… Nós somos simples o bastante para ficarmos felizes com isso, mas a

responder já é outra história.

Eu não queria admitir, mas ela estava certa. Sem desejar, me orgulhei pela confissão

que qualquer um invejaria ter. Era essa a diferença em nossos pontos de experiência? Minhas

chances eram terrivelmente ruins quando o assunto era amor.

— Há alguma garota de quem goste, Nonomiya-kun? — Tsukimori repentinamente

perguntou; tão simplesmente como uma garçonete que confirma o pedido de um cliente.

— Não.

O rosto de Usami veio à minha cabeça por uma fração de segundo, mas eu nunca

gostei dela o suficiente a ponto de mencioná-la, e também não estava certo o bastante para

responder honestamente.

— Há alguma garota com quem esteja namorando, então?

— A ordem das perguntas não está um pouco distorcida? Normalmente elas seriam ao

contrário, não é?

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— Tem certeza? Talvez você esteja saindo com alguém que você não ame —

respondeu ela com uma expressão de dúvida.

— Acho que finalmente entendi o porquê dos rapazes dizerem que todos os rumores

sobre você são verdade...

Encolhi os ombros exageradamente.

— Aqueles rumores não são nada além de rumores, e você não é o tipo de pessoa que

dá ouvidos a eles, Nonomiya-kun.

— O que a faz ter tanta certeza? Até eu olharia onde piso caso escutasse alguns

rumores ruins, sabia?

— Se você quiser, eu posso te contar quais deles são verdade e quais não são. Em

troca...

— Espero que você não queira fazer de sairmos a condição.

— Nós temos “a química”!

Tsukimori não mostrava sinal nenhum de timidez, ao invés disso ela sorria

brilhantemente.

— Como se eu fosse aceitar uma condição tão injusta! — Desta vez fui eu quem foi

pego de surpresa. — Não sabia que você era esse tipo de garota.

Ela me fez dançar ao seu ritmo do começo ao fim. Todas as possíveis respostas que eu

calculara antecipadamente para essa conversa se perdiam uma após a outra.

— Esse é o meu jeito de mostrar que respeito você, Nonomiya-kun! Você é a pessoa

com quem eu desejo sair. Acho que não há sentido algum em mostrar a você só um lado

superficial.

— Sinto muito sobre o seu respeito, mas já pensou na possibilidade de que eu recuse?

— Estou pronta para receber quaisquer danos visando obter o que desejo. Se você tem

medo de se machucar, não conseguirá obter o que realmente deseja. Bom, revelar algumas

das minhas cartas não conta como dano, de qualquer forma.

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— Autoconfiança excepcional, de fato! Não é de se espantar que as garotas da nossa

classe adicionem um “-san” ao seu nome.

— Eu também não sabia que você era tão tenso. Eu tinha meio que certeza que você

era do tipo que deixa as coisas seguirem seu rumo.

— Sou muito mais sensível do que você possa imaginar. E um pouco avesso, também.

E eu definitivamente não sou ousado o bastante para me envolver em assuntos que não fazem

sentido algum para mim ou com os quais não possa concordar.

— Você não está apenas contrário a fazer coisas com as quais não está interessado?

— Não nego! De qualquer forma, se eu saísse com você, eu não teria mais paz.

Simplesmente não estou guiando minha vida ativamente o bastante para poder atrair atenção,

isso é tudo.

— É uma pena que você seja tão teimoso, Nonomiya-kun… — disse ela ficou em

silêncio.

Dividimos um silêncio penoso.

Até mesmo o barulho dos clubes de esporte no térreo parecia alto na silenciosa

biblioteca e eu ouvia claramente o farfalhar da sua saia quando Tsukimori cruzava suas

esbeltas pernas no sentido inverso.

O olhar de Tsukimori estava indiferentemente errante pelo ar, hesitando a respeito de

alguma coisa.

Até tal gesto trivial parecia com a cena de um filme, adoçando o tempo até suas

próximas palavras e me evitando o tédio.

Então eu vi seus lábios moverem-se calmamente.

— Se eu contar a razão pela qual lhe escolhi, você seria mais cooperativo?

Eu engoli seco. Na minha imaginação ela iria direto ao ponto e proclamaria que a razão

era porque eu tinha a receita de assassinato.

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Essa resposta seria naturalmente impensável, mas, como Tsukimori parecia ser uma

pessoa imprevisível, eu não poderia mais julgar isso impossível. A personalidade oculta de

Tsukimori era ousada, determinada e excepcionalmente astuta acima de tudo.

E esse era o tipo de garota que se aproximara de mim. Eu não podia deixar de

suspeitar que havia alguma armadilha em seu pedido de sair comigo.

— Mais que agora — respondi, escolhendo minhas palavras cuidadosamente.

Eu tinha acabado de falar quando ela fechou um de seus olhos castanhos e sorriu

travessa.

— Porque gosto da sua aparência. Seria ainda melhor se você não fosse tão sofista.

A resposta dela me pegou tão despreparado que eu gostaria de ter caído no chão, mas

me contive e lancei um contra-ataque.

— Que coincidência. Eu também acho que você não é nada mal, salvo por sua

personalidade.

— Nós formaríamos um belo casal então, não acha?

— No sentido de abominável, com toda a certeza.

Sua constante brincadeira comigo havia me esfriado totalmente.

Suspeitar que Youko Tsukimori fosse uma “assassina de pais” soava terrivelmente

idiota e constrangedor agora.

De fato, Tsukimori era uma garota determinada e ousada, mas eu também sabia que

ela definitivamente não era tola. Mesmo se ela, hipoteticamente, tivesse considerado seu pai

um empecilho, ela encontraria muitas outras maneiras de ficar livre dele sem escolher os

meios do “assassinato”.

Para começar, poderia alguém que cometeu um assassinato permanecer tão sereno?

Ela era uma garota peculiar, mas eu não conseguia sentir nela sequer uma sombria ou

maliciosa emoção.

Do nada... senti algo tocar minha franja. Reflexivamente pulei para trás.

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— Me desculpe..

Depois de dar uma olhada, percebi que Tsukimori havia ficado de pé em frente a sua

cadeira e tinha esticado seus macios dedos brancos em minha direção.

— Seu cabelo parecia tão bonito que eu quis muito tocá-lo.

Tsukimori lançou para mim um sorriso cativante, belo como a luz da Lua.

...Um tremor percorreu a minha espinha.

Para mim, aquela garota não parecia ser deste mundo.

— Por favor, pense seriamente sobre isso. — Tsukimori disse e moveu-se em direção à

saída.

Quando ela passou por mim, seu cabelo acariciou minha bochecha e deixou para trás

uma forte fragrância de rosas.

Apesar de planejar aprender mais sobre ela, agora eu entendia Youko Tsukimori cada

vez menos.

Então me lembrei de como Kamogawa a havia comparado com o vinho.

De fato.

Eu estava embriagado pelo aroma da Youko Tsukimori.