Capitulo 4 Nascidos para morrer.

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Capitulo 4: Nascidos para morrer. Fitava a garrafa de vinho vazia sobre a mesa daquele bar que considerava de quinta lotado de solidão. Ao fundo tocava-se no rádio algum sucesso da Lana del Rey e seu espírito se enchia de algo semelhante a admiração. Os olhos fixos no rótulo da garrafa, mas o pensamento estava longe, décadas longe. Um sorriso frouxo tomou conta do seu rosto sombrio. Os olhos azuis serenos, mas ainda assim frios como o pior gelo que houvesse no universo. - Para a Senhorita O’Brien. Ethan colocou um copo de whisky sobre a mesa e ela sabia de qual marca era. Com licença. - Tolice Ethan. Achei que você já estava fechando o bar. - Mandaram te entregar. Gritou Ethan indo para os fundos do bar. Anna olhou em volta atormentada. Acabou por lembrar que nunca havia dito para Ethan, durante seus dois meses de aventura em Nova York, que uma vez usara o sobrenome O’Brien. Levantou-se subitamente e chamou por ele. As luzes se apagaram e os olhos que antes eram azuis foram tomados por uma cor negra aterrorizante. - Enfim sós, Anna. As luzes voltaram e diante dela sentado sobre o balcão estava Max que compartilhava do mesmo sobrenome que ela. Os olhos de Anna voltaram ao normal e seu coração batia rapidamente sendo difícil explicar o motivo daquilo. Max sorriu. - Consigo ouvir seu coração, ou pelo menos o que resta dele. Seria a música da sua tão amada Lana ou a minha ilustre presença? - Lembro-me de você ter sido claro naquela festa sobre querer que eu vá embora. Eu já estava de saída, Maxwell. - Maxwell, uau! Voltamos as formalidades. Max desceu do balcão. Não se preocupe com o Ethan. Ele foi embora há alguns segundos sem nenhum arranhão. Bom, eu não estou contando o do pescoço. Prometo que fecharemos o bar ou destruiremos ele. Desligou o rádio e o silêncio tomou conta do ambiente. Sempre odiei as músicas dessa mulher, são mortas. - Assim como nós. Não há do que reclamar. - Vejo que continua poética e caçando jovens atletas idiotas. Parabéns Anna, você tem um tipo! - O que você quer, Max? - Primeiro, o combinado era você ir embora no dia seguinte àquela noite, mas já fazem quatros dias. O que houve? - Cancelaram o meu voo. - Aqui não tem aeroporto. É pegar a droga do carro e ir embora, querida.

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Capitulo 4: Nascidos para morrer.

Fitava a garrafa de vinho vazia sobre a mesa daquele bar que considerava de quinta lotado

de solidão. Ao fundo tocava-se no rádio algum sucesso da Lana del Rey e seu espírito se

enchia de algo semelhante a admiração. Os olhos fixos no rótulo da garrafa, mas o

pensamento estava longe, décadas longe. Um sorriso frouxo tomou conta do seu rosto

sombrio. Os olhos azuis serenos, mas ainda assim frios como o pior gelo que houvesse

no universo.

- Para a Senhorita O’Brien. – Ethan colocou um copo de whisky sobre a mesa e ela sabia

de qual marca era. – Com licença.

- Tolice Ethan. Achei que você já estava fechando o bar.

- Mandaram te entregar. – Gritou Ethan indo para os fundos do bar.

Anna olhou em volta atormentada. Acabou por lembrar que nunca havia dito para Ethan,

durante seus dois meses de aventura em Nova York, que uma vez usara o sobrenome

O’Brien. Levantou-se subitamente e chamou por ele. As luzes se apagaram e os olhos que

antes eram azuis foram tomados por uma cor negra aterrorizante.

- Enfim sós, Anna. – As luzes voltaram e diante dela sentado sobre o balcão estava Max

que compartilhava do mesmo sobrenome que ela. Os olhos de Anna voltaram ao normal

e seu coração batia rapidamente sendo difícil explicar o motivo daquilo. Max sorriu. -

Consigo ouvir seu coração, ou pelo menos o que resta dele. Seria a música da sua tão

amada Lana ou a minha ilustre presença?

- Lembro-me de você ter sido claro naquela festa sobre querer que eu vá embora. Eu já

estava de saída, Maxwell.

- Maxwell, uau! Voltamos as formalidades. – Max desceu do balcão. – Não se preocupe

com o Ethan. Ele foi embora há alguns segundos sem nenhum arranhão. Bom, eu não

estou contando o do pescoço. Prometo que fecharemos o bar ou destruiremos ele. –

Desligou o rádio e o silêncio tomou conta do ambiente. – Sempre odiei as músicas dessa

mulher, são mortas.

- Assim como nós. Não há do que reclamar.

- Vejo que continua poética e caçando jovens atletas idiotas. Parabéns Anna, você tem

um tipo!

- O que você quer, Max?

- Primeiro, o combinado era você ir embora no dia seguinte àquela noite, mas já fazem

quatros dias. O que houve?

- Cancelaram o meu voo.

- Aqui não tem aeroporto. É pegar a droga do carro e ir embora, querida.

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- E os outros tópicos?

- Michael quer te ver. Entender o motivo da sua volta e quem está encobrindo seus rastros.

- Encobrindo?! – Anna estava confusa.

- Imagina a nossa surpresa quando vimos o corpo da Tiffany completamente rasgado e

sem o coração. Adivinhe só?! Marcel também estava sem coração. O prefeito e o delegado

acreditam de coração, - Max riu. – que se trata de um animal perdido na floresta. Um

lobo.

- Eu não sei do que você está falando.

- Não sabe? Pois eu sei que você jamais faria isso a um corpo e sei que foi você quem

matou aqueles dois.

- O que eu posso dizer? Não sei viver com injustiças. Aquele homem, Marcel, iria abusar

de uma menina dos olhos azuis iguais ao meu. E eu tenho planos para as garotas dessa

cidade. Até que eu descubra a verdade, qualquer uma delas está sob minha proteção.

- E quanto a Tiffany? Nenhuma gota de sangue no corpo e o coração arrancado?

- Ela ainda estava viva quando a deixei sangrando na floresta. Ela apenas lembraria que

ficou chapada e se cortou em um galho de uma árvore.

- O que mudou?

- Eu que te pergunto. O que mudou Maxwell? – Max fitou Anna que deu um passo para

trás.

- Não nos atrapalhe Anna. Se você quiser ficar e viver conosco, tudo bem.

Convenceremos o Michael, mas não nos prejudique novamente. Precisamos achar aquela

maldita garota.

- O que te faz acreditar que ela está viva?

- Existe uma energia muito grande nessa cidade. Há mais ou menos um ano aconteceu

alguma coisa aqui que está diretamente relacionado com ela. Estamos há dezessete anos

caçando uma morta viva, não destrua o que construímos.

- Você diz sobre a confiança do prefeito ou a questão de você sair com suas alunas?

- Os dois. Eu pelo menos sou discreto. – Anna deu as costas para Max e caminhou em

direção a porta. – Não vai querer ouvir o terceiro tópico? – Anna parou diante da porta de

entrada. – Eu senti sua falta Ann, foram anos sombrios sem você.

- Minha vida, se é assim que devo chamar, tem sido uma sombra sem fim, Max. – saiu do

Stowaway.

...

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Louise teimava em pesquisar em sites e livros da biblioteca o que havia de errado com

ela. Não usava drogas, não bebia, tão pouco tomava os remédios que haviam prescrevido

na clínica que frequentara e ainda assim era tomada por aquelas alucinações. Desde o

último encontro que teve em seu quarto com Marcel, ela buscava intensamente as

respostas em algum livro antigo e só sabia fugir de Alice.

- Até que enfim te encontrei Loui! – Gritava Daniel diante de todos no refeitório do

colégio, ele estava acompanhado de Alice que a essa altura já era reconhecida por ser a

mais nova conquista dele. – Precisamos falar sobre o seu aniversário. – Louise nem sequer

olhava para os dois. – Loui! – Gritou e retirou de Louise o livro que ela estava lendo.

- Daniel! – Gritou Louise. – Devolve. – Seu rosto estava sério e Daniel ria não entendendo

tamanha reação. – Agora Daniel! – Gritou ainda mais alto e as luzes piscaram. Matthew

que estava do outro lado do refeitório observava aquilo surpreso. Alice e as demais

pessoas olhavam para Louise como se ela fosse alguma estranha ou maluca. Megan ria

com as amigas e aos poucos foi puxando o riso coletivo.

- O que há Loui? – Daniel estava confuso e um tanto assustado. – Nós precisamos falar

sobre a sua festa e...

- Eu não quero falar sobre festas ou qualquer coisa do gênero. Eu só... – olhou de súbito

para Alice que segurava a mão de Daniel assustada e por um segundo teve a impressão

de ver uma sombra atrás dela. Seus olhos se encheram de lágrima. – Por favor me devolva.

- Ela vai ter outro ataque. – Gritou Megan.

- Cala a boca Megan! – Louise continuava a gritar alto demais e cantarolava para si uma

canção de ninar conhecida apenas por ela e Daniel. Daniel jogou o livro sobre a mesa

com desprezo.

- Essa música. – Daniel fitava Louise com os olhos cheio de dor.

Harry tocou o ombro de Louise receosamente e ela o abraçou sussurrando em seu ouvido

para que ele a tirasse dali. Ele olhou para Daniel que apenas consentiu com a cabeça e

virou a cara. Louise saiu do refeitório abraçada com Harry, os dois foram até o campo de

futebol do colégio e sentaram-se na arquibancada.

- Antes de tudo, feliz aniversário adiantado. – Harry sorriu.

- Não há motivo para sermos felizes em datas assim. Elas nos lembram que estamos

envelhecendo, que no fim das contas nascemos para morrer.

- Essa não é a mágica da vida? Viver intensamente até que tudo se acabe?

- Diga isso para os mortos que carregam sentimentos angustiantes.

- Loui... – Harry tentou tocar a mão dela que se esquivou. – Você podia me dizer o que

está havendo?

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- Você não entenderia. Não é normal, eu sou uma completa aberração.

- Isso tem a ver com o que houve há algum tempo atrás?

- Isso tem a ver com eu ter ido embora da clínica. Foi um grande erro, Harry.

- Me diga como eu posso te ajudar.

- Pessoas malucas devem ficar sozinhas. Essa é a única ajuda que você pode me dar.

- Eu não te deixaria sozinha nem por um decreto Louise. – Harry puxou o rosto de Louise

devagar e encarou seus olhos castanhos assustados. – Não afaste quem gosta de você.

- E se eu não tiver cura?

- Ficaremos loucos junto com você. – A beijou delicadamente.

Vultos de imagens envolvendo Harry tomaram conta da mente de Louise que ficou

tentada a afastá-lo, porém aquele beijo por hora parecia a cura para todo aquele

sentimento perturbador que a assombrava e somente naquele instante ela resolveu se

entregar aquilo.

Ainda que muitos sejam incrédulos ou pessimistas há quem diga que o amor cura feridas

e sentimentos conflituosos. Afinal, uma loucura substitui a outra. E o amor talvez seja a

chave de toda essa história.

...

Todos falavam do jeito como Louise se comportou no refeitório, nem mesmo o anúncio

de uma festa na casa dos Collins fazia o foco mudar. Aquela não era a primeira vez que

Louise havia se comportado estranhamente. Cerca de um ano atrás ela havia sido

encontrada na floresta rodeada por sangue e gritando o nome de Daniel depois de ter

sumido durante dois dias. Os pais fizeram questão de abafar o caso e ela foi mandada para

uma clínica para tratar de suas atitudes autodestrutivas. A mãe virou as costas para ela e

o pai a visitava sempre que podia ou achava cabível, afinal de contas, o filho de ouro era

Daniel. Ela se viu sozinha e ainda que tivesse de voltada à sua casa, o quadro de solidão

permanecia o mesmo.

O irmão queria mudar isso, mas ela parecia relutante, e com isso ele fez questão de

organizar a tal festa de aniversário secretamente. No sábado de ventania de constante,

Louise comemoraria 16 anos de vida. Daniel pediu a casa aos pais que de início

permaneciam receosos diante dos últimos acontecimentos na cidade, porém devido ao

jantar que tinham com o prefeito acabaram por ceder. Com a ajuda de James, Alice e

Megan, Daniel conseguiu criar o plano perfeito para enganar Louise. A maioria dos

jovens da cidade haviam sido convidados, mas ninguém iria por conta da aniversariante.

Durante o dia, ela foi entretida pela companhia de Harry e havia deixado de lado a busca

pelo que estava acontecendo em sua vida. Os dois passearam pela cidade sem rumo

algum, trocaram histórias sobre os locais em que haviam conhecido e segredos sobre as

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famílias que tinham, ela se sentia conectada a ele de uma forma diferente e só havia

sentido aquilo uma vez na vida a exato um ano e dois meses atrás.

Ao cair da noite, Harry fez questão de a deixar em casa sem que ela desconfiasse o que a

esperava. Os dois caminharam até a porta de entrada e ela se despediu dele com alguns

beijos entre um sorriso ou outro.

- Talvez fazer aniversário não seja tão ruim assim Loui.

- A última vez que fiz isso com alguém a decepção tomou conta de mim.

- Nem todos são iguais, Louise. – Acariciou de leve o braço dela.

A porta se abriu e Daniel apareceu com Alice ao seu lado.

- Acho que é uma sina, Collins e Johnson juntos. – Daniel sorriu.

- Você precisa ser um idiota sempre? – Retrucou Louise.

- E você precisa ser tão sombria sempre também? Além do mais, que idiota faria isso pra

você? – Daniel e Alice saíram da porta e diante dos olhos de Louise haviam várias pessoas

gritando feliz aniversário. Ela não queria aquilo, mas de alguma forma seu irmão preferia

não escutar. Harry segurou sua mão e sussurrou em seu ouvido que eles fugiriam daquilo

assim que possível. Ela sorriu falsamente e aos poucos foi cumprimentando cada

convidado que não desejava sinceramente as coisas que dizia para ela.

...

- Que festa horrível. – Resmungava Megan sentada na escada entornando o seu vigésimo

copo de vodka pura, ao seu lado estavam James e Hanna que claramente tentava uma

proximidade com James que mal a olhava.

- Até que a música está boa, temos bebida e gente bonita, o que há de errado então?

- Eles. – Megan olhou para Daniel e Alice que riam e trocavam carícias enquanto

conversavam com Melody e Richard. – A minha vida toda eu sonhei com o dia em que

seria a Sra. Collins, mas do nada aparece uma estranha e tira de mim essa ilusão.

- Disse muito bem: ilusão. Prova viva de que se cérebro bêbado já assimilou que nunca

haverá nada entre você e o Dan. – Megan levantou-se subitamente para agredir James que

a segurou sem ao menos fazer alguma força. Ela mal conseguia ficar de pé. – Melhor você

ir se deitar, Meg. – James sorriu com compaixão.

- Você poderia ir se deitar comigo.

- Prefiro que não, mas eu te levo até o quarto.

Hanna e James levaram Megan para o quarto de Daniel que estava tão admirado por Alice

que não se importaria. A festa aos poucos foi se tornando melhor, os convidados estavam

agitados e curtiam cada momento. Louise fazia questão de ficar próxima a Harry e não

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prestar atenção nos demais. Ela sabia que se mudasse o foco acabaria por pensar em

contar o recado de Marcel para Alice.

A música cada vez mais se tornava barulhenta aos ouvidos de Matthew que estava

escorado em uma parede do lado de fora da casa. Ele fitava as pessoas como se fossem

alienígenas ou algo do gênero. No jardim, pessoas passavam mal ou trocavam carícias

caminhando para o tão famoso finalmente. Melody saiu da casa rindo alto e tropeçando

em seus próprios pés acompanhada de Richard que a colocou sentada em uma cadeira

próxima a piscina e saiu para buscar água para ela. Melody brigava com o celular como

se ele fosse uma pessoa.

- Você disse que apareceria! Cretino! Idiota! Vagabundo! – Berrava Melody e Matthew

ria da situação. – Eu te odeio Erick! – A feição de Matthew ficou séria.

- Que nome você disse? – Matthew se aproximou de Melody.

- Erick. – A palavra saía com dificuldade da pouca dela.

- Onde você o conheceu?

- De que importa?! Ele é um mentiroso desgraçado! Jurou que nosso lance a distância

funcionaria, estamos vendo o quanto está funcionando! Eu nunca bebi e estou bebendo

por conta daquele idiota.

- Ele certamente é isso. – Sussurrou Matthew.

- O que você disse?

- Nada. Não deve ser o mesmo.

- Você não gosta muito de festa, não é? Sempre te vejo cabisbaixo em ocasiões assim.

- Não tenho boas lembranças sobre festas.

- Você bebeu demais e deu PT?

- Antes fosse. Mas não.

- Acho que você não quer falar sobre isso com uma bêbada, não é?

- Talvez outro dia, Melody. Talvez outro dia. – Caminhou em direção a saída da casa.

- Pode me chamar de Mel. – Gritou Melody.

...

- Você precisa levantar dessa cama Megan. – Dizia Daniel enquanto procurava pela chave

de seu carro. – Estamos indo para o Stowaway, meus pais já estão chegando.

- Mas eu não quero sair de perto das suas coisas. – Rolava na cama como se aquilo fosse

uma realização pessoal.

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- Você bebeu? – Se aproximou de Megan e sentiu o cheiro forte de vodka. – A tia Claire

vai matar você e depois virá atrás de mim e do James.

- Eu não deixaria ninguém fazer mal a você, Dan.

- Obrigada pela consideração, agora levanta e vai tomar um banho. Eu peço pro James

levar você depois.

- Eu não quero ir com o James, eu quero ir com...

- Achei. – Sacudiu a chave e caminhou em direção a porta. Megan levantou e

cambaleando o puxou pelo braço. Ele a segurou rapidamente para que ela não caísse e

quando ela encontrou o equilíbrio, a soltou.

- Fica aqui comigo. – Sorriu.

- Meg, a Alice está me esperando.

- Esquece ela. Nós dois sabemos como as coisas terminam, você acaba enjoando delas e

só eu fico.

- Você é diferente, é minha amiga.

- Eu não quero ser sua amiga. Eu nunca quis, precisamos mudar isso. – Beijou de leve o

pescoço de Daniel que deu um passo para trás espantado.

- O que você está fazendo?

- Sendo sua.

- Não podemos Meg, eu não gosto de você assim. Nunca gostei.

- Você pode aprender! – Beijou Daniel a força que a afastou sem machucá-la.

- Você não entende. Isso, nós dois, nunca vai acontecer! Eu não posso, sinto muito. – Os

olhos de Megan se encheram de lágrimas.

- Por quê? – Gritou.

- Porque toda vez que eu te olho eu lembro dela, da...

- Não! – Gritou. – Não diga o nome dela. Ela morreu para todos nós naquela noite.

- Ainda que ela tenha morrido, há uma presença muito grande dela em você, Meg. Eu...

- Você não tem um lugar pra ir? – Disse enxugando as lágrimas que teimavam em cair.

- Sinto muito, Meg. De verdade. – Daniel saiu e Megan bateu a porta bem forte. As

lágrimas teimavam em cair dos olhos da menina que havia sentido o peso da realidade

sobre as suas ilusões e aquilo doía, cortava seu coração. Ela sonhara em casar com Daniel

desde os seus nove anos de idade e aos poucos foi vendo que aquilo não passava de um

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sonho. Afinal, não estava escrito que um Collins ficaria com uma Adams. A história

nunca seria essa.

A festa já havia acabado. Ao notar que Louise não estava mais confortável com toda

aquela situação, Daniel foi expulsando pouco a pouco cada convidado. Richard tentava

cuidar do surto alcoólico de Melody e Alice ajudava James e Hanna a organizar as coisas.

Emily apenas observava todos em uma distância razoável, ela só estava esperando a

carona que Megan havia prometido. Ela olhava para Harry e Louise como se aquilo a

incomodasse, disfarçava e voltava o olhar para eles constante. Ao ver que Louise foi para

cozinha a seguiu.

- Vejo que fez novos amigos. – Disse com a voz mais fria possível.

- Isso te incomoda, Em?

- Seria estranho se não incomodasse. Você sumiu por meses, não recebi cartas. Ou até

mesmo um telefonema. Quando resolve voltar mal olha na minha cara.

- Você me deu motivos para isso.

- Eu protegi você! Eu fiz de tudo para que ninguém soubesse de nós duas, até mesmo

envolvi a Tiff nisso e agora te dei motivos?

- Quando eu comecei a ter os ataques você se afastou de mim, mas eu sei que não há nada

de errado comigo. Eu não estou louca, Em. Eu sou diferente dos outros e vou descobrir o

que há comigo.

- Não, você não vai. Porque não há nada de errado com você. – Se aproximou de Louise.

– Você apenas não superou a perda que a sua família teve.

- Perda?! – Perguntou confusa.

- Você não se lembra daquela noite em que estávamos na floresta? A festa na fogueira, o

carro e o lago? Alguma coisa sobre isso?

- Do que você está falando?

- Loui, os convidados já foram todos embora e a casa está... – disse Daniel enquanto

entrava na cozinha. – Atrapalho?

- Não. – Afirmou Emily. – Acho que não vou poder esperar a carona da Meg. Tenham

uma boa noite. – Antes sair da cozinha, fitou Louise por alguns segundos.

- O que ela queria? – Indagou Daniel.

- Queria saber o motivo do meu sumiço. Pessoas curiosas. – Louise sorriu sem graça.

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- Nós estamos indo para o Stowaway. Você quer vir? – Sorriu. – Ficar entre amigos pode

te fazer bem.

- Você acha que estou ficando louca, não é?

- Só acho que há muita coisa não explicada, Loui. O fato de você ter encontrado o corpo

da Tiff e logo em seguida ser a primeira a ver o Marcel, justamente na festa que você não

queria ir. Se você soubesse de algo, me diria?

- Não. – Daniel olhou confuso. – Porque não confio em você desde aquela noite. A noite

em que você me fez parecer louca e fez com que todos duvidassem da minha palavra. Nós

dois sabemos como aquela história acabou, eu sei o que vi e de alguma forma sei que os

dois estão vivos ou parcialmente vivos. Não me importa o que digam, você nunca será o

herói ou o bom moço enquanto o sangue dele estiver em suas mãos. – Se aproximou de

Daniel. – Mas sim, eu quero ir até o bar com vocês. – Saiu da cozinha e Daniel socou bem

forte a bancada da pia em um ato de fúria.

...

O Stowaway estava lotado. Várias pessoas curtiam o som de uma pessoa forasteira. Anna

havia convencido Ethan a deixa-la cantar como despedida da cidade e ele não sabia dizer

não a bela moça de olhos azuis, ou talvez não tivesse opção. Aos poucos, com o som de

violão ao fundo tocado por alguém que ela não dava a mínima, foi ganhando as pessoas

que estavam no bar. Já era bem tarde quando Alice, Daniel, Richard, Louise e Harry

chegaram, eles tiveram que deixar Melody em casa antes. Incomodava Richard o modo

como Anna era toda mistérios e ainda assim próxima de Ethan. Eles avistaram Matthew

que bebia sozinho no canto mais obscuro do bar e parecia não estar para muitos amigos.

A última música escolhida por Anna foi Born to die da Lana del Rey, ela tinha uma certa

adoração pelas músicas dela e cantava a música como se aquilo fosse o hino de sua vida,

a oração de todas as horas. De olhos fechados ela tentava transmitir ao seu pequeno

público a emoção que aquela música lhe trazia, ao abrir seus olhos brevemente encontrou

os olhos de um jovem de 27 anos, de jaqueta de coro, cabelo castanho arrepiado e olhos

cor de mel envolventes. Ele a olhava profundamente, não desviava o olhar por nada. As

pernas de Anna se estremeceram, era o passado que batia a sua porta. Ela cantou os

últimos versos como se confessasse seu maior segredo e desceu do palco rapidamente. O

rapaz a seguiu até o lado de fora do bar tão rapidamente que antes que ela pudesse fugir,

ele estava diante de seus olhos novamente.

- Finalmente te achei. – Esbravejou o rapaz. – Achou que fugiria até quando?

- Eu nem sabia que você estava me procurando, poderia ter me dito que eu facilitava as

coisas pra você.

- O que você faz aqui Anna?

- A pergunta é a mesma.

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- Assuntos de família.

- Ah sim! Aquele cara tem cobrança de pactos por aqui.

- Aquele cara! – Ironizou. – Achei que você fosse arriscar usar a palavra demônio já que

falou de pactos.

- Não quis ser muito ruim nos nomes, mas admito que pensei.

- Você tem que ir embora.

- Você não manda em mim! Nem mesmo o Max conseguiu me fazer ir embora não será

um traidor como você que conseguirá.

- Vejo que a reunião de família está completa.

- Eu posso dizer o mesmo de você. Esperto da parte do Marcus mandar o Matt na frente.

Ele estava sendo rebelde? Matando muitas bruxas por aí.

O rapaz agarrou os dois braços de Anna com as duas mãos com uma força brutal e com

uma rapidez inimaginável a colocou contra a parede de fora do estabelecimento.

- Lave a sua boca antes de falar da minha família! – Disse com fúria.

- Vá em frente, deixe marcas em mim, mas nós dois sabemos como isso acaba, Erick.

Você é incapaz de me matar e tem medo que isso volte contra você. Pode ficar tranquilo,

querido, eu não contarei ao Marcus que sou sua única fraqueza. – Acariciou o rosto de

Erick. – Eu cantei nossa música, você viu? Parece destino ou talvez estamos tão

conectados que eu sabia que você viria atrás de mim.

- A sua ilusão me comove Anna. – Soltou Anna.

- Qual então seria o motivo pra você cobrir meus rastros por aí? Eu não sou louca, Erick,

ainda há amor entre nós dois e eu vou te libertar dessa doença, desse mundo irreal que

você vive.

- E então ficaríamos bem durante a eternidade O’Brien? Eu morreria antes de chegarmos

aos dois anos através das mãos do Michael. A eternidade é pior castigo da sua raça, Ann.

Eu não quero essa doença para mim.

- Você fala como se não fosse um monstro como eu. Você pode até não matar pessoas na

mesma frequência que eu, mas ainda assim há deformidades em você. Vocês estão longe

de serem heróis.

- Não atrapalhe nossos planos, O’Brien! Ela tem que ser morta.

- O que leva todos vocês a crerem que a Ashley ainda está viva?

- A profecia está acontecendo já faz algum tempo. A última Campbell será a chave para

a libertação do espírito mais cruel de todos. Os coven estão em nervos desde do ano

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passado. As bruxas estão sentindo uma energia muito forte vindo de Witchwood e eu

pude perceber que há bruxas diferentes nessa cidade. Nem mesmo as bruxas que estão

escondidas serão capazes evitar quando os poderes da Ashley renascerem.

- Seria poético se eu não soubesse quais são seus planos para ela.

- Não se coloque no nosso caminho, O’Brien. Você não iria querer ver a fúria do Marcus.

- Pode dizer a ele que eu não tenho medo. Não temos. Somente você e o Matt temem a

esse velho de mais de cem anos. – Sorriu sarcasticamente. – Você já foi melhor, querido.

– Caminhou na intenção de ir embora.

- Eu falo sério, Ann.

- Não importa qual tempestade virá, Erick. Nós dois sabemos que monstros não duram

pra sempre. Porque no fim das contas nós nascemos para morrer.