Capítulo 6 - Preparando-se Para Lidar Com o Risco e Construindo a Resiliência

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    Capacitao em Gesto de Riscos 2015

    Organizao e execuo: UFRGS e CEPED/RS

    Realizao: Ministrio da Integrao Nacional

    Secretaria Nacional de Proteo e Defesa Civil

    Departamento de Minimizao de Desastres

    CAPTULO 6

    PREPARANDO-SE PARA LIDAR COM O RISCO

    E CONSTRUINDO A RESILINCIA

    Porto Alegre, junho de 2015

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    SUMRIO

    6. Preparando-se para lidar com o risco ...................................................................................... 4

    6.1. Percepo de risco .............................................................................................................. 4

    6.1.1. Processo de percepo de risco ................................................................................. 4

    6.1.2. A viso dos especialistas e da populao em geral ............................................... 8

    6.1.3. Algumas justificativas para as pessoas permanecerem vivendo em reas de

    risco/situao de risco ............................................................................................................. 9

    6.1.4. A importncia da percepo de risco para a gesto de risco .............................. 9

    6.1.5. Qualificao da percepo de risco ....................................................................... 10

    6.2. Resilincia ............................................................................................................................. 12

    6.2.1. Resilincia no contexto da gesto de risco de desastre ........................................ 13

    6.2.2. Planejamento, flexibilidade e adaptao................................................................ 15

    6.2.3. Construindo a resilincia .............................................................................................. 16

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Pedestre cruzando a rodovia ........................................................................................5

    Figura 2. Exemplo de uma instituio e seu sistema de alerta .................................................8

    Figura 3. Atividade de percepo de riscos realizada na comunidade de Ilha das Flores,Porto Alegre RS..............................................................................................................................9

    Figura 4. Evidncias de Risco (a) Casa com rachadura e (b) Esgoto No canalizado....10

    Figura 5. Corte na encosta (talude)............................................................................................11

    Figura 6. Elementos da Resilincia...............................................................................................12

    Figura 7. Relao entre resilincia e gesto de riscos de desastres.......................................14

    Figura 8. Cidade de Campinas/SP..............................................................................................15

    Figura 9. reas de contribuio para a resilincia....................................................................16

    Figura 10. Centro Integrado de Comando e Controle de Belo Horizonte.............................17

    Figura 11. Planejamento Estratgico para implementao dos 10 passos para a

    resilincia.........................................................................................................................................19

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    6. Preparando-se para lidar com o risco

    A multidisciplinaridade envolvida na gesto de riscos leva disseminao de umadiversidade de termos, no havendo uma terminologia completamente consolidada.

    Essa falta de homogeneidade e a consequente sobreposio de termos podem trazer

    dificuldades, principalmente no que se refere s trocas de informaes entre os diversosprofissionais envolvidos na avaliao de riscos. Surge ento a necessidade de se

    harmonizar o entendimento dos conceitos associados gesto de riscos.

    6.1. Percepo de risco

    6.1.1. Processo de percepo de risco

    A percepo de riscos o processo de...

    ... os sinais relativos a impactos incertos de eventos, atividades e tecnologias

    (WACHINGER & RENN, 2010).

    A percepo de risco um processo complexo, dinmico e influenciado por fatorescomo conhecimento, experincia, valores, atitudes e sentimentos, etc.

    Tudo isso influencia o pensamento e o julgamento das pessoas sobre a seriedade e

    aceitabilidade do risco (SLOVIC, 2010; WACHINGER & RENN, 2010).

    Coletar/Identificar

    Selecionar

    Interpretar

    Este tpico tem por objetivo possibilitar ao aluno:

    Compreender o que percepo de risco e como os riscos so percebidos;

    Identificar fatores que interferem na percepo de risco;

    Diferenciar situao de risco e percepo de risco;

    Compreender a importncia da qualificao da percepo de risco para a

    anlise e gesto de riscos;

    Compreender o conceito de resilincia no contexto da gesto de riscos.

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    Exemplo:

    H sempre o risco de atropelamento ao

    atravessar uma rodovia. No entanto, algumas

    pessoas podem avaliar este risco com maior oumenor seriedade, aceitando ou no suas

    consequncias.

    A experincia prvia de no ter sido atropelado

    pode diminuir a percepo do risco e reforar o

    comportamento de continuar atravessando na

    rodovia (no na passarela).

    Figura 1. Pedestre cruzando a rodovia.Fonte: Clicrbs (2013).

    No contexto dos desastres naturais, as pessoas direta ou indiretamente afetadas, emitem

    seu julgamento sobre o risco baseado na sua intuio, o qual passou a denominar-se

    percepo do risco, referindo-se avaliao subjetiva sobre um determinadoacontecimento (LIMA, 2005 apud SANTOS et al. S/ DATA).

    A percepo do risco construda pelo contexto social e cultural, perpassando por

    valores, ideologias e influenciada por amigos, familiares, colegas de trabalho e pelamdia. Pesquisadores procuram saber o significado atribudo pelas pessoas, sobre o que

    elas consideram ou no risco, bem como determinar os fatores que se constituem comobase dessas percepes.

    Fatores que interferem na percepo

    A percepo de risco pode diferir dependendo:

    do tipo de risco

    do contexto de risco das emoes (afeto positivo e negativo)

    do gnero da confiana ou desconfiana nas instituies

    do efeito de substncias

    Do tipo de risco

    As caractersticas qualitativas do risco so importantes na determinao da percepo

    do risco.

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    Exemplo:

    Energia nuclear considerada, pelo cidado em geral, como um "risco desconhecido",

    um perigo no observvel, novo, causa pavor e com efeitos retardados em sua

    manifestao de dano (SLOVIC, 2010).

    Por outro lado, um motoqueiro pode ter maior tolerncia ao risco de acidentes com

    motos, mesmo que as estatsticas mostrem o contrrio. A percepo de controle pessoal

    sobre a motocicleta, bem como a familiaridade com esse meio de transporte,

    aumentam, em algum grau, a tolerncia e a aceitabilidade dos riscos (SLOVIC, 2010).

    Os riscos so considerados com mais seriedade quando tm potencial para colocar emperigo a vida das pessoas, quando o risco imediato e/ou quando as fontes de

    comunicao tm credibilidade (SMITH, 1992). Assim, a percepo das pessoas sobre o

    risco de faltar gua ser diferente de acordo com o tipo de informao que possuem.

    Exemplo:

    Do contexto do risco

    Experincias prvias e, especialmente, a severidade das consequncias pessoais

    relacionadas a desastres anteriores, podem fazer diferenas na percepo de risco.

    Quanto menor foi o impacto sofrido, menor a percepo das pessoas de que estonovamente em perigo. Assim, experincias anteriores podem ter um efeito paradoxal:

    Geralmente, quando um alto benefcio percebido em determinadas atividades outecnologias, tende-se a uma menor percepo de risco dessas atividades.

    Se a populaono poupar, ir

    faltar gua paraas futuras

    geraes

    O reservatriopossui gua

    suficienteapenas para

    mais 10 dias

    No aconteceunada

    anteriormente No vai acontecernada no futuro

    Baixa

    percepo

    de risco

    Alta

    percepo

    de risco

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    Exemplo:

    A aceitao do risco de viver em uma rea propensa inundao pode decorrer do

    benefcio da moradia, da localizao, da rede social que o indivduo possui, dentre

    outros aspectos. Desse modo, aceita-se conviver com o risco pelos benefcios que os

    mesmos geram.

    Das emoes

    As emoes afetam a maneira com a qual se percebe o risco a partir das experincias

    que cada indivduo possui. A percepo influenciada por processos emotivos presentesna memria e pela aprendizagem que cada um tem e recebe.

    As percepes de risco so, desta forma, alteradas pelo fato de se ter ou no vivenciado

    um evento adverso ou conhecer algum prximo que o tenha vivenciado. Alm disso, a

    percepo de risco influenciada pelo conhecimento sobre as consequncias de tal

    evento.

    Do gnero

    Mulheres tendem a avaliar os possveis riscos com maior seriedade do que os homens.

    Essas diferenas podem ser explicadas pela biologia e tambm pela maior

    vulnerabilidade social a certos riscos como, por exemplo, a violncia.Num estudo de Domnech, Supranamiam e Sauri (2010), as mulheres perceberam a seca

    (2007-2008) na regio metropolitana de Barcelona como mais aguda do que os homense tambm apresentaram maior preocupao quanto ao risco do desastre para as

    futuras geraes.

    Da confiana ou desconfiana nas instituies

    A confiana ou desconfiana nas instituies nasce da relao prvia estabelecida

    entre seus representantes e a populao. Desse modo, a qualidade desta relao ir

    afetar o processo de comunicao de risco e, consequentemente, a percepo do

    grau de vulnerabilidade, ameaa, perigo ou mesmo o risco. A Figura 2 apresenta um

    sistema de alerta de cheias online(www.inea.rj.gov.br).

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    Exemplo:

    Em situaes de desastres a prescrio de determinadas substncias e/ou a suspenso

    do uso contnuo de medicamentos devem ser avaliadas com cautela de modo a no

    colocar em risco a vida das pessoas.

    Figura 2. Exemplo de uma instituio e seu sistema de alerta.Fonte: INEA(2015).

    Do Efeito de Substncias

    Pessoas sob efeito de drogas ou lcool tm sua capacidade de avaliao dos estmulos

    alterada. Nesse sentido, diferentes tipos de substncias podem influenciar na percepode risco e, consequentemente, no comportamento de se proteger.

    6.1.2. A viso dos especialistas e da populao em geral

    Especialistas: Tendem a ver o grau de risco como sinnimo de probabilidade de dano ouexpectativa de mortalidade (Ex.: quantas mortes por ano em acidentes de trnsito).Populao em geral: Concepo ampla de riscos, qualitativa e complexa, queincorpora consideraes, tais como medo, incerteza, potencial catastrfico, controle,

    equidade, risco para as futuras geraes etc.

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    6.1.3 Algumas justificativas para as pessoas permanecerem vivendo em reas derisco/situao de risco

    Incertezas associadas ocorrncia do fenmeno: Ser que a chuva realmente

    vai alagar a minha casa?;

    Mudana do cenrio de risco: mas isso nunca aconteceu!; Decises frente s incertezas: vale a pena arriscar, o raio nunca cai duas vezes

    no mesmo lugar;

    Falta de alternativa de moradia, trabalho e segurana: no tenho pra onde ir,

    meu trabalho to longe, gosto daqui, seguro;

    Custo versus benefcio: essa terra to boa pra plantar, daqui de cima d pra

    ver toda a cidade, quando falta gua, a gente pega do rio.

    6.1.4. A importncia da percepo de risco para a gesto de risco

    Em geral, a informao sobre o risco exerce um papel importante no aumento dapreocupao das pessoas em adotar medidas para se adaptar ao contexto de risco, oque ter impacto sobre seus comportamentos futuros.A percepo um elemento fundamental na gesto de risco, porque quando a

    comunidade percebe sua situao real, a realizao das atividades preventivas so

    facilitadas.

    Os investimentos para que uma populao possa perceber seus riscos de uma maneiramais qualificada e completa iro contribuir para que ela adquira maior clareza sobre a

    necessidade de se proteger, e dessa forma abre-se o caminho para a colaborao nasaes de preveno e/ou mitigao.

    Figura 3.Atividade de percepo de riscos realizada na comunidade de Ilha das Flores, PortoAlegre RS.

    Fonte: GRID (2012).

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    A importncia de se considerar a percepo de riscos de pessoas afetadas por desastres

    no processo de gesto de risco evidenciada em um dos princpios do Marco deSendai*, de se entender as caractersticas locais para reduzir o risco de desastres. Acompreenso do risco auxilia na identificao das necessidades locais e aumenta as

    chances de se estabelecer maior confiana entre as comunidades e os atores que

    conduzem o processo de gesto de risco. Essa confiana potencializa a articulao

    entre todos os atores envolvidos na gesto e facilita o aprendizado proposto na

    capacitao para reduo de risco de desastres.

    * O Marco de Sendairepresenta o novo marco para o perodo de 2015 a 2030, adotado

    a partir da Terceira Conferncia Mundial sobre a Reduo do Risco de Desastres,

    realizada entre 14 e 18 de maro de 2015, em Sendai, Miyagi, no Japo.

    6.1.5. Qualificao da percepo de risco

    A qualificao da percepo de risco refere-se ao desenvolvimento da capacidade daspessoas em analisar de maneira diferenciada o seu cotidiano, rompendo com

    concepes baseadas no senso comum e ampliando a viso para uma srie de sinais

    que podem evidenciar as situaes de riscos presentes, por exemplo, no ambienteresidencial (Figura (a)) e no meio ambiente comunitrio (Figura (b)).

    (a) (b)Figura 4. Evidncias de Risco (a) Casa com rachadura e (b) Esgoto No canalizado.

    Fonte: IPT.

    A identificao dos fatores que influenciam a percepo de risco (citados no item 6.1)

    pode ser a chave para entender porque as pessoas resistem em adotar medidas de

    preveno e proteo em desastres.

    Desta forma, o foco das aes para o fortalecimento da percepo de risco deve estar

    na sua qualificao e na identificao de fatores que possam estar interferindo na

    anlise para a aceitao ou no das condies de risco.

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    Outro estudo, de natureza exploratria sobre a percepo de risco no contexto daseca, revelou que as comunidades com histrias recorrentes esto melhorescapacitadas para responder ao prximo evento. Por outro lado, a recorrncia do

    evento torna o perigo normalizado, sendo considerado menos ameaador do que os

    eventos desconhecidos para a comunidade.

    O estudo tambm reconhece a influncia da mdia/imprensa sobre a populaoquando so reveladas as condies de desastres com maior gravidade, o que

    contribui com preocupaes e medos que podem no estar totalmente baseados

    na realidade. (COLHO, 2007). O captulo 9 abordar maiores detalhes sobre a

    influncia da comunicao em risco na percepo do risco de desastres.

    Assim, a anlise no deve se restringir a um nico tipo de risco, mas na compreenso dosprocessos que mantm ou desencadeiam diferentes riscos no ambiente, como estes

    podem estar relacionados e que tipo de impactos podem ser antecipados.

    Figura 5.Corte na encosta (talude). Fonte: IPT.

    Diferentes estudos evidenciam distintos resultados sobre a percepo de riscos. Um deles

    aponta que os sujeitos percebem a realidade de forma diferente daquela analisada por

    critrios tcnicos, que tambm difere da percepo da Defesa Civil. Essas diferenas

    revelam a necessidade de intervenes mais efetivas por parte do poder pblico nosentido de orientar moradores de reas de risco para que tenham melhores condiesde avaliar situaes de perigo e de adotar comportamentos preventivos em seus

    cotidianos (SOUZA et al., 2008).

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    6.2. Resilincia

    Qualificar a percepo de risco um ingrediente a mais no fortalecimento e aumento

    da capacidade de:

    Figura 6. Elementos da Resilincia.

    O termo resilincia utilizado em diversos campos do conhecimento com variaes deinterpretao no seu significado.

    Foi empregado pela primeira vez em 1818, por Tredgold com o objetivo de explicar

    porque madeiras no quebravam com severos impactos. Mallet, em 1856, utilizava

    resilincia como habilidade de alguns materiais serem submetidos a severas condies.

    Em 1973 Holding empregava o termo como ecossistema capaz de absorver mudanas e

    continuarem existindo. Na dcada de 1970 a psicologia passou a aplicar o termo para

    explicar o comeo de algo novo a partir de um trauma. Nos anos 2000 o uso do termo

    resilincia, por Hamel e Vlikangas (2003), derivou para negcios comunitrios paradefinir a habilidade de reinventar modelos de estratgias quando as circunstncias

    mudam, referindo-se no a respostas a crises, mas sim antecipao (HOLLNAGEL,2014).

    Para a gesto de risco de desastres o conceito de resilincia incorpora aspectos amplos.

    Abrange os eventos adversos de origem natural e tecnolgicos, configurando-se uma

    abordagem holstica da gesto de risco de desastres e da relao entre os dois tipos deeventos. Neste contexto, o conceito de resilincia reflete as capacidades e deficincias

    dos sistemas sociais, econmicos, culturais e ambientais na reduo de risco dedesastres.

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    Resilincia a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade, potencialmente

    exposta a perigos, de adaptar-se, resistir ou suportar impactos e manter-se em um nvel

    aceitvel de funcionamento, garantindo o acesso a servios e suporte para a o bem-

    estar da populao e se recuperando de forma rpida.

    A resilincia determinada pelo grau ao qual um sistema social capaz de se auto-organizar para aumentar a sua capacidade de aprender com os desastres do passadoe construir um futuro mais protegido com melhores medidas de reduo de risco.

    O Marco de Sendai representa uma oportunidade dos Estados reiterarem seu

    compromisso com a reduo do risco e com o aumento da resilincia a desastres.

    Conforme consta no Prembulo do documento, trata-se de um tema a ser abordadocom renovado senso de urgncia no contexto do desenvolvimento sustentvel e daerradicao da pobreza e integrado em polticas, planos, programas e oramentos detodos os nveis e considerado dentro dos quadros relevantes.

    6.2.1. Resilincia no contexto da gesto de risco de desastre

    Diferentes iniciativas internacionais tem advogado pelo aumento da resilincia como

    caminho para a reduo de risco de desastres. Os estados membros da Organizaodas Naes Unidas, por exemplo, se comprometeram em adotar o Marco de Ao de

    Hyogo como instrumento balizador das iniciativas para reduo do risco de desastres. O

    Marco indica quais so os aspectos e atividades que devem ser implementados paraque comunidades e naes tornem-se mais resistentes s ameaas que pem em risco

    os benefcios do seu desenvolvimento e para enfrent-las da melhor forma.

    O Marco de Ao de Hyogo teve abrangncia entre os anos de 2005 e 2014 e para o

    perodo de 2015 a 2030 est sendo adotado o Marco de Sendai para Reduo do Risco

    de Desastres.

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    A resilincia integra e complementa a gesto de risco de desastres:

    Figura 7.Relao entre resilincia e gesto de riscos de desastres.

    A Secretaria Nacional de Proteo e Defesa Civil (SEDEC), do Ministrio da Integrao

    Nacional, lanou no Brasil a Campanha Construindo Cidades Resilientes, da EstratgiaInternacional para a Reduo de Desastres (EIRD) e da Organizao das Naes Unidas

    (ONU). A ao visa aumentar o grau de conscincia e compromisso em torno das

    prticas de desenvolvimento sustentvel, como forma de diminuir as vulnerabilidades e

    propiciar o bem estar e segurana dos cidados (www.integracao.gov.br/cidades

    resilientes).

    Uma cidade resiliente aquela que tem a capacidade de resistir, absorver e se

    recuperar de forma eficiente dos efeitos de um desastre e de maneira organizadaprevenir que vidas e bens sejam perdidos.

    A gesto e risco de desastres configura-se, desta maneira, uma parte importante para as

    cidades resilientes. Entende-se que o planejamento urbano e a gesto de risco sejam

    complementares e devam ser integrados.

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    Exemplo:A cidade de Campinas (foto ao lado)

    est certificada pela Organizao dasNaes Unidas (ONU) como cidade

    modelo de boas prticas na

    construo de resilincia para a

    reduo de riscos de desastres. Issosignifica que a ONU considera

    Campinas como um municpio

    preparado para o atendimento em

    situaes de um desastre natural,

    minimizando os riscos e perdas para a

    populao.

    6.2.2. Planejamento, flexibilidade e adaptao

    Os desafios impostos pelo rpido crescimento de muitas cidades e o declnio de outras,

    pela expanso da economia informal e pelo papel das cidades tanto nas causas como

    na mitigao das mudanas climticas, exigem um slido planejamento territorial.

    Figura 8. Cidade de Campinas/SP.

    Ser resiliente pode ser interpretado como uma estratgia de gesto que prioriza, entreoutros aspectos, a reduo de risco de desastres. A gesto pblica, juntamente com as

    comunidades, dever planejar aes em diferentes reas que contribuiro para a

    resilincia.

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    Figura 9.reas de contribuio para a resilincia.

    Fonte: adaptado de Turnbull et al. (2013).

    Reconhecer que a definio tcnica de resilincia incorpora processos ecolgicos,sociais e econmicos permite o contnuo ajuste e auto-organizao de uma

    comunidade, sociedade ou de um sistema urbano.

    6.2.3. Construindo a resilincia

    Os desastres podem atingir qualquer cidade, mas suas intensidades podem ser maiores

    ou menores em funo da maneira como autoridades lidam com as vulnerabilidadescriadas pelo crescimento desordenado, pela rpida urbanizao e pela degradao

    ambiental.

    Uma sociedade resiliente entende seus riscos e desenvolve um forte trabalho de

    educao com base nas ameaas e vulnerabilidades a que seus cidados esto

    expostos.

    Uma cidade que resiliente realiza investimentos necessrios em reduo de riscos e

    capaz de se organizar antes, durante e depois de um desastre. Alm disso, ooferecimento de servios plenos populao, a preservao do meio ambiente e a

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    incorporao da participao pblica na gesto do territrio do condies para que

    as cidades possam conviver com os riscos de desastres, super-los e reconstrurem-se deforma mais rpida e eficiente.

    A partir da experincia com a implementao do Marco de Hyogo, o Marco de Sendaiidentifica a necessidade de focar em quatro reas prioritrias para reduo de risco de

    desastres e construo da resilincia:

    1. Compreenso do risco de desastres;2. Fortalecimento da governana do risco de desastres para gerenciar o risco dedesastres;3. Investimento na reduo do risco para resilincia;4. Melhoria na preparao para desastres a fim de providenciar uma respostaeficaz e de reconstruir melhor em recuperao, reabilitao e reconstruo.

    Figura 10. Centro Integrado de Comando e Controle de Belo Horizonte.

    Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte.

    METAS PARA O PERODO ENTRE 2020 E 2030 SEGUNDO O MARCO DE SENDAI

    REDUZIR AUMENTAR INTENSIFICAR

    Mortalidade globalN de pases comestratgias de reduo deriscos

    Cooperao internacionalcom os pases emdesenvolvimento

    N de pessoas afetadas

    Disponibilidade e acesso asistemas de alerta precoce

    Perdas econmicasDanos causados pordesastres em infraestruturabsica

    Exemplo:

    Belo Horizonte, com uma

    populao de 2,75 milhes,

    recebeu o prmio Sasakawa em

    2013 reconhecendo a

    cooperao entre os residentes

    locais, empresas de servios

    pblicos e empresas privadas na

    inspeo regular destas zonas de

    desastre em potencial.

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    O guia para gestores pblicos locais determina que os dez passos para a construo decidades mais resilientes conte com a participao de todos os pblicos de interesse parainclu-los nas atividades de desenvolvimento da cidade (UNISDR, 2012).

    10 PASSOS ESSENCIAIS PARA A CONSTRUO DE CIDADES MAIS RESILIENTES A DESASTRES

    1. Coloque em prtica aes de organizao e coordenao para compreender e aplicarferramentas de reduo de riscos de desastres, com base na participao de grupos decidados e da sociedade civil. Construa alianas locais. Assegure que todos osdepartamentos compreendam o seu papel na reduo de risco de desastres e preparao.2. Atribua um oramento para a reduo de riscos de desastres e fornea incentivos paraproprietrios em reas de risco, famlias de baixa renda, comunidades, empresas e setor

    publico para investir na reduo dos riscos que enfrentam.3. Mantenha os dados sobre os riscos e vulnerabilidades atualizados. Prepare as avaliaesde risco e utilize-as como base para planos de desenvolvimento urbano e tomadas dedeciso. Certifique-se de que esta informao e os planos para a resilincia da sua cidadeestejam prontamente disponveis ao pblico e totalmente discutido com eles.4. Invista e mantenha uma infraestrutura para reduo de risco, com enfoque estrutural,como por exemplo, obras de drenagens para evitar inundaes; e, conforme necessrio,invista em aes de adaptao s mudanas climticas.5. Avalie a segurana de todas as escolas e centros de sade e atualize tais avaliaes

    conforme necessrio.6. Aplique e imponha regulamentos realistas, compatveis com o risco de construo e

    princpios de planejamento do uso do solo. Identifique reas seguras para cidados debaixa renda e desenvolva a urbanizao dos assentamentos informais, sempre que possvel.

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    7. Certifique-se de que programas de educao e treinamento sobre a reduo de riscos dedesastresestejam em vigor nas escolas e comunidades.8. Proteja os ecossistemas e barreiras naturais para mitigar inundaes, tempestades eoutros perigos a que sua cidade seja vulnervel. Adapte-se mudana climtica por meio

    da construo de boas prticas de reduo de risco.

    9. Instale sistemas de alerta e alarme, e capacidades de gesto de emergncias em seumunicpio, e realize regularmente exerccios pblicos de preparao.

    10. Aps qualquer desastre, assegure que as necessidades dos sobreviventes estejam nocentro da reconstruo, por meio do apoio direto e por suas organizaes comunitrias, demodo a projetar e ajudar a implementar aes de resposta e recuperao, incluindo areconstruo de casas e de meios de subsistncia.

    Fonte: UNISDR (2012).

    O guia para gestores pblicos locais tambm disponibiliza informaes sobre o

    planejamento estratgico para a implementao dos dez passos, possibilitando que asautoridades locais identifiquem as prioridades para reduo de riscos de desastres.

    Figura 11. Planejamento Estratgico para implementao dos 10 passos para a resilincia.Fonte: UNISDR (p. 60, 2012).

    importante saber que a preparao do plano um processo demorado para que sepossa garantir a participao e o senso de propriedade.

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    O planejamento, de acordo com o Guia para Gestores Pblicos Locais (UNISDR, 2012)

    ser mais eficaz quando forem aplicados os seguintes princpios em cada fase:

    - incentivar o governo local para exercitar a liderana no desenvolvimento da resilincia;- utilizar abordagens participativas, incluindo crianas, populaes indgenas, portadoresde deficincias e idosos para fortalecer a estrutura social da cidade;- aplicar os princpios de igualdadede gnero e incluso;- ser flexvel, transparente e responsvel;- definir responsabilidades claras e identificar aes e objetivos realistas;- construir em princpios de sustentabilidade (em esferas econmicas, ambientais esociais) e resilincia;- sensibilizar e desenvolver um senso de propriedade do plano compartilhado por toda acomunidade.

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